Portfólio 2012

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LUIZ FERNANDO BUENO


As obras apresentadas nesse portfólio de percurso tem o intuito de mostrar o recorte temporal referente à produção do artista Luiz Fernando Bueno em 2012.

A abordagem conceitual e/ou a temática norteadora são os aspectos que aproximam estas obras, tendo em vista que as mesmas não se desvinculam do mundo cotidiano e nascem dessa relação consistente com a sociedade, seu comportamento, suas normas, leis e sua história.

Sem

tecer

afirmações,

mas,

suscitando

reflexões

através

de

paradoxos,

ironias,

relações

e

participação do receptor, deslocar o indivíduo de seu estado confortável e criar situações de conflito reflexivas ou físico-participativas ou ambos, são qualidades destas obras. As verdades absolutas não existem, o que existem nestas obras são provocações.

Com relação à concepção, os materiais empregados são na maioria encontrados no lixo, na rua, em casa ou de custo relativamente baixo. Muitas das obras surgem de pensar o material ou objeto (ready made), outras de uma ideia-tema e os materiais e linguagem decorrem da escolha adequada em benefício de potencializar o conceito.

Os conceitos são elaborados a partir de vivências, pesquisa, estudos e embora tenham um caráter racionalista,

não

se

distanciam

da

veia

fenomenológica

sustentada

no

acaso,

em

que

as

novas

percepções e os desdobramentos decorridos no processo não são descartados em prol de uma obra absoluta e final, mas, importa a transitoriedade, às vezes de ordem material, noutras, da ordem do pensamento que também é dinâmico e efêmero.


O outro importa, e a preocupação com o que se constroi na mente do receptor é parte do motivo da criação. Instigar a reflexão sobre o tempo que vivemos é o foco destas obras, porém, muitas investigam também o espaço imaginário ou onírico, ou mesmo são sustentadas pela utopia, pelos quereres humanos e a possibilidade de sonhar, de subverter aquilo que chamamos de realidade.

A coisificação da vida não é uma imposição que deve ser aceita como um cabresto, os valores impostos pelas tradições e modismos não são parâmetros para generalizar. Embora não vivamos numa repressão total, faltam-nos óculos para enxergar essa ditadura camuflada que estas obras põem em cheque. A arte que mergulha em si mesma corrobora para a coisificação, por isso, estas obras têm esse cunho político, são armas, provocadores de ruído.

As obras operam ruídos seja sobre o espaço expositivo ou sobre as leis do meio da arte, questionam o direito de posse e as ideologias dos variados segmentos e filosofias. Refletem a consciência de um país colonizado e das duras lutas para se libertar de suas amarras. Por meio de contrastes e justaposições de símbolos cria simulacros para pensar a sua condição humana e o contexto que se insere.


LUIZ FERNANDO BUENO Fé, 2012 fios e sensor, interruptor e lâmpada

Bíblia Católica, peça eletrônica com 10 X 30 X 48 cm

Detalhe


LUIZ FERNANDO BUENO Fé, 2012 Bíblia Católica, peça eletrônica com fios e sensor, interruptor e lâmpada 10 X 30 X 48 cm

A obra é constituída de uma bíblia católica aberta no capítulo “Eclesiástico 42, 15”, peça eletrônica com fios (um deles com uma espécie de sensor), lâmpada e interruptor. O interruptor é conectado a peça eletrônica e a lâmpada é conectada a dois fios. O fio com sensor é fixado ou colado sobre a página esquerda da bíblia na parte superior.

Na sua montagem, a obra deve ser posta sobre um módulo medindo 100 X 60 X 60cm com distanciamento de 2 m da parede para permitir sua vista de todos os lados e uma luz focal superior deve iluminar a obra. Com relação à manutenção, a obra não é interativa.

“Fé, 2012” não instaura verdades, porém, levanta questões sobre o que vem a ser fé, ou mesmo, ciência. Numa construção dicotômica de materiais que simbolizam vertentes de pensamento que não são opostas, mas que por vezes se contradizem. A esperança ou desconfiança do funcionamento do aparato por parte dos observadores é justamente a fé que dá vida a obra.


Detalhe

Luiz Fernando Bueno Leve, 2012 InterferĂŞncia com marcador permanente e tinta em blocos de cimento encontrados pela rua DimensĂľes variadas


A obra é constituída de 12 pedras, blocos ou destroços de paredes à base de cimento que encontro pela rua, cada bloco medindo em média 20 X 15 X 15cm. Uma das faces do bloco, pinto com tinta látex branca e contém em letra de forma escrita com marcador permanente a palavra “LEVE”.

Os blocos devem ser espalhados pelo espaço expositivo tanto em sua área interna quanto externa, mediante minha orientação, sempre respeitando o espaço das outras obras e a integridade física do local. A quantidade de blocos pode ser alterada de acordo com o espaço e suas normas.

Quanto a manutenção, os blocos que forem levados não serão Luiz Fernando Bueno Leve, 2012 Interferência com marcador permanente e tinta em blocos de cimento encontrados pela rua Dimensões variadas

repostos. Se alguém perguntar se pode levar, dizer que não sabe ou que não tem informações sobre. Caso alguém resolver levar um bloco, não interferir.

“Leve, 2012” é uma intervenção que consiste no ato de escrever a

palavra

“LEVE”

em

pedras.

As

mesmas

adquirem

sentido

e

passam de um objeto que muitas vezes não o tinha ou servia de calço para carros à um item de valor. Questiono o direito de propriedade de um objeto sem valor, potência que expande-se diante do espaço da arte, além da ironia da dualidade da palavra em relação ao objeto ou mesmo da própria palavra em questões de verbo ou adjetivo.


LUIZ FERNANDO BUENO 36,2 X 15,1cm

SĂŠrie Estandartes, 2012

Aquarela, grafite, fitas de Nossa Senhora Aparecida, fio de juta,prego e papel canson


Detalhe


O

tríptico

é

composto

pelas

obras:

Estandarte

ao

Marxismo,

Estandarte à Evolução e Estandarte à Relatividade. Quanto à manufatura, cada estandarte é constituído de aquarela, grafite, fitas de Nossa Senhora Aparecida, fio de juta, prego e papel canson, e mede 36,2 X15,1 cm.

Com relação à montagem, o prego deve ser batido a uma altura de 150 cm do chão com distanciamento paralelo horizontal de 1m de um prego para outro. Após os estandartes devem ser pendurados aleatoriamente.

“Estandartes, filosofia,

2012”

biologia

apresenta e

física

imagens

de

emoldurados

grandes em

nomes

da

estandartes

da

cultura popular. A banalização de suas teorias coloca-os em situação de mito, ao mesmo tempo em que são figuras reconhecidas popularmente. Aproximar símbolos religiosos da cultura popular com a face destes estudiosos enfatiza a questão da crença, fator que não existe apenas na religião, mas, se manifesta também na ciência.

LUIZ FERNANDO BUENO Estandarte à Evolução (Da Série Estandartes), 2012 Aquarela, grafite, fitas de Nossa Senhora Aparecida, fio de juta,prego e papel canson 36,2 X 15,1cm


Detalhe

LUIZ FERNANDO BUENO Constituição do Corpo Latino Americano, 2012 Diversos tipos de madeira recolhidas de caçambas, cavilha, pintadas com extrato de nogueira e verniz marítimo 59,5 X 31,4 X 7,0 cm


A obra é constituída com 33 pedaços de madeira de diferentes tipos coletados em caçambas, tratadas com extrato de nogueira e verniz

marítimo

diluído

com

água

raiz.

Possuindo

um

furo

central em sua superfície maior, tais madeiras são empilhadas numa

ordem

determinada

com

o

auxílio

de

uma

cavilha

que

funciona como eixo norteador.

Quanto à montagem, a obra deve ser colocada sobre um módulo medindo 100 X 40 X 40 cm com distanciamento de 2 m da parede para permitir sua vista de todos os lados.

Com relação à manutenção, a obra não é interativa e caso venha a cair pela sua instabilidade, as peças contém uma numeração que através do manual podem ser novamente empilhadas.

“Constituição do Corpo Latino Americano, 2012” tem suas raízes

LUIZ FERNANDO BUENO

fincadas na multiplicidade étnica da América Latina, a qual não

Constituição do Corpo Latino Americano, 2012

possui uma imagem única,

mas

facetada,

formada

por

camadas

sociais e culturais. A sobreposição de madeiras pouco espessas encontradas pela rua, salienta a fragilidade desse busto em formação, que não se constitui de um mesmo tipo de madeira, cor ou espessura, mas justamente, da singularidade desses povos que ainda assim conserva uma herança comum, a colonização.

Diversos tipos de madeira recolhidas de caçambas, cavilha, pintadas com extrato de nogueira e verniz marítimo 59,5 X 31,4 X 7,0 cm


LUIZ FERNANDO BUENO

Série Instruções de Segurança - Nº2, 2012

Impressão sobre papel adesivo brilhante

11,02 X 17,06 cm


Nº1

Nº4

Nº2

Nº5

Nº3

Nº6


LUIZ FERNANDO BUENO Série Instruções de Segurança - Nº2, 2012 Impressão sobre papel adesivo brilhante 11,02 X 17,06 cm

A série é composta de seis adesivos em papel brilhante medindo 11,02 X 17,06 cm cada, os quais são fixados nos ônibus e lugares onde tal medida de precaução seja necessária. Construídos a partir de elementos do senso comum, as instruções de segurança, nos quais altero apenas os símbolos por outros, os da Igreja Católica. Num espaço expositivo, devem ser fixados 12 adesivos (dois de cada tipo) de forma aleatória nas paredes com distância de pelo menos 10 m de um adesivo para outro, claro, tais medições e quantidade de adesivos podem ser alteradas na busca de melhor diálogo entre a obra e o espaço. Enquanto que na ação do ônibus, seu local de origem, elas ficam nos vidros e geralmente, uma por ônibus.

A Série “Instruções de Segurança, 2012” discute as regras de dois espaços físicos, a igreja e o ônibus, através da ironia da semelhança dos símbolos católicos com as instruções de viagem dos ônibus enquanto forma. Tal fusão é paradoxal no sentido que as proibições e instruções trazem a ideia de que os ritos católicos são contrários às leis de outro espaço e vice-versa, pois, embora a forma seja semelhante o conteúdo é outro. O espaço é regido por leis que se deslocadas perdem seu sentido ou ganham novo. A religião possui livre arbítrio para realizar suas práticas na igreja, e acha brechas para expandi-las além de seu local específico, a partir disso surge esta refutação.


Luiz Fernando Bueno Nazaré Paulista – SP, 1988 buenoluizfernando@yahoo.com.br

Luiz Fernando Bueno é artista visual e vive em Nazaré Paulista, sua cidade natal. Formado em Artes Visuais pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, o artista é membro do Clube Atibaiense de

Fotografia

desde

Dezembro

de

2010

e

Integrante

do

Coletivo

“#6NaoVeem”

(2012).

Atualmente

trabalha pelo Museu Municipal João Batista Conti (Atibaia-SP) no “Revelando São Paulo – Festival da Cultura Paulista Tradicional”.

Exposições Coletivas

2012 9º Cardápio Underground no Coletivo Casa 30 – Bragança Paulista-SP

Projeto Arte Pública e Intervenção Urbana na Passagem Literária da Consolação – São Paulo-SP

21º Encontro de Artes Plásticas de Atibaia – Artista Convidado – Projeto #100Sentidos – Coletivo #6NaoVeem

“I Sarau do Manolo” na Difusão Cultural e “Pinheirinho” na Praça da AMADA –Sarau do Manolo – Atibaia-SP

“Arquitetura” e “A Atibaia que você não vê” (Coletivo #6NaoVeem) – Clube Atibaiense de Fotografia – Centro de Convenções Victor Brecheret – Atibaia-SP


V Revelando São Paulo Entre Serras e Águas no Parque Edmundo Zanoni –Clube Atibaiense de Fotografia – Atibaia-SP

2011 “Ruas de Atibaia” – Clube Atibaiense de Fotografia – Centro de Convenções Victor Brecheret – Atibaia-SP

IV Revelando São Paulo Entre Serras e Águas no Parque Edmundo Zanoni –Clube Atibaiense de Fotografia – Atibaia-SP

Premiações

2012 Menção Honrosa – Curta “O gravador” de Luiz Fernando Bueno e Sara Natali de Oliveira – VI Festival Regional de Curta Metragem de Atibaia – Centro de Convenções Victor Brecheret

2011 3º Lugar no “I Concurso Interno do Clube Atibaiense de Fotografia” – Tema “Vivendo em Atibaia” – Centro de Convenções Victor Brecheret

Referências Digitais

#6NaoVeem www.6naoveem.wordpress.com Site www.issuu.com/luizfernandobueno3



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