Maus hábitos podem prejudicar a dieta

Page 1

16

O TEMPO Belo Horizonte

INTERESSA

DOMINGO, 18 DE MARÇO DE 2012

Comportamento. Segundo Ibope,40%das brasileirase 29% dosbrasileiros vivempraticamente de regime

Homens e mulheres vivem de dieta, mas cometem deslizes No entanto, 65% delas e 59% deles admitem que já ‘saíram da linha’

LEO FONTES

¬ LUIZA ANDRADE ¬ Dieta do chá, da lua, da

carne, da sopa, do abacaxi – e por aí vai. Essas são só algumas das instruções que já passaram pelo caderno de dietas de Bianca Meira. A empresária, hoje com 45 anos, conta que, desde criança, tenta perder “uns quilinhos aqui, outros ali”. Bianca não está sozinha. Segundo pesquisa publicada pelo Ibope no ano passado, 40% das mulheres e 29% dos homens brasileiros vivem frequentemente em regime. A pesquisa, que entrevistou quase 19 mil brasileiros, revela uma tendência nos hábitos alimentares nacionais que, ao contrário do que se pensa, pode estar fazendo muito mal à saúde. “Só parei com as dietas malucas quando me cansei de passar mal de fome”, conta a empresária. Quando procurou um endocrinologista, Bianca teve uma surpresa ruim: seu índice de colesterol estava muito alto e, mais uma vez, ia ter que lutar contra o ponteiro da balança. “Fiquei preocupada e procurei um nutricionista. Mas, para ser sincera, nunca consegui seguir o planejamento alimentar”, revela. Como 65% das mulheres entrevistadas, Bianca admite que, com frequência, quebrava a dieta para comer algo que acha gostoso, simplesmente pelo prazer de ingerir alimentos açucarados, gordurosos, fritos ou assados. Entre os homens, esse índice ficou um pouco menor – 59%. Apesar de as pessoas interpretarem esses “deslizes” como problemas para a dieta, muitos especialistas acreditam que eles fazem parte do processo de emagrecimento. “Por isso não é interessante fazer uma dieta muito restritiva”, explica a professora e coordenadora do curso de nutrição da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Dirce Ribeiro. Segundo ela, as pessoas não podem deixar de comer o que gostam durante as dietas. “Mais interessante do que uma dieta é a reeducação alimentar. Nela, os ‘deslizes’ são previstos. Com o

“As emoções modulam a ingestão alimentar, e o alimento muda as emoções”.

“A comida é um agrado. Se há doente na família, vamos com o tabuleiro de bolo”.

Dirce Ribeiro

Andrea Faffine

35%

62%

“Só parei com as dietas malucas quando me cansei de passar mal de fome”.

“Faltava algo (na dieta). Um suprimento emocional, uma motivação”.

Bianca Meira

Deborah Chimicatti

EMPRESÁRIA

PEDIATRA

COORD. NUTRIÇÃO DA UFMG

dos brasileiros quase sempre estão tratando de perder uns quilos.

De dieta. Bianca Meira, 45, começou a lutar contra os “quilinhos” extras quando era criança

tempo, eles deixam de fazer parte do cardápio por vontade própria”, explica. Para a orientadora do programa de reeducação alimentar do Vigilantes do Peso, Andrea Faffine, 45, a questão dos deslizes vai muito além da simples vontade de comer doce. “Ninguém engorda porque comeu um pedacinho de bolo quando teve vontade. Engordamos porque tivemos várias vontades desses pedacinhos”, diz. Andrea, que já emagreceu mais de 50 quilos com o programa de reeducação alimentar, acredita que o grande problema de obesidade enfrentado pelo mundo ocidental atualmente está mais ligado a aspectos emocionais do que fisiológicos. “A obesidade não é um problema. Ela é o resultado do acúmulo de vários problemas com os quais evitamos lidar”, afirma.

A pesquisa Metodologia. O Ibope ouviu 19 mil pessoas com mais de 18 anos entre os meses de agosto de 2009 e julho de 2010. Os resultados foram publicados no dia 3 de março de 2011.

Diferenças de gênero

VIGILANTES DO PESO

dos que estão em dieta, em algumas ocasiões, ingerem comida não saudável.

Dificuldades

Cultura ocidental é voltada para a comida Atualmente, a comida é relacionada a coisas boas, ao prazer, à diversão. “A cultura ocidental é muito voltada à comida”, alerta Andrea Faffine, orientadora do Vigilantes do Peso. A maioria dos eventos sociais envolve comida. “Aqui, a comida é um agrado. Se tem alguém doente na família, vamos visitar com um tabuleiro de bolo. Um novo vizinho na área? Vamos levar um pudim. Se os filhos tiram uma nota boa na prova, eles ganham um sorvete. No fim de semana, podem tomar refrigerante. Celebrações de aniversários são cercadas de comida. Assim, fica difícil comer de forma saudável”, justifica. Foi exatamente esse o problema da pediatra Deborah Chimicatti, 53. Aos 40 anos, enquanto passava pela menopausa, Deborah enfrentou uma série de problemas pessoais que a deixaram em um estado grave de depressão. Ela parou de trabalhar e buscou ajuda psico-

7

40%

35%

47%

56%

dos homens dizem não ter tempo para preparar refeições saudáveis.

deles afirmam que procuram ter uma dieta balanceada.

das mulheres dizem não ter tempo para preparar refeições saudáveis.

delas afirmam que procuram ter uma dieta balanceada.

Famíliadeveestarenvolvida ¬ Andrea Faffine, orientado-

ra do Vigilantes do Peso, alerta que toda a família deve estar envolvida na reeducação alimentar, uma vez que os hábitos alimentares dos filhos são aprendidos com o comportamento dos pais. Segundo a Pesquisa de Or-

çamento Familiar, do IBGE, uma em cada três crianças entre 5 e 9 anos está acima do peso recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). De 1970 para 2009, o índice de jovens de 10 a 19 anos acima do peso subiu de 3,7% para 21,7%. (LA)

lógica. Mesmo tomando remédios antidepressivos, Déborah sentia muita ansiedade e, 20 kg mais tarde, percebeu que estava descontando todas as emoções negativas na alimentação. Como a empresária Bianca Meira, 45, Déborah buscou ajuda com um nutricionista, mas não conseguiu seguir o cardápio à risca. “Faltava algo. Um suprimento emocional, uma motivação”, conta. O que antes era um tabu hoje não é nenhum mistério na comunidade científica. “Há uma conexão entre mente e corpo”, afirma a coordenadora do curso de nutrição da UFMG, Dirce Ribeiro. “As emoções modulam a ingestão alimentar, e o alimento é capaz mudar as emoções”, diz. A professora explica que estudos científicos abordam essa ligação, e os resultados comprovam que, muitas vezes, o desequilíbrio nessa relação pode, sim, levar à obesidade. (LA)


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.