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Para quem pensa, decide e vive o agribusiness

Uma nova imagem para o Agro PERFIL FÁBIO DE REZENDE BARBOSA, O JOVEM COM O DNA DA CANA

Fronteira Um voo sobre o Oeste da Bahia ITÁLIA Como é feito o queijo favorito do melhor chef do mundo

ARTE O tesouro contemporâneo de Figueiredo Ferraz venda proibida distribuição dirigida www.plantproject.com.br PLANT PROJECT Nº 0

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A revista PLANT PROJECT que você tem em mãos leva o número zero. No jargão editorial, significa que esta é uma edição de apresentação, uma amostra do que virá quando, dentro de alguns meses, tornar-se uma edição regular. Líderes do agronegócio, público a que ela se destina, provavelmente definiriam como uma semente lançada no fértil terreno da comunicação.

E d i tori a l

A SEMENTE DA INFORMAÇÃO

A analogia se aplica bem às ambições que movem a DATAGRO – que, como consultoria, tem produzido conteúdo e publicações ao longo das últimas décadas – ao lançar um título com características tão distintas de tudo o que já fez antes. Sim, a revista é uma semente. O que nos propomos a colher e distribuir com os principais atores desse setor estratégico da economia mundial é muito mais do que isso. PLANT PROJECT se propõe a germinar como uma plataforma global de comunicação, um canal permanente de intercâmbio de experiências, conhecimentos e análise dos protagonistas da mais relevante atividade econômica, aquela responsável por alimentar o mundo. Você está conhecendo PLANT PROJECT como uma revista impressa. Em breve, será também digital e bilíngue. Mas não é só isso. Em torno dela, esperamos ver brotar site e aplicativos com vídeos, webseries, canais de rádio, projetos de conteúdo sob medida, ações e eventos exclusivos.

Foto de capa por Kiko Ferrite

PLANT PROJECT pretende aproximar os centros de decisão das fronteiras agrícolas em qualquer ponto do globo, dos inovadores do Cerrado brasileiro aos traders de Singapura. PLANT PROJECT contará as melhores histórias desse universo, mostrará por onde a elite agroindustrial transita, onde se encontra, o que consome. PLANT PROJECT semeará inteligência, cases de sucesso, inovação, entretenimento e tudo o mais que está em torno de quem produz, revelando a face moderna e cosmopolita do agronegócio e colocando-o no centro das grandes questões mundiais. Neste número zero, uma dessas questões permeará uma boa parcela dos artigos e reportagens: a importância da construção de uma imagem mais moderna para o setor e para os seus produtos. Acreditamos que não há reconhecimento sem conhecimento e que, portanto, é preciso que os envolvidos no grande universo do agronegócio percebam o valor estratégico da comunicação para o futuro de seus negócios. O exemplo da indústria do café, que utiizou conceitos de qualidade e design importados de outros setores para construir marcas desejadas e agregar valor a seus grãos, serve de inspiração. Até mesmo para este novo produto que agora você tem em mãos. Como o próprio nome diz, esta revista é parte de um projeto, não um conceito fechado. PLANT PROJECT vai ouvir, aprender e evoluir a partir da opinião dos melhores leitores do mundo. Que o nosso projeto seja também seu. Boa leitura.

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I ndi ce

plantproject.com.br

G pág. 7 Ag pág. 15 Fo pág. 34 Fr pág. 39 W pág. 47 Ar pág. 55 S pág. 62 M pág. 72 G LOB A L

D i retor Luiz Felipe Nastari Comun icaç ão Eliane Dalpizol Coordenadora de Comunicação

eliane.dalpizol@datagro.com

M arketing e P ub li cidade Mult iplataforma Phelipe Krisztan Pedroso Diretor Comercial

phelipe.pedroso@datagro.com publicidade@plantproject.com.br assinaturas@plantproject.com.br

Consultor Luiz Fernando Sá Art e Andrea Vianna Projeto Gráfico e Direção de Arte

Colaboradores Texto: Catarina Guedes,

Clayton Melo, Costabile Nicoletta, Fabricia Peixoto, Lana Pinheiro, Márcio Khroen, Nelson Cilo, Rachel Costa, Simone Amorim Fotografia: Airam Abel, Claudio Foleto, Claudio Gatti, Karime Xavier, Kiko Ferrite, Luiz Maximiano, Renato Lopes, Rui Rezende Design: Bruno Tulini, Pedro Matallo

Ev en tos Simone Cernauski

AGRIBUSINESS

FO R UM

F RO N T E IRA

WORLD FA I R

ART E

STARTAGRO

MARKETS

Ad mi nistraç ão e Fi nanç as Claudia Nastari Sérgio Nunes Impressão e aca bame nto Log&Print Gráfica e Logística

Datagro Publicações LTDA Calçada das Magnólias, 56 - Centro Comercial Alphaville – Barueri – SP CEP 06453-032 - Telefone: +55 11 4133 3944


Mapa mundi da informação: dos couros da realeza britânica ao universo dos traders de Singapura

G GLOBAL

O lado cosmopolita do agro

foto: divulgação PLANT PROJECT Nº 0

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GLOBAL

O lado cosmopolita do agro

REINO UNIDO

A Connolly, marca britânica que fornece peles perfeitas para a rainha e para modelos de Bentley, Jaguar e Rolls-Royce, abre suas portas para os plebeus Por Rachel Costa, de Londres

É

tão forte a relação entre a família Connolly e o mundo dos couros que há até uma expressão em inglês em referência ao sobrenome: “connolisation”. A palavra descreve um processo criado por eles para recuperar a cor original dos estofados automotivos perdida após os anos de uso, método que se tornou popular entre restauradores de carros. O termo dá uma ideia da importância desse clã britânico para o meio automobilístico. Porém, mais que uma palavra, os Connolly são hoje sinônimo de couro, dentro e fora do Reino Unido. O toque macio, as cores sóbrias, a alta durabilidade e o odor suave característicos de suas peças foram imortalizados pelo mercado de automóveis de luxo, sobretudo os fabricados na terra da rainha Elizabeth. Rolls-Royce, Bentley e Jaguar possuem modelos revestidos pela marca Connolly.

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foto: divulgação

A REALEZA DO COURO

Um caso raro de empresa que conseguiu ganhar fama em uma cadeia produtiva normalmente mantida longe dos holofotes e dos olhos do consumidor. Embora estime-se que o mercado global de couros movimente ao menos US$ 100 bilhões a cada ano, pouco é sabido sobre seus protagonistas. Não é o caso dos Connolly. Os 138 anos de tradição os tornaram tão conhecidos entre os amantes de carros que gozam de uma área especial no departamento de customização de automóveis da italiana Ferrari. “Se você quiser que seu Ferrari venha com algo muito especial, você pode ter Connolly em seu revestimento”, diz Jonathan Connolly, representante da quarta geração da família no negócio de couro e atual diretor da empresa. Antes mesmo de existirem Ferraris, em 1902, foi exatamente este o desejo do rei Eduardo VII: que a carruagem usada em


Preparação do couro na sede da Connolly e interior de Jaguar com revestido com a marca: 138 anos de tradição

sua coroação fosse revestida em couro dos Connolly. Até os dias de hoje e a marca é a “fornecedora oficial de couros para sua majestade”. Democrática, é também dela o clássico revestimento verde dos assentos do parlamento britânico. O carisma conquistado pelo clã é tão grande que foi capaz de resistir até mesmo aos dez anos em que a companhia fechou as portas, de 2002 a 2012, após uma desastrosa tentativa de entrada no mercado americano. Mas o que o torna tão especial? Para Jonathan, a chave do sucesso é o processo meticuloso de trabalho, passado de geração em geração. Cada peça de couro é única, ensina Connolly, e é essa singularidade natural que lhe dá beleza e que deve ser preservada. O cuidado começa já na escolha da matéria-prima. É o próprio Jonathan quem cuida das compras. Hoje aos 55 anos, ele conhece o negócio como a palma de sua mão. “Trabalhei com isso toda a minha vida, infelizmente”, fala entre risos. “Vinha para a fábrica durante as férias do colégio. Passei por todos os departamentos. Então, eu conheço todo o processo, o que é fundamental para um produto cheio de segredos”. Uma de suas principais habilidades, conta Jonathan, é quase um super poder: a pele é escolhida ainda com pelo. É preciso ser capaz de antever qual será a aparência do material após a raspagem e, para

isso, tato e visão são importantes, mas é mesmo a experiência de quem passou a vida entre couros que faz toda a diferença. A matéria-prima usada vem, atualmente, de fazendas no próprio Reino Unido, algo relativamente novo na “linha de produção” da marca que, por décadas, importou peles da Escandinávia. O jogo mudou quando os criadores locais começaram a perceber que cuidando melhor do gado, eles obtinham mais leite, mais carne e melhor pele. “Levou anos, mas hoje a pele produzida aqui tem qualidade”, avalia. A conquista do mercado pelo Reino Unido apenas reforçou o domínio europeu, principalmente dos países do norte, sobre o mercado de peles especiais. Suíça, França e Alemanha, além dos nórdicos, são alguns dos tradicionais produtores da matéria-prima para o mercado de luxo. O clima mais frio dessas regiões é um aliado. Graças a isso, há menos mosquitos e carrapatos -- o que, somado à menor presença de arame farpado nas pastagens, cria a combinação perfeita para uma matéria-prima mais preservada, com menos machucados e altamente desejada pelas marcas de luxo. Muitas delas hoje produzem suas próprias peças. Grifes como Prada, Luis Vuitton e Hermès, todas elas incluíram tanneries (expressão em francês para designar os curtumes) em

seus negócios. “Eles querem evitar o risco de ficar sem couro para seus produtos, uma vez que sempre foram clientes que demandam muito e que querem sempre o melhor em termos de qualidade e de tempo de entrega”, explica Olivier Sterbik, porta-voz da centenária marca belga Ruitertassen, cujas clássicas bolsas em couro custam uma média de R$1.200. No caminho inverso, Connoly quer que sua grife esteja estampada também em produtos de consumo. À PLANT PROJECT, Jonathan antecipa: em outubro, a Connolly voltará a ter uma loja em Londres, no número 4 da Clifford St, na região de Piccadilly Circus. Sapatos, caxemiras e acessórios estarão à venda, junto de um showroom dos revestimentos da marca para aqueles que não se contentarem em voltar para a casa apenas com compras que cabem na sacola – e queiram encomendar o estofamento do carro ou da casa.

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TA I L Â N D I A

Luxo na terra de um milhão de campos de arroz

CHINA

O MANTRA DA PRODUTIVIDADE A novidade vem da China: produtores locais afirmam que tocar mantras budistas em campos de arroz pode aumentar a produtividade da colheita. De acordo com os próprios fazendeiros, um campo de cerca de 26 hectares produziu 15% mais grãos após a instalação de 500 autofalantes que reproduziam os cânticos ininterruptamente. Mesmo sem base científica, a conclusão dos produtores locais reacende a discussão que data do século passado: as plantas são capazes de sentir e reagir a estímulos externos? Em uma pesquisa feita ainda em 1962, o Dr. T. C. Singh, chefe de departamento de botânica da Annamalia University, na Índia, afirmou ter comprovado que pés de azaléia cresciam 20% mais rápido quando eram expostas à música clássica. E foi além: de acordo com seu estudo, quando as sementes eram expostas ao som de violinos elas davam origem a plantas mais fortes e resistentes. Passados mais de 50 anos, a discussão sob o impacto da música ganhou contornos ainda mais profundos e uma nova área de estudo: a neurobiologia vegetal. Para pesquisadores dedicados à área, as plantas são seres inteligentes e possuem sensores que as permitem reagir positiva ou negativamente aos estímulos sonoros. Música, portanto, seria sim uma ferramenta eficaz para aumentar a produtividade. Agora, é preciso saber qual estilo musical é o melhor para cada cultura. Os produtores de arroz já escolherem o deles.

Os terraços cultivados sobrepostos fizeram das montahas de Chiang Mai, no Norte da Tailândia, um lugar único no mundo. Tradições milenares e paisagens espetaculares deram fama internacional à região conhecida como Lanna Kingdom – “A Terra de Um Milhão de Campos de Arroz”–, agora também um destino turístico de luxo graças à rede Four Seasons. A companhia inaugurou um exclusivo resort construído em meio aos arrozais, onde é possível vivenciar a cultura local de duas formas. Para quem busca apenas descanso, basta contemplar os belos campos pelas janelas dos quartos ou varandas do Four Seasons Resort Chang Mai. Para os que buscam uma experiência real, é preciso colocar as botas para passear pelas plantações e conhecer todas as fases do cultivo. Andar de elefante, conhecer os mais de 300 templos da região e explorar a floresta tropical que circunda o resort também fazem parte do passeio. fourseasons.com/changmai

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PALAVRA DE AUTORIDADE Maurício Antônio Lopes, presidente da Embrapa O presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária cita as Top 6 em sua lista de prioridades. Para cada desafio, uma oportunidade que pode estar em suas mãos: Problemas persistentes: Precisaremos de soluções definitivas para problemas ainda persistentes da agropecuária, como o carrapato bovino, a mosca branca, o bicudo-do-algodoeiro, a ferrugem-da- soja, as plantas daninhas resistentes a herbicidas. Descarbonização: A agricultura necessitará de substitutos para insumos e práticas que levam à excessiva emissão de gases de efeito estufa e agravamento das mudanças climáticas. Intensificação sustentável: Mudanças climáticas e o novo Código Florestal exigem que a elevação da produção e da produtividade na agricultura se dêem com intensificação do uso da terra, através de tecnologias de baixo impacto, que poupem recursos naturais e elevem renda. Mudanças demográficas: A intensificação do processo de urbanização fará com que mão de obra no campo se torne mais escassa. A transformação digital e a automação permitirão a emergência de uma agricultura mais mecanizada e de precisão. Dependências: A agricultura brasileira é ainda muito dependente de insumos químicos derivados do petróleo (fertilizantes e defensivos), além de fósforo e potássio importados. O país demandará pesquisa, inovação e políticas para superar esta dependência. Novo consumidor: A agricultura precisará responder às necessidades de consumidores mais educados, críticos e exigentes, e a mercados mais sofisticados e competitivos. Demandas de agregação de valor, diversificação e especialização pressionarão a agricultura do futuro. PLANT PROJECT Nº 0

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G ISRAEL

DO QUE SÃO FEITAS AS COISAS? O conhecimento é terreno fértil e foi a partir dele que os israelenses transformaram o deserto em área produtiva. De suas startups brotaram ideias revolucionárias como o aplicativo Waze, utilizado por milhões de pessoas para driblar o trânsito das cidades. O mercado global de alimentos também pode se beneficiar de uma tecnologia desenvolvida no país. Produzido pela empresa Consumer Physics, de Tel Aviv, o SCIO é um pequeno scanner que, ao ser apontado para um alimento, planta ou terreno pode dar informações como valores nutricionais, saúde das folhas ou até a composição do solo. Primeiro sensor molecular de bolso, o aparelho usa a luz para analisar a composição de “coisas”, quaisquer que sejam elas. As informações obtidas pelo sensor chegam nas mãos do consumidor em tempo real por meio de

FRANÇA

LEGUMES 24 HORAS No princípio, foi a solução para uma demanda pessoal. Preocupado em encontrar uma forma prática de comercializar sua produção orgânica diretamente ao consumidor, o agricultor francês Didier Renard, de Weitbruch, na

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aplicativos instalados nos celulares. Segundo seus desenvolvedores, as possibilidades de uso para o SCIO são infinitas, mas dependem do desenvolvimento de aplicativos que conversem com o scanner. E aqui vem mais uma parte interessante: qualquer pessoa ou empresa pode entrar em contato com a Consumer Physics, para desenvolver aplicativos específicos. Dentro deste modelo, o primeiro app criado é DietSensor que fornece ao consumidor dados nutricionais de alimentos como queijos, carnes ou pães com informações como a quantidade de calorias, proteínas, gordura etc. A expectativa da empresa, no entanto, é dar a possibilidade do consumidor mapear todo o mundo físico dando a ele informações para escolher entre a fruta mais doce, os legumes no ponto certo para consumo, as verduras com menos agrotóxicos.

região da Alsácia, criou um sistema que adaptou as máquinas automáticas de vendas para oferecer legumes, verduras, frutas, ovos e até foie gras. Deu tão certo que hoje Renard é industrial. Sua empresa, a Didier Filbing Distribuition, já forneceu mais de 300 equipamentos por toda a França e hoje pode-se comprar neles até carnes e frangos. Com um investimento a partir de 5,5 mil euros, qualquer agricultor pode ter sua própria máquina. O interessado aciona a empresa de Renard, que vai até a área e cria um projeto combinando oito diferentes tamanhos de gabinetes

refrigerados de aço inox com portas blindadas. Cada um deles recebe um código com o valor do produto associado. Após tudo pronto, o agricultor não paga nenhuma outra taxa, mas torna-se responsável pela reposição dos produtos. Como a ideia é que o consumidor tenha frutas, legumes e verduras frescos 24 horas por dia, sete dias por semana, toda vez que um compartimento é aberto e o produto é retirado o dono da máquina recebe um alerta via SMS. De acordo com o fabricante, o retorno sobre o investimento acontece entre 6 a 24 meses. www.filbing-distribution.com


ALEMANHA

PORTA-AVIÕES URBANO Pesquisadores do Bauhaus Luftahrt – instituto criado para buscar soluções para o transporte aéreo e que tem entre seus patrocinadores empresas como a Airbus – alertam: se nada for feito, os aeroportos das principais cidades do mundo entrarão em colapso até 2040. Excesso de passageiros, deslocamentos excessivos, demora para embarque, decolagem e pouso tornarão as viagens cada vez mais exasperantes. Juntamente com o diagnóstico sombrio, porém, 25 cientistas da instituição apresentam uma

criativa solução Desenvolvido em conjunto com estudantes da Escola de Arte de Glasgow, o projeto CentAirStation propõe a construção de aeroportos que lembram porta-aviões ancorados nos centros urbanos. Além disso, desenharam um avião ideal para pousar e decolar em pistas curtas, o Citybird. O tempo necessário entre chegar ao avião e decolar cairia para 15 minutos. O terminal teria 640 metros de comprimento e 90 de largura,

com pelo menos quatro níveis. O embarque seria feito nos andares inferiores e os aviões, transportados até a pista, no teto, por grandes elevadores. Já o Citybird teria asas perpendiculares, um sistema de catapulta para aumentar a velocidade na decolagem. Segundo os cientistas, cerca de 100 cidades no mundo poderiam abrigar um CentAirStation com capacidade de atender até 10,5 milhões de passageiros por ano.

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G

Globetrotter

NA PORTA DA ÁSIA O brasileiro Eduardo Gebara, 52, vive em Singapura desde 2006. Chegou lá, depois de seis anos na Suíça, para assumir o comando da equipe de Gerenciamento de Risco da Cargill na Ásia.

Por que Singapura é estratégico para o agronegócio? Todas as grandes tradings têm presenca aqui. A presença de China e Índia aqui do lado realça ainda mais seu valor estratégico. Qual a maior vantagem de estar aí? O crescimento tem sido e continuará sendo aqui na Ásia, com China e India liderando. Singapura é um país onde tudo funciona e onde tudo que é público é melhor que o privado. Aqui eles fazem ser fácil de se viver. O que um executivo estrangeiro precisa saber? Que vai ter de se adaptar a um mundo totalmente diferente, com valores e princípios distintos. São 319 idiomas e dialetos. As distâncias são grandes e todos trabalhamos longas horas. O dia começa, por exemplo, atendendo clientes na Austrália, que está três horas à frente, e termina seguindo os mercados agrícolas, cujo fechamento acontece quando já são 4h00 da manhã seguinte aqui. As leis são cumpridas à risca, não importando quem você seja ou 14

quanta riqueza tenha acumulado. Singapura tem a pena de morte para tráfico de drogas, homicídios e crimes hediondos. Várias penas incluem até 24 chicotadas. É muito importante entender as leis e andar na linha. A corrupção é zero e, se ocorrer, as penas são muito severas. O primeiro-ministro daqui é o mais bem pago do mundo, assim como todos os servidores publicos, e tudo funciona. Quais as melhores opções de lazer para quem vive ou visita a cidade? Singapura evoluiu muito para poder continuar atraindo quem eles querem e para satisfazer a população. Aqui tem de tudo que alguém possa querer em termos de lazer e tenha o dinheiro para pagar, de cultura a esportes. Agora temos dois cassinos e tudo mais está disponivel, além das praias que circundam a ilha e muitas atrações turísticas. Uma atração turística imperdível? Marina Bay Sands é incrivel e os Gardens by the Bay, que é como um jardim botânico,

são impressionantes. Tem muitos restaurantes para poder experimentar uma grande diversidade de cozinhas. A melhor atração cultural? O Grande Prêmio de Fórmula 1 (este ano, no dia 19 de setembro) é incrível não só pela corrida e o número de visitantes, mas também pelos shows grátis todas as noites. O melhor lugar para um encontro de negócios? Lugar para comer tem de ser o Din Tai Fung, de comida tailandesa. Sensacionais os dumplings, que são como pasteizinhos cozidos no vapor. Uma escapada? Surfar em Lombok, na Tailândia. Só duas horas de voo e você está no paraíso, com uma natureza impressionante e altas ondas como Dessert Point, Gerupuk e Ekas. O que um visitante não pode deixar de experimentar? As comidas locais, pois há coisas deliciosas -- dependendo do quão aventureiro a pessoa seja.


Fábio de Rezende Barbosa caminha pelo canavial da NovAmérica: nova geração de uma dinastia do setor sucroenergético

Ag AGRIBUSINESS

foto: Airam Abel

Empresas e líderes que fazem diferença

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Ag AGRIBUSINESS

Empresas e líderes que fazem diferença

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DNA DE AÇÚCAR O jovem empresário Fabio de Rezende Barbosa comanda, com simplicidade e eficiência, uma das mais poderosas e produtivas companhias de cana do mundo e ajuda a perpetua uma das maiores dinastias do setor sucroenergético Por Nelson Cilo, de Tarumã – São Paulo, Brasil | Fotos: Airam Abel

Q

uem perguntar sobre a família Rezende Barbosa em qualquer município da região do Vale do Paranapanema, extremo-oeste paulista, logo perceberá que o clã se tornou, nas últimas décadas, praticamente um sinonimo de cana-deaçúcar. Seus membros são reconhecidos pela população da região pelo que produzem, mas também pela forma com que contribuíram para o desenvolvimento e a educação de várias gerações de trabalhadores. Pela discrição com que comandam seus negócios, porém, essa popularidade permanece, de certa forma, regional. A relevância que, ao longo de sete décadas, emprestaram ao setor sucroenergético brasileiro permitiria muito mais. Não seria exagero comparálos a nomes como os dos Gerdau no aço, dos Lafer em papel e celulose, ou mesmo os Diniz no varejo brasileiro. Foram eles os responsáveis pela construção de um das maiores grupos sucroalcooleiros do Brasil, o NovAmérica, principal locomotiva de riqueza e emprego em cidades como Assis, Tarumã e Maracaí, além de dezenas de outras que fazem a roda de suas

economias girarem com a força dos canaviais. Dali, trabalhando em silêncio, os Rezende Barbosa exercem influência positiva no mercado global. Estão entre os maiores fornecedores de cana do mundo e suas lavouras são conhecidas internacionalmente pelo padrão de eficiência e produtividade. Estão, ainda entre os principais acionistas do grupo Raizen, controlado por Rubens Ometto, posição conquistada após a troca de parte dos ativos familiares por ações da companhia em 2008. O NovAmérica, porém, continua sob os cuidados da família fundadora, em sua quarta geração. O principal executivo no comando da companhia é o superintendente Fabio de Rezende Barbosa, que com apenas 40 anos de idade conduz os negócios com desenvoltura em um ambiente desafiador para o setor de etanol e açucar. “Acho que tenho etanol e açucar no DNA. Quando consigo resolver todos os problemas, arranjo outros para não me sentir parado”, diz, com um sorriso típico de quem não parece ter medo de enfrentar desafios. É fácil notar que Fabio carrega consigo as características que definem o estilo PLANT PROJECT Nº 0

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Ag Líderes

Rezende Barbosa de gestão. Ao receber a reportagem na unidade de Tarumã, a poucos quilômetros do imponente Rio Paranapanema, que separa São Paulo da região Norte do Paraná, ele mostrou que a descontração e a simplicidade são parte de sua personalidade. Durante todo o tempo, o homem que administra uma área plantada de 95 mil hectares de cana-deaçucar e dela tira uma produção anual que supera a marca de 6 milhões de toneladas fez questão de manter o boné entalado na cabeça, além de não demonstrar

POR DENTRO DA NOVAMÉRICA Número de colaboradores 2,3 mil - Unidades Tarumã/SP e Caarapó/MS Área plantada 95 mil hectares Produção 6,3 milhões de toneladas (safra 2015/2016) Histórico/aquisições: 1944 Fazenda NovAmérica 1947 Instalação da primeira usina de açúcar e álcool do Vale Paranapanema 1957 Instalação da Usina Maracaí 1972 Compra da Fazenda Campanário no MS 1981 Aquisição da Guacho Agropecuária 1993 Criação da marca Dolce (para região Sul e São Paulo) 1997 Aquisição Teaçu Armazéns Gerais 2005 Compra da marca União 2006 Projeto da Agroenergia Caarapó e aquisição Destilaria Paraguaçu 2008 Fusão Grupo Cosan, hoje Raízen 2010 Cisão NovAmérica e Agroterenas 18

preocupação de posar para fotos com um batido colete escuro e uma calça jeans folgada. Definitivamente, não se trata de um alto executivo cheio de pose ou de retóricas. Com esse estilo peculiar, Fábio tem conseguido transformar a NovaAmérica em uma referência de eficiência na indústria da cana. A empresa tem conquistado seguidos prêios de produtividade, como o conferido no 18º Seminário de Mecanização e Produção da Cana-de-Açúcar na safra 2015/2016. Este foi o sétimo troféu consecutivo.


“O aumento da produtividade é resultado dos esforços de todos os funcionários em fazer o trabalho cada dia melhor”, justifica Fabio. O prêmio deste ano chegou às mãos dos executivos da NovAmérica graças ao programa de excelência na agricultura de precisão, colocado em prática na unidade Tarumã. A usina superou outras 13 finalistas de São Paulo, Paraná, Goiás e Minas Gerais. A comissão julgadora analisou o desempenho dos concorrentes acima da média nacional. O ATR (Açúcar Total Recuperado) da NovAmérica atingiu 127 quilos/tonelada, resultado até 12% superior ao de seus concorrentes. Fábio de Rezende Barbosa não quer perder o ritmo. Em 2016 a NovAmérica tem investimentos previstos de R$ 120 milhões em tecnologia e compra de equipamentos destinados ao plantio e moagem. As decisões são sempre baseadas em pesquisas sobre o que há de mais avançado no setor. O cenário que o executivo vislumbra é de recuperação das empresas sucroalcooleiras, com a tendência de recuperação dos preços internacionais, depois de anos de crise aguda. Fábio acredita que o setor terá uma oportunidade para reforçar o caixa e reduzir o

endividamento. Mas, segundo ele, as circunstâncias favoráveis dependem, como sempre, das condições climáticas. Não são os números, no entanto, que movem Fábio de Rezende Barbosa, economista por formação e fluente em inglês, francês e espanhol. Quando perguntado sobre faturamento e percentuais de crescimento da NovAmérica, ele se esquiva. “Os números, para cima ou para baixo, não são importantes. O que importa é como vou aparecer na foto. Este ângulo está melhor?”, brinca o discreto rei dos canaviais paulistas, enquanto é clicado em meio às suas plantações. A simplicidade não significa que ele é um produtor à moda antiga, focado apenas com o que acontece da porteira para dentro. Desde a hora que acorda, às 5h da manhã, até a hora de começar o expediente, às 8h, o empresário lê o notíciario nos jornais impressos da região e zapeia em sites internacionais em seu tablet. O foco, evidentemente, é o universo agrícola e as cotações das commodities. “Estar antenado ao que acontece no mundo é essencial nos momentos de tomadas de decisão”, afirma. A autoconfiança com que Fábio dirige a NovAmérica é resultado de conhecimento

Colheita na unidade Tarumã (no alto) e detalhe da Usina NovAmérica

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Ag Líderes

acumulado por décadas por seu pai, Roberto, e seu avô, Renato. A história agrícola da família começou na verdade com o bisavô Eugênio, com produção de café em Minas Gerais. No início do século 20, ele diversificou os negócios com a aquisição de uma propriedade em Cravinhos (SP), onde se iniciou no plantio de algodão, além de cultivar café também na Fazenda Estrela D’Oeste, em São Simão (SP). Depois da morte de Eugênio, a esposa dona Olga Ottoni de Rezende Barbosa decidiu assumir os negócios. Em 1944, Renato, avô de Fábio, comprou a Fazenda Nova América para instalar a primeira usina de açúcar cristal e álcool do Vale do Paranapanema. Surgia, então, uma das mais importantes dinastias sucroalcooleiras do Brasil. “De lá para cá, tudo aconteceu de forma impressionante”, diz Fábio. O crescimento, de fato, foi tão rápido quanto bem estruturado. Em 1957, a família adquire a Usina Maracaí (SP). Em 1959, com os usineiros Maurílio Biaggi e Paulo Reis Magalhães, Renato funda a Coopersucar (Cooperativa de Produtores de Cana, Açúcar e Álcool do Estado de São Paulo), da qual se desgarraria nos anos 70. Foi quando o pai de Fábio, Roberto, assumiu o leme do grupo. No 20

comando, ele investiu alto em inovadoras tecnologias para, em 1975, ser um dos pais do Programa Nacional do Álcool (Proalcool). Os 30 anos seguintes foram de diversificação e aquisições. A maior delas, em 2005, trouxe da Coopersucar para o grupo a marca União, a mais tradicional na memória dos consumidores brasileiros. O embalo dos negócios levou a NovAmérica para novas fronteiras agrícolas, mais especificamente o Mato Grosso do Sul. Em 2006, implementou o projeto de Agroenergia em Caarapó (MS), para produção de etanol, açúcar e energia a partir da biomassa. A fusão com a Cosan (hoje rebatizada para Raizen), em 2009, incluiu o sobrenome Rezende Barboza em um grande projeto energético global. A parttir dela, Roberto e os dois irmãos (Renato e José Eugênio) puderam equacionar um processo de cisão de ativos, concluído em 2010. A Roberto e o filho Fábio couberam, além da fatia acionária na Cosan, o controle das propriedades de Tarumã e Caarapó. Tornaram-se, assim, os legítimos herdeiros do DNA de açúcar iniciado em 1944 e iniciaram um novo processo de crescimento. “Não podemos parar. Quem para, fica para trás”, finaliza Fábio.


“Em tempos de crise, façam acontecer” Como o sr. se autosdefine na vida pessoal e nos negócios? Meu estilo é a simplicidade. Não tenho frescuras. Sou movido a problemas. Caso contrário, a vida não teria graça. Seria muito chata. O que seria de mim se não fossem os desafios? Arrumaria novas encrencas para solucioná-las. Acredito no amanhã. Carrego sonhos. É o que me fortalece. A NovAmérica é a maior exportadora mundial de cana? Não sei. Pode ser. Distribuímos nossa produção de cana à indústria nacional, que a transforma em açúcar e etanol para depois exportar. Aí é provável que a gente ocupe o topo do ranking. Mas não tenho dados oficiais. Como avalia o atual panorama sucroalcooleiro? No ano passado, vivemos uma das piores crises conjunturais de todos os tempos. Agora, constatamos a recuperação nos preços antes defasados. Estou otimista, mas estamos historicamente atrelados ao clima, ao chove não chove, ao sol, às pragas e outros contratempos. Apesar de tudo, não paramos de investir na expansão. Existe uma receita para o sucesso profissional? Me considero um empreendedor que assume responsabilidades e busca soluções. As crises não me assustam. Não temo as dificuldades. Acho que essa é a melhor receita. Em tempos de crise, que conselho daria às pessoas? Em tempos de crise, façam acontecer. É o que pretendo mostrar nas minhas palestras. Quero ensinar o empreendedorismo a quem me ouvir. É o meu objetivo. Quando não está nos canaviais ou no escritório, qual o seu passatempo? Parece que todo mundo gosta de futebol, mas eu não. É claro que, por causa dos amigos, acabo participando dos comentários sobre a última rodada. Mas não me ligo no assunto. Prefiro uma pescaria nestas águas regionais, no Paranapanema e no Mato Grosso do Sul.

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A VISÃO DE FUTURO DA MONSANTO Multinacional americana aposta na agricultura digital para transformar o Brasil no principal celeiro de alimentos no mundo

Foto: Agência Istoé

Por Costábile Nicoletta

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Rodrigo Santos, presidente da Monsanto na América Latina


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á cerca de 20 anos, a multinacional de origem norteamericana Monsanto provocou uma revolução no campo ao colocar no mercado, por meio de biotecnologia, sementes de grãos que combinam genes de espécies diferentes, a fim de aproveitar determinadas qualidades de uma para melhorar a outra. Foi o que ocorreu com o gene de uma alga rica em ômega 3 introduzido numa espécie de soja, cujo resultado foi um grão fortificado com essa substância usada para prevenir problemas cardíacos. Ainda há grupos ambientalistas que temem as consequências do consumo de alimentos feitos à base de grãos transgênicos, mas estudos de numerosas entidades reguladoras ao redor do mundo têm comprovado a segurança alimentar e ambiental desses produtos. Agora, a companhia prepara-se para o que considera uma nova grande revolução: a agricultura digital, que aglutinará todos os demais avanços já obtidos no campo nos últimos 50 anos e ajudará os produtores rurais a tomar decisões de plantio com base em dados estatísticos e outros critérios de alta precisão. A Monsanto já investiu US$ 1 bilhão no novo negócio. A maior parte desse montante (US$ 930 milhões), em 2013, na aquisição da Climate Corporation,

especializada em tecnologias que coletam, monitoram e analisam uma série de informações na lavoura, em tempo real, formando um banco de dados de fácil acesso e uso por parte dos agricultores, independentemente de seu porte. “A agricultura digital permitirá o emprego de algoritmos e Big Data no mundo rural e que se obtenha o máximo de produtividade em cada hectare e saco de semente cultivado pelo agricultor, ao mesmo tempo em que contribuirá para reduzir a pressão exercida sobre os recursos naturais e o meio ambiente”, diz o presidente da Monsanto para a América do Sul, Rodrigo Santos. Nos Estados Unidos, afirma, os agricultores já usam a plataforma da Climate em 30 milhões de hectares e recebem informações detalhadas de cada talhão de sua fazenda, como a visibilidade de

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Telas do aplicativo Climate: a lavoura na palma da mão do produtor

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Americanos já usam sistema da companhia em mais de 30 milhões de hectares

mapas de plantio, de colheita, de produtividade, de dados precisos de cada pedacinho de chão que podem ajudá-lo a tomar decisões. Com esse banco de informações, a Monsanto consegue recomendar aos agricultores qual a melhor data para plantar, a semente a usar, a adubação a ser feita, entre várias outras decisões. Sentado em seu escritório, o produtor poderá acompanhar em seu tablet a qualidade do seu plantio, verificando a atuação de cada plantadeira, se estão trabalhando na população de plantas que ele planejou e mais uma porção de características que influenciam na safra, com a possibilidade de intervir antes da ocorrência de um problema. No Brasil, a plataforma ainda está na fase de testes. Além das peculiaridades geográficas e climáticas do País, outro desafio a ser enfrentado é a precariedade da infraestrutura de transmissão de dados, sobretudo nas áreas rurais. A forma de contornar essa limitação nos testes tem 26

sido instalar um componente nas plantadeiras e colhedeiras para coletar as informações e depois transmiti-las para o tablet do agricultor. A Monsanto pretende buscar em outras empresas desenvolvedoras de tecnologia e também no mundo acadêmico soluções para problemas dessa natureza. “A vantagem é que, na era digital, essas soluções avançam com muita velocidade”, acredita Rodrigo Santos. Isso implica desde colocar estacas no campo que transmitam os dados até mesmo antenas de transmissão mais potentes. A capacitação da mão de obra nas fazendas brasileiras, pelo contrário, é um fator que pesa a favor do Brasil. Muito antes de se falar em era digital no campo, diz Santos, os técnicos dessas fazendas já operavam máquinas que custam R$ 1 milhão e possuem sensores e monitores. E uma das vantagens da plataforma da Climate, segundo o executivo da Monsanto, é que ela consegue integrar

todos os bancos de dados — como mapas de fertilidade, de plantio, colheita — dentro de um tablet de forma muito simples de visualizar e operar: “Faz parte de nossos testes tornar essa operação simples para o pequeno, o médio e o grande agricultor”. A relação que a companhia mantém com 200 mil agricultores no Brasil lhe possibilitará desenvolver produtos quase personalizados para cada cliente. A aposta em negócios relacionados à agricultura digital também foi um dos atrativos expostos pela concorrente alemã Bayer para explicar a oferta de US$ 62 bilhões para adquirir a Monsanto, no final de maio. A proposta foi recusada pelos acionistas da companhia norteamericana, por julgarem o valor menor do que consideram justo para uma eventual transação num setor que passa por uma rodada de consolidação, com a recente fusão entre as norteamericanas Dow Química e DuPont e a aquisição da produtora suíça de sementes


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Syngenta pela estatal chinesa ChemChina. Essa movimentação global em torno da agricultura tem explicação básica. Em 20 anos, a população da Terra precisará de 55% mais alimentos do que consegue produzir hoje com a mesma quantidade de recursos. “Minha equipe no Brasil, do comecinho da manhã até o final do dia, racha a cuca para ajudar o agricultor a produzir mais com o mesmo espaço de terra e de forma sustentável”, diz Santos. No Brasil, segundo o executivo da Monsanto, 64% do território é coberto por florestas e reservas permanentes. Na Europa, essa relação é de 0,3%. Há 9% do território brasileiro usado para a

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agricultura. A projeção da Monsanto é de que 95% da expansão de produção de alimentos nos próximos anos serão provenientes do aumento da produtividade, com uso de inovação e tecnologia. Somente 5% virão de novas áreas agricultáveis. Nos últimos 20 anos, o Brasil aumentou em 240% sua produção agrícola e somente 30% de área agricultável. Segundo a FAO, o País e a América do Sul serão responsáveis por 40% do aumento de produção de alimentos esperado para os próximos anos. “O Brasil tem a possibilidade de ser o grande celeiro sustentável da agricultura no mundo”, garante Rodrigo Santos.

O presente da Monsanto • FATURAMENTO (2015) US$ 15 bilhões no mundo

US$ 1,7 bilhão no Brasil

• FUNCIONÁRIOS 20.000 no mundo, distribuídos em 399 unidades em 67 países 2.700 no Brasil, distribuídos em 32 unidades em 11 estados e no Distrito Federal • INVESTIMENTOS Nos últimos treze anos, a Monsanto investiu mais de US$ 1 bilhão no Brasil. No mundo, a companhia aplica anualmente US$ 1,5 bilhão em pesquisas e desenvolvimento.

• ÁREAS DE ATUAÇÃO Sementes: por meio de melhoramento convencional e biotecnologia, desenvolve sementes de soja, milho, algodão e sorgo que proporcionam lavouras mais produtivas, tolerantes a herbicidas, e resistentes a pragas e que exigem menos recursos naturais e agroquímicos. A empresa também investe no desenvolvimento de variedades de cana-de-açúcar para ajudar os agricultores a produzir mais alimentos e energia. Proteção de cultivos: soluções para ajudar a proteger a saúde da planta e minimizar o impacto ambiental. Hortaliças: desenvolve hortaliças mais viçosas e saborosas, com o objetivo de ajudar os agricultores a superar os desafios da natureza. Dados: sistemas de Big Data para ajudar agricultores, em tempo real, a tomar suas decisões ao longo do cultivo. Biológicos: soluções biológicas para a lavoura, envolvendo, por exemplo, inoculantes que ajudam as plantas a absorver nutrientes. PLANT PROJECT Nº 0

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Ag Gestão

UMA NOVA IMAGEM PARA O AGRO Comunicar-se com o cliente final é a nova fronteira comercial do agronegócio Com reportagem de Lana Pinheiro ilustrações de bruno tulini

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uanto vale uma saca de café? No mercado internacional de commodities ou nas negociações entre produtores e indústria, essa pergunta tem muitas respostas. As cotações variam numa grande amplitude, dependendo de origem, espécie e qualidade dos grãos, como em qualquer outra cultura. Mas há algo que torna bastante peculiar e potencialmente lucrativo o negócio em torno do produto – e que o transformou em um paradigma quando se debate a influência de fatores externos como comunicação, marketing e design para agregar valor ao agronegócio. Investindo maciçamente

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nessas ferramentas de comunicação, marcas como a suíça Nespresso, as italianas Illy e Lavazza e a americana Stabucks comandaram uma metamorfose no mercado, criaram novas categorias e alçaram às nuvens os preços dos chamados cafés especiais. Uma xícara de Nespresso – também produzida a partir de desenhos exclusivos -- contém, assim, inúmeras lições aserem aprendidas pelas mais diferentes cadeias produtivas da indústria de alimentos e bebidas, desde seus fornecedores primários – agricultores e pecuaristas – até o consumidor final, num necessário esforço para gerar uma imagem mais contemporânea para todo o agronegócio.

Uma dos ensinamentos mais importantes é o reconhecimento mútuo. Conhecendo melhor tudo o que está envolvido na produção do alimento, vestuário ou outro produto de origem agropecuária que adquire, o consumidor também ganhará informação que lhe permitirá valorizar os atores desse processo e, sobretudo, ter mais segurança ao tomar suas decisões. Já o empresário rural que entende a demanda do cliente na ponta do processo e investe na produção com qualidade superior acaba atingindo mercados mais valorizados e obtém maiores retornos. O caso do café é gritante. A saca do produto comum no mercado brasileiro no final de


junho tinha valor médio abaixo dos R$ 500. Para os cafés especiais, procurados pelas grifes do setor, ultrapassava os R$ 2,5 mil.O investimento em marketing e comunicação para fora de suas porteiras é algo relativamente novo num segmento tradicionalmente voltado a produção em volumes expressivos e de relações mais corporativas do que face a face com o cidadão comum. Mas o mundo está mudando e o consumidor não se contenta somente com o que vê na gôndola do supermercado. Cada vez mais quer saber o que vem antes desse momento, quem está por trás daquele produto e como ele foi feito. Isso gera desafios, mas ao mesmo tempo uma grande oportunidade para quem produz e que, historicamente, foi subvalorizado. Comunicar-se com o cliente final é a nova fronteira para o agronegócio. Não há, no entanto, fórmula pronta ou mesmo consenso sobre como fazê-lo. Por isso, o debate em torno do tema nunca foi tão relevante. O Global Agribusiness Forum (GAF), um dos maiores eventos do mundo para líderes do setor, incluiu o tema na pauta de sua edição de 2016, em julho na cidade de São Paulo, e convidou Nizan Guanaes, fundador do Grupo ABC, um dos maiores conglomerados

de comunicação do Brasil, liderar as discussões. "O enorme sucesso do agronegócio brasileiro mostra que podemos ir além, fortalecendo e valorizando cada vez mais marcas do setor”, afirma Guanaes. “A Suíça não produz café, mas produziu a Nespresso. Se o consumidor não conhecer marcas fortes de produtos nacionais, eles terão menos oportunidades de competir e menos fôlego para crescer”. PLANT PROJECT também

trouxe a questão para sua edição de estreia, instigando ele e outros nomes relevantes da publicidade brasileira a refletir sobre como construir uma nova imagem do agro e, eventualmente, aplicar para outros mercados as lições que vem, por exemplo, do café . É o que fazem, nas próximas páginas, em comentários, entrevistas ou artigos, presidentes de grandes grupos e líderes de agências especializadas em atender empresas do agronegócio.

"O enorme sucesso do agronegócio brasileiro mostra que podemos ir além, fortalecendo e valorizando cada vez mais marcas do setor. A Suíça não produz café, mas produziu a Nespresso. Se o consumidor não conhecer marcas fortes de produtos nacionais, eles terão menos oportunidades de competir e menos fôlego para crescer. As empresas, inclusive as do agronegócio, precisam de marcas para ganhar mercado e valor. Construção de marca também significa construção de preço. Preço é receita, e receita é a comida das empresas."

NIZAN GUANAES, FUNDADOR DO GRUPO ABC

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O AGRONEGÓCIO MERECE MAIS WASHINGTON OLIVETTO, CHAIRMAN DA WMCCANN

Washington Olivetto dispensa apresentações, mas se for preciso falar algo sobre ele aqui, então, que se resuma da seguinte forma: trata-se um dos maiores responsáveis pela propaganda brasileira ser reconhecida globalmente como uma das mais criativas do mundo. Uma reputação que caracteriza, há décadas, o setor inteiro e não somente sua própria agência de publicidade, a WMcCann. Durante uma conversa descontraída, com a informalidade que só os grandes especialistas têm para falar sobre o tema que dominam, Washington Olivetto refletiu sobre como a comunicação pode ajudar a fortalecer o agronegócio. O papo começou: - Olá Olivetto, tudo bem? - Tudo bem. A vida está corrida, viajo em dois dias. Mas quando você me contou os

PARA SER INDISPENSÁVEL, É PRECISO TORNARSE PERCEBIDO WILLY HAAS, DIRETOR GERAL DE NEGÓCIOS, E SERGIO VALENTE, DIRETOR DE COMUNICAÇÃO DA REDE GLOBO 30

detalhes do projeto, realmente gostei muito e estou aqui para contribuir... E continuou: - Tem Uma coisa muitíssimo simples: durante um bom tempo, mesmo que todos soubessem o tamanho, o sucesso e a importância espetaculares do agronegócio, as pessoas fizeram uma análise um pouco ingênua a respeito da relação do agronegócio e de como glamourizá-lo em termos de mídia. - Por quê? Porque todos olhavam o agronegócio como se o consumidor fosse o boi e a vaca, quando, na verdade, o consumidor é o dono do boi e da vaca. São pessoas que têm dinheiro. As pessoas que se dedicam ao agronegócio são bastante bem-sucedidas e, portanto, consumidores de muitas categorias de produtos. São talvez o grupo de consumidores com uma das maiores amplitudes de consumo: realmente gostam dos produtos mais simples até os importados de luxo. Ingenuamente, por muito tempo, não se trabalhou isso. E mudar essa percepção é fundamental para dar mais força para o setor. É importante dizer que isso já está mudando. E vai mudar muito mais. Tenho um bom exemplo aqui dentro de casa (a WMcCann, agência de

O agronegócio levou o Brasil a tornar-se uma potência mundial produtora e exportadora de commodities, modelo em tecnologia no campo, líder em safra de inúmeros produtos agropecuários. Responsável por 23% do PIB e 44% das exportações brasileiras, o setor tem importância vital para a economia do país. Mas, ao mesmo tempo em que cresceu e amadureceu enquanto vetor de negócios, pouco fez para construção da sua imagem e a consolidação de marcas que fazem parte do dia a dia de todos os brasileiros. Sim, o agronegócio está em todo lugar. Está no que comemos, no que bebemos, no que vestimos, no que usamos. Está no trabalho, em casa, no carro e na bicicleta. Não é exagero dizer que a


Ag Washington Olivetto, é responsável pela conta publicitária da Seara). Há algum tempo, os donos da Seara compraram o Canal Rural da RBS. Eles fizeram esse movimento porque entenderam que ao mesmo tempo em que precisavam estar na TV Globo, precisavam também falar especificamente com os líderes do agronegócio. Assim, enquanto a marca está em mídias de grande alcance com a nossa campanha publicitária protagonizada pela Fátima Bernardes, ela também conversa diretamente com os tomadores de decisão por meio de uma plataforma nichada e bastante eficiente. O resultado é um crescimento espetacular nos últimos anos. E a marca continua construindo frentes de comunicação relevantes: a Seara está junto com a Rede Globo em uma das iniciativas mais brilhantes para ajudar a fortalecer o mercado que é a veiculação de uma série de pílulas de conteúdo sobre o agronegócio nacional. Isso é resultado de uma filosofia, já que o Willy (Willy Hass, diretor Geral de Comercialização da Rede Globo) é mais do que um homem de negócio, ele tem uma preocupação com o desenvolvimento do País. Todos esses são projetos de um grupo, o JBS, que tem o mérito de ter compreendido que o sucesso para construir marcas fortes é usar

diferentes mídias, explorando suas melhores características dentro de uma estratégia de comunicação em que a mensagem seja única, seja sólida e direcionada por uma grande ideia. Este é um trabalho de médio prazo que constrói marcas e também o setor. Marcas fortes, mercado forte. Agora é preciso evoluir muito. Nos Estados Unidos a comunicação com este target é exacerbada. Vai de música country até a glamourização do produto. Eles criaram uma cultura do agronegócio e fizeram campanhas muito bem-sucedidas de categorias. Uma delas é a Got Milk?, que foi lançada quando o mercado de lácteos estava caindo e conseguiu reverter o quadro a ponto de levar ao recorde de consumo de produto no país. Aqui no Brasil é mais difícil. Eu acho que o agronegócio merece uma campanha assim. Para isso acontecer é preciso que o grupo se reúna, dando poderes a líderes que trabalhem juntos e que façam uma vaquinha para que de fato o plano saia do papel. Bem, falar em vaquinha neste caso parece até ironia do destino.

agropecuária é a origem de uma infinidade de produtos. Sua importância não está apenas nos alimentos que consumimos ou nas roupas que vestimos, passa também por móveis, combustíveis, instrumentos musicais e até mesmo objetos de decoração. Ao seu redor, gira uma cadeia de produtos, riquezas e insumos. Por não explorar esse imenso potencial, talvez hoje o agronegócio não seja percebido como indispensável para todos nós. É preciso mudar essa realidade, valorizar o setor mais produtivo do país. Sem uma estratégia de marca eficiente, que explore a força da comunicação de massa, o consumidor tem menos acesso a informação – e, consequentemente, menos opção para analisar

os diferentes concorrentes e fazer suas próprias escolhas. Para ser indispensável, é preciso tornar-se percebido. Deixar para trás o estereótipo de uma cultura local, de uma característica regional, e mostrar que o agronegócio está em todo o lugar. Dar a real dimensão à sua importância, ao seu potencial. Falar com a propriedade de quem está no dia a dia, com a força de quem é parte esseNcial da vida e do desenvolvimento deste país. Com alcance, com consistência, com resultados. Pois como diz nossa campanha em reconhecimento a esta incrível indústria do agronegócio brasileiro: agro é tech, agro é pop, agro é tudo. Agro, a indústria riqueza do Brasil. PLANT PROJECT Nº 0

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“O MAIS IMPORTANTE É TER CONSISTÊNCIA E VERDADE” SÉRGIO AMADO, PRESIDENTE DO GRUPO OGILVY BRASIL

A REINVENÇÃO DO AGRONEGÓCIO: A NOVA INDÚSTRIA SURGINDO DENTRO DA FAZENDA. SIMONE RODRIGUES, SÓCIA DAS AGÊNCIAS MAKE COMUNICAÇÃO INTELIGENTE E HYP DIGITAL, E DA PRODUTORA DE AUDIOVISUAIS NONAME.

Até aqui, formadores de opinião e mídia tiveram sua parcela de contribuição na missão de esclarecer à população brasileira o protagonismo do agronegócio do País, dono de uma vocação agrícola e pecuária reconhecida mundialmente. A comunicação das empresas e agências também encarou com coragem e sucesso, nos últimos 10 anos, o debate dos temas mais sensíveis à cadeia produtiva diante da opinião pública: questões 32

Brasil e commodities agrícola. Essas duas palavras são praticamente desassociáveis quando falamos em setores de atividade econômica. Em sua opinião conseguimos aproveitar os valores destas duas potências para criar uma reputação positiva para o agronegócio nacional? Acredito que diversas atividades econômicas brasileiras têm excelente reputação, também internacional, e tenho certeza que o agronegócio está entre elas. O que falte, talvez, é utilizar mais ferramentas da comunicação, assim como fazem outros mercados, e fazer essa dissociação entre agronegócio e commodity. A comunicação é sempre uma ferramenta poderosa para dar valor a uma marca. Essa reputação tem a força e a relevância que traduza a força econômica da categoria no Brasil e no exterior?

ambientais, transgênicos, sustentabilidade, responsabilidade social e outras questões. Graças à comunicação, a cana-de-açúcar é agora mais percebida como uma cultura sustentável, geradora de energia limpa e renovável, antes de uma ‘concorrente’ do segmento agroalimentar. Os defensivos agrícolas, sempre no centro do debate, têm sido associados à tecnologia, produtividade e safras recordes, o que não ocorria até pouco tempo atrás. Os esforços de comunicação do agronegócio foram valiosos na consolidação de uma imagem favorável em relação à relevância e à seriedade dessa cadeia produtiva. Mas a indústria da comunicação parece não ter despertado para uma tendência que já é realidade. A insistência em afirmar que o agro é pop soa um tanto demagógica, superficial e fora de lugar. Aliás, essas mensagens são recorrentes e fazem história na mídia. As conquistas do campo, o agronegócio âncora, o produtor herói, são colocados em segundo plano quando a economia vai bem. Na prosperidade, as agências, os criativos, planejadores da propaganda, a indústria do agronegócio e os veículos de comunicação esquecem o produtor rural do lado de dentro da porteira. Por isso, o velho discurso de romantização não convence mais.


Não sou um especialista da área, vejo tudo com uma visão mais publicitária e de negócios. Mas acho que é um mercado formado por muita gente séria. O que não vemos, e talvez falte, é uma exposição e uma comunicação que mostre este Brasil tão gigante na área do agronegócio. Algumas indústrias, e aqui destaco especialmente a automotiva, conseguiram despertar um sentimento de orgulho no brasileiro. Por que não conseguimos criar esse sentimento com relação ao agronegócio? O setor automotivo fala diretamente com o cliente final. Ferramentas como relações públicas, por exemplo, poderiam ajudar a criar valores mais fortes. Acho que um trabalho de PR consistente, por exemplo, somado a ações digitais – hoje, mesmo nos centros distantes, as pessoas estão conectadas e ligadas em tudo o

que acontece – poderia ajudar nessa tarefa. O prazo para a conversão de estratégia de comunicação em reputação é longo? Com esforço é possível começar a colher alguns benefícios no curto prazo? Acho que o mais importante aqui é consistência. Não é começar um plano e logo abandoná-lo. Sem consistência, um plano de comunicação não funciona em nenhum setor. Devemos também sempre lembrar que se não houver verdade isso nunca funcionará. Há condições no Brasil de criarmos uma cultura do campo? Uma cultura no sentindo amplo que une música, culinária, estilo de vida... Acho que essa cultura já existe. E é muito forte. Penso que possa faltar justamente uma comunicação consistente que mostre isso em todos os cantos do Brasil, não somente no interior.

Antes de protagonizar o herói solitário de campanhas milionárias, o produtor quer comprometimento com o seu propósito. Ele quer um novo olhar sobre ele. Sua expectativa em relação à indústria da comunicação é que ela enxergue o agronegócio como ele é hoje, não que se resuma apenas em histórias repetidas em horário nobre, cercadas dos velhos chavões do mercado de consumo. O produtor mudou, aprendeu com o tempo, ganhou experiência, acompanhou os desafios do campo e se reinventou. Hoje, o discurso monótono de engrandecimento do agro por si só já não representa mais a sua realidade. Sua história de vida e trabalho tem muito mais conteúdo e é muito maior que isso.

são empresários rurais que abrem novos mercados, lutam por crédito, criam marcas próprias para diversificar seus negócios e buscam o apoio da indústria da comunicação para se profissionalizar, ganhar competitividade, agregar valor às suas marcas. Uma pesquisa, que será divulgada pela agência HYP nos próximos dias, vai oferecer subsídios valiosos a agências e profissionais que ainda não se deram conta de que o agronegócio se reinventa a cada safra. Os dados do estudo, primeiro do gênero realizado no Brasil, revelam que, do lado de dentro da porteira, está um produtor engajado mais do que nunca, fortemente influenciado pelo meio digital em suas decisões de compra, investimentos e gestão. O produtor rural atua nas redes sociais, nos grupos fechados, é seguidor de novas lideranças setoriais e empresariais e também arrasta milhares de seguidores. Segundo a pesquisa, posicionar-se ao lado do produtor rural nessa busca pelo crescimento é mais inteligente do que insistir em comunicar mais do mesmo sobre ele. O autêntico e novo agronegócio não quer apenas aplausos, quer ser próximo e parceiro no sucesso e na rentabilidade. É preciso ligar os pontos e ocupar esse imenso vazio que existe entre os dois lados da porteira. E isso é papel da comunicação.

Muito diferente de décadas atrás, do lado de dentro da porteira trabalha hoje um produtor empreendedor que persegue a rentabilidade e a sustentabilidade de sua propriedade, que encara como uma empresa. O agronegócio autêntico e real, que cresce nas terras brasileiras, é impulsionado por uma nova safra de produtores:

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AGRICULTURA: O MAIOR TRABALHO DA TERRA LUCIANO BUSATO VIGNOLI, PRESIDENTE DA AGÊNCIA e21.

A cena não pode ser mais simples, corriqueira, repetida à exaustão, mas é certamente um dos momentos mais lindos da vida de uma mãe: o bebê olha em seus olhos. Aguarda paciente. Então ele abre a boca e aquela garfada de sensações o invade. E ele então reage, agitando-se em êxtase graças ao gesto de puro amor praticado pela mamãe – ou pelo papai – ao alimentá-lo. Somos 7 bilhões de pessoas e todos nós passamos por isto. Diariamente. Todos os dias. Necessitamos de, ao menos, 21 bilhões de refeições a cada 24 horas. Mas a gente não quer só comida, necessitamos de mais: precisamos de roupas e damos preferência ao conforto e aconchego das fibras naturais. Precisamos nos locomover e novas fontes alternativas ao petróleo, limpas e renováveis, tornam-se usuais e economicamente viáveis. Dificilmente paramos para pensar nisto, mas atrás desta nossa diversidade de necessidades, um pouco antes da comida repousar lindamente nas prateleiras de um supermercado. De uma profissão empírica, pouco valorizada, repleta de achismos e crenças, hoje as atividades do agronegócio brasileiro são sinônimo de excelência e capacidade técnica, destroçando recordes de

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produtividade a cada nova safra e salvando nossa economia combalida. Para tanto, nossos profissionais do campo precisam se capacitar. E muito. Precisam desenvolver habilidades de agronomia, geologia, climatologia, fisiologia, economia, mecânica, administração, entre outras. Lidar com os desafios que tornam estas atividades um painel complexo onde somente as lições do passado são insuficientes para alimentar o futuro da humanidade. Na e21, passamos pela experiência diária de auxiliar nossos clientes do setor a maximizar sua experiência com o agronegócio, ajudando nossos produtores rurais a retirar cada vez mais da terra. Pesquisamos intensamente nossas regiões e suas particularidades. Desenhamos um Mapa de Culturas completo, entendendo que um produtor de arroz não é somente isto – um produtor de arroz – mas é, sim, uma persona (arquetípica) com características que vão muito além do seu aspecto demográfico (gênero, idade, instrução, etc.). Nossos produtores são seres humanos e, por definição, únicos. São profissionais tão diversificados quanto seus cultivos. Assim, fugir do clichê é uma obrigação. Pesquisálos quanto o seu estágio de tecnificação, quanto ao seu envolvimento econômico com o negócio, entender o quanto há de paixão em seu perfil, torna-se obrigatório para construirmos mensagens relevantes que fujam das promessas lindas mas vazias. Temos de ir além. Visitá-los em suas fazendas. Conviver com sua realidade. Participar de seus eventos, entender seus dramas e desafios. Precisamos sujar as botas (se não as tivermos, comprá-las). É desta forma que conseguimos entender que Massey não é somente uma marca de tratores e máquinas, mas um instrumento para uma vida melhor. Kepler Weber não é só armazenagem de grãos. É segurança nos padrões de performance das propriedades. Basf é mais que defensivos agrícolas, é proteção que potencializa recursos. Enfim, é assim, com a profundidade e o respeito que esta atividade nos merece, que defendemos o posicionamento mundial desta marca (Basf), entendendo que trabalhar com agricultura é mais que tecnologia, é mais que uma atividade econômica, é mais que uma simples ocupação. Graças a nós seres humanos e às nossas crescentes necessidades e exigências, trata-se, sim, do maior trabalho da terra.


A educação do produtor e dos consumidores passou a ser o grande investimento para facilitar o acesso a mercados"

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Ideias e debates com credibilidade

foto: Divulgação

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O Papel da Educação no Agronegócio PLINIO NASTARI Presidente da DATAGRO Consultoria

O agronegócio é reconhecido como uma das mais eficientes alavancas de promoção de desenvolvimento econômico. Para o Brasil, em particular, que é abundante em terras férteis e mão-de-obra capacitada na agricultura mas escasso em capital, o agronegócio é setor econômico chave para o crescimento e o desenvolvimento econômico e social. O efeito multiplicador da renda gerada neste setor é estimado em 12 a 14 vezes, tendo sido responsável pelo surgimento de vários polos regionais de desenvolvimento. É com este pano de fundo que, num mundo cada vez mais competitivo e de informações integradas, a educação do produtor e do consumidor passou a ser o grande instrumento para facilitar o acesso a mercados, garantir a geração de valor, atender exigências cada vez mais intensas e específicas dos consumidores e aumentar sua capacidade de atribuir e discriminar valor para os produtos disponíveis no mercado. A educação do produtor passou a ser fundamental para disseminar tecnologias mais avançadas de produção, para evitar ou corrigir desvios e problemas causados pelo clima ou o uso de práticas inadequadas, para capacitá-lo a atender padrões mais exigentes na geração, armazenamento e transporte de produtos agrícolas e, no limite, permitir a intensificação de práticas voltadas ao uso sustentável de recursos naturais finitos como a fertilidade dos solos, água, a preservação da biodiversidade, a rastreabilidade, a denominação de origem, e padrões avançados de sanidade vegetal e animal. Existem vários exemplos nos mercados de leite, café, açúcar, cereais, soja, milho, produção de carnes branca e vermelha, em que a produção gerada segundo critérios considerados avançados permite ao produtor ter acesso a preços mais altos e assegurar demanda garantida para sua produção. 36

É, por exemplo, o caso do leite produzido para o abastecimento de plantas de leite em pó, em que o produtor que atende aos quesitos de qualidade e sanidade recebe prêmio de 40% a 50% sobre aquele auferido no mercado convencional. A educação do produtor começa pela base. É preciso formar um contingente cada vez maior de mão-de-obra capaz de entender novas práticas e aplicar novas tecnologias disponibilizadas num ritmo crescente por um grande contingente de pesquisadores, universidades e institutos de pesquisa públicos e privados. Grandes empresas globais investem um percentual elevado, muitas vezes superior a 10%, de seu faturamento, no desenvolvimento de novas tecnologias. É esse processo que tem permitido a continua evolução da produtividade agrícola. No meio-oeste dos Estados Unidos, desde a década de 1940 a produtividade do milho cresceu de cerca de 40 para os atuais 173 bushels por acre *. O Brasil está no mesmo caminho, com a vantagem de poder produzir duas safras por ano – soja e milho. Estar preparado para absorver estas evoluções tecnológicas faz toda a diferença para a sobrevivência num mercado competitivo. Iniciativas voltadas à formação de mão-de-obra para a agricultura são raras, apesar de muito relevantes e de grande impacto econômico e social. Por este motivo deve ser reconhecido o meritório, e silencioso, trabalho realizado há décadas por iniciativas como a da Fundação Bradesco em Bodoquena-Miranda, no Mato Grosso do Sul, e Ilha do Bananal, no Tocantins. Um outro vetor igualmente relevante da educação no agronegócio é aquele voltado ao consumidor, para que possa reconhecer a diferenciação e valorizar adequadamente o produto que é colocado à sua disposição. Um grão de soja ou de milho embute uma carga tecnológica muito grande. Ainda são poucos os consumidores que reconhecem que o etanol hidratado produzido a partir da cana no Brasil, considerado avançado no exterior e distribuído numa rede de postos de revenda de abrangência continental no Brasil, é uma das opções de combustível para mobilidade mais modernas e ambientalmente sustentáveis dentre as desenvolvidas em todo o mundo – mais avançada até do que a dos carros elétricos, quando se avalia a origem da eletricidade, muitas vezes advinda da queima de combustível fóssil. Na era da informação, os consumidores estão


cada vez mais interessados em reconhecer, e valorizar, o conhecimento sobre a origem, a prática empregada na geração primária e sua transformação, até sua disponibilização na gôndola. Ferramentas como códigos de barra e QR codes têm sido usados de forma crescente para transmitir este tipo de informação ou atributos. Desenvolveu-se assim um novo mercado de informação e discriminação de produtos, com uma enorme capacidade de gerar novos empregos de qualidade e novas formas de criar valor. Mas, para que isso funcione, é preciso informar o consumi-

dor, para que valorize o produto que atende critérios que considere superiores. Um dos temas centrais do Global Agribusiness Forum é a importância da educação do produtor e do consumidor para a geração e o reconhecimento de valor nos diferentes elos da cadeia do agronegócio. Esta será uma das mais importantes alavancas de expansão e acesso a mercados de produtos agrícolas em todo o mundo. 1. Um bushel de milho equivale a 56 libras, ou 25,40 kg. Uma saca de milho pesa 60 kg, ou 2,36210 bushels. Cada bushel/acre equivale a 62,77 kg/ha. 173 bushels por acre equivalem a 10,86 toneladas métricas por hectare, ou 181 sacas de 60 kg por hectare.

3 Cinco perguntas para José Manoel Silva-Rodriguez Ex-diretor geral de Agricultura da Comissão Europeia

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Que lições a agroindústria e a indústria europeias podem transmitir sobre como agregar valor à produção agrícola e sobre como o consumidor valoriza a diferenciação de produtos? Além da questão dos preços, os consumidores da União Europeia (UE) apoiam cada vez mais a diversificação da qualidade que procuraram em suas compras de alimentos, seja em relação ao setor sanitário e de saúde (higiene e nutrição), em relação á conveniência (comida preparada), em relação ao setor ambiental e social (produção orgânica, cadeias de abastecimento de alimentos curtas) e quanto à autenticidade (indicações geográficas, comida tradicional). O agronegócio europeu, indústrias e varejistas estão logicamente respondendo a essas preocupações com o desenvolvimento de uma grande variedade de sistemas de certificação privados, em que a Comissão Européia publica orientações sobre as melhores práticas. Quais são essas orientações? A UE, no âmbito da PAC (Política Agrícola Comum) e mais além, está envolvida no desenvolvimento de sistemas transparentes sobre questões como padrão de produção orgânica, indicações geográficas, rótulos ecológicos etc.

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Qual é a importância da informação para que o produtor se prepare para atender às crescentes demandas do consumidor? Logicamente, com os consumidores mais conscientes da qualidade do produto que procuram no mercado, a rotulagem de alimentos se torna mais importante, seja em seus aspectos nutricionais e de saúde, como a presença de ácidos com gordura trans, sal e alérgenos, seja em relação às práticas agrícolas, como, por exemplo, a produção orgânica. É preciso ainda ser claro sobre a origem dos alimentos, a pegada ambiental e as condições sociais de sua produção, como por exemplo, comércio justo ou ético. A União Europeia garante que a rotulagem deve ser, ao mesmo tempo, não enganosa para os consumidores e não-discriminatória para todos os produtores. Que resistências ocorreram durante a introdução de regras crescentes de livre comércio na agricultura europeia? A estrutura do sector agrícola da UE combina um grande número de pequenas e médias famílias agrícolas com algumas empresas agrícolas maiores. Há ainda diferenças importantes entre os diferentes Estados-Membros e regiões da UE. O setor está passando por um processo de mudança estrutural permanente, levando a uma importante redução do número de fazendas e empregos no setor agrícola ao longo dos últimos 60 ou 70 anos. A aplicação direta das regras de livre comércio a um setor reestruturado pode ser sentida como uma ameaça para esse setor, levando a resistências por certos atores desse sistema. Além disso, os agricultores europeus realmente entregam ou mantêm os bens públicos, principalmente ambientais, mas também os sociais e culturais. Preocupam-se tanto em

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nível europeu – com qualidade da água – quanto em nível global, com a contribuição para a mitigação das mudanças climáticas. A liberalização da agricultura da UE anda junto com o desenvolvimento das políticas estruturais, ambos com a intenção de facilitar a transição para a liberalização e preservar os benefícios ambientais fornecidos pelos agricultores. De qualquer forma, o livre comércio tem definitivamente progredido, graças a compromissos unilaterais, bem como os acordos multilaterais e bilaterais. A UE é de longe o maior importador do mundo em produtos agrícolas e alimentares e continua empenhada em prosseguir as negociações de acordos de livre comércio, respeitando a crescente consciência

O Passado e o Presente dos Sistemas de Produção Agrícola DR. IGNACIO F. LÓPEZ

Instituto de Agricultura e Meio Ambiente, Massey University

Durante a segunda metade do século 20 o desempenho dos sistemas de produção agrícola aumentaram em números nunca antes vistos através da aplicação de tecnologia. Isto é conhecido como “A Revolução Verde”. Parecia que o problema de alimentar da crescente população estava resolvido. No entanto, o tempo passou e a intensificação agrícola trouxe conseqüências indesejáveis, tais como a lixiviação de nitrogênio aos sistemas de água corrente e a compactação do solo devido a um excesso de lavoura. Os efeitos negativos da intensificação da agricultura mostraram que há limites para o desenvolvimento dos sistemas agrícolas e também que as conseqüências da produção podem ir além da cerca da fazenda. Há países que, depois de avaliar e mensurar os efeitos negativos da agricultura além dos limites que o meio-ambiente pode suportar, perceberam que existem conseqüências que também afetam a sociedade humana ao seu redor. Regulamentos 38

ambiental dos cidadãos. O impacto indireto das importações sobre as emissões globais de gases de efeito estufa, por exemplo, é uma preocupação nas negociações em torno das compras de carne. Quão eficiente é o produtor agrícola europeu atualmente? A UE é principalmente um exportador de produtos de valor acrescentado e processados, e não de produtos agrícolas. É nesses setores que a UE é competitiva. Há vários setores na indústria de alimentos que podem ser destacados, como bebidas, produtos lácteos e produtos processados, como ​​alimentos para crianças, preparações alimentícias em geral, produtos de confeitaria.

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foram concebidos e os efeitos secundários estão sendo monitorados. O desenvolvimento de sistemas de comunicação, de informação e de transporte tem mudado a forma como a agricultura é conceitualizada hoje. Há um mercado global que requer produtos agrícolas com uma diversidade de qualidades. Atributos climáticos definem áreas de produção agrícola e produtos, mas também os mercados onde podem ser comercializados. Os produtos agrícolas são enviados para regiões distantes dentro do mesmo país, ou exportados para outros países. Normalmente, melhores preços para os produtos estão relacionados com mercados mais exigentes que requerem produtos de alta qualidade. Sistemas de tecnologia da informação podem funcionar nas mãos de todos e a rastreabilidade está se tornando uma questão relevante: obter mais informações sobre o produto a ser vendido. Um consumidor mais bem informado vai querer saber não apenas a localização da fazenda onde o produto foi produzido, mas também as condições sob as quais foi produzido. Isso constitui uma oportunidade de mercado. Portanto, no mercado global, a produção agrícola tem que ser feita de uma maneira correta e sustentável. Os produtos estão passando as fronteiras regionais e nacionais e estão entrando em mercados mais exigentes, com melhores preços que podem aumentar a rentabilidade agrícola. Algo que ocorre em uma escala local-regional pode ter efeitos relevantes em um escala de mercado globalizado afetando assim os preços.


Colheita de soja no Oeste da Bahia Depois do desbaravamento, a vez do desenvolvimento com infraestrutura, serviços e novos negócios

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FRONTEIRA

As regiões produtoras do mundo

foto: Rui Rezende PLANT PROJECT Nº 0

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FRONTEIRAS

As regiĂľes produtoras do mundo

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UM VOO PARA O NOVO OESTE Depois de consolidar suas lavouras, o cerrado baiano decola numa espiral de desenvolvimento movida pela agroindústria, infraestrutura tecnologia e serviços Por Catarina Guedes, de Luís Eduardo Magalhães (Bahia – Brasil) fotos de rui rezende

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As regiões produtoras do mundo

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eza a lenda que nos anos de 1980 um sujeito com muita coragem e dinheiro suficiente para comprar um maço de cigarros poderia adquirir um hectare de terra no Oeste da Bahia, a imensidão quase esquecida à margem esquerda do rio São Francisco. Como o valor era irrisório, o fator de decisão era mesmo a coragem, porque – dizia-se – aquelas terras não compensavam sequer o arame da cerca. Primeiro, porque eram muito ácidas e arenosas, características típicas dos solos do cerrado que então despertavam pouco interesse dos agricultores. Depois, pelo isolamento: estavam a mil quilômetros de Salvador e a 500 quilômetros de Brasília, em uma época de estradas ruins, telefonia incipiente e eletrificação precária. O Oeste era tão distante e isolado que nem os governos chegavam lá. Ou talvez fosse remoto porque estava fora da agenda dos governantes. Por isso, teve de ser aberto no braço. Hoje, cerca de arame é raridade em um dos maiores polos de produção agrícola do Brasil, dono de recordes mundiais de produtividade e que cresce em ritmo chinês. O desenvolvimento

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da agricultura na região resultou do investimento intensivo em tecnologia em variedades adaptadas às condições de clima e solo locais, máquinas, químicos e manejo apropriado. A evolução nas lavouras acarretou uma espiral de desenvolvimento em setores diversos, com a chegada das agroindústrias e o incremento na infraestrutura, tecnologia, serviços, educação e comodidades. Se hoje o Oeste da Bahia não é tanto uma fronteira agrícola, no sentido mais desafiador do termo, ainda guarda oportunidades de negócios para quem além do capital e da coragem dos primeiros desbravadores, detém requisitos como conhecimento, capacidade de gestão e visão de mercado. SOJA É MOEDA Para os corretores, a saca de soja é moeda corrente e dá uma dimensão mais precisa da valorização dos imóveis rurais. Hoje um hectare na região vale em média de 400 a 500 sacas de soja, ou de R$ 25 mil a R$ 30 mil -- em casos excepcionais, chega a 600 a 800 sacas o hectare, segundo Marcelo Padilha, da corretora Fragatta. De acordo com a estimativa da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba) para a safra 2015/16, o Oeste


Plantação de algodão no município de Barreiras: produção com fibras de alta qualidade

deve colher quase seis milhões de toneladas de grãos, em uma área de 2,3 milhões de hectares. A soja, cultura precussora, ocupa 65% da matriz produtiva, na qual se destacam ainda algodão, milho, café e frutas, com a entrada cada vez mais expressiva da pecuária, em projetos de confinamento para leite e corte. A região é a segunda maior produtora de algodão do País, e reconhecidamente uma das melhores origens em qualidade de fibra. Na atual safra, a cultura ocupa 250 mil hectares, com expectativa de produtividade média de 173 arrobas de capulho por hectare. As estimativas mais conservadoras apontam que ainda é possível somar cerca

de um milhão de hectares à área plantada da região, mas há muita controvérsia a respeito. “Na minha opinião, o Oeste pode chegar a quatro milhões de hectares ocupados com lavouras, respeitando totalmente a legislação ambiental. Se desenvolverem plantas mais resistentes ao déficit hídrico, essa margem pode aumentar”, diz o produtor rural Sergio Pitt, um dos pioneiros na região e hoje secretário de Indústria e Comércio do município de Luís Eduardo Magalhães. PLANO DE VÔO A família Rangel é uma prova da diversificação produtiva do cerrado baiano.

Nada de soja, algodão ou milho. Em 2009, eles fundaram em Barreiras a Aero Centro, que monta e comercializa as aeronaves RV, da americana Van’s Aircraft e, desde 2012, trabalham na pesquisa e desenvolvimento de uma aeronave executiva para cinco passageiros, 100% desenvolvida na cidade, o Kronos 315. Segundo os empresários, uma iniciativa inédita no Brasil nessa categoria. Para isso, o piloto Kleber Rangel, os filhos Kaio e Thiago e a esposa Lucilene investiram cifras vultosas na contratação de engenheiros e técnicos de várias partes do mundo. Investiu também na formação dos membros da família. Kaio PLANT PROJECT Nº 0

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Oeste da Bahia

tem 23 anos e vive a aviação desde que nasceu. Piloto com mais de três mil horas de vôo, aprimorou os conhecimentos na Tutima Academy of Aviation Safety, na California. Aos olhos do pai, é ele quem entende tudo sobre o Kronos 315. O jovem explica que o Kronos 315 será uma aeronave homologada, de asa baixa e alta performance. Além disso, é segura, de fácil operação e foi pensada para atender à demanda dos produtores rurais e empresários que pilotam. “A meta era lançá-la no mercado em 2017, mas tivemos de mexer no cronograma pela dificuldade de encontrar linhas de crédito e entidades que avaliem o valor de projetos como esse”. DE AERÓDROMO A “AEROTRÓPOLE” Os agricultores do Oeste entenderam desde os primeiros anos que de nada adiantaria esperar que o poder público lhes provesse infraestrutura. Por isso, juntaram esforços

para sanar uma lacuna na logística do município de Luís Eduardo Magalhães: a falta de um aeroporto dimensionado para grandes aeronaves. O município dispunha de um aeródromo, mas em caso de viagens com aviões maiores, era em Barreiras, a 90 km de distância, que pousavam. Em 2007, um grupo de empresários e agricultores locais decidiu construir uma estrutura compatível com essa demanda. Identificou então um trecho da Fazenda Agronol, a um quilômetro da entrada do Centro de Pesquisa e Tecnologia do Oeste da Bahia (CPTO) -- sede da Fundação Bahia e da Bahia Farm Show, uma das três maiores feiras de tecnologia agrícola do Brasil. “Uma localização estratégica”, conta o secretário Pitt, um dos integrantes do grupo. A área foi cedida pelo grupo Santa Izabel, capitaneado pelo empresário Ferdinando Magalhães. “Após conseguirmos a área, estabelecemos uma

O pioneiro Santa Cruz, o empreendedor Pitt, a consultora Vanessa Horita e o construtor de aviões Kaio Rangel

fotos: Claudio Foleto

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Parceria Público Privada com o governo da Bahia, na qual os empresários doavam a área e se comprometiam a fazer todo o trabalho de base”, explica. Isso aconteceu em 2010. As obras começaram, enfrentaram desgastes com a morosidade nos processos de licenciamento ambiental, mas o aeroporto hoje é uma realidade. A estrutura dispõe de pista de 2 mil metros, pátio de 40 mil metros quadrados e hangar. Em 2015, novamente com a colaboração financeira de empresários locais, foi construída uma estrada de acesso ao parque da Farm Show, uma pista de taxiamento para as aeronaves, além da iluminação para pousos e decolagens noturnos. O Estado entrou com o asfalto. Entre recursos públicos e privados, foram investidos R$ 35 milhões no aeroporto. “Agora estamos trabalhando para fazer dele um equipamento público junto à ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil)”, diz Pitt. “A localização geográfica de Luís Eduardo Magalhães é estratégica tanto para a agricultura da Bahia, como também para torná-la um centro logístico do Nordeste brasileiro. A combinação de um aeroporto de porte, um centro industrial, uma cidade planejada, com rede hoteleira e comércio forte transformará Luís Eduardo Magalhães em uma verdadeira ‘aerotrópole’ regional”, vislumbra o secretário.


RAIO X

É MELHOR FICAR “Eu cresci com o agro e devo tudo à agricultura. O campo me possibilitou ser quem eu sou, viajar, aprender e consumir produtos diferenciados. Mas a minha realização pessoal é a moda, que está intimamente ligada ao setor agrícola”, conta Vanessa Horita, nascida em Barreiras em meio a uma das famílias pioneiras na produção de algodão no cerrado. Com uma formação que incluiu passagem pela Cotton School, em Memphis, no Tennessee, e estágio em algumas das tradings mais famosas do mundo na comercialização da commodity, ela uniu a familiaridade com a produção ao seu amor por moda. Hoje é uma fashion influencer para os milhares de seguidores de suas redes sociais, e uma imagem valiosa que o comércio local adora – e paga – para ver associada aos seus produtos. Com conhecimento e meios para se estabelecer em mercados pelo mundo afora, optou por Barreiras e região, por vislumbrar ali um nicho rentável e um público de alto poder aquisitivo. Como muitos jovens com facilidade de comunicação e inteligência, Vanessa está organizando seu canal no Youtube. Mas, se conquista seguidores e curtidas na internet, a base dos seus recursos vem do mundo real. “Tenho uma carteira de serviços variada e uma agenda cheia”, afirma. Palestras, produções de moda para eventos

A região é composta de duas áreas de características fundiárias distintas, o vale e o cerrado. No vale, à margem do Rio Grande, predominam a agricultura e a pecuária de subsistência. Já no cerrado, que faz divisa com os estados de Goiás, Tocantins e Piauí, desenvolveu-se a agricultura moderna e tecnificada, graças à topografia plana que favorece a mecanização em todo o processo produtivo e aos índices pluviométricos de até 1.800 mm ao ano. Essa área compreende os municípios de Barreiras, Luís Eduardo Magalhães, Formosa do Rio Preto, Riachão das Neves, São Desidério, Correntina, Jaborandi, Cocos e Baianópolis.

COLHEITA FARTA

O que se plantou e se colheu na região (safra 2014/2015) Cultura

Área

Soja

1.420

Produtividade

(milhões de toneladas)

Produção (sacas/ha)

4,174

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Algodão 266

1,041

260*

Milho 220

1,782

135

Outras 392

0,218

Total 2.298

7,216

*em arrobas de capulho/ha

Fonte: Aiba

Como chegar De avião: Voos diários para Barreiras pela Passaredo e Azul Linhas Aéreas de Salvador, Brasília e Belo Horizonte. Voos privados: Aeródromo de Barreiras - SNDH Coordenadas - 12° 9’ 37’’ S / 45° 1’ 21’’ W Pista – Asfalto, 1530 m x 25 m, 8/F/C/Y/U VFR Diurna

Aeródromo de Luís Eduardo Magalhães - SWNB Coordenadas - 12° 4’ 6’’ S / 45° 42’ 41’’ W Pista - Asfalto, 2.000m x 30m, 12/F/A/X/T VFR Diurna/Noturna De carro: De Salvador a Barreiras, BR242 De Brasília a Luís Eduardo Magalhães, BR020

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Oeste da Bahia

e editoriais, consultoria de compras presencial e por whatsapp e até uma linha de óculos com seu nome estão nessa agenda. “Transformei em negócio uma atividade que já fazia espontaneamente, que é dar conselhos de moda e estilo”.

CIDADE AGRO DIGITAL Quando chegou ao Oeste da Bahia em 1980 nem o Posto Mimoso existia, conta o empresário e prefeito de Luís Eduardo Magalhães (LEM), Humberto Santa Cruz, referindo-se ao posto de combustíveis que foi o embrião do município, emancipado de Barreiras nos anos 2000. Santa Cruz, engenheiro civil do grupo Santa Isabel, mudou-se do Rio de Janeiro para Barreiras aos 32 anos com a missão de tocar o novo investimento do grupo, a Fazenda Agronol, que inicialmente seria um empreendimento canavieiro. Trinta anos e muitas guinadas depois, seu entusiasmo de desbravador só aumenta. O projeto de cana-de-açúcar 46

não vingou e foi substituído por culturas adequadas ao contexto da região. Hoje a Agronol produz soja, milho, algodão, mamão e café com irrigação. Sócio do grupo, há oito anos deixou o cargo de diretor superintendente e decidiu disputar a prefeitura de LEM. A política partidária não estava nos planos do pioneiro, que se tornou a primeira liderança classista da região ao fundar a Associação dos Agricultores e Irrigantes da Bahia, a Aiba, em junho de 1990. “Éramos 16 irrigantes preocupados em preservar o recurso mais valioso que tínhamos, a água”, lembra. “Mapeamos com GPS todos os projetos de irrigação existentes, a vazão de cada bomba e entregamos as informações ao governo baiano”. O objetivo era que fossem criadas políticas para garantir o uso racional e sustentável do patrimônio hídrico. Ao longo do caminho, a Aiba ganhou abrangência estadual e respaldo nacional. Saltou dos 16 membros iniciais para 1,3 mil associados. “Tínhamos um modus operandi muito bem definido. Ao invés de esperar que fizessem algo pela região, diagnosticávamos o problema, buscávamos a solução e então resolvíamos por nossa própria conta ou propúnhamos uma solução compartilhada com o poder público”, explica. As parcerias entre os agricultores

e governos através da Aiba respondem em grande parte pelo desenvolvimento da região, de eletrificação rural a telefonia e pavimentação de vias. As muitas vitórias se tornaram referência para outras associações no País. Já LEM passou de 18 mil habitantes à época da emancipação para os atuais 90 mil. É a oitava economia da Bahia, ultrapassando Barreiras, décima primeira. Em 2014, seu valor agregado da produção foi da ordem de R$ 3, 3 bilhões. Agora, em parceria com a gigante chinesa de tecnologia de informação e comunicações Huawei, o município se tornou uma Cidade Digital, com 72 quilômetros de fibra ótica e banda de 300 mega de internet 4G que integra todos os serviços e prédios públicos. Parte disso é o Centro de Controle e Operações (CCO), com sistema de vídeomonitoramento através de 700 câmeras espalhadas na zona urbana, que se comunica online, por exemplo, com as polícias, hospitais e serviços de emergência. “Essa tecnologia se soma a tudo o que representa Luís Eduardo para o agro brasileiro e nos permite criar novos laboratórios, inovar e empreender. Temos um aeroporto, localização estratégica, indústria forte, universidades e muitas oportunidades de negócios”, completa Santa Cruz.


Disco de parmigiano reggiano no galpão de maturação da fazenda Hombre, na Itália: obra de arte da agroindústria com status de estrela da gastronomia

W WORLD FAIR

A grande feira mundial do estilo e do consumo

fotos: Simone Amorim PLANT PROJECT Nº 0

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UMA VISITA AO ‘REI DOS QUEIJOS’ Fomos conhecer de perto a arte por trás da produção do parmigiano reggiano usado pelo melhor chef do mundo Por Simone Amorim, de Módena - Itália

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chef italiano Massimo Bottura, recém-eleito o melhor do mundo, costuma dizer que tem aceto balsâmico em vez de sangue em suas veias e parmigiano reggiano no lugar dos músculos. A referência do dono da Osteria Francescana a esse queijo tipo “grana” produzido na região da Emilia Romana, norte da Itália, não é em vão. Profundo admirador de ingredientes locais, Bottura

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sabe do efeito que o parmegiano reggiano – também conhecido como o “rei dos queijos” – pode causar no paladar, com seu sabor levemente adocicado e uma textura única que o faz derreter na boca. Não ouse comparálo a outros queijos, mesmo produzidos na Itália, como o famoso grana padano. Para entender a diferença e decifrar a paixão por trás do parmegiano reggiano, PLANT foi conhecer de perto a fazenda Hombre, em Módena, nada menos que o


Gastronomia

principal fornecedor de Bottura há 25 anos. Quem nos guia é Matteo Panini, dono da empresa fundada em 1974. Naquela época, a fazenda tinha apenas 20 hectares e o objetivo estava longe de ser a produção em larga escala. Seu avô, Umberto Panini (um dos fundadores da editora Panini, especializada em álbuns de figurinhas), queria apenas fabricar um leite de boa qualidade para a família e os amigos. A busca incessante por um produto de alto nível, porém, acabou colocando a Hombre na rota dos principais fabricantes de parmigiano reggiano da Itália. Matteo nos conta que, para entender a magia por trás desse queijo, é preciso dar alguns passos atrás na cadeia alimentar. Não à toa nossa visita começa por uma região da fazenda que corresponde ao “berçário” das 500 vacas que fornecem todo o leite utilizado na propriedade. São apenas duas raças: a simental e a frisona italiana. Os bezerros, quando nascem, ficam sozinhos por alguns dias até adquirirem anticorpos. “Precisamos preservar muito bem a saúde dos nossos animais, pois as intervenções em relação a medicamentos que podemos fazer são muito poucas”, diz Matteo. Para ser um legítimo parmigiano reggiano, o queijo tem de ser produzido segundo uma série de normas. As vacas que fornecem o leite,

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por exemplo, devem crescer e se alimentar em uma região específica do norte da Itália, que inclui as cidades de Modena, Parma e Reggio Emilia, além de uma parte de Montova e Bolonha. A dieta dos animais também é controlada, e apenas alguns poucos alimentos, como feno e forragem fresca, são permitidos, sempre produzidos na mesma região. No caso da Hombre, os cuidados são ainda mais intensos, por se tratar de uma produção orgânica. “Tudo o que nossas vacas comem é produzido aqui mesmo

na fazenda, em uma terra preparada com algo em torno de um milhão de bactérias”, conta Matteo. “Um bom produtor de parmigiano reggiano precisa ser, antes de mais nada, um bom produtor de terra. Por isso costumo dizer que nossa terra é um animal, um elemento orgânico”. Todo parmegiano reggiano é feito de um blend que inclui

A porteira dos currais da Hombre, o chef Bottura (no alto) e Panini: 25 anos de saborosa relação

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W Gastronomia

leite desnatado (ordenhado no dia anterior e deixado em tanques para a retirada da gordura) integral fresquíssimo, ordenhado no máximo duas horas antes de a mistura ser feita. Matteo nos conta que se trata de um processo extremamente delicado. “Temos um sistema que permite transportar o leite apenas alguns segundos depois de extraído das tetas das vacas”. Essa mistura segue para uma caldeira, onde acrescenta-se soro (espécie de resíduo do leite do dia anterior com capacidade de fermentação) e coalho. A caldeira é então aquecida a 55 graus por no máximo oito

minutos, quando o leite começa a se solidificar, formando um tipo de massa ao fundo. Essa massa é cuidadosamente retirada e colocada em formas arredondadas, aquelas que darão luz aos famosos discos de parmigiano reggiano. Depois de quatro dias (período necessário para se tirar o líquido daquela massa), os discos são retirados da forma e seguem para os galpões de maturação. Um queijo só se torna um parmegiano reggiano após 12 meses ali, mas na Hombre, esse período chega a 24 meses, resultando em um produto de sabor ainda mais especial. “Para se chegar a um disco de parmigiano reggiano, que pesa em torno de 36 quilos, são necessários 500 litros de leite”, conta Matteo. Na fazenda, a produção é de 12 discos de queijo por dia. Por ser feito com leite parcialmente desnatado, o “rei dos queijos”, além de extremamente saboroso, é mais

leve e magro do que o padano, por exemplo. Outra grande diferença é que o parmigiano reggiano não contém conservantes ou aditivos. Na Itália, o quilo custa em torno de 15 euros, mas não são apenas os italianos que apreciam a iguaria. “Cerca de 85% da nossa produção é voltada para exportação”, conta Matteo. “Nosso principal mercado é a França, seguida por Alemanha e outros países europeus. Há demanda em outros mercados, como nos Estados Unidos, mas não produzimos em tanta quantidade assim. Além disso, não me parece justo que um produto orgânico pegue muita estrada”. Estrada, para Matteo, é lugar para máquinas velozes. A visita à Hombre termina em um galpão especial. Do lado de fora, antigos tratores recontam um pouco da relação dos motores com a agricultura. Lá dentro, numa exposição aberta ao público, uma das mais valiosas coleção de Maserattis, Ferraris e outros esportivos revela outra paixão que une os Panini a Bottura. O chef é também um amante da velocidade, desde que longe da cozinha. Tem até um slogan a respeito: “Fast cars and slow food”. As caldeiras que produzem 12 discos de queijo por dia (no alto). A propriedade possui ainda um museu de tratores e carros esportivos

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Foto: Christina Louise Photography

Retrato

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LUIZA TAVARES DE ALMEIDA Disputando vaga com seus três irmãos, a amazona brasileira conta os dias até agosto chegar. Com apenas 24 anos, a atleta da modalidade de Dressage fará no Rio de Janeiro sua terceira participação em uma Olimpíada. Luiza já tem seu nome escrito na história, Em 2008, em Pequim, tornou-se a mais jovem participante em uma competição olímpica de hipismo. Nos Jogos de Londres 2012, foi a única representante da América Latina.

Terceiro-sargento da Cavalaria do Exército Brasileiro, campeã nos Jogos Mundiais Militares 2011, bronze por equipe no Pan do Rio 2007 e pentacampeã brasileira, Luiza tem raízes no agronegócio. É filha do empresário Manuel Tavares de Almeida, que tem entre suas atividades a produção de máquinas agrícola (Motocana), cachaça (Velho Barreiro) e cavalos Lusitanos – é o mais premiado criador da raça no Brasil. PLANT PROJECT Nº 0

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O JOALHEIRO DA CARNE UMA TARDE PARA A HISTÓRIA Tradição, expertise, design, exclusividade. Com esses ingredientes e uma loja de nível internacional, o paulista Rogério Betti põe na vitrine a primeira grife Décima edição da ISO DATAGRO New York Sugar & Ethanol brasileira de luxo no mercado de carnes Conferences movimenta mercado sucroenergético global

Por Luiz Fernando Sá | Foto: Luiz Maximiano

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Marketing

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rapaz com pinta de roqueiro está sentado à frente de uma casa em obras num beco da Zona Sul de São Paulo. “A ideia é ter aqui dentro a dinâmica de uma joalheria”, explica. “Produtos bem expostos nas vitrines, consultores circulando, gerando não uma venda, mas uma experiência”. Rogério Betti Marques abre no smartphone as imagens que mostram como o lugar se parecerá quando estiver pronto e as suas “joias” estiverem expostas, neste julho de 2016. O ambiente é clean, contemporâneo, combinando aço escovado com cortes rústicos de madeira. A iuminação, bem cuidada, como numa loja de grife de luxo. A marca DeBetti estará na fachada. Quem não entrar e olhar de perto jamais imaginará que funciona ali um açougue. Ou, se depender da ambição do açougueiro popstar, será o marco zero de um grande negócio, de alto valor agregado e potencial internacional, construído a partir de uma matéria prima que poucos comparariam a um diamante: a carne. Betti enxerga pepitas quando caminha entre rebanhos ou visita frigoríficos. Tem o olho treinado de quem cresceu vendo carcaças sendo fracionadas. É capaz de rodar centenas de quilômetros em busca do animal certo, aquele que lhe dará o diamante a ser lapidado. No caso dele, o corte a ser maturado. Nascido em uma família com

quase um século de tradição no ramo (chegou a ter uma rede de 38 açougues, até ser fechada no final dos anos 1990), o rapaz é um artesão do método de maturação dry age – que usa técnicas de resfriação e ventilação controladas durante até 60 dias, a seco, para obter um produto final mais macio e saboroso. Depois de uma passagem pelo mercado financeiro, ele resolveu a transformar o hobby, que já lhe rendia fama e encomendas, em negócio, que agora quer elevar a outro nível. “Acredito que é possível fazer com a carne o que a Nespresso fez com o café”, explica. Com design, estratégia de marketing, lojas conceito e e-commerce, pretende agregar valor ao produto e transformar a marca DeBetti em um ícone do mercado de alimentos. O açougue/butique no bairro de Cidade Jardim é, como define Betti, “a ponta do iceberg de algo bem maior”. Ele tem estudado a fundo as melhores grifes da carne mundo afora (leia quadro) e o processo de sofisticação de outros produtos.

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Projeto da loja DeBetti em São Paulo: visual contemporâneo e sofisticado

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W Marketing

Da marca brasileira Diletto – que construiu rapidamente reputação e valor no mercado de sorvetes – veio a inspiração para desenvolver geladeiras com design exclusivo para levar as suas carnes a pontos de venda selecionados nas principais cidades brasileiras. Pela internet, oferecerá um sistema virtual de vendas capaz de fazer as encomendas chegarem aos clientes em um prazo máximo de duas horas em São Paulo e 24 horas em qualquer lugar do Brasil. E também há planos sendo trw açados para fora do País, em parceria com um socio holandês.

“A estrela da loja é a vitrine da geladeira de maturação”, afirma o arquiteto Fabio Bruschini, autor do projeto que mistura itens contemporâneos com elementos de açougues antigos, como os detalhes em cerâmica branca bisotada. Betti acredita que as atrações do espaço ainda estão longe dali, no pasto de uma rede de produtores que está em construção. “Existem uns cinco mil pecuaristas aptos a me atender no Brasil”, explica. Ele busca por animais com um mix especial de sangue ¾ inglês (de raças como Angus) e ¼ nelore, combinando

DREA M T E A M DA CA R N E Os açougues favoritos de De Betti mundo afora

Victor Churchill | www.victorchurchill.com 132 Queen Street, Woollahra - Australia “Os melhores do mundo. Levaram o tratamento da carne a outro nível” Cumbrae’s | www.cumbraes.com 714 Queen Street West, Toronto – Canadá “Tem uma pegada supermoderna. Conhecem tudo de origem e preparação. Além de açougueiros, são cozinheiros” Lobel’s | www.lobels.com 1096 Madison Avenue, Nova York – EUA “São os mais tradicionais, mas ao mesmo tempo têm o melhor e-commerce para o cliente” 44Farms | www.44farms.com Cameron, Texas - EUA “Uma referência no tratamento do animal. Sabem como agregar valor ao produto, com marca e venda direto da fazenda” 54

características que, segundo ele, podem fazer a carne brasileira competir em qualidade com a australiana e a americana. A parceria com um frigorífico de Cajamar, na Grande São Paulo, garantirá os cortes das “pepitas” na maneira desejada pelo “joalheiro”. Para dar noção mais clara da exigência e da exclusividade do produto, Betti usa números da maior empresa do mundo no mercado de carnes. “A JBS abate 40 mil animas por dia. Para a Swift Black, marca premium deles, são escolhidos apenas 3 mil por mês. Na DeBetti, serão 200 a cada mês”. As joias bovinas da DeBetti serão vendidas numa faixa de R$ 130 o quilo. “Quero oferecer carnes especiais para momentos especiais”, diz Betti, que transformou o antigo churrasco entre amigos em eventos que têm reunido milhares de pessoas e atraído patrocinadores de peso em várias capitais brasileiras. Batizados de Churrascada, esses eventos alavancaram a popularidade do jovem açougueiro e do mercado das carnes especiais. Cortes com a marca Churrascada também estão na grelha de projetos de Betti, como produtos de entrada para educar o consumidor a buscar seus diamante. “A Churrascada será uma carne nota 8. A DeBetti, nota 10”, garante.


Obra “Horizonte Inebriante Pinga”, do acervo do Instituto Figueiredo Ferraz: Coleção cobiçada pelos melhores museus do Brasil

Ar ARTE

Um campo para o melhor da cultura

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SEMEADOR DE CULTURA João Carlos de Figueredo trocou a cana pela arte contemporânea. E plantou em Ribeirão Preto um projeto inédito para exibir uma das mais valiosas coleções do Brasil Fotos: Renato Lopes

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rimeiro ele desistiu. Depois, cansou. E ele não tem vergonha de falar isso abertamente. Quem passa por uma rua pouco movimentada no bairro Alto da Boa Vista, em Ribeirão Preto (PT), descobre que tudo foi por um motivo nobre. Foi pela arte, pela cultura e pela educação. Uma moderna construção com 3 mil metros quadrados, nascida há apenas cinco anos e rodeada por tradicionais

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residências dos anos 70 e 80 no bairro que já foi um dos mais nobres da cidade do interior paulista, é a sede do Instituto Figueiredo Ferraz O projeto é inédito no País, por ser museu particular aberto e com um espaço arquitetônico próprio. No comando está João Carlos de Figueiredo Ferraz, empresário e uma das principais lideranças do setor produtivo de açúcar e etanol até meados da década passada. Ex-acionista do grupo Vale do Rosário e ex-


presidente da Crystalsev, uma das maiores tradings do setor no mundo, Ferraz ainda comandou o conselho da União das Indústrias de Cana-de-Açúcar (Unica). Até que em 2007, com a incorporação das unidades da Vale do Rosário pelo grupo Santa Elisa e a criação da SantelisaVale, hoje Biosev, ele começou a sair do agronegócio. Nos dois anos seguintes, atuou no conselho da Guarani, braço de açúcar e álcool do grupo francês Tereos no Brasil. Após desistir do cansativo dia a dia

empresarial, Ferraz seguiu como um empresário rural, pecuarista e fornecedor de cana. Mas a paixão pela arte falou mais alto e ele resolveu levar adiante o audacioso projeto que hoje lhe dá prazer A ideia era construir um local para abrigar as cerca de mil obras de arte contemporâneas que Figueiredo Ferraz havia adquirido desde 1983, o que lhe garante o posto de um dos dez maiores colecionadores de arte do País. Mesmo que fosse para

Figueiredo Ferraz nos salões do IFF: “A arte tem de ser compartilhada”

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Perfil Instalação "Relâmpago", de Gisela Mota e Leandro Lima (à esq.) e quadros de Nino Cais (embaixo)

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Figueiredo Ferraz. A proposta inicial do empresário era fazer espaço fechado para visitação, com horário marcado. Mas logo mudou de ideia. Quando o prédio foi ficando pronto, Ferraz resolveu chamar o amigo, professor e crítico de arte Aguinaldo Farias. Ele seria o primeiro curador a fazer um recorte das quase mil obras do acervo e levar cerca de 150 para os 2.500 metros quadrados da área de exposição.

Eu sempre compro do artista jovem, que depois valoriza. A maioria comprei por um valor irrisório

apenas retirar as obras das caixas e admirá-las com amigos, ou mesmo sozinho, exercendo a paixão que o levou ao conselho dos principais museus do País, como o Museu de Arte de São Paulo (Masp) e o Museu de Arte Moderna (MAM), e ainda o Museum of Modern Art (MoMA), em Nova York. A ideia do Instituto Figueiredo Ferraz surgiu em conversas do empresário com o amigo Marcelo Mattos Araújo, ex-secretário de Cultura do Estado de São Paulo e à época diretor da Pinacoteca. “Nas conversas, ele (Araújo) disse que seria ótimo que a minha coleção viesse em comodato para a Pinacoteca. Eu disse que não a levaria para São Paulo, mas queria que a Pinacoteca viesse para Ribeirão Preto e ele adorou a ideia”, explica Ferraz. Mas Ferraz cansou. E admite isso com orgulho. “Em dez anos não consegui convencer nenhum prefeito a me apoiar, apesar de todos falarem sim. Cansei de esperar, surgiu o terreno, comprei-o e fiz o instituto”, disse. “Se eu dependesse de Estado, não viraria nada”. Em 2011, nasceu o Instituto

“A primeira curadoria resultou em uma exposição tão bonita que não fazia sentido ficar com as portas fechadas. Resolvi abrir, sem cobrar nada, e imaginei que viriam três gatos pingados de curiosidade para ver o que tinha aqui dentro”. Inicialmente, o público era mesmo pequeno, mas a propaganda boca a boca trouxe


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mais visitantes, até uma média de 3 mil por ano. No segundo ano de existência surgiram convênios com as secretarias estadual e municipal de Educação para visitas guiadas de estudantes. Tudo com o suporte de patrocinadores como o Itaú Cultural e o grupo sucroenergético Guarani/ Tereos. No ano passado, 15 mil estudantes visitaram o Instituto.

A cada ano, um curador novo é escolhido para a exposição principal, entre março e dezembro. A de 2016, batizada de “O Estado da Arte”, foi comandada por Maria Alice Milliet. “Para mim é divertido ver como os curadores conseguem fazer as aproximações que eu próprio não tinha visto”, relata Ferraz. O visitante encontra um paraíso de diversidade artística, como No acervo, obras de Nino Cais, Luiz Paulo Bavarelli, Edgar de Souza, Nuno Ramos e Tunga (de cima para baixo, da esq. para a dir.)

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pinturas, instalações, esculturas e fotografias. Entre os artistas estão estrelas como Adriana Varejão e Nuno Ramos, mas com uma característica comum, segundo Figueiredo Ferraz. “Eu sempre compro do artista jovem, que depois valoriza. A maioria comprei por um valor irrisório”. Mas entre as várias obras chama a atenção um dos “vidros” gigantescos de Marcius Galan, na obra “Secção Diagonal”, de 2011, um projeto feito exclusivamente para o local e que nunca deixou o espaço, mesmo com as mudanças nas exposições anuais. “Você imagina o trabalho que deu para colocar esse ‘vidro’ aí?”, brinca Ferraz, que faz questão de levar as visitas para olhar essa obra. E quem conhece Galan ou visitou o local sabe o motivo da brincadeira do empresário. Para ele, a logomarca do empreendimento representando uma pessoa de braço abertos, mostra o que ele pensa da arte. “A arte tem que ser vista, compartilhada. Esse negócio de trancar obras é um absurdo. A formação de uma nação vem da sua cultura e você não pode privar as pessoas de verem isso”, conclui o empresário. Agora, ele não mais desiste e nem se cansa. Está sempre de braços abertos aos visitantes do Instituto Figueiredo Ferraz. PLANT PROJECT Nº 0

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Plant + USDA

NEGÓCIOS COM ESTILO Conversamos com Chanda Berk, a diplomata americana que vem mudando a rotina da representação do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos no Brasil

MISSÃO DUPLA Temos dois escritórios no Brasil: um em Brasília, responsável pelas discussões bilaterais em agricultura, especialmente nas commodities tradicionais, e temos ainda o escritório de promoção de produtos agroindustriais, que fica instalado no consulado americano, em São Paulo. Nesse caso, a missão é dupla. Além de “Podemos conversar em Inglês? Meu Português, como você vê, não é muito bom”. A frase soa estranha diante de um Português extremamente avançado para alguém que está no Brasil há apenas um ano. Mas o idioma aqui importa pouco. O que conta é o estilo expansivo de Chanda Berk. Aos 36 anos, essa americana nascida na Virginia está sacudindo o escritório do Departamento de Agricultura americano (o USDA, equivalente ao nosso Ministério da Agricultura) em São Paulo. Acostumada a uma rotina introspectiva, de poucos eventos, a equipe agora vem trabalhando de forma mais comunicativa (e por que não dizer mais simpática) com seus públicos, incluindo importadores brasileiros em potencial e formadores de opinião. E a personalidade de Berk tem tudo a ver com essa nova fase. “Não dá para fazer negócio sem olho no olho”, diz, com os próprios olhos azuis brilhando e um jeito afável de falar. Mas que seus interlocutores não se enganem. Formada em Relações Internacionais e com mestrado em Economia, Berk está no USDA há 12 anos, tendo já chefiado o escritório de promoção agroindustrial dos Estados Unidos em Chengdu (China) por três anos, isso depois de uma temporada de três anos em Pequim. “Quando voltei para Washington, continuei instigada em trabalhar em outro país. E tratando-se de agricultura, o Brasil é o lugar”, diz Chanda Berk, que conversou com a PLANT durante um almoço no restaurante Praça São Lourenço, zona sul de São Paulo. Confira os principais trechos: 60

desenvolver relatórios e pesquisas de inteligência sobre commodities, também promovemos produtos alimentícios fabricados nos Estados Unidos. O objetivo é encontrar nichos de oportunidades aqui no Brasil e apresentar aos importadores brasileiros algumas opções de produtos americanos. É um lado menos conhecido da USDA no Brasil, mas com um amplo potencial de negócios.

Público-alvo Por causa da distância entre os dois países, e também pelo fato de não termos um acordo preferencial de comércio, os produtos americanos acabam chegando aqui com um preço elevado. Nosso foco são os 15 milhões de brasileiros do topo da pirâmide. Existe uma gama de produtos americanos que os brasileiros não conhecem e nem imaginam.

DA MAÇÃ AO SALMÃO Quando se fala em alimentos tradicionais americanos, muita gente logo pensa em junk food, em batata frita, em pasta de amendoim... Mas o mercado é muito mais amplo que isso. O Brasil, por exemplo, importa produtos frescos dos Estados Unidos, como maçã e cereja. O nosso esforço, agora,

é nos segmentos mais específicos, de nicho. Um exemplo é o salmão selvagem, da região do Alasca, que já pode ser encontrado no varejo especializado. Isso sem mencionar vinhos, destilados, cervejas artesanais. Outro segmento que tem nos interessado bastante é o de orgânicos. Vemos grande potencial no Brasil para produtos americanos nessa área.


Concorrência com europeus

VITRINE Temos algumas ferramentas para apresentar os brasileiros aos produtos americanos. Uma delas é levar missões de possíveis compradores (ou seja, importadores) brasileiros aos Estados Unidos, seja para feiras e eventos, seja para conhecer produtores diferenciados. Tentamos ir além de uma viagem de negócios, com uma agenda que permita conhecer a cultura local. Por exemplo: agora no final de junho, vamos levar um grupo de potenciais compradores brasileiros à Fancy Food, feira de eventos que acontece em Manhattan. Mas eles também vão poder conhecer restaurantes, lojas de vinho e cervejas, feiras de produtos frescos e por aí vai.

Do ponto de vista do preço, praticamente não há diferença entre importados americanos e europeus quando estes chegam ao Brasil, já que as tarifas são as mesmas nos dois casos. A diferença, acho, que é os brasileiros têm uma tendência natural de gravitar em torno da Europa, consequência talvez da relação histórica com Portugal. Essa é uma barreira que nós, americanos, temos de superar. É algo que quero muito conquistar durante meu período em São Paulo. Minha impressão é de que o mercado brasileiro está pouco servido de produtos americanos.

PRÓXIMOS PASSOS Além dos relatórios sobre commodities tradicionais, que a USDA sempre fez muito bem no Brasil, estamos ampliando nosso trabalho de prospecção de mercados. A ideia é descobrir e estudar nichos que sejam interessantes para o produtor americano, como o segmento de orgânicos, que mencionei. Estamos também acompanhando mais atentamente as feiras e eventos que acontecem no País e compartilhando informações com fornecedores americanos. Mas eles precisam vir ao Brasil também, conhecer o mercado de perto. Em maio de 2017, vamos trazer um grupo entre 25 e 50 fornecedores americanos para uma missão comercial que irá passar por São Paulo e Recife. Trata-se da primeira missão comercial liderada diretamente pela USDA no Brasil. E pela primeira vez temos um plano de mídias sociais. O brasileiro é extremamente conectado a essas redes, e estamos incluindo o escritório nesse universo.

ESTILO PESSOAL Quando cheguei, percebi que o escritório estava muito focado nas commodities tradicionais, nos relatórios. Um trabalho excepcional, sem dúvida, mas precisávamos pensar fora da caixa, de forma mais criativa. É algo que venho trabalhando nesses doze meses e espero continuar nos próximos três anos. Se meu estilo tem a ver com isso? Eu realmente espero que sim! A equipe é muito bem qualificada, e vejo que estamos numa ótima sintonia de trabalho. Concordamos que a USDA precisa ‘sair’ mais, conversar com as pessoas, mostrar seu trabalho, fazer parcerias. Não dá para fazer negócio sem olhar no olho. Isso vale para qualquer lugar.

Desafios O maior, acho, é a visão que o fabricante americano tem do Brasil. Quando se fala em agricultura ou mesmo em alimentos processados, a imagem que se tem do Brasil é de um competidor, e não de um mercado consumidor. Outro engano comum é achar

que se pode aplicar a mesma estratégia comercial para toda a América do Sul. Cada país tem as suas características, o Brasil é um mercado ímpar, e os exportadores americanos precisam passar mais tempo aqui, conhecer as pessoas, conversar, e o escritório de São Paulo pode ajudar bastante nesse processo. Os desafios também incluem a

Em visita ao secretário de Agricultura de São Paulo, Arnaldo Jardim. Também na foto Sérgio Carbonell, do IAC, e Alberto Amorim

parte burocrática, o processo aduaneiro, a complexidade dos impostos, mas nesse quesito o escritório está bem preparado, com todas as informações e guias para ajudar no caminho das pedras.

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Viveiro de criação das moscas Black Soldier da Bug: inseto fornece matéria prima para rações e fertilizantes

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As inovações para o futuro da produção

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As inovações para o futuro da produção

FAZENDA DE INSETOS A startup paulista Bug, já apontada como uma das mais inovadoras do mundo, quer devorar o mercado de rações e fertilizantes usando larvas

Por Clayton Melo, de Piracicaba (São Paulo – Brasil). Fotos: Karime Xavier

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engenheiro agrônomo Paulo Bogorni, pós-doutor em entomologia pela Universidade de São Paulo, ficou impressionado com uma conversa que manteve certa vez com um de seus clientes, o também engenheiro agrônomo João Luiz Pisa. “Bogorni, tem um negócio aqui que, se a gente fizer, é coisa para Prêmio Nobel”, disse. O tom foi meio brincalhão, mas tinha o objetivo de alertar Bogorni para aquilo que Pisa acreditava ser uma sacada capaz de se transformar em um negócio inovador e com alto impacto econômico, social e ambiental: produzir ração animal, principalmente para cãs e gatos, a partir de proteína de insetos. Mais: a engorda das larvas seria feita com lixo orgânico, o que ajudaria a reduzir um dos grandes problemas mundiais. Esse episódio foi há seis anos, quando Bogorni trabalha-

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va como consultor independente e atendia a Pisa. Hoje, aquele bate-papo evoluiu para um negócio de fato, que será lançado como uma nova startup da Bug Agentes Biológicos, empresa paulista eleita em 2012 a companhia mais inovadora do Brasil (e uma das 50 do mundo) pela revista americana Fast Company. A ração será desenvolvida com o uso da larva da mosca Hermetia illucens, conhecida como Black Soldier Fly. A Bug vai preparar uma farinha a partir da larva, que será depois vendida para a indústria de ração preparar o produto final. O insumo deve estar disponível no mercado até o final deste ano. A Bug se tornou sócia no negócio depois de Bogorni, que há quatro anos passou a ser gerente de novos negócios da empresa. apresentar a ideia em agosto do ano passado. O desenvolvimento do projeto até aqui consumiu investimento pessoal dos dois criadores de

cerca de R$ 500 mil. O lançamento comercial deve receber uma aplicação de pelo menos R$ 10 milhões. DIVERSIFICAÇÃO Com Pisa e Bogorni também como sócios, o negócio marcará a entrada da Bug em um novo mercado, o de nutrição animal. Fundada em 2001 numa incubadora da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (EsalqUSP), a empresa liderada pelos sócios Heraldo Negri, Diogo Carvalho e Alexandre de Sene Pinto é pioneira e uma principais referências no País na criação de insetos que combatem pragas de grandes culturas. Além da ração para animais, carro-chefe da nova empresa, a proteína de insetos também será usada na produção de fertilizantes, outro mercado em que a Bug ainda não atua. “O novo negócio vai representar uma diversificação para a Bug”, afirma Bogorni. “Com a ração,


Pisa (à esq.) e Bogorni no “curral” de larvas da Bug

continuamos focados em nosso know how, que é a produção de insetos”, diz. “Mas, dentro dessa filosofia, buscamos sempre soluções que tornem a vida no planeta menos agressiva.” A referência se explica pelo fato de as larvas se alimentarem de diversas fontes de resíduos orgânicos, como lixo doméstico e esterco. “Assim, transformamos um passivo ambiental em proteína e fertilizantes.” O uso de insetos em ração é uma nova fronteira no setor de pet food, que representou 67,3% dos R$ 18 bilhões de faturamento registrado pelo mercado pet no Brasil em 2015. Já existem experiências - embora ainda de modo incipiente – na alimentação de gado e aves, que têm atraído a atenção de investidores globais. Entre os benefícios do uso de moscas na nutrição está o

A PODEROSA BLACK SOLDIER alto valor proteico, mas não só. “Há uma grande vantagem em relação às fontes de proteína vegetal, como a da soja, amplamente utilizada no mercado”, diz Bogorni. “Além de apresentar mais aminoácidos, o óleo extraído é rico em ômegas, inclusive o três, que é bom também para a alimentação de animais”. A intenção é iniciar a operação comercial com a produção de uma tonelada por dia, expandindo-a depois para dez toneladas diárias. A projeção é que o empreendimento se torne o carro-chefe da empresa em até três anos. “O que nos despertou o interesse por trazer esse projeto para a Bug é o know-how para gerar escala”, afirma o empreendedor. “Aqui, temos o que é necessário para transformar essa iniciativa num grande projeto.”

Conheça as principais características e aplicações da mosca que será utilizada pela Bug na produção de ração para animais de estimação • Seu nome científico é Hermetia illucens • O óleo extraído da larva da mosca é rico em ômegas, entre eles o três, benéfico para a alimentação humana e animal • Além de conter alto valor proteico, a larva possui todos os aminoácidos essenciais • Uma de suas vantagens é o curto prazo para ser abatida no processo de produção: bastam sete dias • Suas larvas já são utilizadas no exterior para produzir uma espécie de “refeição de insetos”, que serve de alimento para porcos, peixes e camarões PLANT PROJECT Nº 0

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CAÇADOR DE STARTUPS

O investidor Francisco Jardim tem uma missão: escolher até seis novas empresas inovadoras para destinar alguns milhões. Alguém se candidata? Foto: Cláudio Gatti

Uma plataforma que leva a internet das coisas e o Big Data para o campo, reduzindo assim os custos com irrigação em até 60%. Um software de mapeamento que afere, com exatidão superior a 90% e em tempo real, a produtividade nas lavouras. Ou um sistema de agricultura de precisão destinado ao manejo da fertilidade do solo que funciona a partir de algoritmos geoestatísticos. O que essas soluções têm em comum? A primeira resposta é que são exemplos de startups de base tecnológica voltadas para o agronegócio. A segunda é que compartilham o mesmo investidor: Francisco Jardim, sócio-fundador da SP Ventures, gestora de fundos que se tornou uma das principais investidoras do agronegócio no Brasil. Em nove anos de atuação, a SP Ventures exibe no portfolio o apoio a 19 startups, das quais nove focadas no setor. “Devemos fazer mais quatro ou até seis novos investimentos. A definição do número vai depender do tíquete médio do aporte em cada uma”, afirma Jardim. “A 66

maioria será do agronegócio.” Com rodadas que podem variar de R$ 2 milhões a R$ 6 milhões, as apostas serão feitas até o final de 2017, data prevista para o encerramento do Fundo de Inovação Paulista (FIP), gerido pela SP Ventures. Desde 2013, doze startups receberam um total de R$ 38 milhões em aportes do fundo, que conta com verbas da Desenvolve SP, empresa de fomento do governo de São Paulo, e mais Finep, Fapesp, Sebrae-SP, Corporación Andina de Fomento (CAF) e Jive Investments. No radar da SP Ventures estão, por exemplo, soluções para controle de pragas, sistemas de gestão, reprodução de pecuária e reconhecimento de imagens, como satélites de pequeno porte. “Há uma ruptura espetacular provocada pelos nanosatélites”, diz. “Os equipamentos convencionais, grandes, vão perder mercado para satélites bem menores, que podem custar US$ 50 mil ou US$ 100 mil”. A estratégia de Jardim é apostar em empresas cujos serviços estejam no cruzamento do agronegócio com as grandes inovações do

momento. Como exemplos dessas novas tecnologias estão o Big Data, computação em nuvem, mobilidade, biotecnologia e a internet das coisas. Entre as startups do agronegócio que receberam recursos do FIP, a que Jardim considera mais promissora é a Promip, de agentes biológicos. Fundada em 2006, ela é especializada na produção de ácaros predadores e vespas para combater pragas nas plantações. O investimento inicial, em 2014, foi de R$ 4 milhões. Com o empurrão dos investidores, o faturamento passou de R$ 5 milhões, então, para R$ 10 milhões no ano passado, e deve dobrar até o final da safra 2017. “Acredito que ela vá liderar o processo de consolidação do segmento, comprando concorrentes”, diz Jardim. A filosofia da SP Ventures é ajudar no aperfeiçoamento da gestão das empresas, levando até elas as melhores práticas de TI. “Em outras palavras, damos um choque comercial e de tecnologia assim que investimos nas startups. A partir daí, é deixar a coisa acontecer.” CM


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UM DIA PARA A HISTÓRIA Décima edição da ISO DATAGRO New York Sugar & Ethanol Conferences movimenta mercado sucroenergético global

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mundo costuma ficar atento ao que acontece no Waldorf Astoria, mais icônico hotel de Nova York. Por lá circulam chefes de Estado, reis e rainhas, magnatas e executivos das principais empresas do mundo. Foi assim, também, no último dia 18 de maio. A elite global do setor sucroenergético reuniu-se nos salões revestidos de dourado e espelhos e, dali, apontou os desafios e perspectivas que devem guiar o mercado global de açúcar e etanol nos próximos anos. E o que se ouviu nas plenárias da ISO DATAGRO New York Sugar & Ethanol Conference repercutiu imediatamente. Enquanto os discursos prosseguiam no evento, indicando, segundo análises da Datagro, “perspectivas mais construtivas de preços” para o setor, as boas notícias de mercado impulsionaram uma recuperação de 45 pontos ao longo do pregão da InterContinental Exchange (ICE), a alguns quilômetros de distância do Waldorf, revertendo uma forte tendência de queda. Era uma data especial para o próprio evento, que fazia sua história em um local mais do que apropriado. Sob o comando da família Nastari, em parceria com a Organização Internacional do Açúcar (ISO), a conferência, hoje apontada como um dos encontros mais importantes do calendário mundial do setor, chegava à sua décima edição. Consagrada como o evento técnico oficial do Sugar Dinner NY desde sua primeira edição, a ISO DATAGRO New York Sugar & Ethanol Conference promove debates entre lideranças do setor produtivo, corretoras, tradings, bancos, e pesquisadores de várias partes do mundo. O tema principal, este ano, foi “O açúcar no contra-ciclo” e, logo na

Na foto no canto inferior esquerdo, Rui Chamas, presidente da Biosev; Paulo Roberto Souza, presidente Copersucar; Fabio Venturelli, presidente e CEO São Martino S/A

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Em uma ação inédita, por meio do aplicativo DATAGRO Conferences, os participantes se tornaram protagonistas do evento. Através de 24 enquetes sobre questões relacionadas aos desafios setoriais, foi possível elaborar um Consenso com temas debatidos durante a conferência. Este documento está disponível, para download, em nossas plataformas de comunicação da Datagro – Facebook, Linkedin, Twiter, Instagran e Google Plus.

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abertura o presidente da DATAGRO, Plinio Nastari, destacou a relevância do papel da indústria brasileira na recuperação do mercado mundial. “Desde 2012, a produção de açúcar tem reduzido. Mas, em 2016, este cenário deve se recuperar e chegar próximo ao último recorde. Neste sentido a capacidade do Brasil de mudar o mix de produção está ajudando a reduzir a volatilidade do mercado”, afirmou. Ele também anunciou que, de acordo com levantamento da consultoria, o déficit mundial de açúcar deve chegar a 6,09 milhões de toneladas em 2016/17. Esses números estão em linha com o cenário atual da indústria sucroenergética dos principais países produtores, que vem influenciando a demanda e a oferta de açúcar. Assim, os principais debates do evento novaiorquino giraram em torno dos países asiáticos, como Tailândia, Índia e Indonésia, da América Central, além de México e Brasil. Houve vários alertas sobre fatos que devem gerar impactos importantes no comércio global. A Indonésia, segundo maior importador de açúcar do mundo, por exemplo, está sofrendo com a restrição financeira e a logística, que afetam sua produção, e já anunciou que fará novas compras. Boa notícia para a Tailândia, um dos principais exportadores de açúcar para a Indonésia, somando mais de 4,1 milhões de toneladas em 2016. Outro grande produtor de açúcar que pode ter desafios para manter estabilidade no mercado é a Índia. “O plantio em Maharashtra provavelmente vai cair 35% nesta temporada”, avaliou Jonathan Drake, presidente da RCMA Commodities Ásia, em seu discurso. Desta forma, a Índia também pode se tornar importador no próximo ano. Ainda sobre a Ásia, os mais de 300 delegados presentes tomaram conhecimento de que a produção na China, que deve continuar a caindo, terá um déficit de 7,5 milhões de toneladas de suprimentos. Para o vice-presidente de Market Research da ASR Group / Tate & Lyle Sugar, Toby Cohen, “a crescente indústria de refino na África e na Ásia gera mudanças no fluxo de comércio de açúcar branco”. O prédio de 191 metros de altura e 47 andares do Waldorf Astoria, com entrada pela Park Avenue, serviu, ao longo das décadas, como hospedagem e até residência de personagens como rainha Elizabeth, da Inglaterra, a família Kennedy, os cantores Elton John e Frank Sinatra, e a atriz Marilyn Monroe. Todos eles conferiram seus relógios pelos pontiros da suntuosa


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peça de duas toneladas, do século XIX, que adorna o saguão principal do hotel. O mesmo cenário agora abrigou o networking de cerca de 300 participantes da ISO DATAGRO Conference, proporcionado a troca de informações e relacionamento entre lideranças de mercado sucroenergético. Entre eles estavam Jonathan Drake, presidente da RCMA Sugar Zaandam, Jamal Al-Ghurair, presidente da Al Khaleej Sugar - considerada a maior refinaria de açúcar independente no mundo, Courtney Gaine, CEO da The Sugar Association Inc -- organização que tem mais de uma década de experiência em ciências da nutrição e qualidade -- , José Orive, diretor executivo da ISO, Tim Barry, vice-presidente de , Product Development da Ice Futures, Fabio Venturelli, CEO da São Martinho S/A, Luther Markwart, vice-presidente executivo da American Sugarbeet Growers Association, Rui Chammas, presidente da BIOSEV, a do grupo Louis Dreyfus, Alberto Potes, CEO da CAEI, da República Dominicana, e Ahmad Farid Kamarudin, Chefe de Açucar Trading da MSM Trading International DMCC, empresa localizada em Dubai.

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1. Courtney Gaine, 2. Jamal Al Ghurair, 3. Rodrigo Gedeon, 4. Guilherme Nastari, Cesário Ramalho, Sérgio Bortolozzo, Plinio Nastari e Luiz Felipe Nastari. 5. Jonathan Drake, 6. Tim Barry, 7. Toby Cohen, 8. Ahmad Farid Kamarudin, 9. José Orive

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