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SANTOS-DUMONT, 150 ANOS

Por Luciana Garbin Jornalista, Editora Executiva do jornal O Estado de S.Paulo e autora do livro infantil “Albertinho e suas incríveis máquinas voadoras”

Palmyra (hoje município de Santos Dumont) foi para Paris, a capital cultural do mundo na Belle Époque, e se destacou pela ciência. Numa época em que o Brasil se dedicava quase que exclusivamente à produção agrícola, ele desenvolveu mais de 20 projetos que representavam a tecnologia de ponta da época e tentavam atender à maior aspiração da humanidade: voar.

Santos-Dumont entrou para a história como “pai da aviação”, mas foi muito mais do que isso. Ficou famoso mundialmente em 1901 após mostrar que a dirigibilidade era possível. Até então, os balões seguiam a direção dos ventos. Ao conseguir decolar de seu hangar em Paris com o dirigível número 6, dar a volta na Torre Eiffel e retornar ao ponto de partida em pouco mais de meia hora, ele mostrou que o homem poderia estar no controle. Isso foi revolucionário para a época. De quebra, ganhou o disputadíssimo Prêmio Deutsch, que lhe deu uma pequena fortuna, dividida em duas partes: metade para seus mecânicos, metade para pobres de Paris. A população da cidade, que já acompanhava seus experimentos pelo ar, passou a idolatrá-lo.

Cinco anos depois, em 1906, Santos-Dumont voltou a fazer história ao decolar com o 14-bis, um veículo mais pesado que o ar. E, diferentemente dos irmãos Wright, fez isso sem auxílio externo e diante não só de jornalistas e integrantes da comissão julgadora como de uma multidão. Foi outra revolução. Mais tarde, após criar a Demoiselle, sua obra-prima, Santos-Dumont publicou gratuitamente todas as plantas do novo invento na revista Popular Mechanics. E um monte de gente conseguiu replicá-lo.

Além dos dirigíveis e aviões, Santos-Dumont criou e registrou outros objetos curiosos e menos conhecidos. Um deles foi o conversor marciano, destinado a ajudar alpinistas a subir montanhas cobertas de neve numa época anterior aos teleféricos. Outro foi um lançador de boias para auxiliar banhistas em dificuldade. Criou ainda um dispositivo que servia para estimular cachorros em corridas.

Todos capítulos de uma rica trajetória que infelizmente é cada vez menos conhecida, sobretudo entre os mais jovens, apesar de conter sementes de conceitos hoje muito valorizados, como design e empreendedorismo. E o que dizer das modernas startups, cujo pilar é desenvolver uma ideia inovadora que provoque impacto na sociedade e possa ser escalável e repetível?

Santos-Dumont já fazia isso há mais de um século. Esse pioneirismo tem de ser valorizado. E essa história jamais pode deixar de ser motivo de orgulho para o Brasil e os brasileiros.