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Devem Ser as Comunidades Ribeirinas as Donas do Tejo!

2ª PARTE

Se pensarmos bem, dada a insuficiente capacidade que tem vindo a verificar-se da parte dos organismos oficiais responsabilizados pelos governos, para gerir, salvaguardar e valorizar o Rio Tejo em Portugal, como tem sido evidente, à exceção daquela primeira ARH-TEJO que teve um desempenho notável, mas que unicamente por razões políticas, foi logo subalternizada à APA- Agência Portuguesa do Ambiente, que era apenas do tipo de um laboratório, que estava e continuou a estar impreparada para desempenhar cabalmente missão que lhe foi atribuída, como veio-se a verificar na prática, por decisão da famosa e inesquecível Tróka, de má memória para todos os cidadãos portugueses!

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Perante tudo aquilo que aconteceu entretanto, de insuficiente ou negativo, surgiu-nos uma ideia puramente fundamentada nos princípios de uma democracia já madura, de que a responsabilidade da defesa e salvaguarda do rio Tejo, deve ser logo em primeiro lugar daqueles a quem o Tejo lhes passa à porta diariamente, que para além da prestação de um contributo efetivo e permanente dever, de contribuírem e exigirem aos políticos que elegeram para a Assembleia da Re- pública, para eles passarem a votar a favor das leis que contribuam para materializar a inadiável exigência da renovação, a revalorização e sustentabilidade do Tejo, dever que deve passar a ficar a cargo das populações ribeirinhas, mas também de outros beneficiários deste Rio grande, e obviamente dos respetivos Municípios, que durante séculos e até aos dias de hoje, foram sendo sempre beneficiadas/os pelo seu milenar Tejo, o rio mais extenso do País, quer por reconhecimento quer pela qualidade de vida que ele proporciona, quer ainda pelo bem-estar dos cidadãos ribeirinhos.

Como é evidente os municípios que representam administrativamente as populações ribeirinhas, devem ser eles os responsáveis por incentivar, coordenar e registar todas as informações sobre o estado do Rio registadas pelos seus munícipes, para poderem passar a ser, como devem, os verdadeiros guardiões e até os donos do Tejo, o que significa que a sua eleição para o cargo de presidente, deve ter na devida conta de que o seu perfil passe também a ser avaliado mais pela sua formação e sensibilidade pela defesa da Natureza, do que apenas pela sua simpatia ou pelos favores prestados, amizades ou até apenas pela opção partidária.

Nós estivemos presentes em Abrantes no Encontro de Municípios do Tejo de Portugal e de Espanha em 2005, para em conjunto promoverem o desenvolvimento do Vale do Tejo/Tajo, era o presidente da Câmara Municipal de Abrantes o promotor do evento, Nelson de Carvalho, como dinamizador deste encontro que decorreu sob um grande entusiasmo dos organizadores e dos participantes e uma mão cheia de palavras e de boas intenções que nos levaram a ficar com alguma esperança, o que também levou a comunicação social a ficar empolgada e a noticiar o evento desta maneira: 1- “Quase duas dezenas de municípios de Portugal e de Espanha vão trabalhar em conjunto para promover o desenvolvimento do Vale do Tejo ao executarem um

Plano Estratégico de Desenvolvimento do Tejo Ibérico, com o objetivo de prepararem novos projetos para o IV Quadro Comunitário de Apoio e para parcerias regionais”… “Com a definição do Tejo na sua realidade integral estabelecida, os municípios poderão depois apresentar candidaturas de projetos ao próximo quadro comunitário, que vigorará durante sete anos a partir do início de 2007. 2. Na Europa prevalecem as políticas regionais e há instrumentos financeiros, como o Interreg, que permitem investimentos em projetos transfronteiriços, como é o caso deste que envolve o Tejo Ibérico”. 3. “ Além do interesse e da adesão já revelados também por mais sete municípios ribatejanos e dez de Espanha, o movimento de municípios visa criar uma plataforma capaz de atrair novos investimentos para o Tejo.

“Nesta altura o movimento tem dois secretariados de coordenação, um em Abrantes e o outro em Aranjuez, precisamente a cidade espanhola onde em Abril teve lugar o I Encontro Ibérico Tajo/Tejo...

“Além, naturalmente, do desenvolvimento económico e turístico em torno do rio, serão procuradas soluções para a sua sustentabilidade ambiental e a valorização do património cultural ligado ao Tejo, entre outras vertentes em análise.”

Mas nós, como observadores permanentes do Tejo, não podemos deixar de relacionar a organização deste Encontro Ibérico, por ele ter acontecido muito próximo ou ter sido até contemporâ- neo da preparação do futuro Programa Valtejo da CCDRLVT e do PORLT-LVT, um programa de requalificação de diversas frentes ribeirinhas do Vale do Tejo, desde Vila Franca de Xira até Abrantes, para o qual nós da AAT fomos convidados a colaborar com um Estudo das Potencialidades Náutico Turísticas e Lúdico-Culturais do Vale do Tejo, mas para que esse estudo fosse mais completo e pormenorizado, começámos por fazer todo o levantamento fotográfico do estado em que cada uma dessas frentes se encontrava antes da sua requalificação e seguidamente, perante os projetos previstos para cada uma delas, que nos foram facultados, passamos a fazer uma avaliação pormenorizada de cada um desses projetos, mas também das possibilidades que o respetivo plano de água tinha para a prática dos desportos náuticos e do turismo da natureza a navegar, a par da avaliação do turismo territorial local, para a animação turística e social, como a paisagem, o turismo local, a rota dos vinhos, o agroturismo e outras atrações de cada município, para podermos completar esse nosso

Estudo…

Uma das obras mais emblemáticas do Programa Valtejo foi o Açude de Abrantes, apelidada por Mar de Abrantes, uma obra com uma tecnologia de ponta japonesa, com os açudes pneumáticos que permitem em casos de cheia recolherem até a altura mais conveniente, confor- me os casos, mas por aquilo que temos lido na comunicação social da região, as coisas não têm vindo a correr nada bem ali nesse empreendimento, segundo a qual continua-se a ter que investir anualmente centenas de milhares de Euros na sua manutenção, etc., e tal e para até além disso o construtor da obra inventou um curioso substituto de uma escada de passa peixes para o outro lado, um autêntico labirinto, algo que até é confuso para os próprios seres humanos, como é evidente os peixes entram lá mas não conseguem sair para o açude, quando o LNEC já dispunha nessa altura de um sistema construído com competência, e até bastante eficiente, de uma escada de peixes estudada e experimentada a fundo, da qual somos testemunhas.

Mas como dá para perceber, este país à beira mar plantado, que está cheio de cérebros brilhantes, mas não têm a humildade de dialogar uns com os outros, talvez com o receio da parte dos técnicos da construção daquele açude, de não estarem interessados em abrir mão dos seus próprios proventos.

Não podemos também deixar de aproveitar para lamentar que, pelas visitas que efetuamos posteriormente às frentes de água já requalificadas e utilizadas, termos constatado que nalgumas das requalificações do Programa Valtejo, quer por vandalismo quer por uma utilização indevida, talvez por falta da devida vigilância, e depois por falta de capacidade financeira dos respetivos municípios beneficiados, deixarem de cumprir aparentemente o compromisso de manter essas obras em condições, para que elas voltem a ter a dignidade suficiente para continuarem a poder ser fruídas nas mesmas condições de quando foram entregues.

Resumindo e concluindo, o caro leitor tirará daqui as suas conclusões , para ir conhecendo melhor o trabalho que temos vindo a desenvolver há já 66 anos.

Uma última nota: Recomendamos-lhe vivamente que consulte os vídeos do Youtube, intitulados Apelo do Tejo e Cruzeio do Tejo Vivo e Vivido.

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