943 Edição 09.03.2018

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Braganรงa Paulista

Sexta 9 Marรงo 2018

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Jornal do Meio 943 Sexta 9 • Março • 2018

Expediente Jornal do Meio Rua Santa Clara, 730 Centro - Bragança Pta. Tel/Fax: (11) 4032-3919 E-mail: jornal@jornaldomeio.com.br

E a quaresma vai passando! por Mons. Giovanni Baresse

Como aceleramos o nosso

experiências radicais; também

50 anos se propõe algum tema

suas causas e consequências na

tempo! Ao olhar as ativida-

a experiência de relacionamen-

que leve a olhar a realidade na

sociedade brasileira; 3 – Iden-

des da vida da comunidade

to profundo com Deus. Baste

ótica de fé. E abra perspectiva de

tificar o alcance da violência,

pensei como imprimimos um

lembrar os 40 anos de caminhada

ações concretas que manifestem

nas realidades urbana e rural de

ritmo cada vez mais acelerado em

dos hebreus pelo deserto (uma

conversão. É a Campanha da

nosso país, propondo caminhos

nossas vidas. As possibilidades

grande peregrinação da terra

Fraternidade. Neste ano com o

de superação, a partir do diálogo,

de fazer muitas coisas em tempo

da escravidão para a terra da

tema: “Fraternidade e superação

da misericórdia e da justiça, em

cada vez mais reduzido! É certo

liberdade – Êxodo 15 e ss.); os 40

da violência”. Seguindo a meto-

sintonia com o Ensino Social da

que as celebrações da Igreja têm

dias e noites de Moisés no Horeb

dologia já consagrada nas ações

Igreja; 4 – Valorizar a família e

larga tradição, mas surpreende,

(Deuteronômio 9,9ss.); os 40 dias

pastorais da Igreja a proposta é

a escola como espaços de con-

de vez em quando, a celebração

para Nínive ser destruída se não

colocada na linha do Ver-Julgar e

vivência fraterna, de educação

da Páscoa! Dependendo do equi-

se convertesse (Jonas 3,4); os 40

Agir O objetivo geral da campa-

para a paz e testemunho do

nócio da primavera no hemisfério

dias de jejum de Jesus, também

nha é assim proposto: “Construir

amor e do perdão; 5 – Identificar,

norte ela fica mais perto ou mais

no deserto, um tempo largo de

a fraternidade, promovendo a

acompanhar e reivindicar políti-

longe. Iniciamos, há três sema-

experiência com as limitações

cultura da paz, da reconciliação

cas públicas para superação da

nas o tempo quaresmal. Tempo

humanas e as propostas do mal

e da justiça, à luz da Palavra de

desigualdade social e da violência;

penitencial que prepara para a

(Lucas 4,2). É verdade que na

Deus, como caminho de supera-

6 – Estimular as comunidades

festa mais importante e basilar

quaresma salienta o caminho

ção da violência”. A seguir vêm

cristãs, pastorais, associações

dos cristãos: a Ressurreição de

sofrido de Jesus Cristo. É preciso,

os objetivos específicos para a

religiosas e movimentos eclesiais

Jesus Cristo! Antiga tradição

porém, recuperar o significado

ação: 1 – Anunciar a Boa-Nova da

ao compromisso com ações que

marca quarenta dias simbólicos

principal do chamado à conver-

fraternidade e da paz, estimulando

levem à superação da violência;

entre início da quaresma e da

são. A escolha dos textos bíblicos

ações concretas que expressem

7 – Apoiar os centros de direitos

Páscoa. O número 40 tem forte

que são lidos nas celebrações

a conversão e a reconciliação no

humanos, comissões de justiça

incidência bíblica e significa

eucarísticas tem esta tonalidade:

espírito quaresmal; 2 – Analisar

e paz, conselhos paritários de

um tempo especial, largo (não

chamar a atenção para o estilo

as múltiplas formas de violência,

direitos e organizações da socie-

necessariamente interpretado

de vida dos cristãos. Ao lado

especialmente as provocadas pelo

dade civil que trabalham para a

ao pé da letra) onde se vivem

disso, aqui no Brasil, faz mais de

tráfico de drogas considerando

superação da violência. A Palavra

Diretor Responsável: Carlos Henrique Picarelli Jornalista Responsável: Carlos Henrique Picarelli (MTB: 61.321/SP)

As opiniões emitidas em colunas e artigos são de responsabilidade dos autores e não, necessariamente, da direção deste orgão. As colunas: Casa & Reforma, Teen, Informática, Antenado e Comportamento são em parceria com a FOLHA PRESS Esta publicação é encartada no Bragança Jornal Diário às Sextas-Feiras e não pode ser vendida separadamente. Impresso nas gráficas do Bragança Jornal Diário.

de Deus é a luz para iluminar a realidade. Que a misericórdia e o perdão sejam a forma de concretizar a afirmação de Jesus: “Vós sois todos irmãos!” (Mateus 28,8). Não tenho dúvida de que esta é uma das campanhas mais desafiadoras: estamos vivendo um clima de justicialismo, de fazer justiça com as próprias mãos. Quando se pede justiça, na maior parte das vezes se pede vingança! Vale uma reflexão a partir da realidade mais próxima de cada um de nós: família, escola, lugar de trabalho, comunidade. Gestos de perdão, paciência, serenidade ajudarão a superar o risco da agressividade que se vê cada vez mais presente em nossos dias!


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PALAVRAS CRUZADAS DIRETAS

1.003, em romanos Mister (abrev.)

Cintura de calças e saias

Carne bovina com nome de réptil Triste (ing.) (?) da Silveira, psiquiatra

Matar (animais) para o consumo Deus da guerra na Mitologia nórdica

O acústico reduz a passagem do som Móvel do analista freudiano

Peça de apoio na escadaria "Você", no linguajar caipira

São tratados com remédios

(?) poucos: gradualmente

Antigo sucesso de Djavan (MPB) A censura relativa a filmes infantis

Direito do Presidente Goma (?), aditivo natural proveniente do milho

Dígito binário (Inform.) (?) cheiro: inodoro Jogada do tênis

Serve de apoio na enterrada (basq.) (?) Campbell, top model britânica

Antigo nativo de povo mexicano Profissão Invenção de Oscar postal Ulisses inglesa (fut.) (1840)

"Quem o (?), sempre será" (dito) 38

Solução M V D A M

D E N E F E R T I T I T

O

B U S

BANCO

Formato da chave inglesa

O N C O A R S A I S Ã O C O V R R B I O M Ã F O

Pedro Marcelo Galasso - cientista político, professor e escritor. E-mail: p.m.galasso@gmail.com

Ovo de piolho, que adere aos cabelos

A D E D A I I L A G T E R I N N D I V N T E S A O S O L I N T A NA S EM A N A C U T OR E L O

comportamentos que procuramos paliativos para a violência que explode em nossa sociedade e que se apresenta de forma explícita nos estádios de futebol, pois, no mesmo dia, torcedores de clubes paulistas entraram em conflito, como hordas bárbaras, aos olhos do impotente e irresponsável Estado, que terminou com a morte de mais um torcedor, ou seja, nem mesmo no microcosmo de um estádio de futebol as pessoas são capazes de diferenciar um mero jogo frente a questões mais humanas como a dignidade pessoal, talvez porque as respostas improváveis na esfera pública possam ser violentamente purgadas nos estádios contra terceiros. De uma forma ou de outra, o que ocorre nos estádios brasileiros é a demonstração clara da falência do Estado em conter tais ações violentas e só aumenta o desejo das pessoas de ver em prática mais violência para combater a própria violência alimentada pelas pessoas e pelo próprio Estado. Além disso, as cenas bárbaras que foram divulgadas na Síria, apesar de todos os apelos humanitários e sanções da ONU, potencializam as preocupações sobre os perigos e as reais razões do conflito que parece não ter fim. O papel do ditador da Síria, o jogo de cena das potências europeias e o descaso frente ao massacre naquele país lançam dúvidas a respeito do que motiva a permanência da barbaridade que por lá ocorre. Tão revoltante quanto as cenas da guerra na Síria é ver, ler e ouvir pessoas que defendem o uso da violência e das armas de fogo contra supostos inimigos ou que somente um governo forte, com ares de ditadura e suas ações violentas e repressivas, será capaz de salvar o Brasil, expressarem compaixão com os fatos sírios. De fato, a ignorância sobre a Boa Política e as coisas públicas é contagiante, perigosa e nos cega.

F E I R A D E E S T A G I O S

Um mundo interligado por redes de comunicação globais, atrelado a redes financeiras e instituições que definem os destinos de bilhões de pessoas e que assiste a hegemonia cultural de uma expressão cultural, a cultura ocidental expressa, por exemplo, na “festa do Oscar” e suas pautas hipócritas e politicamente corretas, mostra, de forma clara e incontestável, os elos profundos que nos ligam e que, por vezes, nos condenam, amarram e mutilam. Isto posto, as eleições na Itália marcadas pela vitória de grupos populistas e de extrema-direita é mais um sintoma de quão perigosa tem sido a direção adotada pelos quadros políticos em todo o mundo, já que até em países considerados “perfeitos”, como a Noruega, o ódio e a violência aparecem como preferências na condução e nos discursos políticos. A vitória do populismo e da extrema-direita na Itália foi possível graças a campanha pró-refugiados que foi uma das pautas das candidaturas de esquerda e que viram ruir esta linha de pensamento político, tão criticada e denegrida por ignorantes políticos que contam nos seus quadros com quem repugna a esquerda e por quem pensa que a defende. A incompreensão das correntes de pensamentos políticos, sejam de direita ou de esquerda, é um sinal que pode ser visto e exemplificado em todos os continentes e as incoerências das propostas e das ações que são colocadas deveriam assustar a quaisquer pessoas de bom senso. Dentro deste contexto maior, se torna mais fácil entender, mas nunca aceitar, as injúrias raciais que foram proferidas no último final de semana em um jogo do campeonato carioca de futebol contra um jovem jogador do Flamengo. O mais estranho foi perceber que as ofensas foram feitas por pessoas que não aparentavam que poderiam ter um comportamento tão bárbaro e criminoso contra um jovem, como se o ódio racial fosse uma válvula de escape a ser perdoada por ter ocorrido em um momento de comportamento de massa. Estamos tão mal habituados com a defesa e com a crítica contra tais

© Revistas COQUETEL

Escultura da rainha egípcia encontrada por alemães, pertence ao museu Instante; As esposas de Berlim momento dos filhos

Evento que Prorrogar; oferece retardar oportunidades de trabalho a estudantes

S I M B O L O S E X U A L

por pedro marcelo galasso

Condição de Marilyn Monroe ou Sharon Prédio que Stone, no abriga as Cinema obras "Guerra" e "Paz", de Portinari

3/ace — bit — sad. 4/nise — odin. 5/naomi. 7/xantana.

O absurdo do Ódio

www.coquetel.com.br


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por Anaïs Fernandes/FOLHAPRESS

Mais da metade (56%) das crianças entre 8 e 12 anos está expostas a ameaças digitais, como ciberbullying, vício em videogames e comportamento sexual on-line, em um cenário considerado como “pandemia de risco cibernético”. O resultado é apontado no relatório de impacto DQ 2018, realizado pelo Instituto DQ em parceira com o Fórum Econômico Mundial. O levantamento sobre segurança infantil on-line e cidadania digital divulgado nesta terça-feira (6) avaliou o comportamento de 34 mil crianças em idade escolar de 29 países -o Brasil não foi incluído. O estudo revela que 47% das crianças foram vítimas de ciberbullying no ano passado, 17% tiveram algum comportamento sexual on-line e 10% conversaram com estranhos nas redes e marcaram encontros presenciais. Segundo o relatório, estima-se que 260 milhões de crianças em todo o mundo estão envolvidas com ciber-riscos, e o número deverá aumentar para 390 milhões até 2020. “Terem sido expostas a esses riscos cibernéticos não indica diretamente que as crianças tenham sofrido danos físicos ou mentais permanentes. No entanto, a exposição contínua em uma idade precoce representa um perigo para o desenvolvimento geral, bem- estar, relacionamentos e oportunidades futuras (...) A pandemia de risco cibernético nos diz que não é uma questão de alguns indivíduos em alguns países, mas um problema global e geracional”, avalia o relatório. Apesar de o risco na rede ser generalizado, o estudo mostra que as ameaças são 33% maiores em economias emergentes. “Isso se deve, em grande parte, à rápida adoção de tecnologia móvel e ao uso de plataforma digital sem preparação adequada das crianças”, diz o relatório. Segundo a pesquisa, a internet tem penetração mais rápida nesses países, que devem representar 90% de todos os novos internautas mirins até 2020. Outro dado mostra que as crianças gastam, em média, 32 horas sozinhas na frente de telas digitais em busca de entretenimento -tempo superior ao que passam na escola. E quanto mais horas elas ficam expostas às telas, maiores os riscos. Quando a criança tem um telefone celular próprio, por exemplo, e usa ativamente as redes sociais, seu tempo de tela sobe 12 horas e ela tem 70% de chances de ser exposta a pelo menos uma ameaça virtual -uma probabilidade 20% maior em comparação com aqueles que não possuem celulares. E, de acordo com o relatório, mais da meta das crianças pesquisadas acessa a internet de seus dispositivos pessoais -a maioria (60%) recebe o primeiro celular aos 10 anos- e 85% delas usam redes sociais, embora a idade legal oficial para acessar boa parte das plataformas seja 13 anos. “É interessante notar que a posse do celular sozinha nem sempre leva à exposição de uma criança aos riscos ou ao tempo de tela excessivo. Isso ocorre apenas quando as crianças são também usuários ativos de redes sociais. A quantidade de tempo de tela e a probabilidade de riscos entre crianças que possuem um celular, mas que não são usuários ativos, não são significativamente diferentes das crianças que não têm celular”, pondera o estudo. PREFERÊNCIAS A atividade on-line preferida das crianças (72%) é assistir a vídeos, seguido por ouvir música e fazer buscas (ambos com 51%), jogar videogame (49%) e conversar (38%). Assim, não é surpresa que o site

mais popular nesta faixa etária seja o YouTube, a rede mais usada por 54% dos entrevistados. Depois aparecem WhatsApp (45%), Facebook (28%), Instagram (27%) e Snapchat (23%). Facebook e Twitter se mostraram significativamente populares entre crianças de países emergentes. “Estamos começando a entender o papel que os algoritmos desempenham em incentivar as crianças a gastarem mais tempo nessas plataformas, já que os anunciantes se beneficiam do curto período de atenção das crianças e de sua tendência em assistir a vídeos similares repetidamente (...) Além disso, sem classificação de conteúdo adequada ou mecanismos de filtragem efetivos, as crianças são facilmente expostas a conteúdos violentos e inadequados”, diz o relatório.

O levantamento ressalta também outras pesquisas que demonstram que o tempo excessivo de tela pode prejudicar o sono, deixar as crianças mais solitárias e agressivas e, por fim, impactar sua saúde física e mental. SAÍDA O estudo reforça que “desconectar crianças do mundo digital devido ao medo de ciber-riscos não é uma opção” e que ter acesso ao universo virtual “é um dos direitos básicos das crianças no século 21.” “Não há dúvida de que a tecnologia pode gerar grandes benefícios para as crianças em diversas áreas que vão desde educação e potencial futuro de trabalho ao entretenimento.” A saída, o relatório aponta, é através da educação para uma cidadania

digital que ensine as crianças, por exemplo, a disciplinar o uso de tecnologia, compreender como funciona a comunicação on-line e desenvolver raciocínio crítico sobre conteúdos e contatos na rede. “Devemos agir rapidamente e tomar medidas positivas para ajudar essas crianças a enfrentar riscos cibernéticos em todo o mundo, especialmente nos países emergentes. Desde cedo, o uso de mídia social por parte de nossos filhos através de telefones celulares tem sido excessivo. Precisamos trabalhar em conjunto para ajudá-los a superarem os riscos e tornarem-se cidadãos digitais bem-sucedidos e responsáveis que maximizem seu potencial e minimizem as ameaças”, disse Yuhyun Park, fundadora e diretora executiva do Instituto DQ. Foto: Divulgação


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Empresas tentam desatar

os nós do trânsito

Soluções buscam melhorar o uso dos sistemas de transporte coletivo e privado, mas esbarram em questões legais, cumprir as regras ainda é principal desafio para os empreendedores do setor de autotechs por FLÁVIA G. PINHO/FOLHAPRESS

Conhece o termo “autotech”? É o nome que se dá às start-ups que atuam no setor de mobilidade, transporte e logística-e você vai ouvir falar delas nos próximos anos. Ao usar a tecnologia para solucionar velhos problemas, como os nós do trânsito das grandes cidades e a baixa eficiência do transporte público, essas empresas estão conseguindo, ao mesmo tempo, conquistar o interesse dos investidores, a simpatia do poder público e conseguira adesão da população. Um estudo da aceleradora Liga Ventures feito durante o ano de 2017 detectou que 193 start-ups brasileiras atuam no setor. Questões da mobilidade urbana estão entre as que mais atraem novos investimentos, diz o fundador Daniel Grossi, 33. “As soluções focadas na economia de compartilhamento são as que mais se destacam”, afirma Grossi. É o caso do Moobie, desenvolvido pela paulistana Tamy Lin, 38. O aplicativo, que opera em São Paulo desde abril de 2017, funciona como um Airbnb de automóveis - quem subutiliza o próprio carro pode alugá-lo. “Ajudamos a não colocar mais carros na rua usando a frota existente”, explica. Em dez meses, 3.000 automóveis foram cadastrados, embora apenas 250 já estejam disponíveis para locação. Os outros aguardam finalização do cadastro. O usuário paga diárias a partir de R$ 70, com seguro. “O preço fica entre 20% e 30% menor do que o das locadoras”, afirma Lin. “Já temos 40 mil usuários e quero começar a expandir para outras capitais ainda este ano.” leis Para empreender no setor de mobilidade, nem sempre basta ter uma ideia na mão. Quem lança um novo serviço deve estar preparado para enfrentar reações pela falta de normas. Um exemplo é a discussão em torno da regulamentação de aplicativos como Uber, 99 e Cabify. O engenheiro mineiro Marcelo Abritta, 33, amargou um ano de atraso no lançamento de seu aplicativo, o Buser, que conecta pessoas interessadas em fretar ônibus intermunicipais. A primeira viagem entre as cidades mineiras de Belo Horizonte e Ipatinga (230 km), que aconteceria em junho de 2017, lotou em dez horas. Os 35 passageiros pagariam R$ 29,90 cada um pelo rateio do frete, menos da metade do que custaria a passagem no ônibus convencional. Mas, na hora da partida, uma ordem judicial impediu que o ônibus saísse do lugar. “Fiscais do DER-MG (Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais) alegaram que eu estava cobrando passagens para fazer transporte clandestino. Inovações são assim, as pessoas demoram a entender como funcionam”, conta Abritta. A confusão, que foi noticiada na é poca, acabou ajudando o projeto, que chamou a atenção dos investidores. “Recebi aportes de diversos fundos de investimento e acabamos de relançar o Buser com aval de um jurista”, diz Abritta, que prevê realizar a primeira viagem em março deste ano. Pelo aplicativo, que vai informar as rotas disponíveis, os usuários poderão entrar em grupos já formados ou começar um grupo novo. Segundo o empreendedor, seis empresas de fretamento já estão cadastradas, mas a fila passa de 50. “O papel da Buseré apenas organizar a vaquinha. Nós reunimos o pagamento e o repassamos à companhia escolhida, em troca de uma comissão entre 5%e 20%”, diz. Para Grossi, o maior desafio não é criar soluções inovadoras, mas encontrar um problema real a ser resolvido. “O primeiro passo é compreender se a questão é grande a ponto de justificar a criação de um novo produto. O segundo é validar qual é a melhor solução para resolvê- lo”, adverte Parceria com as cidades alavanca start-ups da área Claro e espaçoso, o MobiLab (Laboratório de Mobilidade Urbana de São Paulo) funcionadesde2015 como um celeiro de

soluções tecnológicas. Gerido em conjunto pelas secretarias municipais de mobilidade e de inovação, com recursos públicos e de patrocinadores, o ambiente abriga projetos que envolvam mobilidade. Em dois anos, 20 startups já passaram por ali. “Em vez de a prefeitura investir na criação de um aplicativo próprio, permitimos que o mercado desenvolva as soluções”, explica Avelleda. Luiz Renato Mattos, 26, deu forma ao OnBoard Mobility dentro do MobiLab -o app, previsto para entrar em operação ainda este ano, vai integrar diferentes meios de pagamento de transporte público, permitindo eliminar todos os cartões, bilhetes e passes. Mattos, que

investiu R$60milnacriaçãodatecnologia, em 2016, topou com dificuldades técnicas, como a integração com diferentes municípios. “Nos nove meses em que ficamos no MobiLab, recebemos mentorias, tivemos contato direto com a SPTrans e conseguimos nos aproximar de gestores que não nos recebiam antes”, diz. Lançado em 2014 pela Cittati, o aplicativo CittaMobi informa a localização dos ônibus. Com dez anos de experiência na gestão de ônibus em 70 cidades brasileiras, a Cittati usa os dados dos próprios clientes. Só em São Paulo, porém, o app cobre 100% da frota em função da parceria com a prefeitura. Em quatro anos, o CittaMobifoi baixado

por 6 milhões de usuários. Mas o desafio é constante, diz o engenheiro Fernando Matsumoto, 43, um dos fundadores da Cittati. “O aplicativo se tornou uma plataforma de serviços para cada cidade. Em Salvador (BA), anunciamos empregos nas regiões próximas a cada ponto de ônibus. Em Sorocaba (SP), é possível reportar situações de perigo, mensagens que são enviadas à guarda metropolitana”, enumera. Segundo Matsumoto, a meta é chegar aos 10 milhões de downloads até o fim de 2018. “Estamos investindo em novas tecnologias que nos permitam compreender cada vez mais o comportamento do usuário em relação à mobilidade.” Foto: Rafael Hupsel/Folhapress

Os empresários Marcelo Abritta (esq.), 32, e Marcelo Vasconcelos (dir.), 34, sócios-fundadores da Buser, posam para foto. O Buser é um aplicativo que conecta passageiros para que fretem ônibus intermunicipais. Foto: Bruno Santos/ Folhapress

Retrato de Tamy Lin, fundadora da Moobie, aplicativo para compartilhamento de carros particulares.


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Aumento de salário Negociar salário é como entrar em uma delicada transação de compra e venda: o empregado tenta convencer a empresa a comprar seu trabalho pelo maior valor.

por FERNANDA REIS/FOLHAPRESS

Negociar salário é como entrar em uma delicada transação de compra e venda: o empregado tenta convencer a empresa a comprar seu trabalho pelo maior valor. Precificar esse serviço, contudo, não é tarefa simples. Segundo José Augusto Minarelli, presidente da consultoria Lens & Minarelli, a cifra irá corresponder ao valor que a empresa acredita que o funcionário tem e gera. “Se o profissional tem currículo bom, capacitação e histórico de sucesso, vale mais.” Ao pedir aumento, é preciso vender seu peixe trazendo informações e números -anos de casa, avaliações, produtividade, metas cumpridas e responsabilidades. “É uma via de mão dupla. Você diz: ‘Tenho feito isso pela empresa, o que ela pode fazer por mim?’”, diz Leticia Krauskopf, gerente regional da Randstad Professionals. Argumentos como dificuldades financeiras, por exemplo, devem ser evitados. “O empregador não está ali para ajudar o funcionário, e sim para retribuir de acordo com seus resultados”, afirma o coach Marcelo Policarpo, da SBCoaching. Foi essa a abordagem usada por Roberto

Vazquez, 41, ao pedir um aumento para seu chefe na empresa de soluções de engenharia em que trabalhava, na área de atendimento ao cliente. Elaborou uma planilha com o volume de trabalho e o faturamento de sua equipe antes e depois de um corte de funcionários e mostrou que, com menos pessoas, davam conta do mesmo serviço. Ele e os colegas pediram, então, um aumento coletivo. “Expus os números, o diretor prestou atenção, entendeu a demanda e disse que fazia sentido”, conta. Deu certo: a equipe passou a ganhar cerca de 10% a mais. Segundo Ricardo Karpat, diretor da Gábor RH, negociar em grupo, porém, é uma estratégia arriscada. “Tem que tomar cuidado porque o gestor pode interpretar como um complô”, afirma. Tom de ameaça deve ser sempre evitado. Pedir aumento dizendo que recebeu uma proposta, por exemplo, pode ser um risco. “Fica a impressão de que se eu cobrir a oferta, no primeiro momento em que o profissional tiver algo melhor, vai pedir demissão, porque ficou pelo dinheiro”, diz André Narciso, CFO da start-up Quero Educação.

FORA Mas, se crescer na empresa não for uma possibilidade, é natural sair. O analista de sistemas Frederico Furtado, 35, que hoje tem o próprio negócio, conta que quando pedia aumento onde começou a carreira, recebia negativas. “Fiz uma entrevista em outro lugar e me deram o que pedi. O lugar que me formou não me valorizou”, lembra. Na teoria, segundo Karpat, as empresas deveriam dar aumentos por rendimento sem que o empregado precisasse pedir. Na prática, não é o que acontece, e quem fica calado pode ser prejudicado. A cada ano trabalhado, Furtado ia à sala do chefe. “É uma oportunidade de pedir feedback e um aumento. Ele não vai oferecer isso.” A entrada na empresa é o melhor momento para negociar, diz Felipe Brunieri, gerente da divisão de finanças da consultoria Talenses. O salário atual -ou o último, para quem está desempregado- é o ponto de partida. Em tempos de vacas gordas, é normal trocar de emprego com aumento de 40% em relação à remuneração anterior. Já hoje

o número para quem está trabalhando não costuma passar de 20%. O cenário é ainda pior para quem está desempregado. “É um jogo em que eu ofereço, você pede mais. Se você não tiver tranquilidade, acaba aceitando qualquer oferta”, diz Minarelli. Atualmente, é considerado normal receber uma proposta até 30% abaixo do último holerite. Informação sobre a média salarial de quem é sênior naquela área também é um dado importante. Para isso, um dos melhores caminhos é enfrentar o tabu e falar de dinheiro com pares e colegas. “As pessoas vivem cercadas de fontes, mas muitas vezes não têm coragem de perguntar quanto é razoável pedir”, afirma Minarelli. Se nada der certo, e a oferta que receber estiver abaixo do esperado, o empregado pode pedir um tempo para pensar e fazer uma contraproposta, colocando no papel aquilo que foi sugerido e os motivos por que esperava algo um pouco maior. Se elevar o salário for inviável, outros benefícios podem entrar em jogo. “Veja se consegue algo como fazer um curso. Pergunte: ‘Tem outra coisa que possa fazer por mim?’”, diz Krauskopf. foto Gabriel Cabral/Folhapress

Negociação salarial. Frederico Furtado, 35, que trabalha na área de tecnologia da informação e hoje tem uma consultoria. Fotografado na área livre do prédio onde atende um cliente, na Avenida Francisco Matarazzo, 1350.


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Esclerose múltipla Tratamento da esclerose múltipla é eficaz quando começa cedo, doença da atriz Ana Beatriz Nogueira afeta 35 mil pessoas no país. Muitas não sabem que têm o mal por EMERSON VICENTE /FOLHAPRESS Arte: Folhapress

A esclerose múltipla é uma

sintoma, ele deve procurar um

doença crônica que atinge

médico. Se for diagnosticada a

os impulsos nervosos no

esclerose múltipla, quanto mais

cérebro. Quando aparecem os

cedo começar o tratamento,

surtos, trazem sintomas bastantes

maior a chance de controlar a

desagradáveis, como tonturas,

doença”, afirma o neurologista

visão embaçada ou até mesmo um

Jefferson Becker, presidente do

desmaio. Na semana passada, a

Comitê Brasileiro de Tratamento

atriz Ana Beatriz Nogueira, que

e Pesquisa em Esclerose Múlti-

fazia o papel de Neia, a mãe de

pla. O tipo da doença chamado

Léo Régis (Rafael Vitti) na novela

recorrente remitente é o mais

“Rock Story”, da TV Globo, em

comum. Corresponde a apro-

2017, disse em entrevista que sofre

ximadamente 80% da esclerose

de esclerose múltipla desde 2009,

múltipla. São surtos em longos

e admite que não foi fácil aceitar

espaços de tempo, sem cura. “A

a doença. “Quando o paciente

esclerose múltipla não tem cura,

recebe a notícia, é um choque.

mas hoje os recursos terapêuticos

Por isso tem que ter um diag-

estão cada vez maiores. É muito

nóstico muito bem estruturado,

diferente de como era há 15 anos”,

não dá para ser como suspeita.

afirma Taussig.

Tem que ter segurança no diag-

Doença atinge mais pessoas em

nóstico e que ele seja precoce

áreas frias

para dar um tratamento eficaz ao

Não existe uma explicação con-

paciente”, afirma o neurologista

creta, mas estudos apontam que

Roger Taussig Soares. Segundo

pessoas que vivem em regiões

estudos, 35 mil pessoas sofrem

mais frias são mais propensas a

de esclerose múltipla no Brasil,

sofrerem de esclerose múltipla.

e 15 mil delas são atendidas pelo

“No Brasil, isso é bem nítido. A

SUS (Sistema Único de Saúde).

incidência da doença é muito

Mas muita gente tem a doença

baixa na região norte, cerca de

e não sabe disso. “A pessoa tem

5 para cada 100 mil habitantes.

um surto, uma alteração na visão,

Conforme vai descendo, aumenta.

por exemplo. Aquilo recupera e

No Sul chega a 30 para cada 100

o paciente pode passar anos sem

mil”, diz o neurologista Jefferson

outro sintoma. Mas, no primeiro

Becker.


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