Instruções para uma quarentena fotográfica

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INSTRUÇÕES PARA UMA QUARENTENA FOTOGRÁFICA


UEMG | Escola de Design Centro de Estudos em Design da Imagem Belo Horizonte Fotografias Andréia De Bernardi, Anna Stolf, Bruna Andrade, Bruna Aranha, Daniel Clemente, Daniel Ducci, Flávio CRO, Guilherme Nogueira de Souza, Ira Nasser, José Rocha, Lulu Ferreira, Marcelo Marsan, Piero Davika, Rogério de Souza, SoL, Sérgio Lucas, Tatiana Pontes, Weslei Barba, Yan Liszt Proposição e organização Anna Stolf e Tatiana Pontes Texto de apresentação Tatiana Pontes Projeto gráfico Anna Stolf


INSTRUÇÕES PARA UMA QUARENTENA FOTOGRÁFICA



A todas e todos que perderam familiares e amigos pela pandemia do coronavírus, nossa solidariedade.



Se nós estamos vivendo esse tempo de total imprecisão até no sentido da experiência de viver, a arte se constitui no lugar mais potente e mais provável de se constituírem novas respostas e novas perguntas para o mundo que nós vamos ter que dar conta daqui pra frente. [Ailton Krenak]1

O projeto Modos de fotografar tem a multiplicidade como principal linha de força. O plural conduz a construção da experiência, desde a formulação das Instruções, que são o ponto de partida de cada publicação, até a junção das percepções e imagens que a compõem.

1

KRENAK, Ailton. do tempo. São Paulo: n-1, 2020. Disponível em: https://www.n-1edicoes.org/textos/71


Esta segunda edição foi desenvolvida durante o ano de 2020, quando nos deparamos com as incertezas, medos e a nova rotina que se impôs pela pandemia de coronavírus. Nesse contexto, a proposta foi a de direcionar o olhar, a câmera e as ideias para o espaço da casa. Vasculhar os cômodos e incômodos de onde e como se vive. Explorar e refletir sobre o que o isolamento forçado trouxe à tona. Vilém Flusser2 propõe que para escapar da automaticidade do gesto de fotografar é preciso jogar. O jogo, atividade lúdica que “tem fim em si mesma” abre possibilidades para ações criadoras, para atuação da imaginação, entendida como “capacidade para compor e decifrar imagens”, ou seja, para que a invenção possa atuar contra o que está “programado”, para que seja possível desmontar por dentro estruturas que moldam o olhar, o pensar e o viver.

2

FLUSSER, Vilém. Filosofia da caixa preta. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2002.


Fotografar-jogar para desprogramar é, além de lúdico, uma operação que se dá no campo das tentativas, uma busca que se vale da experimentação e que se constitui como processo, que não visa construir imagens como objetos acabados e se faz como gesto poético, estético e político. O projeto Modos de fotografar propõe o jogar-brincar como estratégia para fomentar experiências fotográficas. O jogo está presente também na concepção das Instruções, que não se configuram como indicações precisas de “como fazer”, mas como um disparador de diferentes modos de compreensão e execução, e de múltiplas experiências marcadas por certa indeterminação e pelas várias possibilidades que surgem aos que se dispõem a inventar modos de seguir ou subverter essas Instruções.


A pandemia retirou as pessoas da rua e as obrigou a vivenciar um tempo outro, tempo da repetição, da sobreposição. A limitação do espaço também passou a operar de modo intenso, a casa, antes o espaço do recolhimento, das relações familiares e íntimas, teve que se abrir ao trabalho, às aulas e às muitas reuniões por meio das telas. Por outro lado, é preciso destacar que se manter em situação de isolamento requer certo privilégio, uma vez que grande parte da população teve que seguir trabalhando presencialmente e usando transporte público para se locomover pela cidade, mesmo com o risco de contaminação.


Foi nesse contexto de diferentes perdas, precariedades e incertezas, e também de novos reconhecimentos e vivências, que as fotografias aqui apresentadas surgiram. Como imagens que tentam dar conta de solidões, novos mecanismos para o encontro, silêncios, explorações da paisagem doméstica, sutilezas de um tempo quase suspenso. Como fotografias que traduzem experiências impactadas pela perda de um cotidiano que já não é mais possível, e que tensionam, pelo fotografar-brincar, camadas de matéria visível e invisível.

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COMO FOTOGRAFAR UM CÔMODO DE CASA


1 Acomode-se em um ambiente de sua casa e observe o espaço de modo geral através do visor da câmera. 2 Visualize o panorama geral desse espaço, prestando atenção no que está visível e no que está invisível, objetiva e/ou subjetivamente. 3 Relembre suas experiências nesse cômodo, considerando: • encontros vividos fisicamente, • sonhos de olhos abertos, • hábitos cotidianos. 4 Fotografe esse mesmo espaço em três momentos do dia, notando as diferenças possíveis/impossíveis entre as fotografias e as memórias. 5 Pense sobre: Porque a casa é nosso espaço no mundo. É nosso universo primário. É, na verdade, um cosmos. [Gastón Bachelard]



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COMO FOTOGRAFAR UM INCÔMODO DE CASA


1 Incomode-se em um ambiente de sua casa e observe os detalhes do espaço através do visor da câmera. 2 Aproxime e afaste a câmera dos detalhes desse espaço, prestando atenção no que cresce e no que decresce, objetiva e/ou subjetivamente. 3 Relembre suas experiências nesse incômodo, considerando: • encontros vividos virtualmente, • pesadelos de olhos fechados, • fracassos irrelevantes. 4 Fotografe esse mesmo espaço em três momentos da noite, notando as indiferenças possíveis/impossíveis entre as fotografias e as memórias. 5 Pense sobre: Parece que a imagem da casa é a topografia do nosso ser mais íntimo. [Gastón Bachelard]



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Andréia De Bernardi Bruna Andrade Bruna Aranha Daniel Clemente Daniel Ducci Flávio CRO Guilherme Nogueira de Souza Ira Nasser José Rocha Lulu Ferreira Marcelo Marsan Piero Davika Rogério de Souza SoL Sérgio Lucas Weslei Barba Yan Liszt

AS Anna Stolf TP Tatiana Pontes


Esta publicação é composta por Ubuntu Mono, em preto R=0 G=0 B=0 e azul R=185 G=204 B=219, idealizada e desenvolvida em meados de 2020, lançada no início de 2021.



FOTOGRAFIAS PRODUZIDAS ENTRE

2020 04 2020 07


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