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Cultura

SOMMELIÈRE: A MULHER QUE DESBRAVA O MUNDO DAS CERVEJAS

De Braço do Norte, Jadna Bittencourt conta como se tornou especialista mestre em estilos de cervejas

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Em um mercado que segue com forte presença masculina, mulheres se destacam com um alto nível de conhecimento e desempenho no universo das cervejas. Jadna Bittencourt, de 36 anos é uma delas. Publicitária, especialista em Marketing e Trade Marketing e sommelière, especialista mestre em Estilos de Cervejas, mostra que esse universo é tão feminino quanto masculino.

Ela conta que o universo das cervejas entrou em sua vida há muito tempo. “Quando criança, eu adorava rótulos de cervejas, ajudava meu irmão a colecionar garrafas e latas. Já aflorava este lado criativo. Embalagens sempre me chamaram a atenção e queria saber a história por trás delas”, relembra.

Até que em 2010 seu irmão Jaison começou a fazer cerveja em casa e apresentou estilos de cerveja artesanal. Logo isso se tornou um negócio. “Em 2014, montamos uma sociedade para abrir a cervejaria e comecei a estudar sobre cerveja. Assim, passei a me interessar mais profundamente pelo assunto, pois percebi que era algo que demandava muito estudo”, complementa.

Mas foi em 2017 que Jadna se aprofundou no mundo das cervejas. “Passei a trabalhar integralmente na cervejaria Biertal. Comecei a pesquisar cursos e, como trabalho com Publicidade e Marketing, percebi que a sommelieria era o que mais se encaixava com a minha área. Em 2019 me formei em Florianópolis, com a segunda turma de Sommelier, curso realizado pelo Instituto da Cerveja Brasil (ICB), a maior e mais tradicional escola de cerveja da América Latina. Desde então venho realizando vários outros cursos na área das cervejas e neste ano me tornei Mestre em Estilos de Cervejas, uma especialização dentro da sommelieria, realizada em Porto Alegre”, diz Jadna.

Dia a dia como Sommelière

Jadna conta que na cervejaria ela é responsável pela parte de Controle de Qualidade. “É onde é realizada diariamente avaliação para verificar os requisitos sensoriais das cervejas que estão em processo produtivo ou prontas para serem enviadas ao mercado. Além de avaliação dos produtos em linha, realizamos testes comparativos, através de painéis de degustação de cervejas concorrentes, para avaliar o desempenho dos nossos produtos”, comenta.

Também são realizadas degustações para desenvolver novos produtos. “O dia a dia vai além da análise sensorial, pois o sommelier é responsável por traduzir o que é a cerveja, o que tem por trás de cada cerveja, como forma de comunicação com o consumidor final. Visitas e treinamentos a clientes também fazem parte desta rotina, pois a cerveja artesanal demanda uma maior expertise para saber vendê-la”, revela.

Sobre sua rotina, Jadna afirma que naturalmente no dia a dia procura não usar batom, perfumes e produtos que contenham aromas fortes e que possam prejudicar a avaliação sensorial. “A alimentação também é bem importante. Optar por comidas mais leves e dar certo intervalo, pois a sensibilidade sensorial varia ao longo do dia. Normalmente, às 10 da manhã é o horário que estamos mais astutos. Horas antes da degustação, evitamos o consumo de café, chocolate, vinho, cigarro, pois eles podem afetar o processo sensorial. O local onde se realiza a degustação também é importante. O espaço deve ser bem iluminado, silencioso, sem fatores externos que possam prejudicar a concentração”, complementa.

Por ser uma profissão onde o ambiente ainda é bastante masculino, Jadna conta que é inevitável que se pense em preconceito. “Sinto que as mulheres precisam estudar muito para obter respeito, enquanto o homem entra naturalmente neste mercado. A minha realidade é que clientes e colegas de profissão valorizam meu trabalho e sempre fui respeitada. Este processo tem sido de estudar, de estar presente nos clientes, nos eventos do setor mostrar meu conhecimento sem imposição e aos poucos as coisas vão acontecendo e vou ganhando meu espaço”, afirma Jadna.

Para a sommelière, o maior desafio desta profissão é você reconhecer as características de todos os mais de 150 estilos de cerveja hoje catalogados. “Isso demanda muito estudo e uma busca frequente por amostras, nem sempre disponíveis no mercado nacional para manter-se atualizada. Além disso, por se tratar de uma profissão muito nova, somente este ano ela foi reconhecida. Mas a maior recompensa, sem dúvida, foram as medalhas conquistadas pela cervejaria, onde pude, junto com a equipe, avaliar e categorizar as cervejas que foram enviadas para Blumenau, onde acontece o Concurso Brasileiro de Cervejas, maior concurso da América Latina e um dos mais respeitados do mundo”, fala.