Plant Project Ed. #11

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Para quem pensa, decide e vive o agribusiness

COLHEITA NO LIXO Combater o desperdício é a nova fronteira para colocar mais 1,3 bilhão de toneladas de alimentos no mercado e recuperar US$ 1 trilhão em negócios perdidos

ROBOLUÇÃO À MESA Os robôs invadem as cozinhas e provocam reações mundo afora

ECONOMIA Estudo internacional revela como a soja transgênica gerou riqueza nas cidades brasileiras PLANT TALKS EMPREENDEDORISMO, TECNOLOGIA, ESTRATÉGIA E MUITO MAIS NAS ENTREVISTAS COM ALBERTO ARAUJO, DA BELAGRÍCOLA, E LEANDRO PINTO, DA GRANJA MANTIQUEIRA

TOP FARMERS

As trajetórias incomuns e vencedoras de Sarita Rodas e Edson Trebeschi venda proibida distribuição dirigida www.plantproject.com.br

O MUNDO DE TEMPLE A viagem pelo Brasil da mulher que está mudando a pecuária


RECOMENDA

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PLANT PROJECT Nยบ11

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Ed i tori a l

Esta edição de PLANT que você tem em mãos circula originalmente no

NOSSAS NOVAS BANDEIRAS

período eleitoral de 2018. É o momento em que os brasileiros escolhem seus representantes, nos poderes Executivo e Legislativo, ambos em níveis estadual e federal. Elegem nomes e rostos que deveriam personificar causas. Entre os 23 mil candidatos, centenas se identificam como defensores

Para quem pensa, decide e vive o agribusiness

das bandeiras do agronegócio. É fundamental conhecê-los e compreender suas reais plataformas. O principal setor da economia brasileira precisa

COLHEITA NO LIXO Combater o desperdício é a nova fronteira para colocar mais 1,3 bilhão de toneladas de alimentos no mercado e recuperar US$ 1 trilhão em negócios perdidos

ROBOLUÇÃO À MESA Os robôs invadem as cozinhas e provocam reações mundo afora

ECONOMIA Estudo internacional revela como a soja transgênica gerou riqueza nas cidades brasileiras PLANT TALKS EMPREENDEDORISMO, TECNOLOGIA, ESTRATÉGIA E MUITO MAIS NAS ENTREVISTAS COM ALBERTO ARAUJO, DA BELAGRÍCOLA, E LEANDRO PINTO, DA GRANJA MANTIQUEIRA

TOP FARMERS

As trajetórias incomuns e vencedoras de Sarita Rodas e Edson Trebeschi venda proibida distribuição dirigida www.plantproject.com.br

O MUNDO DE TEMPLE A viagem pelo Brasil da mulher que está mudando a pecuária

mais do que nunca de mentes e vozes capazes de refletir, encampar e verbalizar seus anseios e necessidades. Tão diverso quanto o Brasil, o agro tem várias faces. Assim, é natural que sua representação política reflita essa multiplicidade de interesses setoriais ou regionais, demandas históricas e outras recém-identificadas. É mais do que relevante, porém, que a futura bancada do agronegócio carregue consigo uma agenda moderna do setor, que compreenda o momento da sociedade brasileira e mundial como um todo. Dialogar com o público urbano e transmitir para ele a real imagem da produção agropecuária brasileira deve estar também na ordem do dia de deputados e senadores ligados ao setor. O agro contemporâneo deve buscar sintonia com a cidade em temas como empreendedorismo, proteção à ciência, legislação trabalhista, preservação. O campo tem mensagens a passar em temas como agroambientalismo, tecnologia de produção e até na defesa de instituições como a Embrapa. Necessita de legislação mais avançada, que incentive o investimento e promova a competitividade de nossos produtos, assumindo nossa vocação de sermos a nação líder na produção sustentável de alimentos para o mundo. A plataforma PLANT PROJECT defende essas bandeiras permanentemente. Cobrará ação dos eleitos e indicará tendências para serem incluídas na pauta dos debates. Como fizemos na reportagem “O Futuro da Comida”, publicada na edição #03, recentemente reconhecida como vencedora da categoria Revistas do prêmio Massey Ferguson de Jornalismo, um dos mais relevantes do setor no País.

Luiz Fernando Sá Diretor Editorial

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Na Plant Project, cada edição é como uma safra. Começamos com as páginas em branco, como a terra nua à espera das sementes. Semeamos ideias na forma de pautas, fertilizadas com apuração rigorosa. Nossa propriedade tem vários talhões, que chamamos editorias, cada um dedicado a um universo, mas todos voltados à mesma função de alimentar o mundo com informação sobre a face moderna do agro moderno, que olha para o futuro, contemporâneo e cosmopolita. Foram 11 safras, 11 edições – da primeira, número zero, lançada como teste no Global Agribusiness Forum (GAF) de 2016, a esta, número 10, no GAF

SUA REDE DE

2018 – em dois anos. Nesse período fértil, porém, Plant produziu muito

CONEXÃO

mais que conteúdo impresso. Nosso principal fruto foram conexões. Através da comunicação, geramos links poderosos entre os diversos elos da imensa cadeia produtiva que começa nas partes mais distantes do interior do Brasil e se encerra nas mesas nos mais diversos países. Plant vai muito além de suas páginas. Em nosso terreno germinaram pro-

COM O AGRO DO FUTURO jetos transformadores, que revelaram o melhor do agronegócio de manei-

ras inéditas e aproximaram campo e cidade. Mostramos o exemplo dos Top Farmers, a inovação dos empreendedores da agricultura digital na plataforma StartAgro, os novos líderes, as tendências, os protagonistas.

Nesta edição, lançamos as sementes de mais dois projetos: Plant Talks, que trará entrevistas exclusivas com os CEOs das principais empresas do agronegócio, e Plant Positivo, um canal para relatar histórias que merecem ser compartilhadas, um antídoto às improdutivas fake news. Mais do que celebrar dois anos, reafirmamos aqui nosso manifesto. Acreditamos que o poder de transformação passa pela mudança de comportamento Todo dia é uma oportunidade dee pensamento das novas gerações. Cremos que novos negócios só criar novas e relevantes histórias no quando as pessoas se conectam. Com outras pessoas. Com são possíveis campo. Com a Plant é assim: há 2 anos marcas. Com seu público. Com novos mercados. Com o mundo. desenvolvemos conexões inteligentes, consistentes e decisivas entre o agro do futuro e as grandes marcas através Sá Luiz Fernando de projetos transformadores. Diretor Editorial /PlantProjectBrasil

Quer transformar seus negócios no campo? Conecte-se com o agro do futuro. Acesse: www.plantproject.com.br

/plant-project revistaplantproject


Í ndi ce

plantproject.com.br

G pág. 7 Ag pág. 17 G LO B AL

D i r etor E ditoria l Luiz Fernando Sá luiz.sa@plantproject.com.br D i r etor Comerc ia l Phelipe Krisztan Pedroso Marketing e Publicidade Multiplataforma phelipe.pedroso@plantproject.com.br D i r etor Luiz Felipe Nastari A rt e Andrea Vianna Projeto Gráfico e Direção de Arte Col ab o ra dores: Texto: Amauri Segalla, Eula Lôbo, Flávia Tonin, Irineu Guarnier Filho, Liege Albuquerque, Livia Andrade, Marius Robles, Romualdo Venâncio, Tiago Dupim, Xico Graziano Fotografia: Cláudio Gatti, Rogério Albuquerque Design: Bruno Tulini, Pedro Matallo Revisão: Rosi Melo Estagiários: João Rodriguez, Pedro Romanos Com un i cação Eliane Dalpizol Coordenadora de Comunicação eliane.dalpizol@datagro.com Ev e n to s Simone Cernauski A d m i n i st ração e Fina nç as Cláudia Nastari Sérgio Nunes

publicidade@plantproject.com.br assinaturas@plantproject.com.br I m p r essão e aca b a mento : AR Fernandez Gráfica

AGRIBUSINESS

pág. 53

Fo pág. 66 Fr pág. 75 W pág. 83 Ar pág. 97 S pág. 105 M pág. 130 FORUM

FRONTEIRA

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Produtora colhe baunilha em Madagascar: Planta se transformou em tesouro e perigo na ilha africana

G GLOBAL

O lado cosmopolita do agro

foto: Shutterstock PLANT PROJECT Nยบ11

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G

GLOBAL

O lado cosmopolita do agro

M A DAG AS CA R

OS “BAUNILHIONÁRIOS” Agricultores fazem fortuna com a versão pura da iguaria produzida na ilha de Madagascar, mas negócio rentável atrai criminosos, que espalham violência e medo pelo país

A aldeia de Ambanizana é um dos lugares mais remotos da ilha de Madagascar, na África. Para chegar lá a partir da capital, Antananarivo, é preciso enfrentar quatro horas de voo, duas horas de lancha, 30 minutos de canoa e outros 20 de caminhada. O esforço vale a pena. Encravado entre a floresta e o mar, o lugar tem lindas paisagens, mas se tornou conhecido por outro motivo: o cultivo de baunilha, planta que encontrou nas sombras generosas, na umidade elevada e nas temperaturas moderadas o ambiente ideal para florescer como em nenhum outro lugar do mundo. Graças a essas características especiais, a baunilha de Madagascar tem sabor e 8

intensidade únicos, típicos da localidade onde é cultivada – mais ou menos como acontece com as melhores regiões vinícolas do planeta. Seu gosto peculiar, parecido com o rum, tem um preço. E ele é alto. Em 2018, o quilo da baunilha da ilha africana chegou a ser vendido a US$ 600, o maior preço já registrado desde que Madagascar se tornou um grande centro produtor, há 50 anos. O valor também equivale a uma pequena fortuna, especialmente em um país com renda per capita média anual de US$ 1.500 e que abriga milhões de pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza. O negócio prosperou tanto que deu origem a uma leva de “baunilhionários”,


A fava, a flor e o trabalho manual para a produção da baunilha: 80 mil famílias vivem da planta

como são conhecidos os agricultores que fizeram muito dinheiro com a baunilha. Segundo o governo local, 80 mil fazendeiros cultivam as orquídeas trepadeiras onde nascem as favas de baunilha, também chamadas de vagens. Mas apenas uma pequena parcela de agricultores – não mais do que uma centena – produz o suficiente para enriquecer. O cultivo da baunilha é um processo longo e delicado. Os produtores usam uma vara fina e afiada para erguer a frágil membrana da flor e, assim, polinizá-la manualmente. São necessárias 600 flores polinizadas à mão para produzir apenas 1 quilo de favas de baunilha. Não é só. Depois da meticulosa polinização, as vagens demoram nove meses para amadurecer e, então, serem colhidas. Se chove muito, ou se não chove, o processo fica comprometido, e a lavoura pode ser perdida. Em geral, para cada 100 quilos de favas verdes, sobram só 15 quilos de baunilha seca pronta para ser exportada. Além das oscilações climáticas, os agricultores enfrentam um inimigo ainda mais perigoso: os assaltantes. Como a baunilha é cara e, portanto, altamente rentável, quadrilhas especializadas em roubá-la surgiram no país, obrigando os fazendeiros a contratar equipes de segurança

que passam 24 horas por dia vigiando as plantações. Não são raros no país sequestros de parentes dos agricultores, que só são liberados mediante o pagamento em baunilha. Segundo a polícia local, as quadrilhas têm conexões com grupos exportadores, que vendem a iguaria no mercado negro da Ásia e da Europa. Se a produção de um agricultor é roubada, ele terá perdido todo o sustento da família durante um ano inteiro. Alguns perdem tudo mesmo – casa, terras – e ficam sem dinheiro até para comer. Num país pobre como Madagascar, não há forças policiais suficientes para defender os trabalhadores. Uma solução encontrada por algumas comunidades tem sido contratar milícias armadas para protegê-las. Os fazendeiros se reúnem e dividem os custos da contratação, mas esse modelo também pode ser arriscado. Há casos de milícias que se voltaram contra os próprios agricultores depois de receberem ofertas mais vantajosas de criminosos. Não há baunilha no mundo que rivalize com a especiaria produzida em Madagascar. Por isso mesmo, ela é a preferida por restaurantes, pâtisseries e

sorveterias da Europa e dos Estados Unidos que prezam pela qualidade de seus cardápios. Como o preço subiu muito nos últimos anos, apenas um seleto grupo consegue oferecer a verdadeira baunilha saída dos rincões da ilha africana. Na verdade, há baunilha por todos os lados – em essências de velas, cupcakes e sobremesas. A questão é que esse cheiro e sabor são, quase que certamente, artificiais. Segundo recente estimativa feita por um grupo de pesquisadores ingleses, menos de 1% das baunilhas consumidas no mundo saem de favas de verdade como as que existem em Madagascar. A versão mais comercializada é a vanilina sintética, composto que tem aroma ligeiramente próximo ao da baunilha pura e original. Ela é 20 vezes mais barata que a real e, obviamente menos saborosa. PLANT PROJECT Nº11

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G NORUEGA

CÂMERAS DIZEM QUANTO OS PEIXES DEVEM COMER Nem só de gigantes como Apple, HP e IBM vive o Vale do Silício. Foi lá que surgiu, há dois anos, um dos projetos mais inovadores da piscicultura no mundo. A norueguesa Aquabyte desenvolveu uma tecnologia que reduz em até 30% a quantidade de comida consumida por peixes em cativeiro. Funciona assim: a empresa desenhou câmeras 3D subaquáticas que, instaladas nos criadouros, calculam, a partir do tamanho e do peso do peixe, a quantidade exata de comida que ele precisa para crescer de forma saudável. Estudos mostram que a iniciativa reduziu consideravelmente o desperdício de ração – ou seja, ela tem potencial para economizar bilhões de dólares para a piscicultura. A Noruega será o primeiro país a testar o projeto.

I N G L AT E R R A

No agronegócio, o futuro é vertical Nos últimos dois anos, a Ocado, uma rede de supermercados britânica 100% on-line, ficou famosa ao construir armazéns ultra-hi-techs que usam robôs e Inteligência Artificial para entregar produtos fresquinhos em poucas horas. Agora, a empresa quer revolucionar o conceito de fazendas verticais. A ideia é que seus robôs cultivem hortaliças e criem peixes e lagostas em milhares de recipientes empilhados uns em cima dos outros. Cada caixa teria algo como 1,5 metro de altura, 10

o suficiente para permitir que as plantas cresçam até a sua altura natural. Todo o plantio, poda a pulverização das hortaliças e a alimentação dos peixes serão feitos por robôs conectados por wi-fi e programados para identificar o momento ideal da colheita ou do abate do animal. Segundo a Ocado, a iniciativa irá evitar que grandes áreas de terra sejam destinadas ao agronegócio. As primeiras unidades do novo sistema devem começar a funcionar no ano que vem, na Inglaterra.


E S TA D O S U N I D O S

SECA COLOCA AQUÍFERO EM RISCO

As erupções do vulcão Kilauea, o mais ativo do mundo, proporcionam uma visão deslumbrante aos turistas que visitam o Havaí, mas elas também causam transtornos. Apenas nos últimos dois anos, os rios de lava que descem as encostas do Parque Nacional dos Vulcões devoraram lavouras inteiras de frutas e grãos e geraram perdas estimadas em US$ 14 milhões. De acordo com um relatório recente do departamento de estado, mais de mil agricultores foram afetados, e alguns deles perderam tudo – safra, terra para plantar, casa para viver. Além disso, a lava evaporou boa parte do Great Lake, maior recurso natural de água doce da ilha, e há o temor de que milhares de havaianos tenham que deixar sua residência nos próximos meses se a fúria do Kilauea não se aplacar.

ÁFRICA DO SUL

MENOS METANO NO PASTO É curioso como pesquisas científicas sofisticadas podem derrubar certezas consagradas ao longo dos anos. Josef van Wyngaard, um estudante de nutrição animal da Universidade de Pretória, na África do Sul, sempre imaginou que as emissões de metano pelo gado poderiam ser menores do que os valores estimados pelos especialistas. Wyngaard fez o que poucos deles fizeram: foi a campo realizar um estudo minucioso. Durante quase três anos, ele captou o nível de metano por meio de equipamentos

instalados em fazendas de seu país. Os resultados mostraram que as emissões decorrentes da pecuária eram 7% inferiores às estatísticas apresentadas em 2006 no Painel Intergovernamental de Mudança Climática (IPPC, na sigla em inglês), até hoje

usadas como parâmetro. Não é só. O pesquisador descobriu que alimentação balanceada, à base de um concentrado especial, pode reduzir as emissões em até 30%. Trata-se de ótima notícia para o planeta. O metano, afinal, é um dos vilões do aquecimento global. PLANT PROJECT Nº11

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G VIETNÃ

BLOCKCHAIN ACELERA TRANSAÇÕES Não são apenas as moedas virtuais como bitcoins que se apoiam na revolucionária tecnologia blockchain para dinamizar os negócios. Recentemente, a gigante americana Louis Dreyfus utilizou os algoritmos do blockchain para vender soja ao governo chinês. Resultado: o processamento da transação, que normalmente levaria duas semanas, foi feito em uma. A tecnologia também começou a ser adotada

no rastreamento de commodities, especialmente grãos. Empresas que comercializam café, como grandes corporações exportadoras vietnamitas, desenvolveram QR Codes que permitem identificar a origem do produto. Os códigos criptográficos são registrados por meio do blockchain, que tem capacidade monumental para armazenar dados e que é praticamente indevassável.

E S TA D O S U N I D O S

CORRENTES ELÉTRICAS PARA PROTEGER CAMARÕES

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Durante 17 anos, a produtora americana de camarão NaturalShrimp teve que lidar com um inimigo poderoso: bactérias que devoravam seus crustáceos e geravam milhões de dólares em prejuízos. Quando apareciam, os surtos bacterianos devastavam tanques inteiros, eliminando todos os camarões. O problema se agravava porque os tanques da empresa ficam em Dallas, a cerca de 400 quilômetros do mar, o que parecia ser conveniente para a proliferação dos micro-organismos. Nenhum antibiótico foi capaz

de conter os ataques, mas a empresa enfim encontrou uma solução. E ela passa bem longe dos medicamentos. A NaturaShrimp descobriu que correntes elétricas instaladas nos perímetros dos tanques emitem vibrações que mantêm as bactérias afastadas. Os testes começaram a ser feitos no início deste ano em um reservatório de 65 mil litros localizado da unidade da cidade de San Antonio, e os camarões permaneceram ilesos. Agora a tecnologia será levada para todas as fazendas da empresa.


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G

H O L A N DA

A primeira fazenda flutuante do mundo

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Os holandeses tiveram que aprender a domar a água desde cedo. Como boa parte de suas terras fica abaixo do nível do mar – daí o nome “Países Baixos” –, eles construíram ao longo dos séculos diques, canais e outras barreiras capazes de conter a natureza. A engenhosidade holandesa continua dando origem a ideias inovadoras.


A mais recente delas é uma fazenda de pecuária flutuante, a primeira desse tipo no mundo. Tudo começou em 2012, quando Peter van Wingerden, engenheiro da construtora Beladon, visitou Nova York e se deparou com um projeto habitacional no Rio Hudson. “Naquela mesma hora, imaginei fazer uma fazenda flutuante na Holanda”,

disse ele em entrevista à rede britânica BBC. Nos últimos seis anos, Peter desenvolveu o projeto, que tomará forma no final de 2018. A fazenda da Beladon terá três níveis e ficará em uma plataforma no porto de Merwehaven, em Roterdã. A ideia é levar para lá 40 vacas leiteiras, que irão produzir 800 litros de leite por dia, o suficiente

para o empreendimento se pagar. “Também cultivaremos lentilha como alimento para os animais”, afirmou o executivo. O projeto tem forte pegada sustentável. Além da lentilha, as vacas irão comer resíduos da indústria alimentícia de Roterdã e a fazenda está preparada para gerar a sua própria energia, produzida por painéis solares.

PLANT PROJECT Nº11

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G CHILE

LEITE SEM VACAS E MAIONESE SEM OVOS

"O que aconteceria se pegássemos as plantas e as transformássemos em queijo, ovos, leite e presunto?" Com essa dúvida em mente, três amigos chilenos fundaram, em 2015, a Not Company, empresa que está conseguindo replicar alimentos de origem animal a partir de plantas. “Um alimento nada mais é do que a soma de estruturas químicas”, disse em entrevista à imprensa chilena Pablo Zamora, sócio da startup. “O que fazemos é estabelecer, com a ajuda da Inteligência Artificial, a combinação química ideal para produzir uma comida específica.” Zamora criou um software que identifica conexões entre proteínas vegetais e animais e determina quais ingredientes à base de plantas imitam características encontradas em carnes vermelhas, aves e laticínios. Inserir mais dados no sistema aumenta a sua base de conhecimento e, portanto, a capacidade de apontar os vegetais com estrutura molecular parecida com a de produtos animais. Por enquanto, a Not já lançou um ovo vegetal no mercado.

E S TA D O S U N I D O S

O banco de dados dos micróbios Todos os anos, micróbios famintos encontrados nas folhas e raízes de plantas geram bilhões de dólares em prejuízos. Para contêlos, a americana Indigo Agriculture iniciou uma tarefa hercúlea: identificar cada um desses seres e, assim, estabelecer os efeitos que eles possam provocar na saúde das lavouras. Ao usar o sequenciamento do genoma 16

e a análise computacional, a startup erigiu um banco de dados inédito no mundo com as características de milhares de micróbios vegetais. A partir dessas informações, a empresa pretende identificar aqueles que possam provocar

mais danos às plantas. O negócio é tão promissor que a Indigo arrecadou mais de US$ 370 milhões para dar andamento ao projeto, o que é muito dinheiro em se tratando de empresas iniciantes.


Restos de alimentos jogados no lixo: Desperdício traz perdas (e oportunidades) de US$ 1 trilhão por ano

Ag AGRIBUSINESS

Empresas e líderes que fazem diferença

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Ag AGRIBUSINESS

Empresas e líderes que fazem diferença

COLHEITA NO DESPERDÍCIO Produtores rurais, startups, redes varejistas, restaurantes e empresas de diversos setores lançam tecnologias e desenvolvem métodos para enfrentar um problema que gera perdas trilionárias e que tem potencial para destruir o planeta POR AMAURI SEGALLA

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N Ag Reportagem de Capa

o final de 2018, 4,3 bilhões de toneladas de alimentos serão produzidos no mundo. Desse total, 1,3 bilhão irá para o lixo, segundo estimativas da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Embora a própria FAO reconheça que o número possa conter alguma imprecisão (há tantas variáveis envolvidas, do tamanho do PIB às tecnologias de produção, entre inúmeras outras, que é impossível cravar um indicador exato), os especialistas concordam que cerca de 30% dos alimentos, de qualquer parte do planeta, são desperdiçados ou se perdem de alguma forma. Algumas simples comparações dimensionam o problema. A cada ano, o mundo joga fora 20% de toda a carne produzida, o equivalente a 75 milhões de bovinos abatidos, 30% dos peixes, algo como 3 bilhões de salmões, e 45% das frutas, mais ou menos 3,7 trilhões de maçãs. Estudos da FAO mostram que 24% de todas as calorias prontas para consumo jamais cumprem o seu destino. Ainda mais chocante: a quantidade seria suficiente para alimentar todos os 800 milhões de famintos do mundo – e não uma, mas quatro vezes. Do ponto de vista financeiro, o desperdício é uma tragédia. Os alimentos eliminados valem aproximadamente US$ 1 trilhão. Para ficar bem claro o que isso significa: todos os anos, um montante semelhante à metade do PIB do Brasil acaba na pilha de compostagem – ou em destino ainda menos adequado. Apenas para produzir a quantidade colossal de comida desperdiçada, gasta-se US$ 172 bilhões em água e ocupa-se uma área equivalente a todo o México. Sob qualquer ângulo que se analise a questão, o resultado parece óbvio: a redução do desperdício é vital para o futuro do planeta e a sobrevivência dos humanos. O tema começou a ser debatido com seriedade em meados dos anos 1990, quando preocupações ambientais ganharam força. Mas só agora, com a chegada de novas tecnologias, é que o desperdício passou a ser combatido de forma mais efetiva. De acordo com estimativas da AgFunder, referência global em investimentos em tecnologia para a agricultura, desde 2015 investidores despejam cerca de US$ 100 milhões por ano em startups que desenvolvem alternativas capazes de reduzir os detritos alimentares. A boa notícia é que o dinheiro está sendo bem usado. Poucas fronteiras empresariais têm apresentado um espectro tão grande de inovações, e com resultados concretos para justificar o volume de recursos aplicados. Na Europa e nos Estados Unidos, há uma corrida no ambiente acadêmico e empresarial para criar tecnologias de ataque ao desperdício. No Reino Unido, a startup Entomics, criada há três anos por quatro alunos de biologia e engenharia da Universidade de Cambridge, irá lançar no mercado um projeto inusitado. Para os jovens mentores da empresa, a melhor maneira de eliminar a comida que sobra nos supermercados e restaurantes é oferecê-las a uma pequena criatura: moscas. Parece asqueroso, mas o sistema tem se revelado eficiente. É fácil entender como a coisa funciona. As larvas de moscas são comedoras vorazes e podem ingerir

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quantidades enormes de alimentos prestes a estragar, ou mesmo podres. Ao fazer isso, elas eliminam 95% do volume da comida e a metabolizam em proteínas e gorduras. Bem nutridas, e carregadas de proteína absorvida do lixo, essas larvas se transformam em ração para alimentar aves, peixes e animais de estimação. Segundo Matt McLaren, um dos empreendedores por trás da ideia, a iniciativa tem potencial para provocar uma pequena revolução no planeta. “Asseguro que é um dos métodos mais eficientes e seguros para eliminar detritos alimentares”, disse ele a uma TV britânica. Também inglesa, a Spare Fruit lida com os resíduos de maneira mais saborosa. Restos de frutas como peras e maçãs são transformados em chips crocantes. A empresa compra de fazendeiros locais alimentos que seriam descartados porque não atendem aos critérios rigorosos, mas muitas vezes injustificáveis, de consumo das pessoas. Em geral, as frutas são rejeitadas por motivos fúteis: manchas causadas por fenômenos climáticos (granizo, geada), descoloração (resultado de chuvas irregulares), formato ou tamanho errados (que se devem aos desígnios da natureza). Para os fazendeiros, trata-se de ótimo negócio vender o que seria jogado no lixo. Para a Spare Fruit, é também uma oportunidade de fazer dinheiro. As frutas descartadas passam por um processo de secagem, são cortadas em fatias finas e desidratadas até virarem chips. Desde 2016, quando foi criada, a Spare Fruit transformou centenas de toneladas de lixo em alimentos saudáveis que já ocupam as prateleiras de grandes redes de supermercados da Inglaterra. De acordo com estudos recentes realizados pela FAO, mais da metade das perdas (54%) em âmbito mundial ocorre nas fases de produção, armazenamento e transporte. O desperdício posterior, que corresponde a 46% do total, está relacionado a hábitos dos consumidores ou a questões ligadas às vendas. Segundo Murilo

Equipe da Entomics e os snacks da Spare Fruit: startups trazem novas abordagens para reaproveitamento de alimentos que iam para o lixo

Freire, pesquisador da Embrapa, maior centro de pesquisas sobre o agronegócio brasileiro, para entender a fundo a questão é preciso antes de tudo distinguir perda e desperdício. “Perda é o alimento que não chega ao consumo humano”, diz o especialista. “Ela se dá por diversas razões. Um exemplo: se o produtor precisa fazer a correção do solo e não faz, pode acabar perdendo o que plantou.” O pesquisador da Embrapa continua: “O desperdício ocorre no final da cadeia. Na maioria das vezes, o produto não tem padrão comercial para as vendas e acaba sendo descartado de propósito”. No Brasil, entre as principais causas das perdas de frutas e hortaliças estão o manuseio inadequado, embalagem fora de padrão e falhas PLANT PROJECT Nº11

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Os dinamarqueses do Too Good To Go e o brasileiro Teixeira, da Ndays: tecnologia para resgatar e transformar produtos perecíveis em novos negócios

no transporte das mercadorias. “Assim que o alimento é colhido, ele não pode ser tratado de qualquer maneira”, diz o pesquisador. “O produto precisa ser colocado em embalagem adequada e armazenado de forma que não prejudique a qualidade. Temos um índice elevado de perdas porque os produtores não sabem nada disso. Utilizam caixas de madeira que são abrigo de micro-organismos.” O profissional da Embrapa também culpa o consumidor pelos índices elevados de desperdício. “Nem sempre alimento bom é aquele com aparência impecável, e as pessoas foram educadas para acreditar nisso”, diz. “É preciso explicar que frutas, verduras e legumes fora de padrão também são produtos de qualidade.” No campo, o desperdício é um problema em busca de solução. Inúmeras AgTechs (como são chamadas as startups de tecnologia voltadas para a agricultura) trabalham lado a lado com produtores para encontrar alternativas tecnológicas para o problema. Em Santa Bárbara, nos Estados Unidos, a empresa de biotecnologia Apeel Sciences arrecadou no ano passado US$ 33 milhões para desenvolver uma notável inovação. A empresa usa extratos de plantas que, aplicados em lavouras de frutas, prolongam a vida útil dos produtos após a colheita. Pesquisas empíricas mostraram que a iniciativa tem potencial para reduzir o desperdício em até 50%. A também americana Wiserg está transformando cascas de banana em fertilizantes e combustível, o que de certa forma torna realidade o “Capacitor de Fluxo” do inesquecível De Volta para o Futuro, no 22

qual um cientista maluco usa lixo doméstico para gerar energia capaz de mover o seu carro. Empreendedores do mundo inteiro investem em tecnologias e métodos capazes de reduzir o número de resíduos alimentares descartados – e, claro, trazer algum retorno financeiro. Na Dinamarca, surgiu o aplicativo Too Good To Go, que os donos definem como um lugar que “resgata” refeições que seriam desperdiçadas. O termo resgate é apropriado. O app vende, em toda a Europa, sobras de restaurantes, mas apenas aquelas que não passaram pelos pratos dos clientes. Basta consultar o cardápio disponível na plataforma e se dirigir ao estabelecimento para pegar a comida, vendida a preços quase sempre módicos. O Too Good To Go fica com uma parte do valor da transação. Desde 2016, 5,2 milhões de refeições foram resgatadas pela plataforma e a meta é chegar a 10 milhões no final de 2019. Segundo a Associação de Restaurantes da Dinamarca, a iniciativa diminuiu em 70% a quantidade de comida que ia para o lixo. Na Inglaterra, o percentual é de 50%. Não é difícil imaginar o impacto planetário se todos os restaurantes do mundo fizessem algo parecido. No Brasil, a Ndays, do empresário Paulo Teixeira, é uma espécie de e-commerce de produtos perecíveis. Quem vende pode anunciar, no site, os produtos que estão próximos da data de vencimento. Quem compra, visualiza as ofertas on-line e recebe em casa, ou onde quiser, os itens por preços mais em conta do que nos supermercados. Em meados de agosto, a


Reportagem de Capa

Ag

A S TA X A S D E DESPERDÍCIO NO MUNDO 45% das frutas, hortaliças e raízes 30% dos cereais 30% dos pescados 20% das carnes de gado 20% dos legumes 20% dos lácteos

NO BRASIL, O DESPERDÍCIO ACO N T E C E N A S S E G U I N T E S E TA PA S : 50% no manuseio e transporte 30% na comercialização e abastecimento 10% no campo 10% no consumo final Fontes: FAO, Abras e empresas

plataforma anunciava itens como arroz, feijão, farinhas, cereais, azeite, massas, molhos e outros artigos que venceriam em sete dias e com descontos que podiam chegar a 50% do valor original. Teixeira diz que criou o negócio porque sempre quis ter uma empresa que gerasse impactos sociais. Atualmente, a startup conta com 20 mil produtos cadastrados e 100 parceiros comerciais ativos. Entre eles, grandes redes varejistas como o Extra. Para o varejo, o desperdício de alimentos é sinônimo de desperdício de recursos. Segundo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), o setor perde por ano R$ 7,1 bilhões com alimentos aptos ao consumo, mas que são jogados fora por danos, aparência inadequada ou validade vencida. O montante corresponde

a 2,10% do faturamento bruto dos supermercados do País. “Cada item que não cruza o natural e esperado caminho do checkout resulta em prejuízo”, diz Marcio Milan, superintendente da entidade. “Só conseguimos buscar soluções para aquilo que é identificado. O empresário precisa saber o que está perdendo para buscar tecnologias que possam auxiliar na prevenção.” Segundo a Abras, a seção chamada de FLV (frutas, legumes e verduras) puxa a fila do ranking de perdas, com índice de 6,09% do total comercializado. Na sequência, estão padaria e confeitaria (4,70%), rotisseria (3,99%), peixaria (3,26%) e carnes (3,07%). Algumas redes varejistas enxergam no problema a possibilidade de contribuir com projetos sociais. O Grupo Carrefour Brasil doa anualmente mais de 2,5 mil toneladas de alimentos para programas de combate a fome nos 26 estados do País e Distrito Federal. Os itens são encaminhados aos bancos de alimentos cadastrados pelo Ministério do Desenvolvimento Social ou ao Programa Mesa Brasil, do Sesc (Serviço Social do Comércio), que os encaminha para instituições e famílias de baixa renda cadastradas. Paulo Pianez, diretor de Sustentabilidade do Carrefour no Brasil, lembra que a empresa também lançou, em outubro do ano passado, o Programa Únicos, voltado à comercialização de alimentos fora do padrão estético tradicional. “Colocamos frutas e legumes com descontos a partir de 30%”, diz Pianez. “O projeto estimula o consumo dos alimentos considerados feios pelo senso comum, mas ainda

Paulo Pianez, do Carrefour, e Marina Fernie, da Unilever: ações na ponta final da cadeia

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OS NÚMEROS DA T R AG É D I A

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sequer em que deixamos de imaginar soluções para reduzir o desperdício”, diz o diretor de sustentabilidade. Coordenadora do programa Mesa Brasil, criado pelo Sesc em 1994 e que, apenas entre janeiro e abril de 2018, atendeu 2 milhões de pessoas com a distribuição de 12 mil toneladas de alimentos, Luciana Curvello Gonçalves reforça a importância de reeducar as pessoas. “A mentalidade do consumidor colabora fortemente para o desperdício, já que a estética, e principalmente ela, continua sendo valorizada”, diz. “Nem sempre o mais bonito é o mais saboroso.” A profissional revela que quase todo dia recebe doações de pães que seriam destinados para uma grande rede de fast-food, mas que não puderam ser aproveitados porque os produtos saíram da fornada com pequenos defeitos visuais que não atendem aos critérios de qualidade definidos pela empresa – e que só existem porque foram estabelecidos pelos próprios consumidores. Às vezes, o mercado consegue transformar o gosto dos consumidores. Um caso clássico de rearranjo comercial é o das maçãs da Turma da Mônica, que criaram um novo hábito de consumo. Como acreditava-se que as pessoas só estariam dispostas a comprar as frutas grandes e de cor vermelha intensa, as maçãs pequenas acabam sendo encaminhadas para a produção de sucos ou para alimentar porcos. Ou iam mesmo parar no lixo. Ao visitar uma fazenda, o cartunista Mauricio de

1,3 bilhão de toneladas de

alimentos, ou 30% de tudo o que é produzido, vai parar no lixo todos os anos

20% de toda a

carne produzida no mundo, o equivalente ao abate de 75 milhões de bovinos, é desperdiçada

24% de todas as calorias prontas para consumo jamais são utilizadas 800 milhões de famintos poderiam

ser alimentados se não houvesse desperdício de alimentos – e não uma, mas quatro vezes

US$ 1 trilhão é quanto o mundo perde por ano com os alimentos descartados

US$ 172 bilhões

são gastos em água para produzir alimentos que acabam no lixo

54%, ou mais da metade das perdas, ocorrem nas fases de produção, armazenamento e transporte 46% de tudo o que é desperdiçado se devem aos hábitos dos consumidores

Fontes: FAO, Abras e empresas

com sua qualidade preservada.” A iniciativa não tem valor apenas comercial para a empresa, que, afinal, faz algum dinheiro e cobre custos com itens que seriam descartados na lixeira mais próxima. Ao colocar à venda alimentos que desafiam o padrão estabelecido, o Carrefour de certa forma colabora para a reeducação dos consumidores. “Se as pessoas não comprarem a ideia de que o desperdício é um problema sério, e que é possível comer, digamos, uma pera que não tem a aparência perfeita que ela quer, não vamos a lugar algum”, diz Pianez. “O que está por trás de tudo o que fazemos é combater a cultura do desperdício, que começa antes mesmo de o produto chegar à gôndola, com alimentos defeituosos eliminados na própria lavoura.” Outra ação da empresa, lembra o diretor, é realizar o repacking de produtos soltos. Os alimentos que costumam ser deixados nas gôndolas, como dentes de alho e bananas que caem do cacho – mas em perfeitas condições para o consumo – ganham uma nova “roupagem” e são novamente colocados à venda. Além disso, a rede conseguiu reduzir pela metade o desperdício de bananas com uma medida simples: trocar os móveis onde as frutas ficam expostas. Eles foram configurados para evitar o atrito entre produtos frágeis, e a ideia funcionou. Não é só. Todas as padarias da rede transformam o pão não vendido em torradas e farinha de rosca, o que praticamente eliminou o descarte. “Não há um dia


Reportagem de Capa

Sousa observou como era feito o descarte das maçãs menores, que ele havia experimentado e percebido que eram também saborosas. Foi nessa ocasião que teve a ideia de lançar as maçãs com o selo Turma da Mônica. A estratégia deu certo e atualmente as maçãs pequenas representam entre 10% e 20% da fruta consumida no País. O exemplo de Mauricio de Sousa é, no entanto, raro. Uma pesquisa recente realizada pela Unilever, dona de marcas como Hellmann’s, Knorr, Arisco, Kibon e Maizena, comprovou que a preocupação com o desperdício não está no radar da maioria das pessoas. De acordo com o estudo, 61% dos brasileiros assumem jogar fora um ou dois alimentos semanalmente – 49% fazem isso todos os dias. “O mais alarmante é que eles assumem descartar alimentos em perfeito estado para serem consumidos”, diz Marina Fernie, vice-presidente da área de alimentos da Unilever no Brasil. Como era de se esperar, os perecíveis são os mais desperdiçados. “Saladas, vegetais e frutas formam o top 3 dos itens que mais vão parar na lixeira”, diz a executiva. Reconhecida por desenvolver iniciativas pró-sustentabilidade, a Unilever adota uma série de medidas para lidar melhor com os resíduos. Exemplo disso foi a mudança do formato dos sachês de ketchup, mostarda e maionese da marca Hellmann’s, que ganharam o sistema de abertura “abre-fácil”. Segundo a empresa, o modelo evita o desperdício na abertura da embalagem e durante o consumo. Além disso, por sugestão dos próprios consumidores, criou embalagens squeeze. “Elas são mais fáceis de apertar e, por isso, reduziram a sobra que ia para o lixo de 13% para 3%”, afirma Marina. No Reino Unido, a Unilever foi ainda mais ousada. Como os tomates verdes são sempre descartados pelos consumidores, a empresa resolveu fazer uma discreta provocação. “Desenvolvemos um ketchup com tomate verde”, diz a executiva. “Ao investir em um produto assim, queremos estimular a reflexão das pessoas, mostrar que é

Ag

possível aproveitar os alimentos.” O ketchup verde deverá ser lançado no mercado brasileiro, mas ainda não há previsão de data. As principais empresas de alimentos que atuam no Brasil estão de alguma forma atacando o problema do desperdício. Uma das líderes do setor de restaurantes corporativos, a Sapore serve mais de 1 milhão de refeições por dia e administra uma rede formada por 1,1 mil estabelecimentos. Para evitar o acúmulo de resíduos, a empresa aposta na padronização. “Os alimentos já chegam cortados, higienizados e preparados para a operação”, diz Vanessa Veloso, diretora de operações da empresa. “Até as proteínas vêm padronizadas, com a gramatura ideal. Com isso, geramos 25% menos lixo.” O que não é aproveitado acaba sendo encaminhado para fabricantes de adubos ou para a suinocultura. Iniciativas como essas parecem confirmar uma previsão feita recentemente por Bill Gates, o criador da Microsoft, que hoje dedica boa parte do tempo a causas humanitárias. “Vai chegar o dia em que desperdiçar alimentos será considerado um atentado ao planeta”, disse Gates. A julgar pelo esforço das empresas e pela revolução desencadeada por tecnologias inovadoras, esse dia está cada vez mais próximo.

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Ag

Pesquisa

O QUE NOS DIZ O CENSO AGROPECUÁRIO DE 2017? Por Xico Graziano*

O

s resultados preliminares do novo Censo Agropecuário 2017, divulgados pelo IBGE, trazem algumas informações essenciais para entender nossa realidade agrária e suas tendências mais recentes. Primeiro de tudo, é impressionante perceber que o Brasil mantém estável, por quase meio século, sua base produtiva no campo, ao redor de 5 milhões de estabele- cimentos rurais. Pequenas variações sobre esse número, para mais ou para menos, acontecem desde 1970. Muitos imaginam, baseados no senso comum, que está ocorrendo um processo de concentração fundiária, ou seja, os grandes engolindo os pequenos no campo. Teimosamente, porém, a cada levantamento censitário, o IBGE não comprova essa tendência, que parece mais própria na economia urbana. Desde 1980, quando se acelerou a modernização tecnológica do agro nacional, a área média dos estabeleciment os rurais permanece a mesma, próxima de 70 hectares. É surpreendente.

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Nos Estados Unidos, para comparação, ocorreu uma drástica redução dos produtores rurais: de cerca de 6 milhões, no pós-guerra, quando se iniciou a capitalização do agro norte-americano, caíram para 2 milhões de propriedades rurais atualmente. Há um detalhe nessa comparação: nos EUA, são agora consideradas propriedades rurais somente aquelas que produzem e vendem, no mínimo, US$ 1.000 de gêneros agropecuários durante o ano. No Brasil, é diferente. Basta ter um pedaço de terra, mesmo sem sequer produzir nem comercializar nada, que é cadastrado como “estabelecimento rural”, incluindo incontáveis sítios de lazer, de gente bacana, ou simples moradias rurais, de pessoas pobres. Essa é uma das razões para se entender uma característica marcante de nosso mundo rural, conforme recenseado pelo IBGE: uma grande maioria de estabelecimentos rurais não produz quase nada, nem apresenta nível tecnológico suficiente para agregar valor na produção.


Vejam os números. Dos 5.072.152 de estabelecimentos rurais recenseados em 2017, uma maioria de 85,6% não têm tratores na propriedade, 58% não fazem nenhum tipo de adubação, 64% não utilizam defensivos para combater pragas e doenças das lavouras, 85% não utilizaram nenhuma forma de financiamento rural. Para efeito de argumentação, pode-se raciocinar que tais estabelecimentos rurais, cerca de 80% do total, não participam da produção agropecuária no País. Eles somam ao redor de 4 milhões de unidades pouco produtivas ou não produtivas no campo. Somente a divulgação dos dados completos, prevista para 2019, poderá permitir uma análise mais acurada dessa situação ligada à “improdutividade” rural. Olhando por outro lado, embora o Censo Agropecuário mostre a existência de 5.072.152 milhões de estabelecimentos rurais, quem carrega o piano da produção agropecuária no Brasil é um contingente de aproximadamente 1 milhão de produtores que, independentemente do tamanho, estão tecnificados. Neles se incluem 320 mil agricultores familiares que receberam recursos de financiamento do Pronaf. Esses dados preliminares do Censo não permitem verificar como se distribuem os estabelecimentos rurais em função da produção gerada. No Censo de 2006, conforme mostrou Eliseu Alves (Embrapa), percebia-se que cerca de 500 mil unidades respondiam

por 87% do valor da produção rural. Desses, 27 mil estabelecimentos rurais, os mais rentáveis, respondiam por 51,2% do valor da produção do agro. Representavam o top da agropecuária nacional. Somente quando vierem a ser divulgados os dados do novo Censo saberemos como se comportou essa distribuição. Terá havido um fenômeno de “inclusão tecnológica”, trazendo mais produtores para o mundo da produtividade com qualidade? Ou, pelo contrário, agravou-se a “exclusão tecnológica”? Esclarecer essa tendência será fundamental. Nessa discussão, com certeza a escolaridade dos produtores rurais será uma variável importante. Os dados preliminares do Censo Agropecuário de 2017 trazem informações preocupantes sobre o nível educacional: parte dos produtores é analfabeta (15,4%) ou tem baixíssimo grau de instrução (40%). Outros 25% concluíram apenas o ensino fundamental. É aqui, na educação, que certamente reside o maior desafio para o avanço tecnológico e a elevação da produtividade do campo. Manusear ferramentas de produção cada vez mais sofisticadas exige profissionalização crescente do agro. Além do mais, sabemos que a educação eleva a autoestima, torna as pessoas mais empreendedoras e abre as portas para o progresso. Quanto à ocupação do solo, há dados alvissareiros. As pastagens somam atualmente 158,6 milhões de hectares, utilizando 45% da

área dos estabelecimentos rurais. Desse total, 63% são pastagens plantadas em boas condições, 30% são pastagens naturais e apenas 7%, que correspondem a 11,8 milhões de hectares, podem ser caracterizadas como pastagens degradadas. Essa informação contraria dados, muito utilizados, que situam entre 40 e 80 milhões de hectares o estoque de pastagens degradadas no País. O Censo não comprova essa informação. As lavouras, por sua vez, se estendem por 63,3 milhões de hectares, utilizando 18% da área total dos estabelecimentos rurais. Delas, 87% são culturas temporárias e 13% permanentes. Chama atenção a quantidade de matas e florestas existentes dentro dos estabelecimentos rurais. Com 101,6 milhões de hectares, abocanham 29% da área total. Quer dizer, no Brasil, a área com florestas ultrapassa em 60% a área cultivada nos estabelecimentos rurais. É inusitado. Nenhum país produtivo do mundo pratica tamanha conservação de florestas nativas, em terras particulares. Conclusão: nada piorou no campo. O Brasil está fortalecendo um modelo próprio de agricultura tropicalizada, elevando a produtividade sem ameaçar a biodiversidade. Essa é a fórmula da agricultura sustentável: produzir + preservar. *Xico Graziano, ex-secretário da Agricultura do Estado de São Paulo e ex-deputado federal, é agrônomo, doutor em Administração, professor de MBA da FGV/Agro, consultor em sustentabilidade no agronegócio, escritor e conferencista. PLANT PROJECT Nº11

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O primeiro retrato do Brasil Agro Dados preliminares do Censo Agro 2017 mostram um País melhor

52

%

11,4

%

a mais de área destinada para a preservação ambiental – o que ressalta a preocupação do campo com a questão ecológica

1.790 % 158

%

de aumento dos estabelecimentos com acesso à internet – eles passaram de 75 mil para 1,4 milhão

de acréscimo de linhas de telefone em propriedades rurais – elas passaram de 1,2 milhão para 3,1 milhões

28

a mais de terras irrigadas – o aumento é resultado direto da chegada de novas tecnologias ao campo


350 MILHÕES

41

%

16,3 MILHÕES

de hectares – área total ocupada pela agropecuária brasileira, alta de 5% em 11 anos

de hectares – aumento da área rural entre 2006 e 2017, o equivalente ao território do estado do Acre

do território brasileiro – área total ocupada pelos estabelecimentos rurais

6,75 MILHÕES

de hectares a mais de área cultivada no Pará – o Estado teve a maior alta do Brasil graças ao aumento expressivo das pastagens

18,6% das propriedades rurais são comandadas por mulheres – no censo anterior, eram 12,7%, o que sinaliza a inclusão da mulher no ambiente rural

20,4%

de aumento do uso de agrotóxicos no campo – o que é pouco diante do avanço de 100% do volume produzido entre 2006 e 2017

1,5

milhão de trabalhadores a menos no campo – boa parte da mão-de-obra humana foi substituída por máquinas e equipamentos

9 MILHÕES

de hectares a menos no Nordeste – a região apresentou a maior queda devido ao avanço do processo de desertificação

408 MIL

tratores incorporados à produção – o número cresceu 50% entre 2006 e 2017, fazendo disparar a produtividade

5,07 MILHÕES de propriedades agrícolas – ou 2% a menos do que em 2106, o que demonstra maior concentração de terras

3.287 NOVAS PROPRIEDADES rurais com mais de mil hectares – elas aumentaram sua participação na área total cultivada de 45% para 47,5%

240 MILHÕES 9,4 MILHÕES de toneladas de grãos – a produção dobrou em relação ao último levantamento

de toneladas de carne bovina produzidas – ou 4,5% a mais do que no censo anterior, resultado da melhoria das pastagens e das tecnologias em genética

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Ag

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TransgĂŞnicos


A REVOLUÇÃO DA SOJA Como sementes geneticamente modificadas ajudaram a modernizar a economia brasileira, beneficiando não só agricultores mas também os grandes centros urbanos e áreas industriais

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Ag

Transgênicos

U

ma conhecida máxima no campo da ciência diz que estudos acadêmicos só têm valor se desafiarem o senso comum. Do contrário, eles se prestam apenas para reforçar velhas teorias – ou seja, aquilo que já sabe. Nesse aspecto, uma extenuante pesquisa realizada por três professores especializados na área de finanças tem méritos de sobra. O curioso é que, mesmo sendo do campo financeiro, seus esforços foram direcionados para o agronegócio. A escolha não poderia ter sido mais apropriada. Jacopo Ponticelli, professor adjunto de finanças da americana Kellogg School, uma das mais importantes escolas de negócios do mundo; Bruno Caprettini, da Universidade de Zurique, referência em ensino na Suíça; e Paula Bustos, do Centro de Estudos Monetários e Financeiros da Espanha, instituição consagrada na área de inovação, resolveram analisar o impacto da cultura de soja geneticamente modificada na economia brasileira. Conclusão: os efeitos econômicos do plantio não só foram positivos como se alastraram para os centros urbanos e áreas industriais. O resultado do estudo, portanto, se opõe ao que os especialistas convencionais imaginavam. Inovações no campo beneficiam, sim, toda a sociedade e não apenas pequenos grupos de fazendeiros e agricultores. O estudo dos três professores começou com uma premissa: na primeira década dos anos 2000, um dos períodos mais prósperos da história brasileira recente, o que teria levado trabalhadores das fazendas a migrar para o setor industrial? As novas oportunidades econômicas das grandes cidades atraíram os homens do campo ou foram as mudanças na agricultura que os forçaram a trocar a terra pelo asfalto? Os criativos

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pesquisadores suspeitavam que a resposta tinha a ver com a soja. Ou, para ser mais preciso, com a soja geneticamente modificada. Por mais estranho que isso possa parecer, eles estavam cobertos de razão. É preciso voltar no tempo para entender a linha de raciocínio dos profissionais. Em 2003, o Brasil legalizou, em meio a uma enxurrada de protestos de Ongs e movimentos sociais, a revolucionária semente de soja Roundup Ready (RR), desenvolvida pela Monsanto. Naquela época, como agora, a empresa era alvo de manifestações sob o argumento de que uma semente modificada poderia causar danos à saúde. Chamada de “Soja Maradona”, uma singela homenagem dos cientistas que a desenvolveram a um dos maiores jogadores da história do futebol, a semente foi criada com uma única missão: resistir a herbicidas, sobretudo os da família do glifosato. Antes da soja transgênica, os agricultores sofriam para controlar o apetite das ervas daninhas que infestavam as plantações. Até então indomáveis, elas obrigavam os fazendeiros a realizar um penoso processo de limpeza dos campos no início de cada estação de plantio. Se isso não fosse feito, as lavouras estariam provavelmente condenadas, gerando prejuízos irreparáveis. Mesmo o trabalho para limpar os campos causava perdas financeiras. Era preciso contratar trabalhadores para o serviço na mesma quantidade exigida para o plantio. É óbvio que o investimento necessário para realizar o processo recaía sobre o preço da soja, afetando a competitividade de toda a cadeia produtiva. A soja geneticamente modificada alterou essa lógica. Antes dela, os agricultores não conseguiam controlar


Pesquisadora em laboratório de sementes geneticamente modificadas: trabalho teve impacto bem longe da lavoura

as ervas daninhas por meio da aplicação de herbicidas sem matar também as suas plantações. Como a Roundup Ready resistia aos produtos químicos, a limpeza dos campos para a retirada de ervas daninhas deixou de ser necessária. Isso, por sua vez, permitiu a produção da mesma quantidade de soja em menos tempo e com um número menor de trabalhadores para realizar o serviço. Naquela época, em 2003, analistas do óbvio disseram que esse movimento beneficiava apenas

os donos da terra, já que milhares de funcionários seriam descartados. Além disso, os centros urbanos e industriais não teriam nada a ver com a história, pois sua estrutura econômica independia do que acontecia no campo. Eles estavam errados. Ao ser informado a respeito das aplicações da soja RR no Brasil, o professor Jacopo Ponticelli teve a ideia de fazer a sua pesquisa. Ele achou que o caso representava uma oportunidade para dissecar a forma como os países se desenvolvem e como se dão as transições das economias agrárias para as industriais. “Eu queria testar a teoria de que um aumento na produtividade agrícola poderia dar início a esse processo”, contou ele em um artigo escrito para a Kellog School. A partir da análise de uma infinidade de dados, incluindo movimentações demográficas, índices de produtividade, crescimento econômico das cidades e até níveis de financiamento e crédito, Ponticelli e seus colegas da academia chegaram a duas conclusões principais. A primeira delas: empresas de todo o Brasil colheram os benefícios da semente modificada. De acordo com o pesquisador, a nova soja liberou trabalhadores rurais para outros empregos, o que foi fundamental para que o setor industrial brasileiro se PLANT PROJECT Nº11

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desenvolvesse. A segunda conclusão: o advento da Roundup Ready enriqueceu os agricultores e isso foi ótimo para o Brasil. Capitalizados, eles colocaram mais dinheiro nos bancos, o que levou os centros urbanos a ter acesso a crédito a menor custo. Esses recursos, diz Ponticelli, não foram reinvestidos apenas no campo, mas também permitiram que as instituições bancárias financiassem um número maior de empresas do setor manufatureiro e de serviços. O ciclo, portanto, estava completo, com vantagens substanciais para toda a sociedade brasileira. Entre 2000 e 2010, a economia do Brasil cresceu mais de 40%. É consenso entre os especialistas que boa parte do avanço se deve ao desenvolvimento da indústria nacional. Esse avanço, segundo o 34

estudo liderado pelo catedrático da Kellog School, tem fortes conexões com a soja geneticamente modificada. “O aumento da produtividade agrícola repercute por toda a economia, fortalecendo o setor manufatureiro e direcionando o capital para os centros urbanos onde novos setores tendem a se desenvolver”, afirmou o professor. Em outras palavras: uma coisa está diretamente ligada a outra. Se há inovação no campo, ela provoca reflexos positivos na cidade. Se a produtividade agrícola aumenta, a indústria se fortalece. Para Ponticelli, duas razões principais explicam a migração do trabalho agrícola para o industrial. Ele chama a primeira delas de “teoria de atração”, que consiste no modelo clássico. Funciona assim: uma economia em crescimento aumenta a

renda das pessoas. Com mais dinheiro disponível, elas compram mais produtos manufaturados. Para fabricá-los, as indústrias precisam de mão de obra. Onde há ampla oferta de trabalhadores? No campo. Nesse processo, o setor industrial “atrai” os profissionais da agricultura com a promessa de salários melhores. A segunda explicação foi chamada por Ponticelli de “teoria da expulsão”. Nesse caso, a mudança acontece quando uma nova tecnologia torna a atividade agrícola mais produtiva. O avanço da produtividade leva a um efeito imediato: menos pessoas são necessárias para realizar a mesma quantidade de trabalho. Essas pessoas acabam sendo “expulsas” da agricultura e precisam encontrar emprego em outro lugar – e recorrem


Transgênicos

48%

dos lucros com o plantio da soja transgênica foram destinados a empréstimos ao setor de serviços

então ao setor industrial. Qual fator foi decisivo para explicar a transferência maciça de trabalhadores do campo para as áreas urbanas, movimento esse que levaria ao forte crescimento econômico verificado entre 2000 e 2010 no Brasil? Para encontrar a resposta, a equipe liderada pelo professor Ponticelli analisou uma montanha de dados. Eles cruzaram indicadores sobre o clima e as características do solo para determinar a quantidade adicional de soja que cada região brasileira ganharia com a semente Roundup Ready. Ao mesmo tempo, o time de pesquisadores usou dados do censo demográfico para calcular como a força de trabalho de cada região mudou após a aprovação da semente geneticamente modificada. O que eles descobriram confirma a suspeita inicial: “a teoria da expulsão” é a mais correta para explicar o avanço econômico brasileiro. “As áreas mais propensas a adotar a tecnologia das sementes modificadas experimentaram uma diminuição na parcela de pessoas que trabalham na agricultura e um aumento no total de profissionais que atuam na indústria”, afirmou Ponticelli no artigo. “Isso

E 40%

sugere que as pessoas saíram de um setor e entraram em outros.” O interessante no processo é o impacto financeiro provocado pela soja transgênica. Os trabalhadores que trocaram o campo pela cidade passaram a ganhar mais. Por consequência, ampliaram o seu nível de consumo, o que beneficiou as indústrias. Ao mesmo tempo, o aumento da produtividade valorizou a terra – o solo passou a produzir quantidades maiores de soja com custos menores –, o que enriqueceu os agricultores. Basta seguir o dinheiro para entender o que aconteceu. À medida que os fazendeiros depositavam a riqueza recém-descoberta em contas correntes e aplicações financeiras, os bancos passaram a ter mais recursos disponíveis para conceder empréstimos e ajudar as empresas das cidades a crescer. “Com isso, ficou claro que a produtividade agrícola gera desenvolvimento”, escreveu o professor Ponticelli. Essa era a percepção geral, mas faltava comprovar com estatísticas o destino das novas reservas de capital. Foi aí que os autores do estudo realizaram um trabalho ainda mais impressionante. Eles

Ag

foram para a indústria

obtiveram dados detalhados do Banco Central brasileiro a respeito dos depósitos em cada agência bancária do País, transferências de recursos entre elas e os históricos de empréstimos recebidos pelas empresas. A riqueza de dados permitiu rastrear a origem e o destino do dinheiro. Todas as suspeitas foram confirmadas. Os pesquisadores descobriram que uma parcela ínfima dos empréstimos permaneceu nas comunidades rurais. Para cada real dos lucros da soja que os agricultores depositavam nos bancos, apenas 0,5% voltava como empréstimo para as empresas agrícolas. Enquanto isso, 48% dos lucros do plantio da soja modificada foram destinados para empréstimos às empresas do setor de serviços e 40% para as indústrias. Com os resultados nas mãos, eles tiveram a certeza de que os benefícios da atividade agrícola se espalharam por todo o País, principalmente para os grandes centros urbanos, que concentram as companhias de serviços e o setor industrial. A conclusão era óbvia: a soja geneticamente modificada ajudou a modernizar toda a economia brasileira. PLANT PROJECT Nº11

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Com Leandro Pinto

ALK L

eandro Pinto tem orgulho de sua formação, “na escola da vida”. Autodidata, com tino empreendedor e uma quebra no currículo, ele hoje é requisitado a dar palestras a jovens empreendedores e explicar como transformou o insucesso em motivação para construir a maior produtora de ovos do Brasil. Fundador e presidente da Granja Mantiqueira, o empresário de fala direta não foge de temas polêmicos, como o bem-estar animal e as proteínas alternativas e antecipa nesta entrevista à série PLANT TALKS que ainda este ano lançará no mercado brasileiro o primeiro ovo à base de plantas. Confira os principais trechos da conversa, realizada no estúdio da PLANT no Global Agribusiness Forum: Vamos começar falando da sua formação... Estou procurando me formar ainda. Estou me formando na escola da vida. Mas tem uma formação sólida como empreendedor. Nessa a gente aprende todo dia como ser melhor.

Qual foi o seu primeiro negócio? Meu primeiro negócio foi uma fábrica de fazer carroça. Na verdade, desde os 11 anos eu já trabalho. Já engraxei sapato, vendi jornal, garrafas. Sempre tive na veia o com-

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LEANDRO PINTO

50 ANOS, CASADO, DOIS FILHOS SÓCIO-FUNDADOR DA GRANJA MANTIQUEIRA

prar e vender. Mas o primeiro negócio que eu tive como empreendedor no País foi uma fábrica de carroças, em 1984.

Você arrendou uma granja, foi isso? Foi uma granja arrendada, com 30 mil galinhas.

E por que fazer carroça? Eu via as carroças muito frágeis e eu queria fazer diferente, com chassis, super-reforçada. E foi um sucesso de vendas no País. Meu pai tinha uma fábrica de máquinas. Eu fui para o comércio, comprando e revendendo, e ele acabou ficando com o negócio.

Por que criar galinhas? Porque meu business plan era o seguinte: a galinha bota ovo todo dia. Ela botando todo dia, eu vou ter receita todo dia. Tendo receita todo dia, eu consigo acalmar os credores todo dia, até conseguir pagar minhas contas.

Ele fabricava que tipo de máquinas? Eram máquinas agrícolas. Então você já tinha um pé na fazenda? Já usava botina.

E esse negócio de máquinas durou quanto tempo? Em 1987, depois do Plano Cruzado, ele acabou. Eu quebrei. Foi quando surgiu a produção de ovos na minha vida.

Você já conhecia algo desse negócio? Nada, nada. Foi cara, coragem e vontade de trabalhar. Nunca tive medo do trabalho. Como foi esse começo? Quando você sentiu que poderia dar certo de verdade? Todos nós deixamos de comprar um sapato, deixamos de comprar uma roupa, mas ninguém deixa de tomar um café, almoçar, jantar. Sempre acreditei que se você produzir alguma coisa de alimentação


Patrocínio

LKS em escala a chance de dar errado era muito pequena.

Trinta mil galinhas não é uma escala tão significativa... Para quem não tinha nada e estava quebrado, era bastante coisa na época.

Em quantos anos você formou sua empresa? A empresa foi encorpando a partir de 1997, quando nós trouxemos a automação para o País. Até então, o que fazíamos quase todos faziam, e não existiam no Brasil granjas automatizadas.

Você trouxe a automação para o País? Eu sempre fui muito inquieto, queria fazer diferente do que todo mundo fazia. Em 1986 eu fui para a Europa e vi que o que eu queria fazer aqui eles já estavam desmanchando lá. E o que eu tinha aqui eles já não tinham há 40 anos. Aí você vê como nossa avicultura es-

tava ultrapassada. Eu procurei o dono de uma das fábricas, um espanhol. Disse que tinha dinheiro para um galpão, mas precisava de dois. Nessa época eu tinha 100 mil galinhas. E já eram granjas próprias – uma de 70 mil, que foi a primeira depois da granja arrendada, e outra de 30 mil em um galpão que para o Brasil era moderno, mas que para o mundo já era ultrapassado.

Você convenceu o espanhol a te vender as duas pelo preço de uma? Eu o convenci a me dar crédito de uma. Eu paguei um e ele mandou dois. Falei para ele: “O dia em que eu te pagar o segundo você tem de me mandar o terceiro. O dia em que pagar o terceiro você tem de mandar o quarto”. E assim foi até o último galpão feito. Ou seja, ele me deu um cheque especial de um galpão. Qual é o seu estágio atual de tecnificação em relação aos produtores europeus e americanos?

“O nosso futuro está na empresa 4.0. Nós temos que trazê-la da cidade para o campo”

Assista aos vídeos desta e outras as entrevistas na página da série Plant Talks. Use o QR Code para acessar.

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Com Leandro Pinto

Hoje o Brasil está bem avançado e a Mantiqueira foi a pioneira nisso. Acredito que 40% da avicultura brasileira seja totalmente automatizada. A Mantiqueira é uma empresa 100% automatizada. Hoje são 11 milhões de galinhas. Qual é a escala da sua produção de ovos? Eu me assustei muito quando a revista Exame fez uma matéria em 2013 e colocou lá “a granja que produz 2 bilhões de ovos por ano”. Nunca tinha feito essa conta. Fui na calculadora e vi que estava certa. Quantas granjas vocês operam? São quatro granjas, sendo três automatizadas e uma de galinha solta, que é onde a gente faz os happy eggs, que é essa nova tendência de mercado. De fato, a questão do bem-estar animal também passou a ser importante para o consumidor... Eu acho que a gente tem que ter equilíbrio. Na Mantiqueira, com as granjas automatizadas, as aves são tratadas 20 vezes por dia. Todos os galpões são climatizados. A ave não está sofrendo maus-tratos. Ela está confinada numa gaiola. Ponto. Existe essa tendência, estamos de olho nela desde 2012. Naquela época eu fui à Inglaterra ver uma empresa que estava começando essa tendência de galinhas soltas. Acho que os consumidores têm de saber de onde compram, a origem do produto. Ovo não é commodity, não é tudo igual. Existe ovo e ovo. O importante é que tem pessoas que 38

aceitam pagar 40%, 50% a mais, pensando no bem-estar animal. Eu acho que isso é uma tendência que a longo prazo vai acontecer.

sobre o bem-estar animal. Fomos a primeira empresa de ovos no Brasil a ter esse selo e poder usar nas embalagens.

O custo de produção de uma galinha criada solta é muito superior? De 40 a 50% a mais do que o das galinhas criadas em gaiolas.

O controle de produção nas granjas, temperatura e ventilação nos galpões, por exemplo, é feito de forma autônoma? Tem que ser. Hoje temos computadores que fazem toda a gestão do galpão, temperatura, ventilação, subir cortina, descer cortina... É uso intensivo de tecnologia. A verdade é que o campo está cada vez mais dependente da tecnologia, sensores, painéis, tudo. Temos estações meteorológicas dentro das unidades para poder cuidar disso.

Isso em função da queda de produtividade? Não. É pelo espaço, pela tecnologia e pelo manejo. Um equipamento para criar galinhas em gaiolas custa 12 reais por ave. Uma galinha criada solta no sistema colonial, que não é o top que tem no mundo, custa 30 reais. E do sistema top, custa 60 reais. Então é uma conta que não se paga. Mas é 4% do nosso negócio e nós vamos continuar crescendo de acordo com o que tiver de demanda. Como é feita a certificação de todo esse processo, rastreabilidade etc.? Existe um certificado de uma empresa internacional. Eles estavam na granja em que a gente produz fazendo auditoria na semana passada inteira. Nós podemos usar o selo deles. É um certificado

Vocês investem no desenvolvimento de tecnologias também, com o auxílio de startups? Diuturnamente a gente tem de investir em tecnologia. Nós não temos ainda investido em startups. Recentemente eu participei do Scale-Up, da Endeavor, e conheci startups incríveis, em que eu acredito muito. Algumas delas já participam da minha empresa através de outros parceiros. Eu acho que aqui está o futuro, a empresa 4.0. Nós temos que trazê-la da cidade para o campo.


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“Estamos investindo para ter o ovo à base de plantas, que é o que os veganos buscam”

Como é a granja 4.0? Como você vislumbra o segmento daqui a cinco ou dez anos? É uma granja bem mais automatizada do que é hoje. A inteligência da granja ainda depende das pessoas, ligar o galpão, tirar, colher ovo. Ainda depende de uma visão holística do colaborador. Acredito que nessa empresa 4.0 você vai dizer para o software o que quer de melhor e, se aquilo não acontecer, que ele te avise. Você tem participado de vários fóruns de empreendedorismo. Qual a principal lição que você costuma passar aos jovens empreendedores? O que eu tenho a contar para eles é que, quando a vida disser não, saibam que eles é que mandam na vida. Eles têm de acreditar neles, acordar cedo, trabalhar muito, pensar muito. Eles não podem parar no primeiro obstáculo que aparecer. Eu já tive vários obstáculos. Para você ter uma ideia, quando eu tinha só 30 mil galinhas e estava apertado financeiramente, elas pararam de botar durante três dias. Elas tiveram uma intoxicação com o milho emprestado, que eu peguei de um granjeiro. Naquele momento eu podia ter acabado com essa empresa de que estamos falando hoje. O que eu tinha era a opção de vender as galinhas e ir fazer outra coisa. Aí,

por persistência, por teimosia, por ter só 19 anos, continuei e elas voltaram a botar. Você provavelmente tinha entregas a fazer e não fez... Não, não fiz. Como fez a gestão dessa crise? Com transparência e verdade. Primeiro, chamei os funcionários, porque uma semana depois eu tinha de pagar o salário deles e não tinha dinheiro. Foi a primeira e única vez em 31 anos que atrasei o salário dos colaboradores. Chamei-os e disse: “Não tenho dinheiro e o salário venceu. Quem precisar de alimentação pode ir ao supermercado Arco Íris e pode comprar o que precisar. E quem precisar de remédio pode ir à Farmácia Nossa Senhora de Fátima, que está liberado. Eu acredito que no máximo em dez dias eu tenho dinheiro para pagar vocês”. Não perdi nenhum funcionário. Todos trabalharam mais e com muito mais garra. Acho que a transparência é o que falta. Temos visto, sobretudo nos Estados Unidos, uma série de empresas e startups investindo em substitutos para proteína animal. Como é que você avalia essas tendências? Eu acredito e estamos investindo nisso. Temos uma pessoa que tra-

balha com a gente, chamada Amanda, que já foi duas vezes para a Califórnia e trouxe pessoas de lá para cá. Estamos investindo, sim, para ter o ovo à base de plantas, que é o que os veganos buscam. O sabor é muito próximo... Esse projeto é para quanto tempo? É rápido. Este ano sai do forno o ovo alternativo brasileiro. É o que nós acreditamos, temos que estar na vanguarda e fazer o lançamento desse produto. Se eu perguntar para o pessoal da empresa eles diriam: “Pô, mas você não podia falar isso”. Podia sim, porque vai sair. O plano de investimentos da empresa prevê um crescimento de que ordem nos próximos anos? Eu viajo muito e a única fila que eu vejo em qualquer restaurante e, principalmente, em café da manhã de hotel é onde tem ovo. Então a demanda é crescente e a gente está preparada para continuar crescendo e continuar produzindo o melhor alimento, que é o ovo. Temos um plano de, em cinco anos, produzir 10 milhões de ovos por dia. Seriam 3,6 bilhões de ovos por ano. Ou seja, aumentar 70% em cinco anos. É um plano ambicioso... É ambicioso, mas para quem começou com 30 mil galinhas e chegou até aqui, o resto fica mais fácil. PLANT PROJECT Nº11

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ALK Com Alberto Araújo

ALBERTO ARAUJO

45 ANOS, CASADO, DOIS FILHOS COO DA BELAGRÍCOLA S/A

FORMADO EM ENGENHARIA PELA USP, DIREITO PELA PUC E COM ESPECIALIZAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO PELO IESE

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dvogado e engenheiro de formação, Alberto Araujo atuou em vários setores, sobretudo na área financeira. Nos últimos cinco anos, porém, sua vida mudou. Trocou São Paulo por Londrina, no norte do Paraná, para comandar o processo de reestruturação da Belagrícola, um grupo familiar com operações em diversos segmentos do agronegócio, da distribuição de insumos à originação de grãos. Nesse período, muita coisa mudou na vida pessoal e profissional de Araujo. Com faturamento superior a R$ 3 bilhões, a Belagrícola passou por forte expansão e teve seu controle vendido para o grupo chinês Dakang. O executivo descobriu um setor desafiador, que vive grande transformação, e teve de rever vários de


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“Às vezes, a gente acha que os dados vão dar um insight do outro planeta. Mas são coisas básicas que mudam o seu nível de operação”

seus conceitos. Nesta entrevista, concedida no Lounge PLANT durante o Global Agribusiness Forum, realizado em julho passado em São Paulo, ele aponta alguns deles e dá a receita para quem vislumbra, como ele, uma oportunidade em um mercado vibrante.

Qual foi a primeira surpresa que você teve ao desembarcar no agronegócio? A primeira grande surpresa é que vinha de São Paulo, onde todos os relacionamentos são extremamente formalizados, não tem aquilo de confiar na palavra das outras pessoas. Então cheguei em um setor em que ainda se confia muito na palavra, em quem é a pessoa, em quem é a família. Isso ainda tem muito valor no agronegócio. Portanto acho que a primeira grande surpresa foi voltar a fazer negócio baseado na confiança. Ao mesmo tempo isso não gera uma dificuldade de gestão, na medida em que é importante também formalizar mais os processos e as relações? É aí que começou o meu primeiro desafio, criar um equilíbrio. Porque eu trabalhava com as melhores práticas de vários setores. Por

exemplo, tinha acabado de passar por um setor financeiro extremamente regulamentado, então caí num setor que ainda tem um certo nível de informalidade. Como você gera um equilíbrio desse? Da mesma forma que você está confiando no cliente, a partir do momento que impõe as exigências de um negócio, passa a ser visto com desconfiança. Ele pensa: “Então você confiava em mim até ontem e hoje você não acredita mais?” O desafio é gerar esse equilíbrio.

A Belagrícola nasceu de uma pequena revenda de adubo. Hoje se sofisticou, tem um negócio financeiro paralelo à área de insumos. Como é a convivência dessas áreas na empresa? Quando eu cheguei na empresa, demorei pelo menos um ano para entender o modelo de negócios. A gente imaginava que o core business era somente o fornecimento dos insumos com o recebimento dos grãos, as vendas desses grãos para tradings, para indústria. Só depois percebemos a importância da rede financeira. Você está financiando uma cadeia e começa a entender melhor a relação dos grãos e dos insumos com o financiamento. A partir de então começamos a achar

novas oportunidades no negócio que até então não víamos. Novos investimentos no negócio podem ajudar a financiar o setor. O desafio é trazer essa complexidade das estruturas financeiras para a simplicidade do agro. Como transformar isso numa linguagem de fácil compreensão para que o produtor entenda a vantagem de estar sendo financiado a custos mais atrativos.

Como é o uso de tecnologia na Belagrícola? Vocês passaram por um processo de integração dos processos internos. Que tipo de benefício trouxe e como é que isso impacta, por exemplo, na conquista dos clientes? Essa foi outra grande experiência que eu tive e pela qual sou grato no agronegócio, que é a oportunidade de fazer uma implementação complexa como é a de um SAP. E qual foi a vantagem interna? Foi conseguir organizar a análise de dados que estavam dispersos por diversos sistemas. A partir do momento que a gente começou a dar informação sobre qual é o perfil do cliente, o que é produtividade, o que é margem, o que é rentabilidade, acho que a empresa atingiu um novo patamar. Antes, as diversas áreas não estavam integradas? A área financeira não tinha a informação do que era o cliente da área de insumos, por exemplo? Perfeitamente. Até mais longe do que isso. O Luiz Fernando, por exemplo, era um ótimo cliente em grãos e nunca comprou um insuPLANT PROJECT Nº11

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Com Alberto Araújo

mo sequer na Belagrícola. Hoje eu consigo dizer: “O Luiz Fernando é um cliente em potencial. Ele entrega mais da metade da produção com a gente, então ele deve ter um nível de confiança alto e não está adquirindo nada. Quem é que nunca foi ofertar algo para ele? Vamos lá ver o que está acontecendo”. Coisas simples como essa. Às vezes, a gente acha que os dados vão dar um insight assim do outro planeta. Mas são coisas básicas que mudam o seu nível de operação. Dei um exemplo aqui muito simples. Como esses eu tenho vários. Foi necessário mudar o drive mental da sua equipe, de quem está próximo ao produtor e tem de entender que não vai mais vender apenas insumos... Esse ponto é ótimo. Só o sistema, com os dados e a tecnologia, não faz sozinho. O trabalho interno que a gente teve que fazer, com pessoas e processos, foi muito maior. Um exemplo: a gente não entendia a maneira correta de trabalhar. Vamos criar todos esses relatórios, distribuir e obrigar as pessoas a lerem e utilizarem? Não, a gente fez um modelo distinto. Criamos uma área segregada de Business Intelligence e falamos: “Todas as áreas são clientes dessa área. O que você precisa entender do negócio? Que dados você precisa ter? E distribuímos os dados de uma forma que cada área montasse o seu dashboard. Isso eu acho que foi o diferencial para termos uma propagação dos dados de uma maneira muito mais veloz dentro da empresa. 42

Até pouco tempo atrás a Belagrícola era uma empresa familiar. Há menos de um ano passou por uma aquisição, uma injeção de capital chinês. Como é que vocês utilizam a tecnologia no sentido de ter uma governança mais eficiente? Como tem sido esse processo pós-entrada dos chineses no grupo? Em relação à governança, a tecnologia facilita a padronização dos relatórios. Da mesma forma que a gente tem uma dificuldade no acesso de dados, se você não padroniza o que você vai informar no mais alto nível, isso chega de uma maneira que vai dificultar a análise do negócio. Se estou informando um dado é importante que esse dado seja comparado, ao longo do período, sempre com a mesma base de cálculo. Mais do que isso, a tecnologia facilita o acesso. Eu não preciso ter ninguém fazendo reports por horas e horas. Simplesmente o conselho acessa um dashboard específico, que tem as informações que ele acompanha de tempos em tempos.

“Trazendo talentos, o agronegócio é um setor que não tem limites para expansão”

No segundo ponto, eu acho que está bastante relacionado às diferenças culturais. O modelo (adotado após a aquisição do controle da Belagrícola pelo grupo Dakang) foi bastante interessante porque hoje o nosso investidor atua em nível de conselho. Ele tem três conselheiros dentro do board. É preciso educá-los sobre o modelo de negócio, o perfil do nosso cliente, como é o setor. Isso é bastante distinto para eles. A diferença cultural é muito grande na maneira de se fazer negócio e de se decidir, principalmente. A entrada dos chineses gerou uma mudança efetiva na gestão? Na gestão, se você pensar no dia a dia, não. Eles estão atuando na governança mais alta, de conselho. O que acaba acontecendo é que o alto nível gerencial, diretores, gerentes seniores, devem estar mais preocupados agora em preparar e informar como o negócio está rodando ao longo do tempo. Então isso é importante. Você não se preocupa apenas em como está a empresa no dia a dia, mas também como está a empresa em uma visão de médio e longo prazos. A gente costuma associar investimentos chineses a escala. Tudo que é chinês é grande, tem que ser grande. A Belagrícola pode ser um ponto de partida para um processo de consolidação com outras empresas do setor? A gente entende que sim. A ambição do chinês sempre é maior em relação aos números. Quando você conversa com os níveis mais altos,


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eles sempre falam em ordens de grandeza muito maiores que a regional. É um setor que está em consolidação. O chinês entendeu uma oportunidade de participar no setor agro através de parte da cadeia que está mais próxima da originação, que era a grande preocupação dele. A partir dessa aquisição acionária, a gente entende que ele quer construir uma plataforma para melhorar o posicionamento no agronegócio em nível nacional. Outro processo de consolidação que está havendo é no setor de insumos. As grandes companhias do setor de defensivos, sementes, fertilizantes, estão se fundindo. Como fica o relacionamento delas com a revenda, que é um dos negócios da Belagrícola? É uma pergunta bastante complexa, porque ao mesmo tempo que há uma consolidação na indústria, está havendo uma consolidação na distribuição. Você precisa entender como esse relacionamento vai funcionar no futuro. Por que eu falo isso? Você está sempre preocupado em ofertar o melhor para o seu cliente final, o produtor. Dependendo das parcerias que você vier a fazer no médio, eventualmente no longo, prazo, você pode ficar sem a melhor oferta para o produtor. Essa é a preocupação geral hoje na distribuição. Qual seria a tendência mais provável, haver menos redes de distribuição, com uma capilaridade de nível nacional? A consolidação vai ser maior e os

grupos vão entender melhor seus interesses para atender o produtor. Isso hoje é muito disperso. Não existe uma política efetiva de atendimento territorial, ou regional, ou o que seja. As marcas acabam perdendo valor por tentar adentrar territórios sem um planejamento, digamos assim. O que vocês imaginam nos próximos cinco anos para a Belagrícola? A gente vê uma oportunidade muito grande de crescimento em duas direções. Uma é dentro da mesma base de clientes. O cliente, normalmente, é bem pulverizado nas ofertas. Participar mais da carteira do cliente é o nosso primeiro desafio para os próximos dois anos. A partir daí é uma expansão territorial efetiva. A gente acredita que, em cinco anos, vai haver pelo menos 50% de crescimento em relação à base de clientes, implicando em faturamento. Vocês devem ter também atualmente uma expansão de quadros. Qual o perfil do profissional que você busca? Hoje a maior carência é no perfil de

atendimento ao cliente. Ou você tem um perfil que é bastante técnico, ou um perfil que é mais superficial que foca no relacionamento, mas não consegue suprir a necessidade efetiva do cliente. Então o que seria o profissional interessante para atender esse cliente? Seria como se fosse um gerente de relacionamento. A gente precisa de alguém que consiga traduzir tudo o que está vindo de novo para a linguagem do produtor. Hoje as empresas do agronegócio têm capacidade de atrair, mesmo do ponto de vista de salários, profissionais que estão na cidade? Eu fui atraído e vejo que, trazendo talentos, esse é um setor que não tem limites para expansão. A gama em que você pode atuar, tendo essa capacidade de link, é gigantesca. Eu vejo uma oportunidade para quem está na cidade e sofre pressão de segurança no dia a dia, até para se locomover está em estado de estresse, de ter um ganho de qualidade de vida que leva inclusive a uma melhora de produtividade no trabalho. PLANT PROJECT Nº11

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POSITIVO

O BRASIL NO MUNDO DE TEMPLE Com objetividade e coragem, a americana Temple Grandin encantou os brasileiros com uma visão especial da pecuária e do autismo, que a ajudou a se tornar a maior autoridade em bem-estar animal e a influenciar criadores em todo o planeta Por Flávia Tonin | Fotos André Veloso

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Temple Grandin

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POSITIVO

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À

s nove da manhã do dia 17 de julho passado, o zootecnista Antonio Chacker, requisitado consultor pecuário que faz a gestão de dados de cerca de 300 fazendas brasileiras, deixava sua agenda lotada em Maringá (PR) com destino a São Paulo. O cansaço era evidente, mas ele havia confirmado a presença e resolveu pagar para ver. Assim como ele, produtores do Norte e Centro-Oeste também tinham o mesmo destino. No mesmo horário, em Campo Grande (MS), Aneilza e Antonio Marcos Ferreira, pais de um menino autista, o deixaram com a avó, por apenas um dia. Seguiram para a capital paulista, com o intuito de entender um pouco mais sobre o que tornava seu filho tão especial. O que essas pessoas têm em comum? Elas estavam prestes a conhecer Mary Temple Grandin. Uma típica americana, com a pele de um branco pálido que ajuda a destacar ainda mais seus olhos azuis muito vivos, Temple, com 71 anos, é professora da Universidade do Colorado, nos Estados Unidos, e atualmente a mais respeitada pesquisadora do comportamento animal no mundo. É também autista. Ela nasceu com a síndrome e milita por ambas as

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causas: o bem-estar animal e o autismo. Sua história inspirou, em 2010, um premiado longa-metragem “que é autêntico”, ela confirma. No mesmo ano, Temple foi eleita uma das cem pessoas mais influentes do mundo pela revista Time. Essa mulher fantástica, que dedicou sua vida à pecuária, desembarcou no Brasil na manhã de 15 de julho para uma visita que também a fascinaria: iria conhecer uma típica fazenda do Centro-Oeste. Vestida com sua típica camisa texana, lenço e um broche inseparável, Temple seguiu de São Paulo a Goiânia e depois à fazenda Orvalho das Flores, em Araguaiana, MT, de propriedade de Carmen Perez, líder feminina do agronegócio brasileiro. Uma seguidora de Temple, Carmen assumiu a bandeira do bem-estar nas fazendas de corte brasileiras. Com rebanho de quase 3 mil animais, a produtora aboliu a marca a fogo para a identificação animal. Agora, avança para mudar o manejo de nascimentos e desmama. Na Orvalho das Flores, os bezerros recebem massagem durante os procedimentos de cura de umbigo, por exemplo. A separação entre mãe e filho também é feita de uma forma gradual, de maneira que fiquem lado a lado.


Temple Grandin

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POSITIVO

Temple na fazenda Orvalho das Flores, no Mato Grosso: encantada com a docilidade do Nelore

Consequência: seu gado é fácil de lidar – e isso foi o que Temple Grandin foi comprovar após acordar na fazenda. Carmen e Temple ficaram o tempo todo juntas observando em detalhes o que poderia ser melhorado. Ao ver as práticas nos recém-nascidos, Temple notou que havia capacitação e cuidado. Nesse momento, não se conteve e resolveu acariciar um dos animais, surpreendendo a todos. Em seguida, já no curral, pegou uma bandeira e apartou os bezerros, ajudando na lida da desmama enquanto explicava os métodos que ela mesma criou e hoje são usados no mundo inteiro. Até perguntaram se ela queria descansar um pouco. Negativo. Ela concluiu toda a apartação de quase uma centena de vacas e seus filhos.

DEVAGAR É MAIS RÁPIDO A ideia de levá-la à fazenda partiu de Mateus Paranhos, coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisa em Etologia e Ecologia Animal (Grupo Etco) da Unesp, de Jaboticabal (SP), por quem Temple tem muito apreço – e por isso atendeu ao convite de vir ao Brasil. Ela foi escolhida por ser uma sumidade no assunto, pois mudou o manejo de bovinos no mundo. A base de seu legado está na prática de conceitos que hoje parecem simples e geram renda para as propriedades, mas que nos anos 1970, quando ela começou, pareciam bem estranhos. Exemplo de suas ideias é o curral em curvas. Nele, os animais se locomovem sem parada. O projeto, que nasceu de suas observações, respeita o

comportamento animal, já que os bois imaginam que estão voltando ao ponto inicial. As estruturas também são monitoradas para que sejam livres de obstáculos que causem distração ou medo. Por fim, as equipes de campo, ponto fundamental, também fazem parte de suas teorias. Os peões são treinados para que movimentem os animais com inteligência, sem gritaria e com uma bandeira. “Devagar é mais rápido”, ela diz. Temple Grandin explica que conseguiu chegar a essas conclusões por entender o mundo por imagens e não por palavras, o que lhe presenteia com uma percepção diferente. “Como eu, os animais também não entendem as palavras, mas os sons, o cheiro e o que veem”, PLANT PROJECT Nº11

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POSITIVO

Temple Grandin Com Carmen Perez, a anfitriã: o autismo a tornou mais detalhista e com os sentidos apurados

explica. Qualquer pessoa que conviva poucos dias com ela nota sua percepção visual apuradíssima. Rapidamente ela se atenta a detalhes que passam batido para a gente comum. Isso se deve ao autismo no qual foi diagnosticada quando criança. A característica foi encarada de forma corajosa por sua mãe, o que fez com que Temple se tornasse mais do que especial.

Incentivada, ela desenvolveu uma genialidade ímpar que a permitiu avançar também nas barreiras da comunicação e levar sua ideia para o mundo. Somado a isso, há uma determinação incansável. E como ela é incansável! PERGUNTAS E RESPOSTAS De volta a São Paulo, Temple foi a personagem principal de

geneticamente modificado (OGM). Se a questionam sobre veganismo, por exemplo, ela diz que isso é Quando questionada se a pecuária vai acabar em função da possibilidade de produção de carne de laboratório, ela resumiu: “Preocupem-se em vender o seu produto” e valorizou muito a rusticidade do Nelore e a produção a pasto. Para ela, a carne de laboratório terá de enfrentar outros desafios como a comprovação de segurança por ser um organismo 48

cinco eventos que reuniram cerca de 1.200 pessoas, além da presença de 30 veículos de comunicação. Mesmo com a agenda lotada e regrada aos minutos, ela dizia “Eu estou bem”, e atendia a todos com cordialidade. Temple é muito perspicaz ao lidar com seu público e aproveitou para distribuir uma centena de diretrizes ao setor. Respondeu tudo com uma convicção e um pragmatismo que deixou os brasileiros boquiabertos. Sobre os embarques de bovinos em navios para exportação – que têm causado acaloradas discussões no País –, disse que é preciso analisar as condições dos animais ao fim da viagem. “Como os animais chegam?” Para ela é preciso que tenham área suficiente para que possam se deitar e levantar, sem que fiquem uns sobre os outros. Sugeriu que o Brasil se mire no exemplo de adequação da Austrália e que os executivos saiam de suas cadeiras para investigar a situação. Quando questionada se a pecuária vai acabar em função da possibilidade de produção de carne de laboratório, ela resumiu: “Preocupem-se em vender o seu produto” e valorizou muito a rusticidade do Nelore e a produção a pasto. Para ela, a carne de laboratório terá de enfrentar outros desafios como a comprovação de segurança por ser um organismo


geneticamente modificado (OGM). Se a questionam sobre veganismo, por exemplo, ela diz que isso é uma opção pessoal e acredita que seja um traço genético. E coloca que sua missão é uma só, um mantra repetido sem cansar, “que os animais tenham a melhor vida que possam viver”. O fato é que não há saia justa para Temple. Até quando questionada se pensou em filhos, ela afirmou que, ao se dedicar ao trabalho e viver na estrada, escolheu outra vida. Por causa disso, nem um cachorrinho ela tem. Independentemente do horário, Temple vai ao púlpito com a mesma energia. No caso da conferência destinada aos autistas, tinha acabado de enfrentar dois debates e um congestionamento paulistano das 18 horas, mas falou como se fosse a primeira atividade do dia. Motivou os pais a serem proativos e a não superprotegerem seus filhos. Mostrou, com depoimentos e informações científicas, que essas crianças são extremamente inteligentes. “Com certeza Einstein era autista”, disse. Aliás,

a palestra sobre o autismo é a única exigência de Temple quando aceita um convite para ir a outro país. No mais, viaja sozinha e confia completamente na organização local. Avessa ao camarim, foram raros os momentos de reclusão. A estrela fura os bloqueios da organização e vai para o meio das pessoas como um cantor que se joga no final de um show. Segundo ela, “precisa responder a perguntas”. Temple recebeu jornalistas, se reuniu com líderes do agronegócio a portas fechadas, conversou com pesquisadores e produtores rurais e interagiu com grupos de autistas. Além disso, fez refeições com o público, autografou livros, crachás, pôsteres de pesquisa e posou para centenas de fotos. As redes sociais ficaram polvilhadas de selfies com Temple. Mas se é autista, como suporta todo esse assédio? No fundo, ela aprendeu a se controlar. Sabe a importância daquele momento para cada pessoa. Sabe que aquela foto será, mais do que uma recordação, um amuleto que os

encherá de coragem. Prova é que os brasileiros foram às redes sociais e deram depoimentos emocionantes que, em suma, classificam como único o que viveram naqueles dias de julho. Assumem que foi algo que dividiu sua vida, colocando novo ânimo para mudar o mundo para o bem. É como se tivessem resgatado a sua origem, o porquê de estarem ligados ao campo, à pecuária e ao boi. Chacker, o consultor de Maringá citado no começo do texto, voltou para o Paraná convicto de que é um propósito que faz a vida valer a pena. Em sua concepção, Temple leva isso ao extremo. Os pais do menino autista sul-mato-grossense têm hoje a certeza de que seu filho pode mais, muito mais. Temple deixou o Brasil na tarde do dia 19 de julho. Quando estava a caminho do táxi para o aeroporto, ela voltou e deu um abraço nos que a acompanharam pelo Brasil. Quem conhece a dificuldade de contato dos autistas sabe o quanto aquilo foi valioso. Depois, ela seguiu para o Uruguai e para o Canadá para continuar inspirando pessoas. PLANT PROJECT Nº11

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Plant + Clube Agro

CLUBE AGRO LEVA PROGRAMAS DE BENEFÍCIO PARA OS PRODUTORES A UM NOVO PATAMAR

O

mercado de insumos agropecuários movimenta R$ 109 bilhões por ano no Brasil, segundo dados da Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas e Veterinários (Andav). São cerca de 4 milhões de agricultores e pecuaristas consumindo em uma rede fragmentada em milhares de revendedores com características regionais. É um segmento que cresce no mesmo ritmo do agronegócio brasileiro – em 2017, o PIB do setor saltou 13%, garantindo a volta do crescimento para a economia do Brasil. E que passa por um momento de transformação e consolidação, com a aquisição de revendas por grandes grupos – alguns até mesmo com capital estrangeiro – e a introdução de novos modelos de comercialização. Uma das tendências mais importantes para o curto prazo é a criação dos programas de coalisão de empresas para a operação de clubes

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de benefícios para os produtores, ampliando relacionamento e conhecimento dos clientes e, consequentemente, impulsionando vendas. Os programas de coalizão são um aperfeiçoamento dos programas de relacionamento já operados isoladamente por algumas marcas do setor. A ideia, agora, é levá-los a outro patamar. “Com esse modelo, poderemos ampliar o acesso ao público, dividir os custos de operação dos programas e, principalmente, entregar muito mais benefícios ao agricultor”, afirma Simone Rodrigues, sócia do Clube Agro, pioneiro nessa nova modalidade. O principal diferencial das coalizões é permitir ao produtor acumular pontos através de aquisição de produtos e serviços de várias empresas, ao invés de apenas uma, reunindo-os em um único programa e aumentando seu poder de consumo. Além disso, no Clube


Agro os pontos somados poderão ser convertidos em dinheiro, através de vouchers gerados pelo sistema do programa, e usados para adquirir qualquer produto, inclusive insumos, nas lojas credenciadas. Esse é justamente um dos pontos vulneráveis dos programas tradicionais de relacionamento. Neles, em geral, os associados só podem usar os valores acumulados para a aquisição de produtos ou serviços que não impactam diretamente em seu custo de produção. Ao criar o sistema de vouchers, o Clube Agro trouxe uma nova abordagem a essa questão. Além disso, depois de anos de estudos sobre questões legais, encontrou caminhos que permitem que os recursos sejam usados inclusive na compra de defensivos, o que não é permitido, por exemplo, nos planos de benefícios das empresas fabricantes desses produtos – a lei veda que eles façam ações de promoção de suas marcas. “Como o clube é uma entidade separada das empresas, não temos as mesmas restrições”, reforça Simone. “Nos outros programas, os associados podem trocar seus pontos por bens de consumo ou serviços de consultoria, mas não mexe com variáveis como custo ou produtividade”, explica. “Em um programa de coalizão como o nosso, o produtor poderá usar os pontos para reduzir seu custo de produção. Somos 100% focados no agronegócio, sem dispersão.”

Ao comprar um caminhão de uma montadora associada ao clube, por exemplo, um agricultor poderá acumular pontos, que virarão recursos para a compra de defensivos. Sistemas como o do Clube Agro são possíveis graças ao modelo inovador apoiado por muita tecnologia. Um sofisticado sistema de Business Intelligence (BI) foi desenvolvido para dar suporte ao programa e torná-lo amigável ao associado. Para participar do clube, o produtor precisa preencher um cadastro simples pela internet e baixar o aplicativo do programa. A partir daí, sempre que fizer uma compra (seja ou não em lojas credenciadas), basta que ele fotografe a nota com o smartphone, usando o aplicativo. O sistema identificará automaticamente quais produtos oferecerão créditos ao produtor e os adicionará à sua conta. Os créditos poderão ser convertidos em vouchers a qualquer momento. Com valor em reais, eles poderão ser usados para abater valores de compras nos estabelecimentos conveniados. GANHA-GANHA-GANHA A inteligência embutida nos sistemas torna o programa um ótimo negócio não apenas para o produtor, mas para as indústrias e as revendas. Com a captura de todas as interações dos associados, as ferramentas de BI são capazes de gerar às marcas parceiras informações valiosas para a tomada de decisões. Elas permiPLANT PROJECT Nº11

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Plant + Clube Agro

MERCADO DE INSUMOS AGROPECUÁRIOS

R$ 109 BILHÕES

P OR ANO tirão às empresas participantes conhecer mais a fundo o perfil dos compradores de seus produtos e também dos concorrentes. Através de um dashboard com informações on time e relatórios mensais, as marcas envolvidas poderão avaliar o ticket médio, o que e quando os clientes de uma determinada região compram, dividindo-os por área, cultura, produtividade e perfil de consumo. As marcas poderão ainda acompanhar o desempenho dos canais de distribuição. Com isso, é possível promover ações mais dirigidas e assertivas, inclusive em parceria com empresas de outros segmentos (cross-branding) que também participam do clube. Já as revendas participantes terão uma forte ferramenta de fidelização de seus clientes e também poderão atuar de forma integrada para promoções junto aos produtores. “O BI permite a consolidação de dados para direcionar ações”, afirma Eduardo Fernandes Jr., especialista no desenvolvimento de plataformas de BI para grandes empresas e sócio do Clube Agro. “É uma plataforma única para conectar marcas, canais e consumidores.” O nível de informação repas52

4 MILHÕES DE AGRICULTORES

E PECUARISTAS

CONSUMINDO sada às empresas parceiras do clube depende do desempenho das marcas dentro do programa. Aquelas que contribuírem com uma proporção superior a 20% dos pontos somados no período, por exemplo, terão direito a um pacote completo de informações, que inclui até mesmo dados sobre as vendas de produtos concorrentes – exceto os de outras participantes do programa que têm suas informações “blindadas” nos relatórios. COMUNICAÇÃO E SEGURANÇA Além de se mostrarem valiosos ambientes de negócios, os programas de benefícios têm potencial para funcionar como importantes canais de comunicação com os produtores. O Clube Agro, por exemplo, trará embutidas na sua plataforma e no aplicativo áreas para conteúdo e uma rede social própria, que permitirá às marcas parceiras ter uma interação mais direta com os seus consumidores, enviar notificações, fazer pesquisas e ativações. Para aumentar o engajamento dos usuários, o aplicativo utilizará estratégias de gameficação. Diariamente serão incluídas en-

quetes no sistema e os produtores que responderem a elas ganharão pontos adicionais em suas contas. Todos os processos na plataforma, da checagem da autenticidade das notas fiscais cadastradas à gestão dos recursos envolvidos e a emissão dos vouchers, serão auditados por uma grande companhia do setor. A segurança é fundamental para trazer confiabilidade ao novo sistema e já apontar para o futuro. Em fase de finalização das primeiras parcerias com grandes empresas voltadas para o segmento, o Clube Agro deve iniciar nos próximos meses um projeto-piloto, rodando inicialmente na região Sul, maior produtora de proteína animal e segunda maior na produção de grãos no País. As projeções incluem uma adesão de 12 parceiros e mais de 40 mil produtores no primeiro ano, tendo as cooperativas e os canais de distribuição das principais marcas como pontos de acesso e troca dos benefícios. Os sócios da empresa já enxergam, no entanto, uma vocação natural para o programa: se transformar em um grande marketplace digital para o segmento.


Cultivo de tomates nas estufas da Trebeschi Agro em Araguari (MG): Tecnologia e olho no mercado consumidor mudaram a forma de produzir

Nova Geração As histórias dos melhores produtores do Brasil

foto: Rogério Albuquerque


Tomate

a n e t a m o t s i a M dos brasil eiros mesa Esse é o desejo e o plano de negócio de Edson Trebeschi. Há quase 25 anos ele iniciou uma empresa de consultoria técnica para tomaticultores no Triângulo Mineiro e acabou se tornando um dos principais produtores do fruto no Brasil Por Romualdo Venâncio | Fotos Rogerio Albuquerque

Ao contrário do que prega o dito popular, Edson Trebeschi acredita que em casa de ferreiro o espeto deve ser eficiente. O empresário recebeu a equipe do projeto TOP FARMERS na sede da Trebeschi Tomates, em Araguari (MG), com uma saborosa mostra dos principais alimentos que leva ao mercado, apresentados em formas diferentes de consumo. Os tomatinhos sweet grape, por exemplo, foram servidos in natura e envoltos em chocolate; e o milho doce, que chega aos consumidores já pré-cozido, estava cortado em pedacinhos no formato de meia-lua, como petisco, e em uma versão ainda mais doce, como beijinho. Ajudar os consumidores a diversificar o cardápio no dia a dia é uma das estratégias da Trebeschi para incentivar o consumo de tomates e dos demais itens no portfólio da empresa e, claro, conquistar mercado. Edson conta que os brasileiros consomem, em média, cerca de 18 quilos de tomate por ano, mas há países em que esse número passa de 40 quilos per capita/ano. “Dentro de nossa área comercial temos uma equipe de nutricionistas que desenvolve diferentes maneiras de apresentação de nossos produtos, inclusive criando receitas para auxiliar o consumidor. E o povo mineiro é bom de gastronomia”, diz ele. A preocupação em oferecer alternativas ao mercado é a mesma que levou o empresário a buscar sua formação profissional na produção agrícola. Nascido em Aguaí, no interior de São Paulo, Edson vem de uma família de produtores rurais. Seu bisavô, 54

imigrante italiano, foi para a região, onde se dedicou à pecuária e depois à cafeicultura. “Minha infância toda foi ligada ao agronegócio”, comenta o empresário, que ao completar 14 anos decidiu entrar para um curso profissionalizante de técnico em agropecuária. O objetivo era buscar alternativas para atualizar o modelo tradicional de produção utilizado por seus familiares, opções que aprimorassem o desempenho das atividades ali desenvolvidas. “Ainda criança eu via possibilidades de usar novas tecnologias que trouxessem mais qualidade de vida para minha família e para as pessoas ao redor”, conta Edson, que pensava em retornar do curso técnico e aplicar os novos conhecimentos, ainda que tivesse de superar o natural choque de gerações. No entanto, quando se formou técnico agropecuário, já com 17 anos, surgiu a oportunidade de trilhar outro caminho. Foi trabalhar na Cooperativa Agrícola de Cotia (Coopercotia). “Na época, a maior cooperativa do segmento de frutas, legumes e verduras”, lembra Edson, que teve ali a base para seu crescimento profissional e pessoal. “A Coopercotia era formada por japoneses. Aprendi com eles a ter muita disciplina e a me dedicar à vida profissional de uma forma diferenciada”, comenta. Por conta das atividades que desempenhava na cooperativa, Edson teve a oportunidade de conhecer as principais regiões produtoras de tomates e legumes do País. Foi então que passou também a conciliar os conhecimentos técnicos com o olhar para a área


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Tomate

CARREIRA SOLO Quando a Coopercotia encerrou suas atividades, em 1994, Edson nem teve tempo de lamentar a perda do emprego. O trabalho que vinha fazendo precisava de continuidade. Ele passou a atuar como consultor

melhorar a vida do homem no campo.” Era a consolidação da Trebeschi Tomates, nascida quatro anos atrás. Atualmente, além da matriz em Araguari, a Trebeschi tem mais de 30 unidades produtoras distribuídas no próprio Triângulo Mineiro e nos estados de Goiás, São Paulo e Santa Catarina. Essa abrangência geográfica garante a oferta de tomates durante o ano todo. “Estamos abrindo uma nova frente em Pernambuco”, conta Edson, citando a unidade que está sendo preparada no município de Bezerros. Somadas todas as unidades produtivas, a empresa cultiva cerca de 1,2 mil hectares de tomate por ano. O formato de cooperativismo foi mantido, por isso, além das lavouras próprias, a empresa também trabalha com outros

autônomo, levando assistência aos ex-cooperados, inclusive para a comercialização da produção. “Foi aí que vislumbrei o futuro da tomaticultura no cerrado, tanto pelo potencial produtivo quanto pela localização geográfica e pelas condições climáticas”, diz o empresário. Conforme a demanda foi aumentando, veio a necessidade, até por uma questão estratégica, de o Edson também passar a cultivar tomates, o que aconteceu em meados de 1998. “Resgatei o sonho de menino, de colocar para dentro da porteira a tecnologia que me permitisse produzir um alimento de qualidade e

agricultores, no formato de integração. “Compartilhamos aquilo que está dando certo em nosso modelo de produção e levamos respaldo e assistência técnica a esses parceiros, para que consigam ter sucesso na atividade”, comenta. A filosofia trazida dos tempos de Coopercotia foi um importante suporte para a composição e a gestão das equipes da Trebeschi. “As pessoas que vinham trabalhar comigo precisavam sentir prazer em fazer parte do time, sentir orgulho de estar nessa trajetória. Ainda hoje temos colaboradores que nos acompanham desde o primeiro tomate que plantamos”, lembra Edson.

comercial. “Eu fazia um trabalho de coordenação de produção, que incluía a conexão entre a produção do cooperado e o cliente final. Orientava o produtor sobre o ponto ideal de colheita, a classificação, a logística e, ao mesmo tempo, a buscar a satisfação do consumidor”, explica. Na passagem por diversos pontos do País, acabou sendo transferido para a cidade de Araguari, para atender os cooperados do Triângulo Mineiro. Ali começava uma nova história.

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A forma como os colaboradores se relacionam com o empresário, sobretudo no campo, prova não se tratar apenas de discurso. Em meio às lavouras de tomate, após terminar o telefonema com um diretor comercial, sobre negociações com um hipermercado, Edson foi abordado por um dos muitos safristas de colheita vindos de outros estados – este, do Ceará –, interessado em garantir vaga na próxima temporada. O empresário o ouviu com atenção e, em seguida, confirmou o bom desempenho do jovem com o gerente da colheita. “Esse tipo de abordagem é muito gratificante. Há várias histórias de pessoas que estão conosco há muito tempo. É claro que o resultado tem de ser entregue, a empresa tem de ser competitiva, mas isso deve ser feito de forma

nas pessoas”, diz Edson. “Mas, nessa relação, não há nada melhor do que você se colocar no lugar do outro.” É assim que o empresário procura olhar também para fora da companhia e entender o que os consumidores esperam dos alimentos que a Trebeschi produz. O CLIENTE SEMPRE TEM RAZÃO “A gente precisa, cada vez mais, ter criatividade e valorizar o dinheiro do nosso consumidor, pois ele está no seu direito de buscar o melhor em uma relação justa de preço.” Essa visão de Edson é o que direciona todo o trabalho realizado pela Trebeschi para entender a demanda de seus clientes e, a partir daí, definir o ciclo de produção dos alimentos: plantio, cultivo, classificação, beneficiamento, logística e apresentação. A estratégia

Resgatei o sonho de menino, de colocar para dentro da porteira a tecnologia que me permitisse produzir um alimento de qualidade” harmoniosa”, diz. “Preciso ter essas pessoas envolvidas, comprometidas e felizes com o trabalho que desenvolvem, mas de forma espontânea, com naturalidade.” A formação de equipes ideais passa também pela assertividade na contratação, o que depende diretamente da preparação e da competência do departamento de Recursos Humanos. E, depois, pelos processos de treinamento e capacitação. “Temos exemplos de gente que entrou aqui no operacional, teve oportunidade de estudar, fazer faculdade, e hoje está em cargo estratégico dentro do negócio. Investimos bastante

serve tanto para a área agronômica quanto a comercial. O empresário procura, ainda, entender o que já é realidade no varejo fora do Brasil e, no papel de consumidor, avaliar o que faz sentido trazer para o mercado interno. Para oferecer o melhor atendimento nas ações de trade marketing, antes de qualquer ação para divulgar novidades dentro das lojas, quem vai fazer a promoção diretamente com o público passa por um treinamento dentro da empresa, conhecendo as estufas e a forma como os alimentos são produzidos. Mesmo que não se espere dúvidas muito técnicas dos consumidores, não PLANT PROJECT Nº11

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Tomate vai faltar preparo para responder aos questionamentos. Ainda mais pela frequência com que a Trebeschi apresenta novidades no mercado. Hoje, a empresa conta com mais de 30 itens em seu portfólio. Os lançamentos mais recentes mostram a importância da variedade de produtos na estratégia de crescimento da Trebeschi. Alguns exemplos são os tomates Cereja Rama, mais doces, com baixa acidez e apresentados na rama; o Pimentão Block, também mais adocicado, com calibre menor e coloração (amarelo, vermelho, verde e laranja) mais acentuada; o Minipepino, um produto leve e crocante, para ser servido como snack; a pimenta Sweet Palermo, leve e doce; a Abóbora Batã, com tamanho que dá mais praticidade e pode ser preparada até na churrasqueira; o Molho de Tomate Premium e o Ketchup de Sweet Grape; e o Sweet Milho Chico Bento. Este último é um exemplo da persistência nas inovações de olho no mercado. A parceria com os Estúdios Mauricio de Sousa começou há cerca de dez anos. “Quando fomos conversar com o Mauricio e a Mônica sobre nossa intenção de ter um tomate da Turma da Mônica, nos disseram que eram consumidores dos nossos produtos, mas tinham receio de associar a marca deles ao tomate, que na época, de maneira geral, tinha uma imagem arranhada”, conta Edson. Começou então um processo de convencimento técnico. “Os convidamos para conhecer todo o processo de produção porteira adentro”, diz o presidente da Trebeschi. “Foi um processo demorado, que envolveu auditorias, análises de resíduos, um trabalho muito

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A gente precisa ter criatividade e valorizar o dinheiro do consumidor. Ele está no seu direito de buscar o melhor em uma relação justa de preço” sério. No final, fomos eleitos como licenciados exclusivos no Brasil para a linha de tomates.” O mesmo aconteceu em relação à apresentadora Ana Maria Braga, que assina algumas linhas de produtos exclusivos da Trebeschi. “Costumo dizer que gastronomia não é questão de moda, está aí em evidência para trazer alternativas de consumo e melhor aproveitamento dos alimentos disponíveis”, comenta Edson. O fato de a Ana Maria ser uma das pioneiras nesse segmento de gastronomia na mídia levou o empresário a mostrar o portfólio da empresa à apresentadora. “Ela se encantou com nossa linha de produtos.” O VALOR DA SUSTENTABILIDADE Todas essas iniciativas impactam diretamente na comunicação, na conversa com o consumidor final e ajudam a chamar a atenção para mostrar o que realmente dá sustentação à marca. É uma abertura para falar sobre a eficiência produtiva e o compromisso com a sustentabilidade. Tudo isso começa com a preservação e o melhor aproveitamento dos recursos naturais. No manejo do solo, por exemplo, são feitas análises para definir a necessidade de algum tipo de correção. O diagnóstico para a definição do plantio é realizado por meio de um levantamento planialtimétrico, feito com a utilização de drones. “Assim geramos os mapas de plantio, o que já é uma técnica conservacionista”, afirma Edson. “Sempre trabalhamos uma cultura verde antes de plantar o tomate, para preservar a terra”, acrescenta. Outra medida tomada para manter a fertilidade e a qualidade das terras é a rotação de culturas. Foi o que levou a Trebeschi a investir também no plantio de grãos. Hoje já são 40,8 mil hectares de soja. Edson explica que o tomate acaba contribuindo para uma alta fertilidade do solo, o que assegura maior produtividade do plantio de grãos, tanto soja quanto milho. Essa expansão


EDSON TREBESCHI | 45 ANOS, CASADO Cargo: presidente Faturamento: não divulgado Composição dos negócios: produção de tomate, legumes, soja, milho e café Área plantada: 1,2 mil hectares de tomate e 40,8 mil hectares de soja Principal cliente: atende as mais diversas redes de varejo, como hipermercados, supermercados e lojas premium Hobby: praticar esportes e pescar

incentivou uma alteração na identificação visual da companhia. “Adotamos uma nova imagem, que mostra melhor o processo constante de melhoria. E as cores simbolizam nossa diversidade de itens, tanto na produção quanto na comercialização. O tomate continua a ser nosso principal produto, mas já estamos trabalhando com legumes, milhos, batatas, batata-doce e agora entramos também na cafeicultura. Por isso, estamos passando a nos chamar Trebeschi Agro”, explica o executivo. A preservação da água é um dos destaques na produção, a começar pelo sistema de irrigação por gotejamento, tecnologia baseada nos modelos israelenses. Com o fornecimento de água e fertilizantes de acordo com a necessidade das plantas, a umidade do solo está sempre equilibrada, e ainda reduz em 30% o consumo hídrico. No caso dos vegetais cultivados em estufas, o aproveitamento da água é ainda mais surpreendente, com economia de 40% do recurso. Os tomates sweet grape, por exemplo, são cultivados em vasos, em um manejo que Edson chama de semi-hidropônico. A oferta de água e fertilizantes também é feita de forma controlada, por meio de sistemas computadorizados. O grande diferencial é que toda a água utilizada nessas estufas é captada da chuva. Na unidade de Araguari há 24 estufas, com expansão em andamento para ter mais dez, e um reservatório com capacidade para armazenamento de 21 milhões de litros de água. “Durante o período sem chuvas aqui no cerrado, que dura até cinco meses, praticamente não utilizamos água de poços artesianos ou de rios. A água captada das chuvas é tratada e entra no sistema para irrigar e fertirrigar as plantações”, descreve Edson. Esse processo de reaproveitamento já atingiu outro patamar, que

pode ser descrito como uma reciclagem de fertilizantes. “Aproveitamos a solução drenada, aquela água com adubo, ou seja, com nutrientes, que a planta não absorveu, vai para outro reservatório. De lá, é reaproveitada em outras culturas. Assim fechamos um ciclo completo de aproveitamento de água de chuva”, diz o empresário. Os resultados dessa preservação renderam a Edson a oportunidade de apresentar essa experiência durante o 8º Fórum Mundial da Água, realizado pela primeira vez no Brasil, no mês de março, em Brasília (DF). O convite partiu da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). “Esse reconhecimento nos encoraja a investir cada vez mais em tecnologias visando à sustentabilidade”, diz Edson, que sugere aos produtores pensarem a longo prazo quando estiverem avaliando a possibilidade de investir em algo assim. “Às vezes, uma chuva de 20 milímetros passa despercebida, mas se você tem a estrutura para captar essa água, isso significa 20 litros de água por metro quadrado de cobertura”, justifica. Esse tipo de iniciativa fala diretamente com o consumidor, que também se sente parte do processo de conservação do meio ambiente. “Quando alguém compra um produto da Trebeschi, gerado com essa tecnologia de reúso da água de chuva, está contribuindo para um processo de preservação dos recursos naturais”, comenta Edson, com um ar de satisfação. Sobretudo porque toda a produção tem rastreabilidade. Portanto, basta o cliente fazer a leitura do QRCode nas embalagens dos produtos para ver em seu celular os motivos que deixam Edson tão entusiasmado. . PLANT PROJECT Nº11

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Citricultura

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r o p a r o t l u c i r t i C o n i t s e d o d o ã ç defini Sarita Rodas se formou em Direito porque pretendia ser promotora e se dedicar à busca de um mundo mais justo. Uma fatalidade mudou sua rota, mas não sua meta, e foi a partir da agricultura que passou a ajudar as pessoas a buscarem uma vida melhor Por Romualdo Venâncio | Fotos Rogério Albuquerque

Faz pouco mais de quatro anos que Sarita Rodas assumiu, de fato, a presidência do conselho administrativo do Grupo Junqueira Rodas, de Monte Azul Paulista (SP). À frente de um dos principais empreendimentos de citricultura do País, a jovem de 34 anos tem se consolidado como importante referência de gestão no agronegócio. Não por acaso, o faturamento da companhia dobrou nesse período em que está na administração. O cenário de expansão é confirmado também por outros índices, como os de produtividade. “O grupo está estruturado para produzir 6 milhões de caixas de laranja, o que corresponde a mais de 10 milhões de copos de suco da fruta por ano”, afirma Sarita, que vislumbra chegar a 7 milhões de caixas. Além dos significativos indicadores das três atividades do grupo – citros, cana e pecuária –, o que mais tem colocado a citricultora sob os holofotes é sua trajetória e como o destino a reintegrou ao agronegócio. Apesar de ser filha de produtores rurais – a mãe pecuarista e o pai citricultor – e sempre ter convivido com a fazenda, Sarita se formou em Direito e pretendia se tornar

promotora de Justiça, pois queria lutar por um mundo melhor, mais justo. “Nasci no agro, mas não me via trabalhando em uma empresa agropecuária”, afirma. No mês de agosto fez dez anos que essa trajetória foi interrompida, ou melhor, alterada. O motivo foi a morte de Fábio Junqueira Rodas, pai de Sarita. Ele tocava sozinho a administração da empresa e, segundo ela, por ser centralizador e bastante protetor, procurava manter a esposa e suas três filhas (Sarita é a caçula) distantes das responsabilidades e preocupações do negócio. “Ele nos mimava muito”, lembra Sarita. Como ela nem pensava em se envolver com a agricultura, estava tudo bem. Até passou um período como trainee na companhia, por conta do processo de governança iniciado por seu pai. “Não importa se você vai ou não seguir na empresa, mas como um dia será dono precisa saber coisas do negócio para poder tomar decisões como tal”, comenta. Sua irmã mais velha é quem estava sendo preparada para suceder a Fábio Rodas. Mas ela morreu seis meses antes do pai, após quase dois anos de tratamento contra um câncer. “Foram PLANT PROJECT Nº11

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Citricultura

MUDANÇA DE ROTA Imediatamente após a morte de Fábio Rodas, Sarita, sua mãe e sua irmã do meio tiveram de assumir os negócios. Escolhida para substituir o lugar de seu pai, Sarita explica como se deu tal

desafio de tamanha proporção, e para Sarita, então com 24 anos, foi um estímulo. “Devemos sentir medo, até por um instinto de sobrevivência, e ser empresária no Brasil é algo que apavora. Mas não é uma sensação que me barra, ao contrário, me encoraja”, comenta. Naquele momento foi fundamental a característica da gestora de jamais achar que não pode fazer algo. “Posso até não saber fazer, mas tenho a certeza de que posso aprender.” O problema é que o prazo de aprendizado era curto, e Sarita partiu para um treinamento intensivo. “Não havia tempo para me matricular em Harvard ou em uma boa faculdade aqui no Brasil para dali a seis anos ter um diploma.

decisão. “Foi algo muito simples. Minha mãe viu em mim um potencial que nem eu mesma acreditava, até porque não sentia que tinha competência técnica para o agronegócio, e decidiu que seria eu. Minha irmã concordou e ficou definido assim”, resume a administradora. “Foi algo bem sutil, na linha do manda quem pode, obedece quem tem juízo”, brinca Sarita, que se diz muito grata pela escolha da mãe, Maria Thereza Junqueira Rodas. E pelo apoio do tio Paulo Rodas. “Ele é meu grande conselheiro empresarial”, diz. É natural que se tenha medo diante de um

Intensificamos o programa de trainee e passei por todas as áreas da empresa, com uma enorme riqueza de detalhes, para entender como tudo funcionava”, descreve Sarita, que também passou por preparações fora da empresa. “O que eu fiz foi uma série de compilados do que seria importante para o negócio. Inclusive conhecer um pouco de outros países, pois nosso produto é destinado à exportação.” Sarita lembra que sua transição foi facilitada por seu pai ter formado grandes equipes, compostas por pessoas comprometidas com

duas perdas enormes e repentinas, que nos deixaram absolutamente perdidas. Foi uma fase muito difícil, que ainda hoje estamos superando, agora com um pouco mais de tranquilidade”, comenta Sarita. “Passamos de uma empresa de um único dono para uma sociedade de seis pessoas, inclusive dois menores.” Alguém precisava tomar a frente para manter o negócio em movimento.

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o negócio. “Ele sempre cuidou muito bem de quem trabalhava a seu lado”, afirma. A dedicação às pessoas também é uma das prioridades na empresa. A companhia tem um quadro de 500 colaboradores, podendo chegar a 2 mil nos períodos de safra. “Nosso maior desafio é cuidar das pessoas e desafiá-las a serem melhores todos os dias. Motivar as equipes a entenderem que sempre há algo melhor a ser feito. E isso se aplica a mim também”, diz. Após ter vivido todo esse processo de sucessão e superação, Sarita decidiu compartilhar sua experiência com outras famílias, no intuito de ajudá-las a passar por essa fase de maneira menos complicada. Daí surgiu uma nova

sucessória é falar em morte. “O que tem a ver com morte é herança, não sucessão.” A melhor maneira de multiplicar essa ideia, na opinião de Sarita, é pela conscientização. LARANJA SAUDÁVEL E MAIS DOCE Outra prioridade de Sarita à frente do Grupo Junqueira Rodas é assegurar a sanidade dos pomares, até porque a citricultura enfrenta desafios sanitários importantes. Ela explica que os pés de laranja vivem até 30 ou 40 anos, mas considerando uma vida média de 20 anos e o prazo de quatro anos até que se tornem produtivos, se não mantiver o cuidado permanente com as questões sanitárias, pode

Devemos sentir medo e ser empresária no Brasil é algo que apavora. Mas não é uma sensação que me barra, ao contrário, me encoraja”

empresa, a Prossiga Governança Familiar, fundada por ela. “Se não cuidarmos da organização da família, corremos o risco de que muitas empresas familiares deixem de existir. Claro que inovar e se preparar são uma necessidade do mundo, mas é preciso se livrar do preconceito de falar do amanhã. Os frutos de mudanças simples que se faz dentro de casa, da família e da empresa não têm preço, pois você consegue prosperidade nos negócios e paz entre os familiares”, observa. Para ela, é imprescindível derrubar a ideia de que falar em preparação

ser que as plantas nem cheguem a produzir. Sem contar que algumas doenças também são perenes, como os pés de laranja, portanto de difícil combate. O manejo para formar pomares mais saudáveis começa pela produção das próprias mudas, passa pela escolha dos melhores porta-enxertos e pela opção por variedades mais resistentes, tanto a mudanças climáticas quanto a certas doenças. “Também usamos o que há de mais moderno em termos de irrigação, com sistemas que inclusive não dependem da ação PLANT PROJECT Nº11

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SARITA JUNQUEIRA RODAS | 34 ANOS, DIVORCIADA, TEM 4 FILHOS Cargo: presidente do conselho Faturamento: R$ 120 milhões Composição dos negócios: produção de laranja, cana e seleção genética de gado Tabapuã Área plantada: 13 mil hectares (35% de citricultura e 35% de cana) Principais clientes: Montecitrus (exporta o suco) Hobby: cozinhar para a família e os amigos e viajar

humana, pois têm medidores automáticos que reduzem as possibilidades de erros”, acrescenta Sarita. Tais medidas ajudam na obtenção de frutas muito doces e cheias de caldo, o que é essencial para o negócio do Junqueira Rodas. Há outros fatores que contribuem para esse resultado. Mais de 50% da produção é de laranja-pera rio, que, segundo Sarita, é a variedade de laranja mais doce que existe. Além disso, o cultivo é feito no norte de São Paulo, onde há frio à noite e bastante insolação durante o dia, condições favoráveis à maturação da laranja com maior concentração de açúcar. “Garanto que 100% das frutas de nossos pomares são cheias de caldo e vão render um suco incomparável”, diz a produtora. Nesse período de meia-estação é mesmo mais difícil encontrar frutas que não sejam tão doces em um pomar como os da empresa. Já no começo da safra há variedades com um pouco mais de acidez e que são importantes para os blends de sucos. “Não são tão doces, mas fazem uma composição muito interessante”, afirma Sarita. A comercialização das laranjas é feita pelo Grupo Montecitrus, do qual o Junqueira Rodas é o maior acionista. A combinação dos resultados na produção de laranja com as demais formas de envolvimento de Sarita 64

com o setor citrícola trouxe outras conquistas para a empresária. Ela se tornou a primeira e única mulher no conselho do Fundecitrus, o Fundo de Defesa da Citricultura, e a componente mais nova. “Procuro pensar nessas conquistas como responsabilidades, para as quais preciso dar o máximo de mim”, diz. Essa representatividade poderia até ser um estímulo para a empresária enveredar por uma carreira política. Questionada a respeito, não confirma essa possibilidade, mas também não deixa claro que está descartada. “No Brasil, uma carreira política não é algo interessante, por tudo o que temos visto. Hoje, tenho uma grande responsabilidade com minha família, com a empresa, mas estou certa de que o Brasil só vai mudar quando pessoas boas perderem o medo e encararem o desafio dessa transformação”, comenta. AGRONEGÓCIO DIVERSIFICADO Em termos de utilização de área, o Grupo Junqueira Rodas tem equivalência entre a citricultura e a plantação de cana, com a diferença de que as laranjas têm um potencial produtivo muito alto. E é o principal negócio da empresa. Mas a busca pela produtividade nos canaviais é tão intensa quanto nos pomares de laranja. “O que amamos mais depois de sermos agricultores é sermos


Citricultura

eficientes”, destaca Sarita. Nos mais de 3,8 mil hectares com cana, o rendimento é de 91,3 toneladas por hectare, com meta de chegar a 106 toneladas por hectare nos próximos dois anos. A produção é fornecida para usinas como Cofco, Tietê e Tereos, que são responsáveis pelo corte, carregamento e transporte. A outra atividade é a pecuária, que embora ocupe uma área menor também é muito representativa. A julgar pela quantidade de prêmios na sala de troféus, resultado da participação em exposições, o gado é um grande destaque em termos de visibilidade. O Grupo Junqueira Rodas investe na raça Tabapuã, zebuíno desenvolvido aqui mesmo no Brasil, e os animais ficam em duas propriedades: a Fazenda Água Milagrosa, no município de Tabapuã (SP), e em uma fazenda em Naviraí (MS). Em São Paulo, são mais de 500 animais, entre os quais estão mais de 200 matrizes. Na fazenda do Centro-Oeste são 700 cabeças, incluindo 420 matrizes. A empresa trabalha a comercialização de touros, matrizes, bezerros e bezerras, tanto nas fazendas quanto em leilões, feiras e exposições. O principal mercado é a venda de touros para trabalho a campo, na cruza com outras raças zebuínas, sobretudo o Nelore. “O Tabapuã é um gado precoce, que tem carne com boa cobertura de gordura, boa distribuição de gordura entremeada e maciez, o que faz toda a diferença”, descreve Sarita, acrescentando os ganhos em produtividade. “Se cruzássemos todo o rebanho brasileiro com Tabapuã, aumentaríamos em 20% a produção de carne bovina. E isso é um dado científico, de uma pesquisa feita pela Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais”, completa..

Se não cuidarmos da organização da família, corremos o risco de que muitas empresas familiares deixem de existir. O que tem a ver com morte é herança, não sucessão”

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#ColunasPlant: Vinhos, automação e sustentabilidade na produção

Fo FORU M

Ideias e debates com credibilidade

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foto: Shutterstock


#COLUNASPLANT

VINHOS OFF-BROADWAY TERROIR, POR IRINEU GUARNIER FILHO* A crítica teatral nova-iorquina classifica de “off-Broadway” as peças e musicais encenados em teatros pequenos, com menos de 500 lugares, à margem dos grandes palcos da Broadway. São espetáculos de orçamentos modestos, mas de alto nível, originais e inovadores. Com custos menores, esses espetáculos podem ousar mais, correr riscos que o “teatrão” comercial da Broadway jamais correria. Alguns desses grupos nem almejam lucro – mas o sucesso inesperado às vezes os recompensa com generosas bilheterias. Mais radicais ainda são as produções “off-off-Broadway”, encenadas em salas com menos de... 100 lugares. São espetáculos experimentais, produzidos em alguns casos por amadores, mas com qualidade profissional. Com os vinhos, ocorre algo semelhante. Há rótulos elaborados fora do circuito comercial das grandes vinícolas que podem ser muito bons. Não é a regra, mas acontece. Com frequência, sou surpreendido por vinhos que brotam de terroirs improváveis como o Alto Uruguai, as Missões ou o noroeste do Rio Grande do Sul, o sul de Minas, Goiás ou a Bahia. Os rótulos nem sempre são os mais bonitos. As rolhas podem não ser as melhores. Mas o que realmente importa, o conteúdo líquido, esse geralmente é original e estimulante. São o que chamo de “vinhos off-Broadway”. Nos casos mais radicais, “vinhos off-off-Broadway”. Ou seja, vinhos não convencionais, um pouco rústicos, impetuosos, mas quase sempre instigantes. Claro que, para degustá-los sem decepções, é preciso uma abordagem despida de preconceitos – mas não indulgente! Vinho bom é vinho bom; vinho ruim é vinho ruim. Não se pode condescender com defeitos óbvios. Mesmo correndo o risco de esquecer alguns nomes, eu citaria, entre os vinhateiros autorais que fazem vinhos off-Bro-

adway e off-off-Broadway no Sul do país, os gaúchos Vilmar Bettú, James Martini Carl, Lizete Vicari, Eduardo Zenker, Sérgio Malgarin, Eduardo Giovannini, Maurício Serena, Décio Weber e Carlos Boff. Seus rótulos artesanais, elaborados com muita paixão na periferia do circuito comercial, têm esse atrevimento que caracteriza os bons vinhos “alternativos”. Alguns desses produtores rompem abertamente com o cânone enológico e se permitem experimentar técnicas e castas pouco conhecidas por aqui, leveduras indígenas, ou mesmo barricas de madeiras brasileiras. Fazem microvinificações e blends inusitados. Outros enveredam pelo difícil caminho da produção orgânica ou biodinâmica. À margem do establishment vitivinícola, Bettú tem vinho por mais de R$ 700 nas cartas de respeitáveis restaurantes do Rio e de São Paulo. Sommeliers famosos e jornalistas de todo o Brasil fazem romarias ao porãozinho de sua casa, em Garibaldi, na Serra Gaúcha, para degustar de joelhos seus tesouros. Carl testa cepas gregas e georgianas desconhecidas por aqui. Lizete, de Monte Belo do Sul, já vinificou na Praia do Rosa, em Santa Catarina. Malgarin cultiva seus vinhedos nas barrancas do Rio Uruguai, em São Borja, fronteira com a Argentina, e já teve um Tempranillo classificado entre os cinco melhores do mundo. O professor Giovannini faz vinhos em Viamão, na conturbada região metropolitana de Porto Alegre. Nem sempre eles acertam. Às vezes, pecam por falta de tecnologia. Outras vezes, pela pressa em levar ao seu público o produto inacabado de suas arrojadas vinificações. Mas, quando acertam, é uma satisfação incomensurável – tanto para quem produz quanto para quem degusta. São vitórias de Davi contra Golias. Uma sensação comparável, talvez, à experimentada pelos autores de sucessos off e off-off-Broadway PLANT PROJECT Nº11

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#COLUNASPLANT

ante a concorrência avassaladora das megaproduções da Broadway. E, assim como muitas peças do circuito alternativo foram parar na Broadway, quem duvida de que alguns desses vinhos “apócrifos” poderão um dia virar ícones nacionais?

Digam o que quiserem desses outsiders do vinho, o certo é que, com seus erros e acertos, eles estão tornando a vitivinicultura brasileira mais rica e interessante. Um brinde, portanto, aos “vinhos off-Broadway”!

*Irineu Guarnier Filho é jornalista especializado em agronegócio, cobrindo este setor há três décadas. Metade deste período foi repórter especial, apresentador e colunista dos veículos do Grupo RBS, no Rio Grande do Sul. É Sommelier Internacional pela Fisar italiana, recebeu o Troféu Vitis, da Associação Brasileira de Enologia (ABE), atua como jurado em concursos internacionais de vinhos e edita o blog Cave Guarnier. Ocupa o cargo de Chefe de Gabinete na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, prestando consultoria sobre agronegócio

AUTÔNOMOS EM CAMPO A REVOLUÇÃO DAS MÁQUINAS, POR MARCO RIPOLI*

Uma revolução silenciosa vem acontecendo no agro. Enquanto escutamos muito sobre carros autônomos nas cidades, pouco ainda se fala sobre o tema no setor agrícola, que há mais de 20 anos já vem trabalhando para o desenvolvimento dessas mesmas tecnologias para uso no campo. Nos anos 1980, com o início da agricultura de precisão, o conceito de tratores autônomos já começou a ser tratado com propósito de aumentar a eficiência do sistema produtivo e reduzir custos no campo. Infelizmente, esses veículos ainda não têm liberação de uso comercial em muitos países, o que não impede que os fabricantes continuem a desenvolver essas novas tecnologias. Muitos dos sensores e sistemas de controle que as máquinas e equipamentos agrícolas autônomos incorporaram já são utilizados pelos carros autônomos. Grande parte dos tratores vendidos nos EUA, Europa e parte do Brasil incluem sistemas de direcionamento via GPS que conferem aos fazendeiros a oportunidade de colocar essa tecnologia para trabalhar a seu favor. A precisão e qualidade do plantio, sensores que coletam dados do solo, plantas, condições climáticas e a melhoria do

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trabalho durante a noite são alguns dos vários benefícios que, em um conjunto, reduzem a carga de trabalho e esforço dos operadores, auxiliando na condução e controle de várias tarefas dentro do sistema produtivo agrícola. Os tratores autônomos podem atuar como hotspots móveis para coleta de dados de sensores, fornecendo mais informações para o melhor gerenciamento do campo (por exemplo: umidade, taxas de aplicação, consumo de combustível etc.). Empresas de máquinas agrícolas já desenvolveram versões de veículos agrícolas autônomos que, em paralelo a sistemas integrados, ajudam os produtores rurais a gerir remotamente suas operações. O MachineSync, por exemplo, permite que um trator se comunique diretamente com uma colhedora, garantindo maior eficiência e melhor precisão na colheita das lavouras. O AutoTrac Vision consiste do uso de câmeras que detectam as linhas de plantio das culturas e orientam o trator para evitar o pisoteio das plantas em crescimento. O AutoTrac RowSense ajuda a garantir cobertura completa na aplicação de fertilizantes e corretivos, entre outras soluções. As tecnologias para viabilizar os tratores totalmente autônomos já estão dispo-


#COLUNASPLANT

Fo níveis, mas qual o entrave para o lançamento comercial dessas soluções? Uma das principais preocupações é o quanto se confia nessa solução, pois até o momento não existem normas nem legislações definidas que protejam o usuário contra eventuais acidentes. Por ora, veículos autônomos ainda precisam de seres

humanos para monitorar sua velocidade e desempenho. Em breve, as inovações dos equipamentos agrícolas irão permitir o controle remoto completo dessas operações, resultando em um aumento importante da produtividade dos produtores em operações agrícolas em grande escala. O Agro não para!

* Marco Lorenzzo Cunali Ripoli é Ph.D., engenheiro agrônomo, mestre em Máquinas Agrícolas pela Esalq-USP e doutor em Energia na Agricultura pela Unesp. Executivo, disruptor, empreendedor, inovador e mentor, é proprietário da Bioenergy Consultoria, da Energia da Terra, empresa de alimentos saudáveis e investidor da Drinquis.

SOMOS EDUCADOS PARA A SUSTENTABILIDADE? AGROAMBIENTAL EM PARCERIA COM O GTPS POR BEATRIZ DOMENICONI

É até clichê dizer que o desenvolvimento das sociedades deve estar fundamentando em uma boa educação, não é? Esta é a base de todo e qualquer desenvolvimento, seja ele social, econômico, tecnológico, de saúde pública, seja de conservação ambiental. Não seria diferente para o desenvolvimento sustentável. Mas, mesmo onde há sistemas educacionais estruturados, estamos sendo educados para a sustentabilidade? Ouvimos falar de sustentabilidade associada a uma série de atributos ambientais, ecológicos, recicláveis, e em acordos internacionais. Acompanhamos o tema também, em mídias diversas, no entanto, raramente encontramos o termo em cartilhas, livros e aulas dentro das escolas e universidades. Não aprendemos o que de fato a sustentabilidade significa. Imagine uma situação hipotética na qual uma campanha esteticamente atrativa passa a ser compartilhada massivamente em redes sociais com os dizeres de que “quem descobriu o Brasil não foram os portugueses, nem mesmo europeus, mas sim os chineses”. Fontes aparentemente

idôneas são mencionadas como evidências e algumas celebridades falam em vídeos curtos e com linguagem bastante simplificada que, por anos, a população brasileira foi convenientemente enganada pelos interesses imperialistas europeus. É possível que essa campanha faça sucesso? Sim. Mas ela passaria ilesa pelo crivo de qualquer pessoa com nível básico de educação? Provavelmente, não. O ponto não é se a campanha vai existir ou não, mas sim a atenção e a credibilidade que as pessoas dão para aquilo. O exemplo dado pode parecer extremo, mas ele só nos parece absurdo porque temos uma “bagagem” de informações que nos permite ter senso crítico sobre o que lemos e que, no mínimo, nos faz desconfiar das fontes ou das informações. Com assuntos relacionados à sustentabilidade esse senso crítico não está desenvolvido. Infelizmente as pessoas não têm um conceito claro e objetivo sobre o que é ou não sustentável. Definem o conceito de sustentabilidade com suposições e associações que fazem no dia a dia, por meio de informações que recebem de forma PLANT PROJECT Nº11

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#COLUNASPLANT

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passiva através de diferentes veículos. Porém, sustentabilidade tem uma definição e não a opinião de alguém. Mesmo sendo complexa não deve ser tratada como subjetiva. Pelo contrário. É um conceito que deveríamos aprender nas cadeiras das escolas, ao longo da nossa formação básica e profissional, entendendo todas as formas de aplicá-lo em diferentes áreas de atuação. É preciso entender que sustentável é um adjetivo que pode, sim, ser aplicado a qualquer coisa. A qualquer sistema. Contanto que o conceito seja utilizado de forma integral e não considerando apenas critérios específicos. ALGO é sustentável se for possível ser feito, produzido, conduzido ao longo do tempo. Para isso é preciso que todos os recursos necessários sejam reconhecidos e bem geridos. Além disso, é importante considerar que para ser sustentável sua produção deve conter pelo menos três tipos de recursos: financeiros, humanos e naturais, em pelo menos três áreas: economia, sociedade e meio ambiente. Trazendo essa definição para o setor

agropecuário, notamos que, não diferente dos demais setores, os profissionais não estão sendo preparados para aplicar o conceito de sustentabilidade. Não que eles não conheçam as técnicas necessárias para isso, pelo contrário, passam os cinco anos da graduação aprendendo todas as técnicas de produção em diferentes ambientes. No entanto, o termo “sustentabilidade” somente é falado quando relacionado a florestas e à conservação de recursos naturais. Os profissionais que querem trabalhar com produção ou economia não se definem como profissionais de sustentabilidade, quando na verdade, o conceito deveria ser entendido como a aplicação correta e responsável de todas as boas práticas aprendidas ao longo do curso. Sustentabilidade não se define por um ou outro critério. Empresas e setores ainda estão falhando na aplicação desse conceito por lidarem com ele de forma equivocada. Não é um tema a ser tratado por um departamento específico dentro das empresas, mas sim de uma cultura a ser adotada.

* Beatriz Domeniconi é coordenadora executiva do Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável (GTPS), primeira associação mundial sobre práticas sustentáveis na cadeia da carne bovina. Formado por representantes de diferentes segmentos que integram a cadeia de valor da pecuária bovina no Brasil, tem como missão promover o desenvolvimento da pecuária sustentável por meio da articulação da cadeia, melhoria contínua e disseminação de informação.


Plant + Azul

www.voeazul.com.br PLANT PROJECT Nยบ11

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Plant + Azul apresentam

as cidades do

AGRO ´ NEGOCIO

NEGÓCIOS E SURPRESAS

Capital de um estado de agronegócio diversificado, Goiânia oferece gastronomia e fácil acesso a turismo de qualidade

Diversificação é uma marca da economia de Goiás. As indústrias farmacêutica e automobilística, e os serviços de logística são três das principais forças motrizes do estado. A grande locomotiva, porém, é o agronegócio, também ele diversificado e pujante. Nas lavouras goianas se colhe safras expressivas nas principais culturas. O estado é o maior produtor de tomates, o segundo em cana, o terceiro em milho, quarto em soja e algodão. Na área de proteína animal, o rebanho bovino é o terceiro maior do País e a farta produção de grãos favorece a instalação de grandes criadores de aves e suínos. Tudo isso abastece agroindústrias de porte em várias regiões goianas. Goiás cresce acima da média nacional. Os visitantes veem novas oportunidades, ampliam seus relacionamentos e fecham novos contratos. O turismo de negócios é a cara do estado. Mas há inúmeras outras possibilidades para quem visita a capital, Goiânia, e cidades em outras regiões.

APETITE GASTRONÔMICO

Tradição goiana Inspirado nos ares de fazenda, o restaurante Chão Nativo é, desde 1998, uma atração para os visitantes da capital. Ali no coração da cidade, o cenário traz carro de boi, máquinas de costura antiga, monjolos e outros artefatos rurais que lembram os antigos costumes do interior. No fogão caipira, sob as chamas fumegantes, estão as grandes panelas pretas recheadas com frango caipira, galinhada, pequi, feijão tropeiro e o tabuleiro com o leitão à pururuca. São mais de 50 pratos quentes e mais de 20 tipos diferentes de salada. No balcão de sobremesas, estão os doces de figo, goiabada caseira, doce de leite e a ambrosia – feita com ovos e leite caipiras direto da fazenda. O serviço de bufê custa R$ 34,90 de segunda a sexta ou R$ 36,90 aos sábados, domingos e feriados. Avenida T-11, esq. c/ T-4 – Setor Bueno Horário: segunda a sexta, das 11h às 15h; sábados, domingos e feriados, das 11h às 15h30 Telefone: (62) 3241-2266 Redes Sociais: @chaonativobueno

Sabor cosmopolita “Come-se com os olhos.” O ditado popular faz todo sentido no Íz Restaurante. Com uma decoração arrojada e moderna, sentar em suas mesas dá alertas da experiência que virá. Cada prato assemelha-se a uma obra de arte com identidade própria, movida por uma cozinha 72

contemporânea. O menu é sazonal, com misturas inusitadas na composição de cada receita. Faz jus o destaque para a canela de porco Duroc (R$ 89,90), acompanhada de canjiquinha e abóbora laqueada. Servida somente às terças-feiras, a receita tem um longo processo de preparação e agrada fiéis clientes. O Íz coloca Goiânia na rota dos restaurantes contemporâneos reconhecidos no País. Seu menu confiança (R$ 310,00), com nove etapas, promete surpreender a cada garfada. Eleito o melhor restaurante pela revista Veja Comer e Beber em Goiânia, em 2017, é também agraciador do prêmio Prazeres da Mesa, como o melhor restaurante da região Centro-Oeste. Rua 1129 número 146, Qd.237 Lt.30 – Setor Marista Horário: almoço de terça a sexta, das 11h30 às 15h; sábados e domingos das 12h às 16h. Jantar de terças a quintas, das 19h30 às 23h30, sextas e sábados, das 19h30 às 0h30. Telefone: (62) 3092-5177 Redes Sociais: @izrestaurante

Francês com vista A novidade gastronômica da capital goiana está no Grá Bistrô, um inovador conceito de restaurante brasileiro inspirado nos bistrôs franceses. Em seus


exclusivos e até mesmo um heliporto. Uma escultura assinada pela artista plástica Tomie Ohtake chama a atenção dos frequentadores. Av. Dep. Jamel Cecílio, 3300 – Jardim Goiás Horário: das 12h às 22h30

pratos cabem as finalizações à mesa, com técnica e elegância. A experiência engloba pratos delicados e únicos, como o peixe do dia com escamas de mandioquinha, com vegetais sautée e beurre blanc (R$ 89,90). As sobremesas remetem à pâtisserie francesa. No cardápio estão as mignardises, também nomeadas como docinhos da casa (R$ 38,00). Localizado no último andar do Órion, atualmente o edifício mais alto de Goiânia, possui também no terraço o Grá Rooftop, com vista panorâmica da cidade. Nesse espaço o cliente pode degustar um French 75 (R$ 28,00), coquetel elaborado com gim, champanhe, suco de limão e açúcar. Av. Portugal, 1148 – Setor Marista Grá Bistrô: Domingos, das 12h às16h. de terças a quintas, das 19h30 à 0h00; sextas e sábados, das 19h30 às 0h30. Grá Rooftop: Quintas, das 18h às 23h30; sextas, das 18h às 0h30; sábados, das 16h às 0h30; domingos, das 16h às 22h. Telefone: (62) 3181-0322 Redes Sociais: @grabistro

Shopping com sabor Em meio ao paisagismo da área externa do Shopping Flamboyant está localizado o polo gastronômico que se tornou referência em Goiânia. São mais de 4 mil metros quadrados de jardins, que hoje abrigam restaurantes de redes como Coco Bambu, Kanpai Blue, L’Entrecôte de Paris, Pobre Juan e Tartuferia San Paolo. Além dos ambientes sofisticados, também destaca-se por sua segurança aos clientes, ao oferecer estacionamentos

FÉRIAS NO CERRADO

Piscina com águas termais e muita natureza no Rio Quente Resorts O complexo Rio Quente Resorts é referência em turismo no estado. O tradicional destino de férias está instalado na cidade de Rio Quente, a 27 km do Aeroporto de Caldas Novas e a 180 km do aeroporto de Goiânia. Em uma área total de 497 mil m² em meio à paisagem do cerrado, estão as 18 nascentes naturais, que formam as oito piscinas termais do Parque das Fontes – todas com a água renovada a cada 20 minutos e que funcionam 24 horas por dia. Os clientes do resort têm acesso ao Hot Park, eleito pelo segundo ano consecutivo um dos dez melhores parques aquáticos da América do Sul pelo Traveller’s Choice do TripAdvisor. O Eko Aventura Park é outra atração do Rio Quente Resorts, ideal para os adeptos de esportes de aventura. Entre os sete hotéis que compõem o complexo, o maior destaque é o Rio Quente Cristal Resort, que oferece aos seus hóspedes um ambiente exclusivo, longe do agito do Hot Park. Esplanada do Rio Quente, Rio Quente – GO, 75695-000 Telefone: (64) 3512-8000 Redes Sociais: @rioquenteresorts

História e natureza Cidade histórica e turística repleta de quedas e poços de água, Pirenópolis fica a menos de 130 km da capital. As cachoeiras do Abade, Meia–Lua e do Lázaro são atrações imperdíveis na região. Na pousada dos Pirineus, o hóspede encontra ampla infraestrutura há apenas 300 metros do centro histórico. O resort destaca-se por seu amplo espaço, com lago para pesca, gazebo, redário, sauna e a capela Santa Bárbara. Quem tem filhos, se surpreende com a Pequenópolis – brinquedoteca que traz toda a temática de Pirenópolis para as crianças. Piscina aquecida, toboágua e bar molhado completam a experiência para crianças e adultos. Para um passeio à noite, é a vez da rua do lazer, no centro da cidade. A cidade de Pirenópolis também é reconhecida por suas inúmeras opções gastronômicas e boêmias na vida noturna. Rua do Carmo, 80 – Chácara Mata do Sobrado, Pirenópolis – GO

A AZUL LEVA VOCÊ O aeroporto de Goiânia é estratégico na ligação do Centro-Oeste com mais de 100 destinos da Azul no Brasil e também no exterior. De lá partem voos diretos para os principais hubs da companhia: Campinas, São Paulo, Belo Horizonte, Recife e Porto Alegre.

Telefone: (61) 2101-7818

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#COLUNA ESALQUEANOS

ADEALQ - HÁ 75 ANOS CONECTANDO ESALQUEANOS

ESALQ - USP

DESPERDÍCIO DE ALIMENTOS: UMA QUESTÃO ESTRUTURAL

POR GABRIEL VICENTE BITENCOURT DE ALMEIDA (REBENTÃO), EX-ARADO

Um dos hábitos mais frequentes é sair alardeando verdades que talvez não sejam tão verdades assim. Diz-se com frequência e naturalidade coisas como “a agricultura familiar produz 70% da cesta básica, que cada brasileiro toma 6 litros de agrotóxicos por ano” e por aí vai. Perdeu-se muito da capacidade de análise, crítica e da noção de grandeza. Após mais de duas décadas no setor de abastecimento e armazenagem, entendendo que as variáveis são quase infinitas, desacredito em artigos que constantemente mensuram as perdas de alimentos em valores como um terço ou 40%. Não são plausíveis essas medições, não podem ser generalizadas. Todos os alimentos de origem vegetal, de um morango a um grão de soja, estão vivos, respirando e queimando as reservas que vieram da planta mãe e perdendo água por transpiração. Quando as reservas acabam, o produto entra em colapso, morre e se degrada. Não é difícil intuir que o morango é muito mais perecível que a soja, a enorme diferença metabólica se deve basicamente ao ritmo respiratório da frutinha ser milhares de vezes mais rápido que o do grão, mas na essência são processos incrivelmente semelhantes. Ao mesmo tempo, agentes biológicos como bactérias, fungos, insetos, ácaros e roedores atacam nossos alimentos disputando-os com o ser humano. Diante dessas premissas, a diminuição de perdas e desperdícios se dá, em última análise, por ações que reduzam o metabolismo e impeçam o crescimento e o acesso dos nossos concorrentes biológicos. Nas frutas e hortaliças, ou simplesmente hortícolas, é sabido que a cada dez graus de aumento na temperatura ambiente o metabolismo se acelera de duas a três vezes. Isto é especialmente problemático em um país tropical e com cadeia de frio deficiente. Impactos também aceleram o ritmo respiratório. Estradas esburacadas, centrais de abastecimento ou Ceasas defasadas, caminhões sem frio, carga e descarga manual, embalagens e manuseio inadequados causam impactos que aceleram a degradação e ferimentos que servem de entrada para bactérias e fungos. A questão passa pela falta de mão de obra qualificada. A mensu-

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ração das perdas reais é praticamente impossível, isto porque as condições ambientais, distâncias e o metabolismo dos produtos são muito variáveis. E a maior parte das frutas é descartada, principalmente, no varejo e nos domicílios, totalmente por consequência dos acontecimentos anteriores da cadeia, mas o grosso do descarte é feito na ponta da cadeia. A fruta apodrece na fruteira antes de estar no ponto de consumo. Os hortícolas não são commodities, os preços não são unicamente determinados por oferta e demanda. As características qualitativas são importantíssimas na formação do valor. Uma cenoura ou mandioquinha-salsa sem brilho não são descartadas, mas podem ser vendidas por um terço do valor de raízes do mesmo tamanho, mas ainda com o brilho intacto. Assim, pós-colheita inadequada causa muito prejuízo financeiro, mesmo que não ocorra o descarte físico. Nessa linha está o aproveitamento de produtos de baixo valor por aparência, como frutas e tubérculos deformados como modo de aproveitar mais a energia gasta na produção agrícola. As grandes commodities sofrem com a nossa falta de estrutura logística, a maior parte da safra é transportada por caminhões por estradas péssimas. E o pior, o País é extremamente carente de estrutura para a armazenagem de grãos. Carecemos de armazéns modernos com mecanismos de controle de temperatura e aeração e com fácil manejo de pragas e roedores. Os grãos, por terem muito menos água ou umidade na composição, respiram muito mais devagar que os hortícolas, mas pode ser necessário armazená-los por meses ou anos e do mesmo modo, mesmo com o um ritmo muito menos frenético, a durabilidade e a manutenção da qualidade dependem do controle das condições ambientais e do combate aos insetos, ácaros e roedores. Resumindo, para desperdiçar cada vez menos, precisamos de estrutura: estradas de ferro, hidrovias, armazéns e Ceasas modernas, varejos estruturados e etc. Não deixa de ser uma ótima oportunidade de negócios trabalhar para diminuir o desperdício.


A flor do açafrão: Delicada e rara, ela pode ser a solução para trazer paz e prosperidade ao árido Afeganistão

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FRONTEIRA

As regiões produtoras do mundo

foto: Shutterstock PLANT PROJECT Nº11

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FRONTEIRAS

As regiões produtoras do mundo

O AÇAFRÃO DA PAZ Como uma startup fundada por ex-militares americanos para cultivar uma das iguarias mais nobres do mundo nas montanhas do Afeganistão está ajudando a transformar o país e resgatar agricultores que viviam sob a mira do talibã e dos traficantes de ópio

foto: Shutterstock

Por Amauri Segalla

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A planta que vale ouro: para produzir 1 quilo de tempero, sรฃo necessรกrias cerca de 150 mil flores PLANT PROJECT Nยบ11

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foto: Rumi - divulgação

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poeta e teólogo persa Jalal al-Din Rumi escreveu no século 13 milhares de aforismos que sobreviveram aos anos. Um deles inspirou a criação da startup americana Rumi Spice: “É debaixo de ruínas que se encontram os verdadeiros tesouros”. A empresa não só adotou o nome do sábio persa como parece ter levado ao pé da letra alguns de seus ensinamentos. Este aqui, por exemplo: “Inicie agora um projeto enorme e insensato”. Ou este outro: “A ferida é um lugar aberto para a luz entrar”. Mais um: “Por que eu devo ficar no fundo do poço se tenho uma corda na minha mão?” Cada uma dessas frases traduz, de alguma maneira, os incríveis acontecimentos que resultaram no surgimento da empresa, que cultiva e processa açafrão, a mais nobre das especiarias, em um país destruído pela guerra – o Afeganistão. A história da Rumi Spice está ligada, mesmo que indiretamente, aos atentados de 11 de setembro de 2001, que provocaram a morte de 2.996 pessoas nos Estados Unidos e levaram

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a uma resposta dura do então presidente George W. Bush. Sob o pretexto de caçar o líder do regime talibã, Osama Bin Laden – sobre quem recaíam as acusações de ter planejado os ataques às Torres Gêmeas do World Trade Center –, Bush ordenou a invasão do Afeganistão. Cerca de 30 mil americanos das forças de segurança foram mandados para lá. Com o agravamento dos conflitos e a eclosão da guerra civil, outros milhares de soldados desembarcaram em terras afegãs durante mais de uma década. Para além da tragédia que a invasão provocou, com um saldo de 40 mil mortos, 25 mil feridos e o aniquilamento da economia local, ela também resgatou, em meio às ruínas, alguns tesouros perdidos, para usar a imagem eternizada pelo poeta Jalal al-Din Rumi. A Rumi Spice é um deles. Ela foi fundada em 2014 por quatro sócios que serviram no Afeganistão nos anos mais dramáticos da guerra. Kimberly Yung, uma oficial de engenharia do Exército, liderava pelotões responsáveis por


Afeganistão

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Carol Wang, sócia da Rumi, e um dos produtores locais: uma opção ao domínio do talibã e dos traficantes de ópio

foto: Shutterstock

procurar e desativar minas escondidas nas estradas. Emily Miller, também ex-oficial de engenharia militar, participava das Operações Especiais que realizavam ataques noturnos. Keith Alaniz, único homem a fazer parte da sociedade, integrava, como oficial do Exército, os governos regionais provisórios do Afeganistão. A civil do grupo é a advogada Carol Wang, que trabalhou no país asiático em um programa de desenvolvimento rural apoiado pelo Banco Mundial. A ideia de criar a startup surgiu quando Keith conheceu um fazendeiro afegão que lamentava o fato de o extraordinário açafrão que ele produzia não ter clientes dispostos a comprá-lo. “Todo mundo tinha medo da guerra e do Afeganistão”, disse Keith em entrevista ao jornal americano

Chicago Tribune. “Quando o fazendeiro contou a sua história, pensei que militares com experiência e conhecimento do território e da cultura afegã tinham sido talhados para aquele trabalho.” O oficial se lembrou então que duas colegas de Exército – Kimberly e Emily – faziam MBA na Harvard Business School, a famosa escola de negócios de uma das universidades mais prestigiadas do mundo, e as acionou. Aceito o convite, elas procuraram aquela que seria a quarta sócia, Carol Wang, que tinha alguma experiência com agricultura. O caminho estava traçado. TUBARÃO NO DESERTO Os contatos e bons relacionamentos que os sócios da Rumi Spice construíram

durante os anos em que serviram no Afeganistão foram fundamentais para levar o projeto adiante. O ponto de partida era convencer mais agricultores a cultivar açafrão, o que certamente não seria uma tarefa fácil. Mais de 80% da população ativa do país trabalha na agricultura, mas a maioria dela está envolvida de alguma forma com o negócio do ópio. Estima-se que o Afeganistão produza 90% das papoulas do mundo. Elas são a base para a produção industrial do ópio, que, por sua vez, dá origem à heroína. Pior ainda: as extensas plantações afegãs de papoulas são controladas por chefes talibãs. Embora o cultivo do açafrão seja seis vezes mais rentável do que o da papoula – diferença essa que é superada pela enorme demanda global por heroína, bem acima do interesse por açafrão –, os agricultores temiam enfurecer os talibãs, que não hesitam em usar a violência no domínio das lavouras. Graças aos sólidos contatos que fizeram com autoridades locais e à rede de amizades que construíram no período da guerra, os donos da Rumi Spice conseguiram convencer, no início, pelo menos 30 fazendeiros a cultivar o açafrão para o mercado internacional. Mas faltava ainda o outro lado da moeda. “Quando procuramos investidores nos Estados Unidos, a primeira reação sempre foi de choque e PLANT PROJECT Nº11

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foto: Shutterstock

recusa”, disse Kimberly Yung ao jornal americano San Francisco Chronicle. “Eles ficavam assustados com o fato de a empresa estar baseada em um país que os americanos associam apenas à guerra.” Superadas as barreiras e os velhos preconceitos, os investidores acabaram convencidos de que se tratava, sim, de um negócio promissor. “As pessoas acham o Afeganistão desolado, mas sua terra e seu povo têm muito a oferecer”, disse Kimberly. O propósito da empresa e o fato de haver ex-militares envolvidos seduziram, por exemplo, o bilionário texano Mark Cuban. Um dos investidores participantes da versão americana do reality show Shark Tank, ele comoveuse com a apresentação da 80

companhia no programa e decidiu aportar US$ 250 mil em troca de 5% do capital da Rumi. Além da bela história, Cuban visualizou um grande negócio. O açafrão é o mais nobre dos temperos e uma das especiarias mais caras do mundo. Seu quilo pode custar US$ 30 mil, dependendo da qualidade do cultivo e das técnicas de processamento. O preço exorbitante – só um pouco abaixo da cotação atual do ouro – se deve ao fato de ser difícil para crescer e penoso para colher. É importante dizer que esse tipo de especiaria não tem nada a ver com a cúrcuma, também chamada no Brasil de açafrão-da-terra. O açafrão tratado como iguaria tem fios que parecem linhas de costura da cor vermelha. Segundo especialistas, eles exalam um

cheiro parecido com o de tabaco frutado. O tempero é feito do estigma da flor do açafrão. Cada flor contém apenas três estigmas, e na maioria das vezes são necessárias 150 mil flores para a produção de um único quilo da iguaria. Embora o melhor açafrão seja frequentemente associado ao Irã e à Espanha, o clima quente e seco do Afeganistão e o terreno montanhoso e fértil proporcionam condições perfeitas de cultivo. FLOR QUE VALE OURO O produto vendido pela Rumi Spice é um dos melhores do mundo. Talvez o melhor. De acordo com critérios internacionais de aferição de qualidade, o padrão da marca Rumi é 25% superior ao nível


Afeganistão

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exigido pelos certificadores que atestam o grau de pureza da especiaria. Diversos motivos explicam isso. O primeiro deles é a terra afegã, ideal para o cultivo. O segundo se deve ao trabalho minucioso feito pelos agricultores contratados pela Rumi Spice. Eles são apaixonados pelo que fazem e tratam o produto como algo místico, conectado com forças supremas. Essa relação íntima com a lavoura faz toda a diferença: a colheita de flores e estigmas de açafrão é um exercício delicado, que só pode ser feito manualmente e que leva muito tempo para ser concluído. Além de atuar lado a lado com os agricultores, a Rumi Spice construiu uma unidade de processamento em Herat, terceira cidade mais populosa do Afeganistão, a 640 quilômetros da capital, Cabul. O lugar conta com 400 funcionários e mais de 300 são mulheres. Elas não ocupam apenas cargos básicos, mas também estão em postos de gerência e chefia, cuidando das tarefas de supervisão, controle de qualidade e coordenação de equipamentos. Além disso, a startup quebrou uma tradição local. Os salários das funcionárias não são pagos para seus pais ou maridos, mas diretamente para elas, o que nenhuma outra empresa faz no país. Atualmente, a Rumi Spice é a companhia privada que

mais emprega mulheres no Afeganistão, e isso obviamente tem algum peso social. De certa forma, a Rumi está ajudando a modernizar as relações trabalhistas e a incluir a mulher na sociedade. “E fazemos isso sem ser uma ONG”, disse a sócia Kimberly Yung. “Somos uma empresa com fins lucrativos que está contribuindo para transformar um país.” Por enquanto, a fábrica em Herat apenas prepara os fios das flores coletados pelos fazendeiros e cooperativas com as quais a empresa trabalha. A embalagem do produto final é feita nos Estados Unidos, mas a ideia é levar essa operação também para o Afeganistão. Kimberley conta uma história emocionante em suas palestras mundo afora para falar sobre o trabalho realizado no Afeganistão. No outono passado, ela recebeu um pedido das funcionárias para comemorar a exuberante colheita. Jovens tímidas, algumas delas adolescentes, pediram para Kimberley tocar a música Irreplaceable, de Beyoncé, no telefone celular. A empresária fechou as portas da fábrica de processamento, colocou a canção para tocar em alto e bom som e durante alguns minutos as moças se sentiram livres para dançar. Depois da festa, elas voltaram à tarefa demorada de separar os estigmas vermelhos e flamejantes das flores roxas de

fotos: Rumi - divulgação

Produção de açafrão nas montanhas do Afeganistão: trabalho artesanal criou marca valorizada nos EUA

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Afeganistão

foto - divulgação

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açafrão. Kimberley encerra a história com um ditado afegão. “Um rio é feito gota a gota.” A frase serve tanto para expressar o delicado trabalho de cultivo de açafrão quanto para traduzir o vagaroso processo de emancipação feminina no Afeganistão. A Rumi Spice não é uma empresa voltada apenas para o progresso social. Foram

necessários só dois anos de atividades para que se tornasse um negócio lucrativo. Desde 2016, o cultivo de açafrão nas comunidades de Herat cresceu mais de 50%, enquanto as vendas do produto em restaurantes sofisticados avançaram na mesma proporção. Chefs renomados de Nova York, Barcelona, Paris e Milão se tornaram clientes fiéis da marca Rumi Spice, mas não são os únicos parceiros da startup. As receitas de comercialização dos temperos em lojas de alimentos e no próprio site da Rumi aceleram acima de dois dígitos a cada ano, graças principalmente à diversidade de produtos desenvolvidos pela empresa. Além dos temperos clássicos, foram criados chás,

geleias e até cervejas que usam o açafrão como ingrediente, todos com ótima aceitação no mercado. “E nós temos mais produtos em mente, como manteiga de açafrão e bebidas saudáveis”, disse Kimberley em entrevista recente. “A aplicação do produto oferece infinitas possibilidades.” A fantástica trajetória dos ex-soldados que transformaram uma experiência dura em algo positivo pode ser definida por um dos aforismos do sábio Jalal al-Din Rumi: “Você nasceu com potencial. Você nasceu com bondade e confiança. Você nasceu com ideias e sonhos. Você nasceu com grandeza. Você nasceu com asas. Você não está destinado a rastejar, então não rasteje. Você tem asas. Aprenda a usá-las e voe” .

UM PAÍS EM RECUPERAÇÃO PIAUÍ Depois de décadas de conflitos, a economia do Afeganistão se recupera, mas em ritmo ainda lento. A renda per capita é de US$ 1.000 por ano e cerca de 30% da população vive abaixo da linha de pobreza. A agricultura é o principal setor, respondendo por 31% das riquezas produzidas. Na foto no alto da página, as fundadoras da Rumi, Kimberly Jung e Emily Miller

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QUIRGUISTÃO

USBEQUISTÃO TURCOMENISTÃO

IRÃ

TAJIQUISTÃO

CHINA

AFEGANISTÃO INDIA PAQUISTÃO


Cockpit de um HondaJet: Mais sofisticado, agronegócio começa a substituir antigos monomotores e bimotores por aviões com melhor performance e conforto

W WORLD FAIR

A grande feira mundial do estilo e do consumo

foto: Divulgação PLANT PROJECT Nº11

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W WORLD FAIR

A grande feira mundial do estilo e do consumo

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EVOLUÇÃO A JATO Com a evolução do agronegócio no Brasil, empresários do setor começam a deixar de lado os aviões monomotores e bimotores para ingressar em nichos mais sofisticados da aviação privada Por Tiago Dupim

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W Aviação

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s diversas tecnologias que chegaram ao agronegócio nos últimos anos fizeram com que o setor ganhasse um destaque ainda maior na economia nacional. Os ganhos foram inúmeros no dia a dia da lavoura: agilidade nos processos, melhorias no direcionamento de recursos e esforços, redução de custos e aumento da produtividade e competitividade são apenas alguns desses benefícios que ajudaram o setor a se tornar responsável por mais de 20% da atividade econômica do Brasil. Com o smartphone no bolso e um tablet debaixo do braço enquanto observa os drones ajudando na pulverização da lavoura, o novo produtor rural brasileiro está ávido por novidades que simplifiquem o seu trabalho. Ele precisa de mobilidade para ganhar tempo. Como a aviação comercial deixa a desejar no que se refere ao número de cidades atendidas, os aviões particulares são a melhor solução. E essas máquinas de ganhar tempo estão cada vez mais sofisticadas. Quando o assunto é aviação, o perfil do empresário brasileiro do agronegócio é diferente do do norte-americano, por exemplo. Isso se deve muito à infraestrutura na

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aviação, que por aqui ainda deixa muito a desejar. Até 15 anos atrás, o agribusiness estava compreendido em apenas algumas regiões com grande capacidade produtiva. Hoje isso se expandiu para fronteiras em vários cantos do País. No entanto, as companhias aéreas ainda não conseguem chegar a muitos desses lugares. Se por um lado a maior parte dos empresários ligados ao agribusiness depende apenas de pistas curtas e não preparadas para operar os seus monomotores ou bimotores, por outro já existem aqueles que estão operando em áreas mais bem estruturadas. Com isso, abre-se espaço para os jatos executivos. “O mercado está mudando e a cabeça dos fazendeiros também. Além disso, temos jovens empresários chegando ao campo em busca de novidades”, afirma Eduardo Vaz, CEO da Líder Aviação, uma das maiores empresas de aviação privada da América Latina. “Pela perspectiva do campo, hoje o motivo da tomada de decisão do empresário para a compra de uma aeronave é o mesmo que para a aquisição de uma colheitadeira: envolve o quanto isso vai trazer de retorno para ele”, completa Philipe Figueiredo, di-


retor de vendas de aeronaves da Líder. Sediada em Belo Horizonte, a empresa está presente nos principais aeroportos brasileiros, com mais de 20 bases operacionais. Ao longo dos anos, o conglomerado mineiro diversificou as atividades e hoje atua em seis unidades de negócio: venda de aeronaves, manutenção, operações de helicóptero, atendimento aeroportuário, fretamento e gerenciamento de aeronaves e operações de helicópteros. Conta com aproximadamente mil colaboradores e uma frota com 60 aeronaves. O relacionamento da empresa com o agribusiness é antigo. Ele começou ainda na década de 1960, quando a Líder iniciou a comercialização de aeronaves, e se intensificou muito nas últimas três décadas à medida que o agro foi crescendo no Brasil. “Sempre estivemos ao lado desse segmento e entendendo as necessidades dos operadores. Como a venda de uma aeronave é construtiva e se baseia no relacionamento, vamos aonde for necessário para estarmos próximos do cliente”, diz Figueiredo. Durante muito tempo, o grupo mineiro foi responsável pela venda de aviões monomotores

e bimotores no Brasil. Por conta da capacidade de operar em pistas curtas e não preparadas, essas aeronaves sempre tiveram grande aceitação pelos empresários do agro. Mas parece que os tempos estão mudando. “Acredito que o agribusiness evoluiu tanto tecnologicamente nos últimos anos que hoje faz mais sentido que os empresários comecem a olhar para aeronaves mais sofisticadas e avançadas”, esclarece Vaz. A Líder conhece o segmento de aviação de negócios como poucas. Em novembro, o grupo, que começou com a atividade de táxi-aéreo, completará 60 anos. Durante esse período, representou e comercializou vários tipos de aeronaves no País. Nesse ramo, tudo começou lá atrás, no fim dos anos 1960, quando a empresa adquiriu o primeiro jato Learjet 24 do Brasil. Com isso, passou a representar a então fabricante norte-americana. E a parceria foi um sucesso: mais de 100 aeronaves vendidas até o início de 1990. Paralelamente, a Líder representava também os aviões wide body da canadense Canadair, que depois seria comprada pela Bombardier. Tempos depois, a companhia

Hangar da Líder Aviação em Congonhas e o HondaJet, nova estrela do portfólio da empresa: primeiro comprador no Brasil é empresário do agro

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firmou um relacionamento intenso com a Raytheon (empresa norte-americana ligada ao setor de defesa), que, já na década de 1980, comandava a fabricante de aeronaves executivas Beechcraft. Então, a Líder decidiu rescindir o contrato com a Learjet para assumir a representação da Beechcraft. Foi também nesse período que a empresa passou a comercializar por aqui os helicópteros da norte-americana Bell. Depois de algumas divergências comerciais, porém, os contratos com ambas foram encerrados. “Na verdade, queríamos oferecer aos clientes uma aeronave de alta performance com baixo custo operacional que incorporasse novas tecnologias. E muitos desses produtos que representávamos eram derivados de plataformas antigas e sem perspectiva de atualização”, revela Vaz. NASCE UM NOVO PLAYER A Líder encontrou o que procurava em Greensboro, na Carolina do Norte, EUA. É ali, numa cidade com cerca de 300 mil habitantes, que está localizada a divisão de aeronaves de uma gigante japonesa: a Honda Aircraft Company. Fundada em 2006, a empresa é quem cuida do design, produção, comercialização, serviços e suporte ao HondaJet, um dos jatos executivos leves mais avançados do mundo que vem fazendo a cabeça de muitos empresários. “Ficamos encantados com o projeto. Entendemos que ali havia uma alta tec88

nologia japonesa empregada, capacidade financeira, visão de longo prazo e um projeto que foi aperfeiçoado durante muitos anos. Fazia todo o sentido, como operador e representante, apostar nesse produto”, explica o CEO. O otimismo da empresa mineira com esse very light jet de seis lugares single pilot não é para menos. De acordo com a Gama (Associação dos Fabricantes da Aviação Geral, sigla em inglês), desde que recebeu a certificação de tipo da FAA (Administração Federal de Aviação), no fim de 2015, as entregas seguem a pleno vapor: dois aviões naquele mesmo ano; 23 em 2016 e, em 2017, a consagração: 43 unidades entregues, firmando-se como o jato executivo mais entregue da sua categoria – mais que o dobro do seu principal concorrente. E este ano a fábrica segue trabalhando em ritmo acelerado: até junho foram mais 17 aeronaves. As duas primeiras unidades do pequeno japonês, que custa US$ 4,5 milhões, desembarcaram por aqui este ano cercadas de expectativas. Uma delas está prestes a completar 100 horas de voo pela América do Sul e, de cara, impressionou os pilotos devido ao seu alto desempenho, velocidade e tranquilidade durante o voo. “O desempenho da aeronave tem sido muito bom em diversas localidades, seja em pistas longas ou curtas. Estamos felizes com os resultados”, resume o comandante Alexandre Spessato, que está operando a aeronave há mais de um ano. Atualmente, a fábrica produz em média quatro aeronaves por mês e deverá alcançar a capacidade plena das instalações (80 unidades por ano) em março de 2019. Até julho último eram 92 aviões operando no mundo. Uma das que foram entregues no Brasil opera para um cliente do agribusiness. E para 2018 e 2019 já tem entregas previstas por aqui. “Claro que


Aviação

Vaz, o CEO, Figueiredo, diretor de vendas, e o primeiro jato comercializado pela Líder no País: com o agribusiness sempre no radar

nem todo mundo do agro vai buscar um jato, mas há muitos que buscam velocidade e vivem perto de uma pista asfaltada. A nossa aposta é que uma boa parte desse mercado está pronta para absorver um HondaJet e, quem não está, muito em breve chegará lá”, confia Vaz. Hoje o HondaJet é uma das estrelas da aviação de negócios. No ano passado, ainda segundo dados da Gama, mundialmente o setor experimentou um crescimento de 1,3% no número de entregas, graças principalmente à entrada de novos modelos. No total, os fabricantes colocaram no mercado 676 unidades. “As grandes diferenças do HondaJet em relação aos concorrentes é que temos a melhor performance da categoria, com mais velocidade, combinada ao baixo custo operacional. O avião é o mais eficiente em consumo de combustível mesmo com motores mais potentes que os dos outros”, comenta Figueiredo. A nova versão do jato nipônico, o HondaJet Elite, já tem seu pouso confirmado no Brasil para os próximos meses. Para operações de longo alcance, ele

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apresenta um ganho adicional de 17% (+396 km) e uma otimização do fluxo de ar nos motores. Além disso, o avião apresentou melhorias de desempenho de pista, reduzindo em mais de 150 metros de comprimento a decolagem em peso máximo. A tendência é uma redução significativa de ruído, tornando a viagem para os passageiros ainda mais agradável. O sistema de aviônicos está mais avançado e agora conta com funções adicionais de gerenciamento para um melhor planejamento de voo e funções automáticas de estabilidade e de proteção. Com isso, ganha-se na segurança do voo e se reduz ainda mais a carga de trabalho do piloto. A aeronave com esse novo pacote de atualizações sai por US$ 5,25 milhões. Segundo Vaz, a grande preocupação da Honda Aircraft é entregar o melhor com o menor custo possível. E ele não descarta que tenhamos novos produtos no futuro. “Acho que a Honda não vai ficar só nesse modelo. Acredito que talvez seja apenas o início de uma bem-sucedida família. Mas isso só o tempo irá dizer.” PLANT PROJECT Nº11

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W Consumo

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Sejam compactos ou parrudos, o que não faltam são opções de quadriciclos para o trabalho ou o lazer em qualquer terreno Por Evandro Costa

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INOVAÇÃO NA ROTA DO QUEIJO Produtores artesanais de São Paulo criam um roteiro de turismo rural para divulgar os sabores únicos de suas criações

foto: Pedro Nogueira

Por Lívia Andrade

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Queijos

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inda não está nos mapas nem nos guias oficiais de turismo. Mas já caiu na boca do povo o movimento iniciado há menos de um ano por um grupo de produtores paulistas: chama-se Caminho do Queijo Artesanal Paulista e se propõe a se tornar um roteiro de turismo rural que contempla 11 fazendas do estado. Já tem muita gente na estrada atrás desses sabores únicos. Quem conseguir completar o circuito terá provado nada menos que 120 tipos de queijos de diversos estilos. Há produtos frescos, maturados, com mofos, feitos com leite de vaca, de cabra, de ovelha e de búfala. A variedade é imensa e guiada por uma palavra: inovação. “É a assinatura do queijo artesanal paulista, que traz novas técnicas, novos ingredientes e insumos durante a maturação”, diz Heloísa Collins, mestrequeijeira da fazenda Capril do Bosque, em Joanópolis, e porta-voz do Caminho do Queijo. A experiência é nova, mas saborosa. Diferentemente dos mineiros – que têm toda uma tradição secular vinculada ao modo de fazer queijos de determinadas regiões, como a Serra da Canastra e o Serro –, a queijaria paulista é uma jovem livre, cheia de atitude e ideias disruptivas, que têm tudo para conquistar o paladar de consumidores dentro e fora do Brasil. A semente da rota do queijo artesanal surgiu em 2006 durante o Prêmio Queijo Brasil. Muitos dos que hoje integram o caminho se conheceram no evento e foram se tornando amigos durante a programação. Lá surgiu o convite

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para participarem do Mercado São Paulo, feira promovida pelas secretarias do Desenvolvimento, da Agricultura e Abastecimento e do Turismo com edições temáticas para promover produtos alimentícios produzidos no estado de São Paulo. O grupo, na época formado por seis mulheres queijeiras, participou da primeira edição do evento, que foi sobre leite e derivados. A partir dali, a ideia de montar o Caminho do Queijo Artesanal Paulista começou a ganhar força e se concretizou no final de 2017. “O objetivo foi unir os produtores para fomentar os queijos, que são feitos com as melhores técnicas de higiene e muito cuidado, desde o manejo dos animais e a produção de matériaprima até a apresentação do produto final, que possui sabores e texturas personalizados por causa da fabricação artesanal única de cada produtor”, diz Eduardo Falcão de Carvalho, diretor da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ) e proprietário da SilvaniA2 Laticínios, uma das queijarias integrantes do roteiro, que se diferencia por produzir queijos frescos com leite A2 de vacas Gir para consumidores alérgicos às beta-caseínas do leite A1. O primeiro passo da confraria de amigos do queijo foi fazer um manifesto, que elenca os pilares da produção desse tipo de queijo, caracterizado pela confecção em pequena escala. Entre eles, se destacam: o uso de leite cru ou pasteurizado de excelente padrão de qualidade proveniente do estabelecimento rural em que a queijaria está instalada ou de arredores, desde PLANT PROJECT Nº11

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foto: Pedro Nogueira

que no estado de São Paulo; a liberdade criativa de cada mestre-queijeiro; e a conexão entre pequenos produtores e consumidores finais. Nesse sentido, as queijarias do roteiro estão abertas para a visitação dos clientes, que podem aliar a experiência de conhecer a produção de vacas, búfalas, cabras e ovelhas de um cantinho rural de São Paulo com o prazer da degustação de queijos premiados. “O caminho acaba sendo bastante universal. Nós temos queijos bem brasileiros, criados aqui, e também versões brasileiras de renomados queijos estrangeiros, como parmesão, gouda, pecorino, os frescos italianos e os árabes de cabra”, explica Heloísa. Ao todo, hoje, 11 queijarias integram o grupo: Capril do Bosque, em Joanópolis; Estância Silvania, em Caçapava; Fazenda Atalaia, em Amparo; Fazenda Dona Carolina, em Porangaba; Fazenda Santa Luzia, em Itapetininga; Laticínio Artesanal Montezuma, em São João da Boa Vista; 94

Leiteria Santa Paula, em São José do Rio Pardo; Pardinho Artesanal, em Pardinho; Queijaria Belafazenda, em Bofete; e Queijaria Rima, em Porto Feliz. Todas elas se caracterizam pelo extremo zelo com a matéria-prima. O leite precisa ser absolutamente saudável, mas cada uma optou por desenvolver um estilo de queijo, de acordo com o repertório do mestre-queijeiro do local. À frente do Laticínio Montezuma, Fábio Pimentel oferece hoje 24 tipos de queijos de búfala a seus clientes, com destaque para as muçarelas apresentadas em várias versões: nozinho, bastão, manta, flor de leite, burrata e defumada. Já os queijos curados são os carros-chefes da Fazenda Atalaia, do casal de mestre-queijeiros Rosana e Paulo Rezende. O mais emblemático é o Tulha, um queijo feito com leite de vaca pasteurizado, maturado por dois anos em tulha, casa de taipa antigamente usada para armazenar café. O produto, que

harmoniza bem com vinhos e cervejas especiais, ganhou medalha de ouro no World Cheese Award 2016-2017. Seguindo o viés de queijos autorais, outro destaque premiado com a medalha de prata no III Prêmio Queijo Brasil é o Serra do Lopo, desenvolvido pelas mãos de Heloísa Collins. Trata-se de um queijo misto, de leite de cabra e búfala, com massa semicozida, lavado na cerveja e maturado por aproximadamente 45 dias. “O nome Serra do Lopo é uma referência ao pico de montanhas da Serra da Mantiqueira, que a gente avista de Joanópolis”, explica a mestre-queijeira. Já quando o quesito é cores, um dos queijos que chama a atenção é o Giramundo, criação dos mestres-queijeiros Maristela Nicolellis e Martin Breuer, da fazenda Santa Luzia. A iguaria é feita com leite de vacas da raça Simental, tem massa cozida e é maturado por mais de quatro meses. Primo do queijo do “Reino”, ele tem sabor intenso, levemente picante e a


Queijos

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Mesa com amostras de parte dos 120 queijos do circuito, as ovelhas da Queijaria Rima, de Porto Feliz, e o produto feito com seu leite: diversidade no caminho

casca tingida por beterraba. Embora no caminho haja muitos queijos que seguem a receita dos queijos europeus, aqui o resultado é diferente. “Aquilo que conhecemos como queijo holandês, chegou à Holanda pelas mãos de alguém ou foi transformado lá pelas mãos de alguém e chegou ao Brasil. Aqui o gouda não é holandês, é brasileiro, porque as vacas comem o capim, as leguminosas daqui”, explica Heloísa. É o chamado terroir – uma combinação de clima, temperatura, umidade, tipo de pastagem – que dá ao queijo uma característica única, diferente do mesmo produto feito em outros lugares.

foto: divulgação

DESAFIOS NO CAMINHO Os integrantes do Caminho do Queijo Artesanal Paulista se definem como “Amigos Associados”. Eles ainda não têm uma associação

constituída. Estão na fase de consultar advogados para criar o regimento da entidade. Quando essa questão estiver solucionada, o objetivo é lançar um selo, que dê garantias do padrão de qualidade (dos queijos artesanais) já adotado por todos os participantes e exigido para admissão de novas queijarias. Outro desafio, desta vez no campo legal, é a legislação paulista, que impede a comercialização de queijos de leite cru com maturação inferior a 90 dias. Nesse caso, o produto deve ser elaborado a partir de leite pasteurizado. “São Paulo trata a questão de queijos de leite cru diferente de outros estados. Temos o consumo aqui dentro de

produtos vindos de outras unidades da federação e os produtores locais ficam prejudicados em suas oportunidades de negócio, já que muitos consumidores preferem esse tipo de queijo”, diz Carvalho, que integra a Associação de Produtores de Leite do Brasil (Abraleite) e tem se reunido com a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo para conversar sobre a lei em vigor.

CAFÉ X LEITE No que diz respeito a promover o queijo artesanal brasileiro, mineiros e paulistas são superunidos. Mas quando se trata de mercado, os mineiros argumentam que queijos artesanais são apenas aqueles elaborados a partir de leite cru. “É conveniente para eles, porque eles tiram da jogada todo um estado que está mostrando para os consumidores uma vasta opção de queijos inovadores de leite pasteurizado”, diz Heloísa Collins. A queijeira defende que a pasteurização feita pelos paulistas não tira o direito do produto de ser chamado de artesanal, porque se trata de um processo lento, cuidadoso, que não ultrapassa 63 °C e preserva todas as bactérias lácteas.

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Segundo Cesar Krüger, diretor técnico da divisão do Centro de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Cipoa) da Coordenadoria de Defesa Agropecuária (CDA), ligada à Secretaria de Agricultura, o órgão está trabalhando para definir novas normas regulamentadoras para a agroindústria de pequeno porte. “Com o movimento dos produtos artesanais, temos estudado possibilidades para modernizar a lei como um todo, não apenas na categoria leite”, diz o diretor. “Na questão de maturação de queijos de leite cru, possivelmente será adotado o mesmo critério do Ministério da Agricultura, que na lei 9013/2017 considera o período mínimo de maturação de 60 dias, com exceções”, explica Krüger. Assim, seria uma pedra a menos no Caminho do Queijo. 96

foto: divulgação

foto: divulgação

foto: Pedro Nogueira

W Perfil

Encontro dos queijeiros na fazenda Atalaia, o preparo na Santa Luziae os lançamentos de 2018 dos integrantes do Caminho do Queijo: roteiro saboroso

AS PARADAS DO CAMINHO DO QUEIJO

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1 Capril do Bosque / Joanópolis 2 Estância Silvania / Caçapava 3 Fazenda Atalaia / Amparo; 4 Fazenda Dona Carolina / Porangaba 5 Fazenda Santa Helena / Sete Barras 6 Fazenda Santa Luzia / Itapetininga

7 Laticínio Artesanal Montezuma / São João da Boa Vista 8 Leiteria Santa Paula / São José do Rio Pardo 9 Pardinho Artesanal / Pardinho 10 Pé do Morro / Cabreúva 11 Queijaria Belafazenda / Bofete 12 Queijaria Rima / Porto Feliz


ร pera encenada no Teatro Amazonas, em Manaus: Legado do Ciclo da Borracha

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foto: Michael Dantas/SEC

Um campo para o melhor da cultura

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Ar A RTE

foto: Michael Dantas/SEC

Um campo para o melhor da cultura

A imponente sala de espetĂĄculos, com o teto pintado por Crispim do Amaral: inspirada na Ă“pera de Paris 98


A FLORESTA ENTRA EM CENA Inaugurado há 122 anos em Manaus, o extraordinário Teatro Amazonas é o símbolo máximo da era de ouro do Ciclo da Borracha. Entre altos e baixos, ele resistiu bravamente ao declínio econômico do Norte do País Por Liege Albuquerque, de Manaus

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Teatro

foto: Michael Dantas/SEC

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s monumentais e abundantes seringueiras da Amazônia, algumas delas com mais de 30 metros de altura, fincaram profundas raízes na vida brasileira. Cultivadas no País desde a segunda metade do século 19, as variedades Hevea brasiliensis forneceram o látex mais cobiçado do mundo entre 1870 e 1910, período que ficou conhecido como “Ciclo da Borracha”. A crescente exportação para a Europa e os Estados Unidos desencadeou uma explosão econômica jamais repetida no Norte do Brasil. Produtores e empresários brasileiros encheram os cofres, assim como os governos locais, abastecidos pelos impostos gerados pelas transações comerciais. Não à toa, Manaus, no Amazonas, e Belém, no Pará, experimentaram uma espécie de “belle époque” dos trópicos. Manaus foi o caso mais impressionante. Havia tanto dinheiro em circulação que os governantes decidiram importar modernidades do Velho Continente. Grandes avenidas e bulevares foram construídos, bondes circulavam nas ruas de paralelepípedo, praças e fontes d´água embelezavam a cidade, e a energia elétrica, um pequeno milagre recém-chegado ao País, iluminava a capital amazonense. Mas isso não bastava. Era preciso exibir para o mundo um monumento que simbolizasse a pujança conquistada há pouco. Foi assim que surgiu o lendário Teatro Amazonas. É surpreendente pensar que o Teatro Amazonas, a pouca distância do coração da densa selva amazônica, foi inaugurado antes dos teatros municipais do Rio de Janeiro (que abriu as portas em 1909) e São Paulo (1911), cidades que em pouco tempo se tornariam as mais desenvolvidas do País. Ele nasceu oficialmente no dia 31 de


foto: Shutterstock

dezembro de 1896, quando a elite brasileira ainda debatia os perigos da Guerra de Canudos, liderada naquele ano por Antônio Conselheiro, e se encantava com os feitos espetaculares dos participantes da primeira edição dos Jogos Olímpicos da era moderna, em Atenas. Graças ao Teatro Amazonas, Manaus, até então um povoado bucólico, ficaria conhecida como uma capital exótica e cosmopolita, palco de uma efervescência cultural só encontrada nas grandes cidades europeias. Não foram poucos os desafios enfrentados para colocar o teatro de pé. O plano de tirar o projeto do papel surgiu em 1881, quando o deputado Fernandes Júnior apresentou a ideia para ser apreciada pela Assembleia Legislativa. Só três anos depois, os fundos para a construção do prédio foram aprovados. Segundo o historiador Mário Ypiranga Monteiro, a planta original apresentava o nome dos construtores Jorge dos Santos e Felipe Monteiro e do arquiteto francês Charles Peyroton, que mais tarde deixaria sua marca também no Teatro Municipal

do Rio. Entre 1886 e 1892, as atividades praticamente ficaram paralisadas pelo desinteresse das autoridades, mais preocupadas com a dissolução do Império do Brasil e a transição para a República. As obras só aceleraram de fato em 1893, pelas mãos do governador Eduardo Ribeiro, um ambicioso filho de escravos que utilizou o teatro como ponto de partida para seu plano de expansão urbana, inspirado na iconografia europeia e que faria com que Manaus ficasse conhecida como a “Paris da Selva”. Ribeiro não economizou recursos na construção do Teatro Amazonas. Com arquitetos, pintores e escultores da Europa, a mão de obra era praticamente toda importada, assim como os materiais (a honrosa exceção ficou com a madeira brasileira). O aço veio da Inglaterra. O mármore, da Itália. As telhas, da França. O design exterior ficou a cargo do arquiteto italiano Celestial Sacardim, que planejou a rotunda central decorada com o desenho da nova bandeira da República brasileira, marco que distingue o prédio até hoje. A decoração interna do teatro, PLANT PROJECT Nº11

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Teatro

foto: Michael Dantas/SEC

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O salão nobre, a fachada e a rotunda central: design do arquiteto italiano Celestial Sacardim

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com exceção do salão nobre (que foi entregue ao italiano Domenico de Angelis), se deve ao pintor pernambucano Crispim do Amaral, que chegou a viajar para Paris para buscar inspiração na capital mais pulsante do mundo. Crispim é o autor de uma das peças mais marcantes do local: a pintura no teto da sala de espetáculos com alegorias que remetem aos elementos essenciais do teatro (tragédia, ópera, dança e música). Até hoje os números superlativos do Amazonas chamam a atenção. Ele possui 198 lustres de cristais venezianos, 36 mil peças de cerâmica esmaltada importadas da região francesa da Alsácia e 12 mil pedaços de madeira nobre que foram apenas encaixados, sem a necessidade do uso de cola ou pregos. No dia 31 de dezembro de 1896, a alta sociedade brasileira compareceu em peso à inauguração do Teatro Amazonas. A primeira apresentação coube à Companhia Lyrica Italiana, famosa nos circuitos intelectuais europeus. Uma

semana depois, na noite de 7 de janeiro de 1897, foi a vez de uma luxuosa produção da ópera La Gioconda, do compositor italiano Amilcare Ponchielli, subir ao palco. Detalhe: La Gioconda havia estreado apenas 20 anos antes na Itália para se consagrar como uma das peças mais reverenciadas entre as grandes óperas europeias. Não é difícil imaginar o impacto que as apresentações causaram na cidade encravada na confluência dos rios Negro e Solimões e no coração da maior floresta tropical do mundo. Poucos teatros no mundo, e certamente o único do Hemisfério Sul, poderiam rivalizar com a opulência do Teatro Amazonas. No início do século 20, o Amazonas se manteria como principal referência cultural do Brasil, atraindo grandes companhias de ópera da Europa. O fim da era de ouro da borracha, porém, acabaria afetando a cidade e seu maior patrimônio. Àquela altura, plantações de borracha foram estabelecidas em


foto: Michael Dantas/SEC

grandes companhias e os principais cantores líricos do mundo. Desde sua primeira edição, o evento exibiu óperas como Fausto, de Charles Gounoud; Madame Butterfly, de Giacomo Puccini; Médée, de Luigi Cherubini; e Tannhäuser, de Richard Wagner. Além disso, o Amazonas voltou a abrir espaço para a cultura nacional. No início de agosto, Milton Nascimento lotou o teatro, e a proposta agora é receber em um futuro próximo os grandes nomes da música brasileira. Com a intensa programação, o Teatro Amazonas parece ter recuperado a sua vocação original: ser uma grande ode à arte universal.

foto: Michael Dantas/SEC

territórios britânicos no Sri Lanka e na África, onde as árvores se mostraram mais produtivas. Resultado: em poucos anos, Manaus deixou de controlar 98% do mercado mundial de extração de látex e passou a responder por menos de 5% do setor. O dinheiro, antes farto, acabou, levando a cidade a mergulhar em um período de decadência tão veloz quanto a sua própria ascensão. Em 1930, uma última ópera, La Traviata, foi exibida no palco do Teatro Amazonas. Sem recursos para contratar grandes companhias, o lugar acabou sendo usado para casamentos e formaturas. Nos anos seguintes, era raramente aberto a visitantes, mantendo-se disponível apenas para festas ocasionais. Parecia um triste fim para um projeto nascido com imensa ambição. A decadência foi interrompida graças a um acontecimento inesperado. Em 1982, estreou nos cinemas Fitzcarraldo, filme do cineasta alemão Werner Herzog, que em pouco tempo seria cultuado no mundo inteiro. Uma das cenas do longa-metragem foi filmada no salão nobre do Teatro Amazonas, e uma onda de curiosidade internacional, despertada pela beleza e grandiosidade do lugar, levou à sua reabertura para peças e shows regulares. Ao mesmo tempo, o turismo na Amazônia passou a atrair cada vez mais visitantes do exterior, e assim o teatro descobriu novas fontes de receita. Nos anos 1990, apresentaram-se no Amazonas a banda americana de rock The White Stripes, as britânicas do grupo Spice Girls e o também inglês Roger Waters, exintegrante do Pink Floyd. Em 1997, um projeto do governo do estado deu novo vigor ao local. Trata-se do Festival Amazonas de Ópera, realizado anualmente e que passou a atrair as

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Museu


A máquina que produz hambúrgueres da americana Creator: Os robôs invadem a cozinha e podem mudar a nossa relação com a comida

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As inovações para o futuro da produção

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STARTAGRO

foto: divulgação

As inovações para o futuro da produção

O robô Makr Shakr em ação: ele aposentou o barman e faz coqueteis em poucos segundos 106


TEM UM ROBÔ NA COZINHA A automatização dos processos de produção das refeições é a onda do momento em restaurantes do mundo todo. Que impactos essa "robolução" pode causar? Por Marius Robles*

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ove em cada dez consumidores americanos costumam sair para comer em restaurantes, movimentando um setor que gerou quase US$ 800 bilhões em vendas em 2017 – valor 4,3% superior ao do ano anterior, segundo a Associação Nacional de Restaurantes. Com isso, o faturamento do setor cresceu 2,5% no ano passado, chegando a 36,024 bilhões de euros, segundo a empresa de pesquisa de mercado The PND Group. Esses aumentos de consumo não passaram despercebidos por uma série de startups, que há pelo menos seis anos têm como foco hackear os restaurantes. Isso significa otimizar, digitalizar, automatizar e ajudar no aumento de vendas de restaurantes e na sua relação com o cliente. Desde 2012 foram investidos mais de US$ 2,5 bilhões em um total de 600 startups de “restaurante techs”. Na primeira metade deste ano, os investimentos já superaram US$ 595 milhões, o que deve levar a um novo recorde anual no setor. O site CD Insights identificou soluções produzidas por jovens empresas em 22 áreas da cadeia de valor do setor de restaurantes. Elas os auxiliam a automatizar sua cozinha, serviços de entrega, aumentar a capacidade dos pontos de venda e muito mais. Agora, chegou a vez dos robôs. Vejamos o crescimento dos robôs e da automatização dos restaurantes, especialmente os de fast-food: nos Estados Unidos há mais de 200 mil dispositivos com telas de touchscreen em cerca de 8 mil restaurantes. A partir de 2020, o McDonald’s implementará quiosques de autosserviço em todas as suas lojas no país. Outras cadeias, incluindo as de refeições casuais e rápidas como Panera e Chili’s, já adotaram essa tendência. Porém, isso é apenas o princípio. A digitalização e a automatização

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começam a dar lugar à robótica inteligente. A combinação dos últimos avanços em inteligência artificial com os robôs transformará a fabricação e o armazenamento e seguirá para o próximo nível. A chamada indústria 4.0 começa a abrir espaço nos salões dos restaurantes. Um total de 73% das tarefas hoje realizadas por trabalhadores do setor de comida rápida têm potencial de automatização. Depois de cinco anos em que muitos restaurantes tentaram dar esse passo sem muito sucesso, devido aos altos custos fixos e às complexidades técnicas, agora vivemos um segundo ciclo, evoluído e que tem permitido depurar os erros e possibilitar a essas empresas focar no que é relevante e no que é verdadeiramente substituível. Um exemplo claro é o da Eatsa, um restaurante americano de comida saudável, totalmente automatizado, que permite realizar um pedido sem interrupções através de um aplicativo ou iPad, com uma incrível velocidade na entrega dos alimentos em um cubículo com tela sensível ao toque. Desenvolvida por Scott Drummond e Tim Young, com o apoio de David Friedberg, ex-executivo de Google e Climate, a tecnologia do Eatsa, transparente, eficiente e completamente centrada no cliente, os levou a querer se expandir para além da Baía de São Francisco. Em outubro do ano passado, eles anunciaram uma redução significativa de seus restaurantes, fechando suas duas lojas em Nova York, além das unidades de Washington e Berkeley, ficando apenas com dois restaurantes em São Francisco. O que parecia ser o prelúdio de uma morte anunciada se converteu em verdadeiro exemplo de êxito quando eles mudaram o modelo de negócios. A Eatsa


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passou a ser uma empresa de tecnologia e não um restaurante com tecnologia. Pivotou do B2C ao B2B. Prova disso é que depois de receber, logo de início, uma grande quantidade de requisições para licenciar sua tecnologia, decidiram levá-la para o Wow Bao, um restaurante com conceito informal e rápido em Chicago, especializado em pães, bolinhos, tigelas de arroz e macarrão. Com a tecnologia da Eatsa, o Wow Bao pode entregar o pedido de seus clientes em 90 segundos, contra uma média de cinco minutos ou mais dos concorrentes. Além disso, aumentou em até cinco vezes o seu público, chegando a mais de 500 pessoas por hora. E isso tudo com um índice maior de precisão e personalização de pedidos. Embora o Eatsa seja mais um exemplo de automatização do que de robotização, não estamos longe de poder observar o momento em que os moradores de São Francisco começarão a encontrar na entrada dos restaurantes letreiros que indiquem “Comida produzida por robôs” para diferenciálos daqueles cuja cozinha é responsabilidade de humanos. A cidade tem tantos “bots” e aplicativos, que já é possível comer o café da manhã, o almoço e o jantar sem interagir com outra pessoa. MÁQUINA DE BURGERS No mês de junho passado, foi lançado lá o Creator, um

Robot Burger Restaurant cujo slogan é “o primeiro hambúrguer robotizado do mundo". O projeto, anteriormente chamado de Momentum Machines, conseguiu captar US$ 18 milhões em investimentos de companhias de capital de risco como Google Ventures e Khosla Ventures. Desde que conversei com os fundadores da empresa, há três anos, o projeto e seu protótipo mudaram bastante. Eles eliminaram o aspecto robótico e frio para dotá-lo de uma imagem minimalista. Idealizado por Alex Vardakostas, Creator é um robô de 4 metros, com 350 sensores e 20 computadores com capacidade para produzir 130 hambúrgueres por hora (na versão inicial, haviam anunciado que chegariam a 400). Em menos de cinco minutos podem fazer um hambúrguer personalizado ao preço de US$ 6. Considerado uma conquista da engenharia, o Creator não está totalmente desprovido de trabalho humano. Os funcionários são, no entanto, apenas “assistentes de robôs”. Suas funções ficam centradas em receber os pedidos e entregar as

O braço autônomo Flippy, da Miso Robotics: até o fim do ano em 50 lojas da rede CaliBurger, nos EUA

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bebidas e os sanduíches. Creator se junta a uma extensa lista de restaurantes tecnológicos que estão invadindo e criando uma "robolução" no setor. E isso não acontece exclusivamente em um lado do Atlântico. Ekim, uma startup francesa, acaba de levantar 2,2 milhões de euros para um projeto que se propõe a revolucionar o mundo da tecnologia de alimentos. A empresa anunciou que até o fim do ano deve abrir o Pazzi, primeiro restaurante totalmente autônomo com robô pizzaiolo, que cozinha diante dos olhos dos clientes. Em 2013, em Milão, o arquiteto italiano Carlo Ratti e sua equipe do Senseable City Lab, do MIT (Massachussets Institute of Technology), desenvolveram três garçons robóticos. Ratti colaborou com a Coca-Cola e o fabricante de bebidas Bacardi para criar o Makr Shakr, um bar dotado de três braços robotizados que 110

faziam coquetéis personalizados. Desde então, eles têm se utilizado disso em hotéis e cruzeiros, especialmente os da Royal Caribbean. O Makr Shakr lançou recentemente o Nino Robotic, um robô coqueteleiro que pode fazer qualquer mistura em segundos. A China também está pronta para esse futuro. Converteu-se em uma força tecnológica global em poucos anos, adotando novas soluções com grande rapidez, sem questioná-las. Uma fotografia feita por Yuyang Li e publicada pelo The New York Times mostra até onde as máquinas podem ir no restaurante Robot Magic, situado em Xangai. Depois que os clientes fazem fotos e vídeos, eles se retiram e os garçons humanos passam a servir a comida. O mesmo acontece no Robot Themed Restaurant, em Coimbatore, na Índia. Inteligência artificial como disciplina nas escolas, reconhecimento facial para

frangos orgânicos, criação dos primeiros porcos transgênicos etc. Sim, já há espaço para a robotização dos restaurantes na China. O restaurante Robot.He, propriedade do grupo Alibaba (a Amazon chinesa) e integrado a um supermercado da rede Hema, em Xangai, está substituindo os garçons e entregando mariscos frescos diretamente nas mesas. Segunda maior empresa de comércio eletrônico da China, a JD.com planeja abrir, até 2020, mil restaurantes com uma equipe completa de robôs, com o objetivo de concorrer com os da Alibaba. SUSHI NO ESPAÇO Sempre à frente do seu tempo, o Japão estuda há mais de 50 anos como automatizar alguns setores, entre eles o de serviços de hospitalidade. Já em 1983, por exemplo, era possível encontrar projetos de robôs orientados a preparar sushis. Naquele ano, analistas previam que a indústria japonesa de robôs cresceria mais de 30%, chegando a US$ 775 milhões. Em 2009, foi apresentado na FOOMA, mais importante feira de máquinas do Japão, um braço robótico (M-430iA) adaptado pela empresa FANUC, que, além de preparar o sushi, poderia atuar como mestre confeiteiro. Ainda no mundo dos sushis, na mais recente edição do festival de inovação SXSW, em Austin (EUA), a empresa nipônica Open Meals mostrou um conceito único de teletransporte de alimentos,


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através do robô Pixel Food Printer. A proposta da Open Meals é “digitalizar” os alimentos para transformar a maneira como são transportados e produzidos. É o que chamam de “quinta revolução alimentar”. Sua visão de futuro inclui a possibilidade de teletransportar um sushi para ser consumido na estação espacial. A revolução dos robôs também se dirige à Rússia, onde o MontyCafe, um barista autônomo, começou a trabalhar neste verão de Moscou. Robotizar o café é outra das inovações que agitarão o mercado nos próximos anos. Estamos falando de uma indústria de US$ 100 bilhões, que atingirá níveis recordes de produção mundial neste ano e que, segundo analistas, assistirá a um crescimento de consumo na ordem de 5% a 7% até 2024. Segundo a consultoria CB Insights, os jovens chineses estão bebendo mais café e os americanos buscando produtos de maior qualidade – e, portanto, mais caros --, abrindo enormes oportunidades em ambas as frentes. Em Boston, nos EUA, os chefs estão sendo substituídos por robôs no restaurante semiautomatizado Spyce. Criado por quatro ex-alunos do MIT e com aval do prestigiado chef Daniel Boulud, o restaurante é considerado o primeiro do mundo em que uma cozinha robótica prepara receitas complexas. Voltando à Califórnia, a Miso Robotics obteve US$ 10 milhões em investimentos para lançar o Flippy, um braço mecânico e autônomo que gira os hambúrgueres e limpa a grelha quente e gordurosa. Utilizando visão artificial, consegue identificar onde está o hambúrguer e manuseá-lo com velocidade e precisão. Flippy começou a trabalhar recentemente na rede CaliBurger, que planeja instalar robôs em até dez de seus 50 restaurantes até o fim deste ano.

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O sushi digital da japonesa Open Meals (na pág. à esq.) e a cozinha high-tech da Spyce: até a alta gastronomia aderiu à robolução

A nova mobilidade urbana afetará a maneira como os restaurantes chegam aos domicílios de seus e-clientes e seguramente será um fator que ajudará a aumentar o consumo de seus produtos. Um estudo do grupo NPD descobriu que mais de 80% dos jantares dos Estados Unidos são feitos em casa, representando um total de 100 bilhões de refeições em 2017. A pesquisa O Futuro do Jantar, do NPD, revela que a quantidade de alimentos preparados e consumidos em casa deve aumentar nos próximos cinco anos, enquanto diminuirão as refeições feitas em restaurantes. O mesmo estudo mostra que metade dos pedidos feitos nos restaurantes é servida na casa dos clientes. Portanto, é possível que os serviços de delivery garantam um aumento de vendas para esses estabelecimentos. Por isso mesmo, não é de se estranhar que muitas cadeias procurem cada vez mais estar dentro da casa dos clientes, criando ofertas de kits de refeições. Imagine que algumas delas possam dispor de robôs como o Osaropick, projetado pela empresa Osaro, que, graças a um sistema de reconhecimento de imagens, tem precisão absoluta na hora de pegar e servir porções de frango em apenas cinco segundos. GARÇON OU ROBÔ? Com essa "robolução", também não é estranho encontrar gente como Jane Kim, supervisora do condado de São Francisco, que no ano passado levantou a possibilidade de implementar um imposto PLANT PROJECT Nº11

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para empresas de alimentação que utilizam robôs. Assim, ela pretendia compensar uma possível devastação econômica causada pela força de trabalho mecânica. A evolução pegou desprevenido até mesmo Steven Mnuchin, secretário do Tesouro do governo Trump, que no início de 2018 chegou a afirmar que a ameaça de os robôs ocuparem postos de trabalho de humanos “nem sequer está no radar para os próximos 50 anos”. Mas e se a questão central não for a substituição de pessoal, e sim a escassez de mão de obra para o setor? No Japão, quem entra no Henn-na, hotel na região de Nagasaki, é atendido por uma série de robôs humanóides ou com aspecto de dinossauros. O motivo? A população do país está diminuindo e sua economia está em alta. Com isso, a taxa de desemprego é atualmente de 2,8% e para o setor é mais fácil usar robôs do que encontrar humanos dispostos a fazer o trabalho. E o que acontece em outras grandes economias? Durante anos especialistas têm advertido que as máquinas substituirão os trabalhadores nos restaurantes. O que está mudando são as razões que levarão a essa mudança. Com a taxa de desemprego mais baixa dos últimos anos (em torno de 3,9%) as redes de fast-food estão recorrendo aos robôs como alternativa, já que não conseguem encontrar mão de obra suficiente. Em abril passado, The Wall Street Journal informou, citando dados do Departamento de Trabalho dos EUA, que existiam 844 mil vagas no setor – um em cada oito empregos disponíveis no país. Diretor executivo da rede CaliBurger, John Miller afirmou ao jornal que está mais difícil encontrar trabalhadores hoje em dia, daí a solução de implantar o robô Flippy. O artigo do WSJ menciona os casos de automatização das redes Arby’s, Wendy’s, Dunkin’ Donuts, Panera Bread, McDonald’s, Saladworks, Carl’s Jr. e Hardee’s. “Passamos muito tempo treinando as pessoas e um mês depois elas saem pela porta. Neste mercado, os trabalhadores vão embora quando têm um dia difícil”, afirmou Patrick Sugrue, CEO da Saladworks. O debate inclui o conflito com os trabalhadores pela elevação do salário mínimo do setor. Há dois 112

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anos, Edward H. Rensi, ex-CEO do McDonald’s, disse, em entrevista ao canal Fox Business, que se esse valor chegar a US$ 15 por hora, como está previsto para 2022, a revolução dos robôs acontecerá de forma ainda mais rápida. Para Rensi, fica mais barato comprar um braço robótico de US$ 35 mil do que contratar um empregado ineficiente. SOZINHO À MESA A automatização dos restaurantes antecipa, teoricamente, as necessidades do consumidor. Porém, quais serão as verdadeiras consequências nocivas para ele? Existem evidências que mostram os vínculos entre a tecnologia e as taxas crescentes de solidão, depressão e ansiedade. Muitos, na geração milênio, lutam contra essas sensações ao conectar-se durante uma refeição, seja cozinhando para a família, jantando com os amigos, seja conversando on-line com outras pessoas sobre receitas sem glúten. Uma pesquisa realizada por Eve Turow Paul mostra claramente que esses momentos humanizados e instâncias mais profundas de interação ajudam a acalmar essa geração hiperconectada digitalmente. Aprendemos sobre os chefs lendo suas


Robô garçom em Shangai, o Osaropick montando porções de frango frito e as lojas automatizadas das redes Eatsa e Wao Bao: sem interação humana

estresse não é diferente da dos millennials. As prolongadas jornadas de trabalho, a maior competição e as expectativas cada vez mais intensas – 62% dos trabalhadores de escritório costumam comer seu almoço no mesmo lugar em que trabalham diariamente – levam muitos a se identificar com “almoços tristes”. Os preços e a conveniência do Eatsa, por exemplo, satisfazem perfeitamente as necessidades de uma geração em constante movimento, que quer estar segura de que os alimentos que consome são saudáveis, saborosos e sustentáveis, incorporando a variável de que não dispõe de tempo, real ou emocional, para investir em um descanso no meio do dia. Em última instância, o problema não são o Eatsa, o Spyce, o Creator, o Cafe X etc., mas sim as razões pelas quais esses restaurantes são tão bem recebidos. Temos uma sociedade em que muitos não conseguem tempo para comer com outros ou saborear uma boa refeição. Comer com outras pessoas

sempre esteve no centro da experiência humana e agora atua como um reconfortante antídoto para o tempo que passamos nos diferentes ambientes digitais do nosso entorno. O sociólogo Claude Fischler argumenta que existem muitos benefícios, tanto físicos quanto psicológicos, no ato de dividir uma refeição. Entretanto, comer em comunidade está se tornando uma exceção, e não a regra, dentro da cultura americana, que lamentavelmente começa a se expandir por meio mundo. Chegará o dia triste em que, na hora de tomar uma bebida, o faremos acompanhados de um robô. Confio plenamente que não. * O espanhol Marius Robles é CEO e cofundador do Reimagine Food, primeiro centro de disrupção voltado ao futuro da comida. É conferencista e autor de artigos para veículos como Fast Company e Wired. Atualmente trabalha no livro Eatnomics: a nova economia da comida e se prepara para lançar uma nova empresa, a Food By Robots, focada no impacto que a inteligência artifical e os robôs terão na alimentação.

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memórias ou vendo programas na televisão por assinatura, procuramos visitar fazendas mais afastadas que nos garantem rastreabilidade e desconexão, visitamos mercados agrícolas e, em alguns casos, vivemos obcecados por cervejas artesanais ou por fotografar o prato perfeito, tudo em um esforço para nos envolvermos com algo real, analógico. Restaurantes como o Eatsa e a automatização dos restaurantes se converteram na antítese que sacode nossa ideologia alimentar e faz disparar as cifras do potencial da indústria das refeições individuais. Em termos de conexão, o que significaria se todos começássemos a retirar nossos alimentos de máquinas automáticas ou de robôs, ao invés de recebê-los das mãos de outras pessoas? Serão Eatsa, Spyce ou o Creator o próximo exemplo de tecnologia que interrompe as conexões humanas? Cerca de 80% dos americanos estão estressados pelo trabalho e a razão mais provável desse

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foto: Claudio Gatti

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O PARCEIRO AMERICANO Conheça o novo conselheiro da USDA no Brasil e saiba como ele quer estreitar a cooperação dos países exportadores no mercado global

O português é fluente, embora com sotaque ainda carregado. E as frases, diretas, fáceis de entender. “É melhor crescer a torta do que dividir”, afirma Oliver Flake, jovem produtor americano que fez carreira dentro da diplomacia da comida. Com as credenciais de quem cresceu no rancho de produção de bezerros da raça Angus da família no estado americano de Maryland, mas serviu durante anos nos gabinetes do Departamento de Agricultura (USDA) em Washington e nos corredores da Organização Mundial do Comércio em Genebra, ele desembarcou recentemente no Brasil para uma missão relevante: aproximar ainda mais os setores agrícolas e diplomáticos dos dois países, pregando que, embora concorrentes na disputa de mercados para seus produtos, eles possuem uma extensa agenda em comum em torno de combater barreiras e ampliar ainda mais esses mercados. 114

O domínio do idioma, que certamente o ajudará no cumprimento da tarefa, se deve a dois períodos em que viveu no Sul do Brasil na década passada. Flake é desenvolto e curioso. Foi oficialmente apresentado como novo Conselheiro da USDA no Brasil no início de agosto, durante o GAF Talks, evento que reuniu, na Sociedade Rural Brasileira (SRB), em São Paulo, produtores, especialistas e executivos para intercâmbio de informações sobre o futuro da agricultura brasileira. É um tema que interessa muito aos americanos. Flake, por exemplo, demonstrou particular curiosidade no desenvolvimento do Matopiba (sigla dada à fronteira agrícola que engloba terras nos estados do Maranhão, de Tocantins, do Piauí e da Bahia). “Somos competidores, mas também estamos lado a lado em vários campos”, explica Flake.


UNIÃO DE GIGANTES Do período que passou na OMC, o novo conselheiro traz ao Brasil muitas experiências de trabalho conjunto com diplomatas e especialistas brasileiros. “Lá, defendemos as mesmas posições em relação à regulamentação do uso de biotecnologia e da ciência. Enfrentamos juntos as barreiras impostas por alguns mercados”, diz. Em Brasília, onde ficará sediado, ele também estará próximo da Embrapa e de outros órgãos do governo brasileiro com os quais a USDA mantém parcerias técnicas.

“Temos um longo histórico de colaborações, mais de 200 intercâmbios de pesquisa técnica por ano.” Ampliar os movimentos dessa verdadeira diplomacia da comida é, para Flake, um passo estratégico para o Brasil e os Estados Unidos. “Podemos trabalhar juntos para a expansão de mercados no mundo”, afirma. Ele defende ainda uma maior aproximação com outros grandes exportadores de alimentos, como Canadá e Argentina. “É importante que todos se unam.”

UM OLHAR SOBRE O BRASIL Parte das atribuições da representação da USDA no Brasil é elaborar relatórios setoriais e de commodities, análises de produtos e estudos de acesso ao mercado, visando orientar os exportadores americanos dispostos a entrar e consolidar sua presença no mercado nacional. Em vários casos, os trabalhos produzidos pelos americanos geram insights importantes também para os produtores e empresários brasileiros. É o caso do estudo realizado durante dois anos pelo professor Luiz Ribeira, da Universidade do Texas AM, apresentado no GAF Talks. Boliviano radicado nos Estados Unidos, Ribeira comandou uma equipe que percorreu o varejo de alimentos no Brasil coletando preços de produtos de origem agrícola, depois comparados com os praticados no mercado americano. A principal conclusão é a de que os americanos pagam bem menos para se alimentar que os brasileiros. “No Brasil, um habitante gasta em média 15,8% de sua renda em alimentação”, afirma Ribeira. “Nos Estados Unidos, a média é de 6,3%.” Para o professor, esse dado é um indicador do desenvolvimento das cadeias produtivas. Em países africanos, por exemplo, onde praticamente não existe agronegócio comercial estruturado, o valor gasto em alimentação supera os 60% da renda média, como acontece na Nigéria. Essa organização, tanto no Brasil como nos Estados Unidos, é impulsionada em grande parte pelas vendas ao mercado externo. “Os agricultores desses países não produzem apenas para satisfazer o mercado interno”, diz. Nos Estados Unidos, um terço da produção é destinada à exportação. É por esse motivo, também, que os produtores americanos buscam tantas informações sobre a produção no resto do mundo – e contam tanto com relatórios como o Wasde (que traz estimativas sobre oferta e demanda de produtos agrícolas), produzido pela USDA. O interesse pela agricultura brasileira é particularmente grande, segundo Ribeira. “Eles sabem que o Brasil pode gerar um grande impacto no mercado global.” Assim como Flake, eles se impressionam com a possibilidade dos produtores brasileiros de colher até três safras por ano em algumas regiões, assim como a oferta de novas áreas cultiváveis em grande quantidade, outra peculiaridade do agronegócio do Brasil.

FRONTEIRA DA CURIOSIDADE Para saciar essa curiosidade, estudiosos como Ribeira e especialistas como Flake buscam respostas por aqui. O professor da Universidade do Texas, por exemplo, diz que causa grande espanto entre os americanos a constatação de que o Centro-Oeste brasileiro cresceu 340% em duas décadas. “Eles perguntam se esse crescimento vai continuar, se o Matopiba também vai progredir nesse ritmo? Estive algumas vezes lá e fiquei impressionado com o investimento privado feito na região. Sabemos que os empresários estão lá para fazer dinheiro, não para perder dinheiro.” “Parte do nosso trabalho é dar a eles uma visão de onde e como o Brasil vai crescer”, explica Flake. Estados Unidos e Brasil compartilham os mesmos clientes em culturas como soja, por exemplo, e todas as previsões apontam para uma participação cada vez maior do parceiro do Sul no mercado global.

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GAF 2018: SE A AÇÃO É AGORA, JÁ COMEÇOU Fórum internacional de agribusiness reuniu mais de 1,5 mil participantes de mais de 60 países em meio a um vasto leque de temas essenciais ao agronegócio, com destaque para o potencial econômico, social e político da produção de comida Por Romualdo Venâncio

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escolha do tema central para um evento com as dimensões do Global Agribusiness Forum (GAF) é, no mínimo, um grande desafio. Pode até parecer óbvio, mas definir um conceito fortemente alinhado com as ideias ali apresentadas e discutidas, e com os interesses do público, exige certo primor. Funcionou: “A ciência no campo a serviço do planeta: a ação é agora”. Essa foi a plataforma do GAF 2018, realizado nos dias 23 e 24 de julho, no Sheraton São Paulo WTC Hotel, na capital paulista. O público superou a marca de 1,5 mil pessoas (praticamente o dobro da primeira edição, em 2012), que representavam mais de 60 países, sendo que cerca de 30 dessas na-

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ções com apoio oficial ao evento. Nos dois dias de fórum falou-se muito sobre tecnologia, competitividade, questões políticas e mercadológicas, sustentabilidade, informações e processamento de dados, mas principalmente como a produção de comida, fibras e energia pode ser um fator de conexão entre tudo isso e todos os países envolvidos. Para se ter ideia da relevância dessa relação, o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Blairo Maggi, praticamente transferiu seu gabinete para o GAF. Quem circulou pelos corredores um andar abaixo de onde aconteciam os painéis certamente notou a intensa movimentação

em uma sala específica. Foi ali que Maggi recebeu diversos outros ministros de Agricultura e autoridades estrangeiras, como foi o caso da reunião bilateral Brasil-Austrália com David Littleproud, ministro australiano de Agricultura e Recursos Hídricos. A efervescência da diplomacia foi outra marca importante do GAF. Com 15 ministros de Agricultura de vários continentes participando, os bastidores do evento foram férteis em encontros bilaterais e multilaterais. COMIDA SUSTENTÁVEL E DE VALOR No papel de palestrante, Blairo Maggi aproveitou o seleto público internacional para reforçar ao


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A plenária principal do GAF-18: palco para encontros e para o exercício da diplomacia em torno da produção

mundo o quanto a agropecuária brasileira cuida do meio ambiente. “Temos 25,6% do território nacional preservado nas fazendas, são 218 milhões de hectares preservados pelos produtores, que não recebem nada a mais por isso”, comentou. Colocando em moeda, esse patrimônio fundiário soma R$ 3,1 milhões. Esses dados estão detalhados na edição nº 10 da PLANT, assim como a marca “Brazil Agro – Good for Nature”, outro tema apresentado por Maggi. O ministro deu um exemplo prático, no palco do GAF, de como funciona essa estratégia de marketing. Com seu próprio celular, fez a leitura do QR Code da marca no rótulo de uma gar-

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rafa de vinho produzido no Brasil. Imediatamente as informações que aparecem para o consumidor foram mostradas no telão, com um vídeo institucional sobre a indústria nacional de vinho. Assim será com os demais segmentos, e com filmes traduzidos em cinco idiomas. Os produtos brasileiros com essa nova marca chegarão ao mercado a partir de outubro. Também chamaram a atenção os números apresentados por Maggi sobre o aumento da produção brasileira nos próximos dez anos. No segmento de grãos, a expectativa é de um avanço de 30%, chegando a 302 milhões de toneladas na safra 2027/28. No setor de carnes, espera-se alcançar 35 milhões de PLANT PROJECT Nº11

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toneladas, o que representa aumento de 27% nesse período. Tais dados reforçam a relevância de nosso papel como fornecedores globais de comida, sobretudo porque a tendência é de que o consumo aumente, como afirmou Ana Paula Malvestio, sócia da PwC (Pricewaterhouse Coopers). “A demanda por alimentos deve crescer 70% até 2050, impulsionada pelos países do E7 – China, Índia, Brasil, Rússia, Indonésia, México e Tuquia –, que estão entre as 12 maiores economias do mundo”, comentou. Apesar de todo esse potencial, 2,5% de brasileiros ainda sofrem com a falta de alimentos, segundo Alan Jorge Bojanic, representante da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). “Nos últimos dois anos, os 118

índices de desnutrição aumentaram no Brasil, e isso é inadmissível”, reclamou. Para ele, o maior entrave para solucionar o problema da fome no mundo está no acesso aos alimentos, pois a produção dá conta de abastecer a população. RELAÇÕES COMERCIAIS Além de toda a evolução científica e tecnológica aplicada no campo, que vai desde o melhoramento genético de animais e plantas até máquinas autônomas, o desenvolvimento global da produção e do abastecimento de alimentos, energia e fibras ainda passa pela forma como os países se relacionam e definem suas negociações. É o caso da disputa comercial entre China e Estados Unidos, que, de uma forma ou de outra, afeta o Brasil.

Está aí outra vantagem do GAF: o evento recebeu representantes das duas potências. Li Jinzhang, embaixador da República Popular da China, afirmou que seu país e o nosso são naturalmente parceiros comerciais. Em 2017, os chineses investiram US$ 23 bilhões em produtos agrícolas do Brasil, incluindo 50 milhões de toneladas de soja e pouco mais de 560 mil toneladas de carne bovina. “A China é um grande comprador de produtos agropecuários e o Brasil é um grande fornecedor. Ambos precisam assumir o protagonismo nas negociações do agronegócio mundial”, comentou o diplomata, que até vê possibilidades de ampliar a pauta de exportações, incluindo algodão e café. Do lado norte-americano, a


Ministros de 15 países, representantes da ONU, o vice-presidente da Corteva, Rajan Gajaria, o ministro Maggi reunido com o australiano Littleproud, o piloto Di Grassi e Plinio Nastari, da Datagro (em sentido horário, a partir da foto maior): repercussão global

conversa foi mais em direção aos biocombustíveis. Mike Dwyer, economista-chefe do Conselho de Grãos dos Estados Unidos (US Grains Coucil), acredita na sinergia de seu país com o Brasil para estimular a produção e o consumo de biocombustíveis no mundo. Diga-se de passagem, as duas nações já respondem por 80% desse mercado global – produção e consumo. “O etanol brasileiro vem da cana-de-açúcar e o dos Estados Unidos, do milho. Precisamos de alianças, e a parceria com o Brasil pode facilitar a capacidade de persuasão junto a outros países”, observou Dwyer. Para Roberto Jaguaribe, presidente da Apex do Brasil, é importante que o Brasil sustente a política da boa vizinhança, sem tomar partido na disputa comercial entre chineses e norte-americanos. “São dois importantes parceiros comerciais. Seria uma tolice pensar que podemos tirar alguma vantagem dessa rivalidade”, afirmou. Elizabeth Farina, presidente da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), foi além, e afirmou ser necessário criar um conjunto de regras para proteger o mercado nacional. “Estamos sofrendo ataques ideológicos e precisamos melhorar o nível de comunicação do setor com informações embasadas em aspectos técnicos”, justificou.

INFORMAÇÃO DE QUALIDADE Essa mesma preocupação acompanha o setor de proteína animal, que vira e mexe ainda se depara com questionamentos relacionados à operação Carne Fraca. “Nos últimos 40 anos, o Brasil exportou mais de 60 milhões de toneladas de carne de frango sem nenhum problema de saúde a seus consumidores”, contrapôs Francisco Turra, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). O histórico é positivo, mas ainda assim é preciso dar explicações, as melhores possíveis. Marília Rangel, secretária-geral do Conselho Internacional de Avicultura (International Poultry Council), exemplificou essa situação com as decisões, muitas vezes, mais ideológicas que técnicas em relação ao consumo. “Há uma geração de jovens semivegetarianos, liderados por celebridades, formada por mais de 20 milhões de pessoas ao redor do mundo, que já adotaram algum tipo de restrição à proteína animal durante a semana”, explicou Marília, que ainda citou a relevância do cuidado com as mensagens transmitidas pelo próprio setor. “Quando informo na embalagem ou em uma campanha que determinado produto não tem hormônio, algo que nem posso usar, pois é proibido por lei, induzo PLANT PROJECT Nº11

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Os Top Farmers no palco principal: Walter Horita, Sarira Rodas e o Neozelandês Bem Allomes

o consumidor a imaginar que outros possam ter.” Esse é um dos motivos pelos quais Rajan Gajaria, vice-presidente global da Corteva Agriscience e um dos principais palestrantes do evento, acredita que o setor agropecuário como um todo tem o compromisso de informar, comunicar e educar para promover a aproximação com o consumidor final e ajudá-lo a entender os avanços que acontecem no campo. “Esse é o caminho para se quebrar o medo do novo”, disse Gajaria, acrescentando que, nos próximos anos, o desenvolvimento agrícola passará por avanços tecnológicos, pelo diálogo entre os diversos agentes do setor e pela globalização. A DATAGRO, uma das maiores empresas de consultoria agrícola do mundo, respondeu pela organização e pela curadoria do GAF, e compartilhou a realização do fórum com algumas das principais entidades das cadeias produtivas do agronegócio: Sociedade Rural Brasileira (SRB), Associação Brasileira de Produtores de Milho (Abramilho), International Maize Alliance (Maizall), Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), As120

sociação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), Fórum Nacional Sucroenergético e União Nacional do Etanol de Milho (Unem). O EXEMPLO DOS TOP FARMERS A mostra de como muitas dessas discussões e soluções já aparecem na prática ficou por conta dos painéis com os Top Farmers, produtores que já participaram ou vão participar desta série da PLANT. O primeiro deles, “O agro que produz e preserva”, reuniu diferentes gerações que investiram em uma nova fórmula de produzir, e até foram questionados por isso. É o caso de Franke Dijkstra, proprietário da Fazenda Frank’Anna (Carambeí, PR), um dos precursores do plantio direto. Dijkstra foi o Top Farmer em produção de milho na temporada passada. Caio Penido, diretor da Fazenda Água Viva (Cocalinho, MT), está na temporada atual e é o Top Farmer em sustentabilidade. Ele é presidente do Grupo de Trabalho Sobre Pecuária Sustentável. Marcelo Marzola, CEO da PPD Holding (que controla a Fazenda da Toca,

de Pedro Paulo Diniz, Top Farmer Orgânicos na primeira temporada da série), também participou do painel, mediado por Luiz Fernando Sá, diretor editorial da PLANT. O segundo painel, “O que é fazer sucesso na produção agropecuária?”, com mediação de Luiz Roberto Barcelos, presidente da Abrafrutas, apresentou os depoimentos de Walter Horita, presidente do Grupo Horita (Barreiras, BA), e de Sarita Rodas, presidente do Grupo Junqueira Rodas. Horita foi o Top Farmer em algodão, no ano passado, e Sarita é a de citricultura na nova temporada. Ambos falaram sobre superação, seja no desenvolvimento, seja na expansão de um agronegócio de sucesso, e destacaram a importância da família nesse contexto. Nos dois casos, esses pilares sustentaram o aumento de produtividade com sustentabilidade econômica, social e ambiental. O terceiro participante foi o pecuarista neozelandês Ben Allomes, produtor de leite e diretor da DairyNZ. Embora tenha nascido em uma fazenda, iniciou seu negócio do zero e, com uma gestão eficiente, tem ampliado o empreendimento ano a ano.


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PONTO DE ENCONTRO COM O FUTURO Durante o GAF 2018, PLANT PROJECT ampliou seu conceito de veículo multiplataformas. Com um lounge de 200 m2, a publicação se transformou em centro de debates, estúdio de entrevistas, espaço de reuniões, cafeteria e até boteco

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ançada oficialmente durante a edição de 2016 do Global Agribusiness Forum, PLANT PROJECT chegou ao evento de 2018 confirmando sua vocação de ser muito mais que uma revista. No GAF-18, ao comemorar seu segundo aniversário, a plataforma pôde desenvolver seu principal papel – sem querer fazer trocadilho –, que é gerar conteúdo significativo para quem vive do e para o agronegócio, conectando pessoas, empresas e instituições em torno do desenvolvimento do setor. Para melhor receber o tão seleto público da conferência, e aproveitar ao máximo as informações desse grupo, montou, em uma área com cerca de 200 m2, o Lounge PLANT, um espaço que abrigou debates, entrevistas, conversas informais, networking, comemorações -- enfim, um aconchegante ponto de encontro do evento. De tão acolhedor, o local foi até escolhido por algumas delegações estrangeiras para suas reuniões. O fato de a programação do lounge ter sido elaborada para complementar e es-

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tender os debates dos painéis do GAF, e até as atividades paralelas, atraiu muitos dos participantes nos dois dias de evento. Não por acaso houve uma intensa circulação de empresários, autoridades, técnicos, pesquisadores, estudantes e diversos outros interessados no desenvolvimento do agronegócio. O espaço acabou até mesmo atraindo equipes de outros veículos de imprensa, o que até favorece a difusão de informações. Um dos momentos mais concorridos no lounge foi a abertura de sua programação, com o lançamento do projeto Conexão Comida, que reuniu o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi, com os chefs de cozinha Ligia Karazawa e Carlos Ribeiro, e a barista Isabela Raposeiras (leia reportagem na pág. 126). De maneira geral, foi um bate-papo bem produtivo sobre o futuro da relação entre a geração, a transformação e o consumo da comida, passando pelo campo e pelas indústrias até chegar à outra ponta da cadeia. Tema constante nas pautas da plata-


Evento

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Conteúdo no Lounge Plant: 1. Painel sobre blockchain, com Fernando Martins, Clayton Melo, Rodrigo Iafelice e Percival Lucena; 2. Sérgio Barbosa, Melo e Guilherme Del Lago falam sobre os hubs de inovação; 3. Jones Yasuda, Nicholas Vital e Luciana Martins debatem os desafios das cooperativas; 4. Encontro dos colunistas da Plant; 5. Luiz Fernando Sá, Paulo Camossa, Cris Orlandi e Igor Menezes no painel Agrocontent.

forma, o futuro do agro não poderia faltar na programação do lounge. O Botech StartAgro, conduzido pelo jornalista Clayton Melo, debateu a conexão entre os diversos polos de inovação espalhados pelo Brasil, como uma forma de intensificar, aprimorar e expandir o aprimoramento das modernas soluções para o campo. Participaram da conversa Sérgio Barbosa, gerente executivo da EsalqTec; Guilherme Dal Lago, gestor do Pulse, hub de inovação da Raízen em Piracicaba. O Botech StartAgro também discutiu os benefícios do blockchain para a cadeia produtiva agropecuária, sobretudo em relação à confiabilidade do setor e à segurança alimentar. O painel contou com a participação de Percival Lucena, pesquisador da IBM; Fernando Martins, conselheiro do Grupo Jacto; e Rodrigo Iafellice dos Santos, diretor da Cantagalo. Certamente, quem entrou no lounge da PLANT PROJECT sem ainda ter uma definição exata do que é essa tecnologia e como ela funciona saiu de lá com uma visão mais clara sobre o assunto. Segundo os participantes, o blockchain traz muita confiabilidade porque reúne informações de todo o processo de produção, com dados de cada etapa, que podem ser acompanhados, mas não alterados. Outro tema relevante à evolução do agronegócio brasileiro que entrou na programação do lounge foi o cooperativismo, assunto da reportagem de capa da edição 10 da PLANT, assinada pelo jornalista Nicholas Vital. Foi ele quem mediou a conversa entre Luciana Martins, diretora e responsável pela Divisão de Cooperativas da MPrado, e Jones

Yasuda, presidente do CCAB, o Consórcio Cooperativo Agropecuário Brasileiro. Um dos pontos mais relevantes nessa conversa foi a importância da gestão eficiente nas cooperativas, e da necessidade de se utilizar ferramentas modernas para que se tenha uma administração profissional, ágil, correta e transparente. E, claro, a transformação disso tudo em lucratividade para os associados. Como não poderia deixar de ser, a comunicação também virou tema na programação do lounge. Luiz Fernando Sá, diretor editorial da PLANT PROJECT, conduziu o animado bate-papo entre Cris Orlandi (FremantleMedia Brasil), Paulo Camossa (Piraporanó) e Igor Menezes (Smartalk). Na pauta da conversa, as contribuições do storytelling e do branded content para o agronegócio, conceitos que já vêm sendo aproveitados pela revista e que chamaram a atenção de quem buscava novas formas de agregar valor às marcas. Carla Mayara Borges, jovem produtora de Água Boa (MT), aproveitou a oportunidade para questionar se esses métodos ajudariam em uma estratégia de comunicação para incentivar o consumo do feijão. Carla, que participou do processo da Nuffield International no ano passado, saiu do encontro com novas ideias e o bloquinho de anotações cheio de informações. Também os colunistas da PLANT aproveitaram o lounge para o networking entre si. Como nem todos se conheciam pessoalmente, ou não se viam com frequência, ganharam um espaço na programação para uma conversa mais informal sobre o futuro do Brasil Agro, coordenada pelo jornalista Romualdo Venâncio, responsável pelas rePLANT PROJECT Nº11

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portagens da série TOP FARMERS. Participaram da troca de ideias Camila Macedo Soares (coluna Produção e Consumo), Irineu Guarnier Filho (Terroir), Ibiapaba Netto (A Comida Como Ela É), Nicholas Vital (Mitos e Fatos do Agronegócio), André Dias (presidente da Adealq, que coordena a coluna Esalqueanos) e Marco Ripoli (A Revolução das Máquinas). Nos intervalos da programação aberta ao público, a equipe da PLANT aproveitava para gerar mais conteúdo. O lounge serviu como estúdio para gravação de entrevistas para o projeto PLANT TALKS, série de entrevistas com CEOs das principais empresas do agronegócio brasileiro e mundial. Também foi uma boa oportunidade para pensar e discutir novas estratégias, aproveitando que o time todo estava por lá. O resultado que vem dessa mistura entre correria e comemoração é uma nova safra de boas ideias para levar informação de qualidade ao mercado. A montagem desse espaço, desenvolvido pela agência Make, de Campinas, contou com a participação de alguns de seus parceiros, como Clube Agro, SAP, Azul Linhas Aéreas e Corteva Agriscience. E, para torná-lo mais atrativo, teve o apoio do Café Minamihara, empresa da família do Top Farmer Anderson Minamihara, e da entidade parceira Adealq, a Associação dos Ex-Alunos da Esalq, que fechou o evento com seu boteco itinerante “Bar do Queiroz”. O brinde da saideira foi uma cortesia da microcervejaria Leuven, de Piracicaba (SP), empresa de um esalqueano. O clima foi mesmo de celebração, mas para se chegar a esse ponto foi preciso muito trabalho, no mínimo dois anos de labuta, inúmeras reuniões, milhares de quilômetros rodados e um tanto de outras estatísticas que começaram na edição anterior do GAF, com o lançamento da edição número zero. 124

Delegações estrangeiras, executivos e produtores reunidos no Lounge: networking e informação em espaço descontraído


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UMA PONTE ENTRE O AGRO E A MESA Informação de qualidade é ingrediente básico para a produção sustentável de alimentos. É o que mostrou o painel Conexão Comida, a inusitada e gastronômica conversa entre o ministro da Agricultura e três “porta-vozes” de consumidores mais que exigentes Por Romualdo Venâncio

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izem que uma boa refeição, com mesa cheia e variada, tanto de pessoas quanto de opções de pratos, é um ambiente perfeito para um bate-papo caloroso, direto, aberto, franco e até divertido. A tese se confirmou durante o Conexão Comida, encontro promovido pela revista PLANT PROJECT e que reuniu Blairo Maggi, o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, e três profissionais acostu-

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mados a lidar diariamente com os anseios de consumidores que esperam mais do que se alimentar quando se sentam à mesa. “Este é o primeiro passo de um projeto que visa a integrar toda a cadeia produtiva de alimentos”, afirmou o diretor editorial da publicação, Luiz Fernando Sá. O primeiro indício de que a reunião foi positiva é que não houve desperdício: ninguém jogou conversa fora.


Evento

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O chef Carlos Ribeiro, Blairo Maggi, a barista Isabela Raposeiras e a chef Ligia Karazawa: conversa franca

Com mediação de Ibiapaba Netto, diretor da Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR), o Conexão Comida teve a participação de Isabela Raposeiras, barista e proprietária do Coffee Lab; Ligia Karazawa, chef de cozinha do restaurante Brace, no centro gastronômico Eataly; e Carlos Ribeiro, chef de cozinha e sócio do restaurante e escola Na Cozinha. O encontro aconteceu dentro do lounge da PLANT PROJECT, durante o Global Agribusiness Forum (GAF 2018), realizado na cidade de São Paulo, megalópole onde trabalham os três convidados. A iniciativa foi aprovada pelo ministro, pois, como ele mesmo disse, seria difícil acontecer tal reunião, seja pelas agendas, seja pela falta de aproximação mesmo. “De maneira geral, acabamos ficando em posições que não chegam a ser antagônicas, mas são de pouca conversa, pouco diálogo”, comentou. Diante da oportunidade, o quarteto tratou de aproveitar o período de cerca de uma hora de bate-papo. Maggi falou sobre alguns pontos que têm ganhado mais espaço no noticiário, como a diversidade e o aproveitamento de produtos agrícolas e o uso de defensivos. Mas o tema que se tornou o prato principal foi a necessidade de valorização para os chamados pequenos produtores, sobretudo os que conseguem, em pequenas áreas, extrair com excelência o máximo de produtividade. Carlos Ribeiro, que antes de se dedicar integralmente à gastronomia chegou a estudar comunicação – é graduado em relações públicas pela Universidade Federal da Paraíba e pós-graduado em administração e comunicação empresarial pela Universidade Tiradentes (SE) –, abriu o diálogo por parte dos convidados. Nascido em João Pessoa, capital da Paraíba, desde menino já tinha consciência de que tudo o que se prepara na cozinha vem do campo. “Meus avós eram agricultores. Durante muito tempo eu passava as férias nas terras deles. E meu pai, quando se

aposentou, também se tornou um pequeno produtor, criando caprinos”, contou. Ribeiro ressaltou o quanto é cobrado – e se cobra – em relação à qualidade dos ingredientes que utiliza em seus pratos. E é a partir de tal exigência que se revela um significativo, e preocupante, desequilíbrio entre os extremos da cadeia de alimentos. “Uso muito camarão defumado vindo da Bahia, e meu fornecedor, que é um produtor eficiente, recebe centavos pelo quilo de um alimento que chega ao mercado custando cerca de R$ 95. Ele já está preferindo buscar outra ocupação”, analisou. VALOR NA ORIGEM Para Ribeiro, um grande desafio da cadeia de alimentos é encontrar uma forma de manter o estímulo a esses produtores. Ele procura dar sua contribuição. “Também sou pesquisador, então tenho a missão de contar essa história, de manter esse patrimônio material da comida”, comentou. Mesmo tendo a preferência por comprar desses fornecedores, até por trabalhar com comida tipicamente brasileira, em muitos casos é mais fácil optar por produtos importados do que buscar um queijo, uma galinha ou um ovo de primeira. “Tenho grande preocupação com esse produtor, que está sendo massificado e recebe muito mais cobrança punitiva do que educativa.” Isabela Raposeiras fez coro com o chef paraibano. A empresária é dedicada ao estudo e à pesquisa dos fatores relacionados à qualidade do café, passando por manejo na lavoura, degustação, avaliação sensorial e torra. Por isso, mais do que negociar diretamente com pequenos agricultores, faz PLANT PROJECT Nº11

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Assista à íntegra do painel Conexão Comida usando o QR Code para acessar o vídeo.

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praticamente um garimpo para encontrar cafeicultores que forneçam grãos diferenciados, especiais, que garantam a satisfação do consumidor que paga R$ 14 em uma xícara de café. Chegar a esse ponto exige toda uma estratégia para agregar valor ao negócio e agradar a todos os envolvidos. “Pago bem meu fornecedor e cobro um preço justo do meu cliente, que gosta não só do produto e do serviço, mas também da história por trás daquela bebida”, observou. Há quase 20 anos no segmento de café, Isabela compartilhou uma de suas sagas para identificar e garantir o fornecimento de um produto diferenciado. Em 2012, surpresa com o padrão de qualidade de um lote de café vindo da região serrana do Espírito Santo, fez questão de conhecer o cafeicultor. “Era um dos melhores cafés brasileiros que eu já havia provado, e colhido à mão, pois o terreno íngreme não permitia a entrada de máquinas”, lembrou, acrescentando que o produtor era remunerado como se fizesse colheita mecanizada, embora seu custo fosse mais alto. Aquele cafezal capixaba estava prestes a se tornar uma plantação de eucalipto, não fosse a persistência de Isabela. “Eu disse que ele não faria aquilo e que pagaria R$ 1.200 a saca, inclusive assegurando o preço para o próximo ano. Mesmo ele tendo me achado uma louca, começamos a trabalhar juntos”, contou a barista, que teve de visitar o cafeicultor mais umas cinco vezes naquele ano antes de realmente ganhar sua confiança. Por fim, até

o filho do produtor, que pensava em ser policial, acabou optando pela lavoura. “No Coffee Lab temos essa relação muito próxima com o produtor, e contar ao consumidor que isso existe é muito interessante”, disse Isabela. DESAFIO DE TER O MELHOR Ligia, que trabalha com a cozinha há 22 anos, também chamou a atenção para a importância de ter à disposição alimentos de alta qualidade. “Somos uma vitrine muito direta com o consumidor final. Se há um elogio ou uma reclamação, vem direto em nós”, comentou. Criada na região de Presidente Prudente, no interior de São Paulo, sempre esteve próxima da pecuária de corte, um dos motivos de sua paixão por carnes e grelhas. Considerando que no Brace são servidas 12 mil refeições por mês – o que envolve o consumo de 3 toneladas de carnes –, mais do que fornecedores é preciso ter parceiros no abastecimento da matéria-prima. “Há muitos anos procuro não trabalhar apenas com fornecedores intermediários, buscando matéria-prima diretamente com os pequenos produtores.” Foi exatamente essa relação que gerou o questionamento de Ligia ao ministro Blairo Maggi. “Morei e estudei na Europa por 14 anos, e lá o acesso a muitos produtos é bem mais fácil e com preço acessível. Aqui, por mais que a gente faça um trabalho de aproximação, de conhecer o produtor e suas famílias, suas características e dificuldades, não é tão simples. Como facilitar


esse acesso?”, perguntou a chef, citando, inclusive, a questão dos produtos orgânicos, que pelo alto custo muitas vezes inviabiliza a utilização na ponta final dessa cadeia. Para Blairo, essa conexão passa, em grande parte, pela questão do preço da comida e do quanto o negócio remunera o empreendedor. “Como produtor rural, eu adoraria não precisar utilizar defensivos nas minhas lavouras, primeiro porque é caro, depois porque a legislação é ampla e muito forte”, comentou, justificando a necessidade de tal manejo: “Somos um país tropical, com altas temperaturas e elevada umidade, ambiente propício para o surgimento de pragas, fungos e plantas daninhas”. Blairo usou a ferrugem asiática como exemplo dessa condição, problema recorrente por aqui, mas que afeta bem pouco as lavouras na Argentina e nada nos Estados Unidos e no Canadá. Tudo por conta do clima mais ameno. “No caso dos orgânicos, por exigir mais cuidados, é até mais difícil. Também pela relação de oferta e procura, na qual ainda há muita gente produzindo e pouca consumindo”, disse o ministro, que também citou os alimentos geneticamente modificados. Mas, neste caso, paga-se mais caro pela segurança de estar comprando um alimento convencional, sem nenhuma alteração genética. “A maior oferta desses produtos depende do custo de produção, dos riscos de perdas e do preço que chega no final. Não vejo como uma política de governo possa mudar esse quadro”, avaliou.

INFORMAÇÕES À MESA O Conexão Comida entrou em outro campo fértil para o cultivo de boas ideias, a comunicação. Os três convidados quiseram saber de Blairo como otimizar a entrega de informações e orientações aos produtores, principalmente os que trabalham em áreas menores, sobre opções de crédito, carga tributária e as possibilidades de debaterem suas demandas com o Governo Federal. “Todas as políticas que surgem no Mapa relacionadas a essas questões vêm por meio das câmaras setoriais. Sugiro que vejam exatamente em qual câmara se encaixam e por aí façam suas demandas, pois o canal é direto com o Ministério”, explicou Blairo, acrescentando que no caso dos tributos, as definições cabem à Fazenda. O ministro ainda comentou que o trabalho de orientação e educação aos pequenos produtores, que deve ser constante, cabe aos estados, pois o Governo Federal não tem braços suficientes para prestar tal assistência. A representatividade dos setores produtivos também entrou na pauta do bate-papo. Isabela cobrou, por exemplo, que se falasse mais sobre o café para a população de maneira geral, informando as qualidades nutricionais da bebida e seus benefícios. “Alimentaríamos melhor uma cadeia toda, além de impactar nos hábitos de crianças e jovens, pois poderiam passar a consumir menos refrigerantes e mais café, que é mais saudável”, comentou. “Somos os

maiores produtores de café do mundo, com cerca de 30% do volume global, e, na abertura da Olimpíada realizada aqui (2016), quando foram apresentados diversos produtos nacionais, o café não estava”, reclamou a barista. Ibiapaba, prontamente, acrescentou: “Nem o suco de laranja”. O ministro veio em seguida: “Nem suco de soja”. Blairo aproveitou a bola levantada por Isabela para falar sobre a importância de cada segmento fortalecer e unificar seu próprio discurso. O ministro lembrou que, recém-chegado à pasta, iniciou um diálogo entre sua equipe técnica e os diversos setores produtivos. O objetivo era conhecer as dificuldades de cada segmento, o que contribuiria para a implementação do Agromais, um projeto de desburocratização. “Chegamos a mais de 800 mudanças em regras e até decretos. Mas no café foi mais complicado. Por se tratar de uma cultura mais antiga, é representada por uma dezena de entidades, então não há uma concentração do debate e fica difícil encontrar um norte nas discussões”, explicou. “Falta uma estratégia setorial mais bem definida para a conversa com o Estado.” A ideia é que essa conversa ganhe novas dimensões, interligando cada vez mais todos os elos da cadeia produtiva de alimentos. E aproximando consumidores de agricultores e pecuaristas. A meta do Conexão Comida é nutrir essa relação. PLANT PROJECT Nº11

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UMA PROPOSTA PARA O SETOR AGROPECUÁRIO

Pl i n i o N a s t a r i *

Nos úl t i mo s 5 0 an o s, o B r a s il se tran sf o rmo u em u ma potên ci a g l o bal n a pro du ç ã o d e aliment o s e en erg i a de biomassa a part i r da su a produ ção ag ro pecu ári a. At ing iu esse pat amar de pro du ç ã o c o m padrões de su st en t abi l i d a d e e con trol e san i t ári o av an ça d o s e recon h eci do s in ter n aci o n al men t e. O Br a s il s e destac a co mo o pri mei ro o u den tre o s pri mei ro s pro d ut o re s e expo rt ado res de v ári o s produ t o s ag ro pecu ári o s. N o en tant o , h á ai n da en o rm e s deficiên ci as a serem co r r ig id a s . A prec ári a i n f raest ru t u ra d e armazen amen t o e t ran sp o r t e tem el ev ado o cu st o do produ t o brasi l ei ro de f o r m a in justi f i cada, o n eran do p re ç o s ao con su mi do r e redu z i nd o s ua compet i t i v i dade i n t er n ac io na l. Cu stos el ev ado s de t rans p o r t e e as p erdas g eradas po r um a in fraes t ru t u ra debi l i t ada, na forma de est radas mal ou nã o pavime n t adas, mal h a f er ro v iá r ia in su fici en t e em ext en são e qualid ade e f al t a de capaci dade de armaz en a g e m ,

t ê m inf la d o o c us t o d e p ro d uç ã o , d im inuind o a re n d a d e t o d a a c a d e ia p ro d ut i va e lim it a nd o a c a p a c id a d e d e o a g r ic ult o r a p lic a r p r á t ic a s m a i s a v a nç a d a s no c a m p o . O s e g und o m a io r f a t o r q u e t e m a f e t a d o o s e t o r a g ro p e c u á r i o é o p ro t e c io nis m o e o ut r a s p r á t ic a s d is t o rc id a s d e c o m é rc io , c o m o s ub s íd ios à p ro d uç ã o lo c a l e à e x p o r t a ç ã o. É p re c is o m a nt e r a v ig ilâ n c i a e o c o m b a t e p e r m a ne nt e a p r á t i c a s d is t o rc id a s a t r a v é s d o s ins t r um e nt o s d is p o nív e is n a OMC . Alé m d is s o , o B r a s i l t e m s id o m uit o t ím id o e m ne g o c ia ç õ e s d e liv re - c o m é rc i o, o q ue t e m re d uz id o s ua p a r t ic ip a ç ã o no s f lux o s d e c o m é rc io , a p e s a r d e s ua p uja nç a e re c o nhe c id a c a p a c id a d e p ro d ut iv a . At é m e a d o s d a d é c a d a d e 1970, o B r a s il e r a im p o r t a d o r lí q u i d o d e a lim e nt o s , t r a z e nd o d o e x t e r io r m e t a d e d a c a r ne c o ns um id a , a lé m d e um vol u m e c o ns id e r á v e l d e le it e e c e re a i s . At r a v é s d e d e s e nv o lv im e n t o

t e c n ol ógi c o q u e l e vou à c r i a ç ã o d a A gr i c u l t u r a Trop i c a l , f oi p os s í ve l a u m e n t a r a á re a c u l t i va d a e a p rod u ç ã o d e a l i m e n t os p a r a u s o i n t e r n o e e x p or t a ç ã o. I s s o e s t á s e n d o f e i t o d e f or m a s u s t e n t á ve l . M a s p a r a c on t i n u a r a va n ç a n d o é p re c i s o re c on h e c e r q u e os d oi s p r i n c i p a i s p rob l e m a s q u e a f e t a m o s e t or a grop e c u á r i o s ã o a deficiente infraestrutura e a n e c e s s i d a d e d e u m a p os t u r a m a i s a gre s s i va e m n e goc i a ç õe s i n t e r n a c i on a i s e q u e o s e t or público não tem capacidade de re a l i za r os i n ve s t i m e n t os n e c e s s á r i os p a r a s u p r i r a s necessidades de infraestrutura. A abertura ao capital e s t r a n ge i ro n a á re a d e i n f r a e s t r u t u r a p od e s e r a u t or i za d a e m t roc a d a l i b e r a ç ã o d e m e rc a d os p a r a o s e t or a grop e c u á r i o. O gove r n o d e ve c r i a r m od e l os d e c on t r a t a ç ã o q u e e s t i m u l e m e s s e s i n ve s t i m e n t os , ga r a n t i n d o e s t a b i l i d a d e d e re gr a s e d a n d o s e gu r a n ç a j u r í d i c a a os i n ve s t i d ore s . E s p e c i f i c a m e n t e :

* Presidente da DATAGRO e representante da sociedade civil no CNPE, Conselho Nacional de Política Energética.

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M MARKETS

• Est i mu l ar i n v est i ment o privado em i n f raest ru t ur a , gar an t i n do est abi l i dad e d e regras e seg u ran ça j u r íd ic a .

• Fo r t a le c e r a s e g ur a nç a jur íd ic a d o s s e r v id o re s p úb lic o s , c o nt r ib uind o p a r a a c e le r id a d e d a s d e c is õ e s .

• P ro mo v er i n i ci at i v as q ue levem a u ma mai o r integ ração e ao livre - co mérci o de pro d ut o s agro pecu ári o s, at rav é s d e u ma ag en da ag ressi v a d e n ego ci açõ es i n t er n acio na is . Neg o ci ar a abert u ra d e mercado s ag ro pecu ár io s e m troc a de acesso do ca p it a l estr an g ei ro a i n v est i m e nt o s em i n f raest ru t u ra.

• Ap r im o r a r e s im p lif ic a r os p ro c e s s o s d e lic e nc ia m e n t o a m b ie nt a l.

• C ri ar i n st ru men t o s q ue valo ri z em a pro du ção e a com erci al i z ação de pro d ut o s agro pecu ári o s de f o rm a su st en t áv el . • C ri ar co n di çõ es par a q ue seja eco n o mi camen t e valo ri z ada a preserv aç ã o d e recu rso s n at u rai s co m o a s florest as n at u rai s, a á g ua , e a bi o di v ersi dade. • O bedeci do s o s zon eamen t o s ag ro eco ló g ic o s da can a e da pal ma e a morat ó ri a da so j a, el i m ina r med i das e reg ras qu e imp l i qu em i n t erf erên c ia d o Estado n a deci são do produ t o r so bre o qu e e o nd e produ z i r. O pro du t o r e o mercado são capaz es d e det ermi n ar, mai s do q ue n ing u ém, o qu e é mel ho r produ z i r, e o n de f az ê- lo .

• Pro m o v e r m e d id a s q u e le v e m à int e g r a ç ã o c re s c e n t e d a a g r ic ult ur a f a m ilia r c om a a g r ic ult ur a e m p re s a r ia l. • U t iliz a r f e r r a m e nt a s m o d e r na s d e c o nt ro le p a r a combater o desmatamento em d e s c o nf o r m id a d e c o m a le g is la ç ã o e a re g ula m e n t a ç ã o e x is t e nt e . • Fo r t a le c e r o s m e c a nis m os d e c o nt ro le s a nit á r io , c om int e g r a ç ã o c re s c e nt e e n t re os ó r g ã o s d e f is c a liz a ç ã o e m o nit o r a m e nt o e a s e m p re s a s e nv o lv id a s c o m o p ro c e s s a m e nt o a g ro ind u s t r i a l . • Pro m o v e r e e s t im ula r a t r a ns p a r ê nc ia na s a ç õ e s d e c o nt ro le , c o m re s p o ns a b ilid a d e e s e m e s p e t a c ula r iz a ç ã o d e s s a s a ç õ e s , g a r a nt ind o a p re s e r v a ç ã o e a o b e d iê n c i a a o s re g ula m e nt o s , e v is a n d o a p re s e r v a ç ã o d o int e re s s e re c íp ro c o e a m a io r int e gr a ç ã o e nt re p ro d ut o r e c o ns u m i d or. • C r ia r c o nd iç õ e s p a r a a a m p lia ç ã o d o s e g uro r u r a l , c o m o ins t r um e nt o d e p ro t e ç ã o d a re nd a d o

p rod u t or e m i t i ga ç ã o d os r i s c os c l i m á t i c os . • A s s e gu r a r re c u r s os p a r a o financiamento da safra em c on d i ç õe s d e e q u i d a d e e a j u ros a d e q u a d os à a t i vi d a d e . • E s t i m u l a r a i n t e gr a ç ã o vi r t u os a d a a gr i c u l t u r a e n e r gé t i c a c om a a gr i c u l t u r a a l i m e n t a r, c om o ob j e t i vo d e c a p i t a l i za r a a gr i c u l t u r a alimentar e atender a demanda c re s c e n t e p or b i oe n e r gi a e b i oc om b u s t í ve i s , c on t r i b u i n d o dessa maneira para o a t i n gi m e n t o d a m e t a d e l i m i t a r o a q u e c i m e n t o gl ob a l a 2 °C a t é 2050. • Orientar a Embrapa a d e s e n vol ve r e s t u d os e pesquisas em temas e s t r a t é gi c os p a r a a c om p e t i t i vi d a d e e a s u s t e n t a b i l i d a d e d a a gr i c u l t u r a e d a p e c u á r i a n a c i on a l n o l on go p r a zo. • C r i a r i n c e n t i vos p a r a o f om e n t o à p e s q u i s a , t a n t o n a E m b r a p a c om o e m ou t r a s i n s t i t u i ç õe s c r i t e r i os a m e n t e s e l e c i on a d a s .

P re s i d e n t e d a D ATA G R O e R e p re s e n t a n t e d a S oc i e d a d e C i vi l n o C on s e l h o N a c i on a l d e P ol í t i c a E n e r gé t i c a .

PLANT PROJECT Nº11

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Porque o abastecimento de água é mais eficaz quando acontece onde é preciso.

Fonte: Water.org. © 2018 SAP SE ou empresa afiliada da SAP. Todos os direitos reservados.

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