Revista HdF Nº13

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cimeira da lusofonia

N.13 | ANo V | QuAdrimestrAl | dezembro 2010 | 4,00€

www.hospitaldofuturo.com

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director: Paulo Nunes de Abreu

Plano nacional de Saúde 2011-2016

A Saúde ao Alcance

do Cidadão – Receitas e Estratégias

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hospital do futuro

perfis saudáveis

qualidade na saúde

O novo Hospital de Cascais faz maior aposta na diferenciação, qualidade e TIC.

Conheça os hábitos de Maria João Freire, Paula Brito e Costa e Rui Sousa Santos

Poderemos ter um futuro em que os antibióticos não conseguem combater baterias multirresistentes?

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Índice Editorial p. 4

Perfis Saudáveis

Maria João Freire, Paula Brito e Costa, Rui Sousa Santos p. 5

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Destaque

A Saúde ao alcance do Cidadão – Receitas e Estratégias p. 7

Qualidade em Saúde

As resistências aos antimicrobianos p. 12

Lusofonia

Projectos de cooperação devem ser a longo prazo p. 14

Hospital do Futuro

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Novo hospital de Cascais aposta na especialização p. 15 Boas Práticas de Organização e Gestão num ACES p. 17

As Novas Tecnologias na Saúde Ensinar Medicina através de simuladores p. 19

Prémios HdF

Prémios Hospital do Futuro 2009/2010 p. 21

Prémio CGC

Premiar a Genética p. 25

Entrevista

Levar a saúde aos mais carenciados de Lisboa José Ferreira, Presidente do Conselho Executivo da Direcção de Saúde de Proximidade da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa p. 26

Saúde Ibérica

Banco espanhol descodifica o ADN de várias doenças p. 29

Opinião

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Director: Paulo Nunes de Abreu

Redacção: Joana Branco (Edição), Maria João Garcia

Fotografia: André Roque, David Oitavem

Design e Paginação: Nuno Pacheco Silva

Sede da Redacção: GroupVision Serviços Editoriais e de Educação Pólo Tecnológico de Lisboa Edifício Empresarial 3 1600-546 Lisboa Tel: 217 162 483 – Fax: 217 120 549 hdf@groupvision.com

Colaboram neste Número:

Gestão & Economia

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FICHA TÉCNICA

“Este é um momento muito emocionante para a investigação na área da Diabetes” – Francine Kaufman, médica endocrinologista pediátrica nos E.U.A p. 31

Colesterol

Aida Baptista, Farmacêutica Hospitalar; Daniel Serrão, Médico; Francine Kaufman, médica endocrinologista pediátrica nos E.U.A; João Pedro Pimentel, Administração Regional de Saúde do Centro; José Ferreira, Santa Casa da Misericórdia de Lisboa; Liliana Anastácio, Associação Portuguesa de Familiares, Amigos e Pessoas com Epilepsia Coimbra; Luís Amaro, Agrupamento de Centros de Saúde da Península de Setúbal II – Seixal/Sesimbra; Maria João Freire, Associação Myos; Maria Neto da Cruz Leitão, Escola Superior de Enfermagem de Coimbra; Paula Brito e Costa, Associação Raríssimas; Rui Sousa Santos, Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo.

Conselho Redactorial: José Ávila da Costa, Presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna; Manuel Correia, Presidente Conselho Directivo Escola Superior de Tecnologias da Saúde de Lisboa; Pedro Barosa, Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Hospitalar; Verónica Rufino, Presidente, Associação Portuguesade Apoio à Mulher com Cancro da Mama; Zulmira Hartz, Sub-Directora, Instituto de Higiene e Medicina Tropical.

Excesso de colesterol afecta crianças p. 33 Entidade Proprietária e Editor:

Entrevista

- Lutar contra a violência na intimidade – Maria Neto da Cruz Leitão, uma das responsáveis pelo projecto (O)usar e Ser Laço Branco da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra p. 35 - Portugueses devem nomear procurador de saúde – Daniel Serrão, Médico p. 37

Eventos 33

- 4.as Epi Jornadas de Epilepsia p. 37 - Farmácia Hospitalar – 70º Congresso Internacional da FIP p. 38

GroupVision Serviços Editoriais e de Educação

Nº Contribuinte: 507 932 366

Periodicidade: Quadrimestral

Nº Registo no ICS: 124679

Depósito Legal: 230918/05

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editorial

N. 13 | dez. 2010 | Hospital do Futuro

Paulo Nunes de Abreu Director da Revista Hospital do Futuro

Rumo à Lusofonia

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stamos finalmente no ciber-espaço da Lusofonia! Seguindo as conclusões da última cimeira Lusofonia e Saúde – celebrada em Lisboa no Infarmed em Junho deste ano – o Fórum Hospital do Futuro dá assim o seu contributo para a criação de um espaço à escala planetária para o debate de ideias e a partilha de conhecimento em Saúde e em português, uma das línguas mais faladas no Mundo.

Ao adoptar o formato digital, a Revista HdF – o órgão informativo do Fórum Hospital do Futuro – levará até si, onde estiver, as principais notícias sobre a acti-

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Ao adoptar o formato digital, a Revista HdF levará até ao espaço da Lusofonia as principais notícias de Saúde e as novidades sobre todas as iniciativas do Fórum Hospital do Futuro

vidade constituinte deste Fórum, nomeadamente os nossos prémios anuais que aqui se destacam e cujas candidaturas para a próxima edição estão já formalmente abertas. Por ser esta uma actividade sem fins lucrativos, não podemos prometer uma presença instântanea em todos os países de língua por tuguesa, mas com a ajuda de todos, leitores e patrocinadores, lá chegaremos. O que desde já podemos oferecer é o que está à vista. Uma revista em saúde de elevada qualidade, agora num formato digital, com destaque neste número para um conjunto de boas práticas em Saúde por par te das organizações distinguidas com os Prémios Hospital do Futuro. Nesta revista, como em Por tugal, o fim de um ciclo é sempre um tempo de grandes opor tunidades. A conclusão da execução do último Plano Nacional de Saúde (2005-2010), que orientou até hoje a actual estratégia nacional para a Saúde, proporciona um novo marco temporal na planificação da saúde e torna necessária a realização de um novo plano estratégico para a saúde entre 2011-2016.

Esta é pois uma excelente opor tunidade para consolidar um trabalho de reflexão estratégica sobre saúde e darlhe um formato de “plano nacional”, construído a par tir de uma visão consensuada que possa mobilizar e motivar para a obtenção de novos ganhos em saúde por par te de todos, profissionais de saúde e cidadãos. Não será nunca uma tarefa fácil, mas estamos cer tos de que o plano nacional que está a ser concebido por Por tugal irá trazer impor tantes ensinamentos para outros e inclui desde já uma impor tante novidade, a de pensar a Saúde na sua vertente global, ou seja, para além da simples esfera de intervenção nacional. Uma boa ideia que espero possa ser bem aproveitada no âmbito da Lusofonia e Saúde e para a qual também queremos contribuir.

ERRATA A Revista HdF lamenta o lapso ocorrido na edição nº 12, onde foi referido na capa que “Germano de Sousa fala sobre o estado da Saúde em Portugal e a experiência na Universidade Lusófona”, quando o correcto seria “Germano de Sousa fala sobre o estado da Saúde em Portugal e a experiência na Universidade Atlântica”. A ambas as instituições de ensino superior e ao visado, apresentamos as nossas desculpas pelo lapso.


perfis saudáveis

Hospital do Futuro | dez. 2010 | N. 13

A Revista HdF traz até aos seus leitores os hábitos de quem gere a Saúde em Portugal. Se tiver sugestões, envie para saude@groupvision.com

Maria João Freire

Presidente da myos

Podia fazer um resumo do seu dia? Infelizmente não posso predizer como são os meus dias, pois faço um plano mínimo, mas sempre sujeito a alterações. A fibromialgia, infelizmente, veio condicionar muito as minhas actividades. Optei por ser mãe a tempo inteiro e, quando os filhos cresceram, dediquei-me à pintura, até que surgiram os primeiros sintomas da fibromialgia. Inicialmente sempre os associei aos movimentos de pintar telas de grandes dimensões. Abandonei a pintura aos poucos e abri uma pequena empresa de catering, que também só consegui aguentar oito meses. Tenho uma filha com 23 anos e um filho com 21, o meu marido faz hemodiálise há 28 anos, com inúmeras cirurgias entre as quais três transplantes renais que rejeitou. Tenho quatro gatos, dois cães e, desde Janeiro, a minha mãe ficou com sequelas de um acidente de viação e com Alzheimer em estado inicial. Portanto, tenho sempre muito com que me entreter, já para não falar nas tarefas domésticas que vou fazendo esporadicamente com bastante dificuldade. trabalha quantas horas? Estou reformada por invalidez, por isso não cumpro horários fixos, mas vou distribuindo as tarefas pelo dia conforme a minha condição física vai permitindo. Como consegue tratar do seu bem-estar e da sua saúde? Até 2009 e desde a fundação da Myos em 2003, posso dizer que sacrifiquei muitas horas em detrimento da família, dos amigos

e de mim, para poder cumprir com todas as solicitações e tarefas que a Myos exigia. Era muito importante criar uns bons alicerces para que quem viesse a seguir tivesse o trabalho facilitado. Claro que isto não se aplica só a mim, pois não trabalhei sozinha. Há outros elementos da direcção e algumas voluntárias que passaram precisamente pelo mesmo. Como é que lida com o stress? Actualmente, muito bem. Aprendi a dizer “não” a mim, quando achava que podia fazer tudo mesmo sem poder, e aos outros, quando isso implicava sacrificar a minha saúde. Aprendi a estar tranquila e a aceitar as coisas como elas são. Não estou bem hoje? Amanhã estarei melhor! Pratica desporto? Comecei a ir ao ginásio no ano em que adoeci (2002), mas de forma pouco regular. O exercício era um meio para ficar melhor e depois conseguir desenvolver mais actividades, o que me desgastava mais e me levava a ficar pior. Isto dificultava o retorno ao ginásio. Este ano juntei-me a um grupo de antigos patinadores que voltaram a patinar (pratiquei patinagem artística de competição nos anos 70 e 80) e treino com moderação uma vez por semana. Voltei também ao ginásio e vou duas a três vezes por semana, onde faço exercício cardiorespiratório e trabalho de força, aulas de Pilates e stretching. tem cuidados com a alimentação? Deixei de comer carne e como pouco peixe, mas compenso com outros elementos pro-

teicos. No geral tento fazer uma alimentação equilibrada. Fuma? Deixei de fumar há 18 anos. O meu actual vício é o chocolate. Costuma fazer rastreios? Sim, não vou à procura deles. Quando estão disponíveis em algum local, como na rua ou na farmácia, tento ir. Depois faço alguns de rotina com a médica de família. e check-up? Tento fazer os exames de rotina aconselhados à minha idade e sempre que a médica de família acha necessário ou apresento novos sintomas ou queixas. sempre teve uma boa saúde? De uma forma geral sim. Apenas algumas alergias, rinite crónica e dores desde criança, mas que não eram valorizadas e não eram incapacitantes (eram as famosas dores de crescimento). Quando era mais nova teve alguma atitude ou hábito que lhe tenha trazido problemas de saúde? O fumar desde os 14 anos até aos 28 não deve ter feito muito bem, mas não posso dizer que tivesse relação com o meu actual estado de saúde. Qual foi a pior doença que teve? A teimosia! Agora a sério, acho que foi a tosse convulsa quando era miúda, e uma grande gripe (que essa, sim, talvez tenha tido relação com o aparecimento da fibromialgia).

Paula Brito e Costa Presidente da raríssimas

Podia fazer um resumo do seu dia? Os meus dias são todos diferentes, mas têm em comum o facto de serem bastante preenchidos. Na verdade, o meu dia é comandado pela minha agenda, tal como a minha vida pessoal. trabalha quantas horas? As que forem necessárias para cumprir os ob-

jectivos da associação. Um cargo de administração não pode ter um horário de 8 horas. Tudo dependerá das estratégias implementadas e que têm de ser cumpridas, da conjuntura política e, evidentemente, das necessidades daqueles para quem trabalhamos – os doentes! Como consegue tratar do seu bem-estar e da sua saúde com o seu cargo? (risos) Nas poucas horas vagas, e quando a agenda me permite alguma flexibilidade... Não

são raras as vezes em que tenho de cancelar as consultas de rotina. Vale-me ter, até agora, uma boa saúde. Apesar desta falta de tempo, julgo que é importante conhecermos o nosso relógio biológico e estarmos atentos aos seus sinais. Por vezes é necessário abrandar e, nessas ocasiões, tento dormir e ler muito... Como é que lida com o stress? Muito bem. As melhores decisões, mais importantes e audazes, são geralmente tomadas sob

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perfis saudáveis

imenso stress. Penso que o stress não é sinónimo de irracionalidade, se visto sob uma perspectiva salutar. Porém, como em tudo na vida, há que não abusar. Pessoalmente, tento nunca ultrapassar os meus limites. Pratica desporto? Pois... eu bem tento, mas ginásio e agenda muitas vezes são incompatíveis... Praticar desporto regularmente exige uma enorme disciplina com a qual ainda não me habituei a lidar... Esta é, sem dúvida, uma lacuna na minha vida que terei de corrigir muito em breve. tem cuidados com a alimentação? Ah, sim, aqui sim! Tenho imenso cuidado com a alimentação, até porque tenho uma tendência natural para ganhar peso. Não como nada em excesso. Faço alguns disparates pontuais, como comer um doce, por exemplo, mas diariamente olho para a minha alimentação como fonte de energia interior. A água, por

exemplo, é minha amiga de secretária. Por vezes até perco a noção dos litros que bebo... Desta forma consigo manter o peso e a saúde equilibrados. Fuma? Sim. Tenho uma relação com o tabaco de amor/ódio, mas tento não exagerar. O tabaco está directamente ligado com o stress, o que exige um grande auto-controlo. Normalmente, aproveito o fim-de-semana para desintoxicar. Já deixei de fumar variadíssimas vezes e sempre o fiz conscientemente e sem qualquer tipo de apoio. Costuma fazer rastreios? Não. e check-up? Sim, faço anualmente e sempre que o médico considera importante numa fase de maior pico de trabalho, em que o meu organismo se ressente do cansaço.

sempre teve uma boa saúde? Sim, felizmente. Mas assumo que o desgaste do dia-a-dia é um dos nossos maiores inimigos. O segredo é compensar com hábitos de vida saudáveis. É imperativo conhecer o nosso corpo e respeitar os seus sinais de aler ta. Quando era mais nova teve alguma atitude ou hábito que lhe tenha trazido problemas de saúde? Não, antes pelo contrário. Sempre fiz desporto, desde ginástica, natação, taekwondo… Enfim, sempre fui uma apaixonada pelo desporto e reconheço, como ninguém, os seus benefícios. Embora neste momento não consiga praticá-lo como gostaria, ainda não perdi a esperança. Qual foi a pior doença que teve? Não tive, sempre fui saudável. Muito saudável até!

André Roque

Rui Sousa Santos

Presidente do Conselho de Administração da unidade local de saúde do baixo Alentejo

Podia fazer um resumo do seu dia? Chego ao hospital por volta das 10h e, quando posso, vou almoçar a casa. O almoço nunca é mais do que meia hora. Quanto à hora da saída, depende do trabalho. trabalha quantas horas? Trabalho entre 10 e 11 horas, tendo em conta que ainda levo trabalho para casa. Como consegue tratar do seu bem-estar e da sua saúde tendo o cargo que tem? Não tanto como gostaria … Estou a lutar contra o excesso de peso e já consegui perder 30 quilos. Tive de alterar muitas coisas na minha alimentação. Como é que lida com o stress? Lido muito bem com o stress. Aliás, para me sentir bem, preciso de stress. Por vezes posso

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explodir, mas depois esqueço facilmente o problema. Pratica desporto? Sempre que posso faço marcha quatro vezes por semana. Só se tiver vários compromissos profissionais, que me obriguem a várias deslocações, é que deixo de praticar desporto. tem cuidados com a alimentação? Sim, sem dúvida. O excesso de peso assim o exige.

e check-up? Sim. E, ao contrário do que se possa pensar, o excesso de peso não me tem trazido problemas relacionados com o colesterol e a glicemia. sempre teve uma boa saúde? Nem sempre. Aos dez anos tive febre reumática, o que me deixou condicionantes que me afectaram, principalmente na adolescência. Não pude praticar desporto e fiquei de cama três meses, o que me levou a chumbar o ano. Depois disso só tive uma crise de hipertensão, que está controlada com a terapia adequada.

Fuma? Sim. Estou a pensar em deixar de fumar, mas primeiro tenho de tratar do problema do peso. Um objectivo de cada vez para conseguir cumpri-los.

Quando era mais novo teve alguma atitude ou hábito que lhe tenha trazido problemas de saúde? Não.

Costuma fazer rastreios? Sim.

Qual foi a pior doença que teve? Foi, sem dúvida, a febre reumática.


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Plano Nacional de Saúde 2011-2016

A Saúde ao alcance do Cidadão – Receitas e Estratégias os pratos típicos de uma região também são saudáveis, como prova o projecto “s. brás à mesa”. A iniciativa envolve os alunos do agrupamento de escolas da região de são brás de Alportel, distrito de Faro, e é destacado como um caso de boas práticas pelo Alto Comissariado da saúde, no âmbito do Plano Nacional de saúde 2011-2016. A HdF dá-lhe a conhecer este e outros projectos que, com o contributo da sociedade civil, conseguem levar a saúde mais próxima ao cidadão.

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unca os alunos do Agrupamento de Escolas de S. Brás de Alportel pensaram que as receitas das suas avós fossem tão saudáveis. O projecto “S. Brás à Mesa” foi implementado há cinco anos e, desde então, os alunos passaram a saber melhor o que é a dieta mediterrânica, como é saborosa e como faz bem à saúde. Face aos resultados positivos foi lançado um livro, “S. Brás de Alportel à Mesa”, para que a dieta mediterrânica seja do conhecimento de mais pessoas. Sopa de beldroegas, papas de milho com sardinhas ou açorda de galinha são alguns pratos típicos do Algarve e da

ementa das escolas da região. O projecto envolve os alunos, mas também as famílias. “Há um primeiro contacto com a nutricionista e, ao fim de uma semana, faz-se, em conjunto com os alunos, uma análise da alimentação que fazem no seu dia-a-dia. Os resultados têm sido muito positivos”, afirma a coordenadora do projecto na Escola Secundária José Belchior Viegas, Maria Eugénia Narra. Os alunos obesos ou com excesso de peso são encaminhados para uma consulta gratuita no Instituto Português da Juventude de Faro. O Agrupamento de Escolas de S. Brás de Alportel desenvolveu este projecto no

âmbito da sua participação na Rede Europeia de Escolas Promotoras da Saúde, um projecto conjunto da Organização Mundial de Saúde (OMS), Conselho da Europa e Comissão Europeia que tem como objectivo integrar no conhecimento transmitido pelas escolas aos seus alunos a promoção de hábitos e estilos de vida saudáveis. É este tipo de actividades que o Plano Nacional de Saúde para 2011-2016 incentivará num dos seus quatro eixos estratégicos definidos, o de Políticas Saudáveis. O Alto Comissariado da Saúde (ACS) é a entidade responsável pela elaboração do PNS, que tem vindo a reunir ao +

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longo de 2010 o parecer de várias entidades da sociedade científica e civil para delinear os objectivos e metas a alcançar até 2016.

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PAis AjudAm FilHos Com NeCessidAdes esPeCiAis A Cidadania é outra área estratégica no próximo plano de saúde. “O PNS 20112016 surge com uma componente estratégica mais abrangente e um maior envolvimento da sociedade”, em relação ao PNS anterior (2004-2010), de acordo com a Alta Comissária da Saúde, Maria do Céu Machado (vide entrevista nas páginas 10-11). A par ticipação dos cidadãos traz novas perspectivas ao PNS e dá outro fôlego à vida de quem já viu muitas por tas fecharem-se perante um problema de saúde de um filho. Eugénia Magalhães faz par te do Pais-em-Rede (www.paisemrede.pt), um movimento de cidadãos que tem como objectivo

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informar e sensibilizar a população e as entidades para a deficiência. “Devemos sair, ir para os parques com as nossas crianças. Devemos romper com o silêncio e contribuir para uma sociedade mais inclusiva”, refere Eugénia, mãe de uma menina que sofre de um atraso grave no desenvolvimento e de per turbação do humor. Mas a acção deste movimento cívico não se fica por aí. Os pais podem participar em oficinas, onde aprendem a ajudar os seus filhos a enfrentarem as limitações perante a sociedade e onde se sentem apoiados. “No Pais-em-Rede estou em contacto, a nível nacional, com pais que têm os mesmos problemas, independentemente do tipo de deficiência. Os pais sofrem muito e faltam respostas às suas dúvidas. Fala-se muito em inclusão, mas ainda faltam estruturas que dêem o apoio de que necessitamos”, queixa-se Eugénia Magalhães. Para Maria do Céu Machado, “cabe ao

cidadão, enquanto pessoa individual e organizada colectivamente (através de entidades da sociedade civil), a responsabilidade de contribuir para a melhoria do seu próprio estado de saúde, do estado de saúde da família ou mesmo da comunidade em que se insere”, afirma. Esta é também uma das medidas propostas pela OMS-Europa na avaliação que fez ao PNS 2004-2010. Visão multidisCiPliNAr dAs doeNçAs CróNiCAs “São precisas mais consultas multidisciplinares, porque é preciso dar respostas muito concretas a problemas vastos”, defende João Casais, presidente da Associação Portuguesa de Esclerose Múltipla e também portador da doença. O responsável acredita que a plataforma de Gestão Integrada da Doença vai trazer várias vantagens daqui a dez anos. A plataforma foi desenvolvida pela Direcção-Geral de Saúde e a Administração Central do Sistema de Saúde, em colaboração com comunidades científicas e representantes da sociedade civil, para criação de uma plataforma informática de gestão integrada de Esclerose Múltipla, Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica, Obesidade e Doença Renal Crónica. É um exemplo de projecto que pode responder ao eixo estratégico do PNS Qualidade nos Serviços de Saúde, pois permite fazer uma monitorização dos casos de doenças como a esclerose múltipla para que se possa ter mais conhecimentos sobre as patologias e, por conseguinte, ter respostas mais concretas para os problemas dos doentes. A plataforma permite dar a conhecer melhor a doença. “A informação é essencial. Há quem ache que os doentes de esclerose múltipla são stressados, que colocam problemas por tudo e por nada”, desabafa. Um dos objectivos do PNS 2011-2016 é precisamente criar medidas que permitam um maior acompanhamento e monitorização da saúde. Apesar de este ser um objectivo ainda do PNS de 2004-2010, pretende-se reforçar esta monitorização através da gestão integrada da doença.


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Os alunos de São Brás de Alportel conheceram os benefícios da dieta mediterrânica para a saúde e aprenderam a cozinhar na escola.

CuidAr dA sAúde meNtAl dos sem-Abrigo “Quem trabalha com os sem-abrigo sabe que os imprevistos podem surgir a cada esquina. Recentemente tivemos um semabrigo que, tendo sido levado pelo gestor de caso ao Hospital Júlio de Matos (HJM), apenas acedeu falar connosco na rua, o que nos levou a fazer-lhe uma consulta à chuva. Dentro da sala de sessões de grupo, acontece um pouco de tudo. Um semabrigo, depois de uma noite bem bebida, ressona tão alto que não deixa ouvir ninguém; um palestiniano apátrida sai da sala a correr quando vê entrar um americano, gritando que ele é um agente da CIA”, contam-nos António Bento, psiquiatra no HJM, e Paula Domingos, responsável pelo projecto na Coordenação Nacional para a Saúde Mental. O Acesso aos Cuidados de Saúde é outro eixo do PNS e um direito, mas pode ser dificultado a pessoas que vivem situações

O Alto Comissariado para a Saúde tem um projectopiloto na Região de Lisboa para dar resposta às diferentes necessidades de saúde dos sem-abrigo, que têm grandes dificuldades no acesso à Saúde

como as dos sem-abrigo. No caso das doenças mentais, prevalente junto desta população, de acordo com o ACS, foi criado um projecto-piloto em Lisboa, intersectorial, e que pretende ajudar os semabrigo com doenças mentais. O projecto envolve o Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa e o ACS. “Há várias entidades, nomeadamente Organizações Não Governamentais (ONG), que ajudam as pessoas sem-abrigo. Mas ainda não há uma articulação entre as várias redes sociais locais, para que haja uma resposta integrada às várias necessidades destas pessoas”, afirma Teresa Caldas de Almeida, Assessora na Área da Saúde do ACS. As ARS vão receber, em breve, indicações para que possam ajustar a sua resposta à população sem-abrigo. O projecto está a começar por Lisboa, por ser a zona onde há mais sem-abrigo, segundo Teresa Caldas de Almeida. O eixo estratégico do Acesso aos Cuidados de Saúde pretende também dar resposta ao parecer da OMS-Europa, segundo o qual Portugal tem lacunas a nível das políticas de saúde. Jeremy Veillard, representante da OMS-Europa, apresentou as conclusões sobre a análise ao PNS 2004-2010 e, nos pontos a alterar, salientou a importância de reforçar a acção na mudança de comportamentos de risco, na sustentabilidade do sistema de saúde e nas desigualdades que ainda se fazem sentir no sector.

um PlANo de sAúde PArA todos Para a Alta Comissária da Saúde, Maria do Céu Machado, o PNS permite desenvolver uma estratégia em saúde para Portugal, para além de ser possível acompanhar, monitorizar e avaliar resultados. E está satisfeita com os resultados do PNS 2004-2010 que, de acordo com o OMS-Europa, foi globalmente bem aceite, consensual e alcançou 80% das metas. A OMS-Europa considera inclusive que houve uma aproximação de Portugal a outros países da Europa a 15 em áreas críticas, como acidentes rodoviários e doença cardiovasculares isquémicas, e no número de médicos de família, enfermeiros e dentistas. A diminuição da mor talidade no cancro da mama, o uso de genéricos e a reforma dos Cuidados de Saúde Primários também são pontos positivos salientados pelo relatório da OMS-Europa. Quanto ao que há a melhorar, destacase a diminuição da mor talidade por VIH/Sida, cancro do colo do útero, acidente vascular cerebral (AVC) e suicídio. Para além disso recomenda-se uma maior aposta na diminuição do número de dias de internamento hospitalar e na prescrição, nos Cuidados de Saúde Primários, de ansiolíticos, hipnóticos, sedativos e antidepressivos. O Movimento dos Utentes do Serviço Nacional de Saúde (MUSS) considera que é positivo, para Portugal, ter um PNS, mas refere que é necessário estabilizar os profissionais que “se sentem desmoralizados e incrédulos ao serem confrontados diariamente com situações de instabilidade”, segundo disse à HdF Manuel Villas-Boas, do MUSS. O representante dos utentes alerta também para a necessidade de se apostar na promoção da saúde, na investigação e na gestão dos recursos. No final de 2016, o ACS espera conseguir ter “mais valor em saúde” com um PNS que tem como principal enfoque o cidadão e o seu envolvimento real na promoção e prevenção da saúde, com recurso às “receitas”, culinárias e outras, que todos conseguem pôr em prática, em conjunto, para uma vida saudável. MJG

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Uma estratégia para a saúde em Portugal

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de que forma é que o trabalho desenvolvido no PNs de 2004-2010 influencia o plano que está actualmente em discussão e que será adoptado para o período 2011-2016? O PNS 2004-2010 permitiu desenvolver uma estratégia em saúde em Portugal, bem como instituir mecanismos de acompanhamento, monitorização e avaliação dos resultados. As principais causas de morte, cardiovasculares e cancro, continuam as mais frequentes. O PNS 2011-2016 surge em continuidade com o Plano anterior, com uma componente estratégica mais abrangente e maior envolvimento da sociedade. Construiu-se um sistema de monitorização, transparente e assente em metas e criou-se uma cultura de responsabilização e avaliação. Exemplo é o relatório do desempenho do PNS 2004-2010 realizado pela Organização Mundial de Saúde – Europa, a pedido do Ministério da Saúde. Foi ainda reforçado o trabalho intersectorial, através da Comissão de Acompanhamento do Plano, que integra outros ministérios e sectores. No que diz respeito às especificidades regionais, o próximo Plano prevê o alinhamento com os planos e as metas das regiões. O anterior contemplava uma estratégia baseada no “ciclo de vida” e em contextos sociais a que será dada continuidade, mas o PNS 2011-2016 terá quatro eixos estratégicos transversais: a Cidadania, a Qualidade, o Acesso Adequado aos Cuidados e as Políticas Saudáveis.

Quem está a participar na definição das metas? O PNS 2011-2016 valoriza a análise de indicadores segundo diferentes desagregações geográficas e a definição de metas ao nível das regiões de saúde. Pretende-se que a definição dos indicadores e metas do PNS 2011-2016 seja o mais consensual possível, para o que é fundamental o envolvimento dos gestores regionais, bem como de outros peritos em epidemiologia e estatística. No PNS 2011-2016 co-existem dois exercícios que envolvem a definição de valores de referência orientadores e/ou metas. Um refere-se à análise de indicadores de resultado considerados (depois de uma consulta a diversos peritos) fundamentais para determinar ganhos em saúde e tem como filosofia base a redução das desigualdades entre regiões; o outro respeita os indicadores associados aos eixos estratégicos e aos objectivos estruturantes do Plano.

Fotografias: André Roque

em 2011, Portugal vai ter um novo Plano Nacional de saúde (PNs). em entrevista à HdF, a Alta Comissária da saúde, maria do Céu machado, fala sobre as próximas metas e a participação dos cidadãos na elaboração e concretização do novo plano.

Qual é a importância da participação da sociedade civil e do cidadão na elaboração e concretização do PNs? Cabe ao cidadão, enquanto pessoa individual ou organizada colectivamente (através de entidades da sociedade civil) a responsabilidade de contribuir para a melhoria do seu próprio estado de saúde, do estado de saúde da família ou mesmo da comunidade em que se insere. Por outro lado, cabe aos profissionais, às instituições e aos ministérios garantir que o PNS seja participado e envolva todos os portugueses.


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Pretende-se que o PNS 2011-2016 seja o resultado do contributo de todos os responsáveis pela sua execução e desenvolvimento, através de um processo par ticipado. Que estratégias pretendem adoptar para que o PNs possa ser concretizado a nível local, independentemente das assimetrias regionais? Este Plano está a ser pensado em duas partes distintas. A primeira é a estratégica e a segunda a de operacionalização ou execução. Nesta, para além das políticas transversais, vão ser apontados processos e instrumentos, nomeadamente de governação, influência, mobilização e participação, monitorização e avaliação. Também o facto de estar a ser desenvolvido em paralelo com os planos regionais e com base em estratégias anteriores, como as Estratégias Locais de Saúde, é a garantia de implementação mais eficaz. A tudo isto não é alheio o cálculo de ganhos em saúde pelos Anos de Vida Potenciais Perdidos para as doenças e situações sensíveis à promoção da saúde e aos cuidados de saúde, e que vão comprometer todos os níveis de cuidados: Agrupamentos de Centros de Saúde, hospitais e cuidados continuados. Quais são as parcerias que pretendem estabelecer no próximo PNs? O próximo PNS envolve todos: entidades públicas de outros ministérios (por exemplo, ambiente), entidades privadas e sector social. Pode dizer-se que esta estratégia tem reflexo na forma ampla e participada com que temos envolvido a sociedade no processo de elaboração do PNS 2011-2016, bastante participado e transparente. Dirigimos um convite a mais de 1500 entidades para enviarem contributos, comentarem análises e textos preliminares. Essas entidades incluem organismos nacionais, regionais e locais do Ministério da Saúde, de outros Ministérios, instituições prestadoras de cuidados de saúde, Ordens e Associações Profissionais, Escolas Superiores e So-

O PNS 2004-2010 foi assimétrico, mas muito positivo. A assimetria resulta de não ter havido investimento regional e local. Positivo porque houve ganhos inequívocos, com 80% das metas de mortalidade atingidas.

ciedades Científicas, Associações de Doentes e de Consumidores, Autarquias, Fundações, Entidades Privadas e Empresas. A estratégia de implementação passa por articulação com instituições a vários níveis, resultando em parcerias, processos de redistribuição de recursos, contratualizações, compromisso e influência, monitorização e avaliação, reconhecimento e valorização, legislação e documentos normativos, etc. São estes os instrumentos que permitem obter, de forma mais integrada, articulada e efectiva, Mais Valor em Saúde.

Na fase final do actual PNs (2004-2010), como avalia o impacto de um plano nacional na saúde dos portugueses? Foi assimétrico, mas muito positivo. A assimetria resulta de não ter havido investimento regional e local, a nível das instituições, dos profissionais e dos cidadãos. O PNS foi sempre mais sentido como instrumento do Ministério do que de cada um. Positivo porque houve ganhos inequívocos, com 80% das metas de mortalidade atingidas. Estes resultados foram consequência de reformas e programas de intervenção prioritários, no âmbito do PNS. MJG

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qualidade em saúde

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As resistências aos antimicrobianos

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s antibióticos revolucionaram, desde a sua descoberta, a forma como os doentes com infecções bacterianas são tratados e contribuíram para a redução da morbimortalidade devida às doenças provocadas por bactérias. A medicina moderna depende da disponibilidade de antibióticos eficazes quando ocorre uma complicação infecciosa ou para a profilaxia da infecção. Sem antibióticos eficazes, os cuidados intensivos, os transplantes de órgãos, a quimioterapia contra o cancro, os cuidados aos bebés prematuros e mesmo os procedimentos cirúrgicos comuns como próteses da anca ou do joelho não seriam possíveis. Infelizmente os antibióticos têm sido utilizados de forma desadequada, sendo prescritos frequentemente para infecções virais, para as quais não têm qualquer efeito. Por outro lado, quando os diagnósticos não são precisos, muitas vezes são prescritos antibióticos de largo espectro, que destroem uma grande variedade de bactérias e não apenas as bactérias responsáveis pelas doenças, porque os microrganismos causadores da infecção não são conhecidos. Tomar antibióticos altera sempre a flora bacteriana normal, originando frequentemente efeitos secundários, bem como a emergência e/ou selecção de bactérias resistentes aos antibióticos. Mesmo quando os antibióticos são utilizados de forma apropriada, por vezes a resistência aos antibióticos surge como reacção adaptativa natural das bactérias. Sempre que as bactérias resistentes a antibióticos surjam e se desenvolvam, as precauções para o controlo da infecção são essenciais para prevenir a transmissão dos portadores ou de doentes infectados para outros doentes ou indivíduos.

um Futuro sem ANtibiótiCos? O tratamento das infecções causadas por bactérias resistentes é um desafio e uma séria ameaça à segurança dos doentes: os antibióticos habitualmente utilizados já não são eficazes e há que utilizar outros antibióticos. Este facto poderá causar o atraso na implementação do tratamento correcto e resultar em complicações e insucesso terapêutico, incluindo a morte. O doente poderá também necessitar de mais cuidados, assim como de antibióticos alternativos mais dispendiosos e que podem causar efeitos secundários mais graves. Actualmente, a situação agrava-se com o aparecimento de novas estirpes de bactérias resistentes a vários antibióticos em simultâneo (conhecidas como bactérias multirresistentes). Estas bactérias podem, eventualmente, tornar-se resistentes a todos os antibióticos conhecidos. Sem antibióticos, há o risco de regressarmos à “era pré-antibiótica”, em que as doenças infecciosas causadas por bactérias passariam a não poder ser tratadas com sucesso, resultando na morte. Esta nova tendência é preocupante porque ao mesmo tempo que o número de infecções devidas a bactérias resis-

Ana Cristina Costa, Chefe de Divisão da Segurança do Doente, Departamento de Qualidade na Saúde, Direcção-Geral da Saúde

tentes aos antibióticos aumenta, as linhas de produção de novos antibióticos não têm resultados prometedores, resultando num cenário pouco encorajador no que respeita à possibilidade de existirem tratamentos eficazes com antibióticos no futuro. Existe um desfasamento entre a magnitude das infecções devidas a bactérias multirresistentes e o desenvolvimento de novos antibióticos para gerir o problema. Esta situação é particularmente grave devido à falta de novos antibióticos eficazes para as bactérias Gram-negativas multirresistentes e justifica a implementação de uma estratégia Europeia e global para fazer face urgentemente a este problema.


qualidade em saúde

Hospital do Futuro | dez. 2010 | N. 13

o perigo também está na alimentação Os antibióticos usados no tratamento e na prevenção de infecções bacterianas em animais pertencem aos mesmos grupos químicos que os utilizados nos seres humanos. Por conseguinte, os animais podem adquirir bactérias resistentes a antibióticos também utilizados contra infecções em seres humanos. Determinadas bactérias resistentes associadas ao consumo de alimentos, como Campylobacter ou Salmonella, podem ser transmitidas dos animais para os seres humanos através dos alimentos. As pessoas também podem contrair bactérias resistentes a partir do contacto directo com os animais. Porém, a causa principal de resistência aos antibióticos nos seres humanos continua a ser a utilização de antibióticos na medicina humana.

os Números dA resistêNCiA Dados recentes confirmam que, na União Europeia, o número de doentes infectados com bactérias resistentes aos antibióticos está a aumentar. Anualmente mais de 400 mil doentes adquirem infecções resistentes a vários antibióticos. A resistência aos antimicrobianos é elevada na maioria dos Estados-Membros. Segundo dados do Sistema Europeu de Vigilância da Resistência aos Antimicrobianos existe ainda uma diferença Norte-Sul, com taxas baixas nos países escandinavos e Países Baixos e taxas elevadas no Sul da Europa. Os países com taxas de resistência mais baixas apresentam, em geral, uma menor utilização de antibióticos, ao passo que nos países com taxas de resistência mais elevadas se constata uma maior utilização. CombAte Ao uso iNAdeQuAdo de ANtibiótiCos A utilização inadequada de antibióticos é um problema mundial. A Organização Mundial de Saúde (OMS) emitiu uma estratégia global e orientações para ajudar os países a estabelecerem sistemas de monitorização da resistência aos antibióticos e a implementar acções eficientes e desde 1998 que a resistência aos antimicrobianos é reconhecida como uma séria ameaça à saúde pública na União Europeia. Em 2001 o Conselho da União Europeia divulgou a “Recommendation on prudent

use of antimicrobial agents in human medicine” (2002/77/EC), recomendando aos Estados Membros para desenvolverem estratégias para a implementação de medidas para assegurar a uso adequado de antimicrobianos e para a prevenção da disseminação de bactérias resistentes aos antimicrobianos. Há alguns anos, vários países lançaram programas nacionais, incluindo campanhas de sensibilização pública, tendo subsequentemente constatado uma redução tanto no consumo de antibióticos como no desenvolvimento da resistência aos antibióticos. PArCeriAs e medidAs Foi constituída, entre a União Europeia e os Estados Unidos uma transatlantic task force com os objectivos de promover a utilização adequada de antimicrobianos, a prevenção das infecções associadas aos cuidados de saúde e da comunidade resistentes aos antimicrobianos e promover a descoberta de novos antimicrobianos. Considerando os mecanismos promotores da emergência das resistências aos antimicrobianos, as estratégias para conter as resistências aos antimicrobianos são: - Usar menos antibióticos (apenas quando são necessários); - Prevenir a transmissão de estirpes resistentes entre os indivíduos. Manter a eficácia dos antibióticos é uma responsabilidade de todos. A utilização

responsável de antibióticos pode ajudar a combater o desenvolvimento de bactérias resistentes e a manter a eficácia dos antibióticos para utilização pelas gerações futuras. Com base neste facto, torna-se importante saber em que ocasiões é apropriado tomar antibióticos e como os usar de forma responsável. Para tal, as principais recomendações são: Para os profissionais de saúde - Prescrever antibióticos apenas quando são necessários, em conformidade com as orientações baseadas em factos científicos. Sempre que possível, prescrever um antibiótico específico para a infecção e não de “largo espectro”; - Explicar aos doentes como aliviar os sintomas de constipações e de gripes, sem utilizar antibióticos, que são ineficazes nestas situações; - Informar os doentes sobre a importância de cumprir o tratamento com antibióticos tal como o indicado pelo médico. Para o público - Prevenir as infecções sempre que possível, cumprindo o programa nacional de vacinação; - Lavar as suas mãos, e as mãos dos seus filhos, com regularidade – por exemplo, depois de espirrar ou tossir e antes de tocar em objectos ou em pessoas; - Usar antibióticos apenas mediante receita médica; não tomar “sobras”, nem antibióticos obtidos sem receita médica; - Respeitar as recomendações do médico ao tomar antibióticos; - Perguntar ao farmacêutico qual a forma apropriada de eliminar os medicamentos não consumidos.

BIBLIOGrAFIA • ECDC-EMEA Technical Report: The Bacterial Challenge: Time to React, Stockholm, Sept 2009 • Davey P, Brown R, Fenelon L, Finch R, Gould I, Hartman G, et al. Interventions to improve antibiotic prescribing practices for hospital inpatients. Cochrane Database Sys Rev. 2005(4):CD003543. • Willemsen I, Groenhuijzen A, Bogaers D, Stuurman A, van Keulen P, Kluytmans J. Appropriateness of antimicrobial therapy measured by repeated prevalence surveys. Antimicrob Agents Chemother. 2007 Mar;51(3):864-7. • http://antibiotic.ecdc.europa.eu

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lusofonia

André Roque

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José Carlos Abrahão, Presidente da Federação Internacional dos Hospitais, defendeu a perseverança da comunidade de língua portuguesa para ultrapassar as dificuldades na área da Saúde em conjunto.

Projectos de cooperação devem ser a longo prazo os governos devem criar condições para que os profissionais de saúde possam ter mobilidade no espaço lusófono sem perderem as regalias profissionais existentes no país de origem. A conclusão é da i Cimeira lusofonia e saúde, organizada pelo Fórum Hospital do Futuro, em junho de 2010.

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ara se evitar “projectos atomizados”, que terminam por falta de apoios financeiros, os vários intervenientes na I Cimeira Lusofonia e Saúde alertaram para a necessidade de se estabelecerem objectivos e prioridades que envolvam toda a sociedade, nomeadamente o poder político. Os governos devem criar condições para que os profissionais de saúde possam ter mobilidade no espaço lusófono sem perderem as regalias profissionais existentes no país de origem, foi defendido em Junho, no INFARMED, em Lisboa. A definição de estratégias a médio e longo prazo foi um ponto consensual entre os vários participantes na Cimeira e realçado pelo Secretário de Estado e Adjunto da Saúde, Manuel Pizarro, presente na sessão pública de apresentação das conclusões da Cimeira.

Na área da informação e da promoção em saúde destacou-se a importância do ePORTUGUESe, um site lusófono de partilha de conhecimentos. Para além de sublinharem a importância da Internet para partilha de informação, os participantes na Sessão Fechada de Discussão da I Cimeira Lusofonia e Saúde alertaram para a necessidade de se apostar também em bibliotecas móveis que vão ao encontro das populações que não têm contacto com as novas tecnologias. A cooperação não é fácil face às diversas realidades existentes em cada um dos países lusófonos. O segredo, segundo o Presidente da Federação Internacional dos Hospitais, José Carlos Abrahão, está na perseverança, característica que atribui sem hesitar a todos os falantes da Língua Portuguesa. No decorrer da Cimeira foi ainda realçado o papel da Telemedicina

(incluindo a vertente de Teleformação), para melhorar a acessibilidade aos cuidados de saúde e a formação dos profissionais. Realçou-se ainda o facto de que a aquisição de conhecimentos deve estar disponível para todos e deve ser bidireccional, ou seja, todos os países lusófonos podem ensinar-se mutuamente e também aprender com as experiências uns dos outros. Rosado Pinto, que apresentou as conclusões da Cimeira, destaca a importância de a partir desta reunião se construir uma massa crítica de elementos com trabalho efectivo na CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) e que se constitua uma espécie de comissão científica activa; para além de uma estrutura “imposta” pela sociedade civil que determine uma liderança, com referências visíveis e coordenadas, com forte ligação ao poder politico e que permita ser a face visível da cooperação bilateral e multilateral. A I Cimeira Lusofonia e Saúde teve início com uma Sessão Fechada de Discussão, com a participação de 27 profissionais de Portugal, Brasil, Angola e São Tomé e Príncipe. MJG


hospital do futuro

Hospital do Futuro | dez. 2010 | N. 13

Novo hospital de Cascais aposta na especialização

U

m novo modelo organizacional, qualidade e diferenciação são os pilares da gestão do HPP Hospital de Cascais Dr. José Almeida. O novo hospital de Cascais sofreu algumas alterações que, no entender do seu Director Clínico e Administrador, João Varandas Fernandes, eram essenciais para se prestar um serviço de maior qualidade aos utentes. “A melhoria do serviço hospitalar só era exequível com o desenvolvimento de um novo modelo organizacional. E isso repercute-se no aumento que houve na afluência ao hospital desde 2009”, afirma. A gestão dos HPP, do Grupo Caixa Geral de Depósitos, começou em 1 de Janeiro de 2009 nas instalações mais antigas do Hospital de Cascais, que se situavam no centro da vila. “Eram instalações muito exíguas e a organização estava desorganizada. Um hospital precisa de inovar todos os dias”, refere João Varandas Fernandes. Desde 2009 já houve mudança de instala-

Fotografias: André Roque

Cascais tem um novo hospital. o HPP Hospital de Cascais dr. josé Almeida aposta num novo modelo organizacional, que inclua uma maior aposta na diferenciação e na qualidade. Na área das novas tecnologias investiu-se, entre outras medidas, na gestão e dispensa automática de medicamentos.

ções, alguns directores de serviço são novos e foram criadas novas especialidades e serviços médicos, como Urologia, Psiquiatria, Neurologia, Dermatologia, Meios Complementares de Diagnóstico e Tratamento e a Unidade de Cuidados Intensivos e Intermédios. “Optámos por organizar o hospital por departamentos”, explica em entrevista à HdF. Apesar de ainda ser alvo de várias críticas relativamente ao processo de mudança, João Varandas Fernandes garante que o actual modelo organizacional teve por base a auscultação de todos os profissionais e a nomeação de pessoas para tarefas que se ajustavam melhor ao seu currículo. “O nosso objectivo é ter os melhores profissionais e já os tínhamos. Mas como não eram em número suficiente, contratámos mais pessoal,

principalmente nas áreas médica e cirúrgica”, frisa. O serviço de Urgência também sofreu alterações com a implementação do modelo de triagem de Manchester. “Quando começámos a administrar o hospital, os utentes das Urgências eram atendidos consoante a ordem de chegada. Não podíamos continuar a ter um serviço assim. Nas Urgências tem de haver um sistema de prioridades, como o de Manchester”, salienta o administrador. Actualmente o hospital dá assistência aos utentes de Cascais e, na área materno-infantil, a mais oito freguesias do concelho de Sintra: Algueirão-Mem Martins, Pêro Pinheiro, Colares, S. João das Lampas, Santa Maria e S. Miguel de Sintra, S. Martinho de Sintra, S. Pedro de Penaferrim e Terrugem.

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hospital do futuro

O número de cesarianas diminuiu 6,2% entre Março e Setembro de 2010, comparativamente ao mesmo período do ano passado.

Número de CAmAs deVe AumeNtAr Ao fim de oito meses de actividade, a administração do hospital fez um balanço e considerou que a unidade oferece cuidados de saúde de qualidade. Mas deixa um alerta, pedindo ao Estado que tome medidas, já que há falta de camas. “Estamos no limite e qualquer alteração ao actual estado de coisas só o Estado é que pode decidir”, afirma João Varandas Fernandes. Desde o Verão verificou-se um aumento da afluência às Urgências na ordem dos 28,4%, o que provocou a falta de camas. Este aumento da afluência deveu-se, segundo o administrador, à qualidade do hospital e dos cuidados prestados e ao facto de haver mais utentes a recorrer ao hospital em vez de optarem por outras unidades.

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gestão e disPeNsA AutomátiCA de mediCAmeNtos Para além dos três pilares da organização, qualidade e diferenciação, o novo hospital apostou também nas novas tecnologias. Logo, na recepção das Consultas Externas, os utentes já não têm de esperar em longas filas para confirmarem a consulta. Os novos quiosques de atendimento permitem ao utente confirmar a consulta ou o tratamento que irão fazer. Para isso só têm de se deslocar ao quiosque e ter o cartão do utente ou o cartão de cidadão. O hospital optou ainda por implementar o Processo Clínico Electrónico, diminuindo o uso do papel e os erros que podem surgir perante as diferentes caligrafias dos médicos e enfermeiros. Nos

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serviços, o abastecimento de medicamentos é feito através do modelo logístico Ekanban, um sistema automatizado de gestão do medicamento. A solução logística existente faz a gestão automática da entrega e reposição dos fármacos. O objectivo, segundo informações do hospital, passa por garantir o conceito do “Medication safety” e do “Patient safety”, isto é, pretende-se aumentar a segurança dos medicamentos e dos utentes. Com esta solução é possível fazer um inventário permanente, reduzindo os stocks em armazém e nos serviços utilizadores. No Armazém Central os espaços passaram a ser identificados por códigos de barras e o PDA tornou-se numa ferramenta de trabalho. As necessidades de reposição dos serviços utilizadores chegam ao Armazém Central e à Farmácia apenas pelo sistema de informação, que é suportado numa rede wireless (sem fios). Outra solução adoptada pela nova administração foi a colocação de sistemas de dispensa automática de medicamentos, os autodrugs.

Esta máquina, a AutoDrugs, dispensa automaticamente medicamentos, quando são necessários num serviço.

No processo de remodelação organizacional, o hospital recebeu a acreditação, pela Joint Commission, e a certificação. Como a qualidade inclui a segurança dos pacientes, o hospital dispõe, em caso de catástrofe, de uma ala de emergência que permite a recolha das camas para uma ala exterior. O novo hospital de Cascais tornou-se assim no primeiro hospital da região de Lisboa e Vale do Tejo com esta medida de segurança. MJG

O grupo HPP alerta o Governo para a necessidade de se aumentar o número de camas, face ao aumento da procura com o novo hospital. antigo Hospital

novo Hospital

Variação

Medicina e Especialidade Médicas

123

99

-24

Cirurgias e Especialidades Cirúrgicas

62

62

0

Pediatria

12

19

+7

Ginecologia / Obstetrícia

27

44

+17

224

224

0

Cuidados Intermédios de Pediatria

6

6

0

Cuidados Especiais de Neonatologia

8

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+7

Sub-Total

14

21

+17

Psiquiatria

18

+18

Cuidados Intermédios

10

+10

Cuidados Intermédios Cirúrgicos

4

+4

Cuidados Intensivos

8

+8

Sub-Total

40

+40

238

285

+47

nº de camaS

Sub-Total

ToTal

Fonte: Planeamento e Controlo de Gestão, HPP Hospital de Cascais Dr. José Almeida, Novembro 2010.


gestão & economia

Hospital do Futuro | dez. 2010 | N. 13

Boas Práticas de Organização e Gestão num ACES

O

ACES (Agrupamento de Centros de Saúde) Seixal/Sesimbra foi reconfigurado em Agosto de 2006, ficando uma única direcção para os centros de saúde destes dois concelhos – foram também nomeados um director clínico e um gestor. Iniciou-se, assim, com uma antecedência de dois anos relativamente à publicação legislativa, o figurino do que é hoje o ACES Sesimbra/Seixal. Com todo este empenho na consolidação da Reforma foram criadas quatro áreas na Unidade de Apoio à Gestão (UAG):

gestão de recursos Humanos – Onde se previa abranger funções nas áreas de gestão de pessoal, formação e vencimentos; gestão Financeira – Englobaria as áreas de gestão orçamental, contabilidade, tesouraria, gestão patrimonial de bens móveis e imóveis e conferência de facturas; gestão de informação – Idealizado com o objectivo de introduzir inovação, pelo que iria abranger a gestão das tecnologias, recursos e processos de informação, traduzindo-se num dos serviços essenciais de apoio ao Director Executivo em processos de contratualização; Aprovisionamento e logística – Pensado para responder de forma eficiente e eficaz às áreas de compras, gestão de stocks, gestão de frota e serviços gerais. A expectativa seria uma autonomia gestionária, baseada na discussão de um orçamento-

programa e consubstanciada na delegação de competências no Director Executivo. os AmArgos de boCA Com a nomeação do Director Executivo, em Março de 2009, e passado um ano e meio, a prática veio revelar-se muito abaixo das expectativas criadas, essencialmente, a dois níveis. Ao nível da uAg: A este nível, e apesar da delegação de competências existente e das atribuições definidas para os Directores Executivos, impuseram-se às Direcções dos ACES restrições que provocam constrangimentos sérios, nomeadamente o recente Código dos Contratos Públicos e a própria concepção jurídica do DL nº 28/2008, chegando mesmo a colocar em causa a própria prestação de cuidados, por exemplo: Na área de aprovisionamento verifica-se que, com a centralização na Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT) das aquisições e com os atrasos consecutivos nos fornecimentos, o ACES obriga-se, por um lado, a desenvolver processos urgentes de aquisição, para obviar eventuais rupturas de stocks e, por outro, traduz-se em insatisfação dos utilizadores e colaboradores. Também a resposta tardia e consecutivamente adiada de processos de obras urgentes condiciona a qualidade e ergonomia dos espaços disponíveis.

Luís Amaro, Director Executivo do Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) da Península de Setúbal II – Seixal/Sesimbra

Na área financeira – Inexistência de integração na contabilidade do ACES de custos significativos, como vencimentos e prescrições. Os custos com origem em procedimentos desenvolvidos centralmente não são do conhecimento do ACES, originando mapas de controlo orçamental parcelares e que reflectem apenas os custos com menos peso no orçamento do Agrupamento. Na área de gestão de informação – Pela análise a partir da gestão de incidentes críticos relatados pelos colaboradores internos, onde se incluem também as Unidades de Saúde Familiar (USF), 73,3% das queixas apresentadas prendem-se com a demora de circulação de informação. Este constrangimento tem sido objecto de análise conjunta entre os técnicos de informática do ACES e da ARS, concluindo-se que a origem daqueles problemas se prende com ausência de largura de banda. Não é possível implementar nas Unidades de Cuidados de Saúde Personalizados (UCSP), os Sistemas de Apoio ao Médico, a Consulta a Tempo e Horas (CTH), o AlertP1 (referência para consulta hospitalar) e o Sistema de Gestão de Transportes de Doentes (SGTD). Neste sentido, e apesar de existirem dados do Sistema de Informação das ARS (SIARS) inconsistentes com os dados das USF, com esforço consegue-se entendimento na contratualização. No entanto, com as UCSP a contratualização fica comprometida por ausência de informação. +

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gestão & economia

Fonte: ACES Seixal/Sesimbra

N. 13 | dez. 2010 | Hospital do Futuro

Apesar da escassez de recursos de enfermagem, o “Projecto Saúde Sobre Rodas” vai ao encontro das populações mais carenciadas do concelho do Seixal.

Ao nível da resposta qualitativa da prestação de cuidados: O ACES Seixal/Sesimbra encontra-se completamente esgotado ao nível dos espaços físicos. A tentativa de captar novos médicos, nomeadamente os especialistas formados por nós, não tem sido possível, pela inexistência de capacidade física instalada. Estamos, no entanto, conscientes de que o momento actual não é favorável a grandes investimentos, pelo que não antevemos uma resolução a médio prazo para o problema dos utentes sem médico atribuído. resiliêNCiA e CoNFiANçA No Futuro Embora o presente seja sinuoso, queremos todavia mostrar quatro projectos emblemáticos e inovadores que reflectem o empenho dos colaboradores do ACES na procura sistemática de boas práticas, a saber:

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implementação de testes rápidos de ViH/sidA – Promoção do diagnóstico precoce, aconselhamento e referenciação Trata-se de um projecto liderado pelo Conselho Clínico e que tem por objectivos o diagnóstico precoce, o aconselhamento, a referenciação e tratamento atempados. Inicialmente implementado nas unidades móveis inseridas em projectos comunitários, evoluiu agora para 90% das unidades funcionais do ACES. São parceiros do projecto o Hospital Garcia de Or ta (HGO), líderes locais de

bairros problemáticos, o Projecto Seixal Saudável, a Câmara Municipal de Sesimbra, a Comunidade Escolar e as Rádios Baía e Santiago. Projecto saúde sobre rodas Trata-se de um projecto de intervenção comunitária que visa a promoção da saúde da população mais carenciada e o desenvolvimento de competências e capacidades com especial enfoque na promoção do auto-cuidado e na co-responsabilização das famílias. A ligação da equipa de enfermagem aos bairros (deslocação sistemática e programada) estabelece uma sólida relação de confiança com a comunidade,

Projecto Consultoria com o Hospital garcia de orta Estão neste momento protocoladas consultorias na área da cardiologia, endocrinologia, pedopsiquiatria, psiquiatria e neurologia. Trata-se de um projecto que prevê a deslocação periódica dos médicos especialistas do Hospital Garcia de Orta às várias unidades funcionais do ACES, que discutem inter-pares casos clínicos sem presença de utentes. Esta prática permite habilitar os médicos de Medicina Geral e Familiar na resolução de situações clínicas que de outra forma teriam de forçosamente ser encaminhados para as especialidades hospitalares com evidente constrangimento da acessibilidade.

Embora o presente seja sinuoso, existem projectos inovadores que reflectem o empenho dos colaboradores do ACES na procura sistemática de boas práticas. facilitadora de todo o trabalho de campo em curso. Face aos resultados positivos que têm sido obtidos, embora o ACES tenha carência de recursos de enfermagem, a continuidade do projecto não se questiona. São parceiros a Direcção-Geral de Saúde, o HGO, o Projecto Seixal Saudável e a Médicos do Mundo.

Projecto Criação do site do ACes Considerando a dimensão do ACES, a circulação de informação sem perdas de tempo é crucial. Nesta medida está em fase de desenvolvimento o site do ACES, no âmbito do Gabinete do Cidadão, com uma dimensão de difusão de informação interna, para os colaboradores, e externa, para os stakeholders.


Hospital do Futuro | dez. 2010 | N. 13

as novas tecnologias na saúde

Ensinar Medicina através de simuladores Fonte: Centro de Simulação Biomédica da Faculdade de Medicina do Porto

simuladores cirúrgicos, manequins grávidas e bonecos que respiram ajudam a aperfeiçoar os conhecimentos dos profissionais de saúde ou a formar futuros médicos e enfermeiros.

O

doente tem um aneurisma na aorta abdominal e vai ser submetido a uma intervenção cirúrgica para evitar o rompimento do aneurisma. Para isso, o médico só terá de fazer dois furos na virilha. Não se trata de um doente normal, mas de um boneco utilizado numa simulação cirúrgica, onde os médicos aprendem a nova técnica de tratamento deste tipo de aneurismas. O estudo da Medicina evoluiu e os simuladores são considerados uma ferramenta essencial para treinar futuros médicos ou para actualizar o conhecimento de quem já tem alguns anos de profissão. A simulação decorreu no passado mês de Junho no Hospital de Santa Marta (Centro Hospitalar Lisboa Central). “É uma técnica que apareceu há 20 anos e que nós começámos há dez. Pretende ser menos invasiva e menos agressiva do ponto de vista biológico, o que é impor-

O simulador paciente é quase humano, o que facilita a aprendizagem dos futuros médicos e enfermeiros.

tante para doentes mais velhos”, de acordo com Luís Mota Capitão, director do Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular do Hospital de Santa Marta. O especialista explica que esta é a forma mais avançada e com menos riscos para se tratar este tipo de aneurismas, que, em caso de ruptura, é fatal em 80% dos casos. Os simuladores são cada vez mais utilizados no ensino da Medicina. Para os futuros médicos é um meio de aprenderem a tratar os doentes de uma forma mais fácil e mais próxima da realidade. Para os profissionais que já têm alguns anos de carreira médica, é uma forma de

O estudo da Medicina evoluiu e os simuladores são considerados uma ferramenta essencial para treinar futuros médicos ou para actualizar o conhecimento de quem já tem alguns anos de profissão.

actualizarem os seus conhecimentos e de treinarem novas ferramentas. O caso da cirurgia é um bom exemplo de como os simuladores ajudam os médicos a prepararem-se para intervenções cirúrgicas minimamente invasivas. Os doentes não ficam com grandes cicatrizes, recuperam mais depressa e têm menos dores, de acordo com Novais Matos, Presidente da Sociedade Portuguesa de Cirurgia Minimamente Invasiva. Mas para que tudo corra bem é necessário formar os profissionais. eQuiPAs multidisCiPliNAres em AmbieNtes simulAdos Os simuladores não se limitam apenas às técnicas cirúrgicas. O Centro de Simulação Biomédica (CSB) dos Hospitais da Universidade de Coimbra, inaugurado em Dezembro de 2008, tem cursos para a aprendizagem das mais variadas técnicas, como técnicas de acessos vasculares, manobras obstétricas, acessos às vias áreas respiratórias, entre outras. O director, Nunes Martins, considera o centro como “um vector estratégico inovador, mo- +

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as novas tecnologias na saúde

Há também simuladores de bebés para se aprender técnicas de ressuscitação de recém-nascidos.

derno e compreensivo de desenvolvimento da formação em cuidados de saúde, nomeadamente nas áreas críticas de anestesiologia, emergência, urgência médica e cirúrgica e cuidados intensivos”. No Centro de Simulação Biomédica de Coimbra os cenários desenvolvidos podem ser orientados com objectivos pedagógicos e educacionais e no desenvolvimento de competências não técnicas, como a capacidade de avaliação clínica, liderança, decisão e comunicação. As equipas são multidisciplinares e, de acordo com informações do CSB, “as possibilidades do treino em simulação são quase inesgotáveis e adaptáveis aos objectivos que cada profissional ou grupo manifeste em determinada área de interesse”.

O parto é simulado ao pormenor para evitar erros quando em situações reais.

educação médica contínua, certificação de competências e treino de equipas. Para a equipa do CBS, os simuladores são “uma resposta inovadora e competente para problemas sensíveis de erro médico e de formação e treino individual e de equipas de cuidados de saúde, nomeadamente em eventos críticos, complexos ou raros”. mANeQuiNs QuAse HumANos Mais a Norte, a Faculdade de Medicina da Universidade do Porto também tem um Centro de Simulação Biomédica, que apoia aulas e promove cursos usando “pacientes interactivos”. Manequins e modelos permitem a aprendizagem, o treino e o aperfeiçoamento de várias práticas médicas. As equipas treinam, de acordo com

O Simulador de Pacientes é um exemplo de um “doente” em tamanho real e que apresenta sinais vitais. A pele é realista, as pupilas são reactivas, os sons da respiração e do coração são auscultáveis e a voz é controlada por um operador. O próprio tórax apresenta movimentos respiratórios. 20

Nuno Martins espera que, nos próximos anos, o centro possa colaborar directamente na formação de 750 estudantes de medicina, 2.000 médicos e 1.500 enfermeiros, nomeadamente em acções de

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informações do centro, em diversas práticas clínicas, como a obstetrícia e ginecologia, neonatologia, pediatria, farmacologia, anestesiologia, cuidados intensivos, entre outras. O centro existe desde 2003 e dispõe de

vários simuladores. Inicialmente destinavase a alunos pré e pós-graduados, mas actualmente também organiza cursos de curta duração para profissionais de saúde e para o público em geral. O Simulador de Pacientes é um exemplo de um “doente” em tamanho real e que apresenta sinais vitais. A pele é realista, as pupilas são reactivas, os sons da respiração e do coração são auscultáveis e a voz é controlada por um operador. O próprio tórax apresenta movimentos respiratórios. Com este manequim, os alunos conseguem treinar entubações, compressões do tórax e disfribilhação. Na área da obstetrícia e ginecologia assiste-se a um parto quase real. O simulador obstétrico, a Noelle, permite treinar manobras de assistência, como o toque na grávida, e determinar a posição fetal através das manobras de Leopold. Estas manobras permitem perceber em que posição se encontra o feto e se é necessário recorrer a uma cesariana ou a fórceps, por exemplo. Para além da manequim grávida, há outro simulador que permite ressuscitar um recém-nascido, através de entubação e compressões torácicas. Outros simuladores ajudam a aprender ou a aperfeiçoar as técnicas de suporte básico de vida ou a realizar determinados exames médicos. Os simuladores vão continuar a ser a tendência futura no ensino e aprendizagem da Medicina. Mais ou menos avançados, todos contribuem para uma prática o mais real possível da Medicina antes de se tratar do doente real. MJG


prémios HdF

Hospital do Futuro | dez. 2010 | N. 13

Fotografias: André Roque

Prémios Hospital do Futuro 2009/2010

Óscar Gaspar, Secretário de Estado da Saúde, entrega o Prémio a Fernando Mota, Vice-Presidente do ACSS, distinguido na categoria Acessibilidade

A quinta edição dos Prémios Hospital do Futuro registou 174 candidaturas, de mais de 100 organizações e profissionais de saúde de todo o país. A cerimónia de entrega decorreu no passado mês de julho, onde foi possível distinguir projectos que utilizaram a tecnologia como um interface útil nos serviços de saúde, que promoveram a prevenção e proximidade em saúde e que conseguiram ganhos em saúde pela organização dos serviços hospitalares.

>> aceSSiBilidade Projecto: eAgenda organização: Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), I.P. responsável: Fernando Mota, Vice-Presidente da ACSS A eAgenda, inserida no Portal da Saúde, permite a aproximação do cidadão aos Cuidados de Saúde Primários, contribuindo para uma crescente desmaterialização e simplificação de processos nos serviços. Com a eAgenda já não é necessário ir à unidade de saúde para marcar consulta ou solicitar prescrição de medicamentos e esperar em filas de espera durante bastante tempo. O número de utilizadores da solução, que em Dezembro de 2009 era de 9.731, subiu em Maio de 2010 para perto de 90.000. A evolução tem sido regular desde Janeiro deste ano, data de disponibilização do serviço a todo o território de Portugal Continental. >> aUTaRQUiaS Projecto: Posto Móvel de Atendimento ao Cidadão – Serviço de Telemedicina organização: Câmara Municipal de Cabeceira de Baixo

Carla Gonçalves Pereira, Directora Executiva da SInASE, entrega o Prémio a Francisco Pereira, Vereador da Câmara Municipal de Cabeceira de Basto

responsável: Irene Fontes, Chefe de Divisão da Câmara Municipal de Cabeceira de Baixo Face aos condicionamentos na acessibilidade aos cuidados de saúde, o Posto Móvel de Atendimento ao Cidadão foi equipado com um serviço de Telemedicina. Com esta nova ferramenta é possível introduzir os dados clínicos dos utentes numa base de dados online e ter uma ficha com o histórico do utente. Todas as informações são enviadas via remota para as entidades de saúde, conseguindo-se desta forma aumentar a proximidade entre o utente e o médico de família. +

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prémios HdF

Daniel Neves, Chief Marketing Officer da Biosurfit, recebeu o Prémio

>> BioTecnoloGia Projecto: Projecto Spinit – Simplicity in Diagnostics organização: Biosurfit responsável: Daniel Neves, Chief Marketing Officer A tecnologia Spinit deverá entrar no mercado português no segundo semestre deste ano com o primeiro teste descartável que quantifica a concentração de Proteína C – Reactiva no sangue. Esta proteína é indicadora de inflamações sistémicas e vários estudos desenvolvidos consideram-na como um elemento-chave no tratamento de inflamações por bactérias, reduzindo a prescrição imprópria de antibióticos. A utilização desta tecnologia diminui o número de segundas consultas, para além de diminuir a prescrição de fármacos errados, facilitar o início do tratamento e da adopção de medidas preventivas face a doenças crónicas. A Biosurfit tem diversas patentes desta tecnologia, entre as quais se destacam três famílias já em fases nacionais nos EUA e na Europa e Japão.

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de saúde privada que apresenta o conceito de «férias cirúrgicas». Em www.algarvemedicaltourism.com, os utilizadores podem efectuar online as reservas dos serviços médicos, obter informações sobre o procedimento cirúrgico de que necessitam em termos de sintomas, descrição, indicações, riscos, efeitos secundários, cuidados pós-operatórios, tempo de internamento e outras informações. O portal está integrado no sistema Google Health e permite ainda a simulação de orçamentos de procedimentos médicos com alojamento associado à convalescença necessária. Quem tiver dúvidas poderá falar via Skype (ferramenta de comunicação online) ou através de um helpdesk online que permite aos visitantes falar em tempo real com um assistente da HPP Algarve e agendar uma conferência clínica com a equipa cirúrgica e de enfermagem.

João Nunes de Abreu, Presidente do Fórum Hospital do Futuro, entrega o Prémio a Carlos Morais, Cardiologista do Hospital Fernando da Fonseca, Coordenador Nacional da Campanha Bate, Bate Coração

>> edUcaÇÃo Projecto: Campanha Bate, Bate Coração responsável: Carlos Morais, Cardiologista do Hospital Fernando da Fonseca, Coordenador Nacional da Campanha Bate, Bate Coração

Pedro Nunes, Bastonário da Ordem dos Médicos, entrega o Prémio a José Miguel Boquinhas, Presidente do Conselho de Administração dos Hospitais Privados de Portugal (HPP)

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>> eSaúde Projecto: Turismo de Saúde organização: HPP Algarve responsável: José Miguel Boquinhas, Presidente do Conselho de Administração da HPP Algarve É o primeiro portal criado em Portugal e gerido por uma unidade

As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte em Portugal e uma parte significativa delas é por arritmias. As baixas taxas de implantes de dispositivos (Pacemakers e Cardioversores Desfibrilhadores) e de procedimentos de ablação, em comparação com outros países europeus, impedem que mais doentes recebam o tratamento adequado. Para contrariar esta situação, a Campanha Bate, Bate Coração lançou o site www.batebatecoracao.com e organizou outras iniciativas como os “Encontros Bate Bate Coração”, para doentes, profissionais de saúde e população em geral. A campanha contou com o apoio do Instituto Por tuguês do Ritmo Cardíaco (IPRC), Associação Portuguesa de Arritmologia, Pacing e Electrofisiologia (APAPE) e Associação Portuguesa de Portadores de Pacemakers e CDI’s (APPPC).


Hospital do Futuro | dez. 2010 | N. 13

Francisco George, Director-Geral de Saúde, entrega o Prémio a Marina Serrano, Directora dos Serviços Farmacêuticos, e Torcato Santos, Presidente do Conselho de Administração da Unidade Local de Saúde de Matosinhos

>> GeSTÃo & economia da Saúde Projecto: Optimização da Logística Interna dos Serviços Farmacêuticos organização: Unidade Local de Saúde de Matosinhos (ULSM), EPE responsável: Marina Serrano, Directora dos Serviços Farmacêuticos Após uma avaliação do Serviço de Farmácia, iniciou-se um processo de reorganização para diminuir o desperdício, melhorar o serviço ao cliente e haver maior rapidez e menos custos. Numa primeira fase reorganizou-se o armazém com um novo layout que facilita a comunicação e minimiza o movimento das pessoas. A consulta externa foi o primeiro local a ser reestruturado e da normalização e gestão visual constam plantas de localização dos produtos, normas de picking e de arrumação. No armazém colocaram-se medicamentos por grupo farmacêutico e criou-se uma zona de produtos com maior rotatividade, que são utilizados em doses individuais. Esta é a “Zona Dourada”, onde os medicamentos já estão individualizados, identificados e nas condições de armazenamento adequadas. De seguida desenvolveu-se um sistema facilitado de entradas e saídas dos produtos ”just in time”, utilizando-se PDA e Kanbam (cartão estrategicamente colocado de modo in loco no ponto de encomenda e na quantidade a encomendar).

João Nabais, Secretário-Geral da Saúde, entrega o Prémio a Francisco Martins Guerreiro, Administrador Executivo do Hospital do Espírito Santo de Évora

>> PaRceRiaS em Saúde Projecto: Unidade de Radioterapia organização: Hospital Espírito Santo de Évora, EPE responsável: Francisco Martins Guerreiro, Administrador Executivo

prémios HdF

O Alentejo era a única região da Península Ibérica que não dispunha de uma Unidade de Radioterapia, sendo até Setembro de 2009 os doentes encaminhados para unidades mais próximas. Para evitar as deslocações dos doentes, os custos associados e o sofrimento de doentes oncológicos, foi aberta a Unidade de Radioterapia do Hospital do Espírito Santo de Évora, através de uma parceria público-privada, com o parceiro privado Lenicare. Com esta opção tem sido mais fácil fazer face aos riscos associados a este investimento. Com a nova unidade melhorou-se a acessibilidade ao tratamento, o bem-estar dos doentes oncológicos, mas também se registaram poupanças para o Serviço Nacional de Saúde, já que não é necessário pagar o transpor te dos doentes ou o seu alojamento.

Paula Dias de Almeida, Presidente do Colégio da Farmácia Hospitalar da Ordem dos Farmacêuticos, entrega o Prémio a Armandina Saleiro, Vereadora do Pelouro Cultura e Educação da Câmara Municipal de Barcelos

>> PReVenÇÃo da oBeSidade Projecto: Cantina Verde organização: Câmara Municipal de Barcelos responsável: Armandina Saleiro, Vereadora do Pelouro da Cultura e Educação As ementas escolares do Concelho de Barcelos são elaboradas e rectificadas pelo nutricionista do município antes de serem afixadas nas escolas e na Internet. O objectivo é diminuir a percentagem de excesso de peso/obesidade dos mais novos, que tem vindo a aumentar nos últimos anos, rondando os 50%, de acordo com dados da Unidade de Saúde Pública de Barcelos. Durante a hora de almoço, os alunos são acompanhados por tarefeiras com formação sobre regras de comportamento à mesa, autoridade, higiene e segurança dos alimentos e de alimentação saudável. São também feitas análises aos alimentos na Unidade de Saúde Pública de Barcelos. Existem várias actividades paralelas que envolvem pais, professores, coordenadores e educadores, como por exemplo a Semana das Sopas, a Semana Europeia com pratos típicos dos países da União Europeia e um concurso para ganhar o Galo de Ouro. +

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prémios HdF

Maria Augusta Guimarães e Marta Pereira, do Instituto Português de Oncologia (IPO) Francisco Gentil Porto, EPE, receberam o Prémio

>> QUalidade em Saúde – acRediTaÇÃo Projecto: Acreditação em Oncologia organização: Instituto Português de Oncologia (IPO) Francisco Gentil Porto, EPE responsável: Maria Augusta Guimarães – Chefe do Serviço Hospitalar, Marta Pereira – Técnica Superior O IPO do Porto recebeu a acreditação da OECI (Organisation of European Cancer Institute), organização que promove um programa de acreditação para institutos e núcleos de Oncologia. Para o utente, esta acreditação traduz-se numa maior segurança relativamente à instituição, contribuindo para uma maior adesão à terapêutica e no aumento da confiança nos tratamentos. Na prática, a sensação de segurança ajuda a melhorar o estado de saúde dos doentes. Os profissionais de saúde também se sentem mais motivados ao verem o seu trabalho reconhecido.

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O Centro Hospitalar Barreiro/Montijo implementou um novo modelo logístico dos seus materiais, que foi desenvolvido em colaboração com a empresa BIQ Consultores. O processo de cer tificação englobou quatro fases. A primeira incluiu a remodelação do armazém, com alteração de layout e com a implementação de um sistema de código de barras para identificação dos ar tigos. A movimentação dos mesmos é registada em terminais por táteis (PDA), com ligação wireless (sem fios) ao Sistema Informático Central. Na fase seguinte foi definido, para todos os serviços de utilizadores, o stock máximo e mínimo de cada artigo. Nas últimas fases foi feita a certificação do Serviço de Aprovisionamento e foi desenvolvida e implementada uma aplicação de gestão e registo de consumo de stocks no Bloco Operatório.

Ana Escoval, da Escola Nacional de Saúde Pública, entrega o Prémio a Jaime Ramos, Presidente do Conselho de Administração da Fundação ADFP – Assistência, Desenvolvimento e Formação Profissional

>> SeRViÇo Social Projecto: Projecto /=MENTE organização: Fundação ADFP – Assistência, Desenvolvimento e Formação Profissional responsável: Jaime Ramos, Presidente do Conselho de Administração

Óscar Gaspar, Secretário de Estado da Saúde, entrega o Prémio a Vanessa Paulino, Directora de Serviço, e Izabel Pinto Monteiro, Presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Barreiro / Montijo

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>> QUalidade em Saúde – ceRTiFicaÇÃo Projecto: Projecto Integrado de Logística Hospitalar e Certificação do Serviço de Aprovisionamento organização: Centro Hospitalar Barreiro/Montijo responsável: Vanessa Paulino, Directora do Serviço de Aprovisionamento

O Projecto /= Mente pretende manter as pessoas com doença mental na comunidade. Para isso foram criadas actividades que mantêm os doentes psiquiátricos activos, evitando a exclusão social e melhorando o seu estado de saúde. Do projecto faz par te uma equipa multidisciplinar. A ADFP conta com a colaboração da Clínica Psiquiátrica dos Hospitais da Universidade de Coimbra e do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Coimbra e procura actuar em conjunto com a Segurança Social, o Instituto de Emprego e Formação Profissional, os Centros de Saúde, Câmaras Municipais, Juntas de Freguesias e outras Instituições Par ticulares de Solidariedade Social da sua área geográfica de intervenção.

Mais informação sobre os 2º e 3º Classificados em www.hospitaldofuturo.com


prémio CGC

Hospital do Futuro | dez. 2010 | N. 13

o Prémio CgC Prof. doutor Amândio tavares FWA premiou em nova edição três projectos na área da genética. os vencedores receberam o prémio, no passado mês de julho, numa cerimónia que contou com a presença do secretário de estado e Adjunto da saúde, óscar gaspar.

André Roque

Premiar a Genética

Nuno Cerveira, segundo classificado, Purificação Tavares, Presidente do Conselho de Administração do Centro de Genética Clínica, Laura Vilarinho, primeira classificada, e Gisela Barros, representante do terceiro classificado.

1º PRémio Four years of expanded newborn screening in Portugal with tandem mass spectrometry Laura Vilarinho, Responsável da Unidade de Rastreio Neonatal do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge As doenças metabólicas são genéticas e raras e o ideal é detectá-las de forma precoce. Portugal dispõe actualmente de um programa de rastreio que possibilita o diagnóstico e o tratamento em tempo útil de mais de 20 patologias distintas, sem grande aumento de custos para o país. Para melhorar a detecção deste tipo de doenças, a Unidade de Rastreio Neonatal adoptou a tecnologia de espectrometria de massa em tandem (MS/MS). Esta tecnologia permite a análise simultânea de múltiplos parâmetros numa só amostra de sangue, colhida sobre papel de filtro. 2º PRémio structural and expression Changes of septins in myeloid Neoplasia Nuno Cerveira, Assistente de Saúde e Investigador, Instituto Português de Oncologia Francisco Gentil, Porto Com este trabalho pretende-se identificar e caracterizar alterações estruturais e de expressão de uma família de genes, as septinas, envolvidas em importantes funções celulares em doentes com leucemia aguda. É demonstrado que determinadas alterações

destes genes, nomeadamente anomalias de expressão génica, parecem associar-se preferencialmente a determinados subtipos de leucemia aguda. Adicionalmente, verifica-se que alterações a nível da estrutura de alguns genes desta família parecem ter importantes implicações prognósticas. Estas descobertas poderão ter, futuramente, implicações relevantes a nível do tratamento dos doentes com este tipo de cancro. 3º PRémio estudo clínico e genético da síndrome de rett em Portugal Patrícia Maciel, Mónica Santos, Teresa Temudo, Investigadoras da Escola de Ciências da Saúde, Universidade do Minho Este trabalho permitiu iniciar em Por tugal o diagnóstico genético da síndrome de Rett, que causa desordens motoras e intelectuais, afectando apenas crianças do sexo feminino. Há assim uma melhor distinção entre doentes por tadores de mutação no gene MECP2 e doentes sem mutação e potencialmente uma melhor definição de prognóstico de acordo com o tipo de mutação. Em paralelo, foi iniciada uma linha de investigação sobre a patogénese da síndrome de Rett, que permitiu identificar alterações patológicas e neuroquímicas precoces nesta doença (com possíveis implicações terapêuticas futuras). A re-definição de critérios clínicos de diagnóstico de doença de Rett e síndrome de Rett proposta neste trabalho ajuda a optimizar o diagnóstico e a seleccionar doentes a testar molecularmente.

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entrevista

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Levar a saúde aos mais carenciados de Lisboa melhorar a saúde da população implica, nalguns casos, ir ao encontro de quem vive na rua ou em situações de graves carências sócio-económicas. josé Ferreira, Presidente do Conselho executivo da direcção de saúde de Proximidade da santa Casa da misericórdia de lisboa (sCml), explica o trabalho desenvolvido por esta equipa.

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Quem são os vossos parceiros? Há vários parceiros internos e externos, nomeadamente seis unidades de saúde e três extensões. Estas unidades dão apoio à população-alvo do depar tamento. O Hospital Or topédico de Sant’ Ana e o Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão também prestam cuidados, já que estão sob a égide da SCML. Foram estabelecidas parcerias ainda com várias instituições públicas e privadas, instituições de Ensino Superior, organizações não governamentais (ONG), associações civis, religiosas e de acção social.

Fotografias: André Roque

Quais são as áreas de intervenção do saúde de Proximidade? A nossa preocupação é dar assistência à população a nível bio-psico-social. O Saúde de Proximidade tem cuidados primários, mas também presta alguns cuidados secundários, como Ginecologia/ Obstetrícia, Saúde Oral, Ortopedia, Saúde Mental, PedoPsiquiatria, Oftalmologia e Otorrinolaringologia. O depar tamento dá ainda apoio domiciliário. Aliás, penso que esta é uma grande mais-valia.


entrevista

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Qual é a população-alvo das vossas iniciativas? Houve uma reformulação, este ano, da população-alvo, para que pudéssemos ter um perfil mais exacto das necessidades. Estamos a falar da população mais carenciada que vive na área metropolitana de Lisboa. A maior fatia da população-alvo são os idosos, já que têm menos autonomia e mais patologias. Quais são os principais problemas de saúde da população-alvo do vosso trabalho? Os problemas de saúde são os habituais da restante população, nomeadamente a diabetes, a hipertensão, excesso de colesterol, comportamentos de risco ou problemas de saúde mental. No caso dos comportamentos de risco há a salientar a aposta que temos na prevenção da delinquência, ajudando vários jovens de e em risco. Como é que a população reage às vossas iniciativas? Há que considerar os diferentes tipos de população. Há pessoas que vêm ter connosco e nos pedem ajuda e há outros, nomeadamente adolescentes, sem-abrigo e imigrantes, que têm mais receio. Contudo, a nossa experiência no terreno demonstra que esse receio acaba por desaparecer. Há jovens, por exemplo, que trazem amigos para os podermos ajudar. Há um número significativo de casos de tuberculose que, face às condições precárias de vida, se tornam facilmente multirresistentes.

gANHAr A CoNFiANçA dA PoPulAção Que balanço faz dos roteiros para a imigração? Os Roteiros começaram em 2007 e o resultado é positivo, o que se revela na

parceria estabelecida com o Alto Comissariado da Saúde (ACS). Esta parceria prevê a realização de roteiros de

“Há pessoas que vêm ter connosco e nos pedem ajuda e há outros, nomeadamente adolescentes, sem-abrigo e imigrantes, que têm mais receio”

2009 a 2011. Todos os anos serão organizadas quatro semanas que se dedicam a determinadas temáticas de saúde. Este ano estamos a apostar na saúde materno-infantil e nas doenças respiratórias. A população-alvo são os imigrantes, independentemente de terem ou não documentos. Aliás, na nossa abordagem e intervenção, nem sequer perguntamos o nome das pessoas. É uma forma de não se sentirem intimidadas e de evitarem a nossa ajuda, por recearem ser encontradas sem documentos. +

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entrevista

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actividades desenvolvidas pelo departamento de Saúde de Proximidade da Scml Saúde na Praia Rastreios e actividades lúdico-pedagógicas para crianças, jovens e idosos. Das actividades fazem parte jogos, debates, tardes de cinema, entre outras.

A nossa preocupação é dar assistência à população a nível bio-psico-social.

Quais sãos os problemas de saúde que mais afectam os imigrantes, nomeadamente os indocumentados que não têm acesso a cuidados continuados? Os problemas de saúde são como os da restante população. Há, contudo, um número significativo de casos de tuberculose que, face às condições precárias de vida, se tornam facilmente multirresistentes.

moção da saúde, onde se realizam rastreios e se procura detectar problemas de saúde e sociais. Quais são as principais dificuldades que enfrentam nas várias acções? Depende da população em causa. Há quem venha ter connosco, há quem nos receba muito bem e há quem nos receba

“Na nossa abordagem e intervenção, nem sequer perguntamos o nome das pessoas. É uma forma de não se sentirem intimidadas e de evitarem a nossa ajuda.”

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Quais são as nacionalidades dos imigrantes que encontraram nos roteiros? As equipas costumam encontrar brasileiros, africanos de países de língua portuguesa, nomeadamente cabo-verdianos, africanos de países de língua francesa e cidadãos de Leste (ucranianos, russos, moldavos e romenos).

com alguma desconfiança e receio. Neste último caso, estas reacções acontecem inicialmente junto da população imigrante por haver vários imigrantes indocumentados. Mas com um maior conhecimento do nosso trabalho compreendem que não estamos lá para saber se têm documentos, mas para os ajudar.

Neste momento têm duas unidades móveis no terreno. Que tipo de actividades é que realizam? As unidades móveis são utilizadas nos roteiros, mas também noutras acções. Exemplo disso são as campanhas de pro-

Quais são as perspectivas futuras para o saúde de Proximidade? O nosso objectivo é continuar a prestar apoio à população mais carenciada, dando resposta às necessidades que vão surgindo.

Roteiros de Saúde Para Todos os imigrantes Programa de promoção da saúde dirigido a todos os imigrantes, estejam ou não em situação regularizada. consultas Atendimento gratuito e confidencial de jovens. Na Unidade W Mais há consultas de Saúde do Adolescente, Planeamento Familiar, Ginecologia, Gravidez e Apoio Psicológico. A Unidade W Mais dispõe ainda de um espaço de expressão criativa e informática. centro de avaliação Geriátrica e Recursos Gerontológicos Promoção da saúde da população idosa da cidade de Lisboa, incidindo sobre os cuidados de saúde na área da dependência e reabilitação. Serviço Social O encaminhamento é sempre feito para a técnica de Serviço Social da zona de residência do utente ou para o Serviço de Emergência Social. Gabinete de apoio ao Utente Alteração de Dados Identificativos, Reclamações, Sugestões e Agradecimentos. meios complementares de diagnóstico Análises, Despistes de Colesterol e Glicemia, Imagiologia (incluindo Colposcopia).


saúde ibérica

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Banco espanhol descodifica o ADN de várias doenças doenças de elevado grau de complexidade estão a ser estudadas no banco Nacional de AdN, em espanha. o objectivo é recolher amostras de tecidos doentes e sãos e identificar a influência genética e ambiental de determinadas patologias. o banco tem protocolos a nível internacional e estuda, sobretudo, doenças cardiovasculares, metabólicas, neuropsiquiátricas e o cancro.

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dentificar genes em doenças complexas é um dos principais objectivos do Banco Nacional de ADN de Espanha. O banco de ADN espanhol é uma plataforma tecnológica de apoio à investigação biomédica que recolhe, processa e armazena amostras de pacientes. As doenças estudadas são as cardiovasculares, metabólicas, neuropsiquiátricas e o cancro.

Fonte: istockphoto.com

As amostras armazenadas e utilizadas em investigações são recolhidas com o consentimento informado dos pacientes. Se uma pessoa tem um tumor e pode ser operada, pode doar o tecido afectado e contribuir assim para a realização de estudos mais aprofundados na área do cancro. O objectivo é fazer a doação, para que possa ajudar a ciência a desco-

No banco de ADN, os investigadores identificam genes em doenças complexas, dissecam o papel de factores ambientais, sociais, dietéticos e de estilos de vida em doenças complexas.

brir novas terapias e até a cura para várias doenças. Mas as pessoas saudáveis também podem contribuir com amostras de tecidos, nomeadamente familiares de primeiro grau (pai, mãe, filho/a e irmãos gémeos). Após a recolha das amostras, o Banco Nacional de ADN promove e desenvolve investigação sobre a sua diversidade genética e genómica. Desta forma, consegue estudar a génese de determinada doença, o seu tratamento e como evoluiu na população, principalmente na espanhola. No banco de ADN, os investigadores identificam genes em doenças complexas, dissecam o papel de factores ambientais, sociais, dietéticos e de estilos de vida em doenças complexas. Na prática contribuem para o impulso da farmacogenética, ou seja, para a descoberta e +

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saúde ibérica

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Fonte: istockphoto.com

produção de medicamentos que têm por base a resposta genética do organismo dos doentes, segundo informações da responsável pela Unidade de Gestão de Qualidade do Banco Nacional de ADN, Ana Mayordomo. Este tipo de material, recolhido em condições pré-definidas, permite fazer investigação de translação, isto é, aplicar conhecimentos de investigação biomédica básica a problemas clínicos relevantes.

doenças mais estudadas no Banco de adn de espanha doenças cardiovasculares Hipertensão Arterial Enfarte do Miocárdio Ataque Cardíaco Insuficiência Cardíaca Fibrilhação Auricular doenças oncológicas Tumores sólidos: Colorectal Mama Cabeça e Pescoço Pulmão Próstata Tumores Hematológicos: Leucemia linfocítica crónica Síndrome Mieloproliferativo crónico Linfoma Non-Hodgkin doenças metabólicas Diabetes Mellitus tipo I Diabetes Mellitus tipo II Dislipidémias Obesidade Obesidade Mórbida

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doenças neuropsiquiátricas Esquizofrenia Doença de Alzheimer Doença de Parkinson Esclerose Múltipla Esclerose Lateral Amiotrófica Distonia cervical idiopática

dados muito elaborados sobre estas patologias, o banco está a estudar a doença em si, a sua evolução e a influência da genética e do ambiente no surgimento e no agravamento de ambas as patologias. A presidente da fundação, Anna Cuscó, considera que o banco é uma mais-valia para a descoberta de mais informações científicas sobre um problema de saúde que é cada vez mais comum na sociedade actual. “Um dos nossos objectivos é pro-

“Um dos nossos objectivos é promover e desenvolver linhas de investigação que possam melhorar o conhecimento sobre os mecanismos fisiopatológicos da fibromialgia e da síndrome de fadiga crónica” O banco tem, actualmente, 3.931 amostras disponíveis. Em funções desde Março de 2004, a instituição teve início com o convénio estabelecido entre a Fundación Genoma España, a Universidade de Salamanca e a Consejería de Salud da Junta de Castilla y León. Actualmente, faz recolhas e tem protocolos com várias entidades, tanto em Espanha como a nível internacional. Exemplo disso é o GenomEUtwin Project, o CARTaGENE ou Genome Canada, o Banco de ADN do Reino Unido e o Banco de ADN da Estónia. Através de um trabalho em equipa, pretende-se identificar os factores biológicos e ambientais que estão associados às diversas doenças estudadas, ainda de acordo com a responsável da Unidade de Qualidade do banco espanhol. o estudo dA FibromiAlgiA e dA síNdrome de FAdigA CróNiCA Uma das entidades espanholas que se juntou ao Banco Nacional de ADN foi a Fundação de Doentes de Fibromialgia e Síndrome de Fadiga Crónica. Ambas as doenças têm consequências negativas para a vida pessoal e profissional dos doentes. Como ainda não há estudos com

mover e desenvolver linhas de investigação que possam melhorar o conhecimento sobre os mecanismos fisiopatológicos da fibromialgia e da síndrome de fadiga crónica”, refere Ana Cuscón. No entender da responsável pela fundação, há duas razões que justificam a aposta do banco de ADN nestas duas patologias. Antes de mais há evidência de que há uma predisposição genética para que a fibromialgia e a síndrome de fadiga crónica surjam, em 95% dos casos, em mulheres. A outra razão é a predisposição genética destas doenças, já que se tem verificado que um familiar de primeiro grau de um doente tem oito vezes mais probabilidades de vir a ter a mesma enfermidade. Ana Cuscón espera que o trabalho do banco Nacional de ADN ajude a descobrir os genes que são considerados peçaschave no desenvolvimento da fibromialgia e da síndrome de fadiga crónica. “Além disso, a investigação genética tem de ajudar a descobrir novas moléculas, como ligações terapêuticas, que ataquem a fisiopatologia destas duas enfermidades” refere. Os investigadores vão assim compreender doenças que afectam cada vez mais as populações, nomeadamente do mundo ocidentalizado. MJG


diabetes

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ecentemente visitei Por tugal e Espanha por motivos pessoais, mas decidi que iria dedicar par te do meu tempo a trabalhar. Ainda bem que o fiz, pois tive opor tunidade de conhecer muitos endocrinologistas, médicos e enfermeiros dedicados. Durante a minha estadia pude por isso conhecer praias fantásticas, monumentos e cidades históricas incríveis, mas também tive a oportunidade de discutir temas importantes na área da diabetes, que gostaria de partilhar convosco.

Todos os estudos recentes “trabalham” em conjunto para mostrar o benefício da terapia com bomba de insulina e monitorização contínua da glicose no controlo da diabetes

estudo stAr3: bombA iNFusorA Com moNitorizAção CoNtíNuA dA gliCose Versus iNjeCções diáriAs de iNsuliNA No início do Verão, durante a conferência anual da American Diabetes Association (AAD), em San Antonio (EUA), foram anunciados os resultados do estudo STAR3 pelo Dr. Richard Bergenstal, presidente da associação e professor de Medicina na Universidade do Minnesota. Simultaneamente à apresentação do Dr. Bergenstal, o New England Journal of Medicine publicou o artigo 1-Year Randomized Controlled Trial Comparing Sensor-Augmented Pump Therapy and Multiple Daily Injection Therapy: The Sequenced Alternatives for A1C Reduction 3 (STAR 3) Study. O STAR3 é um estudo multicêntrico, randomizado e controlado, que teve a duração de um ano e que comparou a terapia com bomba de insulina com sensor (SAP: bomba de insulina e monitorização continua da glicose) com múltiplas injecções diárias de insulina (MDI) em 485 indivíduos com diabetes tipo 1 [329 adultos (entre os 19 e os 70 anos) e 156 crianças (entre os 7 e os 18 anos)]. Os resultados do STAR3 demonstraram que houve uma redução estatisticamente significativa dos níveis de hemoglobina glicada (também abreviada como A1c e é a média das glicemias nos últimos 90 dias) com a terapia SAP em com-

Fonte: Medtronic

“Este é um momento emocionante para a investigação”

Francine Kaufman é médica endocrinologista pediátrica nos E.U.A. Já foi presidente da Associação Americana de Diabetes e é considerada uma das melhores médicas na América. Dedicou a sua carreira à diabetes nas crianças e jovens.

paração com as injecções múltiplas (SAP: A1c de 8,3 a 7,5 por cento; MDI: A1c de 8,3 a 8,1 por cento; P<0.001) e que este tratamento foi eficaz quer em pacientes adultos, quer em idade pediátrica. No coorte de adultos verificou-se um decréscimo de um por cento nos níveis de A1c com a terapia SAP, o que revela que este tratamento traz grandes benefícios no tratamento da diabetes. A grande percentagem de adultos e crianças no grupo SAP alcançou os valores indicados de hemoglobina glicada em relação ao grupo MDI. Houve ainda um resultado favorável na redução da A1c com o aumento da utilização do sensor +

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diabetes

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cento nos níveis de A1c, quando os indivíduos passaram de MDI para bomba inEste é um momento muito emocionante para a investigação na área da Diabetes. Estamos a desenvolver tecnologia cada vez mais auxiliadora no controlo da diabetes – bombas fusora com e sensores – que conjuntamente permitem a automatização da administração da insulina. monitorização da glicose (P<0.001). Não se verificaram diferenças através de picada capilar, o mais habitual entre os dois grupos no que toca a hipoaté agora. glicemias severas (P=0.58), DKA (P=0.99) Mais uma vez todos estes estudos recentes e aumento de peso (P=0.19). “trabalham” em conjunto para mostrar o Acima de tudo o STAR3 demonstrou que benefício da terapia com bomba de insulina em pacientes adultos e em idade pediátrica, e monitorização contínua da glicose – e socom um controlo inadequado da diabetes bretudo a sua combinação – na melhoria tipo 1, a terapia SAP trouxe melhorias signidos níveis da hemoglobina glicada e conseficativas dos valores de A1c, quando compaquentemente no controlo da diabetes. rado com as injecções múltiplas. Esta Todos estes estudos evidenciaram ainda melhoria não está associada ao aumento que estas diminuições dos valores de A1c dos casos de hipoglicemias ou de peso. podem ser alcançadas sem aumento do número de casos de hipoglicemias graves. A teCNologiA No trAtAmeNto dA diAbetes O estudo STAR3 foi desenvolvido tendo como base outros estudos que já tinham demonstrado os benefícios da tecnologia no tratamento da diabetes. Uma avaliação da Juvenile Diabetes Research Foundation (JDRF) comprovou que a monitorização contínua da glicose (CGM) reduziu os níveis de A1c em 0,5 por cento em jovens e adultos que utilizavam esta tecnologia mais de 80 por cento do tempo. Esta é considerada uma redução muito significativa da hemoglobina glicada e mostra os benefícios da utilização da CGM com bomba infusora ou MDI. Por outro lado, o estudo Real-Trend, realizado em França, evidenciou que a SAP em comparação com a terapia com bomba de insulina, em pacientes que iniciaram o tratamento com MDI, traz melhorias significativas quando o CGM é Estão a decorrer experiências de utilizado segundo o protocolo. Neste avaliação do “closed loop system” caso, houve um decréscimo de um por completo, em que toda a administração da insulina é automática e guiada pelos cento, uma vez mais um valor muito relevalores de glicose obtidos através de sensor. vante. No grupo com bomba de insulina verificou-se uma redução de 0,5 por

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o Futuro dA diAbetes tiPo 1: PâNCreAs ArtiFiCiAl Este é um momento muito emocionante para a investigação na área da Diabetes. Estamos a desenvolver tecnologia cada vez mais auxiliadora no controlo da diabetes – bombas e sensores – que conjuntamente permitem a automatização da administração da insulina. Existe já uma bomba disponível, que é o primeiro passo para esta automatização, permitindo a suspensão automática da administração da insulina quando os pacientes atingem níveis de açúcar no sangue demasiado baixos. A suspensão na administração da insulina durante uma hipoglicemia permite que os doentes reduzam ainda mais os episódios de hipoglicemia severa – enquanto continuam o seu tratamento da diabetes. Esta característica é apenas o início do desenvolvimento do “pâncreas ar tificial”. Neste momento, estão a decorrer nos EUA, Europa e Austrália experiências de avaliação do “closed loop system” completo, em que toda a administração da insulina é automática e guiada pelos valores de glicose obtidos através do sensor. Um algoritmo avalia uma série de parâmetros e determina qual a quantidade de insulina a administrar minuto a minuto. Os primeiros estudos mostram que este sistema pode ser desenvolvido e utilizado – embora nesta fase em ambiente de investigação. Estes estudos evidenciam ainda que este sistema pode controlar a diabetes. Embora este pâncreas não vá estar comercialmente disponível por algum tempo e requer ainda aperfeiçoamento e alguma avaliação, é algo que devemos aguardar com grande expectativa. São muitos os desafios no tratamento da diabetes tipo 1 e estes aumentam quando os pacientes são crianças e jovens. Durante os meus 30 anos de carreira como Endocrinologista Pediátrica, testemunhei múltiplos avanços incríveis. Percorremos um longo caminho até aqui e ainda temos um trajecto longo a percorrer. Mas acredito que chegaremos lá um dia.


colesterol

Fonte: istockphoto.com

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Excesso de colesterol afecta crianças os mais novos não estão livres de ter níveis elevados de colesterol. As razões estão, regra geral, nos maus hábitos alimentares, mas os genes também têm um papel importante nos casos raros de Hipercolesterolémia Familiar.

S

ão casos raros, mas há crianças com níveis elevados de colesterol herdados geneticamente. A Hipercolesterolémia Familiar é uma doença autossómica dominante, ou seja, é herdada dos pais. As consequências podem ser muito graves e, nalguns casos, só se detecta o problema quando se chega à idade adulta e após morte súbita. O ideal seria optar por um rastreio na infância ou nas famílias onde se detectam problemas cardiovasculares em indivíduos jovens. Para facilitar o rastreio, o Serviço de Cardiologia Pediátrica do Hospital de Santa Marta (Centro Hospitalar Lisboa Central) tem uma Consulta de Prevenção Cardiovascular, onde são atendidas crianças e adolescentes com factores de risco

cardiovascular e é despistada a existência de hipercolesterolémia, de forma a despistar precocemente estas alterações. Para complementar esta investigação o Serviço tem ainda em curso um projecto para identificar a fiabilidade de um método que não exija grandes custos e que seja de fácil utilização. O método denomina-se tonometria arterial periférica e consiste em apertar o braço durante determinados minutos, provocando uma isquémia ou dificuldade de circulação naquela zona do corpo. Através de um sensor próprio, colocado no dedo, é possível perceber se o endotélio (o tecido que reveste todos os vasos sanguíneos) está saudável ou não. O método ainda está a ser estudado e, como

Os rastreios realizados em idades mais precoces permitem diminuir o risco associado aos elevados níveis de colesterol, como os enfartes agudos do miocárdio, o acidente vascular cerebral ou a morte súbita.

se trata de um estudo longitudinal de cinco anos, ainda vai levar algum tempo até se conseguir provar cientificamente que é um método fiável. A investigação teve início no final de 2009 e, até ao momento, está a ter resultados positivos, de acordo com Fátima Pinto, Directora do Serviço de Cardiologia Pediátrica do Hospital de Santa Marta. O objectivo deste método é detectar de forma precoce a existência de doença do endotélio, que está associada à existência de risco cardiovascular em doentes com factores de risco e também nos que têm Hipercolesterolémia Familiar, para se evitar e controlar as consequências bastante negativas da doença. A doença nem sempre apresenta sintomas na infância, podendo vir a manifestar-se apenas na adolescência ou no início da vida adulta. Fátima Pinto explica à HdF que, regra geral, o problema é detectado nas análises de rotina ou quando o excesso de colesterol começa a depositar-se na pele e nos tendões, aparecendo pequenos nódulos. Noutros casos podem surgir placas brancas nas pálpebras. Os rastreios realizados em idades mais precoces permitem diminuir o risco associado aos elevados níveis de colesterol, como os enfartes agudos do miocárdio (EAM), o acidente vascular cerebral (AVC) ou a morte súbita. No entender da cardiologista, dever-se-ia dar mais atenção aos casos de homens e mulheres que +

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colesterol

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risco cardiovascular e que o stress também contribui para o aumento do colesterol, estes jovens terão na idade adulta tendência para manter os níveis ou mesmo aumentá-los”, refere a investigadora do INSA.

Fonte: istockphoto.com

Mafalda Bourbon, face aos resultados do estudo-piloto, alerta para a importância de haver mais prevenção e espera que o estudo possa ser alargado a nível nacional. O INSA ainda não realizou o estudo em todo o país por falta de verbas. “Estamos à procura de financiamento junto da sociedade e entidades interessadas”, salienta a investigadora.

A Hipercolesterolémia Familiar é rara e passa de pais para filhos.

sofrem EAM ou AVC quando ainda são bastante novos. Nesses casos, se tiverem filhos, estes deverão ser rastreados para se saber se sofrem de Hipercolesterolémia Familiar ou, pelo menos, de níveis elevados de colesterol (hipercolesterolémia) que podem ser controlados com a mudança de hábitos alimentares e de estilos de vida.

equilíbrio na alimentação”, refere à HdF a investigadora do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA) Mafalda Bourbon. A responsável relembra ainda que é grave a falta de exercício físico das crianças e a existência de jovens que estão mais horas ao computador ou em frente à televisão do que a brincar e a jogar uns com os outros.

O excesso de colesterol nas crianças e adolescentes deve-se, na maioria dos casos, a hábitos de vida errados. As crianças têm uma alimentação pouco cuidada.

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30% dos joVeNs têm NíVeis eleVAdos de Colesterol Os hábitos alimentares e o estilo de vida são, na maioria dos casos, os responsáveis pela hipercolesterolémia. “O excesso de colesterol nas crianças e adolescentes deve-se, na maioria dos casos, a hábitos de vida errados. As crianças têm uma alimentação pouco cuidada, com uma ingestão de gorduras trans (existentes em todos os alimentos processados, como bolicaos, etc.) e uma fraca ingestão de frutas e legumes que ajudariam a repor o

O INSA realizou, entre 2007 e 2009, o estudo-piloto “Coração Jovem – estudo de prevenção cardiovascular nas escolas” para estudar a prevalência dos factores de risco cardiovascular numa população com idades compreendidas entre os 15 e os 18 anos. Os resultados não foram muito positivos, de acordo com a investigadora Mafalda Bourbon. Cerca de 30% dos jovens apresentaram valores de colesterol iguais ou superiores ao normal (170mg/dl). “Sabendo que o colesterol é um importante factor de

A PreVeNção deVe ser semPre umA APostA A prevenção é a palavra-chave do problema. Nos casos raros de Hipercolesterolémia Familiar, um diagnóstico precoce permite alterar hábitos de vida e receitar, se necessário, medicação que ajuda a controlar a doença, refere Fátima Pinto. Nos restantes casos, o excesso de colesterol pode ser controlado ou até evitado se se adoptarem estilos de vida saudáveis desde a infância, onde impere uma alimentação rica em verduras, legumes, peixe e fruta. O exercício físico também deve fazer par te dos hábitos da criança, evitando-se que estejam muitas horas sentados em frente à televisão, ao computador ou a jogar consolas. O segredo para que se possa viver de forma mais saudável, desde a infância, está no exemplo dos pais e educadores, segundo Fátima Pinto. Os mais velhos devem ser o exemplo para que os mais pequenos adoptem mais facilmente hábitos de vida saudáveis. Mafalda Bourbon concorda e deixa uma dica. “Quem não gosta de desporto pode fazer caminhadas e andar de bicicleta com os amigos”, aconselha. Hábitos criados desde a infância têm mais tendência para perdurarem ao longo da vida e, tendo em conta os problemas cardiovasculares provocados pelo excesso de colesterol, vale a pena mudar alguns costumes. MJG


entrevista

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Lutar contra a violência na intimidade As enfermeiras podem influenciar o fortalecimento da capacidade da mulher para exercer um maior controlo da sua vida e maria Neto da Cruz leitão, Professora Coordenadora da escola superior de enfermagem de Coimbra (esenfC), explica à revista HdF de que forma este projecto ajuda as mulheres. Como é que se pode ousar caminhar em saúde para se combater a violência nas relações de intimidade? A violência, especialmente a exercida nos contextos de intimidade, é um problema ancestral, complexo e de difícil resolução. Durante décadas foi olhado como um problema sociocultural, jurídico e de segurança, mas em 1998 a Organização Mundial de Saúde (OMS) considerou que a violência era um grave problema de saúde pública. Considerou ainda que os serviços de saúde podiam e deviam ajudar a resolver esta situação, porque as pessoas vítimas-sobreviventes e as que partilham os mesmos contextos de vida eram significativamente afectadas no seu desenvolvimento, na sua saúde e no seu bem-estar devido a essa violência. Para além das mortes que provoca, a investigação mundial e nacional diz-nos que a violência nas relações de intimidade está relacionada com o aparecimento de muitas doenças no domínio físico, psicológico, sexual e reprodutivo. É um problema que precisa de respostas integradas e em rede. Os serviços de saúde devem fazer parte desta rede, essencialmente por dois motivos: primeiro porque é uma porta de entrada fácil e acessível onde as pessoas recorrem com facilidade e onde podem ser rastreadas

para este problema. Segundo, porque é preciso responder às necessidades em saúde sentidas por estas pessoas; necessidades que raramente manifestam e raramente são identificadas como problemas de saúde associados à violência. É preciso olharmos mais para a origem dos problemas e não nos centrarmos no tratamento dos sintomas que apresentam. o que é o Projecto (o)usar & ser laço branco? A missão do projecto é promover relações de intimidade saudáveis e prevenir a violência entre pares, a começar no namoro. Acreditamos que a construção de relações de intimidade livres de estereótipos de género e de qualquer outra forma de violência contribuem para um mundo mais justo e mais livre entre homens e mulheres. Este projecto procura informar, sensibilizar e educar jovens através dos seus pares, para prevenirem e combaterem a violência nas relações de intimidade, sejam elas no namoro, conjugais ou equiparadas. O processo de sensibilização é sustentado na metodologia de Paulo Freire, desenvolvendo a consciência crítica e o empowerment, através da educação pelos pares, usando o Teatro do Oprimido. Acredita-se no fortalecimento de práticas auto-pro-

Maria Neto da Cruz Leitão, Professora Coordenadora da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

tectoras, de protagonismo feminino, e em simultâneo, a promoção de práticas não violentas entre os pares. Propõe-se implementar um modelo integrado na prevenção da violência, com efeito multiplicador entre pares e desenvolver e divulgar o conhecimento científico sobre educação pelos pares e violência no namoro. Procura-se também promover o desenvolvimento de competências transversais dos estudantes da ESEnfC com vista ao futuro exercício profissional. É necessário ajudar os jovens quando estes estão a construir as suas relações mais íntimas, para que saibam escolher os seus companheiros e para estarem atentos ao comportamento dos(as) seus(suas) amigos(as), de forma a poderem ajudá-los(as) quando algo não está bem com eles(elas). Este trabalho pode ser feito na educação para a saúde realizada nas escolas ou em qualquer outro local, quando se aborda a sexualidade, as questões de género ou a prevenção da violência em geral. Quais são os principais factores, actualmente, que levam à violência nas relações? Ao nível individual podemos considerar a história pessoal e os factores biológicos que influenciam o modo como os indiví- +

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entrevista

duos se compor tam e aumentam a sua probabilidade de se tornarem vítimas ou perpetradores de violência. A qualidade das relações pessoais, na família, com os parceiros e amigos íntimos podem influenciar o risco de se tornar uma vítima ou perpetrador(a) de violência. Na comunidade, os contextos em que ocorrem as relações sociais, como as escolas, os bairros e os locais de trabalho, também influenciam a ocorrência da violência. Outros factores de risco ao nível da comunidade podem ser o desemprego, a densidade populacional, a mobilidade e a existência de drogas ou armas no comércio local. Também os factores sociais influenciam o modo como a violência é incentivada ou inibida. Aqui incluem-se as normas culturais e sociais, tais como: manutenção das sociedades patriarcais, as desigualdades de género, papéis sexuais rígidos, dominação masculina sobre as mulheres, a dominação parental sobre as crianças e as normas culturais que legitimam a violência como um método aceitável na resolução de conflitos.

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inquéritos (1995-2007), mais de 50% do total das vítimas do mesmo período de tempo. Ou seja, o local onde as mulheres têm maior probabilidade de serem vítimas é a casa. O mesmo já não se verifica com os homens, pois a probabilidade de serem alvo desta violência é cerca de três vezes menor do que nas mulheres. O mesmo estudo revela ainda que à semelhança do que ocorre noutros países, em Por tugal, enquanto as mulheres são vítimas sobretudo de autores homens (em mais de 75% dos casos), os autores da violência exercida contra os homens são também homens, em percentagens equivalentes às das mulheres. Isto verifica-se mesmo na violência psicológica, contrariando o senso comum e algumas ideias préconcebidas que normalmente atribuem às mulheres a autoria deste tipo de violência. No que concerne às relações de parentesco entre autores e vítimas, as diferenças também são significativas: nas mulheres predominam os cônjugescompanheiros-namorados (ou ex) e

“Acreditamos que a construção de relações de intimidade livres de estereótipos de género e de qualquer outra forma de violência contribuem para um mundo mais justo e mais livre entre homens e mulheres”

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Quem são as pessoas mais afectadas? De acordo com um inquérito nacional sobre violência de género desenvolvido em 2007 e coordenado pelo Professor Manuel Lisboa da SociNova, a violência nas relações de intimidade continua a afectar mais as mulheres. Ao ser feita uma análise comparativa com os dados de 1995 (na população com 18 e mais anos) verificou-se uma diminuição da prevalência da vitimização em geral (de 48% para 38%), mas os actos de violência praticados na intimidade da casa-família continua a afectar, nos dois

nos homens são homens desconhecidos e colegas. Ainda no mesmo estudo, as causas mais apontadas pelas mulheres vítimas para o facto de terem sido alvo de violência, foram o ciúme, o sentimento de posse do agressor e os valores relativamente às mulheres. Estes resultados são mais um indicador da necessidade de intervir preventivamente ao nível da mudança de mentalidades e compor tamentos sobre a igualdade de género, tanto em jovens como adultos, homens e mulheres.

Qual é o papel do enfermeiro na prevenção da violência na intimidade? Os enfermeiros podem actuar ao nível de cuidados de saúde primários, trabalhando com crianças e adolescentes para aprenderem a relacionar-se saudavelmente e ajudando a desmistificar crenças e mitos sobre género e violência. Podem ainda desenvolver campanhas de informação e sensibilização sobre o que é a violência, porque ainda há muitos comportamentos violentos que as pessoas não identificam enquanto tal, como a violência sexual e psicológica. Podem ainda trabalhar no domínio da prevenção com grupos de maior risco. Relativamente aos cuidados de saúde diferenciados podem fazer diagnósticos precoces através de rastreios sistemáticos sempre que as mulheres recorrem a serviços de saúde, concretamente nas consultas de planeamento familiar, vigilância da gravidez, saúde infantil, saúde no trabalho, urgência e serviços de saúde mental. Podem também desenvolver intervenção em situação de crise. Por último, podem ajudar a mulher a transitar para uma vida sem violência, promovendo o empowerment e ajudando-a a encontrar as respostas sociais de que necessita. Há muito conhecimento de enfermagem disponível que pode ser utilizado em qualquer uma destas intervenções. Que mensagem gostaria de deixar aos enfermeiros sobre esta temática? Como somos das profissões mais numerosas e mais próximas das pessoas, somos também dos profissionais que passam mais tempo com as pessoas, como tal, podemos ter um poderoso efeito na redução da violência e na promoção de uma cultura de não-violência. É necessário estarmos despertos para sinais e ou sintomas que nos possam indiciar relações de violência, de modo a que no âmbito do nosso mandato social diagnostiquemos e intervenhamos o mais precocemente possível, pois só assim prestamos um serviço às pessoas sejam elas os (as) sobreviventes ou os (as) agressores (as). MJG


eventos

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entrevista

Quais sãos os desafios bioéticos da actual prática médica? O principal desafio é o de os profissionais interiorizarem o dever de informarem as pessoas doentes, às quais prestam serviços, com verdade e clareza, sobre o que lhes propõem como intervenção de diagnóstico ou terapêutica. E depois desta explicação receberem o consentimento da pessoa.

Daniel Serrão, médico conhecido pela sua intervenção em várias áreas da saúde, fala-nos sobre o testamento vital, os cuidados paliativos e o Serviço Nacional de Saúde (SNS).

É contra o testamento Vital. Que medidas devem então ser tomadas nos casos de doenças terminais? Não fui contra o testamento vital. Fui e sou contra uma lei como a do Partido Socialista, mal elaborada, que criaria mais problemas do que os que pretendia resolver. Já as propostas do Bloco de Esquerda e do CDS-Partido Popular parecem-me mais adequadas e tecnicamente mais bem construídas. Na verdade, a pessoa presume que numa certa situação, imaginada, com a ajuda de um médico, terá esta ou aquela opinião em relação ao consentimento. A melhor solução, prevista nas duas propostas de lei referidas, é a da nomeação, pela pessoa, bem consciente, de um procurador de saúde. se voltasse a escrever o livro branco “recomendações para uma reforma estrutural da saúde” (1996), quais seriam as principais recomendações? O SNS trabalha como uma rede e não se pode tocar nos nós de uma rede sem desequilibrar a rede toda. Uma reforma tem de ser estrutural e global e precisa de tempo e de acordos políticos que consigam ir para além das contingências das legislaturas e dos governos que se sucedem. Sem que todo o SNS e as outras formas de prestação de cuidados estejam numa rede informática na qual circulem todos os dados de funcionamento, não é possível pensar uma reforma estrutural.

Leia a entrevista na íntegra na Rede Social Online do Fórum Hospital do Futuro www.hospitaldofuturo.org.

4.as Epi Jornadas de Epilepsia Liliana Anastácio

Assistente social – epi Coimbra

D

ecorridas as 4.as epi jornadas de epilepsia, organizadas pela EPI-Associação Portuguesa de Familiares, Amigos e Pessoas com Epilepsia, em parceria com a LPCE-Liga Portuguesa Contra a Epilepsia, nos passados dias 20 e 21 de Outubro, no auditório da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, é agora possível realizar um balanço positivo deste evento. Não há dúvida que embora participemos de uma sociedade que tem registado diversos avanços a vários níveis – nomeadamente tecnológico e científico – a verdade é que continuamos a registar graves e importantes lacunas em torno da informação possuída pela população acerca de uma patologia que é das mais significativas em termos de prevalência na sociedade portuguesa (ocupando o segundo lugar a nível das doenças neurológicas mais comuns). A realização destas jornadas teve assim por objectivo dotar o público-alvo de um maior nível de conhecimentos acerca da epilepsia e suas interacções, bem como também dar a conhecer uma série de recursos e serviços disponíveis na EPI. Destacamos ainda a apresentação do ePilePsiAe, um projecto europeu de previsão de crises epilépticas, assim como a exposição/leilão de peças de arte ePi-Arte, com a apresentação de diversos trabalhos, todos eles realizados por pessoas com epilepsia, que mereceu especial atenção de todos quanto estiveram presentes. Agradecendo desde já a todos quantos tornaram possível a realização desta iniciativa e participaram no evento, deixamos o nosso mais sincero agradecimento, convidando-os desde já a juntarem-se a nós em iniciativas futuras. A próxima é já no dia 11 de Dezembro – Jantar de Natal. Participe e solicite mais informações em: ePi Coimbra, Av. Bissaya Barreto, n.º 268 R/c A, 3000-075 Coimbra (telefone: 239 482 865; email: epicoimbra@epilepsia.pt).

Fonte: EPI Coimbra

Portugueses devem nomear procurador de saúde

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eventos

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Farmácia Hospitalar 70º Congresso Internacional da FIP

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70º Congresso Internacional da FIP (International Pharmaceutical Federation), que decorreu de 28 de Agosto a 2 de Setembro deste ano no Centro de Congressos de Lisboa, reuniu mais de 3000 participantes de 99 países, desde a Albânia até ao Zimbabué. Foi um congresso que, tal como os anteriores, envolveu farmacêuticos de todas as áreas de actividade e o programa foi construído pelas diversas secções e de acordo com as diferentes áreas de interesse. A grande mais-valia de um evento que reúne tantas visões e realidades distintas é a possibilidade de cada participante poder comparar a sua experiência com a dos outros e tentar perceber o caminho que já fez e o que terá de fazer de acordo com o que tem à sua disposição – leia-se meios técnicos e humanos e normas comportamentais. Estiveram presentes países altamente desenvolvidos e países que são dos mais pobres do mundo e o que poderia ser visto como uma fraqueza da organização tor-

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nou-se, afinal, na sua grande força, permitindo transformar problemas em reais oportunidades de evolução. CriAr PoNtes PArA gArANtir A segurANçA Uma das sessões realizadas em 30 de Agosto, organizada pelas secções de Farmácia Comunitária e de Farmácia Hospitalar, foi sobre a criação de pontes entre várias áreas de farmácia (Pharmacy Building Bridges). Na base desta conferência esteve a constatação da impossibilidade de alguém trabalhar isolado no campo farmacêutico e a confirmação de que apenas a parceria entre os vários sectores que o compõem pode trazer o sucesso e aumentar a eficácia e segurança dos medicamentos. Neste painel, abordaram-se questões como o papel das parcerias com a sociedade civil na busca de melhores cuidados de saúde e estilos de vida, o papel dos farmacêuticos na melhoria dos resultados de saúde e redução total de custos e a integração dos cuidados farmacêuticos nos planos nacionais de saúde. No âmbito da

A construção de uma ponte efectiva entre as diferentes áreas de prática farmacêutica é um desafio que a farmácia tem de encarar frontalmente e procurar vencer em todos os sistemas de saúde.

Aida Baptista Responsável no Portuguese Host Committee pela Secção de Farmácia Hospitalar, 70º Congresso Internacional da FIP

farmácia hospitalar, o ainda Presidente da respectiva secção, Andrew Gray, falou sobre a continuidade de cuidados entre o hospital e o ambulatório (Seamless care – From hospital to open care). O conceito de “continuidade de cuidados” foi definido em 1998 no Canadá como a desejável continuidade de assistência prestada aos doentes no sistema de saúde em todo o espectro dos cuidadores e ambientes de prestação de cuidados. Neste contexto, os cuidados farmacêuticos devem ser executados sem interrupção para que, quando um farmacêutico deixe de ser responsável pela assistência ao doente, outro farmacêutico ou profissional de saúde assuma a responsabilidade sobre os cuidados a prestar a esse doente. Há muitas barreiras que ainda impedem a continuidade dos cuidados e que persistem, teimosamente, mesmo com provas evidentes de que existem riscos, por


eventos

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O 70º Congresso Internacional da FIP (International Pharmaceutical Federation) reuniu mais de 3000 participantes de 99 países

exemplo, quando um doente tem alta de um hospital e passa a ser seguido nos cuidados primários. Uma das formas de ultrapassar as barreiras nos hospitais é a conciliação da terapêutica do doente no momento do internamento e da alta. Os farmacêuticos hospitalares, devido ao seu conhecimento específico, competências e capacidades técnicas e científicas, devem liderar o esforço multidisciplinar para estabelecer sistemas e procedimentos que assegurem a precisão de todas as listas de medicamentos recolhidas no momento da admissão dos doentes e, também, de todas as alterações que possam ocorrer nessa lista em qualquer ponto de mudança de nível de atendimento, incluindo a alta do doente. A construção de uma ponte efectiva entre as diferentes áreas de prática farmacêutica é um desafio que a farmácia tem de encarar frontalmente e procurar vencer em todos os sistemas de saúde. deClArAção de bAsileiA Um dos pontos do programa do 70º Congresso da FIP com maior importância para os farmacêuticos hospitalares de todo o mundo foi o painel dedicado à evidência das acções resultantes da implementação da Declaração de Basileia (Im-

plementation of the Basel Statements – Country and Regional Actions: the evidence), que decorreu a 31 de Agosto. No 68º Congresso da FIP, que se realizou em 2008, em Basileia (Suíça), decorreu paralelamente a Conferência Global da FIP sobre o Futuro da Farmácia Hospitalar. Estiveram presentes 348 farmacêuticos hospitalares de 98 nações. Os conferencistas aprovaram uma declaração prévia e cuidadosamente preparada e que reflecte a sua visão sobre os padrões a aplicar no exercício da profissão em meio hospitalar. A Conferência Global da FIP sobre o Futuro da Farmácia Hospitalar foi planeada durante quase três anos, ao longo dos quais se fez uma pesquisa focada sobre a prática da Farmácia Hospitalar, procurando descrever a sua natureza e o seu âmbito em todo o mundo. Essa pesquisa conseguiu respostas oriundas de 85 nações, representando 83% da população mundial. A Declaração de Basileia inclui princípios gerais sobre a Farmácia Hospitalar e abrange também cinco áreas de intervenção do farmacêutico hospitalar: aquisição de medicamentos e produtos farmacêuticos; intervenção na prescrição; preparação e distribuição de medicamentos; administração de medicamentos; mo-

nitorização da prática terapêutica. Aborda ainda a vertente dos recursos humanos e da sua formação. A declaração deve ser tomada como ponto de partida para o desenvolvimento da Farmácia Hospitalar no mundo, pois traduz o consenso sobre a excelência a atingir. Na sessão que decorreu em Lisboa concluiu-se que, na realidade, existe uma grande diferença quanto ao estado de desenvolvimento e de aplicação da Declaração de Basileia em cada país. Há diferenças, inclusive, entre países da mesma região geográfica, como sucede, por exemplo, na Europa. Foram também abordadas as realidades da Austrália, China, Estados Unidos da América e Uruguai, o que para todos os presentes foi revelador do enorme caminho que há a percorrer no mundo para atingir os padrões de qualidade do exercício da Farmácia Hospitalar. A apresentação destes dois exemplos de temas discutidos durante o Congresso Internacional da FIP serve tão só para dar uma pequena ideia do interesse destas iniciativas para o desenvolvimento de uma profissão exigente e com grandes responsabilidades a nível da saúde de todos os cidadãos, seja qual for o país onde residam.

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