Revista Simepe 2011

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Impresso Especial 9912193832/2007-DR/PE

SIMEPE/PE CORREIOS

Informativo Médico Simepe | Sindicato dos Médicos de Pernambuco | Fundado em 14 de outubro de 1931

MÉDICO FORTE É MÉDICO REPRESENTADO. SEJA SÓCIO DO SIMEPE ANO X | No 38 | SET /OUT /NOV 2011

Crise nas maternidades de Pernambuco Sindicato denuncia a situação em busca da melhoria do atendimento e da assistência digna PLANOS DE SAÚDE A briga das operadoras contra os médicos

MOBILIZAÇÃO Médicos conquistam bons resultados



Editorial

Sindicato amplia conquistas dos médicos É com satisfação que apresentamos a revista comemorativa dos 80 anos do Sindicato dos médicos de Pernambuco Simepe. Chegamos a esta idade com muita vitalidade e energia, mantendo a coerência, a sensatez e, sobretudo, a independência, na luta pela defesa classe médica e em prol de uma saúde de qualidade para a nossa população. É dessa maneira, agindo de forma responsável, que conquistamos não apenas o apoio, o reconhecimento e a adesão da categoria médica, mais também o respeito dos gestores públicos e privados diante das nossas justas reivindicações. A sociedade pernambucana, principalmente aquela usuária do SUS, reconhece o nosso empenho e luta pela melhoria dos serviços públicos de saúde. O Simepe vem nesses últimos anos passando por um processo contínuo de melhoramento, na sua estrutura física e administrativa. Aprimoramos nosso canal de comunicação com os médicos, aproveitando as várias ferramentas de mídia disponíveis na atualidade. Reformamos a primeira casa, onde funciona o Departamento Financeiro e o Departamento Jurídico - Defensoria Médica, este ampliado com seis advogados, atuando nas áreas de ética profissional, trabalhista, administrativa, cívil, previdenciária e penal. Com o crescente reconhecimento dos médicos e consequentemente aumento das demandas, necessário foi ampliarmos nossas ações para além da região metropolitana. Chegamos em Caruaru e Petrolina com delegacias regionais, montadas com toda infra estrutura. Nessas regionais estamos acompanhados das demais entidades médicas: Conselho Regional de Medicina - Cremepe e Associação Médica de Pernambuco AMPE.

Através do Probem, firmamos muitas parcerias importantes para os médicos. Podemos citar a parceria com a Unimed Recife, onde os valores estabelecidos para os médicos associados são abaixo dos valores praticados no mercado. A parceria com a rede de cinemas UCI, onde os ingressos vendidos aos associados são mais baratos. Entre outros parceiros interessantes, temos parcerias com curso de línguas, agência de viagens, basta que o médico procure o sindicato e venha desfrutar dos benefícios existentes. Obtivemos muitos ganhos para a classe médica nesses últimos anos. Recentemente saímos de uma negociação vitoriosa com o governo do estado de Pernambuco, onde houve um efetivo ganho salarial que ocorrerá de forma escalonada até 2014 - basta relembrarmos os valores praticados em 2003, o destravamento do PCCV, a implantação da produtividade - que foi reformulada nos percentuais de repasse. Conquistas que são extensivas aos aposentados. Exitosa também a negociação com a Prefeitura do Recife, que acompanha o estado nos percentuais de reajuste salarial no comparativo de dois anos, o plano de cargos, carreira e vencimentos, discussão específica para aprimoramento do programa estratégia de saúde da família. As negociações acontecem de forma simultânea em vários municípios do estado. Na saúde suplementar a Comissão Estadual de Honorários Médicos - CEHM, na luta contra os planos de saúde, vem sendo referência para o restante do país. A negociação com o Sinhospe, visando dissídio coletivo da rede privada de 2011, já vem ocorrendo. A Diretoria DIVULGAÇÃO

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Sumário

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SALETE HALAK

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EDITORIAL Especial 80 anos do Simepe ENTREVISTA Vice-presidente faz balanço dos movimentos NOTAS Simepe amplia atuação MOBILIZAÇÃO Conquista histórica para médicos de Pernmbuco CAPA A crise em maternidades do Estado CARAVANA 2011 Projeto visitou 52 munícípios HISTÓRIA 80 anos de conquistas e vitórias PLANOS DE SAÚDE Movimento nacional ganha força INSEGURANÇA Alerta contra violência

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UNIMED RECIFE 40 anos de fundação DEFENSORIA MÉDICA Conforto em novo espaço de atendimento DENÚNCIA Crianças exploradas com trabalho infantil MÚSICA Maciel Melo comemora sucesso na carreira PERFIL Wilson Freire, médico e cineasta SIMEPE Nas ondas da web MIX Confira os artigos sobre cinema, livros e música ARTIGO A arte de cuidar

EXPEDIENTE INFORMATIVO MÉDICO é uma publicação do Sindicato dos Médicos de Pernambuco – SIMEPE. Av. João de Barros, 587 Boa Vista,CEP: 50100-020 Recife – PE –Central Telefônica: 3316.2400 e-mail: imprensa@simepe.org.br site: www.simepe.org.br Presidente Silvio Rodrigues Vice-Presidente Mário Jorge Secretário Geral Antônio Jordão Diretor de Assuntos Jurídicos Fernando Henrique de S Cabral Diretor Administrativo Tadeu Henrique Pimentel Calheiros Diretor de Assistência ao Associado Cláudia Beatriz Câmara de Andrade Diretor de Comunicação e Marketing Assuero Gomes da Silva Filho Diretor de Relações Interinstitucionais Tilma de Moura Belfort Diretor Financeiro Mário Fernando da Silva Lins Diretor Financeiro adjunto Carlos Japhet da Matta Albuquerque Diretor de Inativos José Tenório

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Diretor para Políticas de Saúde Rafaela Alves Pacheco Diretor de Formação Sindical Adilson da Silva Morato Filho Diretor de Cultura e evento Carla Cristine Andrade Bezerra Diretor de Políticas Saúde Suplementar Maria de Lourdes C. D. de Souza Jornalista responsável: Chico Carlos (DRT-PE 1268) Jornalista: Natália Gadelha Estagiário: Thiago Graf Diagramação e arte final: Luiz Arrais Impressão: Gráfica Centauro Tiragem: 13.000 exemplares *Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião da Diretoria do SIMEPE DISTRIBUIÇÃO GRATUITA – Set 2011 © – 2011 – SIMEPE *É permitida a reprodução parcial ou total desta Revista do SIMEPE, desde que seja previamente autorizado pelo Sindicato dos Médicos de Pernambuco - SIMEPE – e que tenha os devidos créditos conforme a legislação em vigor.

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Entrevista DR. MÁRIO JORGE LOBO

“O cenário é favorável para ampliação das nossas conquistas” O vice-presidente do Simepe, Mário Jorge Lobo, conhece os caminhos do movimento médico e sabe que a luta deve ser constante. De forma direta e objetiva, ele comentou sobre os avanços e conquistas obtidas nos últimos dois anos, além do orgulho de poder representar os médicos em mesas de negociação | Por Chico Carlos NATÁLIA GADELHA

Como o senhor avalia hoje o papel do Simepe que este ano completa 80 anos de fundação no contexto nacional? O Simepe vem desempenhando um papel de destaque no cenário do movimento médico nacional foi através de ações nossas que temas de importância vital para os médicos passaram para a ordem do dia dos debates, temas esses como: a luta contra a terceirização da saúde, a aposentadoria especial dos médicos, a luta pelos vínculos através dos planos de cargos, carreira e vencimentos, e principalmente a valorização dos salários pagos na rede pública. E a gestão no âmbito político-sindical, em quase dois anos de trabalho? Sem um Simepe bem gerido não teremos estrutura de apoio para as conquista político-sindicais que desejamos. Por isso os investimentos em profissionalismo e ampliação de nossos funcionários em diversas áreas (jornalismo, tecnologia da informação, financeiro e administrativo) vêm sendo uma prioridade em nossas gestões, aliado a essa visão temos demonstrado também a preocupação com a satisfação

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MICHEL FILIPE

“Sem um Simepe bem gerido não teremos estrutura de apoio para as conquistas político-sindicais que desejamos” Médicos unidos e mobilizados fazem a diferença

de nossos associados através da entrega da nova sede da defensoria médica e de nossos encontros festivos. Mesa de negociação não é tarefa nada fácil. Muitas vezes a condução transforma-se num impasse, caos, gerando consequências irremediáveis. Existe segredo para fazer a negociação encontrar a luz da objetividade? O segredo, se é que ele existe, encontrase no bom senso na negociação, a radicalização deve ser um instrumento ou para a abertura da mesa de negociação ou em resposta a ela, quando na intransigência de seus medidores, e não uma ação com outros fins alheios aos interesses dos médicos. Por que as negociações das campanhas salariais deste ano obtiveram resultados positivos? Obtiveram pelo reconhecimento por parte dos governos da força dos médicos unidos e pelo entendimento que essa união se dá através de um Sindicato forte, independente, não partidário e competente em suas ações. PCCV, Produtividade, Gratificação, grade salarial, entre outros termos. Como o senhor reage quando lhe

chamam de sindicalista médico? Com orgulho de poder representar os médicos de Pernambuco em defesa de sua dignidade através de seu trabalho. Esses termos e muitos outros hoje fazem parte do vocabulário dos médicos, nos tornando assim uma grande massa de sindicalistas médicos e traduzindo nisso o espírito de unidade que temos em nossa profissão. Qual é sua opinião sobre a relação dos médicos com as empresas de planos de saúde? Essa relação, que hoje é imposta economicamente, é uma aberração de um sistema em processo de falência. O dia em que os honorários médicos voltarem a ser parte da relação médico paciente novamente, voltaremos a ser profissionais liberais de novo, por enquanto estamos trabalhando para essas operadoras como empregados precarizados.

Sim, mais só isso não vai resolver os problemas do SUS nem seu subfinanciamento, porém sem essa regulamentação não estaremos dando ao SUS a sua devida importância e demonstrando aos brasileiros que o Governo Federal realmente se preocupa com a saúde de sua população. Quais são suas expectativas para classe médica em 2012? Em 2012 temos um cenário favorável que nos coloca na perspectiva de ampliação de nossas conquista salariais para mais municípios em nosso Estado, bem como teremos também a implantação de novas leis de produtividade e PCCVs que devem ser fiscalizados e aprimorados e benefícios de todos.

A luta pela regulamentação da Emenda 29 continua sendo prioridade? O senhor acredita que somente através do custeio adequado os problemas mais emergentes da saúde pública serão equacionados?

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Notas

Prefeitos do Sertão e entidades debatem CNES FOTOS: DIVULGAÇÃO

Representantes do Simepe, prefeitos e secretários de saúde de 13 municípios do Sertão do Pajeú , durante audiência pública realizada em Afogados da Ingazeira, alertaram aos promotores de justiça, Lúcio Luiz de Almeida e Leôncio Tavares, que o cumprimento da portaria do Ministério da Saúde n°134 tem acarretado um caos na saúde pública e um colapso nos atendimentos médicos na região. Diante de tal cenário, os promotores decidiram ajustar um prazo de 180 dias para solucionar as pendências e se adequar à Lei. Durante esse prazo, iniciado em maio de 2011, os prefeitos devem criar projetos de leis e enviar às câmaras municipais para criação de cargos necessários e posteriormente a convocação de concurso público.

Médicos denunciam “fartura” no Hospam

Simepe e Prefeitura de Caruaru avançam negociações Após reuniões entre representantes do Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe) e das Secretarias de Saúde e Administração de Caruaru, foi desenvolvido um Projeto de Lei para a criação do Plano de Cargos, Carreiras e Vencimentos (PCCV)

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dos Médicos, bem como uma nova de Lei de Produtividade para a categoria do município. Além desses avanços, também ficou acertado que até o final da 1ª quinzena de outubro, novos encontros devem acontecer, dessa vez para discutir a campanha salarial do biênio 2011 e

2012. De acordo com o vice-presidente do Simepe, Mário Jorge Lobo, após o debate sobre os reajustes na remuneração médica, as propostas serão ser levadas para a próxima assembleia com os médicos vinculados à prefeitura caruaruense. “Esse é o pensamento. Vamos dar continuidade às reuniões e procurar encontrar uma proposta que corresponda às necessidades da categoria”, ressaltou. A AGE com os profissionais da cidade ainda não tem data definida, mas deve ocorrer até o final mês atual.


Médicos da Funase e Hemope incorporados ao PCCV do Estado Os médicos vinculados à Fundação de Atendimento Socioeducativo de Pernambuco e Fundação hemope aderiram à Carreira de Estado exclusiva da categoria, durante assembleia geral, realizada com a categoria, no Simepe. Com a decisão, os médicos da Funase estão enquadrados na grade salarial do Estado. A proposta aprovada por unanimidade pela categoria prevê os mesmos ganhos obtidos pelos médicos com vínculo na rede estadual, na última campanha salarial e de valorização profissional, em 14 de junho deste ano.

Decisão favorável aos médicos sobre o CNES O Desembargador Geraldo Apoliano do Tribunal Regional Federal (TRF) da 5ª Região manteve integralmente a decisão do juiz da 9ª Vara Federal/ PE, Ubiratan de Couto Maurício, que a pedido do Simepe suspendeu os efeitos do §1º do art. 2º e art. 3º da Portaria nº 134/2011, do Ministério da Saúde no Estado de Pernambuco, vedando à exclusão do vínculo público mais antigo do profissional do CNES e o proibindo o limite de vínculos privados, respectivamente.

Sindicato recebe estudantes O Simepe recebeu mais de 50 alunos recém-aprovados no vestibular de medicina da universidade de Pernambuco – UPE. A intenção foi apresentar a história do Sindicato, conscientizar sobre a importância das ações desenvolvidas, além de dar as boas vindas aos futuros profissionais da classe médica.

Entidades Médicas do NE discutem pautas Recife sediou este ano a 9ª edição do Fórum das Entidades Médicas do Nordeste. Representantes dos Conselhos Regionais de Medicina, Sindicatos e Associações Médicas dos nove Estados nordestinos reuniram-se para discutir uma pauta de ação comum regional para a categoria, como meio de unir e fortalecer a categoria em suas reivindicações.

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Mobilização

Conquista histórica dos médicos pernambucanos Médicos do Estado são os primeiros do país com unificação da carreira Por Natália Gadelha

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Conquista e ganhos reais. É assim, que a diretoria do Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe) define o desfecho das negociações da campanha salarial dos médicos vinculados à rede estadual de saúde. Em 14 de junho de 2011, em Assembleia Geral Extraordonária (AGE), realizada no auditório da Associação Médica de Pernambuco (AMPE), a categoria aprovou a proposta focada em três principais pilares: reajuste salarial, destravamento do Plano de Cargos, Carreiras e Vencimentos (PCCV) e nova lei da produtividade. Outro ponto fundamental a ser destacado é a unificação da carreira do Médico. neste ano, todos os médicos do Estado (IRH, Funase, Hemope, médicos civis da Polícia Militar, Junta Médica, SES, UPE) foram enquadrados no PCCV. O reajuste salarial obtido pela categoria em regime de escalonamento


DIVULGAÇÃO

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já foi implantando no mês de julho, com percentual de 10%; os outros percentuais garantidos são de 9% em junho de 2012; 9% em junho de 2013 e 15% em junho de 2014. Portanto, o reajuste escalonado aponta para um ganho de 50,29% no salário base, porém, com o reenquadramento no PCCV obtêm-se percentuais entre 57,30% e 66,29% de aumento, variando de acordo como o tempo de serviço de cada médico. Sem evolução desde sua implantação, o destravamento do PCCV merece destaque nessa conquista. A partir de 2012, o PCCV passará a ter progressão anual para todos os médicos aptos por avaliação de desempenho, brevemente, implantada. O resultado positvo da proposta apresentada aos médicos na AGE foi decorrência do empenho das entidades médicas (Simepe, Cremepe e Ampe) que após cerca de 15 intensas reuniões com os representantes da Secretaria Estadual de Saúde (SES) buscou construir uma pauta diferenciada e com ganhos expressivos, superiores a todos os indices, até hoje conquistados pela

categoria em Pernambuco. O presidente do Simepe, Silvio Rodrigues, chama a atenção para o fato da Campanha Salarial ter sido conduzida de forma pacífica, pautada pelo respeito adquirido pela força da categoria, nos movimentos anteriores. “O Governo do Estado sinalizou o entendimento que o embate com a categoria levaria a um desgaste, no qual, profissionais, gestão e a população seriam atingidos. Evitamos o confronto entre a classe e o Governo e preservamos a população. O sentimento é de reconhecimento do profissional”, explicou. Para o vice-presidente do Simepe, Mário Jorge Lobo, a proposta contemplou vários pontos reivindicados pela categoria, assegurando o reajuste escalonado por quatros anos. “Hoje tivemos uma vitória importante. Os médicos compreenderam e mantiveram bom senso para enxergar os ganhos conquistados nessa proposta”, explicou. A presidente do Cremepe, Helena Carneiro Leão, também concorda que o entendimento entre as partes deve-se ao amadurecimento das campanhas

A força é dos médicos. O sindicato é o instrumento de luta

salariais de anos anteriores. “A proposta foi amplamente discutida com a categoria e apesar de alguns colegas manifesterem insatisfação, conveceu a maioria, em única assembleia, que a proposta é favorável à classe e ofereceu ganhos legítimos”,

Reajuste também para médicos de Olinda Após a realização de algumas assembleias gerais, os médicos vinculados à Prefeitura de Olinda aprovaram em 9 de agosto, a proposta de reajuste salarial encaminhada pela gestão municipal ao Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe). Após fechamento dos valores de reajuste salarial, manteve-se um ponto de desarcordo com a gestão, referente às datas do reajuste, previsto para os meses de janeiro e maio de 2012 , mas após novas negociações, ficou acordado os reajustes para novembro de 2011 e maio de 2012. O diretor do Simepe, Tadeu Calheiros, avaliou que os médicos tiveram ganhos significativos e consideráveis. Ainda de acordo com o diretor, o desfecho das negociações com o município foi bem sucedido. “Desde o Movimento de Valorização dos Médicos de Olinda no ano passado, construímos um relação de dialogo com a gestão municipal. Foram muitas reuniões para adequação do pleito aprovado na campanha salarial de 2010 e construção de proposta viável para categoria”, explicou.

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“Sabemos que temos muito para avançar. Mas é importante destacar que Olinda teve um reajuste no salário base de aproximadamente 200%, em menos de 2 anos, além do enquadramento no PCCV, que já está em vigor, saindo de uma situação de grande defasagem salarial e aproximando-se da equparação. O dialogo entre o Sindicato e a Secretaria de Saúde será constante”, explicou.


Acordo estabelecido com a PCR

A campanha foi pautada pelo respeito obtido pela força da categoria comentou o diretor do Cremepe, André Longo. O Simepe tem publicado em portal www.simepe.org.br, as tabelas com as faixas dos reajustes salariais. Além disso, a diretoria está disponível permanente para esclarecer qualquer eventual dúvida.

A proposta de reajuste salarial e melhores condições de trabalho, estabelecida pelo Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe) e a gestão municipal, foi aprovada pela categoria durante assembleia geral realizada no dia 07 de julho, no auditório da Associação Médica de Pernambuco (AMPE). O vice-presidente do Sindicato dos Médicos (Simepe), Mario Jorge Lobo, apresentou os itens negociados entre a entidade médica e a Prefeitura, que além do reajuste salarial, incluem também, o Plano de Cargos Carreiras e Vencimentos (PCCV) e a lei de produtividade. “A campanha salarial deste ano foi edificada em mesa de negociação com a Secretaria de Saúde do Recife, defendendo ganhos reais para os médicos”, explicou. O reajuste foi contemplado através de escalonamento. Em dez meses, haverá um aumento total de 26,5% na remuneração, divididos em dois períodos, sendo 10%, implementado agora no mês de agosto, e o restante em junho de 2012. O presidente do Simepe, Silvio Rodrigues classificou o desfecho da campanha salarial e de valorização do médico como uma conquista da categoria, uma vez que o acordo foi alcançado de forma pacífica através de negociações. “Esse foi um movimento sem desgastes. Fizemos uma única mobilização e paralisamos por 24 horas os serviços eletivos, com o objetivo de advertir a Prefeitura das necessidades referentes à saúde e sobre os pleitos de uma proposta viável que dignificasse o trabalho do médico”, justificou. A diretoria do Sindicato acredita que os médicos estão ganhando respeito, através da força e do comprometimento em valorizar o trabalho e os serviços prestados à população. Os planos de melhorias das condições de trabalho e das estruturas físicas nas unidades de saúde serão acompanhados de perto pelo Simepe. Na opinião da presidente do Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe), Helena Carneiro Leão, a proposta foi positiva dentro da perspectiva da realidade do País, com ganhos reais e significativos para a categoria. “A aprovação de hoje, sem dúvidas, foi um avanço”, pontuou.

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Capa

Maternidades de Pernambuco em situação de emergência O problema poderá tomar proporções alarmantes nos próximos meses, se não forem tomadas providências | Por Natália Gadelha

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Nos últimos anos, o estado de Pernambuco tem vivido grave crise nas maternidades acompanhando uma problemática nacional. A falta de leitos e a escassez de recursos humanos são a ponta do iceberg, pois o desinteresse dos profissionais pelas residências nas especialidades de obstetrícia e neonatologia, indica que o problema poderá tomar proporções ainda maiores num futuro breve. O cenário é difícil com a superlotação das maternidades da capital e equipes médicas incompletas. Os profissionais que lidam diariamente com o sofrimento gerado num momento de dor física, de alegria e medo, tem compartilhado dessa situação com as pacientes que são vítimas da falta de atenção, de uma política de saúde materno-infantil ao longo destes anos. É grande o desafio para vencer tantos obstáculos. Não raro os médicos se deparam com reações grosseiras e agressivas, como se ele próprio fosse o responsável pela situação. Inúmeras denúncias e queixas sobre essas condições de trabalho chegam ao Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe).


Opinião

A diretora do Simepe, Cláudia Beatriz, chama atenção e aponta que boa parte da superlotação nas maternidades da Região Metropolitana do Recife (RMR), por exemplo, deve-se à falta de compromisso em regionalizar os serviços e de um plano de interiorização dos profissionais. O médico obstetra Edmundo Magalhães, que está há 16 meses na Maternidade Fernando Salsa, no município de Limoeiro, há 77 km da capital Recife, sente na pele o sofrimento de ver pacientes sendo transferidos para outros municípios por falta de equipe. “Eu venho à maternidade, quero trabalhar, mas não tem anestesista e nem neonatologistas. O serviço fica fechado”, explicou. Ainda de acordo com o médico, o sentimento é de desconforto. Para a diretora do Simepe e também médica obstetra, Claúdia Beatriz, é difícil aceitar o que ocorre hoje com a assistência materno-infantil. “As mulheres cidadãs deste Estado vivem uma verdadeira via crucis para darem à luz os seus filhos, realizam verdadeira peregrinação de serviço em serviço até encontrarem uma vaga; nem que sejam sentadas em cadeiras desconfortáveis, pois é isto que muitas vezes se tem a oferecer”, desabafou. Essa discussão em torno das maternidades do Estado já vem sendo tratada em audiências públicas no

As mulheres de Pernambuco vivem uma real via crucis para darem à luz os seus filhos Ministério Público juntamente com os representantes das entidades médicas (Cremepe e Simepe) e dos órgãos responsáveis pelas unidades de saúde do serviço público. Durante esses encontros tem se falado muito sobre a construção de novas unidades como solução para o problema, mas na opinião do diretor do Simepe, Tadeu Calheiros, que também integra a comissão que busca melhorias para os serviços das maternidades, acredita que é preciso focar a necessidade de recursos humanos. “É fundamental que haja médicos e equipes completas. É premente a necessidade de uma política de estímulo à interiorização que deverá ser pensada com urgência pelas três esferas de entes federados (federal, estadual e municipal)”, argumentou. A categoria médica tem se mobilizado ao longo deste período, realizando denúncias aos órgãos

“É frustrante e emocionalmente desgastante não poder dar a assistência necessária aos pacientes por problemas como superlotação, insuficiência de leitos e de profissionais de saúde, falta de equipamentos adequados, exames e até de medicamentos. Muitas vezes, nós profissionais levamos para fora do ambiente de trabalho o estresse decorrente disso.” Manuela Abreu e Lima, pediatra neonatologista.

“Acredito que o principal motivo seja a falta de preparo e de planejamento das autoridades na organização do atendimento materno-infantil. Cada município deveria ser responsável pela assistência ás suas gestantes, o que ocorre na prática por exemplo são pacientes de Pesqueira sendo encaminhadas para Vitória, pacientes de baixo risco de Recife transferidas para o interior. Além disso faltam maternidades de alto risco no interior, logo há superlotação na capital. Cláudia Vieira, obstetra. Será a escolha de ser mãe o maior pecado da humanidade? E por isso a mulher deverá ser punida; ter os sinais de trabalho de parto com contrações dolorosas? Fazer estas mulheres

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Cláudia Beatriz, diretora do Simepe

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penarem pelo mundo afora em busca de um leito onde possam dar a luz é sobrepor às dores físicas um enorme sofrimento emocional ; é tornar punitivo o ato maternal de gerar novos seres. Numa luta sobre-humana de conquista da cidadania, as mulheres pernambucanas vem sendo penalizadas na sua condição de mulher/mãe. Não basta falar e dar direito através de atos e leis; porém é necessário oferecer condições de PODER. Qual poder tem sido ofertado a estas mulheres no momento do seu parto? Já é lei o direito ao parto humanizado e com acompanhante escolhido pela gestante; como exercê-lo se nem leitos na maternidade têm disponíveis para estas criaturas? Aonde encontrar analgesia para conforto das dores? Talvez estas tenham que fazer uma longa viagem para poder “descansar”. Será que este sofrimento será esquecido junto às dores do parto? Talvez até seja, desde que não deixem sequelas. Como se conhece RN órfãos ou puérperas sem seus bebês, ou pior ainda, famílias sem os dois com certeza as dores físicas serão facilmente esquecidas, já as dores do luto, não. Hoje, a dificuldade de leitos maternos e neonatais está produzindo conceitos distorcidos, lugares tidos como “nascedouros” tornando-se potenciais “matadouros” não só de vidas, mas matadouros da felicidade, da satisfação, da segurança e do alivio a dor. Até quando? Em pleno século XXI, Era do avanço tecnológico e de uma “democracia participativa”, quando temos a 1ª mulher eleita Presidenta da República Brasileira; onde a emancipação politica – social da mulher está numa curva de crescimento, voltamos ao marco zero da geração de Cristo, 2011 anos atrás quando Maria deu à luz a Jesus numa gruta e o colocou numa manjedoura. É inconcebível mulheres deitadas sobre lençóis no chão de uma maternidade por superlotações dos serviços. Não se pode perpetuar um País de álcool, carnaval e futebol; é preciso priorizar o que é mais importante: a vida.

Médicos estão preocupados com a crise materno-infantil

competentes e Conselhos de Saúde onde tem inserção, em busca de fortalecer esses fatos junto à opinião pública, da sociedade civil organizada. O desejo é que num breve espaço de tempo os gestores, representantes eleitos pelo povo, possam como executores, unir as forças das esferas federativas e construir uma rede materno infantil regionalizada e hierarquizada com boa estrutura física e recursos humanos qualificados e bem dimensionado para capacidade instalada. Está nas mãos da gestão, o concurso público, incentivo à interiorização, desafogar os centros de referência em alto risco, que hoje são instituições de prática de ensino e formação, para que se proporcione ambientes prazerosos e seguros de trabalho. O Sindicato continuará fiscalizando e denunciando situações como essas,

tendo como bandeira de luta, a melhoria da qualidade dos serviços materno-infantis e da prestação digna do atendimento. O Simepe é solidário com os especialistas desta área (Neo/ Obstetras) que atendem pelo serviço público, sabedor das dificuldades que estes profissionais enfrentam no dia a dia.


UNICRED RECIFE A Unicred Recife completa sua maioridade com muito a comemorar e a oferecer à classe dos profissionais da saúde, especialmente aos médicos e médicas pernambucanas. Uma cooperativa de crédito que se destaca no cenário das instituições financeiras e que atualmente já passa dos R$ 100.000.000,00 (cem milhões) de PL, permite retribuir ao cooperado investidor rentabilidade acima do mercado financeiro em aplicações ortodoxas e ao tomador juros abaixo dos praticados por esse mercado, além de linhas especiais de crédito como consignado estadual e federal. Mais que tudo, nossa cooperativa está sintonizada com os anseios da classe médica e é uma parceira para todas as horas. Parabéns ao Sindicato dos Médicos de Pernambuco, um jovem de 80 anos sempre engajado, sempre lutando. Floriano Quintas Diretor presidente da Unicred Recife

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Caravana 2011

Realidade sertaneja sob a luz da razão

Até aqui viajamos juntos nessa sétima edição da Caravana Cremepe/Simepe | Por Chico Carlos Pelos retrovisores de nossos microônibus passaram vilas, cidades, rios, riachos, lagoas, montanhas e matas. Foram grandes obstáculos. Todos superados graças a Deus. Constantes foram as subidas e descidas. Juntos, percorremos retas e, enfrentamos buracos. As estradas são de péssima qualidade e nós tivemos muita dificuldade de acesso. Isso torna o transporte de pacientes muito difícil e complicado como acontece frequentemente. Sofremos sacolejos,

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nos apoiamos nas curvas, descobrimos cidades, conhecemos pessoas – crianças, adolescentes, adultos e idosos. Vimos nossa gente sertaneja. Mulheres que, na entressafra assumem o compromisso de ser mãe e pai. Passam dias e contam as horas para chegada de seus maridos. Vimos a luta de um povo que sonha em dias melhores no Sertão do Pajeú. Vimos o sofrimento e a miséria social dessa gente que, apesar de tudo, inicia uma escalada de superação.

REALIDADE CRUEL Percorremos 52 municípios do Sertão pernambucano e constatamos uma série de problemas que afligem diariamente a vida da população do interior do Estado. O balanço geral da Caravana, que foi divulgado (29/08) pelo Conselho Regional de Medicina e Sindicato dos Médicos de Pernambuco, mostra essa realidade cruel. Cerca de 9 mil pessoas foram questionadas acerca da qualidade de vida nos municípios e a média das respostas foi 5,4 – em uma escala de zero a dez. Os 40 integrantes da Caravana encontraram hospitais,


FOTOS: SALETE HALAK

Caravaneiros realizaram mais um trabalho com sucesso no Sertão

PSFs e postos de saúde em precárias condições, falta de água e coleta de lixo, estradas ruins, violência e o uso disseminado de drogas, principalmente do crack. O que chamou mais atenção dos caravaneiros foi a ociosidade dos serviços municipais de saúde. Lamentavelmente faltam médicos e outros profissionais de saúde, e uma política pública que garanta uma carreira SUS e que estimule a fixação desses profissionais nos municípios mais afastados da capital. Gestores públicos precisam arregaçar as mangas antes que seja tarde. NOVO RUMO EM 2012

Todos os dados coletados pelos caravaneiros farão parte de um relatório, que está sendo produzido e será disponibilizado aos cidadãos pernambucanos e gestores públicos. A sétima edição da Caravana percorreu todo o interior do Estado e, nesse perfil, chegou ao fim. A partir de 2012, ela percorrerá comunidades carentes do Recife e coletará informações da população. Uma nova história a ser produzida. Agora cada caravaneiro seguiu viagem sozinho. Que as experiências compartilhadas no percurso até aqui sejam a alavanca para alcançarmos a alegria de chegar aos nossos objetivos

de vida. A nossa saudade e a nossa esperança de um reencontro breve. Nossos agradecimentos àqueles que, sempre presentes, nos quiseram bem e nos apoiaram em todos os momentos. Brincamos, cantamos e sorrimos juntos. Compartilhamos sonhos e pensamentos, vivemos a vida. Obrigado gente! Pode ter certeza: Amanhã, será um outro dia e muito melhor! Vamos dividir para somar melhor os méritos desta Caravana vitoriosa, porque ela também pertence a todos (as) vocês. Uma despedida é necessária antes de podermos nos encontrar outra vez. Que nossas despedidas sejam um eterno reencontro. Se, a vida é bela... Só nos resta viver e ser feliz com dignidade.

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História

Um ano de sucessos

O Zepellin atracava no Recife em seu primeiro vôo ao Brasil vindo da Alemanha. O Ciclo de Cinema do Recife (1923 a 1931) findava com o filme No Cenário da Vida. Surge o grupo teatral Grupo Gente Nossa do Recife que irá produzir até 1931. Surge um novo alento à sensação de decadência desta arte no Brasil, focando principalmente na cultura regional, liderado pelo teatrólogo Samuel Barreto Campelo. O psiquiatra Ulysses Pernambucano ocupava a direção do Asylo da Tamarineira e já em 1933 seria presidente do Sindicato dos Médicos de Pernambuco. Lançou-se em janeiro desse ano de 1931 a Revista Médica de Pernambuco, com 48 páginas, papel acetinado e capa tipo cartolina, com artigos e trabalhos inéditos dos médicos João Alfredo, Jorge Lobo, Agenor Bonfim, José Guilherme e Martiniano Fernandes. O Náutico vencia o Israelita por 12 X 0, o Torres goleava o Íris (não Íbis) também de 12 a 0, o Sport dava de 10 a 0 no Arruda (não o Santa Cruz), o América goleou o Israelita de 10 a 0 e o Santa Cruz também goleou o Israelita de 10 a 0. Como não poderia deixar de ser, o Tricolor do Arruda foi campeão nesse ano. O Rotary Club do Recife é fundado no dia 8 de abril em reunião inaugural nos salões do Hotel Central,

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O Graff Zeppellin sobrevoa o centro do Recife

sendo seu primeiro presidente o Dr. José Bezerra Filho. FATOS MARCANTES Cícero Dias expõe seu painel Eu vi o Mundo...ele começava no Recife (abaixo), de 15m X 2,50 m na Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro. O painel causa polêmica e tem três metros cortados por vândalos. Nasce Luiz Mendonça, consagrado dramaturgo brasileiro. Os Congregados Marianos, em pleno Estado Novo, reivindicavam o “poder” perdido dos católicos e em seus retiros doutrinavam contra a Maçonaria,

evangélicos e judeus. D. Helder é ordenado padre com apenas 22 anos, com permissão de Roma. Frei Damião aportava no Recife. Em plena ditadura do Estado Novo, sob a mão de ferro de Getúlio Vargas, tendo como interventor estadual Carlos de Lima Cavalcanti e Antônio de Góis Cavalcanti como prefeito da cidade, nascia essa entidade, maior baluarte na defesa dos ideais de liberdade e dignidade da classe médica de Pernambuco. RECESSÃO ECONÔMICA

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No ano de 1931 era fundado o Sindicato dos Médicos de Pernambuco tendo como primeiro presidente o prof. João Marques | Por Assuero Gomes e Chico Carlos


e crises No Governo de Vargas houve crises e respostas a estas crises, com retração da economia entre 1929 e 1932, sendo que em 1931, pior ano da recessão, ocorreu a primeira suspensão dos pagamentos da dívida externa e a adoção do monopólio cambial do Banco do Brasil, como reflexo da escassez de divisas externas. Foi implementado um controle para a distribuição do câmbio, levando em conta uma ordem decrescente de prioridades, que começava pelas compras oficiais, seguidas do serviço da dívida pública, das importações essenciais e de outras remessas, incluindo lucros e dividendos e atrasados comerciais. Os ditadores passam, as boas obras ficam e rendem bons frutos. Foi assim, em meio a tantos e diversos acontecimentos que às 20 horas do dia 14 de outubro de 1931, partindo de uma comissão formada na Associação Médica de PE, um grupo de 33 médicos liderados pelos médicos – Barros Lima, Edgar Altino, Ageu Magalhães, Geraldo de Andrade e Jorge Lobo - fundaram o Sindicato dos Médicos de Pernambuco, tendo como seu primeiro presidente o professor João Marques. TRANSFORMAÇÃO E CRESCIMENTO Em meados de 1980, após a ebulição do movimento médico, o Simepe voltava ao cenário médico sindical com outra postura. O sistema de comando passou de presidencialista para coordenativo.

Em 1993, a Junta Governativa assumiu o Sindicato e enfrentou uma série de dificuldades. No ano de 1994, houve uma nova transformação políticasindical. Determinante, na reviravolta do Simepe, foi sua independência politico-partidária, deixando de lado os interesses individuais para pugnar com altivez, compromisso e garra contra o aviltamento da atividade do médico e da medicina. O Simepe cresceu e ampliou suas bases. Chegamos em 2011. A publicação desta revista representa um marco relevante para o Sindicato dos Médicos de Pernambuco que já escreveu belas e históricas páginas, fazendo jus à sua grandiosidade enquanto entidade médica-sindical. De fato: em plena ditadura militar, alcançou vitórias importantes com determinação em movimentos de greves e paralisações; acompanhou e opinou sobre as mudanças do mercado de trabalho médico; encampou o Movimento Pela Dignidade Médica; ampliou seus quadro de associados nos últimos anos;

Em plena ditadura militar, o Simepe alcançou vitórias importantes com determinação em movimentos de greves e paralisações lançou campanhas de interesses da sociedade civil organizada; fortaleceu a Defensoria Médica. Porém, é preciso continuar trabalhando, avançando e intensificando a luta sindical e conquistar novos espaços. Vida longa ao Simepe!

OUTROS EVENTOS DE 1931 8 de fevereiro - Nasce em Marion, Indiana, nos Estados Unidos, James Dean, tornado um ídolo do cinema e a personificação da rebeldia para muitas gerações de adolescentes após ter sofrido um acidente fatal, com apenas 24 anos no seu Porsche prateado. 18 de junho - Nasce no Rio de Janeiro, Fernando Henrique Cardoso, político e Presidente da República entre 1995 e 2003. 12 de outubro - A estátua do Cristo Redentor (foto) é inaugurada no Corcovado, no Rio de Janeiro.

Jorge Amado lança seu primeiro romance, O país do Carnaval. Espanha e Portugal fazem um acordo e é abolido a necessidade de passaporte entre os dois países. 18 de outubro - Morre Thomas Alva Edison, o mais prolífero inventor na história americana, tendo registado 1093 patentes, desde a luz elétrica às telecomunicações, som, filmes ou baterias.

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Mobilização REPRODUÇÃO

Médicos, planos de saúde e CBHPM A famigerada indústria dos planos em vez de resolver os problemas da saúde, partiu para uma verdadeira corrida-do-ouro | Por Mario Fernando Lins

Finalmente os médicos brasileiros decidiram lutar pelo que é seu de direito: os honorários que, na sua essência, tem como definição: o que honra a quem o recebe. Desde tempos imemoriais se recompensa aquele que trabalha diuturnamente mitigando as dores do corpo e da alma, sob as mais variadas formas, porém sempre preservando a dignidade e a honradez do profissional. Nas últimas décadas do século passado, houve um momento em que um grupo, desprovido de qualquer propósito ético, vislumbrou a oportunidade de ganhar muito dinheiro através da exploração de uma mão de obra extremamente qualificada e potencialmente barata: o médico. Nascia a famigerada indústria dos planos de saúde que trazia no seu bojo a panaceia que resolveria todos os problemas que a saúde pública não conseguia abranger. A partir de então o que se viu foi uma verdadeira corrida-doouro. O número de empresas, que se propunham a cuidar da saúde de uma população carente por serviços de saúde pública de qualidade, explodiu. Os mais mirabolantes tratamentos e meios de atendimento foram divulgados exaustivamente aos extasiados expectadores. Eram UTIs do Ar, helicópteros e ambulâncias de filme americano, profissionais solícitos e sorridentes em anúncios de revistas e jornais. Seriados na televisão reforçavam, de forma subliminar, as maravilhas da medicina privada, como se tudo aquilo fosse um direito

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inalienável e barato, acessível a todos os cidadãos. Mas a verdade é que não existe almoço grátis, aquilo tudo tinha um preço, e a parte a ser explorada e chamada para arcar com as despesas foi aquela que inicialmente fora cooptada através de artifícios e subterfúgios extremamente ardilosos: remuneração justa, tratamento elegante e diferenciado, pleitos prontamente atendidos, tudo dentro dos padrões condizentes com o que se disponibiliza aos incautos na ante-sala do inferno. Em declaração recente o preposto de um desses grupos declarou em alto e bom som: “realmente, os honorários médicos representavam sessenta e quarto por cento das nossas planilhas de despesas. Hoje não chega a dezessete por cento”. Também recentemente foi divulgado na imprensa a história de um colega cirurgião o qual foi chamado pela Receita Federal para dar explicações: o seu livro-caixa tinha valores maiores no quesito ‘despesas’, do que aqueles recebidos dos planos de saúde. Sem dificuldades comprovou o que havia declarado, realmente estava no prejuízo. Nas suas palavras: “Isso ocorre pela remuneração dos planos de saúde, que pagam um valor insignificante que não cobre as despesas médicas. Por isso deixei de atender planos da Abramge”. A Associação Brasileira de Medicina de Grupo – Abramge é responsável pelo atendimento de cerca de trinta e quarto por cento dos beneficiários dos planos de saúde, em um universo

de cerca de 46,6 milhões de pessoas que desembolsaram a fábula de 72,7 bilhões de reais somente em 2010, conforme relatório trimestral 2011 da Agência de Saúde Suplementar – ANS. Em agosto de 2003, após um extenso e detalhado estudo executado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas – FIPE, as entidades médicas – Associação Médica Brasileira – AMB, Conselho Federal de Medicina – CFM e a Federação Nacional dos Médicos – Fenam, disponibilizaram a primeira edição da Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos – CBHPM. Instrumento ético que passou a balizar as negociações com as operadoras de planos e seguros de saúde em todo o País. A CBHPM, em respeito às dimensões continentais e diferenças regionais brasileiras, se adequou de forma a permitir uma variável de menos vinte a mais vinte por cento da sua banda média. Fator que permite uma ampla margem para negociação dos honorários médicos. Existem hoje quatro segmentos que são passíveis de utilizar a CBHPM: Gremes/Unidas – Empresas de Auto-Gestão; Cooperativas


de Trabalho Médico – Unimeds; FenaSaúde – Seguradoras e a Abramge, único segmento que resiste de forma arbitrária e predatória no sentido de reconhecer o valor do trabalho médico. Como exemplo: o congelamento do valor das consultas entre 2004 e 2011 pela Medial/Saúde Excelsior. Considerando que no período de 2000 a 2010 os índices inflacionários foram da ordem de 116 %, e, permitido às operadoras um aumento de 136% no mesmo átimo temporal; considerando que, para cada um por cento de reajuste, as operadoras podem repassar aos seus prestadores um percentual bem maior - cerca de 5%, para cada 1%, fica claro o motivo do brutal desequilíbrio aqui mencionado. Em Pernambuco, a Abramge é representada pela Amil, Medial, Saúde Excelsior, Hapvida, Santa Clara, Santa Helena, Ops, Ideal Saúde, Golden Cross, Real Saúde, Viva Saúde, Samaritano e América. O Sindicato dos Médicos de Pernambuco ajuizou contra a Amil/ Medial uma Ação Civil Pública Trabalhista por desequilíbrio econômico-financeiro, seguido por

Os médicos resolveram protestar contra a servidão imposta por alguns contra muitos

por alguns contra muitos. Não existe a possibilidade de uma operadora de saúde prescindir da figura do médico. Tal qual um elefante atado a um pé de alface, ele é subjugado porque assim o permite. Passou da hora! Médico, toma o que é teu, ocupa o teu lugar!

outros estados que adotaram o mesmo procedimento. Campanha publicitária de esclarecimento à população e enfrentamento aos planos de saúde foi veiculada nas ruas e meios de comunicação do Estado. Em nível nacional foi relizada a paralisação de um dia a planos previamente escolhidos pelos médicos em cada estado da união. Esse quadro retrata que finalmente os médicos resolveram protestar contra a servidão imposta

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Mobilização

Violência crescente contra os médicos Trabalhar sob pressão e ameaças de agressão é uma situação completamente arbitrária. Infelizmente, alguns casos de violência em unidades de saúde foram registrados neste ano em Pernambuco. O médico Paulino Vegetti Neto, 53 anos e o vigilante Márcio Roberto da Rocha Brasil, 33 anos que trabalhavam no plantão noturno da Unidade Mista de Saúde Claudina Teixeira, na cidade de Jupi, a 204 quilômentros do Recife, no Agreste do estado, foram baleados na recepção da unidade de saúde, por um homem não identificado que chegou numa moto logo atirando. O vigilante passou alguns dias internado em estado grave no Hospital Regional Dom Moura, em Garanhuns e o médico escapou ao fingir-se de morto. O caso trouxe de volta uma questão que há tempos as entidades médicas de Pernambuco vêm alertando aos órgãos competentes: segurança e condições de trabalho. Diante da ocorrência, os presidentes do Cremepe e do Simepe, Helena Carneiro Leão e Silvio Rodrigues, respectivamente, solicitaram providências à secretaria de Defesa Social (SDS), à Secretaria Estadual de Saúde (SES) e à Prefeitura de Jupi. “Casos de ameaças, intimidações e agressões são comuns contra profissionais nas unidades de saúde no estado de Pernambuco. A superlotação e as escalas incompletas transformaram as emergências em locais de insatisfação permanente”, frisou Silvio Rodrigues. “A Polícia Militar estava sem viatura; já a Polícia Civil não funciona nos fins de semana naquele município. Desejamos reforço policial nas unidades hospitalares “, completou Helena Carneiro Leão, se referindo ao descaso com a segurança. O secretário de Defesa Social, Wilson Damázio, durante reunião

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DIVULGAÇÃO

Entidades entram em alerta por conta da crescente insegurança em unidades de saúde em Pernambuco | Por Natália Gadelha

Entidades médicas cobraram mais segurança à Secretaria de Defesa Social

com os representantes das instituições médicas, garantiu que um planejamento operacional será montado em conjunto com as polícias Civil e Militar para garantir a segurança dos profissionais de saúde em seu local de trabalho. “Vamos ampliar a presença física dos policiais nas principais unidades hospitalares do Estado, principalmente nas emergências. Já determinei providências ao comandante da PMPE nesse sentido e, a ampliação e reforço no policiamento, acontecerá de acordo com o que nos for repassado pelas entidades”, explicou o secretário. O presidente do Simepe, Silvio Rodrigues, ressaltou a importância da reunião com a SDS e seus Órgãos Operativos. “Na ocasião solicitamos ações a curto, médio e longo prazo. Em curto prazo vamos divulgar para as unidades de saúde, não só estaduais como também municipais, telefones das polícias Civil e Militar onde em qualquer ocorrência o policial possa

chegar mais rápido no local”, adiantou. Também participaram da reunião o secretário Executivo de Defesa Social, Alessandro Carvalho de Matos; o Chefe da Polícia Civil, Manoel Carneiro; o vice-presidente do Cremepe, José Carlos Alencar e o diretor do Simepe, José Tenório.


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Unimed Recife

40 anos de olho no futuro Hoje, nosso atendimento é referência de qualidade dentre a população pernambucana e dentre a própria classe médica

Completamos 40 anos de fundação e desde sempre temos um olhar no futuro. Conseguir crescer num mercado de trabalho tão competitivo como é a saúde suplementar, com suas nuances, percalços e desafios, é extremamente difícil. Várias forças interagem para que essa dificuldade aumente a cada dia, e para que os desafios se tornem imensos. Mas tudo isso torna estimulante o nosso trabalho, pois com dedicação, austeridade e transparência democrática, estamos mostrando que crescer é possível, e oferecer aos médicos e médicas do nosso Estado um local onde possa exercer sua nobre profissão de maneira ética e segura, além de proporcionar aos nossos clientes uma medicina de vanguarda, humanizada e acessível. São mais de 2000 colegas médicos,

mais de 180.000 usuários, 1200 colaboradores. Geramos de maneira direta e indireta milhares de empregos e tudo que produzimos em termos de saúde e prosperidade é investido em Pernambuco. Contamos com uma rede de cooperados muito grande, uma outra credenciada de serviços e hospitalar importante, e o nosso patrimônio próprio que conta com dois grandes hospitais e um terceiro em vias de inauguração no coração do centro médico de Recife, o segundo pólo de saúde do país, referência nacional, além de centros médicos em Olinda, Vitória de Santo Antão, Porto de Galinhas, Cabo, atendimento diferenciado no coração do porto de Suape e sempre crescendo, sempre pensando no futuro. A Unimed Recife se orgulha de DIVULGAÇÃO

parcerias como a do Sindicato dos Médicos de PE que completa 80 anos sob a presidência do pediatra Dr. Sílvio Rodrigues, com a Associação Médica de PE e seus 170 anos na pessoa da Dra. Jane Lemos, com o relacionamento ético e afetivo com o Conselho Regional de PE e sua presidente Dra. Helena Carneiro Leão. Hoje nosso atendimento é referência de qualidade dentre a população de Pernambuco e dentre a própria classe médica. Estamos cientes da responsabilidade social que emana do cooperativismo. Prestamos assistência médica, odontológica e psicológica a todas as crianças e adolescentes da Orquestra Criança Cidadã, estamos em vias de ditar o nosso segundo livro sobre a infância e cidadania, intitulado “Criança Cidadã – Compromisso com a Esperança”, estamos efetivamente engajados com os Objetivos do Milênio (ODMs) da ONU na promoção da saúde e da justiça social, a Unimed Recife pratica a gestão de empresa politicamente correta: não empregamos crianças nem compramos de nenhuma empresa que as explore, nem que polua o meio ambiente, nem que sonegue impostos. No quadro de nossos colaboradores existem pessoas com necessidades especiais altamente capazes e participamos dos programas de governo de formação para o trabalho. Estamos com quarenta anos de vida, é como se começássemos a cada dia, com um plhar para o futuro. Dra. Maria de Lourdes C. Araújo Presidente da Unimed Recife

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Mudança

Simepe inaugura novo espaço para Defensoria Médica No ano de seus 80 anos, o Sindicato avança mais para valorizar a classe médica pernambucana | Por Natália Gadelha Após quatro intensos meses de reforma, foi inaugurado no dia 15 de abril, o novo espaço para a Defensoria Médica do Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe) com o objetivo de oferecer mais conforto e modernidade aos médicos. O presidente do Simepe, Silvio Rodrigues, parabenizou os funcionários e os envolvidos na obra pela dedicação e paciência durante o período da reforma. Em seu discurso, revelou que essa nova estrutura é uma conquista da categoria. “A reforma e a valorização da Defensoria Médica sempre foram algumas das prioridades dessa diretoria. Queremos que o médico sinta-se em casa”, disse. O presidente da Fenam, Cid Carvalhaes, participou da cerimônia de inauguração e felicitou os médicos do Estado, pela força sempre presente no movimento sindical e pela valorização da categoria. “O Simepe está constantemente em evolução”, reforçou. Elogiou ainda o trabalho

desenvolvido pelo engenheiro Marcelo Tabosa e pelo arquiteto André Caríssio. Em seguida, o presidente do Simepe cumpriu o ato de descerramento da placa de inauguração. Após as formalidades, foi servido um coquetel aos presentes. DEFENSORIA MÉDICA O setor foi criado em 2002, dia 27 de setembro, na gestão do presidente André Longo. Hoje, nove anos depois, a Defensoria Médica (DM) possui uma equipe composta por seis profissionais atendendo nas áreas de Direito Administrativo, Direito Civil (relativo à atividade médica), Direito Criminal, Direito Ético Profissional (Cremepe), Direito Previdenciário e Direito Trabalhista. A DM cresceu paralelamente ao próprio Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe), de forma objetiva a atender às demandas dos seus associados.

Advogados: Diógenes Junior; Élio Wanderley Siqueira; Luiz Dias; Ricardo Santos; Rodrigo Machado; Vinicius Calado Equipe Logística: Waléria Prado; Eduarda Menezes

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Denúncia

Crianças que carregam nos ombros a dor do mundo O trabalho infantil concentra-se em atividades no regime de economia familiar. A legislação é sempre desrespeitada | Por Anna Maria Salustiano* As queimaduras, os cortes, a falta de habilidade com os equipamentos que manuseia, a fragilidade natural e a falta de visão lateral criam cicatrizes duradouras no corpo e na mente das crianças que trabalham. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) revela que no mundo existem 215 milhões de crianças acumulando responsabilidade de gente grande. Mesmo a Constituição Federal anunciando proteção aos direitos infanto-juvenis, no artigo 227, em nosso incompreensível Brasil existem aproximadamente 5 milhões de menores de idade sendo explorados em atividades proibidas pela legislação. Por minuto um “pequeno trabalhador” sofre um acidente, contrai uma doença ou alimenta um trauma psicológico. Um dos efeitos perversos desse panorama refere-se às exposições a ambientes insalubres e ao trabalho perigoso que, além de prejudicar o desenvolvimento saudável dos jovens, interfere em suas relações sociais. O coordenador do Programa para Eliminação do Trabalho Infantil da OIT Renato Mendes sublinha “Além disso, a pele da criança é mais fina, facilitando intoxicações ou mesmo queimaduras”. Segundo Mendes a exploração da mão de obra infantil não é apenas um problema educacional é também de saúde pública. “As crianças se tornarão adultos doentes, o que consequentemente, impactará na Previdência Social. O Brasil não está preparado para enfrentar essa questão”, destaca. Os pequenos trabalhadores exercem atividade em casas, na agricultura, no comércio e nas carvoarias, nesse último, alguns Estados brasileiros estão no ranking da ilegalidade como:

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Mato Grosso do Sul, Pará, Goiás, Mato Grosso e Tocantins. Nas minas, as crianças transportam a lenha, queimam, esperam o material esfriar e retiram o carvão de fornos que atingem uma média de 70 graus. O trabalho infantil concentra-se em atividades do regime da economia familiar. E para tentar minimizar a

exploração da mão de obra, que se caracteriza pelo baixo valor de mercado, fragilidade e situação financeira das famílias urbanas e rurais, sobretudo, nos últimos anos foram criados: o Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil e Proteção do Trabalhador Adolescente, a implantação pelo Ministério do Desenvolvimento


Social e Combate à Fome do programa de transferência de renda intitulado Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti). Além da elaboração de um plano nacional para a erradicação do trabalho infantil pela Comissão Nacional para Erradicação do Trabalho Infantil (Conaeti), coordenada pelo Ministério do Trabalho. LEGISLAÇÃO BRASILEIRA No Brasil, ainda se destaca a Lei n.º 8.069/90 que corresponde ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Os dispositivos do Estatuto explicitam a proteção integral aos menores de idade. O artigo 5º do ECA assegura que nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração,

A legislação brasileira proíbe todo trabalho a quem tem menos de 14 anos violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais. A legislação brasileira proíbe qualquer trabalho a quem tem menos de 14 anos. Acima dessa idade o jovem deve trabalhar apenas, na condição de aprendiz. Passou dos 16 anos o REPRODUÇÃO

5 milhões de menores de idade são explorados no Brasil

trabalho é autorizado, porém não pode ser à noite, em condição de perigo ou insalubridade. O jovem também não deve ter o rendimento escolar comprometido. É importante uma ressalva, se o adolescente tem mais de 16 anos e trabalha sem carteira assinada, ele contabiliza e entra na estatística do trabalho infantil e ilegal. Uma Pesquisa por Amostra de Domicílio *(PNAD) revelou que quase 90% dos jovens de 16 e 17 anos que estavam em algum emprego ou como trabalhadores domésticos, não tinham carteira de trabalho assinada e aproximadamente 46% cumpriam jornada de trabalho de 40 horas semanais ou mais. Cientistas colocam que o trabalho infantil no país adquire robustez devido à falta de escolas públicas de qualidade até integração social mediante ações culturais e esportivas. Um dos fatores como a pobreza é determinante para o fortalecimento do trabalho infantil. A Conaeti destaca na maioria dos documentos que a articulação de políticas públicas pode se voltar ao combate à pobreza minimizando ou extinguindo o problema. * Jornalista. Pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2007.

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Perfil

Caboclo sonhador de nosso tempo

Próximo aos seus 50 anos, Maciel Melo conta sobre o início da carreira, objetivos alcançados e os sonhos para o futuro| Por Thiago Graf

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Música, talento e alegria. Esses são alguns dos elementos que permeiam a vida de um dos mais importantes artistas da história pernambucana. Homem simples e de sorriso fácil, o cantor Maciel Melo é reconhecido em todo Brasil como ícone nordestino, tendo sempre levado para todos os lugares questões ligadas à cultura popular do estado. Nascido em 26 de maio de 1962, na pequena cidade de Iguaraci, localizada à aproximadamente 365 km do Recife, Maciel de Melo já mostrava desde cedo grande gosto pela música. “São coisas de berço, hereditária. Meu pai era músico e toda família dele era ligada à poesia, cordel. Então, eu convivi com isso. A minha infância toda foi rodeada de cantadores de viola, emboladores, violeiros e sanfoneiros. A região do Pajeú, que foi onde nasci, é muito rica nisso”, afirmou o compositor. ARTISTA MULTIFACETADO Além de trabalhar com a parte musical, Maciel também se encanta com a arte da escrita. São vários os versos de autoria desse pernambucano


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“Sonho todo dia. Eu sou um caboclo sonhador. Não tenho um só, são vários. Todo dia é uma coisa diferente” Ao longo da carreira, Maciel Melo já lançou 14 CDs e tem cerca de 200 músicas gravadas

multifacetado e ele não esconde o orgulho em ter enveredado pela carreira artística. “Tenho quase 50 anos e estou há quase 30 na estrada. Com 20 anos, eu já estava no meio do mundo, tocando nos barzinhos”, contou. Ao longo da carreira, o cantor já gravou 14 CDs e tem cerca de 200 músicas gravadas. Muito reconhecido no meio musical por vários artistas como: Elba Ramalho, Flávio José, Xangai, Zé Ramalho, Fágner, Alcymar Monteiro, Geraldo Azevedo, Amelinha, entre tantos outros. Sobre essas parcerias, Maciel ressalta que essa é

uma ferramenta importante para todos os músicos. “Tenho várias participações em vários discos de outros cantores, principalmente dos artistas pernambucanos. É uma maneira de fortalecer a nossa cultura. Estamos nos ajudando, sempre divulgando um ao outro. É uma forma de aprender, trocar informações e se atualizar. Acho que o caminho é por aí”. Sobre os projetos atuais, Maciel Melo afirma que não para de trabalhar. “Estou sempre gravando. Vou compondo e deixando guardado. Quando vou finalizar o CD, pego uma ou outra, faço uma nova, rearrumando aqui e ali”, contou, sorrindo. O próximo disco vai sair até o fim do ano. “Eu normalmente lançava os meus álbuns no mês de junho, mas eu estou mudando isso. Esse ano, vou apresentálo em dezembro porque quando chegar no São João o material já vai estar mais divulgado e acessível para o público”. De acordo com o artista, que recentemente cantou em Montevidéu, no Uruguai, o título provisório do CD é O Sol das Manhãs e terá entre 12 e 14 faixas do autêntico forró pé-de-serra. Quando perguntado sobre os planos para o futuro e os sonhos que ainda pretende realizar, Maciel revelou o segredo do sucesso e fez lembrar um de seus grandes hits, chamado “Caboclo sonhador”. “Sonho todo dia. Eu sou um caboclo sonhador. Não tenho um só, são vários. Todo dia é uma coisa diferente. O que eu quero, na verdade, é continuar fazendo meu trabalho do

jeito que sempre fiz, ser reconhecido pelo que faço, da maneira que faço, sem ter que vender a alma ao diabo ou mudar meu estilo. O meu sonho é que a verdadeira música nordestina chegue um dia ao topo das coisas, da mídia, mas com seriedade, tendo o respeito que ela merece”. Ele ainda fez a sua autodefinição. “Sou um camarada inquieto, quero sempre descobrir coisas novas. Sou um caboclo sertanejo, muito mutante, perfeccionista e são essas coisas que me movem. Sou Maciel mesmo, cidadão”. Para finalizar o bate-papo, deixou um recado para os fãs. “um abraço enorme para todos. São meus amigos, aliados porque são eles que fazem o meu trabalho crescer. Tenho mais é que agradecer a eles e a Deus por existir e por viver fazendo o que gosto”, pontuou.

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Médico, compositor, escritor e cineasta, Wilson Freire acaba de lançar um livro que chama-se A mulher que queria ser Micheliny Verunschk com ritmo, para ser lido com “olhos e ouvidos”, descreve a poetisa Cida Pedrosa nas primeiras páginas. A personagem central é uma típica mulher da zona portuária do Recife, vivida e viajada, através dos sonhos e das mãos dos estrangeiros que por ali passaram, que decide ser escritora. Plural, como não poderia deixar de ser, o livro une música e poesia numa prosa cinematográfica. A obra, inclusive, lança mão de interpretações cantadas de alguns trechos, como o capítulo “Vapor estrangeiro”. “A mulher que queria ser Micheliny Verunschk (Edith)”, de Wilson Freire aplica à prosa a sensibilidade à flor da pele adquirida pelos corredores de hospitais da rede pública de saúde. É a primeira obra de ficção do médico que desde adolescente sonhava ser gente grande. “Poucos profissionais têm intimidade tão forte com os sentimentos humanos quanto o médico. Estar disponível para reverter esses sentimentos em arte já é alguma coisa”, assinalou. Micheliny traz em suas páginas a história marcante de uma mulher que, desde pequena, só conhece a dor. Adolescente, foi apresentada ao sexo de jeito forçado. Crescida, quis ser escritora. “Achava que as pessoas aprendiam a ler olhando as letras, as palavras dos livros e elas pulavam para dentro dos olhos e saíam pela boca”, ela diz, deixando escapar a ingenuidade de uma garota educada num ambiente masculino — em zona portuária, de embarcações e machos locais e gringos — e que chegou até a ingerir folhas inteiras de papel para tentar entender os textos. O resultado não poderia ser outro: enjoo e vômito. Mas foi assim, com fome de conhecimento, que ela atracou num porto mais humano, de novas experiências e sensações. Segundo Freire, sua narrativa baseiase no comportamento do personagem principal. “Quando escrevo, preciso escutar a voz do sujeito. E aí veio a história da mulher que queria escrever sua própria história, gritá-la”, diz.

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Wilson Freire, convívio com a dor e a alegria O médico, cineasta e escritor, lança livro para ser “lido com olhos e ouvidos” | Por Chico Carlos FOTOS: DIVULGAÇÃO

Wilson, ao lado do escritor pernambucano, radicado em São Paulo, Marcelino Freire

O AUTOR Wilson Freire nasceu em São José do Egito (Terra da Poesia). Ainda garoto foi para Sertânia, sertão de Pernambuco. Médico “por formação e por acidente”, como costuma dizer. Tem pós-graduação em Roteiro de Cinema pela Universidade Estácio de Sá – RJ, e é membro da União Brasileira de Compositores, da Associação Brasileira de Documentaristas e da Unicordel/PE. Além de cineasta, é também compositor, tendo sido vencedor do Prêmio Sharp de Música 1996 com a canção “Na pancada do ganzá”, com Antônio Nóbrega, uma de suas várias parcerias. Além de Cláudio Almeida, Maciel Melo, Consuelo de Paula, Thalis Ribeiro,

Geraldo Maia, Walmar, Zeh Rocha e César Amaral. É escritor e autor de As Três Marias (roteiro premiado no Hubert Bals - festival de roteiro cinematográfico em Roterdã - Holanda/2000); Romance de Cordel, Novo Conto Português Brasileiro – Putas – Coletânea, Cinquentinha – microcontos e 140 o primeiro romance escrito no Twitter.


Nas ondas da web

Sindicato na área de comunicação, a tão sonhada Rádio Web está no ar. Com uma programação diversificada, atendendo todos os públicos, o Simepe vem trabalhando no aperfeiçoamento de sua grade, que hoje possui 10 horas de programação live streaming (ao vivo) e vários podcasts (notícias em MP3) publicados por dia. O projeto é estar 24 horas na ativa. Para isso, investimentos em equipamentos e profissionais estão sendo feitos, na expectativa de ficar pronto até o fim do ano.

Simepe investe pra valer na comunicação e já é modelo para outros estados | Por Thiago Graf/Michel Filipe Antenado e conectado com a onda digital, o Simepe vem se modernizando e um dos pontos prioritários desse processo de inovação é o setor de comunicação. Hoje, a instituição possui um portal, contas no Twitter e Facebook, além de uma Rádio Web. O objetivo é atender as demandas, oferecendo mais informação e prestação de serviço para a categoria. REDES SOCIAIS O Sindicato entrou na “vibe” das redes sociais no ano passado. Primeiramente com o Twitter, criado no início de 2010, e que já tem quase 300 seguidores. No entanto, a grande sensação no plano de comunicação é o Facebook. No caso do Simepe, foi elaborado um perfil de usuário, onde a classe médica pode interagir e, durante todo o

dia, o núcleo de jornalismo da instituição está “logado”, respondendo aos questionamentos e anunciando as novas ações. Atualmente, a conta já possui mais de dois mil amigos espalhados pelo Brasil, tornando-se o perfil com mais pessoas dentre todos os Sindicatos Médicos do país. O diretor de comunicação do Simepe, Assuero Gomes, comentou sobre as redes no Sindicato: “Estamos conectados para melhor atender o Médico. O portal é a nossa sustentação, mas não é tão ágil como as mídias sociais. Ingressamos em diversos caminhos para levar mais informação para a categoria” afirmou.

Para acessar: Portal: www.simepe.org.br Twitter: @imprensasimepe Facebook: Sindicato dos Médicos Simepe (Simepe) Rádio Web: www.simepe.org.br/radioweb

RÁDIO WEB Finalizando as novidades realizadas pelo

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Mix para ler, ver e ouvir antes de morrer

cinema

O NASCIMENTO DE UMA NAÇÃO Dir. D.W. Griffith Com Henry B. Walthall O Nascimento de uma Nação (The Birth of a Nation) é um filme mudo estadunidense de 1915 co-escrito, coproduzido e dirigido por D. W. Griffith, baseado no romance e na peça The Clansman, ambas de Thomas Dixon, Jr. Lançado em 8 de fevereiro de 1915, o filme era originalmente apresentado em duas partes, separadas por um intervalo. O filme relata as vidas de duas famílias durante a Guerra de Secessão e a subsequente Reconstrução dos Estados Unidos – os Stonemans, nortistas pró-União e os Camerons, sulistas pró-Confederação. O assassinato de Abraham Lincoln por John Wilkes Booth é dramatizado no filme. O filme foi altamente criticado por retratar os afro-americanos (interpretados por atores brancos com as caras pintadas de negro) como ininteligentes e sexualmente agressivos em relação às mulheres brancas, e também por apresentar a Ku Klux Klan (cuja fundação original é dramatizada) como uma força heróica. Os protestos contra O Nascimento de uma Nação

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foram generalizados e o filme acabou sendo banido de várias cidades. A queixa de que se tratava de um filme racista foi tão grande que inspirou D. W. Griffith a produzir Intolerância no ano seguinte. O Nascimento de uma Nação foi o primeiro filme a ser exibido na Casa Branca. O presidente Woodrow Wilson teria dito que o filme é “a história escrita em relâmpagos. E meu único lamento é que é tudo tão terrivelmente verdade”. A veracidade da afirmação é, no entanto, contestada.

DOGVILLE Dir. Lars Von Trier Com Nicole Kidman Anos 30, Dogville, um lugarejo nas Montanhas Rochosas. Grace (Nicole Kidman), uma bela desconhecida, aparece no lugar ao tentar fugir de gângsters. Com o apoio de Tom Edison (Paul Bettany), o auto-designado porta-voz da pequena comunidade, Grace é escondida pela pequena cidade e, em troca, trabalhará para eles. Fica acertado que após duas semanas ocorrerá uma

FOTOS: DIVULGAÇÃO

livros

COMER ANIMAIS Jonathan Safran Foer

Mais do que uma defesa do vegetarianismo, Comer Animais (Ed. Rocco, 320 páginas) mostra que comer pode ser um exercício de ética, e que umas das maiores oportunidades de viver de acordo com nossos valores passa por aquilo que colocamos em nossos pratos. Sem ditar regras, longe de radicalismos, o norte-americano Foer nos estimula a

buscar uma dieta mais consciente, que respeite a nossa saúde, a dos nossos filhos e a do nosso planeta. Legumes ou carne, frango orgânico ou

votação para decidir se ela fica. Após este “período de testes” Grace é aprovada por unanimidade, mas quando a procura por ela se intensifica os moradores exigem algo mais em troca do risco de escondê-la. É quando ela descobre de modo duro que nesta cidade a bondade é algo bem relativo, pois Dogville começa a mostrar seus dentes. No entanto Grace carrega um segredo, que pode ser muito perigoso para a cidade. Comentário: Esses dois filmes são o retrato, a psicoanálise, a tomografia, a endoscopia e a retossigmoidoscopia da alma americana. O primeiro tem uma cena de eugenia explícita quando um médico (cena real) deixa um recém-nascido morrer porque nasce com alguma deficiência e o segundo, Dogville, deve ser assistido antes de Manderley (do mesmo autor) que o completa. (Assuero Gomes)

industrial? São as decisões diárias mais simples que podem moldar — e mudar — o mundo em que todos vivemos.


discos

ÁLBUM BRANCO The Beatles

Composto basicamente durante o retiro dos Beatles na Índia, o Álbum Branco, como ficou mais conhecido, levou quase oito meses de trabalho de estúdio. O disco mais diversificado da banda foi também o primeiro indício que o grupo estava se separando. Pelas palavras de John Lennon, “Era John e a banda, Paul e a banda, George e a banda...’’. A constante presença de Yoko e os primeiros problemas com a Apple fizeram deste um disco tenso, Ringo chegou a abandonar o grupo, mas retornou uma semana depois ... obviamente arrependido. São 30 músicas dispostas em 2 LPs, numa coletânea de vários estilos musicais como Rock’n’Roll, Blues, Reggae, Soul, Country,

Pop e mesmo uma colagem avant-garde. The Beatles é também o adeus à fase psicodélica da banda e um prelúdio do que seria a música Pop do início dos anos 70. A própria capa, totalmente branca é exatamente o oposto da capa do último disco Sgt Peppers Lonely Hearts Club Band. O Álbum Branco foi o último disco dos Beatles a ser lançado em versão Mono e Estéreo. Há uma variação enorme das duas mixagens, tanto que o disco em mono é 20 segundos mais curto que o estéreo.

O INIMITÁVEL Roberto Carlos Primeiro disco lançado após Roberto Carlos deixar o programa Jovem Guarda, da TV Record, O Inimitável é considerado o álbum de transição do cantor, embora ainda traga todas as características daquele

frase

movimento musical. Logo na faixa de abertura do LP, com a impactante “E Não Vou Mais Deixar Você Tão Só” (composição de António Marcos), notase uma mudança, já que álbuns anteriores tinham canções mais ingênuas como (“Aquele Beijo que te Dei”, “É Tempo de Amar” ou “Gosto do Jeitinho dela”). Este era um sinal de mudanças no repertório do músico, que gradualmente mudaria seu gênero, passando a priorizar canções mais maduras e elaboradas. Dois grandes sucessos de O Inimitável

foram as músicas “Eu Te Amo, Te Amo, Te Amo” e “As Canções Que Você Fez Pra Mim” (ambas parcerias com Erasmo Carlos). Nesse disco Roberto demonstrou grande potencialidade vocal, já que nos discos anteriores o importante em suas músicas eram o ritmo e o balanço. Neste, a melodia aparece em destaque e sua voz está bem colocada e com todo o seu potencial. O LP foi eleito em uma lista da versão brasilieira da revista Rolling Stone como o 82º melhor disco brasileiro de todos os tempos. (Chico Carlos)

cartum

“Certos políticos confundem a vida pública com a privada.” Aparício Torelly

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Última página REPRODUÇÃO

Cuidar é promover a vida Por Marta Batista*

O mundo atual vem passando por profundas mudanças em consequência das conquistas e evolução tecnológica, que vem gerando transformações, desafios, oposições e contradições. Uma nova ordem econômica mundial, que segundo Buzzi, “propõe à humanidade identificar-se com o projeto de globalização, visualizado na exterioridade da tecnologia de máquina e no virtual das telecomunicações que oferecem favores e prometem uma vida mais intensa, ao essencial por ora possível da existência humana”. Nos últimos anos, as instituições conheceram uma série de mudanças tecnológicas e ganharam também uma nova forma de administração com a formação dos primeiros “Administradores” profissionais. A sociedade também conheceu várias mudanças, infelizmente nem todas positivas, como é o caso do aumento descontrolado da violência em todas as suas dimensões: física, psicológica, moral, política e social. E porque mais violentada, a sociedade clama por justiça e busca a preservação de seus direitos fundamentais, dentre os quais, se destaca a dignidade e o valor a pessoa humana. As instituições profissionais vez que priorizam a tecnologia e as realizações tecnocientifícas dos que ali atuam. Um ambiente onde as inovações tecnológicas e o profissionalismo são considerados a essência primordial e fundamental do tratamento, mas sabe-se que, no contexto de suas aplicações, não considerar o sujeito dessa ação de nada valerá. Percebe-se que o domínio das práticas mecanicistas o homem tem sido despersonalizado e subjugado. É preciso resgatar o sentido da existência humana no mundo, construir uma nova concepção, resgatar a aliança humana, como diz Crema “é tempo de religar [...]. Todos nós temos um negócio em comum que se chama espécie homo sapiens”.

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Os profissionais são tidos como as molas propulsoras das instituições. Não existe fator mais importante que o fator humano. Todos nós somos peças fundamentais para o fator mudança. Humanizar implicará em mudanças de atitudes, voltada para uma Ética baseada no respeito, na solidariedade e na integridade das relações consigo e com o outro. Humanizar implicará sempre em ser, e ser é ter cuidado, essência do ser humano, cuidado consigo, cuidado com o outro, cuidado com o universo. O profissional, a equipe, o cuidador precisam ser considerados e vistos como indivíduos de modo de ser, sentir, expressar. Esse indivíduo como qualquer humano pode manifestar sentimentos, reações, comportamentos positivos e negativos que podem interferir na conduta profissional. Humanizar a assistência é dar lugar não só à palavra do usuário como também a palavra do profissional de saúde, de forma que tanto um quanto o outro possa fazer parte de uma rede de diálogo. Cabe a esta rede promover as ações, campanhas, programas e políticas assistenciais englobando aspectos tais como: justiça, cidadania, direitos humanos, liberdade, participação, autonomia, igualdade e complexidade, responsabilidade, equidade, qualidade e excelência, radicalidade, tolerância entre outros. O sentido genuíno do cuidar é de promover a vida. A qualidade de nossas vidas depende do cuidado que dispensamos a ela. Desenvolver tudo o que existe ou tudo que se encontra em potencial de energia em nós, compreende uma forma primária de estar no mundo. Assim, a forma como vivemos a vida, como nos relacionamos com o mundo, com as pessoas, com a família, com os amigos, com o trabalho, interfere na forma como cuidamos. O cuidado é uma forma de atenção que envolve percepção, ação que proporcione bem estar ao outro. Então, como pode o cuidador cuidar se não é cuidado? É uma necessidade social de todo profissional, sentir-se reconhecido, valorizado, amparado, cuidado e não que esteja reduzido ao mero fato de existir, de estar presente e de cuidar. *Marta Batista - Graduação em Psicologia, Licenciatura em Psicologia e Especialização em Neuropsicologia


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