Poiesis 263

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anos Ano XXV- nº 263 - Saquarema, Araruama e Região dos Lagos - maio de 2018 Pedro Junior

Lagoa de Jacarepiá é ameaçada por especulação imobiliária

A Lagoa de Jacarepiá é a única de água doce na Região dos Lagos. Apesar de sua importância no ecossistema, vive constantemente a ameaça de desaparecer, seja pelas condições ambientais, seja por medidas que visam a ocupação imobiliária, como a recente proposta de retirá-la da área de proteção ambiental a que pertence. Página 3. Camilo Mota

Produtor rural ganha novo espaço em Araruama

Os pequenos produtores rurais ganharam novo incentivo no município. A Prefeitura de Araruama está promovendo toda quarta-feira uma feira de produtos na Praça Antônio Raposo. Página 3.

Regina Mota

Saquarema comemora 177 anos

A vereadora Elisia Rangel fez a entrega de títulos de Honra ao Mérito e de Cidadania Saquaremense, além da Comenda José Bandeira, durante a solenidade comemorativa ao aniversário do município pela Câmara Municipal. Página 4.


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A Legenda dos Dias ACADEMIA BRASILEIRA DE POESIA sucessora da Academia Petropolitana de Poesia Raul de Leoni,

fundada em 1985 – Boletim nº 06 – Maio, 2018 COMENTÁRIO, de J. Roberto Gullino A mulher foi, durante séculos, um tipo especial de mercadoria, servindo de moeda de troca como bem desabafou a poetisa portuguesa Fernanda de Castro (1900-1994):

Ser mulher não é só ter a graça [empolgante, o feitiço absorvente, a lascívia e a [ternura; ser mulher não é ter na carne [provocante a volúpia infernal que arrasta e [desfigura...

PERDÃO “Aqui me tens, meu Deus, em [confissão. Não roubei. Não matei. Não caluniei. Mas nem sempre segui a Tua lei, nem sempre fui a irmã do meu irmão. Não recusei aos outros o meu pão. Amor algumas vezes, recusei. Mas, por tudo o que dei e o que não [dei, eu Te peço, meu Deus, o Teu perdão. Perdão para os meus erros conscientes e para os meus pecados inocentes, para o mal que já fiz e ainda fizer... Perdão para esta culpa original, para este longo e complicado mal: o crime, sem perdão, de ser mulher !”

Ser mulher é ter na alma essa imortal [beleza de quem sabe pensar com toda a [sutileza e no próprio ideal rara virtude [alcança... É ter, simples e puro, os sentimentos [francos... e ainda no fulgor dos seus cabelos [brancos, sonhar como mulher, sentir como [criança! E agora, o verdadeiro haicai, do grande estudioso do assunto, o poeta de Vitária, Humberto Del Maestro: Meio-dia quente. Borboletas e alamandas descansam nas cercas.

Por outro lado, a carioca Carmen Cinira (1902-1933) que, na sua espontaneidade poética, acreditava que seus versos eram de origem mediúnica, vendo a mulher pó outro ângulo:

A chuva termina, mas as folhas dos arbustos se enfeitam de pérolas.

SER MULHER

É manhã calma ... Coleiros, em plena festa, gorjeiam no campo.

Ser mulher não é ter nas formas de [escultura, no traço do perfil, no corpo fascinante, a beleza que um dia o tempo [transfigura e um olhar deslumbrado atrai a cada [instante...

Levanto assustado ... A chuva, na madrugada, me acorda cantando. A noite é de prata. O chuveiro das estrelas me banha de sonho

O mito e seus simbolismos Camilo Mota*

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m dos pré-candidatos à presidência da República vem sendo associado à palavra “mito”, e esta referência desperta algumas reflexões. Que elementos simbólicos estão por trás dessa atitude do eleitor? Qual o papel dos mitos no equilíbrio do psiquismo humano? Vivemos um tempo em que a mitologia está tomando o lugar da política? A mitologia tem uma grande importância na percepção da realidade por parte das comunidades ancestrais. A partir do uso de imagens simbólicas, o homem encontrou meios de explicar o mundo real (ELIADE, 1972). Desse modo, os mitos são uma forma primitiva de se explicar o mundo e têm realmente seu valor quando contextualizados em seu tempo. A origem do universo, por exemplo, encontra diversas expressões simbólicas a partir das narrativas míticas. Porém, com a cada vez maior capacidade humana de observação da realidade de forma objetiva, o discurso mítico vai perdendo terreno ao longo dos séculos para abordagens de cunho filosófico e científico. E isto não é nenhuma novidade. Platão, em “A República”, no século IV a.C. já alertava para a impropriedade de explicar a realidade a partir de mitos, abrindo campo, assim, para a racionalidade (PLATÃO, 2011). Se, por um lado, o mito representa o desconhecido e traz uma carga de significados para a mente humana sem passar pela via da racionalidade, por outro, oferece um conforto para se enfrentar a própria ignorância. Na medida em que não conseguimos uma explicação realista, usamos a mitologia. Mesmo que tenhamos hoje um maior rigor científico e uma série de recursos e sistemas que nos permitem uma observação mais racional da realidade, ainda assim os mitos estão incorporados no nosso sistema psíquico, seja através das religiões, seja através de vivências arquetípicas (JUNG). E é no plano dos arquétipos que a associação de uma personalidade política com

um mito parece nos mostrar algum sinal de regressão a estados ancestrais. A projeção de um homem ao posto de messias, salvador, herói, demonstra uma necessidade infantil de ser cuidado, de buscar amparo. De certa forma, o que se espera numa atitude desta natureza é que o outro venha a resolver os nossos problemas. Quando a atitude política é substituída pela postura mitológica, abandona-se a racionalidade e a proposta reflexiva do debate de ideias para colocar em seu lugar o próprio mito, ou seja, o Deus que irá julgar os vivos e os mortos. Quem contrariar a vontade desse ser superior deve ser banido do grupo e todos os meios podem ser utilizados para isso. É um arquétipo tremendamente perigoso se ainda almejamos fortalecer os laços democráticos no país. Qualquer avanço político passa necessariamente por uma avaliação da realidade. Se escolhermos viver o mundo com base em fantasias, julgamentos morais, preconceitos e exclusões, certamente estaremos dando grandes passos para trás. Cabe ao eleitor, e também à classe política, retomar o debate reflexivo, racional, em busca de uma compreensão inclusiva, pluralista e progressista. Ao invés de elegerem mitos, é mais importante entender como cada um pode contribuir para elaborar projetos que contribuam para o desenvolvimento socio-econômico e exigir maior participação popular, de modo que o Estado esteja a serviço da população, e não o contrário. *psicanalista, licenciado em História, e membro da Academia Araruamense de Letras. REFERÊNCIAS ELIADE, Mircea. Mito e Realidade. São Paulo, Perspectiva, 1972. JUNG, Carl G. O homem e seus símbolos. 6ª ed. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, s/d) PLATÃO. A república. Tradução Pietro Nassetti. 3ª ed. São Paulo, Martin Claret, 2011.

EXPEDIENTE O Jornal Poiésis - Literatura, Pensamento & Arte é uma publicação da Mota e Marin Editora e Comunicação Ltda, CNPJ 07.546.414/0001-60. Editor: Camilo Mota. Diretora Comercial: Regina Mota. Conselho Editorial: Camilo Mota, Regina Mota, Fernando Py, Sylvio Adalberto, Gerson Valle, Marcelo J. Fernandes, Marco Aureh, Francisco Pontes de Miranda Ferreira, Charles O. Soares. Jornalista Responsável: Francisco Pontes de Miranda Ferreira, Reg. Prof. 18.152 MTb. Av. John Kennedy, 121 sala 13 - Centro - Araruama-RJ CEP 28970-000 ( (22) 99982-4039 E-mail: jornalpoiesis@gmail.com Site: www.jornalpoiesis. com.br. Facebook: www.facebook.com/jornalpoiesis. Edição digital: www.

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Jacarepiá: um patrimônio ameaçado em Saquarema

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única lagoa de água doce da Região dos Lagos, mesmo estando bem próxima ao mar, a Lagoa de Jacarepiá está situada em Vilatur, Saquarema, sofre ameaças como poluição e degradação por parte de visitantes e, recentemente, por emenda que tenta tirá-la do parque a qual faz parte por especulação imobiliária. O santuário ecológico preserva animais em extinção como lontras e jacaré de papo amarelo. A vegetação ao redor é composta por espécies de beleza singular, onde podem ser encontradas bromélias, orquídeas, begônias, canela, gravata, imbui-pimenta, entre outras. São cerca de vinte quilômetros quadrados, sendo que o único rio que a alimenta é o Fazendinha. Das nascentes somente duas continuam preservadas, contudo nem elas e o referido rio são suficientes para enchê-la. De acordo com informações de Vicente Martorano, tesoureiro da Associação dos Amigos da Lagoa de Jaca-

Pedro Junior

repiá, desde 2011 que o nível da lagoa não está sendo suficiente para mantê-la cheia. “A lagoa está noventa centímetros abaixo. Não tem chovido suficientemente. Tem que chover bastante para que ela possa voltar ao normal”, disse ele. Com relação à especulação imobiliária, na internet foi criada uma petição contra emendas de autoria de dois deputados estaduais que retiram a Lagoa

de Jacarepiá do Parque Estadual da Costa do Sol – PECS. De acordo com nota publicada na petição, serão implantados loteamentos em suas proximidades, descaracterizando colocando em risco toda a fauna, flora e a própria lagoa, que corre risco de ser extinta. Único parque segmentado do Estado do Rio, o PECS é um gigante que protege ecossistemas de seis municípios da Região dos Lagos: Saquarema,

Araruama, São Pedro da Aldeia, Arraial do Cabo, Cabo Frio e Búzios. Com cerca de um milhão de metros quadrados, o Parque Estadual da Costa do Sol (PECS) completou sete anos, ele foi criado através do Decreto Estadual de número 42.929 de 18 de abril de 2011. Entre os objetivos do PECS estão aassegurar a preservação dos remanescentes de Mata Atlântica e ecossistemas associados da região das baixadas litorâneas, possibilitando a recuperação das áreas degradadas ali existentes; manter populações de animais e plantas nativas, servindo como refúgio para espécies migratórias raras, vulneráveis, endêmicas e ameaçadas de extinção da fauna e flora nativas; oferecer oportunidades de visitação, recreação, interpretação, educação e pesquisa científica; possibilitar o desenvolvimento do turismo no seu interior - uma vocação natural dessa região do Estado - além de atividades econômicas sustentáveis no seu entorno.

Feira de agricultura familiar acontece toda quarta em Araruama

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s pequenos produtores rurais de Araruama ganharam um novo espaço para expor e vender seus produtos. A Feira da Agricultura Familiar está sendo realizada toda quarta-feira, de 7 às 14h, no Praça Antônio Raposo, no Centro. No local, são comercializados laranja, aipim, limão, batata doce, milho, feijão, farinha, sola, biju, tomate e hortalícias, além de mel e derivados. A iniciativa é da Prefeitura de Araruama, com objetivo de incentivar os produtores. - Temos que incentivar a cada dia

Camilo Mota

mais e mais os nossos produtores, resgatar nossas raízes, fazer a nossa terra produzir. Esse projeto é mais um ponto de venda, para que eles possam trazer produtos fresquinhos diretamente da nossa terra para a mão do consumidor. E sem agrotóxico, que é o diferencial – disse a Prefeita Livia de Chiquinho. No setor agrícola, a Prefeitura também já inaugurou o Laboratório de Análise de Solo Moisés Branco Rangel e a Estufa Municipal José Geraldo Rodrigues, ambos localizados em São Vicente de Paulo, no 3º Distrito de Araruama.

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Vereadora Elísia faz homenagens no aniversário de Saquarema

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entro das comemorações realizadas pelo aniversário de Saquarema, que completou 177 anos em oito de maio, a vereadora Elisia Rangel prestou homenagens a pessoas que se destacaram pelos trabalhos realizados no município e que tiveram grande relevância. O ex-vereador Juarez Diogo de Oliveira recebeu a comenda José Bandeira. Eleito para três mandatos, tendo sido presidente da Câmara dos Vereadores de Saquarema na década de 70, ele também ocupou cargos de secretário de Turismo e de Ação Social, sendo os últimos nos anos de 1995 e 1996. Por indicação de Elisia Rangel, o título de honra ao mérito foi concedido à assistente social Marcia Helena Palomba de Alcântara, que iniciou seus trabalhos em 1990, na Secretaria de Desenvolvimento Social de Saquarema. Marcia é diretora na referida secretaria, onde articula recursos para execução de assistência social no município, com ações de caráter preventivo, interventivo e de inclusão social. Três pessoas foram agraciadas pela vereadora Elisia Rangel com o título de Cidadania Saquaremense, sendo elas

Em Foco

Regina Mota

Fotos: Regina Mota

Cidadã Riostrense - Vera Lúcia da Silva Silveira recebeu o título na cidade de Rio das Ostras. Ela é uma das sócias da Escola Técnica Destake, o qual tem presença assídua nos eventos das cidades onde a escola tem sede, como Araruama. Vera foi reconhecida pelos trabalhos desenvolvidos em prol da população como um todo. Parabéns!

Marcia Rodrigues Vidigal, que faz parte do Movimento Articulado de Mulheres e Amigas de Saquarema – MAMAS; Nylza Luzia Gonçalves Martins, que participou do projeto Jovem Mamãe, do PAIF; e Zélia Maria Couto Ozório, que há cinco anos administra o Lar dos Idosos de Saquarema, que abriga 27 pessoas.

Destake Escola Técnica

Conselho de Segurança de Saquarema - O Conselho foi homenageado pelo vereador Rodrigo Borges durante evento em comemoração aos 177 anos da cidade pelos trabalhos realizados constantemente.

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CONTO

ALZHEIMER SOCIAL

Reprodução

Gerson Valle em memória do escritor semiólogo Umberto Eco

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outor Enéas Pinto diz-se médico-historiador. Em suas escavações mentais por biblioteca europeia desaparecida no primeiro milênio da era cristã, encontrou relatos sobre uma anciã chamada Mariane. Pareceu-lhe, sob o prisma etimológico, tendo em vista as variantes do neolatino local, que o nome derivara de seu apelido, Maria dos Anos, mais do que da suposta Maria da Ana, referente a Nossa Senhora em filiação expressa à Sant’ana. E isto porque os relatos referiam-se a uma velhinha que dobrara os séculos, morta, ao que parece, aos 180 anos. E mais, de uma família de longevos similares, fenômeno que teria se extinguido do mundo com ela. Mas não da aflição que a tornara simbólica de alguns males de sucessivas civilizações. A continuidade da vida desde a infância lúdica dos cavalheiros de elmo e espada, brincando de se imporem pela força de seus egoísmos, chegando à juventude mais auto apreciativa ainda, onde sua feminilidade apascentava o guerreiro que a colhia, permitindo várias devastações de recantos de camponeses para a sua beleza justificar a razão de seus privilégios, o que se repetiu por vários maridos, ela demorando a envelhecer e os seus contemporâneos se indo por guerras, doenças e aflições. E, velha, depois de passar um período casada com um grego que a convencera, a si e aos habitantes

todos de seu feudo, que o melhor sistema social era o da democracia, onde todos podiam se expressar livremente, para se fazer a vontade da maioria, ela passou para o outro lado da ladeira, apagando a luz interior que sempre mantera acesa, na demência. A experiência de seu marido grego fora sofrida. Depois de muita luta entre facções rivais, onde um lado explorava os campônios cinicamente, e outro tentava lembrar do cristianismo como a sociedade irmã, de amor entre todas as diferenças, impuseram-se as armas dos tiranos, achando que Deus mostrava seu favorecimento ao fazer os ricos abandonarem os pobres em suas mazelas. E estes tiranos fizeram prisioneiros os seguidores dos gregos, vistos como defensores de escravos, perdedores natos de um mundo de frustações. Quem se insurgisse era torturado, preso sem acusação,

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queimado na fogueira sem processo... Foi dura a luta contra a ditadura. Mas, 31 anos depois, os primitivos verdadeiros cristãos conseguiram eleger um papa que aceitou a ideia democrática do grego. Enquanto a carcomida Marianne esquecia-se de tudo que vivera, numa doença que o doutor reconheceu como Alzheimer, mesmo do amor que a elevara ao pedestal da defensora democrática de um marido grego. A velhice se esquece de todo combate. As ideias se confundem com a vontade de ir ao banheiro, e esquecer lá dentro uma parte de seus desfazimentos... Assim são as pessoas. De nada adiantam mais de uma centena de anos acumulando saber, quando o cérebro se torna a máquina de moer conhecimentos. Alzheimer... Que sabiam naquele tempo? Mas as pessoas eram do mesmo teor de sempre! Isto foi escrito dela nos papiros queimados de uma biblioteca inexistente, so-

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mente o doutor Eneas Pinto sabendo disto. Porém, quando o eminente doutor leu que, após tantos anos de tirania, voltando arejada uma propagada democracia que as pessoas de então, fora o grego, nem sabiam o que era, aos poucos foi-se instalando uma confusão de conceitos, e um novo político veio a propagar a ideia de que era preciso de novo prender sem processo, mandar para a fogueira e torturar todos os que reivindicavam igualdade cristã, por ser esta contrária à desigualdade social instalada por Deus nas sociedades de sempre, ele então refletiu que, de fato, as civilizações nascem, mudam, lutam e declinam, de forma sempre igual. Como as pessoas. Esclerosam... Um político do tempo atual do doutor Eneas protesta pela desigualdade de todos, defendendo os mais afortunados pela posição social, os ricos, os brancos, os heterossexuais, e deseja o retorno a um antigo regime de torturas a quem se insurge contra as diferenças. E, o que é pior, dizendo que é democrático ter a opinião defensora da tortura, do assassinato dos contrários, da prisão arbitrária, para que a sociedade não tenha mais os miseráveis, estes infelizes desprotegidos das igrejas do poder!... É democrática a defesa dos campos de concentração nazista? Até quando a sociedade se esquece, como num Alzheimer coletivo, de suas agressividades medonhas do passado? Gerson Valle é escritor, presidente da Academia Petropolitana de Leras

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POESIA

turfe Marcelo J. Fernandes

Uma voz que não se cala Sergio Fonta Onde mora a voz que não se cala? É na sombra que se esgueira pelo beco depois do estampido curto e seco ou é no horror de uma secreta vala? Pensar que esta será apenas a mudez, o estupor o espanto a agonia o som impune da macabra sinfonia, ledo engano: o silêncio perderá a sua vez, pois é ali que mora a voz que não se cala. Os rostos dos pequenos seres que assistiram aos milhares de corpos pendurados no varal, sabiam que ali estavam pais, parentes, amigos – um arsenal de afetos, ideais e sonhos que partiram. Nas manchetes que reverberam dia a dia o impacto de um estado agonizante, fotos, fatos, fetos, fitos de um olhar eletrizante não param em inércia e letargia, pois ali mora a voz que não se cala. No campo denso de heróis e heroínas crucificados no emblema urbano da violência, todos têm a marca da decência, não são só antigos meninos e meninas, são ruas vibrantes onde mora a voz que não se cala. Naqueles que tombaram em seu ofício transformados em guerreiros tão modernos, com farda, camisas de manga ou ternos, todos alçados a um inacreditável sacrifício, neles também mora a voz que não se cala. No gesto e na atitude empalados pela bala, na bravura dos que lutam ou lutaram, no sentimento de almas que se desmancharam seladas por um vácuo em sua própria sala, todos sabemos e não esqueceremos que ali, em tudo, em todos e para sempre mora a voz que não se cala. Sérgio Fonta, (Rio de Janeiro, 6 de dezembro de 1950) é um escritor, diretor, dramaturgo e ator

INTERVALO Hugo Alazraqui Somos símbolos vivendo entre outros também nos corpos somos o ritmo estamos vivos por ser os laços por ser o sítio entre os espaços somos sujeitos signos partidos somos defeitos o interrompido pobres efeitos, de ecos perdidos... Hugo Alazraqui é poeta argentino, médico psiquiatra e psicanalista, mora em Buenos Aires.

meus binóculos viram mais do que puderam: pistas, ginetes, ases sobre bólidos de couro e pêlo numa festa de sedas em cor tropéis avassaladores em duelos fantasmais dividindo raias de grama e areia. meus binóculos trouxeram junto a mim o íntimo das rédeas, semblantes, gestos, um balé hípico perseguido no ritmo célere dos galões ágeis (sob o jugo dos látegos) de tordilhos, alazões e zainos. meus binóculos teriam gravado imagens épicas, únicas raras. Não. Não viram tudo o que eu quis, decerto:

A CLARINETA DE CAROL P. Almandrade Não era a clarineta da tela de Braque desmontada fragmentada guardada em silêncio como uma imagem cubista. A música escorria do semblante da moça molhando a noite do museu. Almandrade é poeta e artista plástico, mora em Salvador-BA

- as lentes não eram para perto.

Marcelo J. Fernandes é doutor em Letras, poeta, membro titular da Academia Petropolitana de Letras.

MOVI(ES)MENTO Leila Miccolis a Mélies e a Lumière No começo era o Verbo e a Luz se fez. Mas ao Homem isto não satisfez; tanto que, tempos depois, juntou os dois numa magia sincrética e suprema: criou o Cinema... Leila Miccolis é Mestra, Doutora e c/ Pós-Doutorado em Teoria Literária (UFRJ), autora de novelas de TV, livros, teatro, cinema. O poema acima faz parte da obra “Desfamiliares - Poesia completa 1965 - 2012”, Ed. Annablume/ SP, 2013.


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