Edicao 37#

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Para quem pensa, decide e vive o agribusiness

venda proibida distribuição dirigida www.plantproject.com.br

DE GRÃO EM GRÃO

Com investimento em pesquisa e introdução de novas cultivares, Brasil quebra recordes na produção de trigo

SUSTENTABILIDADE

Na economia circular, resíduos viram fontes de receita

ENTREVISTA

OS PLANOS DE SILVIA MASSRUHÁ, PRIMEIRA MULHER

A PRESIDIR A EMBRAPA

EXCLUSIVO

WALCYR CARRASCO, AUTOR

DA NOVELA TERRA E PAIXÃO: “A AGRICULTURA ME FASCINA”

ENOTURISMO

VINÍCOLAS INVESTEM

EM EXPERIÊNCIAS TURÍSTICAS

CADA VEZ MAIS SOFISTICADAS

O BARATO É CURAR

Como a cannabis medicinal traz oportunidades de negócios para o agro

Sem o agronegócio, o Brasil não anda. A velha máxima nunca foi tão verdadeira. No primeiro trimestre, o resultado do PIB brasileiro mostrou, pela enésima vez, a força irrefreável do setor. Segundo o IBGE, a economia cresceu 1,9% de janeiro a março em relação ao período imediatamente anterior. O desempenho superou com folga as previsões do mercado e refletiu, sobretudo, a pujança do agro.

Os números do IBGE revelaram que nenhum setor avançou mais do que o agronegócio, com salto explosivo de 21,6% na mesma base comparativa. Foi a maior alta desde 1996. Destacou-se, também pela enésima vez, a soja, principal item agrícola nacional, que acelerou 24,7%.

Os bons ventos estão por toda parte. Nos quatro primeiros meses do ano, as exportações do setor totalizaram US$ 50,6 bilhões, a maior cifra da história para o período. O Ministério da Agricultura lembrou ainda que o montante representou 49% de todas as vendas externas brasileiras. Foram quebrados recordes nas exportações do complexo soja (grão, farelo e óleo), carne de frango e suína, celulose, etanol e milho.

Se o mercado geral de fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês) esfriou em 2023, as operações geradas pelo agronegócio seguem, como quase sempre, em alta. Segundo levantamento realizado pela consultoria Kroll, as transações geraram R$ 1 bilhão de janeiro a abril, acima dos R$ 800 milhões movimentados um ano atrás.

Há boas notícias onde quer que se olhe. O consórcio rural ganha terreno no Brasil. Pelas contas da Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (Abac), o produto financeiro usado para a compra de máquinas e implementos agrícolas dobrou de tamanho entre 2019 e 2023. O motivo, claro, é o crescimento explosivo do agronegócio.

As condições climáticas mais favoráveis no início do ano certamente impulsionaram os resultados do agro, mas as conquistas do campo vêm de longa data. Nas últimas décadas, nenhuma nação aumentou tanto a produtividade de suas lavouras quanto o Brasil, o que se deve essencialmente ao elevado nível de sofisticação tecnológica da atividade rural. O setor também investiu na qualificação de seus profissionais. Desempenhos extraordinários não aparecem à toa – eles são sempre fruto de muito trabalho. Nesse contexto, é preciso reconhecer que o agronegócio segue incansável em sua jornada para tornar o Brasil um País cada vez melhor.

Boa leitura! Amauri

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Diretor Editorial O AGRO FAZ O BRASIL ANDAR Editorial Para quem pensa, decide e vive o agribusiness distribuição dirigida www.plantproject.com.br DE GRÃO EM GRÃO Com investimento em pesquisa e introdução de novas cultivares, Brasil quebra recordes na produção de trigo SUSTENTABILIDADE Na economia circular, resíduos viram fontes de receita ENTREVISTA OS PLANOS DE SILVIA MASSRUHÁ, PRIMEIRA MULHER A PRESIDIR A EMBRAPA EXCLUSIVO WALCYR CARRASCO, AUTOR DA NOVELA TERRA E PAIXÃO: “A AGRICULTURA ME FASCINA” ENOTURISMO VINÍCOLAS INVESTEM EM EXPERIÊNCIAS TURÍSTICAS CADA VEZ MAIS SOFISTICADAS O BARATO É CURAR Como a cannabis medicinal traz oportunidades de negócios para o agro
Segalla

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Índice
GLOBAL

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Terra firme:

Nos Estados Unidos, amostras de solo de 161 anos revelam como eram as práticas agrícolas do passado

O lado cosmopolita do agro

GLOBAL foto: Shutterstock

ESTADOS UNIDOS

SOLO SAGRADO

Cientista encontra por acaso amostras de terra escondidas durante um século e meio que trazem informações inéditas sobre as práticas agrícolas do passado

Em 2018, um celeiro localizado no campus principal da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, estava prestes a ser demolido. Dias antes da destruição, contudo, o professor Andrew Margenot, especializado em ciência do solo, decidiu explorar a empoeirada e decadente construção. Foi nesse momento que ele fez uma descoberta que mudaria a sua vida para sempre.

Dentro do celeiro, Margenot deparou-se com algo verdadeiramente único: 8 mil frascos datados de 1862 e preenchidos com o solo antigo de Illinois. Segundo os registros, a coleção abrangia 450 locais de amostragem, representando cerca de 21 milhões de acres de terras cultiváveis. O professor àquela altura não sabia, mas

ele estava diante do maior arquivo de solo do mundo.

Após uma análise mais detalhada, Margenot descobriu que os rótulos dos frascos forneciam informações

valiosas. Cada etiqueta continha a data exata da amostra, o município onde fora coletada e a classificação do solo em questão, além de trazer dados sobre fertilidade e produtividade de culturas agrícolas.

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GGLOBAL O lado cosmopolita do
agro
fotos: Reprodução

Para um entusiasta do solo como Margenot, a descoberta representou uma oportunidade de ouro. Ele dedicou os cinco anos seguintes a catalogar minuciosamente as 8 mil amostras, que agora estão armazenadas em um novo celeiro construído a 150 metros do local original. Ao longo desse período, Margenot trabalhou incansavelmente para preservar e documentar os fracos, reconhecendo o imenso valor histórico e científico que eles continham.

Agora, o professor quer viabilizar um projeto que parece ser ainda mais ousado. Ele planeja revisitar os locais originais de coleta para recolher novas amostras. Seu objetivo é obter informações atualizadas sobre o estado atual dos solos e, a partir daí,

promover melhorias. “Com esse trabalho, poderei analisar uma variedade de fatores, desde a espessura do solo superficial até a erosão, passando pela quantidade de carbono e os nutrientes presentes ao longo dos últimos 120 anos de coletas”, disse o professor.

Uma vez coletadas e analisadas, as informações serão incorporadas a um banco de dados abrangente, que ficará disponível para pesquisadores, proprietários de terras e todos aqueles interessados no estudo da terra. Margenot espera que a extraordinária descoberta possa fornecer conhecimentos valiosos para os agricultores, ajudando-os a melhorar as suas práticas agrícolas. O professor dimensiona o seu

achado. “Temos uma oportunidade única de compreender os solos do nosso estado de uma maneira que nenhum outro lugar no mundo terá”, disse.

O interessante é que o celeiro não foi destruído por um triz, o que faria desaparecer para sempre o vasto e histórico material. Margenot visitou o celeiro por acaso, após um compromisso de trabalho ter sido adiado. Sem ter o que fazer, decidiu investigar o que havia dentro da estrutura. “Foi algo absolutamente aleatório”, disse o professor. O caso é tão fantástico que ele já foi sondado por canais de streaming para a produção de um documentário. Se forem analisados pelos olhos atentos da ciência, os solos do planeta, de fato, guardam histórias fantásticas.

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foto: Shutterstock

ESTADOS UNIDOS BILL GATES É AGRO

A maioria das pessoas associa o bilionário americano Bill Gates apenas à Microsoft, a colossal empresa de tecnologia que ele fundou em 1975 na garagem de casa. Gates, contudo, é um entusiasta de diversas áreas de negócios, mas de uns tempos para cá um setor em especial tem chamado a sua atenção: o agro. Confira a seguir as principais apostas do empresário nesse ramo.

PROPRIETÁRIO DE TERRAS

Dados recentes indicam que, na última década, Bill Gates comprou ao menos 100 mil hectares em propriedades rurais localizadas em 18 estados americanos. O pai da Microsoft possui agora mais terras que todos os indígenas nativos americanos. Preocupações com segurança alimentar e mudanças climáticas estariam por trás de suas investidas.

PROJETO NA ÁFRICA

O programa “Agricultural Development”, criado por Gates, tem por objetivo promover a agricultura sustentável e aumentar a produção de alimentos nas regiões mais pobres do mundo. O programa concentra-se no apoio a pequenos agricultores, especialmente da África.

CARNES DE PLANTAS

Gates é um dos principais investidores da empresa americana de biotecnologia Beyond Meat, que se dedica à produção de substitutos de carne à base de plantas. A companhia utiliza ingredientes de origem vegetal, como proteínas de ervilha, feijão e arroz, para criar produtos que imitam a carne animal.

FUNDOS DE INVESTIMENTOS

Criado por Gates em 2015, o fundo Breakthrough Energy Ventures apoia startups que desenvolvem soluções para a redução dos impactos ambientais da produção agrícola. Desde então, o fundo já investiu na empresa de fertilizantes Pivot Bio, na produtora de trigo Kernza e, mais recentemente, na Rize, uma plataforma que ajudará a descarbonizar o cultivo de arroz na Ásia.

CULTURAS RESISTENTES A PRAGAS

O bilionário é o maior investidor do projeto Grand Challenges in Global Health, que banca pesquisas sobre culturas agrícolas geneticamente modificadas e que sejam resistentes a pragas e condições ambientais adversas. Estima-se que, apenas nos dois últimos anos, Gates desembolsou US$ 100 milhões para acelerar o programa.

INTERNET EM ÁREAS RURAIS

A pedido de Gates, a Microsoft criou uma solução, a FarmBeats, que usa espaços livres nas transmissões de canais de TV para fornecer internet a áreas rurais. Além disso, a plataforma conta com um sistema de captura e análise de dados das fazendas que fornece relatórios informativos aos produtores.

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IRAQUE

FRANÇA A PLANTA QUE SUGA POLUENTES

Nos últimos anos, a engenharia genética se tornou uma das novas fronteiras do conhecimento e permitiu que surgissem inovações em diversas áreas. A startup francesa Neoplants criou uma jiboia (planta de nome científico E. aureum) capaz de absorver poluentes do ar. Para que isso fosse possível, os cientistas alteraram o DNA do vegetal. Eles adicionaram 70 mil bases nitrogenadas ao código genético da planta, o que aumentou a sua capacidade de tolerar substâncias tóxicas. O estudo concluiu que a Neo P1, nome dado à jiboia transformada, pode “sugar” do ar quatro substâncias malignas – benzeno, formaldeído, tolueno e xileno. Agora, a ideia da Neoplant é produzir a Neo P1 em larga escala para que qualquer pessoa possa levar para casa a planta purificadora.

A CERVEJA MAIS ANTIGA DO MUNDO

Os primeiros registros de fabricação de cerveja têm aproximadamente 6 mil anos e remetem aos Sumérios, povo que habitava a Mesopotâmia. No entanto, são raríssimos os achados de objetos que comprovam a antiguidade da bebida. Por isso chamou a atenção a descoberta de arqueólogos iraquianos, que encontraram no sítio conhecido como Lagash, entre os rios Tigre e Eufrates, uma estrutura que está sendo considerada o bar mais antigo do mundo. Ela

estava oculta por grossa camada de areia e possuía diversos cômodos ocupados por bancos de pedra, além de uma grande cozinha com forno. Nesse local, os cientistas acharam dez potes com resquícios de uma bebida. Testes feitos em laboratório detectaram a presença de cevada – era, portanto, cerveja. Detalhe importante: os objetos encontrados são datados de 2.700 a.C., o que reforça a teoria de que os humanos antigos costumavam se reunir para tomar umas e outras.

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ERVILHA NO LUGAR DA CARNE

Há três anos, a biólogo inglesa Claire Domoney recebeu uma difícil missão: criar uma ervilha sem seu gosto característico. A proposta veio do instituto John Innes Centre, que buscava alternativas à carne. Como se sabe, ervilhas têm alto teor de proteína e podem ser usadas como substitutas de bifes em pratos vegetarianos. O problema é que muitas pessoas não suportam o seu sabor e foi por isso que Domoney entrou em cena. Depois de exasperantes procuras, ela identificou uma variedade de ervilhas selvagens em que o gene do sabor intenso não funciona. A partir daí, a pesquisadora iniciou um programa de cruzamento de culturas, cujo resultado acaba de ser concluído e deu origem a ervilhas sem suas características originais. Elas também possuem vantagens ecológicas ao repor o nitrogênio e nutrientes do solo.

ESTADOS UNIDOS

QUEDA VERTICAL

Acabou o apelo das fazendas urbanas, que prometiam revolucionar a maneira como a sociedade produz alimentos?

Em junho, a AeroFarms, empresa pioneira no setor de agricultura vertical, pediu falência nos Estados Unidos após suas dívidas ultrapassarem US$ 100 milhões. Outras companhias do ramo também enfrentam dificuldades financeiras. Em abril, a startup de cultivo de alface Kalera buscou proteção judicial e a AppHarvest, que opera estufas de alta tecnologia e é listada em bolsa, recebeu um aviso de inadimplência de um de seus investidores. De fato, o que parecia ser uma grande inovação acabou tornando-se um mico. É caro demais plantar alimentos verticalmente, em lugares pequenos e sob condições climáticas inadequadas. Segundo analistas, houve um entusiasmo exagerado com o setor, e agora alguém precisa pagar a conta.

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REINO UNIDO

SALVEM AS MARIPOSAS

Assim com as abelhas, as mariposas são grandes polinizadoras. Contudo, ninguém parece muito preocupado com o risco de serem extintas. Um estudo recente realizado pela Universidade Sheffield, no Reino Unido, descobriu que, nos últimos 50 anos, a abundância das mariposas no mundo diminuiu em 33%. O fenômeno é alarmante, dado que esses insetos são responsáveis por um terço

NORUEGA

FERTILIZANTE FEITO NA FAZENDA

Fundada em 2010, a agtech norueguesa N2 Applied precisou de mais de uma década para lançar o que considera o seu produto mais inovador: uma tecnologia de produção on farm de fertilizantes. Funciona assim: os dejetos de animais devem ser colocados em um equipamento criado pela empresa. A tal máquina mistura outros compostos orgânicos e, após algumas horas de processamento, ela é capaz de dar origem a adubo rico em nitrogênio. Segundo os criadores do projeto, a solução reduz as emissões de metano e amônia, melhorando, portanto, as condições ambientais das fazendas. Nos últimos dois anos, a N2 recebeu aportes de fundos de investimentos europeus e americanos que totalizaram 20 milhões de euros. Agora a startup se credencia para uma nova rodada de captação de recursos.

das visitas de polinizadores em plantações, flores e árvores em geral. Os pesquisadores também notaram que as mariposas transportam mais pólen e abordam uma variedade maior de árvores frutíferas do que se imaginava. Ou seja: sem elas, a horticultura seria gravemente afetada. Apenas no Reino Unido, existem 2,5 mil espécies de mariposas, contra 250 de abelhas.

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a vez do trigo

Produção do grão quebra recordes no Brasil com o aumento dos investimentos em pesquisa e a criação de novas cultivares

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Empresas e líderes que fazem diferença

foto: Shutterstock

Empresas e líderes que fazem diferença

O MILAGRE DO TRIGO

Com forte investimento em pesquisa e introdução de novas cultivares, Brasil consegue domar o grão e adaptá-lo para o clima tropical

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Ag
foto: Shutterstock

Reportagem de Capa Ag

Paulo Bonato, da fazenda São Nicolau, em Cristalina (GO): em 2021, o gaúcho tornou-se recordista mundial na produção de trigo pelo critério quilos/dia por hectare

A primeira quinzena de maio é época de plantio do trigo de inverno no Planalto Central, uma região no Cerrado brasileiro situada a 800 metros de altitude, com dias quentes e noites frias. É lá que fica a Fazenda São Nicolau, propriedade de Paulo Bonato, situada na cidade de Cristalina (GO). Em 2021, o gaúcho tornou-se recordista mundial na produção de trigo (em quilos/dia por hectare) com 80,9 kg/dia/ha. Numa área irrigada de 51 hectares, a produção somou 9.630 kg por hectare, o equivalente a 160,5 sacas, produzidas em 119 dias. “Esta é a vantagem da nossa agricultura tropical”, diz Paulo Bonato. “Conseguimos encaixar o trigo na rotação de culturas e plantar na mesma área três lavouras por ano.”

O feito só foi possível graças a muita ciência aplicada, desenvolvida pela Embrapa desde a sua criação, na década de 1970. A empresa sempre acreditou ser possível a produção de trigo com qualidade no Cerrado e vem conduzindo trabalhos de pesquisa tanto para a obtenção de novas cultivares quanto para o manejo agrícola. “Nos anos 1980, junto com a Embrapa Trigo, trouxemos cultivares específicas para o calor em parceria com o Centro Internacional de Melhoramento de Trigo do México”, diz o pesquisador Júlio Albrecht, especialista em

melhoramento genético da Embrapa Cerrados. Naquela década, os primeiros trigos lançados pela empresa tinham uma produtividade em torno de 1.500 kg/ha no sequeiro e cerca de 5.000 kg/ha no irrigado. De lá para cá, a seleção continuou e, nos anos 2000, a Embrapa colocou no mercado as cultivares BRS 264 – que garantiu a Bonato o recorde mundial – e BRS 254, ambas para culturas irrigadas. Em 2017, a empresa lançou a BRS 404 para plantios de sequeiro. “A produtividade média das nossas cultivares de trigo irrigado está em torno de 6.000 kg/ha, mas pode ultrapassar 9.500 kg/ha em produtores que usam alta tecnologia”, diz Albrecht. “No trigo safrinha, produzido no sequeiro, está em torno de 2.000 kg/ha, porque depende das condições climáticas. O pesquisador lembra que a média nacional gira em torno de 3.000 kg/ha. “Portanto, a média do Cerrado está bem mais alta do que a nacional”, ressalta. Não por acaso, Celso Moretti, que esteve na presidência da Embrapa até fevereiro de 2023, insistia que, em cinco anos, o Brasil poderia se tornar autossuficiente na produção do cereal, uma das poucas commodities agrícolas que o País importa. O mercado doméstico do Brasil consome em torno de 12 e 13 milhões de tonela-

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das de trigo por ano. De acordo com dados da consultoria Safras & Mercados, tirando os últimos dois anos (2021 e 2022), a produção nacional girava em torno de 6 milhões de toneladas. “Em 2021, o Brasil colheu 7,7 milhões de toneladas do cereal e, no ano passado, alcançou 11,2 milhões”, afirma Elcio Bento, especialista do mercado de trigo da Safras & Mercados.

O aumento foi motivado pela guerra entre Rússia e Ucrânia, que estão entre os cinco maiores produtores de trigo do mundo. “Os preços da tonelada chegaram a R$ 2.300 e agora acomodaram em R$ 1.350, mas a média dos

últimos cinco anos estava abaixo de R$ 1.000”, diz Bento. Outros fatores também contribuíram: no ano passado, a Argentina – um dos principais fornecedores de trigo do Brasil – esperava colher 20 milhões de toneladas, mas teve uma quebra de safra e contabilizou apenas 11,7 milhões. Além disso, é preciso considerar o efeito câmbio. “O dólar acima de R$ 5 favorece a exportação e dificulta a importação, estimulando assim o plantio”, afirma o consultor.

Afinal, até onde a produção de trigo no Cerrado poderá chegar? Segundo previsões, o Brasil deverá colher 12,4 milhões de toneladas em

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PRINCIPALMENTE PARA PANIFICAÇÃO
SEQUIDÃO DA REGIÃO CENTRO-OESTE ESTIMULA A QUALIDADE DO TRIGO,
foto: Divulgação

2023 – 817 mil delas serão produzidas no Cerrado. “A região tem plantado em torno de 250 mil hectares, somando trigo sequeiro e trigo irrigado”, afirma Júlio Albrecht, da Embrapa. “Ainda é uma área pequena, mas temos potencial para produzir até 3 milhões de hectares. Acredito que a autossuficiência de trigo do Brasil passa pela região do Cerrado à medida que lançarmos cultivares mais resistentes a doenças e mais tolerantes à seca. Albrecht acha que, em breve, o Cerrado deverá chegar a 1 milhão de hectares, o que vai contribuir para reduzir as divisas gastas pelo Brasil com a importação de trigo.”

Entre todos os especialistas e agricultores consultados pela reportagem, há uma unanimidade: é inquestionável o potencial agronômico do trigo no Cerrado. “A cultura traz melhorias no solo e uma série de benefícios para as lavouras seguintes, como o aumento de produtividade”, diz

José Guilherme Brenner, produtor de trigo sequeiro no Distrito Federal e presidente da Coopa-DF, uma cooperativa com 190 cooperados – cerca de 40 deles plantam trigo no Planalto Central. “O trigo entra na rotação de cultura, numa janela em que você não consegue plantar o milho”, diz Brenner. “Ele condiciona o solo e consegue controlar bem as plantas invasoras, como o capim-amargoso e o capim-maçambará.”

O potencial agronômico não é o único benefício do trigo no Cerrado. Outro aspecto a se destacar é a condição climática. “Nós colhemos no período de seca, enquanto o Sul colhe na temporada de chuvas”, diz o pesquisador da Embrapa Cerrados. Os gaúchos costumam ter problemas com as micotoxinas, como são chamados os compostos químicos produzidos por fungos, por causa do excesso de tormentas. Por sua vez, a sequidão do Centro-Oeste na colheita estimula a

Reportagem de Capa Ag
foto: Shutterstock

qualidade do trigo, principalmente para panificação. A época da colheita é mais um aspecto favorável. “O trigo safrinha do Cerrado é um dos primeiros a ser colhido no Brasil: iniciamos a colheita em junho e, em agosto, começados a colher o irrigado”, afirma Albrecht. “São épocas em que os moinhos estão desabastecidos, então os produtores conseguem melhores preços no mercado brasileiro.”

Alguns analistas, contudo, consideram o otimismo exagerado. Eles lembram que há uma situação de preços internacionais elevados. “Será preciso ver se o aumento de plantio continuará quando os preços voltarem ao seu leito normal”, pondera o consultor Elcio Bento. Há ainda outras questões, como o custo Brasil. “O trigo que vem da Argentina para São Paulo pelo mar tem um preço mais competitivo em relação ao que vem do Cerrado, via transporte rodoviário. Além disso, há o entrave do ICMS. Seria preciso ter algum incentivo tributário para tirar o trigo do Cerrado e colocá-lo de forma competitiva em outras regiões.”

Para Rubens Barbosa, presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo) e ex-embaixador do Brasil em Londres, é preciso definir melhor a questão da autossuficiência. “Segundo a Embrapa, a nossa produção vai dobrar, de 10 milhões de toneladas para 20 milhões de toneladas nos próximos anos”, diz. “Se isso ocorrer, será muito importante, porque o Brasil se tornará um produtor razoável, do tamanho da Argentina na produção de trigo.”

Barbosa prossegue: “Vamos ter trigo numa quantidade maior do que consumimos, mas isso não quer dizer que não tenhamos de comprar o grão para complementar a produção interna”. Isso ocorrerá, diz ele, por causa do nível das

Júlio Albrecht, da embrapa: "A autossuficiência de trigo do Brasil passa pelo Cerrado, à medida que lançarmos cultivares mais resistentes a doenças"

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EM 2022, BRASIL COLHEU 11,2 MILHÕES DE TONELADAS DO GRÃO, ACIMA DAS 7, 7 MILHÕES EM 2021
foto: Divulgação

EM 2022, O BRASIL EXPORTOU 3 MILHÕES DE TONELADAS, MAS A META É AUMENTAR ESSE NÚMERO

exportações e da utilização do produto para outras finalidades.

Atualmente, há uma diversificação da demanda por trigo no Brasil. Parte do cereal vai para a produção de farinha, outra porcentagem segue para ração animal e o restante tem como destino a exportação. No ano passado, 3 milhões de toneladas de trigo nacional foram enviadas ao exterior. Levando em consideração a dimensão continental do Brasil, as exportações e importações deverão continuar ocorrendo. “Por causa de nossas distâncias, para o Nordeste é mais econômico importar trigo dos

Estados Unidos do que importar da Argentina ou trazer do Rio Grande do Sul”, pondera Barbosa. Além disso, a partir do próximo ano, o Brasil terá uma nova destinação para o trigo. A BSBIOS, uma empresa voltada à produção de biocombustíveis renováveis, deverá inaugurar a primeira usina de etanol de trigo no Rio Grande do Sul. “A ideia da companhia é operar três plantas industriais para fazer etanol, que demandarão 750 mil toneladas do grão.”

Os produtores de trigo no Cerrado deveriam se inspirar na notável trajetória do algodão. Até a década de 1970, o Brasil foi um grande produtor

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Reportagem de Capa Ag

Segundo novas previsões, o Brasil deverá colher 12,4 milhões de toneladas em 2023, sendo que 817 mil delas serão produzidas na região do Cerrado

da pluma, mas, com a chegada da praga bicudo, viu a área plantada cair drasticamente. Na década de 1990, com a abertura econômica, o Brasil se tornou um dos maiores importadores de algodão. Graças ao trabalho de empresas de pesquisa, como a Embrapa, investimentos em novas tecnologias e expansão da cultura para o Centro-Oeste, o Brasil se tornou o segundo maior produtor mundial, só atrás dos Estados Unidos.

Para os especialistas, o Brasil poderia repetir essa trajetória com a ampliação da área cultivada do trigo no Cerrado. Na balança, há três aspectos a favor da região. O primeiro deles é o fato de a Embrapa Cerrados e outras empresas de sementes, como Biotrigo e BR Sementes, estarem focadas no melhoramento genético para o desenvolvimento de cultivares mais resistentes ao calor e a doenças, como a brusone, muito comum

no trigo sequeiro. O segundo fator é igualmente relevante: o Centro-Oeste é um importante mercado consumidor de farinha de trigo e, se começar a ter uma produção constante do cereal, deverá atrair novas indústrias. Um terceiro ponto a se considerar é a busca por sustentabilidade. O trigo, afinal, ajuda a melhorar o solo e auxilia no combate de ervas daninhas.

Não faltam bons exemplos dentro das porteiras. Um dos mais emblemáticos é o do produtor gaúcho Paulo Bonato, que começou a produzir trigo irrigado no Cerrado em 1994 e, desde então, vem quebrando marcas históricas. Em 2021, Bonato produziu 160,5 sacas de trigo em 119 dias, o que rendeu a ele o recorde mundial, com 80,9 quilos de trigo/ha/dia, superando produtores da Nova Zelândia, que atingiram 54,8 kg/ha/dia. Em termos de eficiência produtiva, o

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fotos: Shutterstock

EFICIÊNCIA COMPROVADA

O DESEMPENHO DO TRIGO EM REGIÕES TROPICAIS

BRASIL

(Cristalina-GO)

• 160,5 sacas

• 119 dias

• 80,9 kg/ha/dia

Nova Zelândia

• 289,9 sacas

• 317 dias

• 54,8 kg/ha/dia

Fonte: Embrapa Cerrados

Brasil é imbatível e tem a vantagem de poder utilizar a mesma área para outras duas safras.

Produtor de soja, milho, sorgo e trigo, Bonato planta anualmente 1.000 hectares de grãos – o trigo entra na rotação de culturas. O segredo do alto rendimento está na escolha da cultivar, manejo e gestão acurada. “Em qualquer área de atuação, para ter boa performance é preciso estar embasado por muita tecnologia”, diz Bonato. A área destinada ao cereal vai depender do tamanho do pivô, mas geralmente é algo em torno de 200 hectares. Da semeadura à colheita, tudo é monitorado. “Eu tenho sondas de solo que dizem o momento exato de irrigar e a quanti-

Reportagem de Capa Ag

O TRIGO AJUDA A MELHORAR A QUALIDADE DO SOLO E AUXILIA NO COMBATE DE ERVAS DANINHAS

dade de água”, diz o agricultor. “E ainda monitoro tudo isso pelo celular.”

Outro ponto favorável ao trigo no Cerrado é que muitos moinhos estão com capacidade ociosa. Se houver trigo numa região próxima, essas indústrias deverão absorver a produção. Mas há obstáculos a serem superados. Um deles é a questão da armazenagem. Em geral, quando o trigo do Cerrado é colhido, os silos ainda estão com soja ou milho da safra verão, o que gera uma sobreoferta momentânea do cereal, prejudicando o preço pago ao produtor. No entanto, não há dúvida: com planejamento e políticas de incentivo, o Brasil poderá se tornar protagonista do mercado mundial de trigo.

José Guilherme Brenner, produtor no Distrito Federal: "O trigo entra na rotação de cultura, numa janela em que você não consegue plantar o milho"

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foto: Shutterstock foto: Divulgação
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TUDO SE TRANSFORMA

Na economia circular, resíduos da produção viram fontes de receita e elevam a busca pela sustentabilidade para um novo patamar

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foto:

Nada se perde: a economia circular busca o redesenho de processos, de modelos de negócios e de produtos. Assim, é possível reduzir o uso de matérias-primas

lém de colocar em risco o futuro do planeta, o uso excessivo de recursos naturais nos mais diversos processos produtivos gera resíduos em volumes cada vez maiores. Embora o cenário seja preocupante, a boa notícia é que as empresas têm buscado formas de aumentar o aproveitamento de seus insumos. É a chamada economia circular, que, em resumo, busca o redesenho de processos, de modelos de negócios e dos próprios produtos. Assim, é possível reduzir o uso de matérias-primas e adotar estratégias de negócio mais alinhadas à sustentabilidade ambiental.

O agro é uma das atividades que têm maior vocação para o tema da circularidade. Um dos exemplos mais citados é o da atividade sucroenergética. A palha da cana-de-açúcar é mantida no campo para garantir a proteção e o enriquecimento do solo. Por sua vez, a vinhaça, resultante da produção de açúcar e etanol, é aproveitada como fertilizante. Já o bagaço produz bioeletricidade.

De fato, o agro é circular. “ Nenhum modelo é mais regenerativo do que a agricultura ”, analisa Weber Amaral, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP) e estudioso do tema.

Não se regenera uma mina de carvão ou a extração de metais. A agricultura faz isso, trazendo de volta as propriedades originais do sistema. ” O especialista também aponta a pecuária como um aliado da circularidade.

“ A atividade tem o papel de fertilização com a passagem do gado pela pastagem ”, diz.

Um dos aspectos mais notáveis da economia circular é a possibilidade de resíduos virarem novos produtos. A Atvos, uma das principais produtoras de biocombus -

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O AGRONEGÓCIO BRASILEIRO TORNOU-SE UM CELEIRO DE INICIATIVAS VOLTADAS PARA A ECONOMIA CIRCULAR

tíveis do País, investe no desenvolvimento dessa estratégia em todas as suas unidades agroindustriais. O modelo prevê a utilização plena dos subprodutos originados da moagem da cana-de-açúcar, vinhaça e torta de filtro na adubação das áreas de cultivo.

Na safra 2022/23, a companhia ampliou consideravelmente o uso desses recursos que, afinal, têm alta importância para a nutrição da cana e a fertilização do solo. A vinhaça,

rica em potássio e matéria orgânica, foi aplicada em 91 mil hectares de lavouras no ciclo passado, um aumento de 20% em relação à safra 2021/22. Por sua vez, a torta de filtro, composta por matéria orgânica e minerais como fósforo, nitrogênio e cálcio, foi empregada em 17 mil hectares de canaviais, um crescimento de 41%.

O contexto internacional impulsionou a economia circular. Com a guerra entre Rússia

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Mauricio Harger, diretor-geral da CMPC: 99,6% dos resíduos sólidos gerados pela produção de celulose na unidade de Guaíba (RS) são reciclados e reaproveitados

e Ucrânia, muitos países correram o risco de desabastecimento de fertilizantes, o que obrigou a indústria a encontrar soluções ambientalmente sustentáveis, economicamente viáveis e mais acessíveis para fomentar a produção nos canaviais – a vinhaça e a torta de filtro cumprem bem esse papel. No caso da vinhaça, ressalte-se que as unidades agroindustriais da Atvos realizam a análise do solo em todas as áreas onde o subproduto será aplicado. A partir dos resultados, é possível verificar se aquela região específica pode receber a fertirrigação com o produto.

O agronegócio brasileiro tornou-se um celeiro de iniciativas voltadas para a economia circular. A CMPC Brasil, que atua no setor de papel e celulose, possui um projeto importante nessa área, chamado BioCMPC. Ao todo, 99,6% dos resíduos sólidos gerados pela produção de celulose na unidade de Guaíba, no Rio Grande do Sul, são reciclados e reaproveitados. Com isso, além de evitar o descarte em aterros de 600 mil toneladas de resíduos a cada ano, a CMPC transforma esse material em 13 tipos de produtos, conforme relata o diretor-geral Mauricio Harger.

A empresa dá nova função a materiais como serragem, casca de eucalipto, lodo, lama de cal, cal e cinza, que são utilizados como insumo para fazer cimento, painéis de madeira, adubo e fertilizante voltado tanto à agricultura quanto ao paisagismo. “ Imagine a quantidade de caminhões que seriam necessários para levar esses resíduos para aterros sanitários ”, diz Harger. “ Isso não existe no nosso negócio. Tudo gera receita e evita custos. ” Em 2022, os resíduos transformados resultaram num faturamento de R$ 18 milhões.

Quanto mais diversificada for uma agroindústria, maior é a possibilidade de praticar a circularidade. “A geração de produtos a partir dos resíduos é uma das opções da economia circular, mas não é a que vai trazer mais ganhos”, afirma Aldo Ometto,

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Ambiente
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professor de engenharia da Universidade de São Paulo e professor-visitante da Griffith University (Austrália). “Uma mudança de modelo de negócio, com uma produção mais diversificada e integrada, certamente amplia ainda mais as vantagens.”

A diversificação de forma integrada foi o modelo adotado pela JBS, que começou a praticar a economia circular há 20 anos, mas avançou mais rapidamente a partir do compromisso, anunciado em 2021, de tornar a empresa net zero até 2040. Hoje em dia, o

A JBS COUROS É LÍDER NA INDÚSTRIA COUREIRA, COM

PRESENÇA EM OITO PAÍSES E 5 MIL FUNCIONÁRIOS

Maria Paula Bibar, da JBS Brasil: a empresa começou a praticar a economia circular há 20 anos, mas avançou a partir do compromisso de ser net zero até 2040 fotos: Divulgação

Luz no fim do túnel: crescente adoção da economia circular por empresas, indivíduos e países causará forte impacto na preservação do planeta nos próximos anos

A GOODYEAR LANÇOU UM PNEU QUE USA ÓLEO DE SOJA

COMO SUBSTITUTO DE DERIVADOS DE PETRÓLEO

reaproveitamento dos resíduos da matéria-prima da produção de bovinos é de cerca de 99%.

No caso de suínos e aves, o índice é de 94%.

Ainda assim, há desafios. Maria Paula Bibar, gerente de Sustentabilidade da JBS Brasil, cita os gargalos de logística no País como fatores que atrasam o desenvolvimento da economia circular.

A executiva aponta também a dificuldade de fazer com que os produtos sejam reconhecidos de maneira justa pelo mercado.

“ Embora iniciativas de sustentabilidade que reaproveitem materiais ou matérias-primas sejam valorizadas, há muito espaço para ampliar a penetração dos produtos na indústria e para o público final ”, diz Bibar.

A JBS atua em diferentes frentes. A JBS Couros é líder global na indústria coureira, com escritórios comerciais e plantas industriais em oito países e 5 mil funcionários. Já

a NovaProm, outro negócio do grupo, é produtora de colágeno bovino para a indústria de alimentos e fornece ingredientes com bases proteicas para embutidos, pães e lácteos. Atualmente, sua produção é exportada para cerca de 40 países.

Não é só. Outra empresa do grupo, a JBS Ambiental, tem capacidade anual para reciclar 4 mil toneladas de plástico, 9 mil toneladas de metal e 5 mil toneladas de papel. Seu negócio é voltado à transformação de resíduos em novos produtos e reinseri-los na cadeia de produção da JBS ou de outras indústrias, evitando a geração de resíduos que seriam destinados a aterros sanitários.

A cadeia da economia circular do grupo inclui ainda a JBS Biolins, complexo industrial em Lins (SP) que usa a biomassa para produzir energia elétrica e vapor para o abastecimento de fábricas da Friboi, JBS

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Ambiente Ag

Couros e JBS Novos Negócios. Entre os projetos mais recentes está a Genu-in, que fornece colágeno e gelatina para a indústria farmacêutica e de nutrição, e a Campo Forte, a primeira empresa do País a utilizar resíduos orgânicos para a produção de fertilizantes. Mesmo indústrias que não são ligadas diretamente ao campo buscam soluções que possam vir da agricultura ou pecuária. É o caso da centenária fabricante de pneus Goodyear. A companhia lançou em maio o primeiro pneu produzido no Brasil que usa óleo de soja como substituto de derivados de petróleo. O modelo Wrangler Workhorse AT, usado em picapes e SUVs, promete melhorias, como a dirigibilidade em piso molhado. Segundo a Goodyear, além de se tratar de um composto renovável, o óleo de soja utilizado no Wrangler Workhorse AT oferece melhor performance em diferentes temperaturas, o

que torna o pneu mais aderente à pista. Na época da apresentação da novidade, a gerente sênior de Marketing da divisão de pneus de passeio da Goodyear, Debora Da Cruz, lembrou que a atenção dos consumidores às questões ambientais foi reforçada nos últimos tempos, o que estimulou a empresa a investir no projeto. Há outros programas em andamento. Além do óleo de soja, que gera um excedente usado em aplicações industriais, a fabricante testa em sua atividade fabril a adoção da sílica de casca de arroz, um subproduto que geralmente é descartado em aterros sanitários e leva muito tempo para se decompor.

Empresa controlada pelo grupo alemão MPC, a Oryzasil também aposta no desenvolvimento de pesquisas para transformar a casca de arroz em sílica. Em sua fábrica, localizada em Itaqui, no Rio Grande do Sul –

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ESTUDOS MOSTRAM QUE NENHUM SETOR ECONÔMICO É MAIS REGENERATIVO DO QUE A AGRICULTURA

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Gustavo Porpino, da divisão de Alimentos e Territórios da Embrapa: “Com uma melhor conexão entre os elos da cadeia produtiva, é possível combater a fome”

estado que lidera a produção de arroz do Brasil –, toda a energia é gerada a partir da biomassa da casca da gramínea. Além disso, o produto tem outras utilidades, servindo como base para a produção de tijolo e vidro.

O Brasil está na vanguarda na economia circular. Na Embrapa, uma das linhas de trabalho busca usar o conceito no aproveitamento máximo dos alimentos produzidos no País. Integrante do projeto “Cidades e alimentação: governança e boas práticas para alavancar sistemas alimentares urbanos circulares”, financiado pela União Europeia, Gustavo Porpino, que também é analista da divisão Alimentos e Territórios da Embrapa, explica as diretrizes do projeto.

A linha de trabalho de Porpino inclui o cultivo mais próximo de centros de consumo, uma maior conexão do produtor com o varejista para preservar a qualidade dos alimentos e a sintonia entre o que o consumidor procura e o que vai ser produzido.

“Isso pode mudar a forma de lidar com alimentos próximos do vencimento ou aqueles considerados feios e que acabam descarta-

dos”, diz Porpino. “Com uma melhor conexão entre os elos da cadeia, é possível diminuir o desperdício e combater a fome.”

Weber Amaral, professor da Esalq-USP, acredita no uso da tecnologia para a inclusão de pequenos e médios produtores no mapa da circularidade. Ele lembra que os pesquisadores da universidade têm se dedicado ao desenvolvimento de um aplicativo gamificado. O projeto, já em fase de protótipo, deverá ser concluído ainda no segundo semestre. Entre outros atributos, o app vai permitir aos produtores o monitoramento das diferentes etapas da produção de alimentos.

A ideia é conferir uma pontuação a partir de dados de desmatamento, adoção de agricultura regenerativa, controle biológico, adesão a fertilizantes orgânicos e consumo de água. A partir daí, o app indicará o patamar de sustentabilidade de uma determinada cadeia produtiva. A busca pela sustentabilidade é um caminho sem volta no agronegócio. Nesse contexto, a economia circular terá papel cada vez mais vital.

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SABOR BRASILEIRO

Avanço do mercado nacional de cervejas especiais

leva a um movimento inédito de inovações no setor

P or E vanildo da S ilv E ira

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Inovação Ag

Em 20 anos, de 2001 a 2021, o mercado cervejeiro do Brasil registrou um crescimento explosivo de 3.678%, o que consolidou o País como o terceiro maior produtor do mundo, atrás apenas de China e Estados Unidos. O avanço ocorreu em paralelo ao aumento das exigências dos consumidores por bebidas inovadoras e de melhor qualidade. De posse desses dados, pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP) selecionaram quatro tipos de leveduras para a produção de cervejas, mas que eram normalmente usadas na fermentação da cana-de-açúcar para a fabricação de cachaça. O resultado da inovação é surpreendente. A pesquisa nasceu a partir de uma parceria da Esalq com a startup de produção de

leveduras Smart Yeast, incubada na USP. Para a prospecção de novas linhagens, a pesquisadora Lethicia Suzigan Corniani, que realizou o estudo para sua tese de doutorado em Ciência e Tecnologia de Alimentos, coletou amostras de leveduras em pequenas destilarias da região conhecida como Circuito das Águas Paulistas, no interior de São Paulo. A descoberta das leveduras não foi um trabalho aleatório. “O projeto desde o início foi desenhado para que realizássemos coletas periódicas em alambiques parceiros”, diz Corniani. “Depois disso, levamos as amostras para o laboratório e iniciamos o processo de seleção, isolamento, caracterização, fermentação e, por fim, a produção da cerveja.”

As quatro cepas da espécie Saccharomyces cerevisiae receberam minuciosas avaliações do

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Prospecção: em busca de novas linhagens, os pesquisadores coletaram amostras de leveduras em destilarias da região conhecida como Circuito das Águas Paulistas

ponto de vista genético, fisiológico e tecnológico. Na sequência, foram usadas na produção de cervejas do estilo american blond ale, uma bebida de aparência clara e com espuma muito similar a uma Pilsen, mas menos amarga que uma pale ale. Segundo Cauré Portugal, fundador da startup Smart Yeast, as leveduras selecionadas foram utilizadas para a produção em pequena escala da bebida.

“Conseguimos obter cervejas com características diferentes”, conta. “Consideramos tanto características físico-químicas quanto a avaliação sensorial delas.”

Os pesquisadores concluíram que algumas cervejas podem ter interesse comercial e, portanto, potencial de produção em escala industrial. Testes com cervejeiros indicaram

que elas foram aprovadas na maior parte dos quesitos usados na avaliação sensorial. Três cepas estudadas se mostraram agradáveis ao paladar e apenas uma não foi bem avaliada.

“O próximo passo seria testar as mesmas leveduras em diferentes tipos de malte para encontrar combinações de estilo que valorizem a cerveja e, assim, construir uma gama de produtos nacionais, algo que não existe”, acrescenta Lethicia Corniani. “Mostramos que é possível selecionar leveduras com características e perfis sensoriais adequados para a produção de cerveja artesanal brasileira.”

A pesquisadora explica que as linhagens de leveduras industriais apresentam características genéticas e fisiológicas distintas das leveduras presentes no ambiente natural, conhecidas

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Inovação

como “leveduras selvagens”. Estas últimas são capazes de oferecer benefícios como a produção de aromas e sabores peculiares, podendo ser utilizadas na criação de novos estilos de cerveja e na releitura de estilos históricos. Do ponto de vista comercial, é de grande interesse do mercado cervejeiro explorar a diversidade de leveduras. “O crescente aumento do número de microcervejarias, assim como das variedades de marcas disponíveis no mercado, tem resultado em novas exigências do consumidor, o que também abre espaço para o desenvolvimento de produtos diferentes”, diz Corniani. A cerveja é uma das bebidas alcoólicas mais sensíveis e instáveis que existem. O seu sabor e o aroma podem variar em função de diversos aspectos e influências que ocorrem durante o processo de produção. É aí que entram em ação as leveduras. “O processo de fermentação pode ser considerado o ponto central na produção de qualquer bebida alcoólica, pois é quando ocorre a conversão dos açúcares em etanol e gás carbônico por esses organismos”, detalha a especialista. A concentração, temperatura e duração da fermentação influenciam diretamente nos padrões do metabolismo celular e, por conseguinte, no teor dos compostos produzidos. Por isso, a seleção de linhagens é tão importante no processo de produção de bebida.

Apesar dos bons resultados em laboratório, ainda é cedo para prever quando as cervejas produzidas com as leveduras selecionadas poderão chegar ao mercado. “Nosso laboratório se coloca à disposição das microcervejarias que desejarem e tiverem interesse em avaliar essas leveduras em suas produções”, avisa Portugal, da startup Smart Yeast. “Estamos prontos para oferecer um estilo de cerveja que preencha os

Expansão: o aumento do número de microcervejarias e das variedades de estilos e marcas disponíveis elevaram os níveis de exigências do consumidor

requisitos para uma produção comercial da bebida.” Com o reconhecimento acadêmico, o trabalho poderá ajudar o mercado cervejeiro nacional a se fortalecer. “A diversidade da escola cervejeira brasileira não vem apenas de organismos como leveduras, mas também de frutas, madeiras e matérias-primas tropicais”, reforça Lethicia Corniani.

De acordo com o Anuário da Cerveja 2021, o mais recente divulgado pelo Ministério da Agricultura, em 2021 havia 1.349 cervejarias registradas no País, responsáveis por 35.741 marcas à disposição dos apreciadores da bebida. O número de produtores é ainda maior se forem consideradas as cervejarias ciganas, que terceirizam suas produções em outras cervejarias. Segundo especialistas nesse mercado, o aumento do número de microcervejarias e das variedades de estilos e marcas disponíveis elevaram os níveis de exigências do consumidor, o que abre espaço para o desenvolvimento de novos produtos.

O mercado brasileiro de cervejas está em busca de novidades. Nascido de uma parceria entre as cervejarias Cozalinda, de Florianópolis (SC), e Zalaz, de Paraisópolis (MG), o Projeto Manipueira ambiciona criar uma espécie de “terroir” brasileiro da cerveja. As duas cervejarias têm experiência na produção de bebidas de fermentação selvagem, processo que envolve leveduras locais e não culturas desenvolvidas em laboratório, como ocorre na maior parte da fabricação convencional. A nova proposta, que atraiu aproximadamente 30 cervejarias de diversas regiões brasileiras, é usar a manipueira, líquido extraído da mandioca, para produzir cervejas. Iniciativas como essas mostram que o setor está pronto para viver uma grande revolução.

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A NOVA VOZ DA EMBRAPA

Em entrevista exclusiva, Silvia Massruhá, primeira mulher a presidir a estatal, fala sobre o que pretende fazer para levar a empresa em direção ao futuro

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P or C ésar H. s . r ezende
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Personagem Ag

no ano em que completa exatas cinco décadas, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) passou a ser chefiada, pela primeira vez na história, por uma mulher.

Silvia Maria Fonseca Silveira Massruhá assumiu o cargo em 1º de maio com a promessa de levar a estatal em direção ao futuro.

“Estamos em um mundo em transformação, que demanda constantemente inovação e tecnologia”, disse a executiva, em entrevista exclusiva à PLANT PROJECT.

Doutora em Computação Aplicada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e mestre em Automação pela Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Massruhá ingressou na Embrapa em 1989.

Desde então, participou ativamente de importantes transformações que chegaram ao campo, das primeiras aplicações da informática na produção agropecuária ao advento da internet, das soluções digitais à inteligência artificial. Na entrevista a seguir, Massruhá faz um balanço das atividades da Embrapa, diz o que

pretende fazer para fortalecer parcerias com os protagonistas do agronegócio e fala sobre a formulação de políticas públicas voltadas para o setor. Acompanhe:

DE QUE FORMA A EMBRAPA PODE CONTRIBUIR PARA A FORMULAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS VOLTADAS AO AGRONEGÓCIO?

O papel da ciência é sempre fundamental como subsídio, porque tem a capacidade de antecipar cenários e, assim, contribuir com informações e dados consistentes relacionados às demandas do agro. Prova disso são as constantes demandas de instituições governamentais. Veja o exemplo do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc), instrumento fundamental para orientar produtores na gestão e na adoção de práticas sustentáveis nas respectivas cadeias produtivas. Há muitos outros.

QUAIS?

Um estudo recente conduzido pela Embrapa em parceria com a Agência Nacional de Águas

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e Saneamento Básico (ANA) e mais 21 instituições brasileiras monitorou a pesca profissional na Bacia do Alto Paraguai nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, onde mais de 30 mil pessoas são diretamente dependentes dessa atividade. Os resultados têm subsidiado a ANA e órgãos ambientais estaduais nas tomadas de decisão.

A SUSTENTABILIDADE É UM TEMA PRESENTE NA AGENDA DA EMBRAPA?

A agenda de pesquisa da Embrapa tem na sua essência a base sustentável, porque o cenário de futuro e o compromisso brasileiro com as metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estão vinculados. Entre as nossas contribuições estão as tecnologias de Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN), que só na cultura da soja gera uma economia anual de US$ 15 bilhões. Além disso, temos a edição gênica, que permite a identificação de genes resistentes a estresse hídrico, tropicalização de culturas e novas oportunidades de produção, como o Sisteminha Embrapa no Semiárido.

“As mulheres são parte fundamental do agronegócio brasileiro. Atualmente, de acordo com o IBGE, elas lideram cerca de 30% das propriedades rurais do País”

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Ag

Personagem

“A agenda de pesquisa da Embrapa tem na sua essência a base sustentável. Para isso, é preciso manter a empresa na fronteira do conhecimento e na vanguarda da ciência”

QUAIS SÃO AS PRINCIPAIS INICIATIVAS DA EMBRAPA PARA AJUDAR OS PRODUTORES A LIDAR COM OS DESAFIOS IMPOSTOS PELAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS?

São muitas, mas eu destacaria uma parceria da Embrapa com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que resultou na criação de uma unidade mista de pesquisa de genômica aplicada às mudanças climáticas com o foco na prospecção de genes resistentes a estresses hídricos e a doenças.

A TECNOLOGIA TEM SE TORNADO UM FATOR CADA VEZ MAIS RELEVANTE NO CAMPO. NESSA ÁREA, QUE CONTRIBUIÇÕES A EMBRAPA PODE OFERECER?

A capilaridade de nossas 43 unidades descentralizadas, que, por sua vez, estão em contato com outras instituições de pesquisa e segmentos do setor produtivo, é o principal suporte para que a ciência chegue aonde deve chegar. Recentemente, a Embrapa promoveu a Caravana FertBrasil, uma iniciativa que busca levar informação com foco no aumento da eficiência do uso de fertilizantes e de insumos para a nutrição de plantas. A ação está em andamento em todo o Brasil.

COMO A EMBRAPA TEM BUSCADO INCORPORAR EM SUAS PESQUISAS E PROJETOS AS NECESSIDADES DAS MULHERES NO CAMPO?

Atualmente, a Embrapa conta com o Observatório das Mulheres Rurais do Brasil, que é um grupo que trabalha com dados, análises, diagnósticos e prognósticos para a formulação de políticas públicas em benefício das mulhe -

res que atuam no setor agropecuário, florestal ou aquícola. Além disso, por meio da Rede Embrapa de Mulheres, direcionamos ações voltadas para esse público, cada vez mais presente nas lavouras. As mulheres são parte fundamental do agronegócio brasileiro. Atualmente, cerca de 30% das propriedades rurais são lideradas por mulheres, de acordo com o IBGE.

COMO ESTÁ A PARTICIPAÇÃO FEMININA DENTRO DO QUADRO DE FUNCIONÁRIOS DA EMBRAPA?

Os dados mais recentes mostram que 32% de nosso quadro é formado por mulheres. Na

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diretoria executiva, já somos 40%, mas a meta é aumentar a representatividade para 60%.

NESSE CONTEXTO, O QUE SIGNIFICA PARA A EMBRAPA TER UMA MULHER NA PRESIDÊNCIA PELA PRIMEIRA VEZ NA HISTÓRIA?

Sendo a primeira mulher a assumir o cargo, a responsabilidade só aumenta. Sou pesquisadora da Embrapa há 34 anos, atuando na área de Computação Aplicada à Agricultura, mais especificamente em projetos de inteligência artificial. Independentemente do gênero, acredito que todos devem persistir nos seus sonhos.

QUAIS SÃO AS SUAS EXPECTATIVAS PARA O FUTURO DA INSTITUIÇÃO?

Defendo um amplo e democrático plano de modernização da Embrapa, focado em algumas premissas fundamentais, como o diálogo permanente, a valorização das equipes, uma maior integração entre unidades de pesquisa, a simplificação de processos, a recomposição orçamentária, a ampliação da participação dos empregados nas decisões, entre muitas outras iniciativas. Além disso, é preciso manter a Embrapa na fronteira do conhecimento e na vanguarda da ciência e tecnologia.

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Ag Defensivos
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DEFESA SEGURA

Indústria de defensivos investe em ferramentas digitais e sobe a aposta na integração de tecnologias para aumentar a eficiência na aplicação de seus produtos, reduzir o surgimento de pragas e garantir longevidade às moléculas

Por Romualdo Venâncio

Ag Defensivos

UMA LONGA JORNADA

OS NÚMEROS

SUPERLATIVOS PARA A CRIAÇÃO DE UMA

MOLÉCULA

10 ANOS

é o tempo mínimo necessário, do primeiro teste ao produto no mercado

150 MIL

é o total de moléculas testadas para que se chegue a uma viável comercialmente

US$ 286

MILHÕES

é o investimento feito no desenvolvimento de cada molécula

Fonte: Sindiveg

Odesafio da agricultura de precisão tem dimensões muito particulares para a indústria de defensivos agrícolas. Moléculas que começarem a ser desenvolvidas agora só chegarão ao mercado, como um novo produto, dentro de 10 a 12 anos. Como garantir que daqui a uma década esse insumo terá a eficácia desejada no controle de uma praga? Como ter certeza de que terá vida útil suficiente para cobrir o investimento de recursos financeiros, infraestrutura e pessoas – e ainda ser lucrativo? Segundo Fábio Kagi, gerente de Relações Institucionais do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg), essas são perguntas de US$ 286 milhões, que é o custo aproximado para se chegar a uma nova molécula de defensivo.

Na realidade, a resposta para tais questões passa por toda a cadeia de desenvolvimento desses produtos, desde as pesquisas científicas nos laboratórios dos fabricantes até testes de campo, e avança para a fase de aplicação nas fazendas. O desafio é tornar o manejo de pragas mais preciso, oferecendo soluções digitais para a aplicação de defensivos apenas onde é preciso, no momento certo e na quantidade necessária. A iniciativa traz benefícios para os agricultores, mas também para a própria indústria, na medida em que o aprimoramento do uso dos insumos também reduz a pressão de seleção das pragas e aumenta a vida útil dos defensivos.

O movimento tem sido impulsionado por uma série de fatores, a começar pelos investimentos. Considerando o número informado pelo executivo do Sindiveg e o tempo do ciclo todo, desde a primeira pesquisa até ficar pronto, pode-se dizer, grosso modo, que seriam cerca de US$ 28,6 milhões por ano testando entre 140 mil e 150 mil moléculas para se chegar àquela que vai, de fato, se tornar um produto comercial. “Essa definição acontece com base em diversos pontos, como custo, impactos, eficiência, entre outros”, diz Kagi. Há outros motivos que estimulam a modernização do setor, como a pressão da sociedade para o aumento da segurança alimentar e a busca pela preservação ambiental.

Um dos desafios é manter a longevidade das moléculas, mas não se trata de algo simples. “O Brasil tem todas as condições, como luz, calor e água, para

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alcançar a alta produtividade, mas o clima tropical é muito desafiador”, afirma Marcelo Ismael, diretor de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Divisão de Soluções para Agricultura da Basf América Latina.

Seguindo nessa linha de raciocínio, o surgimento de resistência ao princípio ativo por parte das pragas é uma preocupação legítima.

Quando o defensivo não apresenta o mesmo impacto, é porque pelo menos parte das pragas – insetos, plantas daninhas e doenças – já não se intimida com o produto. “E não adianta aumentar a dose”, afirma José Otávio Machado Menten, professor do Departamento de Fitopatologia e Nematologia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo (Esalq/USP).

“Além de não trazer resultado, sai mais caro e ainda aumenta o risco de contaminação ambiental.” De acordo com Menten, que também é membro do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS), uma das razões para o surgimento da resistência das pragas é a insistência na utilização de um único mecanismo de combate por um período muito longo. O especialista alerta para o fato de que, mesmo com a alternância de moléculas, ainda há

“Uma praga é um ser preparado para sobreviver: ela se reproduz de forma intensa e é natural que cada nova geração esteja mais adaptada às medidas de controle”

Fábio Kagi, executivo do Sindiveg

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risco de as pragas passarem por mutações para sobreviverem. Daí a importância do manejo integrado e da combinação de tecnologias.

Fábio Kagi, do Sindiveg, reforça a ideia. “Uma praga é um ser preparado para sobreviver: ela se reproduz de forma intensa e é natural que cada nova geração esteja mais adaptada às medidas de controle”, comenta. Segundo o executivo, apesar do manejo sanitário, as pragas levam a perdas de 20 a 40% do potencial produtivo das lavouras. A aplicação de defensivos cria uma pressão de seleção sobre esses seres vivos, estimulando sua evolução. Isso faz com que o mecanismo também se volte para a indústria de defensivos, que tem de apresentar novas e melhores soluções. Do lado dos fabricantes, surgem respostas como soluções mais eficientes, que antes eram aplicadas em quilos por hectare e, hoje em dia, chegam à proporção de 50 gramas por hectare. “Imagine distribuir de forma homogênea esse pouquinho de produto em um campo de futebol”, afirma Marcelo Ismael, da Basf.

Pelo lado do agricultor, vem a responsabilidade de utilizar as novas ferramentas de maneira correta e respeitando as regras de manejo, como a implementação da área de refúgio, no caso do plantio de milho com a tecnologia conhecida como “Bt”, resistente a lagartas. “Muitas vezes, o agricultor não usa o refúgio porque a produtividade naquela área será mais baixa”, diz Menten. “Ou pode ser que não acredite nas orientações técnicas sobre os riscos de o produto perder eficiência.”

Com frequência, a indústria de defensivos e o próprio agronegócio têm de responder a questionamentos sobre o impacto dos defensivos na saúde humana e do planeta, por serem insumos tóxicos. Quanto maior for a preocupação socioambiental, mais barulhenta é a pressão. No entanto, como diz a frase atribuída a Philippus Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheim, médico suíço do século 16, conhecido como Paracelso, “a

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Eficiência: o desafio é oferecer soluções digitais para a aplicação de defensivos apenas onde é preciso, no momento certo e na quantidade necessária

UM PASSO DE CADA VEZ

áreas, das plantas daninhas que existem ali e indicamos exatamente onde e como aplicar o insumo”

Marcelo Ismael, diretor da Basf

diferença entre o remédio e o veneno está na dose”. As inovações digitais caminham nesse sentido. Uma solução tecnológica que usa imagens de drones para mapear as lavouras e identificar exatamente onde está o problema a ser combatido, como as plantas daninhas, pode ter impacto significativo na área da sustentabilidade. Estudos mostram que a precisão na aplicação de herbicidas gera uma economia de 360 mil litros de herbicidas e 36 milhões de litros de água a cada mil hectares.

Os resultados representam redução de 61% no consumo desses recursos e foram alcançados nas fazendas que integram a plataforma xarvio, marca global de soluções digitais da Basf, durante todo o período de uso dessa tecnologia – de 2017, quando chegou ao Brasil, até a última safra (2021/22).

“Atualmente, fazemos um mapeamento das áreas,

O CICLO DO DESENVOLVIMENTO DE UM DEFENSIVO

ANÁLISE DE CAMPO

A identificação do problema a ser controlado e combatido é o primeiro passo do processo

SIMULAÇÃO DIGITAL

Realizada em computadores, começa a mostrar as primeiras projeções para o desenvolvimento da nova solução

LABORATÓRIOS

Aqui começam a ser realizados os testes práticos para definir o que segue para avaliação nas plantas

CASAS DE VEGETAÇÃO

Nessas instalações, as moléculas são testadas em uma escala maior e com maiores possibilidades de comparações em situações próximas à realidade de campo

ENSAIOS DE CAMPO

Como o próprio nome diz, essa etapa é o teste para saber se o produto estará, de fato, apto a ser colocado à disposição dos produtores

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“Fazemos o mapeamento das
Fonte: Sindiveg e Basf

Ag Defensivos

UM NEGÓCIO EM EXPANSÃO

O TAMANHO DO MERCADO BRASILEIRO DE BIODEFENSIVOS (SAFRA 2021/22)

R$ 3,3 BILHÕES

é quanto movimenta, a preços pagos pelos produtores (farm gateprice)

R$ 17 BILHÕES

é a estimativa até 2030 (considerando uma taxa de crescimento anual de 23%)

28% é a taxa média de adoção de controle biológico para o total de área plantada (estimada em 85,7 milhões de hectares pela Conab)

Fonte: S&P Global / CropLife

Laboratório de pesquisa global da Basf em Santo Antônio de Posse, no interior paulista: empresa tem ampliado sua aposta em tecnologias digitais a cada safra

das plantas daninhas que existem ali e indicamos exatamente onde e como aplicar o insumo”, afirma Marcelo Ismael, da Basf. A companhia tem ampliado sua aposta em tecnologias digitais a cada safra.

O xarvio trabalha com mapeamento digital inteligente, processando imagens de drones e cruzando dados para oferecer aos clientes o direcionamento para uma diversidade de manejos das lavouras, incluindo a aplicação estratégica dos defensivos. É praticamente um GPS do controle de pragas. Já foram gerados mais de 5 mil mapas, envolvendo 1 milhão de hectares em 350 fazendas de 130 cidades. Para Ismael, essa precisão ganha ainda mais importância por causa das diferentes características da agricultura em cada parte do País. “A cultura da soja não é a mesma no Rio Grande do Sul e no Maranhão, as condições

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climáticas são diferentes”, diz o executivo. “Há muitas variáveis em cada região, como disponibilidade de chuva e temperatura.”

Outro exemplo de avanços nessa área vem da Syngenta Digital, estrutura global de tecnologia e serviços digitais da Syngenta. Durante a sua participação na Agrishow, realizada em Ribeirão Preto (SP), no início do mês de maio, a companhia apresentou uma nova plataforma, a Cropwise, já utilizada em 20 países e que cobre 80 milhões de hectares pelo mundo. De acordo com a empresa, a novidade apresenta oito soluções que atendem produtores rurais de diversas culturas e em todos os momentos da safra, inclusive na hora de usar os defensivos. É o que faz, por exemplo, a ferramenta Cropwise Spray Assist, que sugere os melhores horários para aplicação dos produtos e quais equipamentos e configurações devem ser utilizados para que o manejo seja mais eficiente.

Outro fator que ameaça a validade das moléculas de defensivos é a apresentação de riscos toxicológicos e ambientais. Quando isso ocorre, o produto tem de passar por nova avaliação pelos órgãos responsáveis. Caso os riscos sejam inaceitáveis, ainda que exista eficiência no controle das pragas, o registro pode ser cancelado. Novamente, a pressão da sociedade quanto à sustentabilidade da produção agrícola faz grande diferença e motiva mudanças na legislação. “É preciso avaliar os prós e contras de determinado produto continuar no mercado”, afirma Menten, do CCAS. “Mas é muito importante que a avaliação e as decisões subsequentes sejam tomadas com base técnica e científica.”

O cenário tem se tornado cada vez mais fértil para o crescimento dos bioinsumos e para uma evolução dos defensivos biológicos. “Não há tecnologia que resolva tudo sozinha”, afirma Kagi, do Sindiveg. “A integração das diferentes tecnologias é que vai trazer melhorias e maior longevidade para cada uma delas.” Para ele, o futuro do mercado de defensivos depende dessa integração, como já vem ocorrendo entre químicos e biológicos – tanto é assim que as grandes empresas do setor de químicos passaram a investir em biológi-

cos. “A tecnologia dos biológicos está integrada ao que chamamos de agricultura moderna, e as soluções digitais estão envolvidas nisso”, afirma Amália Borsari, diretora de Biológicos da CropLife. Segundo ela, a combinação de cobranças vindas dos consumidores, do mercado e dos órgãos de controle da cadeia produtiva também serve de combustível para uma arrancada mais forte na evolução do segmento, assim como já ocorre com os químicos. “A exigência por rastreabilidade e certificação é cada vez mais importante.”

De fato, o horizonte para expansão é amplo. Segundo Borsari, as soluções biológicas disponíveis no mercado até o momento cobrem pouco mais de 20% dos alvos. Ainda não há, por exemplo, herbicidas biológicos disponíveis no Brasil. Ao menos por enquanto. “Já existem produtos em fase de testes e, segundo as empresas, podem estar prontos nos próximos dois anos”, comenta a executiva. Grandes mudanças, portanto, surgirão no futuro próximo – e isso é ótimo para o agronegócio brasileiro.

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“A tecnologia dos biológicos está integrada ao que chamamos de agricultura moderna, e as soluções digitais estão envolvidas nisso”
Amália Borsari, diretora da CropLife

A HORA E A VEZ DOS BIOLÓGICOS

Como o Sistema Integrado Koppert permite ao agricultor introduzir soluções biológicas completas – da semente à colheita – no processo de produção agrícola

uando assumiu a gestão da fazenda de sua família, há cinco anos, a produtora rural Hildegard Abt decidiu que faria de tudo para torná-la ainda mais sustentável. Entre outras iniciativas, Abt ampliou o uso de defensivos biológicos na propriedade localizada em Goioxim, no Paraná. “Fiz isso porque sou fã da agricultura regenerativa”, diz. “Esse é um caminho sem volta para todos nós.” Além dos ganhos ambientais, a adoção dos biológicos em associação com os químicos tem contribuído para melhorar a produtividade de suas lavouras de soja e milho.

“Nos próximos cinco anos, pretendo usar apenas biológicos”, projeta a produtora.

Os resultados alcançados até agora e as metas ousadas para o futuro não seriam possíveis sem a colaboração da Koppert, líder do mercado brasileiro em insumos biológicos. A fazenda de Abt é adepta de uma iniciativa conhecida como Sistema Integrado Koppert, que tem levado a grandes transformações na produção agrícola brasileira.

Em linhas gerais, o Sistema Integrado Koppert consiste em um pacote tecnológico para o manejo de pragas e doenças. O modelo criado pela Koppert inclui o tratamento de sementes, monitoramento de lavouras e introdução de

inoculantes, bioativadores, biodefensivos microbiológicos e macrobiológicos nas fazendas, além da liberação destes últimos por drones.

Para simplificar: o Sistema Integrado é uma forma de inserir soluções biológicas completas – da semente à colheita – no modelo de produção convencional já utilizado pelo produtor. Trata-se, de fato, de uma grande e oportuna revolução. “Com o nosso Sistema Integrado, o produtor implementa em sua propriedade todas as tecnologias relacionadas a biológicos”, diz Marcelino Borges de Brito, gerente de Desenvolvimento Agronômico da Koppert Brasil. “Assim, ele aumenta a eficiência agronômica de suas lavouras”, acrescenta Rodrigo Rodrigues, gerente comercial Centro-Sul Brasil e Paraguai da Koppert.

Afinal, quais são os benefícios que, na prática, o Sistema Integrado Koopert traz para os produtores? Em primeiro lugar, está o que se chama de manejo de resistência. Com o passar do tempo, as pragas tornam-se resistentes às moléculas presentes nos defensivos químicos. É aí que o produto biológico entra em ação – ele, em síntese, ajuda a planta a não desenvolver tal resistência.

Outro ponto interessante é que o Marcelino de Brito chama de “efeito simbiótico”. Segundo o

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Q

executivo, os produtos biológicos liberam hormônios que reduzem o estresse da planta. Como consequência desse processo, ela acaba diminuindo o gasto energético necessário para enfrentar pragas e doenças. Com menos estresse, a planta cresce e prospera em velocidade maior.

Um terceiro aspecto é o econômico. Pragas que se tornam resistentes a determinados tipos de moléculas obrigam os agricultores a realizar várias aplicações de defensivos durante o processo produtivo. Com os biológicos, é possível diminuir a quantidade de aplicações, o que provavelmente resultará em custos financeiros menores para os fazendeiros.

No campo econômico, a métrica preferida pela Koppert para mensurar os ganhos proporcionados aos produtores é o ROI (Retorno sobre o Investimento). “Nossos estudos mostram que as soluções biológicas levam a um ROI muito maior quando comparado a ferramentas químicas”, afirma Rodrigo Rodrigues.

O Sistema Integrado Koppert cobre todas as iniciativas relatadas acima. Além de tornar as lavouras mais resistentes ao ataque de pragas e doenças, o programa eleva a sustentabilidade e ecoeficiência da produção. Num sentido mais amplo, gera maior valor agregado ao produto

cultivado, pois traz como premissa central a preocupação ambiental – uma temática, ressalte-se, cada vez mais importante nos dias atuais.

Para Gilmar Colombo, produtor de soja, milho e trigo em Aral Moreira, em Mato Grosso do Sul, uma das vantagens da iniciativa da Koppert é a permanente assistência oferecida pela empresa. “E, quando falo em assistência, não me refiro apenas à aplicação do produto, mas ao acompanhamento de todo o processo”, diz. “Isso traz muita segurança para o produtor rural que ainda não tem muito conhecimento dos biológicos.”

Os especialistas da Koppert lembram também que o Sistema Integrado pode ser usado em diferentes perfis de lavoura, em vários tamanhos de propriedade e em qualquer região brasileira, além de independer do patamar tecnológico da fazenda. “Nesse sentido, é um projeto bastante democrático”, resume Rodrigo Rodrigues.

O mercado de insumos biológicos cresce a taxas anuais de 30% no Brasil. Não é à toa. Com o avanço da agenda ESG, a sigla em inglês para expressar boas práticas ambientais, sociais e de governança, eles certamente terão papel central no desenvolvimento do agronegócio brasileiro. Por isso, iniciativas como o Sistema Integrado Koppert serão cada vez mais indispensáveis.

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Ag Saúde

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O BARATO É CURAR

Avanços na legislação e iniciativas promissoras na produção de medicamentos à base de cannabis despertam o interesse do agro em cultivar a erva

Adiscussão sobre o mercado legal de cannabis no Brasil ganhou novos desdobramentos nos últimos meses. No final de março, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) conferiu a si a prerrogativa de decidir sobre o plantio de cânhamo, variedade da erva com menor índice de THC, substância responsável pelo efeito psicoativo associado ao consumo da maconha. A decisão do STJ poderia uniformizar os processos de autorização, inclusive para pacientes que usam o canabidiol em tratamentos diversos. A ministra Regina Helena fez questão de deixar claro em seu voto que não se trata de uma deliberação sobre a descriminalização do uso recreativo, mas que o objetivo é discutir a fabricação de produtos para fins medicinais, terapêuticos e industriais. Antes, em fevereiro, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, aprovou um projeto de lei que estabe -

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Grande potencial: além de ter um setor agrícola forte e maduro, o Brasil apresenta as condições hídricas, de solo e clima ideais para o plantio da erva

lece a distribuição de medicamentos à base de cannabis para pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), em decisão comemorada por ativistas e empresas do setor.

Apesar dos inegáveis avanços, há um longo caminho até que os novos – e promissores – medicamentos cheguem, sem obstáculos, até as mãos dos pacientes. Contudo, a movimentação já é suficiente para despertar o interesse de produtores rurais sobre o potencial de plantio da erva no País. Com um setor agrícola forte e maduro, o cultivo local da cannabis seria facilmente absorvido, e certamente daria origem a uma produção de alta qualidade. “O Brasil tem tudo para ser uma das principais potências da cannabis no mundo”, afirma Rodolfo Rosato, investidor da empresa TerraCannabis, que ajuda pacientes a realizar os trâmites burocráticos envolvendo importação de medicamentos à base da planta. “Temos aqui as condições hídricas, de terra e clima ideais. Produtores de grandes monoculturas, como soja e feijão, podem plantar a cannabis inclusive na entressafra, porque a planta ajuda a recuperar o solo e oferece renda adicional.”

Diversas iniciativas proporcionam imersões em mercados mais maduros de cannabis. Um desses destinos é o Paraguai, atualmente um dos três principais produtores de cânhamo do mundo, com aproximadamente 5 mil hectares plantados. A Koba Trip, divisão da Koba, empresa de origem paraguaia que possui estrutura completa para o cultivo da cannabis, leva produtores e empresários para participar de palestras e visitas técnicas. Há inclusive um componente social, já que no país vizinho boa parte do manejo é feita por comunidades indígenas e de campesinos, em um projeto chamado Hemp Guarani. As plantas, depois de

colhidas, são vendidas para a indústria, responsável por produtos como óleos essenciais, alimentos e medicamentos. A viagem é realizada em parceria com a AgroTravel, especializada em visitas com foco no agronegócio brasileiro e estrangeiro. Na América do Sul, outros mercados relevantes são o Uruguai, primeiro país do mundo a legalizar o consumo recreativo, e a Colômbia. O principal produtor de cânhamo do planeta, contudo, é a China. Embora os números exatos não sejam divulgados, dados levantados pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos indicam que os chineses são responsáveis por metade de toda a produção de cânhamo do mundo. Cerca de 70% dos insumos são usados na fabricação de fibras, enquanto 7% destinam-se para produtos alimentícios e 5% para extração de CBD. No país da Muralha, uma tradição milenar prevê o uso da erva para uma grande variedade de fins, da medicina à indústria.

Bons exemplos vindos do exterior podem ser usados como inspiração para a futura produção brasileira. Nos Estados Unidos, grandes empresas do setor agrícola produzem cannabis, mas há espaço também para os pequenos agricultores. “Por causa do atraso na legislação, o Brasil perde hoje grandes oportunidades de geração de emprego e impostos”, diz Rodolfo Rosato. No ano passado, a produção anual de cannabis (tanto legal quanto ilegal) atingiu quase 22 mil toneladas em solo americano, segundo dados da consultoria Whitney Economics, especializada no setor.

De acordo com a projeção realizada com base no mercado atual, em 2026 haverá mais

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Diversificação: P rodutores de grandes monoculturas, como soja e feijão, podem plantar a cannabis na entressafra, porque a planta ajuda a recuperar o solo

cannabis legal do que ilegal. Isso é reflexo do aumento do interesse e do uso de produtos com CBD, o canabidiol, uma das substâncias presentes na planta. Segundo o Instituto Gallup, 14% dos adultos americanos já fazem uso de algum derivado de CBD, e o número pula para 20% entre os jovens de 18 a 29 anos.

Atualmente, o cultivo da cannabis e do cânhamo é ilegal no Brasil. A Justiça já emitiu algumas autorizações para entidades que produzem pequenas quantidades destinadas principalmente à fabricação de medicamentos, mas trata-se de número pouco representativo. Uma regulamentação robusta, federal, poderia ampliar a qualidade e a segurança de tudo que é

produzido a partir de cannabis. “Quando falamos em liberação, as pessoas acham que o País vai começar a vender em qualquer lugar, mas não é isso”, afirma a médica Paula Dall’Stella, especialista no tema e integrante do núcleo de Cannabis Medicinal do Hospital Sírio-Libanês. “Precisamos olhar para a questão de forma madura e estabelecer, de maneira clara, o que é cannabis medicinal e o que é uso adulto.” A especialista prossegue no raciocínio. “A partir disso, devemos garantir a segurança dos produtos que são oferecidos aos pacientes, que são a ponta mais fraca da cadeia”, diz Dall’Stella. “A falta de regulamentação federal banaliza o

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Ag Saúde
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assunto e deixa as pessoas vulneráveis.”

Nos últimos anos, os debates em torno da legalização e descriminalização da maconha foram contaminados pelo viés ideológico. Benefícios comprovados pela ciência foram ignorados e dados incorretos sobre os impactos da liberação em outros países viralizaram nas redes sociais. A situação, no entanto, vem mudando de figura e há sinalizações de que a sociedade olha para o tema com menos preconceito. “É preciso entender que a cannabis é uma pauta de enorme importância para a economia do país”, afirma a advogada Bruna Rocha, que recentemente assumiu a direção da Associação Brasileira da Indústria de Canabinóides

(BRCANN), entidade que fomenta o desenvolvimento do setor no Brasil.

Em meados de abril, a Fiocruz emitiu uma nota técnica abordando as evidências científicas encontradas nos tratamentos terapêuticos baseados na cannabis e seus derivados. O documento aponta que é seguro e eficaz usar canabinóides no tratamento de dor crônica, transtornos neuropsiquiátricos, náusea, vômito e perda do apetite em decorrência da quimioterapia. A cannabis, portanto, pode ser forte aliada da saúde. Por isso, ela precisa ser analisada com os olhos da ciência e não a partir de injustificáveis preconceitos.

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PARA O CITI, AGRO BRASILEIRO É VITAL NA CONSTRUÇÃO DE UM FUTURO SUSTENTÁVEL

Banco se torna protagonista da transição energética com a meta de destinar US$ 1 trilhão para projetos ambientais e de impacto social. Parte desses recursos será direcionada para o Brasil

Poucos temas são tão urgentes na nova era ambiental quanto a transição energética para uma economia de baixo carbono. Desenvolver, incentivar e adotar fontes renováveis em substituição aos combustíveis fósseis, introduzir sistemas de produção mais eficientes e realizar a gestão inteligente de resíduos são caminhos inevitáveis para proteger o planeta e assegurar que as futuras gerações possam desfrutar de sua extraordinária biodiversidade.

Nesse contexto, o mundo corporativo exerce papel cada vez mais vital. Ele não apenas pode estimular a adoção de práticas sustentáveis, mas também fornecer os recursos necessários para que novas soluções sejam incorporadas. Atento à nova realidade, o banco americano Citi tem investido na busca por iniciativas capazes de acelerar a inadiável transição energética.

“O Citi se comprometeu a financiar, até 2030, US$ 1 trilhão em todo o mundo em projetos socioambientais”, diz André Cury, head do Commercial Bank do Citi para o Brasil e a América Latina. Entre as iniciativas contempladas, estão investimentos em energia renovável e tecnologia limpa, além de programas de assistência médica e habitação acessível. Para efeito de comparação, o número equivale a quase metade do PIB brasileiro.

A busca do Citi por soluções sustentáveis passa necessariamente pelo agronegócio. Um dos setores mais prósperos e inovadores da economia brasileira, o agro se tornou também indispensável para o alcance de metas ambientais. “Faz todo o sentido ter uma parte desse cheque destinado para o Brasil”, pontua Cury. “O nosso propósito é atender e apoiar companhias que são vencedoras no setor e que geram efetivo

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progresso para a economia e para a sociedade.”

Para ser mais eficaz, a transição energética depende necessariamente de inovações. Nesse sentido, André Cury chama a atenção para o mercado de combustível de aviação sustentável (SAF, na sigla em inglês), uma tendência que deverá se fortalecer no futuro próximo e que pode ter origem, ao menos em parte, nos cultivos brasileiros. “ A oferta de SAF no mundo atualmente é suficiente apenas para atender a demanda de uma companhia aérea americana grande por um dia ”, afirma o executivo. A expectativa é de que um dia soja, cana-de-açúcar e milho possam viabilizar voos mais sustentáveis. “ Com essa escala, é possível ter ideia do tamanho da oportunidade que esse mercado trará. ”

O executivo cita também projetos de hidrogênio verde para abastecer navios cargueiros, o

que certamente provocará uma revolução tanto em termos de redução de emissões quanto em volume de investimentos necessários para desbravar iniciativas nessa área. Neste segmento, mais uma vez, commodities brasileiras, como o etanol, podem ser decisivas para a aplicação em larga escala dessas novas tecnologias, como destacou Cury no painel que moderou durante a 16ª edição do Citi Iso Datagro New York Sugar & Ethanol Conference, evento realizado durante a Brazil Week, em Nova York.

Na ocasião, falou sobre o uso de fontes alternativas de combustíveis, um movimento que certamente ganhará tração no futuro próximo. “Eu vejo essa agenda como uma grande oportunidade para o Citi”, diz o executivo.

O fato de ser o banco mais global do planeta, presente em 95 países, representa um diferencial importante para o Citi – qualquer inovação

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André Cury, head do Commercial Bank do Citi para o Brasil e a América Latina: "O Citi se comprometeu a financiar, até 2030, US$ 1 trilhão em todo o mundo em projetos socioambientais”

que surja, em qualquer região, não deixará de ser notada pela instituição.

Não é de hoje que a operação brasileira do Citi está conectada com o agronegócio. O banco apoia empresas do setor há mais de 40 anos e foi pioneiro em operações de derivativos agrícolas, instrumentos financeiros que protegem produtores e consumidores de commodities como açúcar, soja e milho contra as oscilações de preços. Também fazem parte do portfólio oferecido ao agro brasileiro pelo Citi soluções de cash management e de apoio ao trade.

Para atender as especificidades do segmento, o Citi investiu na formação de times

especializados. Os segmentos de Investment Banking, análise de crédito e de risco, por exemplo, contam com profissionais dedicados ao agronegócio. Além disso, especialistas trabalham focados em iniciativas voltadas para o agro no Paraná e no Rio Grande do Sul – que concentram cooperativas e empresas de biodiesel – e na cidade de Ribeirão Preto (SP), onde um escritório do Citi dedica-se principalmente a olhar para os mercados de açúcar, café e laranja, entre outras culturas. Para atender o setor sucroalcooleiro, que se tornou aliado para a redução de gases do efeito estufa, existem ainda equipes de

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atendimento no Centro-Oeste e Nordeste.

Em 2021, no auge das aberturas de capital, o banco participou de algumas das mais importantes operações do setor. O Citi foi um dos coordenadores da oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês) da Jalles, uma das principais produtoras de açúcar e etanol do Brasil, que levantou na ocasião R$ 741,5 milhões. Também em 2021, coordenou o IPO da 3tentos Agroindustrial, empresa que vende insumos agrícolas e transforma grãos de soja em farelo e biodiesel, numa operação que movimentou R$ 1,3 bilhão. No mesmo ano, o banco foi um dos coordenadores da oferta da

Vittia, empresa de insumos de alta tecnologia para a agricultura, em um processo que arrecadou R$ 382 milhões.

Em maior ou menor grau, o etanol da Jalles, o biodiesel da 3tentos e os insumos biológicos da Vittia são exemplos concretos da vocação do agronegócio brasileiro para impulsionar projetos sustentáveis. Os exemplos “verdes” se sucedem. Em 2022, o Citi coordenou a emissão de US$ 300 milhões em bonds da Usina Coruripe, maior grupo sucroenergético do Nordeste. O futuro do agronegócio é sustentável. Isso é ótimo para o Citi, mas melhor ainda para o planeta.

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A SAFRA DOS VENTOS

Uma das principais fontes da matriz elétrica brasileira, energia eólica avança no País e começa a ganhar espaço também no agronegócio

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Energia Ag

na nova era ambiental, agronegócio e sustentabilidade se tornaram temas indissociáveis. Tanto é assim que, na última Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (COP-27), realizada no final do ano passado, os especialistas reforçaram que o combate às mudanças climáticas passa necessariamente pela transformação da produção agropecuária. Reconhecido como um dos celeiros do mundo, o Brasil está cumprindo bem o seu papel nessa discussão.

Além de possuir um rigoroso código florestal, que busca o equilíbrio entre a preservação ambiental e a produção agrícola, o País se destaca na geração de energia renovável, cada vez mais indispensável para a redução das emissões de gases de efeito estufa

(GEE). Nesse campo, poucos setores avançaram tanto nos últimos anos – e demonstraram potencial para acelerar ainda mais – quanto a produção de energia eólica.

“A energia eólica já ocupa a segunda posição na matriz elétrica do País, ficando atrás apenas da hidrelétrica”, afirma Elbia Gannoum, presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica). Atualmente, lembra a executiva, o segmento responde por 12,5% da matriz elétrica nacional. Portanto, não deve mais ser tratado como uma alternativa – trata-se, acima de tudo, de uma realidade consolidada.

De acordo com dados da ABEEólica, o Brasil encerrou o ano de 2022 com uma capacidade instalada de produção de 24,1 gigawatts (GW), o suficiente para colocar o País em sexto lugar

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Vigor: o Brasil encerrou 2022 com capacidade instalada de 24,1 gigawatts (GW), o suficiente para colocar o País em sexto lugar entre os maiores produtores globais

entre os maiores produtores globais. O desempenho é fruto da presença de 9.970 aerogeradores distribuídos em 869 parques eólicos espalhados por 12 estados brasileiros. “Ainda há mercado para crescer, especialmente com a chegada das eólicas offshore”, acrescenta Gannoum, que agora integra o Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável (CDESS), o chamado “Conselhão”.

A primeira turbina eólica entrou em operação no Brasil em 1992. No entanto, foi apenas em 2009 que ocorreu o primeiro leilão exclusivo para comercialização desse tipo de fonte no País. Desde então, os ventos tornaram-se cada vez mais favoráveis. Na última década, o setor recebeu US$ 42,3 bilhões em investimentos. A meteórica ascensão permitiu ao Brasil

gerar 72,2 TWh de energia eólica em 2021, o suficiente para abastecer 108 milhões de pessoas e 36,2 milhões de residências, de acordo com dados da ABEEólica. Segundo a entidade, a energia gerada por fontes eólicas evitou naquele ano a emissão de 34,4 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera – para efeito de comparação, o Brasil emitiu 2,42 bilhões de GEE em 2021.

Em 2023, espera-se que o Brasil alcance novos recordes de produção, especialmente no segundo semestre, quando a incidência de ventos é maior. Isso será importante para garantir preços mais competitivos e reduzir a necessidade de contratação de usinas termelétricas, que têm custos mais elevados para os consumidores, conforme ressalta a presidente da ABEEólica.

Assim como todos os outros setores

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econômicos, o agronegócio também se beneficia da energia eólica. O uso de fontes renováveis impulsiona o desenvolvimento das atividades no campo, ao mesmo tempo que contribui para a compensação de créditos de carbono. Portanto, a força dos ventos pode ser um diferencial competitivo nas exportações.

Um aspecto interessante apontado pela executiva diz respeito à possibilidade de produtores rurais que possuem propriedades em regiões com boa incidência de ventos cederem terras para a instalação de aerogeradores. Além de aumentar a renda com o aluguel dessas áreas, eles podem prosseguir normalmente com as atividades agrícolas e pecuárias – as torres, afinal, ocupam espaço físico reduzido, sem causar prejuízo algum para a produção agrícola.

Embora o mercado seja promissor, é preciso lembrar que ele está repleto de desafios. “A energia eólica requer investimentos significativos e a instalação é uma das etapas mais complexas e caras de todo o processo”, diz Evandro Medeiros Braz, engenheiro civil com mais de 20 anos de experiência no setor. “Um

Benefícios: fonte de energia renovável e de baixa emissão de carbono, ela ajudará o Brasil a cumprir as novas metas estabelecidas pelo Acordo do Clima

aerogerador custa entre R$ 15 milhões e R$ 20 milhões. Se considerarmos um parque eólico de pequeno porte, com dez aerogeradores, estamos falando de um investimento inicial bastante elevado, da ordem de R$ 200 milhões.”

Com os custos elevados, o desenvolvimento da energia eólica depende necessariamente dos leilões promovidos pelo governo e das linhas de financiamento oferecidas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Para participar desses leilões, os investidores devem apresentar três anos de medições de vento em suas áreas, o que comprovaria ao governo e ao BNDES que aquele local será produtivo.

A energia eólica, jovem e já consolidada no cenário nacional, está avançando rapidamente para ampliar sua participação na matriz elétrica brasileira. Seus benefícios, como fonte de energia renovável e de baixa emissão de carbono, contribuem para que o Brasil alcance seus objetivos no Acordo do Clima e seja cada vez mais reconhecido como um exemplo de produtor sustentável no cenário agrícola global.

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Nos holofotes:

Por que Mato Grosso do Sul tornou-se o grande protagonista da nova novela da Globo

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As regiões produtoras do mundo

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As regiões produtoras do mundo

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Os atores Charles Fricks ( à esq. ) e Cauã Reymond: enredo mostra a rotina de produtores rurais de Nova Primavera, cidade fictícia inspirada em Dourados

CENAS DOS PRÓXIMOS CAPÍTULOS

Nova novela da TV Globo mostra por que o Mato Grosso do Sul se tornou uma das principais referências do Brasil em inovação no campo

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As cenas externas, gravadas em fazendas de Dourados e Deodápolis, mostram o papel da tecnologia na rotina dos produtores rurais. Máquinas agrícolas de última geração – filmadas durante operações corriqueiras nas propriedades, drones trabalhando sem cessar nos céus que emolduram as fazendas e o controle da produção rural por computadores e celulares traduzem o extraordinário patamar tecnológico do agronegócio sul-mato-grossense. A soja é destaque no estado, que também brilha no plantio de milho, cana-de-açúcar e na criação de bovinos, suínos e aves, entre muitas outras atividades ligadas ao campo.

A pujança do agro no Mato Grosso do Sul é o pano de fundo da novela Terra e Paixão, que estreou em maio no horário nobre da TV Globo. Escrita pelo dramaturgo Walcyr Carrasco, ela mostra a rotina de produtores rurais de Nova Primavera, cidade fictícia inspirada em Dourados, em Mato Grosso do Sul. “Meu tio foi missionário em Dourados ”, disse Carrasco em entrevista exclusiva à PLANT PROJECT, explicando por que decidiu encarar o projeto. “Quando eu era criança, lembro que fui visitá-lo com a minha mãe. Foi uma viagem inesquecível, que me marcou muito. Foi quando conheci a famosa terra roxa, ou, como também se diz, terra vermelha, conhecida por ser muito fértil. Isso ficou em minha memória. ”

A decisão da Globo em focar suas lentes no agronegócio tem razão de ser.

Além de ser o principal setor da economia nacional, o agro sempre foi eficaz em fisgar audiência. Exibida em 1990, na extinta TV Manchete, a novela Pantanal, escrita pelo genial Benedito Ruy Barbosa, foi um marco da televisão brasileira, levando milhões de pessoas a acompanhar a trama protagonizada por Juma (interpretada na ocasião por Cristiana Oliveira). Três décadas depois, a Globo decidiu recriar a história, e a nova versão de Pantanal mais uma vez quebrou recordes de audiência.

Agora, a ideia de Terra e Paixão é mostrar como a inovação impulsionou o agro no Mato Grosso do Sul. Superintendente do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar/MS), Lucas Galvan traduz a força local com números. “De 1992 a 2022, a área cultivada em Mato Grosso do Sul aumentou 2,5 vezes, enquanto a produção cresceu 5 vezes”, diz. “Isso foi consequência do avanço de 78% de produtividade no período. A tecnologia e a pesquisa no campo foram os principais impulsionadores da expansão agropecuária no nosso estado.”

A soja é a maior responsável pela melhora na performance do estado, com crescimento do Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) acima da média nacional. Em 2023, o Ministério da Agricultura projeta que o Mato Grosso do Sul chegue a R$ 75,79 bilhões de VBP, um aumento de 7% em comparação com 2022. Já o VBP nacional deve ser de R$ 1,229 trilhão, o que corresponde a uma alta

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A atriz Barbara Reis: ideia de Terra e Paixão é mostrar como a inovação impulsionou o agro em Mato Grosso do Sul

de 4,7% na mesma base comparativa.

A chuva nos períodos mais esperados pelos sojicultores sul-mato-grossenses contribuiu para a produtividade média ponderada alcançar mais um recorde. Entre a safra 2012/13 e a safra 2022/23, a área plantada aumentou 90,7%, enquanto a produção disparou 148,1%.

Não à toa, o Mato Grosso do Sul passou nos últimos anos a atrair a atenção de produtores de diversas regiões do País. Juliano Schmaedecke, 51 anos, saiu com a família do interior do Rio Grande do Sul aos 4 anos. Seu pai buscava terras mais baratas e as encontrou no Centro-Oeste brasileiro. Com o tempo, os negócios prosperaram. Atualmente, Schmaedecke se dedica ao cultivo de soja e milho em Sidrolândia, num total de 2,5 mil hectares de plantação.

O agricultor viveu diferentes fases na lida com o campo. Há alguns anos, a falta de acesso entre a propriedade e as cidades maiores atrapalhava até as atividades mais simples, como a ida à oficina mecânica para trocar peças dos maquinários. Ele cita ainda a dificuldade na obtenção de crédito entre o final dos anos 1990 e 2000. “Hoje, os tempos são outro s”, diz Schmaedecke. Além da infraestrutura logística melhor, o produtor destaca a notável tecnologia embarcada nos equipamentos como um fator decisivo na evolução da atividade agrícola local.

Presidente do Sindicato Rural de Campo Grande, Alessandro Coelho faz parte da quinta geração de produtores rurais de sua família. Formado em Direito, ele chegou a atuar como advogado nas áreas trabalhista e

Lucas Galvan, do Senar/MS: "de 1992 a 2022, a área cultivada em Mato Grosso do Sul aumentou 2,5 vezes, enquanto a produção cresceu 5 vezes”

ambiental, até que decidiu se dedicar ao agro – primeiro trabalhando com corretagem, quando a bolsa de mercadorias tinha acabado de se instalar no estado. Depois, foi ajudar o tio no dia a dia da propriedade.

Segundo Coelho, quem trabalha no campo sofre a pressão contínua para acelerar a produtividade. Por isso, a adoção permanente de novas tecnologias – exatamente um dos focos da nova novela global – é o único caminho possível. Ele se dedica à pecuária de corte e de leite, além do plantio de milho, sorgo, soja e feijão, entre outras culturas. De acordo com o presidente do Sindicato Rural, produtores mais velhos enfrentam dificuldades para incorporar recursos da nova era digital, como o uso de aplicativos no acompanhamento da evolução das plantas. Mas ninguém quer ficar para trás.

Nesse contexto, os produtores da região investem milhões de reais em novidades que têm maior aderência ao negócio. “Depois da ciência da Medicina, eu diria que a ciência rural viu mais avanços em termos de tecnologia nos últimos anos”, diz Coelho. “São investimentos gigantescos, mas sabemos que, depois que a tecnologia é adquirida pelo produtor, leva tempo até que haja uma adaptação, inclusive com a preparação dos funcionários. Podem ser necessárias de duas a quatro safras para treinar uma equipe .”

Se hoje quem atua no campo sul-mato-grossense incorporou o que o mercado chama de tecnologia 4.0 – como a agricultura de precisão, uso de plantadeiras com controle de cultura,

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Fr Mato Grosso do Sul
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Tony Ramos no papel do fazendeiro Antônio La Selva: muitas cenas foram filmadas durante operações corriqueiras nas propriedades fotos: Divulgação

pulverização com imagens de satélite e drones, entre outros dispositivos –, não vai demorar muito para a tecnologia 5.0 ganhar espaço, com a disseminação de recursos atrelados à inteligência artificial. Na suinocultura, por exemplo, já estão em uso alimentadores automáticos dos animais e até um regulador de temperatura que pode aquecer os leitões. “Uma tecnologia desse tipo reduz as perdas de leitõezinhos de 10% para 1%”, diz Coelho.

A tecnologia é especialmente importante em uma região com características peculiares, como é o caso do Mato Grosso do Sul. “Por ser um estado de grande extensão territorial e com diferentes condições climáticas, as novas tecnologias são indispensáveis”, afirma Lucas Galvan, do Senar/MS. Ele aponta o melhoramento genético como uma ferramenta vital para aproveitar ao máximo as potencialidades produtivas da região. “O desenvolvimento de novas variedades das principais culturas também foi responsável pelos avanços em nosso estado.”

As preocupações ambientais estão igualmen-

te no horizonte dos produtores locais. Em novembro de 2021, o governo de Mato Grosso do Sul oficializou a meta de neutralizar a emissão de gases de efeito estufa (GEE) até 2030 por meio do programa Proclima. A proposta passa pelo agronegócio. Se implementado, o plano vai forçar uma série de mudanças no dia a dia de quem trabalha no campo.

O Proclima prevê que, em um prazo de nove anos, o governo de Mato Grosso do Sul atingirá o estágio de Emissão Líquida Zero (ELZ, ou carbono neutro). Para chegar a essa meta, foram definidas diversas iniciativas. Entre elas, estão o controle da queima de resíduos agrícolas, a restauração de Áreas de Preservação

Permanente (APP) e reservas legais, o apoio à produção de energia renovável, o tratamento de resíduos e a criação de processos que estimulem programas de eficiência energética. Ou seja, o Mato Grosso do Sul não quer ser reconhecido apenas como uma região de grande vocação agrícola, mas também se tornar um exemplo de preservação ambiental.

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Fr Mato Grosso do Sul fotos: Divulgação

“A AGRICULTURA ME FASCINA”

EM ENTREVISTA EXCLUSIVA, WALCYR CARRASCO, AUTOR DA NOVELA TERRA E PAIXÃO, DIZ POR QUE O AGRO É FONTE DE INSPIRAÇÃO

ALEMBRANÇA

DE INFÂNCIA DE UMA VISITA A DOURADOS FOI TÃO MARCANTE PARA WALCYR CARRASCO QUE, DÉCADAS DEPOIS, O EPISÓDIO SERVIU DE INSPIRAÇÃO PARA QUE ESCREVESSE TERRA E PAIXÃO, NOVELA QUE ESTREOU EM MAIO NA FAIXA NOBRE DAS 21 HORAS, NA TV GLOBO. NA ENTREVISTA A SEGUIR, CARRASCO FALA DE SEU CONTATO COM O CAMPO, DO PAPEL DA TECNOLOGIA NO AGRO E SOBRE A IMPORTÂNCIA DA ATIVIDADE AGRÍCOLA NO ENREDO DE SUA OBRA

POR QUE O AMBIENTE DO AGRONEGÓCIO FOI INSERIDO NA NOVELA?

Nasci no interior de São Paulo, em Bernardino de Campos, e fui criado em Marília. Meus avós vieram da Espanha para trabalhar no campo. A agricultura me fascina e descobrir o nível de tecnologia a que se chegou nos dias atuais foi surpreendente.

COMO SURGIU A IDEIA DE AMBIENTAR TERRA E PAIXÃO EM MATO GROSSO DO SUL?

Meu tio foi missionário em Dourados (MS). Quando eu era criança, lembro que fui visitá-lo com a minha mãe. Foi uma viagem inesquecível, que me marcou muito. Foi quando conheci a famosa terra roxa, ou, como também se diz, terra vermelha, conhecida por ser muito fértil. Isso ficou em minha memória.

COMO FOI O SEU CONTATO COM A TECNOLOGIA?

Voltei ao Mato Grosso do Sul duas vezes e realmente fiquei fascinado pela tecnologia implantada na agricultura nos dias atuais. Subi em uma colheitadeira que, só para chegar na cabine, tinha dois lances de escada. Descobri um computador que monitorava todo o mecanismo da máquina e seus resultados. Foi uma experiência única, que me impactou.

POR QUE COLOCAR ISSO NA TELEVISÃO?

Vi um Brasil que eu pouco conhecia e imaginei que seria um bom cenário para a trama dos personagens. Um país que, assim como eu, muitas pessoas não conhecem, porque poucas vezes foi mostrado dessa maneira na televisão.

QUAL É A RELEVÂNCIA DA ATIVIDADE AGRÍCOLA NA HISTÓRIA?

Terra e Paixão fala do amor pela terra. É uma novela clássica, que mostra a força do amor e da superação. O enredo traz uma luta por herança dentro do ambiente agrícola, de uma maneira que não estamos acostumados a ver em novelas. Na trama, Caio (Cauã Reymond) cuida da plantação e apresenta novas tecnologias para o pai, Antônio (Tony Ramos), como o uso de drones. É a face do produtor rural moderno, que acredita na evolução tecnológica e no futuro do agro.

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O FUTURO É VERDE

Nova edição da Fenasucro & Agrocana reforça o papel cada vez mais relevante da bioenergética

Um estudo recente realizado pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad) constatou a força da produção bioenergética no Brasil. De acordo com o levantamento, o País ocupa o segundo lugar no ranking global que avaliou dados como capacidade instalada e índice de inovação no setor. O resultado chama ainda mais a atenção considerando o número de nações que foram avaliadas para a elaboração da lista – 166 ao todo. “É preciso aproveitar as oportunidades econômicas que estão sendo criadas por essa revolução tecnológica”, disse Rebeca Grynspan, secretária-geral da Unctad, no evento de apresentação de resultados do estudo. “Além do aspecto econômico, a bioenergia tem alto valor ambiental.”

De fato, o Brasil está na vanguarda da produ-

ção bioenergética, tendo se tornado nos últimos anos um celeiro de inovações nesse segmento. Boa parte delas marcará presença na 29ª edição da Fenasucro & Agrocana, a maior feira do mundo voltada exclusivamente à cadeia de produção bioenergética.

Realizado pelo CEISE Br e promovido e organizado pela RX Brasil, o evento ocorrerá entre 15 e 18 de agosto no Centro de Eventos Zanini, em Sertãozinho, no interior paulista. Segundo os organizadores, contará com a presença de profissionais de usinas, indústrias de alimentos e bebidas, papel e celulose, transporte e logística, além de distribuidoras e comercializadoras de energia. A expectativa é de que representantes de ao menos 42 países participem do encontro.

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“ Em 2023, vamos trazer novas experiências e atrações para manter o público engajado na causa da energia limpa e da sustentabilidade, que são caminhos sem volta para todas as indústrias ”, afirma Paulo Montabone, diretor da Fenasucro & Agrocana. Desta vez, a feira internacional terá como presidente de honra Evandro Gussi, presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica).

Obtida a partir de fontes biológicas, principalmente biomassa e materiais orgânicos renováveis, a bioenergia tem grande vocação sustentável. A conversão de biomassa em biocombustíveis líquidos, como etanol e biodiesel, é uma de suas aplicações mais comuns – e bastante disseminada no Brasil.

Na nova era ambiental, em que as preocupações com a preservação do planeta ganharam relevância, a bioenergia tem encontrado cada vez mais espaço para prosperar. “Essa discussão deixou a esfera regional e chegou ao mundo inteiro”, diz o consultor Eduardo Tancinsky. “Todos os debates sobre o futuro do planeta passam necessariamente pela ampliação do uso de energia limpa.”

Nesse contexto, eventos como a Fenasucro & Agrocana passarão a exercer papel cada vez mais relevante. Na edição 2022, 48 mil pessoas participaram da feira, que movimentou um total de R$ 5,2 bilhões em negócios. Em 2023, a expectativa é de quebrar essas marcas. A julgar pelo crescente interesse pela produção bioenergética, elas certamente serão batidas.

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foto: Shutterstock

F FORUM o

Ideias e debates com credibilidade

foto: Shutterstock
“A Chiquita não deixa dúvidas de que a construção de marcas rurais é fruto de investimento constante, com ações consistentes, criativas e que se atualizam às pencas para atender o apetite do público”

UMA DEGUSTAÇÃO DE MARKETING A PREÇO DE BANANA

RICARDO CAMPO*

De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a banana é a fruta fresca mais consumida no mundo. Além de ser um dos maiores consumidores globais, o Brasil é o quarto maior produtor, com 6,6 milhões de toneladas produzidas em mais de 450 mil hectares, sendo metade desse total representada pela agricultura de pequena escala.

No País, pelo que informa a Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), 98% da produção é consumida in natura e os outros 2% na forma de alimentos processados como chips, doces, banana-passa, flocos, farinha e outras variações.

Ao longo da história, a bananicultura vem sendo puxada pelo continente asiático e pelas Américas, com China, Índia, Indonésia, Brasil e Equador como grandes expoentes. Devido ao seu preço acessível, a banana tem um importante papel social e, como destaca a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO, na sigla em inglês), a fruta é cultivada e consumida como um dos principais alimentos nas dietas de base das populações da África e em países em desenvolvimento da Ásia, América Latina e do Caribe.

Segundo a Abrafrutas, a banana que conhecemos hoje é resultado da domesticação e combinação de mutações das espécies Musa acuminata e Musa balbisiana, que levaram a fruta a

ser identificada atualmente como Musa spp. É um produto rural frequente em nosso cotidiano, de alto consumo e amplamente conhecido pelas nações. Será que dá para deixar esse ícone natural ainda mais atraente? Olha a banana, olha o bananeiro!

Uma musa entre as frutas

“Chiquita” é uma marca criada em 1944, mas com negócios que têm origem em 1870 com a formação de uma empresa americana para exportação e distribuição de frutas do Caribe, a United Fruit Company. A personagem Miss Chiquita, criada em referência direta à musa Carmen Miranda, embalou o público americano com seus jingles, campanhas criativas e seguiu conquistando outros mercados internacionais.

Em 2014, já operando como Chiquita Brands e detendo 22% do mercado mundial de bananas, a empresa foi adquirida pela brasileira Cutrale e Banco Safra, numa tacada conjunta de US$ 1,3 bilhão (Yes, nós temos bananas!). Com uma linha de produtos com variedades convencionais e orgânicas, colhidas nas Américas Central e do Sul, a companhia emprega atualmente 18 mil pessoas e seus produtos estão presentes em cerca de 70 países.

Além do trabalho de qualidade para cultivo e seleção onde tem originação, Chiquita investe firme em campanhas de comunicação, patrocínio esportivo de torneios de tênis

*Ricardo Campo é coordenador de inovação digital da Raízen e líder do Pulse Hub. Especialista em marketing e inovação do agronegócio, ajuda a conectar o campo à cidade, aproximando startups e produtores rurais. É graduado em Propaganda e Marketing pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, especialista em Marketing de Varejo pelo Centro Universitário Senac, com MBA em Marketing pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e mestrando em Administração pela Esalq-USP. Também atuou nos times de marketing da DSM/Tortuga e do Rabobank Brasil.

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e provas de maratona, ativações em pontos de venda e em locais públicos de circulação massiva, como nas ruas de Londres com o envelopamento do famoso ônibus de dois andares.

A marca também realiza ações de marketing, como o apoio à prevenção do câncer de mama e o empoderamento de comunidades rurais. E isso reforça que o seu legado não é consequência apenas dos investimentos em branding, mas passa pelo seu compromisso com os aspectos de produção socioambiental certificada pela Rainforest Alliance, Global GAP e SA 8000, um padrão internacional que visa melhorar as condições de trabalho ao redor do mundo.

E por falar em certificação e selos que atribuem valor, todas as frutas vendidas pela empresa levam um selo azul, o “Blue Sticker”, que há muito tempo funciona como um sinalizador de qualidade e procedência de seus produtos. É algo que faz a diferença em cachos

Marca global: a companhia emprega 18 mil pessoas e seus produtos estão presentes em 70 países

ou para mercados em que a banana é vendida em unidades, e a peso de ouro, na forma “Singles to go”.

Além de variações descoladas do selo, com releituras da mascote da marca com os traços de Leonardo da Vinci e sua Monalisa, ele tem sido utilizado como ativador de campanhas digitais via QR Code para interação com apps para divulgação de receitas com uso de banana e playlists do Spotify para ampliar a experiência do preparo ou durante atividades físicas (fica a dica da trilha “Chiquita Tropical Vibes”).

É plantando que se colhe

Marcas fortes são mais resistentes a crises, geram valor com sua reputação, criam laços intangíveis e convertem consumidores em leais seguidores que curtem e compartilham, espontaneamente, as suas experiências de uso ou consumo. O branding, que é um dos ativos do marketing para a gestão

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Fo

de marcas e geração de valor, já está presente entre os principais agentes do agronegócio, antes e depois da porteira, mas pode ganhar mais relevância entre os produtores rurais, de forma individual ou coletiva.

Já nos servem de inspiração Juan Valdez e o “Café da Colômbia”, os “Avocados do México” e os “Kiwis Zespri”, da Nova Zelândia. Nessa arena global, já temos representantes que levam a qualidade dos produtos brasileiros com ações de branding para conquistar posições além das fronteiras, como a Itaueira e o seu “Melão Rei”, o Café da Região do Cerrado Mineiro (com denominação

Ousadia: ativações em locais de circulação massiva, como nas ruas de Londres com o envelopamento do ônibus de dois andares

de origem) e o Açaí da Oakberry. A Chiquita não deixa dúvidas de que a construção de marcas rurais é fruto de investimento constante na curva do tempo, com ações consistentes, criativas e que se atualizam às pencas para atender o apetite do público. O case é relevante por mostrar como uma empresa praticamente se apropriou da imagem de uma commodity agrícola popular e icônica, fazendo da fruta que leva o seu selo um sinônimo de categoria nos mercados em que atua. É a musa das frutas nos ensinando que resultado, em marketing, não se faz a preço de banana.

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Um brinde ao requinte:

Enoturismo voltado para a alta renda ganha adeptos na Europa e na América do Sul

WORLD FAIR

WA grande feira mundial do estilo e do consumo

foto: Shutterstock

As regiões produtoras do mundo

LUXO NOS VINHEDOS

Para fisgar o público de alta renda, vinícolas de renome na Europa e na América do Sul investem em experiências turísticas cada vez mais sofisticadas

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W WORLD FAIR
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Vista aérea da Quinta da Pacheca: localizada na cidade de Lamego, em Portugal, a vinícola fundada em 1738 foi pioneira em receber turistas foto: Divulgação

Quando a Quinta do Portal abriu as portas de seu centro de visitantes, em 1996, havia poucas opções de enoturismo na região do Douro, em Portugal. A vinícola tinha sido oficialmente criada em 1994 e, por ser tão nova no mercado, buscou algo inovador que pudesse efetivamente cativar os clientes. Entre outras iniciativas, a empresa decidiu criar um espaço para que turistas pudessem parar e provar os vinhos ali produzidos. Entusiasmada com o projeto, a família Mansilha Branco, dona da propriedade, contratou o arquiteto português Siza Vieira, vencedor do Prêmio Pritzker, o mais importante da arquitetura, para desenhar uma

nova adega. O edifício, inaugurado em 2010, se transformou em ponto turístico por si só.

Em seguida, os donos inauguraram o hotel cuja temática, obviamente, é o vinho, com quartos que têm nomes de castas usadas na produção da bebida. O antigo centro de visitantes foi convertido em um restaurante e, assim, a Quinta do Portal adotou de vez sua vocação turística.

Atualmente, o espaço recebe pessoas de vários lugares do mundo e é reconhecido como uma referência do enoturismo de luxo. Alguns visitantes querem passar apenas uma noite em meio à paisagem deslumbrante do Douro,

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Piquenique na Quinta do Portal, na região do Douro ( à esq. ) e dormitórios em formato de barris na Pacheca: mercado em ascensão atrai cada vez mais visitantes

considerado Patrimônio da Humanidade pela Unesco. Outros preferem mergulhar na produção dos vinhos, discutindo com o enólogo cada etapa do processo. “Entendemos que era preciso fazer algo vocacionado ao amante do vinho, mas não só”, afirma Manuel Castro Ribeiro, diretor-geral da Quinta do Portal.

Por isso, há uma clara divergência do que fazemos em relação ao enoturismo tradicional.”

Além da experiência na vinícola, há trilhas desafiadoras para ciclistas, passeios de barco pelo Douro e outras atividades focadas na família.

Trata-se de um exemplo de como o enoturismo avançou em poucas décadas. Agora, além de

atrair os aficionados do vinho, oferece experiências luxuosas para um público mais abrangente. Portugal tem se especializado em oferecer um perfil de acomodações que mesclam requinte e atividades familiares. O Douro, em especial, é um dos principais destinos. Além da beleza natural da região, seus vinhos são famosos no mundo inteiro pela qualidade. Não à toa, a região tornou-se um dos destinos favoritos dos brasileiros.

“Talvez por termos a mesma língua, ou talvez por partilharmos de uma gênese histórica, os brasileiros sentem-se muito à vontade conosco e nós, com eles”, afirma Sandra Dias, diretora de enoturismo da Quinta da Pacheca.

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fotos: Divulgação

Localizada na cidade de Lamego, na margem leste do rio Douro, a vinícola funciona desde 1738 e também foi pioneira em buscar meios de receber os turistas. Primeiro, vieram os estrangeiros, especialmente franceses, ingleses e suíços. Hoje em dia, a infraestrutura conta com um prédio clássico, a antiga propriedade da família convertida em hotel, ou ainda acomodações mais modernas e convencionais. Para os mais aventureiros, há dez quartos instalados em enormes barris de madeira no meio dos vinhedos. Não é preciso abrir mão do luxo, no entanto, para aproveitar a bela vista. Mesmo em formato de barris, os dormitórios são

equipados com todo o conforto necessário.

Outros países de tradição vitivinícola, como a França, também têm uma rede de turismo de luxo focada em experiências ao redor do vinho. É possível se hospedar em villas na região da Provença, no sudeste do país, famosa pelas belezas naturais e pelo delicado vinho rosé. Ou, melhor ainda, contratar uma agência como a Bordeaux Concierge, que desenvolve pacotes sob medida para cada cliente, planejando as estadias em hotéis sofisticados e degustações dos rótulos exclusivos de Bordeaux, Champagne ou Cognac.

Para uma experiência verdadeiramente

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foto: Divulgação

Hotel da vinícola espanhola Marqués de Riscal: desenhado pelo premiado arquiteto canadense Frank Gehry, o espaço tem visual estonteante e estrutura luxuosa

inusitada, a vinícola espanhola Marqués de Riscal, que desde 1858 produz rótulos importantes na região de Rioja, associou-se à rede de hotéis Marriott. Desenhado pelo arquiteto canadense Frank O. Gehry, também vencedor do Pritzker por trabalhos como o Museu Guggenheim Bilbao, o Hotel Marqués de Riscal tem um visual estonteante e uma estrutura luxuosa, incluindo suítes VIP com uma vista para La Rioja e para o País Basco, além de restaurante com uma estrela no guia Michelin, spa e espaço para eventos e casamentos. Mais perto do Brasil, a Argentina tem sido um destino procurado em razão do custo/benefício

oferecido pelos vinhos produzidos por lá. Recentemente, o país elevou a qualidade do enoturismo local para oferecer experiências mais luxuosas. A Bodega Catena Zapata – que, além da importância histórica, produz alguns dos melhores vinhos do país – inaugurou no final do ano passado o restaurante Angelica Cocina Maestra. Em poucos meses, tornou-se o mais disputado do país por preparar menus de alta gastronomia em múltiplas etapas, harmonizados com os rótulos próprios. A Kaiken segue caminho semelhante. A vinícola abriu o Ramos Generales, restaurante com menu assinado pelo chef Francis Mallmann, mestre do churrasco

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Restaurante Angelica Cocina Maestra, inaugurado pela Bodega Catena Zapata na Argentina: seus menus de alta gastronomia estão entre os mais procurados do país

argentino conhecido pelas receitas que prepara usando diferentes técnicas com fogo.

Todas as atrações dividem o espaço com o protagonista dos passeios – o vinho, mas tornam a experiência mais completa. Há um certo esnobismo envolvendo o vinho, e as complexidades de denominações, variedades de uvas e técnicas de produção afastam novos públicos. Ao oferecer o prazer da viagem, com passeios divertidos, boa comida e visual exuberante, as vinícolas abrem caminho para um novo perfil de visitante, que, cativado, vai associar cada garrafa às boas lembranças do período de lazer. “O vinho sempre foi um ponto de contato, um tema de conversas ao redor de uma refeição”, diz Manuel Castro Ribeiro, da Quinta do Portal. “O que fazemos é mostrar que existe em torno de cada garrafa uma história para ser contada.” O enoturismo de luxo está aí para confirmar essa teoria.

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Enoturismo W
foto: Divulgação

Para ser visto:

Arte indígena ganha espaço em alguns dos mais importantes museus do Brasil

rUm campo para o melhor da cultura

AARTE

RETRATO DOS NOVOS TEMPOS

Exposições de artistas e coletivos indígenas ocupam alguns dos mais importantes museus do Brasil e mostram a notável diversidade da produção cultural do País

Por André Sollitto

Para o povo Huni Kuin, que vive em aldeias à beira dos rios Tarauacá, Jordão, Breu, Muru, Envira, Humaitá e Purus, no Acre, a principal forma de transmissão de conhecimento é o canto. As palavras, entoadas em ritmos específicos, ajudam a guiar as visões – ou mirações, como são chamadas – despertadas pelo uso da ayahuasca. De acordo com sua concepção xamânica, o mundo espiritual, ou yuxin, não é algo sobrenatural. Ele permeia toda a vida na Terra, das plantas aos animais e humanos. É na viagem espiritual que os Huni Kuin buscam sabedoria.

Para evitar que essa tradição desapareça, o líder e artista local Ibã Huni Kuin fundou um movimento conhecido como Mahku (Movimento dos Artistas Huni Kuin). A partir de pesquisas que fazia para resgatar cantos tradicionais, ele buscou formas de perpetuar os ritos de seu povo. Para traduzir os cantos e experiências psicodélicas em artes visuais, recorreu ao uso de lápis e canetinhas usadas pelos alunos das escolas da região. Assim, reproduzia no papel as cores vívidas do contato com o mundo espiritual.

Aos poucos, o movimento ganhou força,

recebeu novos artistas e passou a explorar outros meios, como o uso de telas e tintas. Agora, uma exposição que recupera os 12 anos dessa história ocupa o segundo subsolo do Masp, em São Paulo. A mostra Mahku: Mirações apresentou, em um dos mais importantes museus do País, 108 trabalhos dos artistas Huni Kuin.

A exposição integra o ano da programação do Masp dedicado ao ciclo “Histórias Indígenas”, que prevê outras mostras temáticas. Originalmente prevista para ocorrer em 2021, precisou ser remarcada por causa da pandemia. Ao mesmo tempo, outro espaço do museu é ocupado por obras de Carmézia Emiliano, da etnia Macuxi, pioneira em adotar as artes plásticas como forma de manifestação cultural indígena. As obras das duas exposições são muito diferentes. Carmézia usa a arte para mostrar os costumes de sua etnia, além da fauna, flora e belezas naturais de Roraima.

A agricultura, na forma do alimento que vem da terra, e os saberes manuais envolvidos na transformação da mandioca também ocupam papel central em seu trabalho. São retratos

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Exposição rA

intrincados dos costumes de um povo que foram eternizados nas telas. Já a produção do Mahku é uma explosão de cores que mescla visões fantásticas das lendas e ritos dos Huni Kuin. Nos dois casos, no entanto, as cores vibrantes e a aparente simplicidade da representação humana produzem um choque cultural que deixa clara a distância desses artistas do cânone ocidental – e o quanto isso é importante.

Há um movimento crescente de valorização da arte indígena, com diversas iniciativas em museus espalhados por São Paulo. Na Pinacoteca, a instalação Escola Panapaná, do artista

Quadro de Ibã Huni Kuin: artista inspira-se nos cantos e experiências psicodélicas de seu povo

Denilson Baniwa, propõe um espaço de troca de experiências e aprendizados, com cursos, encontros e palestras inspirados na prática da coivara, técnica agrícola de preparação e cultivo da lavoura por comunidades tradicionais. No Itaú Cultural, a exposição Um Século de Agora reuniu 25 artistas contemporâneos, incluindo representantes indígenas, como Carmézia e Denilson Baniwa. “Há uma tendência de afirmação da cultura indígena que, de fato, era muito urgente”, diz Guilherme Giufrida, curador-assistente da mostra Mahke: Mirações “O movimento é necessário e bem-vindo.”

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fotos: Divulgação

O objetivo é mostrar que, além da missão de guardar e preservar, os museus podem ser instituições vivas, que acompanham as mudanças do tempo e retratam uma sociedade em constante mutação. Há espaço para apresentar novos artistas e os meios diferentes de se fazer arte. “Ao expor obras indígenas no museu, elas aparecem em pé de igualdade com outras pinturas do acervo”, diz Giufrida. Para as etnias indígenas, é uma forma de manter tradições vivas e evitar que elas sumam.

Os museus passam por grandes transformações. Na Europa, há um movimento crescente de reavaliação dos acervos, principalmente de museus de origem colonial, que têm em exposição milhões de itens saqueados de países da África, da Ásia e das Américas. A discussão gira em torno do que fazer com essas peças. Alguns defendem que é melhor mantê-las, mas contextualizar a aquisição de cada uma. Outros são a favor de uma decisão mais radical, que envolve a devolução dos itens para suas terras de origem. “Vivemos um momento muito rico de reelaboração das coleções”, afirma Giufrida.

Por enquanto, pouco foi feito além dos debates. Em novembro do ano passado, o Museu

Telas de Carmézia Emiliano (imagens menores) e quadro produzido pelo Movimento dos Artistas Huni Kuin: obras indígenas passaram a ser valorizadas na Europa

Britânico devolveu para a Nigéria, após grande pressão, seis peças saqueadas por soldados ingleses no século 19. Foi o primeiro gesto do tipo realizado pela famosa instituição inglesa, mas há outras disputas em curso, inclusive a demanda da Grécia para que artefatos de mármore do Parthenon, em exposição no Museu Britânico, sejam devolvidos.

Discutir o que fazer com acervos coloniais e inserir a produção cultural indígena na programação dos museus é o primeiro passo. Segundo especialistas, contudo, é preciso fazer mais, como ampliar a diversidade dos corpos curatoriais e dar mais espaço para artistas de regiões consideradas periféricas. Material não falta. “Os artistas indígenas brasileiros têm se articulado com produções e criações singulares e potentes, que não passarão despercebidas pelo mundo”, escrevem Edson Kayapó, Kássia Borges Karajá e Renata Tupinambá no catálogo da exposição Mahku: Mirações. “A mudança proposta é pensar um mundo menos ocidentalizado, em favor de histórias da arte mais abrangentes, com outros olhares.” Com isso, reafirme-se, a sociedade só tem a ganhar.

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Mundo digital

Como o metaverso está se tornando a nova fronteira tecnológica do agronegócio brasileiro

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As inovações para o futuro da produção
foto: Shutterstock

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Realidade aumentada: para especialistas, o novo ambiente virtual provocará impacto tão grande no mundo dos negócios e na vida em sociedade quanto a internet

As inovações para o futuro da produção
foto: Shutterstock

O METAVERSO ENTRA EM CAMPO

Com o aumento da conectividade nas áreas rurais, a nova tecnologia começa a ser usada também no agronegócio. E o Brasil está na vanguarda da nova era

Por Rodrigo Ribeiro
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Nos últimos dois anos, o metaverso se tornou uma nova fronteira tecnológica. Não é para menos. O ambiente virtual no qual pessoas de carne e osso são capazes de viajar por cenários diversos, interagir entre si, negociar bens e realizar outras transações financeiras representa, de fato, extraordinária revolução. Embora o desenvolvimento do metaverso esteja ainda na sua fase inicial, ele já começa a provocar grandes transformações em diversos setores econômicos. No agronegócio, não é diferente.

Com o aumento da conectividade no campo –fenômeno que se intensifica a cada ano nas áreas rurais brasileiras –, a nova tecnologia passou a ser considerada pelos protagonistas do setor como uma porta repleta de oportunidades. “O metaverso poderá repetir em poucos anos o impacto monumental que a internet provocou no mundo dos negócios”, diz o consultor Eduardo Tancinsky, especializado em tecnologia. “Estamos prestes a ingressar em uma nova era.”

Como um dos protagonistas do agronegócio global, o Brasil lidera projetos importantes na área. Desde o final do ano passado, observa-se no agro um movimento que busca fisgar oportunidades trazidas pela nova tecnologia. Uma das iniciativas em curso é o Brasil Agriland, um espaço de relacionamento composto por auditório, local reservado para exposições de produtos e outros ambientes imersivos voltados para profissionais do setor agrícola – tudo isso, claro, reunido no mesmo universo virtual.

O Agriland foi gestado no hub Agribusiness, que pertence à DC Set, um dos principais grupos de entretenimento do Brasil. Segundo o empresário Bruno Wegmann, sócio da empresa, uma das ideias é criar um ambiente voltado para a capacitação de profissionais de alguma maneira conectados com o ecossistema agrícola, algo fundamental em um setor que não para de crescer e gerar novas frentes de negócios. O projeto será chamado de “Vila do Conhecimento” e deverá contar com o

apoio de universidades e centros de pesquisa. Num passo mais ambicioso, o ambiente poderá oferecer formação acadêmica na área agrícola.

De fato, o metaverso é um campo aberto para inúmeras possibilidades. Outra iniciativa que começou a ser gestada recentemente é o Agrispace, desenvolvido pela agtech Culte e que mira principalmente o compartilhamento de tecnologias. Nesse ambiente, os produtores também poderão simular diferentes práticas agrícolas e dividir experiências sobre a gestão de propriedades rurais.

É fácil entender como o Agrispace funciona. Nele, os produtores simulam, por exemplo, diferentes tipos de colheita nas mais diversas condições de solo e clima. Além disso, os fornecedores de tecnologia poderão apresentar suas soluções e ferramentas, demonstrando como elas melhoram a eficiência e a produtividade das lavouras.

Para o consultor Eduardo Tancinsky, esse é um caminho sem volta. “À medida que a conectividade avança no campo, o metaverso tende a se tornar uma das tecnologias dominantes”, diz. “Acredito

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especialmente no potencial educativo dos ambientes virtuais. Em todas as regiões do País, será possível capacitar produtores ou qualquer profissional que atue dentro das porteiras.”

De fato, projetos de aprendizado têm sido o principal foco dos metaversos agrícolas. É assim nos Estados Unidos e na China, que lideram o desenvolvimento desses sistemas. No Brasil, o AgroVersus, metaverso criado pela agência Casa Mais, pretende lançar programas de treinamento destinados a profissionais do campo. A iniciativa também ambiciona ser referência no armazenamento de dados. Em um menu de navegação, por exemplo, o produtor poderá acessar informações sobre pragas e descobrir como combatê-las.

Como não poderia deixar de ser, o sonho de replicar a vida real em um ambiente virtual atraiu a atenção das principais empresas de tecnologia do mundo. Apple, Google e Microsoft, para citar apenas algumas, destinam todos os anos bilhões de dólares para desenvolver a chamada Web 3.0. O

maior entusiasta da inovação é o americano Mark Zuckerberg, que até mudou o nome de sua empresa, o Facebook, para Meta, de forma a reforçar sua aposta nos universos virtuais. Até agora, Zuckerberg despejou nada menos do que US$ 10 bilhões no Horizon Worlds, como é chamado o metaverso da Meta.

O termo “metaverso” foi criado há três décadas pelo escritor americano Neal Stephenson no romance Snow Crash, publicado em 1992. No cinema, os filmes Matrix, de 1999, e Jogador Número 1, de 2018, exploraram o conceito de maneira genial. O embrião do metaverso nasceu em 2003. Trata-se do game Second Life, um ambiente interativo 3D que permitia a socialização entre avatares. Contudo, os recursos tecnológicos limitados da época impediram que o projeto seguisse adiante. Agora, equipamentos como novos óculos de realidade virtual associados à maior cobertura de conectividade deverão fazer a tecnologia deslanchar. E o agronegócio está pronto para aproveitar a onda.

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Investimento robusto: o metaverso seduziu empresas como Apple, Google e Microsoft, que destinam todos os anos bilhões de dólares para desenvolver a Web 3.0 foto: Shutterstock Patrocínio

TIM REAFIRMA SEU PROTAGONISMO NO AGRONEGÓCIO

Operadora celebra na Agrishow 2023 a marca de 14,4 milhões de hectares cobertos pela tecnologia 4G e anuncia parcerias que reforçam a sua atuação em um dos setores mais dinâmicos da economia brasileira

Maior feira do agronegócio brasileiro, a Agrishow destacou-se nos últimos anos por proporcionar aos participantes a oportunidade de trocar conhecimento, fechar negócios e capturar tendências que impulsionarão a produtividade no campo. Nesse contexto, a quarta participação da TIM no evento realizado na primeira semana de maio ficou marcada por uma série de parcerias e conquistas que reforçam a atuação da TIM em apoiar um dos setores mais dinâmicos da economia brasileira.

Um dos destaques da presença da TIM foi o anúncio do aumento de sua cobertura 4G no campo. São agora 14,4 milhões de hectares cobertos pela tecnologia e mais de 1 milhão de pessoas beneficiadas. E não para por aí. A intenção é chegar ao final do ano cobrindo 16 milhões de hectares, o que significará um alcance histórico – o número, afinal, equivale a 20% da área agricultável do Brasil.

Outros dois grandes anúncios foram feitos durante o evento. O Grupo Progresso, referência em cultivo de grãos no Piauí, oficializou a TIM como fornecedora de mais de 36 mil hectares de área plantada no estado. Por sua vez, a KPMG, uma das maiores consultorias de negócios do mundo, se uniu à operadora para desenvolver

projetos integrados para o agronegócio. Entre outros objetivos, a parceria entre TIM e KPMG nasce com a missão de levar inovação ao campo por meio da análise de dados extraídos da operação agrícola, transformando-os em insights e informações estratégias. É fácil entender como o acordo deverá funcionar. Em paralelo à instalação de equipamentos como antena, torre e outros dispositivos, serão desenvolvidos estudos de viabilidade para a implementação de uma rede tecnológica customizada de acordo com as necessidades de uma área específica. A estratégia permite usar os dados de maneira inteligente e, assim, levar a tomadas de decisão mais assertivas. Além disso, a população vizinha também será beneficiada com cobertura de qualidade.

Sob diversos aspectos, a atuação marcante da operadora na Agrishow 2023 confirma a importância da conectividade para a expansão do agronegócio brasileiro. “A Agrishow é um espaço de grande visibilidade”, afirma Paulo Humberto Gouvea, diretor de Soluções Corporativas da TIM Brasil. “Temos a oportunidade de conversar com parceiros e mostrar soluções que fazem a diferença. Estamos colhendo os frutos de um trabalho que nos coloca na vanguarda do setor.”

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Como empresa líder na cobertura 4G no campo, a TIM apresentou em seu estande uma série de soluções inovadoras. Uma delas é o projeto conhecido como “Site Nômade”, criado para fornecer conectividade 4G onde não há infraestrutura de antenas. O equipamento funciona em um semirreboque que pode ser levado para qualquer lugar. Versátil, o “Site Nômade” também é capaz de adaptar-se a diferentes condições de terreno e estrutura. Ele foi apresentado pela primeira vez na Agrishow, o que comprova a relevância do evento para a operadora. Agora, o próximo passo é introduzi-lo nas diversas regiões produtivas do País. “O, Site Nômade, pode atender à demanda de conectividade para diferentes propriedades, e estamos prontos para levar o melhor 4G do País para onde for necessário”, afirma Gouvea.

A atuação da TIM no agronegócio é, de fato, abrangente. Durante a feira, a empresa também apresentou soluções de IoT, incluindo demonstrações inéditas com o 5G. Entre as atividades realizadas no estande, destacaram-se o uso de Realidade Aumentada e Realidade Assistida. A tecnologia possui inúmeros atributos. Ela auxilia, por exemplo, na manutenção de equipamentos e no monitoramento de fazendas,

corrige falhas em locais distantes ou com acesso restrito e pode ser usada na gestão de frotas, facilitando a operação logística.

A Agrishow também foi vital para a TIM apresentar parcerias que ao longo dos anos vem construindo com outros protagonistas do agronegócio brasileiro. A empresa participou de inúmeras atividades da ConectarAgro, associação civil sem fins lucrativos que busca promover a expansão da conectividade no campo.

Diversas empresas marcaram presença no estande da operadora. A PrimeBuilder apresentou sua solução de automação logística Low-Code, que permite acompanhar, em tempo real, as várias etapas do processo de distribuição de mercadorias e gestão de frotas. De seu lado, a fabricante Case IH levou as soluções do portfólio AgXtend, que oferece tecnologia para todas as etapas do ciclo da cultura, incluindo radiografia de solo, geração de mapas e medição da qualidade dos grãos. Por sua vez, IBM e Sonda demonstraram como o 5G potencializa e habilita novas soluções com o uso de Nuvem e Inteligência Artificial. Não há dúvida: A TIM está no centro das transformações que levam o agronegócio brasileiro para uma nova era.

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CADA VEZ MAIS VERDE

Citi Iso Datagro NY 2023 abordou temas vitais para o setor sucroenergético mundial, dos desafios e oportunidades do consumo de açúcar ao papel central dos biocombustíveis no processo de descarbonização

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um evento para a história. Foi essa a percepção generalizada entre os participantes da 16ª Citi Iso Datagro New York Sugar & Ethanol Conference, realizada em 4 de maio. Com a presença de pelo menos 420 convidados, foi a maior edição do evento que reuniu, uma vez mais, os principais tomadores de decisão do setor sucroenergético mundial, entre produtores, executivos, dirigentes setoriais, acadêmicos e autoridades.

Reconhecido como o evento técnico oficial do New York Sugar Dinner, o Citi Iso Datagro 2023 abordou os mais relevantes assuntos da agenda do segmento em nível global – dos desafios e oportunidades do consumo de açúcar, passando pelo papel central dos biocombustíveis no processo de descarbonização, até as perspectivas de desenvolvimento do hidrogênio verde a partir de base agrícola.

Com a presença do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, o Citi Iso Datagro reafirmou a importância do diálogo entre o setor público e o privado para a promoção e o desenvolvimento da cadeia produtiva sucroenergética.

Além de Lira, destaca-se também a participação de Arnaldo Jardim, deputado federal e presidente da Frente Parlamentar do Setor Sucroenergético; Pedro Robério de Melo Nogueira, vice-presidente do Conselho Temático da Agroindústria (Coagro) da Confederação Nacional da Indústria (CNI); Adalnio Senna Ganem, cônsul-geral do Brasil em Nova York; Zé Vitor, deputado federal; Guilherme Nastari, diretor da Datagro; e Mário Campos Filho, presidente do Fórum Nacional Sucroenergético (FNS) e da Siamig Bioenergia.

PARA CITI, CENÁRIO DAS COMMODITIES É FAVORÁVEL

Na abertura do evento, o economista-chefe do Citi para a América Latina, Ernesto Revilla, discorreu sobre as perspectivas econômicas da região. Segundo ele, mesmo em um cenário global de incertezas, em um contexto

de inflação elevada e aperto monetário, a conjuntura de preços das commodities permanece favorável para os países latinos. Em relação ao Brasil, o Citi prevê crescimento do PIB de 0,3% em 2023, contra 2,9% em 2022. Por sua vez, a estimativa é de avanço de 1,5% em 2024. Para o México, segunda maior economia da região, a previsão é de alta de 1,9% no PIB deste ano, contra 3,1% de 2022. Para 2024, o Citi projeta incremento de 1,5%.

No que diz respeito ao câmbio, Revilla acredita em taxas estáveis ao longo do ano contra o dólar, com exceção do peso argentino. Estima-se que o PIB da Argentina registre queda de 4,2% em 2023, com uma taxa de inflação anual próxima a 120%.

DATAGRO PROJETA SAFRA DE CANA 2023/24

DO CENTRO-SUL DO BRASIL EM 598,50 MILHÕES DE TONELADAS

As estimativas da Datagro para a safra de cana 2023/24 foram divulgadas na 16ª Citi Iso Datagro New York Sugar & Ethanol Conference. A safra 2023/24 de cana do Centro-Sul do Brasil é projetada pela Datagro em 598,50 milhões de toneladas, o que representaria uma alta de 9,2% ante a temporada anterior, com um mix açucareiro de 48,2%.

Em relação à produção de açúcar, estima-se 38,30 milhões de toneladas para a região. Se a previsão se confirmar, significaria um crescimento de 13,6% ante o ciclo passado.

A produção de etanol é prevista em 30,71 bilhões de litros, incluindo o biocombustível a partir do milho, com um aumento de 6,2% ante 2022/23. Segundo a Datagro, a produção deverá ser dividida em 11,70 bilhões de litros de anidro (-4,8%) e 19,01 bilhões de litros de hidratado (+14,4%).

Para o Norte e Nordeste, a Datagro projeta 58 milhões de toneladas de cana na safra 2023/24, volume similar ao da colheita de 2022/23, com mix açucareiro de 46,3%. A produção de açúcar está prevista em 3,20 milhões de toneladas e a de etanol, em 2,27 bilhões, ambas com alta de 2,4%.

A Datagro também apontou que a produção

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de etanol de milho cresce significativamente. Em 2019/20 estava em 1,62 bilhão de litros e estimam-se 5,40 bilhões de litros em 2023/24. Em 2032/33, a produção do biocombustível à base do cereal pode chegar a 14,30 bilhões de litros.

TRADERS AVALIAM CENÁRIO GLOBAL DO AÇÚCAR

Sob moderação de Paulo Garcia, diretor da Vital Commodities, o painel com a visão dos traders para o mercado mundial de açúcar contou com a participação de Jeremy Austin, diretor-geral da Sucden; Rodrigo Ostanello, head de açúcar da ED&F Man; e Michael McDougall, diretor-geral da Paragon Global Markets.

Os palestrantes ressaltaram que o mercado tem compartilhado a percepção de alta para os preços do açúcar, no curto, médio e longo prazos, devido à demanda aquecida. Por outro lado, há preocupação com a falta de perspectiva de

expansão do plantio de cana no Brasil, Índia e Tailândia, mesmo em um quadro de preços atrativos. Segundo os especialistas, o mercado também permanece atento às questões de clima, sobretudo na Índia, e logística, que podem impactar os fundamentos de oferta e consumo global.

TECNOLOGIAS PARA MOBILIDADE SUSTENTÁVEL

O tema da palestra de Pablo Di Si, presidente e CEO da Volkswagen na América do Norte, foi a expansão da eletrificação e o potencial para híbridos usando combustíveis líquidos limpos.

Na avaliação do executivo, o mercado automotivo permanece forte nos Estados Unidos: no primeiro trimestre deste ano foram vendidas 3,6 milhões de novas unidades, alta de 7,5%. A estimativa é de que sejam comercializados 14,8 milhões de veículos novos até o final do ano, o que representaria crescimento de 7,2%.

Para a concretização desse cenário, contudo, é necessária a recuperação da produção nos Estados Unidos, além da estabilização da cadeia global de suprimentos. De acordo com Pablo Di Si, a Volkswagen tem como meta tornar-se neutra em carbono até 2050.

Em sua exposição, o executivo reafirmou seu posicionamento em favor da mobilidade sustentável, independentemente do modelo de motorização. Segundo ele, o que precisa ser considerado é a pegada de carbono, o processo de descarbonização promovido pela tecnologia, seja ela elétrica pura, híbrida ou biocombustível, e outras que forem surgindo.

EXPANSÃO DO ETANOL NA AMÉRICA DO SUL E CENTRAL

Neste painel, Edgar Herrera, diretor executivo da Liga Agrícola Industrial da Cana-de-Açúcar (Laica) da Costa Rica, abordou

a expansão da produção e o uso de etanol na América do Sul e Central.

O palestrante destacou o desenvolvimento de novas alternativas de energia, com cada país investindo no seu potencial, conforme seu pacote de recursos naturais. “Os biocombustíveis, em especial o etanol, são cruciais para o desenvolvimento socioeconômico da região porque promovem segurança e diversificação energética”, disse ele.

Segundo Herrera, o contínuo progresso do setor sucroenergético, em particular na América Central, requer políticas públicas claras, que deem segurança jurídica e atraiam novos investimentos.

EXPANSÃO DO CRÉDITO VIA MECANISMOS DE FINANÇAS VERDES

Especialistas reunidos neste painel elencaram as oportunidades que as modalidades de

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financiamento verde trazem para diversificação e expansão do crédito, via fontes privadas e mercado de capitais, para o setor sucroenergético e o agronegócio em geral.

Entre os principais destaques, o potencial de captação de recursos por meio do mercado de créditos de carbono, green bonds, e também por intermédio da securitização.

O mercado de crédito de carbono permite que empresas, organizações e indivíduos compensem as suas emissões de gases de efeito estufa (GEE) a partir da aquisição de créditos gerados por projetos de redução de emissões e captura de carbono. Exemplo disso é o RenovaBio.

Já a securitização é o termo utilizado para se referir a uma dívida que foi negociada com investidores. Trata-se de uma prática que visa transformar títulos de crédito, como faturas não pagas ou dívidas de empréstimos, em instrumentos negociáveis no mercado de capitais.

Participaram do painel com esta temática

a diretora de Investimentos Sênior do Inter-American Development Bank, Monica Navarrete; o head de Debt Capital Markets do Citi Brasil, Alexandre Castanheira; o diretor-geral da Bentley Securities Coporation, Mark W. Gross; e o diretor da Peterson Projects and Solutions, Carlos Mendoza. A diretora da Datagro Financial, Carolina Troster, foi a moderadora.

O POTENCIAL DOS BIOCOMBUSTÍVEIS PARA PRODUÇÃO DE HIDROGÊNIO VERDE

A diretora de Relações Institucionais da Associação Brasileira de Hidrogênio (ABH2), Monica Saraiva Panik, destacou o potencial dos biocombustíveis, em particular o etanol, para a produção de hidrogênio verde e as oportunidades que o cenário atual traz para o agro brasileiro.

Produzido a partir da eletricidade gerada por fontes de energia limpas e renováveis, o hidrogênio verde é considerado a nova fronteira para a jornada global de descarbonização

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dos setores produtivos e para o cumprimento das metas do Acordo de Paris. Ao longo dos próximos anos, o objetivo é trocar o hidrogênio produzido a partir de fontes fósseis pelo hidrogênio verde, que não emite carbono.

O Brasil está muito bem posicionado para capitalizar negócios nessa agenda, porque é rico em matéria-prima para produção de hidrogênio verde – como o etanol, biomassas de base agrícola e dejetos orgânicos do segmento de proteína animal.

Também participaram do painel o chefe de Desenvolvimento de Negócios da European Energy, Jens Ole Madsen, e o vice-presidente de investimentos do 2W Ecobank, Manoel Antonio Avelino.

CONSUMO DE AÇÚCAR NOS EUA GANHA FÔLEGO COM INDUSTRIALIZADOS

O diretor de Economia e Análise de Políticas da American Sugar Alliance, Rob Johansson, pontuou que a demanda por alimentos industrializados fez o consumo

de açúcar na América do Norte, em particular nos Estados Unidos, ganhar novo fôlego, mudando uma tendência de queda observada entre 1970 e 2010.

Segundo ele, a demanda pelo adoçante vem sendo impulsionada pelo crescimento populacional combinado ao maior consumo fora do lar – em hotéis, restaurantes, bares etc. De acordo com Johansson, existe a tendência de certa estabilização no consumo, mas sem grandes possibilidades de recuo.

Também participante do painel, a economista do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês), Vidalina Abadam, apresentou um diagnóstico acerca do trabalho do departamento sobre os dados de balanço de oferta e a demanda de açúcar na América do Norte. Ela destacou, entre outros pontos, o aumento das importações dos Estados Unidos de países de fora do escopo do antigo tratado comercial do Nafta, que englobava México e Canadá.

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