LUPÉRCIO MUSSI - LIVRO 2021

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LUPÉRCIO MUSSI

José Carlos Silvares



Frases - abertura

Indice

Algumas palavras - pág 1 O primeiro Mussi chega ao Brasil - pág 2 O navio e a Linea C - pág 4 A imigração libanesa - pág 5 Sangue, neve e cedro na bandeira - pág 6 Abaitet, Monte Líbano - pág 7 Amparo, a Flor da Montanha - pág 8 O encontro com a família Hassan - pág 9 O guarda Bigode - pág 11 Um dos filhos da guerra - pág 16 Primeiro emprego, aos 16 anos - pág 21 Seu gosto pela arte - pág 25 Loja na Rodoviária, um ato de ousadia - pág 30 Advogado, com muito esforço - pág 32 O avô da Internet , TVs na Rodoviária - pág 34 Rádio Litoral nasce da persistência - pág 36 Autonomia e a era Justo - pág 46 Próximo passo, a TV Litoral - pág 49 Sociedade com Pelé, na veterana PRB-4 - pág 51 Novos planos, fábrica e construção - pág 54 Surge a Big Band Litoral FM - pág 58 Roquette-Pinto, ídolo no Instituto Histórico - pág 60 Rádio City Café, em frente ao mar - pág 62 Muitas homenagens, ao longo da vida - pág 68 A família Mussi - pág 72 Bibliografia - pág 78 Ficha Técnica - pág 79


Na minha vida sempre tive muitos amigos

Por diversas vezes o Universo conspirou a favor de minhas ações

L upeé r cio Mussi (1942 – 2021)


E

Algumas palav ras

u o conhecia há pelo menos 38 anos, desde a campanha que

justamente, o homem da informação, da comunicação, da expressão em sua

uniu diferentes setores da comunidade de Santos na reconquista da autonomia

mais profunda e intensa força de sentimento, percebeu que já não havia tempo

política da cidade.

para novos passos e, sabendo-se doente, correu contra o tempo, municiando-

Lupércio Mussi, ao lado de outros personagens como Eduardo Castilho Salvador, Adelino Pedro Rodrigues e Gastone Righi Cuoghi foram protagonistas dessa luta.

me com farto material, em um desvendar de arquivos e de citações. Senti muito a sua partida repentina. E deixo aqui, para cada leitor, esta história de quem passou pela vida e viveu. Com intensidade.

Depois, na campanha vitoriosa do primeiro prefeito eleito após o retorno da autonomia e com a sua participação no governo de Oswaldo Justo. Como

José Carlos Silvares - autor

jornalista cobri esses eventos durante muito tempo e, portanto, considero que vivenciei parte dessa sua trajetória. Mas, apesar de muitas conversas e interações desde então, desconhecia um lado que só me foi revelado por ele nas entrevistas para este livro. Lupércio foi um homem à frente de seu tempo. Começou a trabalhar e a desvendar o mundo muito cedo, aos 14 anos. Órfão de mãe desde pequeno, viu no pai, o guarda civil de quem recebeu o mesmo nome e sobrenome, o guarda Bigode, um exemplo de perseverança e de enfrentamento de qualquer situação, de quem com certeza herdou a veemência e a cortesia. Não vou me alongar, pois há no livro informação suficiente para comprovar tudo isso. Quando fui convidado pelo filho, Cláudio Mussi, para contar a história do pai em um livro, aceitei de imediato essa tarefa. Cláudio queria dar ao pai esse presente, na forma de reconhecimento à sua vida de realizações. Foram quase cinco meses de entrevistas intensas, em que Lupércio reunia em cada visita minha à sua casa um arsenal de informações. Ele, 1


C

O primeiro Mussi chega ao B rasil

om muitos sonhos na cabeça, enfrentando o desconhecido e

Já em Amparo, José Mussi comprou uma fazenda de café, onde

escapando do clima de tensão reinante em seu país, o jovem Youssef Mussi,

desenvolveu seu comércio, casou-se e ajudou na formação de sua família. Mas

com pouco mais de 18 anos, deixou a cidade de Beirute em 1898, com passa-

perdeu quase tudo com a quebra da Bolsa de Nova York em 1929.

gem comprada para a França. Os pais Salomão Mussi e Maria Mussi o acompanharam até a entrada do navio, conduzindo a pequena bagagem e os poucos recursos que conseguiram reunir para entregar o filho a um destino melhor. O jovem Mussi passou algum tempo na França. Ali, como contaria mais tarde a parentes, trocou seus recursos por libras esterlinas, a moeda da GrãBretanha. E seguiu para Marselha, porto francês do Mar Tirreno, no final de junho daquele ano, onde comprou um bilhete de classe econômica no navio italiano Ravenna , que vinha de Gênova, na Itália, com destino ao Brasil. Foram 14 dias de viagem. O navio havia deixado Gênova, escalou em Marselha, Barcelona e Valência, sempre recebendo imigrantes e rumou em direção ao Estreito de Gibraltar para atingir o Oceano Atlântico, na direção do Brasil. A travessia durou onze dias. Ele chegou ao Porto de Santos no dia 10 de julho de 1898 e foi registrado como José (Youssef) Mussi. Já tinha completado 19 anos. Seu controle de entrada no porto brasileiro indica que o ingresso seria permanente, para residir em Amparo, cidade do oeste do Estado de São Paulo, talvez por indicação de algum parente ou conhecidos libaneses que já habitavam no local.

José Mussi em foto de 1942, na certidão do registro 2


A casa da fazenda de café, em tela de parentes


V

O navio e a L inea C

ale ressaltar o histórico do navio que trouxe José Mussi ao Brasil.

O pequeno navio Ravenna foi construído em 1888 no estaleiro Leith, na

Escócia, para o armador Leith, Hull & Hamburg Steam Packet Co. Ltd. Tinha 1.203 toneladas brutas e pouco mais de 80 metros de comprimento. Depois de ser vendido e operado por outras duas empresas de navegação, foi adquirido em 1924 pelos irmãos Federico, Eugenio e Enrico Costa em 1924 para dar início a uma frota que mais tarde seria reconhecida mundialmente como Linea C, famosa no Brasil e no mundo pelo nome dos irmãos que batizaram seus navios de passageiros. Em 1942, durante a Segunda Guerra Mundial, sofreu um incêndio perto de Locri, na Calábria. Em outubro do mesmo ano foi torpedeado pelo cruzador britânico United, no sul da Sardenha. Foi reflutuado em seguiu para Gênova, onde foi transformado em sucata no pós-guerra.

O navio Ravenna

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Q

A imigraç ç c ao libanesa uando o casal Ayub Hassan e Marina imigrou para o Brasil, no

final do século XIX, tornava-se comum a vinda de libaneses e sírios em acomodações muitas vezes precárias de navios comerciais que partiam principalmente de Beirute e que chegavam aos portos brasileiros, em especial ao Porto de Santos, estado de São Paulo. A imigração libanesa desenvolveu-se com maior intensidade após visita do imperador Dom Pedro II ao Líbano, em 1876, com uma comitiva de 200 pessoas. Como admirador da cultura árabe o imperador quis conhecer de perto a região, seu povo e seus costumes e, com isso, contribuiu para atrair as primeiras levas de libaneses ao Brasil. Dois anos depois, em 1878, Dom Pedro II foi visitar Amparo e hospedou-se no Solar do Barão de Campinas. (Aqui vale um parêntese - Nessa época o Líbano ainda vivia sob o domínio do Império Otomano e, mais tarde, sob domínio da França (de quem tornou-se

O PICO DA IMIGRAÇÃO LIBANESA FOI EM 1913

independente em 1941). Nesse meio tempo aconteceram vários conflitos, alguns sangrentos, e que se estenderam ainda por parte do século XX.) Os primeiros registros de libaneses e sírios chegados pelo Porto de Santos

Brasil, sendo 38,5% (19.250) em São Paulo. Em 2008 havia mais de 7 milhões de descendentes no País.

datam de 1880. O Almanach, Administrativo Commercial e Profissional do

Esses imigrantes eram quase sempre pequenos proprietários de terras

Estado de São Paulo para 1895 aponta a presença desses imigrantes nas praças

em seu país. Mas, fora dos grandes centros urbanos, os moradores de vilas e

comerciais de São Paulo, região da atual Rua 25 de Março, como casas de

aldeias do interior habitavam geralmente áreas montanhosas e pedregosas, o

armarinhos, de tecidos e mercearias.

que dificultava o plantio para subsistência.

Eram na maioria mascates que vendiam de tudo, fazendo emergir assim o

Entre 1880 e a Segunda Guerra centenas de milhares de libaneses

comércio varejista. Em 1901 já eram mais de 500 firmas. O pico da imigração

deixaram o país em direção às Américas, África e outras regiões do Oriente

ocorreu em 1913, quando 11 mil libaneses chegaram ao Brasil pelo Porto de

Médio. A maioria fugindo dos conflitos, em busca de lugares mais seguros

Santos. O censo do IBGE de 1920 enumerou mais de 50 mil sírios e libaneses no

para viver. O Brasil foi um dos escolhidos por parte desse contingente. 5


A

Sangue, neve e cedro na bandeira

bandeira do Líbano foi instituída logo após a sua indepen-

dência da França (1941) e oficialização como país (1943). As duas faixas vermelhas representam o sangue dos que foram sacrificados em diversos conflitos; o branco simboliza a neve presente em suas montanhas; o cedro, árvore que se espalha pelo país, significa a eternidade e a força.

6


O

Abaidet, M onte

local de onde partiram os primeiros Mussi para o Brasil, e provavelmente também parte dos Hassan, é um vilarejo na região

montanhosa do distrito de Keserwan, na extensa província do Monte Líbano. No entanto, Abaidet somente aparece em raros mapas do Líbano. A aldeia de Abaidet se localiza mais para o interior, mas próxima de uma grande cidade litorânea, Jounieh (também conhecida como Junia), um polo turístico libanês com cerca de 450 mil habitantes em sua área metropolitana e que se localiza a 16 quilômetros da capital Beirute. A região é totalmente montanhosa, com ligações viárias de tráfego dificultoso, mas com grande atividade agropecuária, especialmente plantações de subsistência e criação de animais também para sustento dos moradores.

A região do Monte Líbano, onde fica Abaidet

Beirute

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A

Amparo, a Flor d a M ontanha cidade de Amparo situa-se em região montanhosa com 674

de São Paulo (Condephaat). Entre eles, o Solar do Barão de Campinas, que

metros de altitude, junto à Serra da Mantiqueira, abrangida pelo vale dos rios

hospedou D. Pedro II em sua visita a Amparo em 1878, a antiga estação

Atibaia, Jaguari, Camanducaia e Mogi Guaçu

ferroviária da Mogiana e antigas residências, como a que abriga o Museu

Em uma de suas primeiras ocupações, famílias procedentes de vilas

Histórico e Pedagógico Bernardino de Campos, entre outras.

próximas ergueram uma capela com a imagem de Nossa Senhora de Amparo, às margens do Camanducaia, em 1829, data considerada para a fundação da cidade. A imagem da santa deu origem ao seu nome. Trinta anos depois o local já tinha mais de 300 pequenas propriedades para o cultivo agrícola como feijão, café e milho e criação de suínos, quase tudo para abastecer a cidade de São Paulo. A inauguração da Estrada de Ferro Mogiana, em 1875, contribuiu para dar impulso ao desenvolvimento da área. Nesse ano foi elevada à categoria de vila e em 1865 como cidade. Os imigrantes começaram a ocupar a região a partir de 1889, após a abolição da escravatura, e entre eles italianos, sírios e libaneses. Foram organizadas as primeiras colônias agrícolas. Surgiram o comércio de tecidos, armarinhos e pequenas indústrias. O café teve seu apogeu até 1929. Nesse ano, com a quebra da Bolsa de Nova York, a cidade passou a viver momentos de estagnação, principalmente no comércio. Nesse mesmo ano, 1929, o então secretário de Justiça do Estado de São Paulo, Arthur Piqueroby de Aguiar Whitaker, em discurso, designou a cidade como sendo a Flor da Montanha . Em 1945 tornou-se a primeira estância hidromineral do Estado, com águas indicadas para o tratamento de bronquite, asma e diabetes. A região central, com seus antigos casarões foi tombada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado

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Amparo em dois momentos: em 1940 e atualmente


D

O encontro com a

H assan

ois anos depois de chegar em Amparo, José Mussi conheceu

José Mussi faleceu em Amparo no dia 20 de agosto de 1963, aos 83

uma jovem, também de origem libanesa, nascida no vilarejo de Hassarat em

anos, em decorrência de edema cerebral e arteriosclerose, conforme

1885, de família que já estava instalada na cidade. Saada, ou Sada Maria como

certidão de óbito do Registro das Pessoas Naturais de Amparo, sob número

era chamada em família era a terceira de cinco filhos de Ayub Hassan e

14.425, folhas 431 do livro C-42.

Marina Hassan. Ayub Hassan nasceu em 1847 e faleceu em Amparo no dia 13 de agosto de 1929, aos 82 anos. Ele viveu do comércio de roupas naquela cidade. Os filhos, por ordem de nascimento, foram Saada (nascida em 1885 e que faleceu no dia 17 de dezembro de 1922, aos 36 anos, Abla, Adla, Hadba e

Após perder os bens com a quebra da Bolsa de Nova York, em 1929, a esposa Saada, que havia reunido algumas economias, comprou um sobrado na Rua General Osório, 291, no Centro de Amparo, onde o casal já morava. Esse sobrado ainda existe e naquela cidade e atualmente é utilizado pelo escritório Zandoná Júnior Advogados.

Jorge. Este último, Jorge, nascido em 1876, morreu em Amparo no dia 15 de julho de 1967, aos 91 anos. Todos deixaram descendentes. José e Saada casaram-se no dia 13 de setembro de 1902, conforme assento lavrado no livro B-0007, folhas 175 e termo 121 do Cartório de Registro das Pessoas Civis de Amparo. Ele tinha 22 anos e ela, 17, e passou a chamar-se Saada Ayub Mussi. O casal teve sete filhos. Julia, nascida em 16 de junho de 1904 e que foi casada com Salim Khalil; Rosa, nascida em 14 de maio de 1908 e que casou-se com Benedicto Zandoná; Elias, nascido em 16 de dezembro de 1912, casado com Sema Meireles e falecido em 23 de dezembro de 1967; Lupércio, nascido em 12 de novembro de 1914, casado com Olympia Pereira Mussi; Euclides, nascido em 10 de novembro de 1916, casado com Alice Jordão; Américo, nascido em 1 de julho de 1918 e falecido em 1 de março de 1924, aos seis anos; e Nelson, nascido em 11 de março de 1922, casado com Rute Machado. Todos deixaram descendentes, à exceção de Américo.

A família Mussi, com José sentado

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O casarão dos Mussi, em Amparo

ABAIDET ÁRVORE GENEALÓGICA DOS

FILHOS DE ABAIDET PEDRO KACHAN

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A

O guard a B igode, pai

figura paterna sempre foi muito presente na vida de Lupércio Mussi.

Não só pelo pai, mas também pelo avô, José Mussi, e ainda por professores e

Atuando em jogo na Vila Belmiro, nos anos de 1950

conselheiros que o acompanharam por sua vida. Até porque a mãe e a avó morreram muito cedo. O pai, no entanto, teve sempre presença mais marcante. Lupércio Mussi, pai, nasceu em Amparo, em 12 de novembro de 1914, conforme o apontamento às folhas 176 do Cartório de Registro Civil daquela cidade. Foi o quarto de sete filhos do casal José Mussi e Saada Hassan. Desde cedo teve a tendência para o cultivo da força física. O filho lembra de histórias nesse sentido, contadas pelo tio Nelson (irmão mais novo do pai). Ele era muito forte , diz, para contar que o pai saiu de casa com 14 anos e foi para o Rio de Janeiro trabalhar como carregador de café no porto. As sacas eram levadas a bordo nas costas dos trabalhadores. Cada uma pesava 60 quilos. Numa dessas histórias, Lupércio revela que no Rio, um circo buscava homens para enfrentar um de seus lutadores. Quem aguentasse 10 minutos no ringue ganhava 10 cruzeiros da época. Meu pai entrou no ringue e deu uma

Acompanhando criança, na praia

surra no lutador. Ganhou os 10 cruzeiros. E todo dia ele ia lá para lutar, mas o promotor lhe dava os 10 cruzeiros só para ele não bater no lutador . Nos anos de 1930 ele aprendeu jiu-jitsu e, algum tempo depois, de volta a Amparo, fez um curso técnico de mecânica. Ali, soube de vagas na Guarda Civil do Estado de São Paulo (o que seria a Polícia Militar de hoje), inscrevendo-se e sendo registrado no dia 4 de novembro de 1940, pouco antes de completar 26 anos.

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Quando entrou para a Guarda Civil já era casado com Olympia Pereira Mussi, nascida em Amparo. Em março de 1941 teve que deixar aquela cidade do interior, pois fora transferido para Santos, que reforçava o policiamento das ruas. A mulher permaneceu lá aos cuidados de parentes. Em suas idas e vindas entre Santos e Amparo, a mulher ficou grávida. E no dia 21 de novembro de 1942 nasceu o filho, a quem deu o próprio nome, Lupércio Mussi. Voltando ao pai, já no início de trabalho em Santos, especialmente nas ruas do bairro praiano do Gonzaga, Lupércio ficou conhecido pelo vasto bigode que cultivava há algum tempo. Não demorou e passou a ser chamado por todos como Guarda Bigode . O apelido pegou e ninguém mais o chamava pelo nome de batismo. Foi ali que desenvolveu seu carisma, ajudando crianças e idosos na travessia das ruas e marcando sua presença em inúmeros eventos, proporcionando segurança e ordem, o que o tornou ainda mais popular junto à sociedade santista. Um fato, porém, quase acabou com a sua vida. Foi no dia 6 de janeiro de 1949, quando estava de serviço em sua área, no Gonzaga, e soube por populares que alguns integrantes da Polícia Marítima faziam arruaças e quebravam copos e garrafas no bar da Casa de Cabinas de Banhos Neptuno, situada à Avenida Presidente Wilson,17, na orla da praia. Os policiais marítimos, de acordo com a legislação, deveriam atuar junto ao porto, mas aos poucos foram adentrando a área urbana, agindo nos campos de futebol, em boates, greves e outros locais e movimentos que eram de competência da Polícia Civil. Isso acabou gerando forte rivalidade entre as duas polícias e tinha também a reprovação da sociedade. Como estava perto, Bigode foi até o local. Ao chegar no bar ele notou que os arruaceiros eram da Marítima e logo pensou em problemas, pois os dois

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Registro de nascimento do cartório de Amparo e outros documentos


estavam armados. Mas Bigode não titubeou: enfrentou os desordeiros e ordenou que saíssem dali imediatamente. Um deles, Paulo Mota, à paisana, partiu para cima de Bigode, pegando-o de surpresa e o agrediu com violência. Na luta que se seguiu, o revólver do agressor caiu no chão. O outro, Israel Lucas, fardado, empunhou a arma e atirou contra Bigode. Foram cinco tiros à queima-roupa, certeiros, provocando dez perfurações. Apesar de caído, com sangue espalhado no chão do bar, o agressor Com o comando da Guarda, na sala de sua casa

Paulo ainda deu vários s pulares, Bigode, em estado gravíssimo foi removido para a Santa Casa de Santos, onde passou por diversas cirurgias. O caso teve grande repercussão na Cidade. A Polícia Civil, em investigação, logo capturou os agressores. Israel Lucas e Paulo Mota foram condenados à prisão. Israel, com base no artigo 12 do Código Penal, por tentativa de homicídio; Paulo, como coautor dessa tentativa de morte. O prontuário de Israel revelou que em 1948 sofreu processo por espancamento de presos. Em entrevista ao jornalista Mário de Oliveira, da Folha da Noite, do grupo Folhas, no dia 13 de abril de 1949, já recuperado, Bigode sintetizou o seu caso: Fui alvejado cinco vezes e tenho dez perfurações pelo corpo. Os guardas da marítima só não me acabaram com a vida por verdadeiro milagre. O jornal

Brincando com populares na praia

Acompanhando a filha ao altar

iniciava na edição do dia 14 uma série de reportagens sobre as ações nefastas da Polícia Marítima, e o episódio com Bigode foi o estopim para se revelar outras denúncias dessa corporação.

Muito querido – O guarda Bigode continuou suas ações pela Cidade e, desde então, e nas décadas seguintes, de 1950 e 1960 tornou-se ainda mais reconhecido e querido pelos moradores. Sua atuação não se restringia ao policiamento no Gonzaga. Ele era sempre requisitado para participar de eventos como a recepção ao Papai Noel em sua chegada de helicóptero à Cidade, ao controle popular em desfiles cívicos, em incêndios ou acidentes de trânsito, nos jogos do Santos Futebol Clube na Vila Belmiro e até pela escolta

Na Praça Mauá, na viatura da Rádio Patrulha, à dir., ao lado de outros policiais

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dos árbitros ameaçados por torcedores e em greves ou paralisações do

Civil de São Paulo, exaltando-a e cobrindo-a de glórias. Ele sempre foi um

transporte urbano como a de motorneiros de bondes.

policial consciente de seus deveres funcionais e todos os santistas orgulham-se

Bigode foi até motivo de uma charge de autoria do desenhista A. Souza,

de tê-lo como irmão

em jornal local, por suas ações de controle de jogos na praia, em horários não

No ano seguinte, a 27 de novembro de 1967, o comandante da Guarda

permitidos. A ilustração mostra Bigode diante de duas moças e a frase: ... e na

Civil, major Augusto Pereira, determinou que o guarda Lupércio Mussi fosse

praia do Gonzaga o guarda Bigode vai recolhendo as bolas que são proibidas . E

promovido a subinspetor, a partir da aposentadoria.

ele perguntando: Meninas, onde esconderam aquelas duas bolas

O guarda Bigode, apesar de aposentado, manteve a dedicação à

Por suas ações, Bigode foi homenageado por diversas vezes. Pelo

instituição que o acolheu por mais de 25 anos, ajudando na construção da sede

enfrentamento dos guardas marítimos em que quase morreu, recebeu menção

da Associação Esportiva Guarda Civil e como voluntário na Caixa Beneficente

honrosa por bravura pelo governo paulista, sendo promovido a guarda de 1ª.

da instituição. Viúvo há muito tempo, casou-se nesse período com Angélica

Classe. Por sua atuação nas tragédias de temporal e deslizamento nos morros,

Concílio Mussi, que já tinha a filha Janete.

em 1956, foi agraciado com diplomas e citações oficiais. Em 22 de outubro de 1962 recebeu medalha de mérito durante as

Em 12 de julho de 1992 o guarda Lupércio Mussi faleceu, aos 78 anos,

comemorações dos 36 anos da Guarda Civil do Estado de São Paulo, em evento

deixando para a História o tempo em que foi reconhecido pelos santistas como

no 8º Grupamento na sede da guarnição à Avenida Ana Costa, 194, com

benfeitor e muito querido por todos. Foi enterrado no cemitério de Amparo.

recepção a familiares na praça de esportes da Associação Atlética Portuguesa

Acervo na PM - No dia 19 de janeiro de 2021, o filho Lupércio Mussi

Santista e presença de autoridades locais. Em 23 de setembro de 1964 foi agraciado com o Brasão da Cidade, feito em ouro, e recebeu o título de Cidadão Santista.

encaminhou ao 6º Batalhão de Polícia Militar do Interior Tenente Coronel Pedro Arbues, em Santos, farto material referente ao seu pai, o guarda Bigode,

A aposentadoria chegou em 5 de maio 1966, aos 51 anos e com quase 26

entregue ao Coordenador Operacional, major PM Filgueiras e outros policiais

anos de serviços prestados à Guarda Civil, por ato assinado pelo diretor da

militares. O material, composto por fotografias, noticiário, diplomas e demais

Divisão de Pessoal da corporação, Art de Oliveira Silvestre. O parecer

itens farão parte do acervo daquela instituição militar.

informava que Bigode faria jus a proventos anuais de CR$ 4.469.208,00 (quatro milhões, quatrocentos e sessenta e nove mil, duzentos e oito cruzeiros), na moeda da época.

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Para comemorar o evento, o Batalhão Pedro Arbues emitiu a seguinte nota: "Guarda Bigode", assim como era carinhosamente conhecido em

Na solenidade de aposentadoria, ele foi citado por seus superiores:

meados de 1949, compunha à época o Corpo da Guarda Civil (força auxiliar da

Amigo de todos, desde o mais humilde, às mais altas figuras brasileiras,

Força Pública do Estado de São Paulo) que atuava no município de Santos, e era

Lupércio Mussi, o nosso Bigode, foi um bravo defensor do nome da Guarda

tido como grande amigo da população. Após uma situação de risco intensa


ocorrida no início do ano 1949, onde quase morreu em função do dever, alcançou o status de super-herói, ganhando o coração de todos os Santistas.

Foi com muito carinho que o nosso Coordenador Operacional, Major PM Filgueiras e os policiais militares do Batalhão Pedro Arbues, recepcionaram o filho do "Guarda Bigode" e com muita atenção e interesse puderam voltar ao tempo através das emocionantes e orgulhosas lembranças que o Senhor Lupércio Mussi (filho) trouxe do pai na memória.

Obrigada Sr. Lupércio Mussi por compartilhar conosco lembranças honrosas e por todo carinho com a Polícia Militar do Estado de São Paulo. Polícia Militar, a Força Pública de São Paulo.

Destaque nos jornais sobre o atentado

Nas imagens, recebendo título de Cidadão, no jornal A Tribuna, socorrendo jogador e juiz na Vila Belmiro e escoltando o Papai Noel

Charge de A. Souza ironiza o guarda sobre os esportes proibidos na praia

Na PM, em homenagem ao pai

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O

Um dos filhos d a guerra

clima era tenso no Brasil naquele ano de 1942.

A Segunda Guerra Mundial atingia parte do mundo desde 1939.

O presidente Getúlio Vargas, que até então adotava posição de neutralidade em relação aos blocos de países em confronto, decide entrar definitivamente na guerra, a 22 de agosto de 1942.

parentes. Mas ao saber do nascimento do primeiro filho, a quem dera o mesmo nome, voltou por algum tempo para dar o suporte necessário à família. Lupércio foi registrado no Cartório de Registro Civil das Pessoas Naturais de Amparo, às folhas 455 do livro de 1942. Pouco depois conseguiu trazer a mulher e o filho para Santos.

Pouco antes, navios mercantes brasileiros são afundados por

Em 3 de maio de 1944, já na cidade litorânea, nascia a filha Maria

submarinos alemães, com centenas de mortes, causando forte comoção social

Aparecida. Um ano após, em junho de 1945 nasceria um menino, a quem seria

no País.

dado o nome de Américo, mas faleceu pouco depois de nascer.

Foi em um sábado de primavera, 21 de novembro de 1942, com o

A mãe Olympia não resistiria a uma enfermidade, e acabou falecendo

conflito mundial ainda em grande evidência no mundo e no Brasil, que um

em 15 de março de 1948, aos 31 anos, conforme registro do cemitério de

choro de recém-nascido ecoou em um dos quartos do hospital Anna Cintra,

Amparo, onde foi sepultada por ter nascido naquela cidade.

em Amparo, interior do estado de São Paulo. Nascia ali Lupércio Mussi, filho do guarda civil Lupércio Mussi e de Olympia Pereira Mussi.

Desde então Lupércio e a irmã passaram a deslocar-se entre Amparo, onde ficavam sob os cuidados de tias, e Santos, acompanhados do pai, que alugava a casa 2 da Rua Marechal Pego Júnior, 68, uma espécie de beco de casas

O pai não estava presente. Tinha sido deslocado de Amparo para atuar

modestas próximas do centro e da região portuária.

na Guarda Civil em Santos, no litoral paulista, em 1941. Em suas folgas

Algum tempo depois o pai conheceu em Santos a paulistana Tereza

retornava a Amparo, para acompanhar a mulher, que ficara aos cuidados de

Prudente Guariglia, com quem acabou se relacionando. A partir de então, já na

O registro de nascimento, no cartório

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Aos 6 anos


casa 2, ela ajudou a cuidar dos filhos, levando-os à escola e a passeios na praia. O convívio com o avô José Mussi, quando passava férias escolares em Amparo, faz Lupércio lembrar dele como um homem severo, mas muito carinhoso. De vez em quando ele me punha no colo para dar um centavo para comprar sorvete . E lembra que o avô discutia muito com seu pai. Ele era muito severo e achava que meu pai ainda era criança . Não conheceu a avó, Saada, que faleceu muito cedo. Ele também não conheceu a fazenda de café que foi do avô. Apenas viu a casa em uma pintura que ficou com seus parentes. Nessa época, aos 6 anos, Lupércio já vivia com o guarda e a nova companheira, na casa 2 da Rua Pego Júnior, 68. A mãe Olympia tinha morrido há pouco tempo e ele foi trazido de Amparo para morar em Santos, junto com a irmã Aparecida, que tinha apenas 2 anos. Lupércio e a irmã Maria Aparecida testemunharam muitas das ações do pai durante os anos em que viveram com ele. Os colégios, a participação em eventos e os primeiros empregos vieram a seguir.

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A fachada da Associação Feminina

O hospital Anna Cintra, onde nasceu, em Amparo

Com a irmã Aparecida e Tereza Guariglia, que os ajudou na criação 18

A entrada e a porta da casa da Rua Pego Júnior


Diferentes ocasiões nos colégios por onde passou

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A infância, em diversos locais de Santos

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O

Primeiro emprego, aos 16 anos

menino Lupércio Mussi, chamado em casa de Lupercinho ,

em razão do mesmo nome do pai, deixava diariamente a modesta casa 2 da Rua Marechal Pego Júnior, 68, na direção da Congregação Mariana da Anunciação, junto ao Santuário do Coração de Jesus, ali bem perto. Na Congregação conviveu com homens que marcaram a sua vida, como Antonio Ablas Filho, José Teixeira Coelho, Manoel Garcia Vilarinho e outros profissionais já com alguma evidência na cidade. Os três chegaram a presidir a Congregação, em diferentes épocas. Foi nesse local que ele iniciou algumas atividades esportivas e culturais. Estudava no Liceu Feminino Santista, escola onde teve como primeira professora a mestra Lúcia Aulicino. Estudou ali do primeiro ao terceiro anos do antigo Primário. O Liceu foi fundado em 1902 pela educadora Eunice Caldas e durante muito tempo funcionou à Rua da Constituição, 321 e tornou-se uma das mais conceituadas escolas da Cidade.

Nota: O conjunto da Congregação foi destruído pela explosão do Gasômetro de Santos, no dia 9 de janeiro de 1967 e que destruiu também diversas casas e estabelecimentos comerciais da região. Em períodos diversos, aos 14 anos, ele deu aulas de Religião na Escola Noturna Santo Inácio, pertencente à Congregação Mariana. Lupércio era um menino alto, acima da estatura de seus colegas de classe. Depois do Liceu o pai o inscreveu para estudar também perto de casa, na Associação Instrutiva José Bonifácio, cujo patrono é José Bonifácio de Andrada e Silva, estadista considerado o Patriarca da Independência . O Colégio José Bonifácio 21


A escola, fundada em 1907 sob orientação da Associação Comercial de Santos, funciona há muitos anos na Avenida Conselheiro Nébias, esquina da Rua Pego Júnior, onde Lupércio morava. Nesse colégio, de grande tradição, estudaram a atriz Cacilda Becker, o ex-prefeito Antonio Ezequiel Feliciano da Silva e o educador Milton Teixeira, entre outros personagens. A escola teve como professores o pintor Benedicto Calixto, o poeta Martins Fontes e o educador Adolpho Porchat de Assis. Enquanto estudou no José Bonifácio teve sua primeira incursão a um programa de rádio. Ele participou com amigos de classe de programa na Rádio Cultura de Santos, A Voz do Estudante , em 1956 (aos 14 anos), ao lado dos colegas Kosei Iha, Carlos Alberto Arruda, Darcy Silva e Matias Fonseca, entre outros. Aos domingos Lupércio fazia locução na rádio. E também participou de A Voz Acadêmica , com Antonio Oliva, estudante de Direito. Na escola também teve atuação como ator, um aspecto de sua vida que não considerou muito confortável nem promissor. Ele teve papel como coadjuvante, vestido de marinheiro, na peça Pluft, o Fantasminha, peça infantil escrita pela dramaturga Maria Clara Machado em 1955. A peça era uma grande novidade na época e faturou o 2º lugar em festival realizado pelo colégio. Outras atuações teatrais aconteceram em grande estilo no Teatro Coliseu e também no auditório da emissora batizada como TV Santos, ligada à TV Paulista, Canal 5, das organizações Victor Costa, que fazia sucesso em São Paulo com essa TV e com as emissoras de rádio Excelsior e Nacional. A empresa montou no final de 1957 uma retransmissora em parceria com a Rádio Clube de Santos (PRB-4), na Rua José Cabalero,60, no Gonzaga, trazendo a Santos personalidades que iniciavam carreira como Hebe Camargo, Chocolate, Ofélia Anunciato e outras.

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Telas do sogro, o pintor Romeo De Graça


Com colegas na firma farmacêutica Richter

Mas as poucas atividades de Lupércio como ator não passaram disso. A participação no programa de rádio quando estudante já havia despertado em Lupércio a vontade de trilhar pelo fascinante mundo da comunicação. Foi em 1958, com 16 anos, que ele conseguiu seu primeiro emprego formal, como locutor da mesma Rádio Clube de Santos, que já não tinha mais a TV Santos. Ele não parava. Na mesma época teve como patrão José Teixeira Coelho, que atuava no ramo do café, como corretor com escritório na Rua José Ricardo, 36, no Centro de Santos, e que era da direção da Congregação Mariana.

DESDE CEDO SE TORNOU UM EMPREENDEDOR

Lupércio participava de venda de café, com amostras em latas com o produto que lhe eram entregues. Até que foi enviado ao Porto de Paranaguá, no Paraná, para acompanhar um embarque de café. Para cumprir a missão, o pai teve que emancipá-lo, pois tinha apenas 16 anos. Os primeiros empregos o levaram a querer mais. Estrava nascendo um empreendedor. Conseguiu ir para São Paulo para atuar como vendedor de produtos farmacêuticos. Começou na empresa francesa Roche. Depois conseguiu emprego no Laboratório Abothi, e em seguida no Laboratório Le Petit Lafite, e na Richter, de origem italiana. Pela Richter participou em São Paulo do lançamento do Roxilon, um anabolizante, que deu o que falar. Em visita ao médico Leôncio de Rezende, em Santos, para apresentar o produto, não foi bem recebido por alguns pediatras e, em vista disso, o jovem vendedor acabou perdendo o emprego na empresa. Nessa estada em São Paulo aprendeu com parentes a fabricar desodorantes e laquês femininos da marca Cosbel, que vendia para a rede Drogasil. Voltou para Santos e, para isso montou uma pequena fábrica numa

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área da casa do advogado Walter de Carvalho. Justamente nessa época estava namorando com Suely Blefery De Graça, filha do pintor Romeo De Graça, e o casamento aconteceu em 1964, em Santos. Para sustentar a nova família conseguiu por meio de dona Maria, esposa do inspetor Geral da Companhia Docas de Santos, José de Menezes Berenguer, um emprego no Departamento Pessoal da empresa, atuando na área financeira.

Prego de Ouro - Por meio do sogro abriu ainda em 1964 a Galeria Prego de Ouro, num ponto estratégico da Avenida Ana Costa, esquina com a Rua Azevedo Sodré, no coração do Gonzaga, em Santos. Ali atuou como gerente e por muitos anos lançou pintores iniciantes por meio de um sistema de venda de pregos para a exposição de suas obras de arte. Lupércio alugava o prego em que o artista penduraria a sua tela para exposição ou venda. Cada prego era alugado por 10 cruzeiros (no valor da época) e o pintor, quase sempre iniciante, tinha a honra de estar ao lado de quadros de autores experientes. Esse trabalho não rendia muito dinheiro, mas tivemos a oportunidade de dar à Cidade uma novidade no setor cultural, inclusive com exposições de alto nível . A galeria, que se tornaria famosa, teve exposições de artistas consagrados como o pintor modernista polonês Maciej Babinski; o pintor abstracionista e gravador nipobrasileiro Tikashi Fukushima; o pintor abstracionista, desenhista e tapeceiro japonês naturalizado brasileiro Manabu Mabe; e ainda o pintor brasileiro Cândido Portinari, entre outros. Nessa época, apaixonado pela arte da pintura, iniciou a compra de telas que, aos poucos, foram decorando as paredes das casas onde morou. No casamento, ao fundo, os sogros De Graça

Integrado ao setor e com o apoio do jornal Cidade de Santos, Lupércio foi convidado a participar da organização do 11º Salão de Belas Artes de Santos, em 1970, durante a gestão do interventor municipal general Clóvis Bandeira Brasil.

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Lupércio Mussi sempre foi muito ligado às artes, em especial a telas e esculturas que considerava obras primorosas e que enfeitavam os espaços das casas onde morou e de seus escritórios nas rádios e na tv. Aqui, nesta página, estão alguns exemplos desses objetos, dos muitos que colecionou durante a vida.

Seu gosto por artes... 25






A

Loja na Rodoviaá r ia, um ato de ousadia

s ações arrojadas de Lupércio Mussi sempre foram uma

característica de sua personalidade. Depois de tentar diversas funções e empregos desde cedo, ele soube

Com esse montante na conta enfrentou a concorrência para a concessão de uma livraria ou de uma bomboniére. E foi contemplado com a bomboniére, numa esquina em frente aos boxes de estacionamento dos ônibus.

pelos jornais que a Prodesan (empresa criada para desenvolver projetos em

Tornou-se assim um dos acionistas minoritários da Prodesan. Para

Santos) pretendia construir uma estação rodoviária no Centro, ocupando uma

agradecer a conquista, Lupércio foi recebido pelo presidente da empresa,

área degradada na Praça dos Andradas onde funcionava uma garagem, junto à

Aníbal Martins Clemente, que se tornou um amigo.

Cadeia Velha e aos túneis. Vislumbrou na notícia a ideia de participar dessa

Algum tempo depois, abriu no local uma banca de apostas da Loteria

construção. Queria ser um dos acionistas do empreendimento ou participar da

Esportiva, no final de 1970. Essa modalidade de jogo foi lançada no Brasil em

concorrência para obter uma loja no seu interior.

abril de 1970, por meio de cartões com apostas para 13 jogos em que os

Numa atitude ousada, sem um tostão no bolso , como lembrou, casado e com dois filhos pequenos, iniciou verdadeira peregrinação para buscar

apostadores deveriam acertar os resultados com vitória de um dos times ou empate, com marcações e custo a seu critério.

informações que o ajudassem a conseguir o seu intento. Foi falar com um médico amigo, irmão de um engenheiro da Prodesan, e obteve ali alguns dados a respeito. Era março de 1968 quando a obra começou. Ele foi acompanhar os trabalhos, diariamente, enquanto procurava recursos. O primeiro a procurar foi o pai, o guarda civil Bigode, mas não teve êxito. Foi falar com uma gerente do Banco Itaú e conseguiu que ela emprestasse uma pequena quantia, insuficiente para dar um lance. Foi quando voltou ao seu primeiro empregador do setor de café, José Teixeira Coelho, que o ajudou a vender um lote cafeeiro, que lhe deu uma polpuda comissão. Com a ajuda de outros amigos foi buscar mais recursos com o dono de um empório no Gonzaga, que viu em Lupércio uma pessoa determinada a construir o seu futuro. Emprestou mais dinheiro, sem data para a reposição. Como agente da Loteria Esportiva

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EMPRÉSTIMOS GARANTIRAM CONQUISTAS

A Rodoviária, quando da inauguração em 1969

A Estação Rodoviária de Santos foi inaugurada no dia 30 de dezembro de 1969 pelo então interventor Clóvis Bandeira Brasil. Ocupa um terreno de 5.200 metros quadrados, com área construída de 3.930 metros quadrados. O objetivo da construção era o de dotar a Cidade de um polo centralizado para o movimento de passageiros de ônibus, entre as cidades da região e de outros municípios Para atender o público foram implantados serviços como guichês para venda de passagens, restaurante, lanchonetes, livraria, e lojas diversas como agência de turismo e de artigos de praia, entre outros. E ainda área administrativa, maleiro e posto de polícia. Era previsto nos estudos da Prodesan o movimento diário de 12 mil passageiros. Com tanta gente passando por ali, Lupércio tinha outros planos para explorar o local.

Já na bomboniére que conduziu por muito tempo


D

Advogado, com muito esforcç o

epois de muito trabalhar em diferentes setores, Lupércio descobriu que tinha todos os dons

para ser advogado. Tanto que passou no vestibular para a Faculdade de Direito Bragança Paulista no

início dos anos de 1970. O esforço de frequentar as aulas em Bragança, às vezes saindo de Santos para aquela cidade, dormindo em hotéis para depois retornar a Santos, e muitas vezes em viagem de ida e volta no mesmo dia foi compensador. Ele se formou em 1976 e recebeu seu diploma de colação de grau de Bacharel em Direito no dia 21 de janeiro de 1977, das mãos do diretor Nelson Carrozzo. Lupércio foi o orador da turma intitulada Sâo Francisco de Assis. Tão logo se formou Lupércio abriu seu próprio escritório de advocacia, numa sala em prédio no Centro de Santos, atuando com colegas inicialmente em ações cíveis. Mas com o tempo descobriu um setor até então pouco atendido por advogados – o de ações de desapropriação de extensas áreas. Fez isso em relação à empresa Ferrovias Paulistas S.A. (Fepasa) e também da estatal Petrobras. Logo participou de diretorias da subseção de Santos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e teve atuação de destaque com relação a temas importantes discutidos à época. Como advogado foi nomeado em 1981 como observador da Comissão de Direitos Humanos da OAB, com o objetivo de elaborar estudos a respeito da situação social referente à possibilidade de risco à segurança de parte da população de uma área do Morro do Jabaquara. Lupércio aprofundou um relatório do Instituto de Pesquisas Tecnológicas, que identificou diversos problemas de segurança na área dos morros, e, com base em conclusões técnicas e próprias questionou o prefeito Paulo Gomes Barbosa para que as devidas providências fossem tomadas. Mais recentemente, em 2013, foi nomeado um dos 19 membros do Conselho Institucional da Subseção de Santos da OAB, ao lado de advogados de renome na Cidade, para funções consultivas relacionadas à gestão administrativa e demais atividades representativas da entidade.

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UM PROFISSIONAL DEDICADO A AÇÕES SOCIAIS

A classe em Bragança Paulista e o diploma de Advogado

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E

O “avo d a Internet” - TVs na R odoviaá r ia ra o início da década de 1980, quando o filho Cláudio de

As televisões da Rodoviária produziam vários programas, como o RTL

Graça Mussi, na época com cerca de 14 anos, dizia sempre ao pai, Lupércio

Notícias, com informações sobre esportes, além de entrevistas com

Mussi, que gostaria de trabalhar na área de rádio e televisão.

personalidades locais ou que visitavam a cidade. Houve ainda o A Tribuna

Lupércio conseguiu que ele fosse para São Paulo, atuar como cinegrafista em uma produtora do programa infantil TV Tutti Frutti e de comerciais na

Outros temas incluídos nas televisões foram eventos da Cidade,

Rede Bandeirantes. E, algum tempo depois, teve a ideia de montar uma

cobertura de congressos, de programas de miss, de posse de secretários

empresa de rádio e televisão na Estação Rodoviária de Santos, onde já tinha o

municipais, da apresentação da banda dos Fuzileiros Navais, a comemoração

seu comércio. A intenção era de que o filho trabalhasse ali mesmo.

do tricentenário de Bartolomeu de Gusmão, entre outros.

Conseguiu na Prefeitura uma concessão para explorar o serviço, já que a

Surgiu então um novo programa, o Rock Encontro. Um grande sucesso,

Rodoviária é um próprio municipal. Aluguei 10 aparelhos de televisões, da

com videoclipes dirigidos aos jovens, que aos sábados ocupavam parte da área

Colortel, porque não tinha dinheiro nem para comprar uma, e dois aparelhos

da Rodoviária. Eram tantos jovens ali que a administração do terminal pediu

de videocassete. E instalei em locais estratégicos na Rodoviária. Fizemos uma

para interromper o programa, pois eles ficavam diante das televisões e inter-

caixinha de comutação, com o Milton da Serwal, com botoeira, para integrar

rompiam parte da circulação dos usuários dos ônibus. Acho que foi o primeiro

os aparelhos. E dávamos notícias e informações de interesse da Rodoviária,

caso de programa que saiu do ar devido ao grande sucesso , lembra Lupércio.

partida e chegada dos ônibus . O sistema era um grande avanço na área de difusão para a época. Era 1983. O sistema foi batizado como RTL – Rádio e Televisão Litoral.

Entrevistas com roqueiros e bandas como Kid Abelha, Lulu Santos, Kiko Zambianchi, e de ex-integrantes do Earth, Wind & Fire, entre outros. O filho Claudio Mussi já controlava tudo na empresa, como diretor de

Foi idealizado um jornal, aos cuidados do jornalista Pedro Luiz de Paulo.

TV. Havia na equipe três operadores (entre eles Jaime Cordeiro), dois

Ele apresentaria o jornal. Lupércio conhecia o seu pai, Pedro de Paulo, da época

jornalistas (Douglas Pereira e Hugo Dias), um produtor, um diretor geral, um

de juventude na Rua Pego Júnior. Eu disse a ele que o Pedro Luiz não ficaria

técnico de manutenção e um iluminador, além do departamento de vendas.

muito tempo comigo, que iria crescer porque era muito bom... A previsão se concretizou.

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Informa, com noticiário desse impresso diário.

Reconheci que eu tinha a primeira TV a cabo de Santos, na Rodoviária . A regional do Sindicato dos Jornalistas Profissionais se aproximou do projeto e


implantou o que seria o início da internet, com um programa de videotexto. Foi o avô da Internet... O projeto teve ampla divulgação nos meios de comunicação. Muitos jornalistas começaram ali ou se incorporaram ao sistema. Numa entrevista ao jornal A Tribuna, publicada no dia 20 de setembro de 1985, Lupércio mencionou que esse projeto tinha um significado muito importante, pois faria nascer todas as emissoras de televisão de Santos. Vamos ser a semente dessas emissoras. Santos já merece ter emissoras locais .

Nota: Na verdade, houve uma tentativa anterior de implantação de uma emissora regional em Santos, batizada como Rede de Televisão Brasileira S.A. (Rebratel). Isso ocorreu em 1956, com equipamentos importados. O presidente da empresa era o banqueiro Amador Aguiar, fundador do Bradesco; o vice era Giusfredo Santini, dono do jornal A Tribuna; o secretário era o advogado Saulo Ramos; e o diretor de patrimônio era Accindino Andrade, o reconhecido chargista Dino. A emissora iniciou a programação em circuito interno e, depois, como retransmissora da TV Paulista (como TV Santos, canal 5), das organizações Vitor Costa. Esse projeto durou pouco mais de um ano.

FOI A PRIMEIRA TV A CABO DA REGIÃO 35


L

Rá a dio L itoral nasce d a persisteê n cia

upércio sentiu que não deveria parar aí.

Paulo Maluf. Nesse meio tempo tornou-se empresário na área de

Em 2 de agosto de 1983, como tesoureiro da comissão pró-campanha da

comunicação, sendo proprietário do Grupo Camargo de Comunicação,

volta da autonomia política de Santos, presidida pelo advogado Sérgio Sérvulo

arrebatando emissoras como as rádios Alpha FM, 89 FM Rádio Rock, Nativa

da Cunha e integrada por vereadores e membros da comunidade, Lupércio

FM e BandNews FM, em parceria com o grupo Bandeirantes.

participou da comitiva que foi de ônibus a Brasília, para acompanhar o que

No desespero, Lupércio falava para todo mundo o que tinha ocorrido,

seria a possibilidade de assinatura de decreto, pelo vice-presidente Aureliano

em busca de apoio. Um deputado federal da região, que Lupércio prefere não

Chaves, no exercício da presidência, já que o presidente João Figueiredo estava

nominar, não quis ajudar. Ele procurou então o vereador de Santos Eduardo

afastado por problemas de saúde.

Castilho Salvador (PMDB e também integrante da comissão da autonomia),

Nota: Aureliano assinou o decreto 2.050, restabelecendo as eleições em

que tinha contatos em Brasília. Ele me disse que só uma pessoa em Brasília

Santos. Lupércio conseguiu uma cópia do documento, pegou um avião e o

defendia Santos – o seu amigo senador Humberto Lucena (PMDB da Paraíba,

entregou na redação do jornal A Tribuna. O decreto foi publicado na primeira

e que estava em seu primeiro mandato no Senado).

página do dia 3 de agosto de 1983.

Castilho entregou um cartão pessoal a Lupércio, que foi a Brasília falar

No dia 3, Lupércio aproveitou sua estada em Brasília e foi até o

com Lucena. Entregou o cartão ao secretário do senador. Era a véspera da

Ministério das Comunicações, pedindo para falar com o advogado do

posse do presidente Tancredo Neves, 14 de março de 1985. A antessala de

Ministério, e me levaram até ele. Expliquei a ele que tinha um sistema de

Camargo estava abarrotada de pessoas – prefeitos, deputados, empresários. Ao

televisões na Rodoviária de Santos e queria saber se tinha algum canal à

receber o cartão, o secretário logo gritou: Castilho... aqui o Castilho manda.

disposição. Ele me orientou e logo depois preenchi um documento, no edital

Pega o meu braço . E conduziu Lupércio até o gabinete, passando pelo meio de

para participar de uma emissora de rádio em São Vicente.

tanta gente. E o pôs no meio da sala de Lucena. Quando soube que Lupércio

Soube depois que tinha 17 interessados nesse canal – Globo, deputados... E soube também que a concessão seria definida por algum político. Eu estava lá no meio de todos e tive a intuição de que não conseguiria ... Algum tempo depois o deputado federal José Camargo levou a rádio.

estava ali a pedido do Castilho, Lucena abriu os braços e repetiu que o Castilho, pela amizade, mandava ali. Depois de explicar o que o levava ao gabinete e que estava concorrendo a uma rádio em São Vicente, Lucena pediu uma ligação direta ao secretário-

José Camargo, nascido em São Roque, SP, elegeu-se pelo extinto MDB e

geral do Ministério das Comunicações, Rômulo Vilar Furtado. Lucena foi

com o fim do bipartidarismo filiou-se ao PDS, pelas mãos do então deputado

direto: Você está aí há 20 anos no Ministério e nunca lhe pedi nada. Veja o que

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A primeira sede da rádio Litoral, em São Vicente

Visita do ex-prefeito Oswaldo Justo às instalações

Diante dos microfones da Litoral

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38


pode fazer com essa rádio . Ao saber que a rádio já estava reservada ao

minha vida sempre tive muitos amigos . Lupércio foi se encontrar com o dono

deputado Camargo, Lucena foi enfático: O Camargo já ganhou muito. Dê essa

da Rádio Bandeirantes, João Saad. Me apresentei na recepção e logo o Saad me

rádio ao meu amigo aqui, que está com o pedido de concessão regularizado .

chamou de 'Turcão' . Explicou que tinha ganhado a concessão para a rádio em

Dessa forma, Lupércio obteve a portaria da rádio. Fiquei esperando no

São Vicente. E, de imediato, com a intenção de ajudar, indicou o engenheiro da

gabinete. E chegou a portaria. Nem pude agradecer ao Lucena, tanta gente

Bandeirantes, Eulógio Borba, para que fizesse o projeto da rádio. Eulógio era

estava esperando no Gabinete .

engenheiro elétrico, com ênfase em eletrônica, formado pelo Instituto Mauá

Dali, Lupércio foi se encontrar com um deputado da região, para mostrar seu contentamento, e soube por ele, muito contrariado, que a sua portaria seria cancelada. Fiquei atônito...

de Tecnologia e licenciado em Física pela Universidade Metropolitana de Santos. Ele fez todo o projeto, que Lupércio guardou com carinho. Lupércio se emociona ao lembrar do fato.

Lupércio não perdeu tempo. Foi falar direto com o ministro das

Antes disso, ainda com apenas as televisões na Rodoviária, Lupércio se

Comunicações, Antonio Carlos Magalhães, explicou a ele o que tinha

encontrou numa festa de casamento com João Saad, que lhe pediu uma

ocorrido. Magalhães entendeu e refez a portaria da rádio, cedida para

indicação de alguém com talento para apresentar um programa. Mas ele não

Lupércio.

tinha ninguém em mente. João Saad, então, disse a Lupércio que teria que

Magalhães havia assumido o Ministério das Comunicações no dia 15 de

manter a apresentadora Hebe Camargo na função. Foi o que ocorreu.

março de 1985. O presidente eleito pelo Colégio Eleitoral, Tancredo Neves, que

Aproveitando o encontro, Lupércio pediu para que João Saad ajudasse

deveria tomar posse, estava afastado por doença e foi substituído pelo vice,

na eleição de Oswaldo Justo para a Prefeitura de Santos. O vice, Esmeraldo

José Sarney, que montou o ministério. Tancredo morreria no dia 21 de abril.

Soares Tarquínio de Campos Neto era filho de Esmeraldo Tarquínio,

Em um de seus primeiros atos, a 23 de março, Magalhães cassou a concessão de 144 emissoras de rádio e televisão, autorizadas no final do

advogado, jornalista e radialista, que por algum tempo atuou na Bandeirantes e de quem Saad era admirador. Foi a senha para a resposta positiva ao pleito.

mandato do então presidente João Figueiredo. Houve uma orgia de

O início – A Rádio Litoral foi ao ar em caráter de experiência no dia 23

concessões , disse o ministro, informando que houve na época clientelismo e

de setembro de 1986, e inaugurada alguns meses depois, no dia 13 de fevereiro

favoritismo. Depois, houve a revisão de cada uma e os pedidos que estivessem

de 1987. Os preparativos exigiram muito estudo e apoio de especialistas até

dentro da lei seriam liberados.

atingir o padrão de qualidade que Lupércio procurava para a emissora.

Bandeirantes – O próximo passo foi dar andamento ao projeto. Na

O amigo advogado Derosse José de Oliveira, um entusiasta pelo rádio, o

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ajudou para imprimir a filosofia da empresa e o timbre necessário para a

que o local recebeu inúmeros artistas para apresentações ao público, sendo

locução. Esse timbre se aproximava muito do que foi padronizado pela Rádio

referência de sucesso por tais atuações.

Eldorado, do grupo Estadão, em São Paulo, e que desde o seu início foi um sucesso entre os ouvintes . Foram muitos os programadores e locutores que passaram pela emissora, entre eles José Francisco Pacheco e Marcelino Santos Júnior.

Massa, o Ratinho, inaugurou a Rádio Massa, na frequência 102,1 MHz. Atualmente, o grupo Mussicom opera as três emissoras, Rádio Litoral (91,7 MHz), que também engloba programação jornalística e de debates com o

Na solenidade de inauguração, que contou com cerca de 400

Jornal da Litoral, com ótima audiência; a Hot 98 (98,1 MHz), que tem parceria

convidados, a apresentação da rádio e de seu presidente foi feita pelo radialista

com a Universidade Metropolitana (Unimes) e passou a chamar-se Hot 98

e amigo dos tempos de escola, Kosei Iha. Depois, falou o prefeito Oswaldo

Unimes, com programação voltada ao pop e público jovem; e a Massa FM

Justo, que destacou a seriedade, a honestidade e a perseverança do

(102,1 MHz), que introduziu um estilo mais popular, voltado ao sertanejo,

empresário Lupércio Mussi. Justo falou sobre a importância dos meios de

samba e pagode.

comunicação, e emendou: Os veículos de comunicação devem ter

As três emissoras funcionam na cobertura do edifício 197 da Rua

compromisso com as aspirações populares e devem ser conduzidos por

Alexandre Herculano, em Santos, e se destacam pela qualidade da

homens sérios e honestos, como é o caso da Rádio Litoral FM".

programação e de equipamentos, todas com grande audiência.

Emocionado, Mussi lembrou o início de sua jornada, e observou na

Lupércio teve no início dos anos 2000 uma experiência com emissora

época: Este era um sonho há muito tempo perseguido, que, finalmente, se

fora da região, na cidade de Astorga, no Paraná, com a Rádio Cultura de

concretizou".

Astorga. Mas, em 2004 transferiu sua parte societária a outro interessado.

A nova emissora se destacou pela qualidade de sua programação,

Sistemas de Ensino – O grupo empresarial diversificou sua atuação,

voltada inicialmente ao público adulto e contemporâneo, com seleção musical

além das emissoras de rádio, implantando, como franqueado, unidades de

de estilos como o jazz, o blues, a MPB, e também pela cobertura jornalística e

ensino na região.

programas de debates.

A Saint Mary's Bilingual School, adota o sistema Mackenzie de modelo

Por um período a rádio passou a ser a Litoral Jazz. A Mussicom, a

pedagógico e metodologia ensino. O programa bilíngue utiliza o material

holding do grupo fez algumas alterações na frequência da emissora e passou a

didático da língua inglesa da Universidade Cambridge, do Reino Unido.

abrigar também a Rádio Rock, que se transformou na Hot 98.

Funciona na Rua Euclides da Cunha, 241, no antigo prédio da Faculdade de

Durante algum tempo a emissora esteve instalada em prédio da Avenida Manoel da Nóbrega, em São Vicente, com a Rádio City Café, oportunidade em

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Depois de unir-se ao grupo do radialista e apresentador Carlos Roberto

Filosofia da Universidade Católica de Santos, no bairro Pompeia. Outra unidade está em instalação na Avenida Antonio Emmerich, 877, em São


Vicente, onde funcionou por muito tempo o Colégio Brasília. O colégio Jean Piaget também faz parte do grupo, com uma unidade na Avenida Manoel da Nóbrega, 1275, em São Vicente, no prédio onde funcionou por muito tempo o Rádio Rock Café, e outra que será instalada em Praia Grande.

UM SONHO HÁ MUITO TEMPO PERSEGUIDO

Os colégios Saint Mary's e Jean Piaget

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O

Autonomia e a era Justo País vivia anos de intervenção militar desde 1964. Muitos

fatos ocorreram desde então, até que surgiu a eleição para a Prefeitura de Santos

Lupércio e Justo já eram amigos desde a época inicial do MDB. Quando o

em 1968. A chapa do partido Movimento Democrático Brasileiro (MDB) elegeu

partido era dirigido pelo vereador Carlos Tavares (o Carlito), Lupércio se filiou,

o advogado Esmeraldo Soares Tarquínio de Campos Filho como prefeito, e o

tendo a ficha abonada pelo companheiro Roberto Bologna. Justo era amigo de

vereador Oswaldo Justo como vice, obtendo 40% dos votos.

seu pai, o guarda civil Bigode e isso facilitou muito a aproximação dos dois.

Por desagradar o governo, Esmeraldo foi cassado a 13 de março de 1969 e,

Em depoimento ao jornalista Francisco La Scala Júnior, autor do livro

15 dias depois, a 28 de março, em solidariedade, Justo renunciou ao cargo a que

Oswaldo Justo – Uma trajetória de honradez , Lupércio reviveu aquela época:

tinha direito.

Eu fazia parte da Comissão Pró-Autonomia como tesoureiro e organizamos

O presidente Arthur da Costa e Silva aproveitou o fato para nomear seu amigo, o general Clóvis Bandeira Brasil como interventor na Cidade. Com Costa e Silva afastado pouco tempo depois por doença, uma Junta Militar decidiu considerar Santos como área de interesse da segurança nacional,

manifestações e caravanas, inclusive a que foi para Brasília e voltou com o decreto autonomista do então presidente Aureliano Chaves, em 1983 . No ano seguinte engajou-se à campanha de Justo à Prefeitura. Foi uma campanha duríssima, mas ganhamos no peito e na raça .

cassando sua autonomia política por força do Decreto lei 865, de 12 de setembro

A eleição ocorreu no dia 3 de junho de 1984 e a posse foi no dia 9 de julho.

de 1969.

Justo reconheceu o empenho de Lupércio e o incluiu no secretariado da

Desde então ocorreram em Santos diversas tentativas para reconquistar

Administração Municipal. Fui ajudá-lo no Gabinete, atendendo a população e

os direitos de eleger o prefeito, até que a Cidade se uniu em torno da Comissão

a todos os que procuravam o prefeito. Eram dezenas de atendimentos por dia,

Pró-Autonomia e, em 1983, por ato do vice-presidente Aureliano Chaves, no

mas aprendi muito no Governo e principalmente com o Justo .

exercício da Presidência, foi assinado o decreto de libertação com data de 2 de agosto daquele ano, acrescentando que a autonomia só seria restabelecida de direito com a posse dos eleitos. O advogado Lupércio Mussi era o tesoureiro dessa Comissão. A partir daí surgiram os prováveis candidatos à Prefeitura de Santos. Mas um deles, Oswaldo Justo, eleito deputado estadual, já tinha um compromisso – de candidatar-se tendo como vice o jovem Esmeraldo Soares Tarquínio de

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Campos Neto, filho de seu antigo companheiro de chapa de 1968.

Lupércio é considerado pelo autor do livro como um dos mais leais companheiros de Justo . Ele se engajou tanto na Administração que passou também a chefiar o Cerimonial e a apresentar eventos promovidos pelo governo municipal e durante algum tempo foi como um relações públicas entre o prefeito e órgãos públicos. Entre outras atividades que exerceu ao longo de sua permanência na


Capa do jornal A Tribuna anunciando a vitória de Oswaldo Justo

Prefeitura, Lupércio foi designado presidente da Comissão de Festejos do Tricentenário de Nascimento de Bartolomeu Lourenço de Gusmão, o santista que se tornou padre e foi autor de diversas invenções, entre elas, a mais famosa, a do aeróstato, ou balão, batizado de Passarola, o que lhe rendeu o apelido de padre voador . As cerimônias do tricentenário se estenderam de junho a dezembro de 1985 e contaram com desfiles de escolares, concurso de trabalhos até a deposição de flores no monumento em sua homenagem, na Praça Rui Barbosa, no centro de Santos. Ele deixou o Governo em meados de 1986, antes de seu término, para dedicar-se exclusivamente a outros projetos pessoais e à advocacia. Mas Justo não se conteve com isso. Em março de 1987 convocou Lupércio para uma nova tarefa no Governo – foi indicado como diretor administrativo da Companhia Santista de Transportes Coletivos, em substituição a José Coelho, que se desligou do cargo, e que tinha como presidente Marcus Alonso Duarte. Na indicação para o posto, Justo destacou: Lupércio é meu amigo e colaborador. Um homem de grande valor e forte personalidade. É pessoa de minha inteira confiança e com ele a CSTC vai continuar a caminhada da recuperação . Por ter-se tornado acionista da autarquia municipal Progresso e Desenvolvimento de Santos (Prodesan), Lupércio manteve por muitos anos seu vínculo à empresa, como um dos membros do Conselho de

PARA O PREFEITO, UM HOMEM DE GRANDE VALOR

Administração, lutando por melhorias na gestão.

47


C

Proximo passo, a TV L itoral

om a concessão da rádio e a experiência bem-sucedida com

A começar pelo prefixo. Lupércio conseguiu em Brasília o canal 52, que

os aparelhos de televisão na Rodoviária, Lupércio Mussi, em novo ato de

seria introduzido pelo sistema UHF (Ultra High Frequency, ou Frequência

ousadia, partiu para avançar no seu sistema de comunicação na Baixada

Ultra Alta), o que permitiria melhor sintonia e qualidade das imagens.

Santista. A experiência nem sempre satisfatória para a obtenção da rádio nos

Brasil de Televisão. E estava tudo pronto para a inauguração, realizada no dia 5

gabinetes de Brasília garantiram a Lupércio os caminhos necessários para

de janeiro de 1991, na mesma sede da rádio, à Rua Capitão Mor Aguiar, 576, em

obter a concessão de uma emissora de televisão.

São Vicente.

Foram abertas novas concessões pelo Governo Federal e Lupércio partiu

A emissora teve a antena transmissora instalada no alto do Morro de

para o Ministério das Comunicações. Os canais 8, 12 e 16 estavam à disposição

Santa Terezinha. Para melhorar a captação das imagens pelo sistema UHF,

dos interessados. Lupércio participou das três concorrências, mas não levou

Lupércio desenvolveu um folheto explicativo, distribuído nas casas e portarias

nenhuma. O canal 5 foi obtido pelo deputado federal Gastone Righi (na época

de prédios em que os usuários poderiam se basear para ver a programação do

no PTB); o canal 12 ficou com o então governador de São Paulo, Orestes

canal. Apesar de ter algum custo, a instalação do sistema foi aceita por muitos.

Quércia (do MDB), por meio de um representante; e o canal 16 foi para o grupo A Tribuna. Todas elas ligadas a alguma grande rede nacional. Surgiu então a possibilidade de concorrer a uma estação ainda aberta, ligada à TV Record, e Lupércio não perdeu tempo. Conseguiu a licença. Ele recorda: Três meses depois de obter a concessão já estávamos no ar com a emissora em São Vicente . As demais levaram até três anos para entrar no ar.

Foi o modo que definimos para atingir mais telespectadores, e acho que foi uma iniciativa de grande alcance e sucesso .

A pioneira – Desde a inauguração a nova emissora sempre foi reconhecida como a pioneira na transmissão de programas regionais. A equipe inicial foi formada por jovens jornalistas da região como Solange Freitas, Raquel Pellegrini, Osvaldo Jr., entre outros, que ocuparam

Ele explica: A TV regional, como a Litoral, tem uma ligação mais

como vanguardistas a programação como repórteres ou como apresentadores.

estreita com a comunidade, pois vai em busca dos interesses locais, da rua, dos

Um dos programas de estreia da TV foi o Discutindo a Baixada. Em nova

problemas mais imediatos da população, com mais tempo e atenção a eles .

Muita luta – As semanas que se seguiram desde a concessão foram de muita luta para implantar a emissora.

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O canal foi depois caracterizado como TV Educativa, afiliado à Rede

ousadia, Lupércio convidou dois personagens extremos da política: o excoronel Erasmo Dias, deputado estadual em São Paulo pelo extinto PDS, e o deputado estadual (recém-eleito a federal) José Dirceu, do PT.


Esporte por Esporte, este comandado por Armando Gomes e comentaristas convidados. Os telejornais ocupavam grande parte da programação, como o Jornal Litoral, levantando reportagens e temas que sempre buscavam soluções entre as autoridades da região, apresentado de segunda-feira a sábado, em duas edições. Já adotava como slogans O canal da informação regional e Você se vê nesta tevê . Surgiram mais atrações como Polícia sem Censura, News Tour, Lupércio, com o engenheiro Eulógio Borba, que fez o projeto da rádio

programas para o púbico infantil e terceira idade, de variedades, entre outros. Os serviços também faziam parte da grade, como o Sebrae na TV, que

O programa tinha tudo para pegar fogo, já que o ex-coronel tinha comandado a Fortaleza de Itaipu quando Dirceu, ex-líder estudantil foi um dos presos nesse e em outros quarteis no final dos anos de 1960. Mas não saiu o fogo que eu esperava , lembrou Lupércio, que liderou a bancada. Os dois se mantiveram equidistantes e responderam os questionamentos sem o confronto que era previsto. O programa manteve o sucesso e foi por muito tempo um dos mais

orientava empresários e comerciantes em suas ações. A eleição municipal de 1992 teve um tratamento especial da TV Litoral, com a divulgação de pesquisas e de debates entre os candidatos. Estavam no páreo os ex-prefeitos Oswaldo Justo, Beto Mansur e Koyu Iha (de São Vicente), o deputado federal Vicente Cascione e o então secretário de Saúde David Capistrano, apoiado pela prefeita da época, Telma de Souza. Capistrano venceu Cascione no segundo turno.

importantes da grade de programação regional. Participaram de debates todos os tipos de personalidades da região, do Estado e também nacionais, como deputados federais, líderes de partidos e senadores. Foi também o primeiro a utilizar os serviços de internet para a comunicação com o público, que por meio do e-mail da emissora enviava perguntas aos entrevistados, ou sugestões de problemas em bairros das cidades da Baixada. O pioneirismo continuou já no mês seguinte ao da inauguração, quando a emissora transmitiu ao vivo o desfile carnavalesco de Santos e de São Vicente. Essa transmissão ocorreu nos anos seguintes e teve sempre muita audiência. Foram lançados novos programas de sucesso como o Litoral Esportes e o

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Com o passar do tempo foram incorporados novos programas, e outros tiveram o tempo de duração ampliado, sempre tendo como objetivo atender os moradores da região. Os debates foram sempre um grande atrativo da emissora. A compra de novos equipamentos seguiu a mesma tendência de aprimorar a programação e a imagem oferecida aos telespectadores. No final de 1996, Lupércio Mussi iniciou tratativas com o presidente e reitor da Universidade Santa Cecília (Unisanta), Milton Teixeira, que vislumbrou a ideia de ter uma emissora de TV para aprimorar o ensino de seu curso de Jornalismo, que já tinha grande infraestrutura, com redações acadêmicas, tanto para os alunos do curso de jornalismo impresso como para as áreas de rádio e TV. A transferência da concessão se deu no dia de aniversário da Cidade de Santos, a 26 de janeiro de 1997. A um estúdio da Unisanta foi dado o nome de Lupércio Mussi, em reconhecimento ao seu profícuo trabalho na implantação da emissora. A Santa Cecília TV continuou com ênfase ao noticiário, com a formação de novas equipes e tendo como como diretor de Jornalismo da TV o experiente jornalista Antonio Marques Fidalgo. Um dos programas que foram mantidos foi o Esporte por Esporte, com apresentação de Armando Gomes.

PARTIR PARA A TV FOI UM NOVO ATO DE OUSADIA

50


A

Socied ade com Pelé e na veterana PRB-4 amizade com duas figuras públicas fez com que Lupércio

ativamente como associado do Santos, até que em 1945, já como vereador,

Mussi se tornasse um dos sócios da Rádio Clube de Santos, a veterana emissora

tornou-se o 22º presidente do clube. Sua atuação como líder do Peixe levou o

com seu famoso prefixo PRB-4, fundada em 1924 e uma das quatro mais

time a ser reconhecido mundialmente, conquistando torneios com seu escrete

antigas emissoras de rádio do Brasil.

fantástico e que tinha Pelé como um de seus contratados. Foi o mais longevo

Foi em 1992, quando o ex-deputado federal Athié Jorge Coury, corretor oficial de café resolveu deixar a sociedade na rádio e transferiu suas 169 ações

presidente do clube, por 26 anos, retirando-se em 1971 após perder sua última eleição.

para o amigo Lupércio Mussi. A emissora tinha o controle acionário de Edson

Veterana - A história da rádio começou em 1923, quando o empresário

Arantes do Nascimento, Pelé, com 72.155 das 80 mil ações da empresa

santista Paulo Cochrane Suplicy, corretor de café, juntou-se ao amigo

distribuídas entre 55 acionistas, muitos deles empresários, comerciantes,

Frederico Magalhães Hafers, também do setor cafeeiro em Santos e resolveram

agentes marítimos e donos de tradicionais comissárias de café. Pelé era

fundar uma empresa radiofônica, a partir de um receptor adquirido pelo

considerado o dono da emissora, que, entretanto, tinha diretoria própria.

empresário Roberto Simonsen.

A transferências das ações de Athié para Lupércio se deu por termo de

Após alguns ensaios eles inauguraram a Rádio Club de Santos no dia 26

cessão registrado no dia 17 de março de 1992, determinando o lote de ações, no

de dezembro de 1924, instalada com horário restrito em um salão do Recreio

valor de 100 mil cruzeiros, moeda da época.

Miramar, um complexo recreativo com hotel e cinema no Boqueirão, em

Foi assim que me tornei um dos sócios do Pelé, nessa emissora

Santos. Começou a operar de fato em 1925. O radioamador Hermenegildo da

emblemática que foi a Rádio Clube de Santos, a querida PRB-4 de tanta

Rocha Brito, comissário de café, juntou-se ao grupo logo depois e permaneceu

tradição em nossa Cidade e no País , lembra Lupércio, que guardou com

como presidente da rádio por 50 anos. Era o segundo maior acionista.

carinho toda a documentação referente ao fato, incluindo os títulos acionários.

Nota: O fundador Paulo Cochrane Suplicy foi casado com Filomena

Athié, antes de se tornar político e empresário do ramo do café, iniciou

Matarazzo, neta do industrial Francesco Matarazzo, com quem teve nove

sua carreira como futebolista, defendendo o gol do Santos Futebol Clube entre 1927 e 1934, tornando-se famoso na equipe assim formada: Athié, Bilú e David; Alfredo, Júlio e Hugo; Omar, Camarão, Siriri, Feitiço e Passos. Na Revolução de 1932 foi comissionado como segundo-tenente. Depois de deixar a meta praiana, Athié voltou aos negócios do café e participou

filhos, entre eles o ex-senador Eduardo Matarazzo Suplicy. Rocha Brito e outros sócios compraram o terreno da Rua José Caballero, 60, onde construíram o prédio da emissora, com amplo salão de apresentações. A rádio teve grande sucesso ao longo de sua existência, tendo lançando artistas como Lolita Rodrigues, Leni Eversong e Renata Fronzi. Outros se

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apresentaram em seu anfiteatro, como Cacilda Becker, Silvino Neto, Alayde Camargo (Dindinha Sinhá), Gregório Barrios, Silvio Caldas, Carmem Miranda, Hebe Camargo, Orlando Silva, as irmãs Batista, Carlos Galhardo, Vicente Celestino, Ronald Golias, Ronnie Von, Sérgio Reis e outros tantos, além de locutores que se tornaram famosos. Em 1968 a emissora sofreu um incêndio, perdendo mais de 4 mil discos e vários equipamentos. Rocha Brito permaneceu na presidência até a sua morte, em 1993. Foi quando o controle acionário foi transferido a Pelé, acionista desde 1980 ao lado

A fachada da Rádio Clube de Santos

do irmão Jair Arantes do Nascimento. Ainda em 1993 a rádio foi vendida para Maria Alice Antunes Álvares Affonso, cunhada do ex-senador Almino Affonso, que reformulou a programação, criando um departamento de jornalismo, programação esportiva e aluguel de horários durante a madrugada. Passou de última colocada para a segunda em audiência na região. Em 1994 a administração passou para a Igreja Universal do Reino de Deus, que transformou o auditório no Cine Alhambra e assumiu o controle total da emissora no início dos anos 2000 e encerrou as atividades logo depois. O prédio foi demolido e deu lugar a um flat. Com Pelé, comemorando um aniversário do Rei, na rádio

EX-DEPUTADO TRANSFERIU SUAS AÇÕES A ELE

Documento de transferência e ações de Athié para Lupércio

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Alguns dos artistas que passaram pela Rádio Clube: Hebe, Orlando, Cacilda, Leny, Ronnie e Celestino


D

N ovos planos, faá b rica, construcaç ã o e jornais

urante alguns anos Lupércio diversificou ainda mais as suas

atividades. Uma delas foi implantar uma fábrica de bananadas e de farinha de bananas na região do litoral sul de São Paulo, exatamente no distrito de Ana Dias, em Itariri. A fábrica começou a funcionar em 1990, em prédio próprio de cerca de 5

fotografias todo o processo de produção. A fábrica Flakes produzia a bananada tradicional e sem açúcar, a bananada cascão sem açúcar e ainda polpa de banana asséptica, em latinhas de 200 gramas.

mil metros quadrados, e teve como dirigente a sua filha Michele Mussi. A

Da marca Banana Ativa, havia os seguintes produtos: balas de banana

empresa era a Banana Flakes Indústria, Comércio e Exportação de Produtos

com açúcar em pacote com 170 gramas; balas de banana com açúcar em pote

Alimentícios Ltda. e ficava na fábrica da Avenida Rio Branco, sem número, em

com 900 gramas; bananinhas em pote com 700 gramas; bananinhas com

Ana Dias. Essa região é rica no plantio de bananas, que se estende pelas cidades

pacote em seis unidades e 100 gramas; e bananinhas em pote com 12 unidades

ao longo da Rodovia Padre Manoel da Nóbrega.

e 200 gramas.

Durante alguns anos fabricou e vendeu sua produção para diversos comércios em todo o Brasil, com marcas que tiveram grande sucesso. No auge

Da marca Donna Banana, as referências de invólucro e peso eram as mesmas, mas o produto era sem açúcar.

teve até 50 funcionários em diferentes setores, desde a produção da pasta até a

Após alguns anos de atividades a fábrica encerrou a produção.

embalagem e distribuição.

Dois prédios - Em meados dos anos de 1960, estimulado pelo bom

Em 2001 participou ativamente da tradicional Feira Industrial de

desempenho da área de construção civil na região, Lupércio pôs mãos à obra e

Embalagens, Processos e Logística para as Indústrias de Alimentos e Bebidas

iniciou-se nesse setor, abrindo a empresa Aprowa. Conseguiu arregimentar

(conhecida como Fispal Food Service), no pavilhão do Center Norte, em São

um bom mestre de obras e uma equipe de pedreiros, ajudantes e outros

Paulo.

profissionais, para construir um prédio de três andares em pontos diferentes

Participou ainda da 1ª. Festa da Banana de Santos, realizada pela

da Rua Euclides da Cunha.

Prefeitura, por meio da Secretaria de Cultura, no Mercado Municipal. Ali,

Os apartamentos foram logo vendidos e, com os recursos obtidos,

além dos alimentos foram expostos e vendidos diferentes objetos

construiu mais um, na mesma rua e com projeto semelhante ao primeiro.

confeccionados com folhas de bananeiras, entre outros produtos.

Foram os dois únicos que ele empreendeu. Mas adquiriu experiência

Para participas de eventos como estes, a Flakes desenvolvia folders e outros materiais de divulgação, informando sobre a importância da banana no

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organismo, como vitamina e fonte de minerais. Os folhetos mostravam em

suficiente para conduzir outras obras, em imóveis da família, em especial no Morro de Santa Terezinha.


Jornais – Os investimentos em radiodifusão levaram Lupércio a outros caminhos no campo da informação. Implantou dois jornais, que eram distribuídos gratuitamente em diferentes pontos. Um deles foi o Jornal Sindical, lançado em dezembro de 1991 e que se destinava quase que exclusivamente aos temas envolvendo trabalhadores e notícias sobre os sindicatos da região, além de questões previdenciárias. No formato tradicional, com 10 páginas, a publicação enfatizava em editorial na primeira página do número 1: Vimos com a intenção de preencher uma lacuna premente nos meios de comunicação sindical da Baixada Santista e Litoral. Somos um órgão de divulgação inteiramente dedicado a noticiar todas as atividades dos sindicatos que prestam serviços à sua comunidade. Nossa tarefa é árdua, mas podem contar conosco . O jornal informava que não tinha nenhuma ligação político-partidária. Entre os jornalistas estavam relacionados o veterano repórter sindical Isaltino Oliveira Fernandes, Edgard Falcão, Geraldo Schenkel e Marcia Leda. Outro foi o Jornal Local, que começou em 1996 e que circulava em Santos, São Vicente e Cubatão, mas com noticiário de abrangência regional. A sede ficava bem próximo do centro político, na Praça Mauá. Esse jornal tinha o formato tabloide, com oito páginas. Tratava de temas como política, esportes, economia, variedades e ênfase para problemas comunitários. Além de editorial com a opinião do jornal sobre determinados assuntos e artigos assinados por convidados tinha ainda a coluna Painel, assinada pelo jornalista Edison Carpentieri e a coluna A Toca, de autoria de Rubens Fortes, o Erre.

Os dois prédios construídos na Rua Euclides da Cunha

DETERMINAÇÃO O LEVOU A OUTROS SETORES 55


Aspectos da fábrica de banana e documentos da construtora


Matérias sobre participação na Festa da Banana

Capa de dois jornais que dirigiu


D

Surge a B ig Band L itoral FM

epois de 40 anos desde o início de sua carreira de sucesso, o

conceituado maestro Luís Arruda Paes mudou-se em 1989 para uma confortável casa em Praia Grande, no litoral paulista, atraindo músicos com os quais trabalhou ao longo do tempo e também novos adeptos.

supervisão de Catalan, que motivou os músicos a dar continuidade ao projeto, em memória do grande maestro. O grupo fez parceria com a Prefeitura de São Vicente e o nome da banda mudou novamente, para Martim Afonso Big Band, em homenagem ao

Ele foi o primeiro maestro da televisão brasileira, atuando em

fundador daquela cidade. O convênio terminou em 2004 e o grupo alterou o

programas de destaque como Almoço com as Estrelas, e outros, como

nome para Jazz Big Band, apresentando-se em diversos estados e em casas

arranjador nas décadas entre 1950 e 1970, sendo também co-fundador da Jazz

tradicionais como o Citybank Hall e o Maksoud Plaza. Um dos eventos de

Sinfônica de São Paulo.

sucesso nessa fase foi o espetáculo Sinatra – o homem e a música.

Esses encontros na casa do litoral o motivaram a formar uma Big Band, sem instrumentos de cordas e com destaque para metais de sopro. Um amigo em comum, o saxofonista Arnaldo Catalan, que morava em

O maestro Luis Arruda Paes, entre Lupércio e Cláudio Mussi

São Vicente, fez a apresentação entre Luís Arruda Paes e Lupércio Mussi, dono da Rádio Litoral e um aficionado pelas bandas orquestradas, pelo jazz e pela música clássica em geral. Da conversa entre os dois e o importante incentivo de Catalan surgiu uma grande parceria, com o apoio da rádio – a Big Band Litoral FM. O lançamento foi no palco do recém-inaugurado teatro do Sesc em Santos, para convidados e o público em geral. A Big Band fez diversas apresentações nos anos de 1990 com o nome da emissora que lhe deu apoio, incluindo o Free Jazz Festival e outros eventos em São Paulo e no litoral paulista. Com a morte de Luís Arruda Paes maestro em 1999, mais de 600 arranjos que ele deixou passaram aos cuidados da Associação dos Artistas, sob

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O maestro em ação em sua casa de Praia Grande


Ensaio entre amigos Capa e verso do cd editado com músicas da Big Band Litoral

O maestro com músicos e amigos 59


Q

R oquette-P into,

no Instituto H istoó r ico

uando foi convidado a integrar os quadros do Instituto

folclorista, escritor e poeta com cadeira na Academia Brasileira de Letras,

Histórico e Geográfico de Santos, em setembro de 1997, Lupércio não teve

músico, cantor lírico, compositor, desenhista e pintor, mecânico, eletricista,

dúvidas para escolher entre as cadeiras oferecidas a de número 48, de seu ídolo,

poliglota fluente e tradutor em nove idiomas, incluindo grego, latim e tupi, e

Edgard Roquette-Pinto (1884–1954), considerado o pai da radiodifusão no

sabe-se lá mais o quê...

Brasil e membro da Academia Brasileira de Letras. Um comunicador em sua essência.

Roquette-Pinto foi o introdutor do rádio no Brasil e o principal consolidador do cinema no País, responsável pelas primeiras transmissões de

Em estudo de 12 páginas, Lupércio aprofundou-se na vida de seu patro-

televisão no mundo, com instrumentos precários que ele construiu em 1933. E

no, dividindo sua conferência de posse em duas partes: Roquette-Pinto, cien-

foi o primeiro cientista a realizar um estudo completo sobre o índio brasileiro,

tista e Roquette-Pinto, empreendedor. Ambos se completam para o objetivo

em expedições na selva com o então coronel Cândido Rondon.

de educar o povo brasileiro, quer esteja ele na cidade, no sertão ou na selva . Ele foi logo avisando aos presentes: É para traçar um perfil deste grande brasileiro e legítimo patrimônio intelectual, científico e social da humanidade,

Aqui vale uma observação a respeito de Cândido Rondon. O conhecido desbravador das fronteiras nacionais vem a ser tataravô de um dos netos de Lupércio, o jovem Aramis Mussi, filho de Cláudio Mussi.

que nós aqui estamos, tendo, de antemão, a humildade de reconhecer que, não

Depois de falar sobre a história de seu patrono desde o nascimento em

obstante todos os esforços, nos será difícil abranger, neste pronunciamento,

1884, no Rio de Janeiro, e de tratar de outros atributos, Lupércio conclui: Este

toda a grandiosidade contida na vida deste personagem fascinante da

homem, sozinho, valia por uma academia inteira de cientistas .

Histórias do Brasil, no momento em que tomo posse na cadeira que tem o patronato de Roquette-Pinto, neste Instituto Histórico e Geográfico de Santos. Vamos nos aventurar na escalada desta montanha . Lupércio dividiu seu discurso em duas partes, do Roquette-Pinto como cientista e também como empreendedor.

Presidente – No dia 19 de janeiro de 2017, Lupércio tomou posse como presidente do Instituto, para a gestão do triênio 2017-2019. Desde antes da posse, Lupércio insistia em projeto para dotar Santos de um museu histórico, pois não admitia que a Cidade, com sua importância de tantos fatos e personagens de abrangência nacional ainda não tivesse um local

Ele foi a um só tempo, superlativamente, médico, antropólogo,

apropriado para contar as histórias de sua existência. Fez diversas reuniões

etnólogo, sociólogo, geógrafo, arqueólogo, botânico, paleontólogo, zoólogo,

com amigos, inclusive em sua casa, para dar andamento ao projeto que, no

farmacêutico, legista, silvicologista, indianista, político, homem de negócios,

entanto, encontrou dificuldades para um local de instalação.

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Na posse, um dos projetos que anunciou foi exatamente esse, de implantar o museu histórico de Santos, mas nas dependências do Instituto Histórico e Geográfico, no casarão tombado pelo Patrimônio e que data de 1886. Em sua visão, Lupércio considerava que a principal missão da entidade era o de ter um caráter cultural-educativo, o que estaria de acordo com a implantação do museu. Ele se mirava em duas edificações – o Museu da Língua Portuguesa, na capital paulista, e o Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, para incentivar o uso de ferramentas tecnológicas para contar a história de Santos de forma lúdica para santistas e turistas. Lupércio na sede do Instituto Histórico e Geográfico de Santos e seu ídolo, Roquette-Pinto

O projeto de uma biblioteca bem organizada também estava em pauta. Durante sua gestão iniciou-se o processo de reforma do casarão que abriga a entidade. Ao término da gestão, Lupércio foi convidado a manter-se na diretoria para o biênio 2020-2021 como vice-presidente da gestão comandada por Sérgio Willians dos Reis.

O diploma de sócio titular do Instituto que presidiu

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0

Raá d io City Cafeé , em frente ao mar grupo Mussicom inaugurou um novo complexo de radiodifusão em 18 de junho de

1999, em edifício próprio de quatro pavimentos na Avenida Manoel da Nóbrega, 1275, no bairro Itararé, em São Vicente. Ali foram instaladas as emissoras de rádio do grupo e também a estrutura do Rádio City Café, um bar temático inovador, de estilo único no Brasil, em ambiente sofisticado em frente ao mar, dirigido por Cláudio Mussi. O prédio, em estilo hi-tech, todo envidraçado, permitia a visão em 180 graus da orla vicentina a partir dos estúdios das emissoras. Na parte do bar ocorreram inúmeras apresentações musicais, ao vivo, com a presença de artistas de diferentes ramos da música, desde o rock, passando pela MPB, o samba, o soul, blues e jazz. Aqui, uma relação de bandas e músicos nacionais e internacionais que passaram pelo Rádio City Café ou pelas emissoras: Wanderleia, Jerry Adriane, Belchior, Chico César, Billy Paul, Cauby Peixoto, Kiko Zambianchi, Zeca Baleiro, Paulo Ricardo e a banda PR-5, Derico, Trio Talismã, Altemar Dutra Jr, Nadja, Pedro Camargo Mariano, Vanessa Jackson, Lady Zu, Adelmo Casé, Johnny Alf, Fernanda Porto, Daniel e Benjamin Taubkin, Arrigo Barnabé, Manu Le Prince, Rosa Estevez, Kenny Brown, Leo Jaime, Péri, Clara Moreno, Dave Gordon, Claudio Zoli, Euclydes Mattos, Jorge Vercilo, e tantos outros artistas consagrados, os músicos que os acompanhavam e também muitos iniciantes na carreira e que tiveram no Rádio City Café a oportunidade de se apresentar ao público. Ali também aconteceram apresentações da Traditional Jazz Band, de músicos do Ouro Verde, e shows especiais como a Noite em Buenos Aires, além de lançamento de livros e outros eventos culturais.

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P

Muitas homenagens ao longo d a vid a

or ser muito ativo em vários setores da comunidade Lupércio

Mussi recebeu muitas homenagens de entidades e órgãos públicos, com os quais mantinha estreita relação, por merecimento e por serviços prestados.

relevantes serviços prestados à instituição .

Outras homenagens – Aqui, uma relação de premiações e medalhas: prêmio de Honra ao Mérito e Medalha Durval Marcondes em Psicologia, em

Após a sua morte em abril de 2021, o vereador Adilson Júnior

1973; prêmio de Honra ao Mérito e Medalha Gilberto Freire, em Sociologia;

apresentou em maio requerimento ao prefeito de Santos, Rogério Santos, no

prêmio de Honra ao Mérito e Medalha Rui Barbosa; prêmio de Honra ao

sentido de atribuir o nome de Lupércio Mussi a um próprio municipal, em

Mérito e Medalha de Waldemar Ferreira, em Direito Comercial; Medalha

reconhecimento de sua obra em favor da Comunicação e da sociedade santista.

Santos Dumont e certificado pelo Círculo de Aerofilatelistas do Brasil, no Rio

O vereador fez breve currículo do empresário e advogado e destacou: Seu

de Janeiro; Medalha e certificado do Tricentenário de Nascimento de

ideal sempre foi educar através da Comunicação, mensagem que certamente

Bartolomeu Lourenço de Gusmão; Medalha comemorativa por participação e

norteou e ainda norteia o destino daqueles que com ele conviveram .

atuação no 4º Centenário de Luiz de Camões; Troféu Arariboia ofertado pelo

Entre as diversas homenagens que recolheu ao longo da vida, Lupércio tinha especial carinho pelo título de Cidadão Santista, entregue a ele durante sessão solene da Câmara Municipal de Santos no dia 3 de agosto de 2001. Esse título foi concedido por iniciativa do então vereador e amigo Adelino Pedro Rodrigues, durante a gestão do presidente da casa José Antônio Marques Almeida. A solenidade ocorreu na Sala Princesa Isabel, que na época era situada no prédio da Prefeitura de Santos. No dia 1º de julho de 1999 recebeu o título de Cidadão Vicentino, em sessão solene realizada na Câmara Municipal e presidida pelo vereador Carlos Gigliotti. São Vicente tem o título de primeira cidade organizada do País. Em 30 de julho de 2004 recebeu diretamente das mãos do prefeito Maurici Mariano a Medalha do Mérito da Prefeitura de Guarujá. Lupércio recebeu o Colar D. João VI, pela 2ª Circunscrição Judiciária Militar do Brasil e Academia Brasileira de Arte, Cultura e História, pelos

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ministro de Educação de Portugal; Láurea ofertada pela Academia Amparense de Letras, de Amparo, em 1987.

No Congresso Nacional – Lupércio também foi homenageado no Congresso Nacional, durante sessão da Câmara dos Deputados em 23 de janeiro de 1990, com pronunciamento oficial do então deputado federal Koyu Iha. A homenagem se deu por ocasião da entrada em funcionamento da TV Litoral, naquele ano, como o primeiro canal de televisão da Baixada Santista, o de número 52, em UHF . O deputado ressaltou: Trata-se de um acontecimento que merece registro especial – não apenas pelo seu caráter pioneiro e pela característica de vir a preencher uma lacuna inaceitável no sistema de comunicações da Baixada Santista e de seus quase dois milhões de habitantes; merece registro especialmente pela abençoada obstinação de seu idealizador, o Dr. Lupércio Mussi, diretor e proprietário da Rádio e TV Litoral. Foi unicamente graças à


sua persistência e determinação que os moradores da Baixada Santista puderam finalmente receber em seus aparelhos de televisão os primeiros sinais do canal 52 . Koyu Iha detalha a caminhada do empresário desde a implantação do sistema de televisões na Rodoviária de Santos até a conquista da rádio e, depois, da emissora de televisão. E registra no seu pronunciamento em plenário calorosos cumprimentos e a manifestação de profunda admiração por Lupércio Mussi, por sua importante conquista.

Participações – Além das premiações, Lupércio foi também ativo participante de diversas entidades. Foi membro da Comissão Organizadora do XI Salão Oficial de Belas Artes de Santos, em 1970; participou do Festival Santista de Teatro Amador, em 1960 e do Festival Estadual de Teatro Amador, em 1961; presidiu a Comissão Oficial das Festividades Comemorativas ao Tricentenário de Nascimento de Bartolomeu Lourenço de Gusmão, em Santos, em 1985. Foi ainda sócio honorário do Movimento de Ação Secundarista; expresidente do Elos Clube de Santos Praia; membro da Diretoria Internacional dos Elos Clubes; membro do Instituto Histórico e Geográfico e seu presidente na gestão 2017-2019; idealizador e diretor da Galeria de Arte Prego de Ouro; debatedor na 1ª. Semana de Comunicação de Santos, organizada pela Faculdade de Comunicação da Universidade Católica de Santos; presidente do Centro Superior de Civismo Olavo Bilac, da Faculdade de Direito de Bragança Paulista; assessor do prefeito de Santos, Oswaldo Justo; diretor administrativo da Companhia Santista de Transporte Coletivo; membro do Conselho de Administração da Prodesan, em Santos; e debatedor e apresentador de inúmeros programas de rádio e televisão.



H omenagens


L

A

Mussi

upércio Mussi sempre deu total atenção à família e fazia questão de provocar reuniões em

aniversários, datas festivas ou mesmo numa churrascada ou almoço especial em casa. As fotografias que restaram destes momentos são prova não só desse congraçamento, mas também do afeto com esposa, filhos, netos, nora e genros, aos quais dedicava a sua melhor deferência. E há ainda registros que marcaram épocas mais distantes, como os encontros com tios, primos e demais parentes em determinadas ocasiões na sua cidade natal, Amparo. Muitas delas incluíram também os seus pais. Aqui, um resumo da família Mussi. Lupércio Mussi foi casado com Suely Blefery De Graça e o casal teve os filhos Cláudio De Graça Mussi e Sandra Mussi Schreiter. Com a morte de Suely, casou com Neusa Torres, com a qual teve a filha Michele Torres Mussi. Neusa também tinha a filha Lilian Torres Mussi, que passou a integrar a família. Novamente viúvo, Lupércio em novo casamento, com Mirna Saguir, teve a filha Mariana Saguir Mussi. Após a morte de Mirna, ele casou com Madalena Wagner, com quem viveu até o seu falecimento aos 78 anos, em 25 de abril de 2021. O casal não teve filhos. O funeral de Lupércio ocorreu na Memorial Necrópole Ecumênica, em Santos, no dia 26 de abril de 2021.

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Os pais, sempre em destaque na sala de casa



I magens de seu primeiro casamento




B ibliografia

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- Almanach, Administrativo Commercial e Profissional do Estado de São

- Acervo da família Mussi

Paulo para 1895 - São Paulo, Ed. Companhia Industrial, 1895.

- Acervo da Rádio Litoral

- Árabes no Brasil - história e sabor , Ricardo Maranhão e Estúdio Paladar,

- Biblioteca da Sociedade Humanitária dos Empregados no Comércio de

Editora Gaia, SP, 2009.

Santos, SP

- Árvore Genealógica dos Filhos de Abaidet , Pedro Kachan, 1ª. edição,

- Blog Migração Sírio-libanesas até Sete Lagoas

Amparo, SP.

- Cartório de Registro das Pessoas Civis de Amparo, SP

- Do Líbano ao Brasil - história oral de imigrantes - André Gattaz, ed.

- Hemeroteca Municipal Roldão Mendes Rosa, Santos, SP

Pontocom, Salvador, BA 2012.

- Jornal 1ª. Página

- Imigrantes sírio-libaneses em Santos . Ana Lúcia F. dos Santos.

- Jornal A Tribuna

- Impressões do Brazil no Século Vinte - Edição da Lloyd's Greater Britain

- Jornal Cidade de Santos

Publishing Company, Ltd., 1913.

- Jornal da Orla

- Os Amparenses - (em memória de José Eduardo Pimentel de Godoy)

- Jornal Espaço Aberto

- Os sírios e os libaneses no Brasil .

- Jornal Local

- Oswaldo Justo - Uma trajetória de honradez , Francisco La Scala Júnior,

- Jornal O Município, de Amparo

2007, edição do autor.

- Jornal Primeira Cidade

- South Atlantic Seaways , Noel R. P. Bonsor, Brookside Publications,

- Jornal Sindical

England,1983.

- Museu Histórico e Pedagógico Bernardino de Campos, Amparo, SP


Ficha teé c nica Pesquisa e textos José Carlos Silvares, jornalista e escritor

Revisão Marta Angélica de Azevedo Silvares, jornalista

Direção de Arte, design, tratamento de images e acompanhamento de produção gráfica Paulo Henrique Farias, publicitário e designer gráfico

Fotografias . Acervo e mídias sociais da família Mussi . Paulo Henrique Farias . Acervo da página Santos Ontem de José Carlos Silvares . Reprodução de jornais, livros e revistas

Impressão VOX Gráfica - São Paulo

Tiragem 500 exemplares

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