Medicos em linha de produção

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O TEMPO Belo Horizonte

INTERESSA|

DOMINGO, 11 DE MARÇO DE 2012

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Sala de espera. Consulta dura, hoje, menos de 10 minutos; o ideal, diz a OMS, seria o mínimo de 15 minutos

Médicosemlinhade produção Para Associação Médica Brasileira, é importante reclamar do atendimento ¬ LUIZA ANDRADE ¬ Há cerca de cinco anos, a

professoraaposentada Elizabeth Nogueira, 54, notou que seu cabelo estava caindo muito e com frequência. Decidiu procurar um dermatologista para tratar o problema. Mas o que deveria ser umaconsulta demeia hora acabou se transformando em uma luta de um ano. Elizabeth relata que os cinco primeiros médicos não chegaram a questionar o histórico de doenças nem seus hábitos alimentares. Foi só no diagnóstico do sexto dermatologista – a única consulta que durou mais de dez minutos – que Elizabeth conseguiu descobrir o que tinha – uma alteração no funcionamento da tireoide –, iniciar o tratamento e voltar a ter uma vida normal. Ele foi o único dos seis que fez o que é recomendado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM): “A amnese (entrevista) detalhada, o exame físico e a elaboração de hipóteses”, explica César Vieira, professor de medicina preventiva e social da Faculdade de Medicina da UFMG e ex-coordenador de saúde e de desenvolvimento daOrganização Panamericana de Saúde (Opas). Segundo Vieira, todos os alunos de medicina passam por matérias que abordam a importância da consulta

ARQUIVO PESSOAL

benfeita. “A amnese, a entrevista inicial, é fundamental para conhecer o paciente como pessoa, como alguém que é singular e tem necessidades específicas”, diz. Ele conta, ainda, que há um consenso geral na faculdade de que a amnese traz 70% do diagnóstico. “É difícil fazer uma entrevista completa em menos de dez minutos”, afirma. Para Cristiana Fonseca Beaumord, diretora adjunta de defesa do exercício profissional da Associação Médica de Minas Gerais, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que as consultas médicas durem, no mínimo, 15 minutos. “As consultas ultrarrápidas são um problema já há alguns anos. A Associação Médica Brasileira tenta, justamente, ajudar os profissionais a melhor atender os pacientes”, afirma Rogério Toledo, diretor de atendimento ao paciente da associação. “As pessoas precisam saber que nós existimos para o bem delas. É preciso reclamar do mau atendimento”. Não é o que a maioria faz. Mesmo insatisfeita com o seu novo ginegologista, a psicóloga Marta Freitas *, 28, diz que não pretende registrar a reclamação.Ela conta quea primeira consulta com o médico durou 12 minutos e que ela não passou por exame físico. Um ano depois, a consulta foi exatamente a mesma. Marta passou dois anos sem fazer o exame físico. Agora, diz, pretende se consultar com outro ginegologista.

Frase “Os médicos precisam ter mais cuidado e menos pressa. Se ganho pouco, eu que me entenda com a operadora. Os pacientes não são os culpados”. Rogério Toledo DIRETOR DE ATENDIMENTO AO PACIENTE DA ASSOCIAÇÃO MÉDICA BRASILEIRA

Caso se sinta lesado, o paciente pode procurar os seguintes órgãos:

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É preciso ir ao conselho e redigir uma reclamação formal, que pode ser de próprio punho. A reclamação será registrada, e o médico, notificado. Então, o caso será apurado, o médico pode explicar a ocorrência. Se for constatado um problema real, é instaurada uma sindicância pelo conselho e, depois, pode haver um processo.

Peregrinação. Elizabeth só teve o diagnóstico correto após se consultar com o sexto médico

Insatisfação

Queixassobem10% emumano De 2010 para 2011, o número de reclamações registradas nos conselhos regionais e encaminhadas para o Conselho Federal de Medicina (CFM) subiu em 10% (de 828 em 2010, para 910 no

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ano passado). Mesmo com o grande aumento percentual, poucas pessoas reclamam do tratamento nos consultórios médicos. Segundo Maria Laura Santos, coordenadora do Procon de Belo Horizonte, não há registros de reclamações sobre a rapidez no atendimento. A Agência Nacional

* Nome

de Saúde (ANS) explica que não registra esse tipo de reclamação e recomenda procurar os conselhos regionais. Contudo, segundo Joana Cruz, advogada do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), o consumidor pode, sim, reclamar na ANS. “É uma prestação de serviço de má qualidade na saúde”. Mas o cliente só pode reclamar do plano, e não do médico. (LA)

CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA (CRM)

www.crmmg.org.br (31) 3248–7700

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ASSOCIAÇÃO MÉDICA BRASILEIRA (AMB) Para fazer uma reclamação, mande um e-mail para a diretoria de proteção ao paciente no endereço diretoria@amb.org.br. O e-mail será encaminhado para o diretor da área de atuação descrita na reclamação. Cada área é encarregada de apurar os casos dos seus profissionais.

fictício

www.amb.org.br

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AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE (ANS) Pode procurar a ANS quem quiser fazer uma reclamação formal sobre a operadora do plano de saúde. Reclamações sobre os profissionais específicos devem ser encaminhadas ao CRM. www.ans.gov.br 0800 701 9656

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ACIR GALVÃO

Como o órgão cuida dos direitos dos consumidores, podem procurá-los aqueles que se sentirem lesados como consumidores.

OS DEVERES E OS DIREITOS DO PACIENTE ANTES DA CONSULTA, ANOTE EM UM PAPEL

1 Todos os sintomas e as principais queixas.

2 Os medicamentos que estiver tomando, e a quantidade (mg, ml).

PROCON

MG: (31) 3250-5010 BH: 156

O QUE VOCÊ PRECISA FAZER ANTES DE DEIXAR A SALA DO MÉDICO

3 Quando o problema começou e quando foi a última vez que o sofreu

4 Qualquer mudança recente de hábitos alimentares ou de saúde.

Discuta hábitos alimentares e de exercícios. Diga sua idade, sua profissão. Explique seu histórico familiar de doenças. Questione para que serve cada remédio e pergunte os possíveis efeitos colaterais.

FONTES: INSTITUTO BRASILEIRO DE DEFESA DO CONSUMIDOR (IDEC), CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DE MINAS GERAIS (CRM-MG) E ASSOCIAÇÃO MÉDICA BRASILEIRA (AMB) E PROCON DE BELO HORIZONTE.

Explique todos os sintomas, mesmo se achar que o que está sentindo não tem relação com a queixa principal que o trouxe à consulta. Explique suas dúvidas e seus receios com relação à medicação e ao tratamento recomendado.


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