Poiésis 268

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Neurofeedback em Araruama. Pág. 4 Ano XXV- nº 268 - Saquarema, Araruama e Região dos Lagos - outubro de 2018

Novela, folhetim e literatura A partir do acompanhamento da obra do teledramaturgo João Emanuel Carneiro — que adaptou para a tv clássicos como A Muralha e Os Maias, e atualmente escreve a novela O Segundo Sol —, o escritor Gerson Valle apresenta um panorama da telenovela no Brasil, com sua representatividade sócio-cultural e o dinamismo do estilo, traçando ainda um paralelo com a literatura no tocante a aspectos como verossimilhança e profundidade crítica. Página 6.

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nº 268 - outubro/2018

A Legenda dos Dias ACADEMIA BRASILEIRA DE POESIA sucessora da Academia Petropolitana de Poesia Raul de Leoni,

fundada em 1985 – Boletim nº 10 – Outubro, 2018

SEGURANÇA

Políticas para mulheres nas guardas municipais é tema de encontro

COMENTÁRIO, de J. Roberto Gullino

ALBERTO DE OLIVEIRA nasceu na cidade de Saquarema, a 28.04.1857. Professor, lecionou português e história, durante quinze anos, na Escola Normal do então Distrito Federal. Um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, tendo assento na cadeira nº 8. Com Olavo Bilac e Raimundo Correia formou a famosa tríade de poetas parnasianos brasileiros. Faleceu a 19 de janeiro de 1937, em Niterói.

Vem! Se ao meu peito alguém colasse o ouvido, isto ouviria então como uma prece lá sussurrando: − sonho meu querido, vem! abre as asas! mostra-te, aparece! ALMA EM FLOR Alberto de Oliveira

Queima-me a fronte, a vista se amortece, aflui-me o sangue ao cérebro incendido. Oh! vem! não tardes, que me desfalece o coração gemido por gemido. Vem, que eu não posso mais. Olha, o que vejo em derredor de mim, é tudo afeto, amor, núpcias, carícia, enlace, beijo... Paira por tudo uma volúpia infinda une-se flor a flor, inseto a inseto... E eu até quando hei de esperar ainda?

Breve momento, após comprido dia de incômodos, de penas, de cansaço, inda o corpo a sentir quebrado e lasso, posso a ti me entregar, doce Poesia. HORAS MORTAS Alberto de Oliveira

Desta janela aberta à luz tardia do luar em cheio a clarear no espaço, vejo-te vir, ouço-te o leve passo na transparência azul da noite fria. Chegas. O ósculo teu me vivifica. Mas é tão tarde! Rápido flutuas, tornando logo à etérea imensidade; e na mesa, a que escrevo, apenas fica sobre o papel – rastro das asas tuas, um verso, um pensamento, uma saudade.

DUAS TROVAS de Benedito Machado Homem, MG

Muitos livros escrevi, mas, publica-los, jamais, pois à traça eu cedi meus direitos autorais.

A Esperança é dom divino, humanizado em virtude; aplaina o nosso destino, torna a vida menos rude.

O Jornal Poiésis - Literatura, Pensamento & Arte é uma publicação da Mota e Marin Editora e Comunicação Ltda, CNPJ 07.546.414/0001-60. Editor: Camilo Mota. Diretora Comercial: Regina Mota. Conselho Editorial: Camilo Mota, Regina Mota, Fernando Py, Sylvio Adalberto, Gerson Valle, Marcelo J. Fernandes, Marco Aureh, Francisco Pontes de Miranda Ferreira, Charles O. Soares. Jornalista Responsável: Francisco Pontes de Miranda Ferreira, Reg. Prof. 18.152 MTb. Av. John Kennedy, 121 sala 13 - Centro - Araruama-RJ CEP 28970-000

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erca de 360 guardas municipais de 46 municípios do Rio e de diversos estados brasileiros participaram na Cidade da Ordem Pública, no Barreto, Niterói, do 1º Encontro de Guardas Municipais Femininas do Rio de Janeiro. O objetivo foi discutir a implantação de políticas específicas para mulheres nas Guardas Municipais. Saquarema, que possui dezesseis guardas femininas com trabalhos sendo realizados nos setores burocráticos e nos diversos bairros da cidade, enviou três representantes: Nubia Rosa Muniz e Catarina Rodrigues Souza, além da guarda civil ambiental Luana Gonçalves Doria Pereira. O comandante da Guarda Civil de Saquarema, Marcos Vinícius Flores, afirmou a importância da participação das

guardas femininas no primeiro evento a nível estadual. “É muito importante que haja mais encontros como este. Temos várias mulheres na nossa corporação e isto mostra a importância sobre a diversidade de gêneros. Vamos continuar investindo em capacitação e no intercâmbio com outras guardas do país”, disse ele. Os debates abordaram temas como empoderamento feminino no âmbito das guardas municipais e o papel da mulher dentro das instituições. O evento foi aberto pelo secretário de Ordem Pública, Gilson Chagas, que enalteceu o trabalho das agentes. Ele destacou que pela primeira vez na história de Niterói, a GM tem como secretária operacional uma mulher, a major Íris Milena da Cunha Ramos.

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nº 268 - outubro/2018 MULHER

SAÚDE

Estudos em Psicanálise

MAMAS mescla artesanato com terapia

O

Movimento Articulado de Mulheres e Amigas de Saquarema – MAMAS tem realizado várias oficinas de trabalhos manuais, direcionadas a mulheres que pretendem melhorar o rendimento e ajudar no orçamento familiar, bem como trabalhar a auto estima. Desde a sua fundação, há onze anos, o MAMAS tem procurado dar apoio às mulheres vítimas de violência doméstica, ou que sofrem ameaças por parte dos companheiros. O Movimento também respalda os trabalhos executados pela Secretaria da Mulher, que conta com profissionais como assistente social, psicóloga e advogada. Apesar do Movimento ser voltado à classe feminina, também atende homens que procuram tratamento psicológico. O setor de Psicologia do MAMAS atende cerca de trinta pessoas mensalmente, de forma gratuita. Oficinas gratuitas de trabalho manuais e artesanato: Segunda feira, bijuterias de garrafa pet; terça fei-

P O MAMAS recebeu moção de aplausos da Câmara Municipal de Saquarema por seu trabalho social em prol das mulheres

ra, pulseira de macramê e bijuterias com escamas de peixe, pintura em tecido (precisa levar um pano de prato para pintar). Aulas com necessidade de inscrição e verificação de valores com a professora: Quarta feira, corte e costura e pinturas decorativas em vidro; quinta feira, bordado, tricô e crochê.

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Todas as aulas e oficinas iniciam sempre às 14h. O Movimento Articulado de Mulheres e Amigas de Saquarema – MAMAS está localizado na Avenida Saquarema, 620, loja C, Porto Novo, próximo ao DPO, em frente ao Lake’s Shopping. As inscrições podem ser feitas de terça a quinta feira, das 14h às 16h.

or iniciativa dos psicanalistas Camilo Mota, Quézia Carvalho e Roberto Reder, está sendo realizado semanalmente um encontro de estudos sobre psicanálise em Araruama. As reuniões acontecem na quinta-feira à noite e são abertas à participação de qualquer pessoa, com formação em nível superior, interessada em compreender a obra de Sigmund Freud e sua conexão com a contemporaneidade. Atualmente, o grupo está se dedicando ao estudo do livro “O mal estar na civilização”. Maiores informações podem ser obtidas através dos celulares (22)99770-7322 (Camilo), (22)98117-5407 (Roberto) e (22) 98167-8228 (Quézia).

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nº 268 - outubro/2018

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Inaugurado Instituto de Neurofeedback em Araruama

oi inaugurado em Araruama o Instituto de Neurofeedback, trazendo um novo conceito de saúde mental e performance cognitiva, com tratamentos inéditos e personalizados , de acordo com a necessidade de cada paciente. A diretora do Instituto, Nathália Oliveira, explica que são vários os distúrbios que podem ser analisados e tratados como por exemplo a depressão. “Com o mapeamento do cérebro conseguimos perceber o funcionamento da área responsável pela produção de serotonina e assim ativar a região que necessita de estímulo. É um tratamento auto regulatório”, disse. O treinamento para melhorar a performance cerebral consiste no uso de eletrodos que captam ondas magnéticas, mostrando respostas em tempo real, sempre com o paciente interagindo com algo. O tratamento também requer regularidade, porque é necessário colocar o cérebro para funcionar de maneira adequada, havendo a necessidade de repetir sistematicamente o processo até que o órgão entenda, aprenda e

Camilo Mota Psicanalista

comece a funcionar de modo a eliminar o sintoma. “O Neurofeedback se destina a qualquer pessoa que pretende melhorar suas funções cognitivas, por exemplo, a atenção, ter boas notas em concurso, ou até mesmo se tem algo em seu comportamento que a incomode. Muitas vezes não sabem o que é, quer tratar, passou por um monte de terapia e não sabe o que tem. A gente consegue avaliar e mu-

dar esse contexto”, finalizou Nathália Oliveira. São vários os casos que podem ser tratados no Instituto de Neurofeedback como TDH, dislexia, declínio cognitivo, depressão, insônia, dor de cabeça, stress pós traumático, entre outros. Alguns médicos fazem parte da equipe como psiquiatra, neurologista, pediatra e clínico geral. O endereço é: Avenida Getúlio Vargas, 221, sala 304, Centro de Araruama.

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O Neurofeedback é uma técnica capaz de treinar o cérebro para equilibrar seu funcionamento e melhorar sua capacidade de memorização, concentração e confiança. Curta uma vida alegre e saudável!!!

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nº 268 - outubro/2018

Alimentação e Amor

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Omelete sem ovos

á falamos sobre as consequências de consumo de ovo então como prometido no mês passado vamos a receita do nosso omelete sem ovo. Essa é especialmente para os que amam o paladar do ovo e não querem mais consumir, seja por questões de saúde ou de ética. 

Quem gosta de ovo e não ama omelete? Um prato prático, versátil e delicioso. Puro ou com arroz. Com tomate e orégano, com queijo e presunto(veganos, claro), há muitas maneiras de deixar o omelete especial do seu jeito. Você pode estar duvidando… Como farei um omelete sem ovos? Deve estar achando que vai ser uma falsificação barata, que não deve ter cara, nem cheiro, muito menos gosto de omelete. Apenas faça! Gosto, cheiro, aparência… Se não contar todos vão achar que é ovo! Vamos a receita então! Dois itens são indispensáveis, ambos você encontra no Uday. Farinha de grão de bico é a alma do que chamamos de grãomelete e o que dá o sabor e cheiro de ovo é um sal especial chamado sal negro. Antes de começar certifique-se de tê-los. Colocaremos uma receita de nosso gosto, mas você pode inventar e colocar o que mais gosta. Vamos lá: Ingredientes: 1 xic. de farinha de grão de bico 1 folha de couve cortada bem fininha 1 col. café de sal negro 1/2 col. café de açafrão da terra(cúrcuma) em pó

1/2 xic. de queijo de batata ou de castanha ralado 1/2 xic. de presunto vegano cortado em pedaços bem pequenos sal marinho a gosto(opcional) água filtrada Como fazer: Numa vasilha coloque a farinha de grão de bico, o açafrão, o sal negro e o sal marinho. Misture bem e vá adicionando água até que fique com textura cremosa. Não deve ficar muito líquido. Adicione a couve, o queijo e o presunto e misture mais uma vez. Leve ao fogo baixo uma frigideira antiaderente com um fio do óleo de sua preferência. Vá espalhando a massa por toda a frigideira. Muito importante: após espalhar a massa não mexa mais até que ela comece a soltar sozinha, pode demorar um pouco. Quando estiver soltando você poderá ver o ponto. Se estiver bem douradinha vire a massa e, mais uma vez, não mexa até soltar. Quando soltar por completo estará pronto o seu delicioso grãomelete. Sirva com os acompanhamentos de sua preferencia e se delicie com esse prato repleto de amor.

Arte & Beleza

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Seu cabelo em 2019

ara a temporada 2019, já sabemos que os cortes curtos e ultracurtos estarão em destaque. E não é só isso: o choppy bob é uma aposta para quem gosta de fios com movimentos, mesmo em cortes médios. Assimetria, cores e cortes naturais e minimalistas, laterais raspadas e outras tendências: uma novidade são os cortes curtos e com volume, que são mais fáceis de manter que os curtos tradicionais. Serve para todos os tipos de cabelo e a ideia é manter mais volume no topo da cabeça. A variação de cortes é bem grande e depende do tipo de cabelo. O corte pixie deve ser a sensação entre os Cabelos 2019. Também há uma grande variação, como os super curtos, curtos com franja, laterais raspadas e volume no topo da cabeça, simplesmente raspados, curtos em degradê, corte curto com menos volume na nuca. Tem também o choppy bob que é um long bob com mais movimento – um corte médio que pode ser repicado ou em degradê, com luzes ou outros efeitos para criar a sensação de movimento e volume no comprimento como um todo. O Long bob e o Longo em camadas também se mantêm no pódio da beleza! Sua escolha deve depender do seu formato de rosto, textura dos seus fios e estilo de vida. Fundamental é consultar um profissional especialista em corte e visagismo

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nº 268 - outubro/2018 LITERATURA

NOVELA DE TELEVISÃO

Gerson Valle

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partir de minha geração, com mocidade na década de 60, no Brasil, toda a população habitou um lar onde a família, à noite, se distribuía na sala assistindo novela de televisão. Com meu gosto por Literatura, sentia-me dividido entre a paixão pela ficção (dos livros, teatros, cinema) e crítica incomodativa por textos inverossímeis, diálogos forçados, repetições “ad nauseam” para espichar a narrativa em centenas de horas. Isto me forçava a afastar-me da família, indo para meu quarto com os livros e discos, ou para o chopinho na rua, em Ipanema, ao encontro de amigos no papo verdadeiramente literário ou sobre cinema, artes... Cheguei à conclusão que o gênero, por esses defeitos, era impossível de se materializar em obra de qualidade. Porém, a minha paixão por ficção não me fez abandonar de todo algumas seções “na poltrona da sala”. E, no fundo, sempre refletindo se aquela forma tão sem forma, esparramada e grosseira, não estaria substituindo, nos hábitos contemporâneos, as narrativas livrescas, uma vez que eu tinha uma dificuldade em falar sobre balzacs ou dostoiévskis sem que as pessoas se mostrassem desinteressadas, como se eu me referisse a dinossauros... Isto me fazia penalizar-me por meu país e novas gerações, pela pobreza de suas formações, pois acredito que a Literatura é essencial para uma reflexão consequente, compreensão da alteridade e do que somos. Em 2000, eu e minha mulher nos interessamos por uma novela baseada num romance de Diná Silveira de Queirós, “A muralha”, e que tinha como colaborador da adaptação João Emanuel Carneiro. Minha mulher lembrou-se de quando estudava piano com a professora Alda Caminha, certo dia uma sua amiga contar ter nascido um neto em que o nome homenageava um dos filhos de Bach, João Emanuel. E eu lembrei: “Mas é o filho de minha amiga Lélia Coelho Frota”, poeta e antropóloga que trabalhava como eu na FUNARTE. Lem-

brei-me até de ter conhecido o rapaz certo dia que passei em sua casa. E, sabendo da intelectualidade da Lélia, supondo a formação que tenha dado ao filho, aguçou-me a curiosidade sobre o que escrevia. Soube, então, que um dos filmes brasileiros que mais admiro, “Central do Brasil”, tem roteiro seu, como alguns outros de boa qualidade. Depois de “A muralha”, ainda houve outra colaboração dele na adaptação de “Os Maias” do Eça de Queirós, que é o romance que mais reli, acho (junto com a “Ana Kerenina”) em toda a vida. Às vezes chego a fazer como muitos crentes com a Bíblia, abro em qualquer página, e saboreio a delícia do estilo em cada frase! Foi historicamente bem feita a adaptação, porém com o grande pecado de ter misturado com outro romance do Eça, “A relíquia”, cujo espírito é bem outro. Perdeu-se, dentro do realismo eciano, certo sentimentalismo português bem dele também. E um capítulo antológico (do livro) como o da visita a Sintra se apaquidermizou, inclusive abusando da citação das “espanholas”, as prostitutas, mais para Jorge Amado, que tanto se repetiu, aliás, nas novelas televisivas... E, de repente, depois da leitura de um livro de contos e crônicas do João Emanuel Carneiro, “Disse-não-disse” (Ed. Nova Fronteira, 2004), onde o discurso ficcional segue uma linha bem original, sempre interessante, seguimos a sua novela “A favorita” (nome de ópera de Donizetti...). O estilo marcou uma mudança com o comum das novelas televisivas! Inclusive, certa diferença com o trata-

mento dos personagens, que abandonam a imagem estratificada, imóvel, para se diluírem numa caracterização dúbia, mudando, de repente, a posição maniqueísta de todo folhetim, e seguindo um dinamismo que em todo capítulo uma novidade quebra a pasmaceira das repetições do gênero. Eu é que fiquei repetindo: “Não podia esperar menos de alguém educado pela Lélia!” E com talento, evidentemente. Depois disto aconteceu a melhor novela de televisão de que tenho notícia, “Avenida Brasil”. As cenas em que as pessoas falam simultaneamente, como na realidade, lembram renovações teatrais de Nelson Rodrigues, com o uso coloquial das falas. E as transformações, tanto de caracteres como de situações, quebram sempre o torpor folhetinesco. Só é de lamentar o final, com forçado “happy end” esperado, como que para atender à burrice do público adormecido das novelas... Não é intenção aqui resenhar a obra de João Emanuel Carneiro. Mas, quero só lembrar que seu estilo prosseguiu em “A regra do jogo”, em que penetra na realidade de nossas favelas e banditismo, mas que aí, por uma questão minha, pessoal, me deixa sempre bastante chateado por ter de aturar, devido ao realismo cultural das sequências, a “funks, nuncs, tuncs”, que me são desagradáveis. Mas, como se vai refletir a realidade se não se respeitar a linguagem do meio? Em parte isto já ocorrera com o filme de Cacá Diegues “Orfeu”, com adaptação do mesmo João Emanuel de uma peça de Vinícius de Moraes.

Os “funks”, não os sambas, nesta segunda versão em filme, faz-me sentir pena da submissão a certo internacionalismo de mercado. É a nova realidade cultural. Este aspecto prossegue também na novela do momento de João Emanuel Carneiro, “Segundo sol”, passada na Bahia (com direito a filmagens com coloridos lindos de Salvador), tratando de um personagem músico popular. É claro que as “mujiguinhas” invadem algumas cenas que tenho de aturar para acompanhar o prosseguimento da trama. Para mim é penoso, e acho até que faça parte da sub-educação da Globo para embrutecimento de nosso povo... Porém, isto é assunto para outro artigo. O que não posso deixar de observar é que o dinamismo de seu estilo caiu um pouco nesta novela. E as inverossimilhanças que por vezes ocorriam, mas que davam até certo humor e criatividade à narrativa, agora parecem muito evidentes, cansando. Será que é o gênero novela que não suporta mais inovações, mesmo quando bem encontradas em diferentes circunstâncias? É aquilo mesmo que eu sempre desconfiava, que o gênero, em centenas de capítulos, é impossível de permanecer com qualidade? E assim deva ser descartado, procurando-se algo mais adequado a substituir a importância cultural do livro, cujo tempo de apreciação, reflexão e possível profundidade já não encontram um espaço razoável em nossa época? Gerson Valle é presidente da Academia Petropolitana de Letras.

VIOLÊNCIA CONTRA MULHER Denuncie! Disque: 180


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nº / - outubro/2018 POESIA

À Ivone, que me fez outro Adalberto Martins Quero um dia pequeno De pequenas coisas De pequenos prazeres De pequenos valores De coisas simples De pequenos gestos De olhares menos perdidos Quero um dia pequeno como eu Quero uma pequena melodia Quero mais que uma olhada E fico feliz com discursos de três palavras Quero uma felicidade miúda Porque somos praia: areia e água Somos lagos de poucas lágrimas imorredouras Quero vê-la com duas estrelinhas Uma francesa, decerto Nenhuma delas se chame depressão Grande, nem o sol de primavera... Adalberto Martins é poeta, professor de língua portuguesa, mora em Araruama.

O TIGRE AZUL Djami Sezostre risca sim risca a pele de pedra em forma de baga e faz ferida e deixa cicatriz nessa draga e nem de longe olha para trás e foge mesmo para frente abrindo frentes e dispara corisco metálico que acampasse no campo e azul azula o azul de azul e azula esse corpo vadio essa cabeça de cavalo de vento essa brida esse trote de pluma e algodão o corpo da terra que brilha entre farois e olhos e olhos e mais olhos e íris e mais íris e retinas e mais retinas e mais olhos para enxergar o rumo do escuro o rumo de quem foge da sombra olhos olhos olhos de lince para acertar o tigre. Djami Sezostre é mineiro de Rio Parnaíba, tem poemas traduzidos para o espanhol, francês, italiano, entre outros, autor de “O pênis do Espírito Santo” (São Paulo, Patuá, 2018), de onde extraímos o poema acima.

SOBREVIVENTES

joana angélica

Roseana Murray

Marcelo J. Fernandes

Para nós, os sobreviventes, os que carregamos a vida como vidro moído que roesse a pele, não é hora de esperar parados na esquina, enquanto as horas desaparecem como cavalos rumo ao nada. Nós, os sobreviventes, os que soubemos enganar a morte com cordas e armadilhas temos que soltar os pássaros e os gritos aprisionados na garganta, ler ao contrário a caligrafia das bússolas, encher as mãos de horizontes.

por quinze anos da janela vi o Corcovado, o Redentor.

Roseana Murray mora em Saquarema-RJ. O poema acima faz parte do Ebook “Delírios, que pode ser acessado no site da autora em: www.roseanamurray.com

e Ele, oblíquo, será que me via? e os objetos dali livros perdidos hábitos vencidos, pessoas, gestos, o tempo em vão: - de quem agora serão? fevereiro, 2009 Marcelo J. Fernandes mora em Petrópolis-RJ, é poeta, doutor em Literatura.

Verde Rio Verde Hugo Pontes Rio do meu primeiro banho águas do meu batismo peixes da minha fome. rio Verde meu mar da infância morre lento na morte do meu sonho. Hugo Pontes é mineiro de Três Corações, foi um dos líderes do movimento Mail Art no Brasil.

De “O Inventário de Auroras” Dinovaldo Gilioli na sala de espera intensa comunicação metade no celular outra na televisão Dinovaldo Gilioli é poeta, mora em Florianópolis-SC.


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nº 268 - outubro/2018

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