Revista HdF Nº8

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director: Paulo Nunes de Abreu

N.08 | ANo IV | QuAdrImestrAl | FeVereIro 2009 | 4,00€

www.hospitaldofuturo.com

Fernando Seara e União das Misericórdias debatem cooperação

Resultados de um inquérito à população

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cidades saudáveis

turismo e saúde

portugal sem fumo

Uma rede internacional de cidades organiza-se para levar saúde aos cidadãos. Veja se a sua está incluída.

As oportunidades em Portugal. Sobretudo na hospitalização privada.

O tabaco mata três vezes mais que o álcool. Investigadores portugueses apresentam novos dados.

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Hospital do Futuro | FeV. 2009 | N.08

Índice

FICHA TÉCNICA Director:

Editorial

Paulo Nunes de Abreu

Perfis Saudáveis

Joana Branco (Edição), Maria João Garcia

p. 4

Redacção:

Hábitos de saúde de quem gere a Saúde p. 5

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Rede Social p. 5

Obesidade

Muita informação, pouca acção – resultados de um estudo da Plataforma Contra a Obesidade p. 6

Lunch&Learn

Misericórdias: Cooperação com as Autarquias – uma palestra à hora do almoço p. 9

Portugal sem Fumo 9

Um problema chamado tabagismo p. 11 Tabaco mata três vezes mais do que álcool – estudo da Universidade Católica e da Faculdade de Medicina de Lisboa p. 13

As Novas Tecnologias na Saúde

A Tecnologia nos Cuidados de Saúde Primários p.15 Entrevista – “Temos um tempo de espera de apenas sete minutos” José Luís Biscaia, Director C.S. Figueira da Foz p.16

Hospital do Futuro

Serviços Inovadores no Hospital dos Lusíadas – conheça os serviços de Pediatria e Neonatologia p.17

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Espanha

Um portal para os Mayores p.19 Sessões de psiquiatria por videoconferência p.20

Cidades

Cidades com mais saúde – promoção da saúde ao nível local em várias localidades de Portugal p. 21

Gestão & Economia da Saúde Tempos e Métodos em Saúde – podem fazer a diferença p. 23

Fotografia: David Oitavém, José Paulo

Sede da Redacção: GroupVision Serviços Editoriais e de Educação Pólo Tecnológico de Lisboa Edifício Empresarial 3 1600-546 Lisboa Tel: 217 162 483 - Fax: 217 120 549 hdf@groupvision.com

Colaboram neste Número: Ana Strecht, Vogal do Conselho de Administração do Instituto Português de Oncologia do Porto; Teófilo Ribeiro Leite, Presidente da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada (APHP), Director da União Europeia de Hospitalização Privada (UEHP)

Conselho Redactorial: José Ávila da Costa, Presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna; Manuel Correia, Presidente Conselho Directivo Escola Superior de Tecnologias da Saúde de Lisboa; Pedro Barosa, Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Hospitalar; Verónica Rufino, Presidente, Associação Portuguesade Apoio à Mulher com Cancro da Mama.

Entidade Proprietária e Editor: GroupVision Serviços Editoriais e de Educação

Design e Paginação: Nuno Pacheco Silva

Nº Contribuinte: 507 932 366

Turismo e Saúde 17

Um vector estratégico para a hospitalização privada portuguesa p. 25

Eventos p. 26

Entrevista

Cirurgia, mas quase sem dor – Novo Matos, Presidente da Sociedade Portuguesa de Cirurgia Minimamente Invasiva p. 27

Novidades

Epilepsia: apoio financeiro para cirurgia Livros em Saúde: Hospitais Transformados em Empresa – Ana Paula Harfouche p. 30

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Perspectivas Glintt p. 31

Tiragem: 8.000 exemplares

Periodicidade: Quadrimestral

Nº Registo no ICS: 124679

Depósito Legal: 230918/05

Impressão e Acabamento: Europress, Lda. Rua João Saraiva, 10 A 1700-249 Lisboa

Distribuição: Logista

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editorial

N.08 | FeV. 2009 | Hospital do Futuro

Paulo Nunes de Abreu Director da Revista Hospital do Futuro

O Ano Novo Chinês

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em-vindos a mais um ano e uma renovada edição da revista HdF. Mais secções, um conteúdo mais diverso visam partilhar reflexões e o conhecimento em Saúde com cada vez mais pessoas. Hoje somos já a revista monográfica de Saúde de venda em banca com mais circulação em Portugal. Há uns anos atrás, também por esta altura do ano, escrevia sobre o Ano do Macaco, um signo que dava ao ano novo chinês um carácter de grande imprevisibilidade. E uns meses depois demitia-se o Governo pela saída do primeiro-ministro para dirigir a Comissão Europeia, o que deixou o país em estado de uma latente turbulência até à dissolução do parlamento. Fiquei impressionado quando me dei conta da imensa sabedoria contida na astrologia chinesa, nesse final de ano, há anos... E o que é que nos diz hoje a astrologia chinesa acerca deste novo ano lunar? Parece que são boas notícias para um ano de crise. Com o signo do Boi em 2009, sabemos que quaisquer que sejam os obstáculos estes podem ser ultrapassados e devemos esperar um ano de recuperação e futura prosperidade, através de uma atitude de esforço e perseverança.

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Tal como os nascidos neste signo, o ano 2009 irá ser resistente, irá trazer-nos a calma e a paciência necessárias para um trabalho duro, sem descanso e sem queixas: a fórmula a seguir para superar a crise

“os sectores da saúde e do serviço social continuam a criar emprego e podem oferecer até saídas para a reconversão de pessoas que perdem empregos na velha economia” e manter ou recuperar a prosperidade. Mas ainda mais interessante é a coincidência de Barack Obama ser nativo deste signo chinês. As pessoas nascidas no Ano do Boi são seguras de si, geralmente pacientes e cuidadosas com as palavras, falam clara e concisamente e sobretudo no momento certo, quando é necessário intervir. Julgo que é uma feliz coincidência e que pode ser um bom presságio para o diálogo no mundo e para Paz. Sem dúvida as iniciativas de saúde e protecção social que irá desenvolver nos Estados Unidos poderão ser uma fonte de ânimo para aqueles que na Europa, e concretamente em Portugal, tanto fazem pela saúde e bem-estar de todos. Como já foi unanimemente reconhecido, os sectores da saúde e do serviço social continuam a criar emprego e podem oferecer até saídas para a reconversão de pessoas que perdem empregos na velha economia. As novas tecnologias aplicadas à saúde

podem abrir enormes ganhos em saúde, libertando recursos para uma melhor articulação entre cuidados, mormente os cuidados continuados. No século XXI, e em especial na Europa e na América do Norte, uma população cada vez mais longeva vai achatar fortemente a pirâmide demográfica e criar novas e desafiantes necessidades para toda a humanidade. Assim, a pergunta natural: podemos estar confiantes em Portugal? O ano e signo chinês do Boi, tal como o animal que o representa, precisa de estabilidade para que possa produzir bons resultados e dá-se mal em condições de instabilidade. Seremos colectivamente capazes de manter as condições de governabilidade democrática para o nosso país ou triunfarão aqueles que prosperam na permanente instabilidade? Teremos que esperar até ao próximo ano lunar, ou então fazer como o boi e arrimar ao ombro com a nossa quota-parte de trabalho duro e perseverante.


perfis saudáveis

Hospital do Futuro | FeV. 2009 | N.08

A Revista HdF traz até aos seus leitores os hábitos de quem gere a Saúde em Portugal, esperando nas próximas edições alargar o número de perfis apresentados. Se tiver sugestões, envie para saude@groupvision.com

Maria do Céu Machado Alta Comissária da Saúde

Podia fazer um resumo do seu dia? De 2ª a 6ª feira, começo às sete da manhã com um bom pequeno-almoço. Entre despacho de documentos, reuniões, telefonemas, preparação de intervenções e algum tempo de reflexão (que deveria ser mais longo), o dia chega ao fim. Jantar ligeiro às 21h, cuja ementa é a serena conversa a dois. Trabalha quantas horas por dia? 12 horas. Quais são os seus truques para lidar com o stress? Não lido com o stress. O stress faz-me trabalhar mais e melhor, o que deve resultar da minha carreira de médica intensivista. Mas suspeito que “stresso” os meus colaboradores.

Rede Social As “falhas” do SNS - Convenções para cirurgias Autor: João Ralha Data: 28 de Novembro de 2008 O SIGIC surgiu em 2004 após vários programas para minorar as listas de espera para cirurgia nos Hospitais do SNS (eg PECLEC e outros) para passar a ser, entre outras finalidades, o sistema que conteria o repositório de informação de todas as cirurgias programadas financiadas pelos contribuintes, feitas em hospitais do SNS ou em hospitais privados. Existiam convenções antigas para cirurgias, com base nas credenciais

Pratica desporto? Pratico regularmente natação, ando de bicicleta, faço caminhadas a pé e brinco com os meus sete netos. Quais os cuidados que tem com a alimentação? Como diariamente sopa, peixe, legumes e fruta para em ocasiões especiais (e são muitas!) comer o mais sofisticado, para além de doces (chocolate) e beber vinho ou champanhe. Sou gulosa. Fuma? Não. Costuma fazer rastreios? Não, mas acho que devia. E check-ups?

José Paulo

maria do Céu machado, Alta Comissária da saúde, explicou à revista HdF como gere o seu dia-a-dia para manter uma vida saudável. o stress, conta, não a afecta negativamente e os doces são aquilo que mais facilmente a desviam do caminho. Não e acho que não valem a pena. Sempre gozou de boa saúde? Sim. 97 anos é o cálculo da minha esperança de vida num inquérito de um site na Internet. Terei então de trabalhar até aos 80!

Quando era mais nova teve alguma atitude ou hábito que lhe tenha trazido problemas de saúde? Mais uma vez a gulodice e o colesterol a derrapar. Agora controlo o peso ao miligrama. Qual foi a pior doença que teve? Prendi o salto alto e fininho na calçada de Lisboa e fiz fractura do menisco que teve intervenção cirúrgica. Meses de fisioterapia e um ano para conseguir andar de saltos sem dor no joelho.

Aqui publicamos comentários dos membros da Rede Social do Fórum Hospital do Futuro – http://hospitaldofuturo.ning.com. Participe! P1 ou BI´s (boletins de internamento), datadas dos anos 70 do século passado entre o SNS e seus antecedentes e alguns hospitais privados pertencentes a IPSS´s. A primeira interpretação foi que estas convenções deixariam de ter razão de existir pela introdução do SIGIC. A verdade é que aquelas convenções continuam a existir. O SIGIC define um preço para o GDH (grupo diagnóstico homogéneo) gerado que é a contrapartida e o “tecto” financeiro para os procedimentos clínicos efectuados pela entidade convencionada. No caso das convenções mencionadas existiam

tabelas para honorários médicos e para diárias de internamento, aos quais somavam os consumíveis e dispositivo médicos utilizados, facturados a preço de custo. Não existindo por isso um “tecto” como no SIGIC. Este sistema apela à racionalidade, o anterior era muito mais “livre”, tendo, por vezes, como consequência custos mais elevados para a entidade financiadora sem a contrapartida de melhores cuidados de saúde para os doentes. A verdade é que este sistema antigo, baseado nas credenciais P1 e BI´s, ainda não acabou. Porquê? Um tópico para discussão!! (versão completa online)

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obesidade

N.08 | FeV. 2009 | Hospital do Futuro

Obesidade: muita informação, pouca acção

As mães portuguesas estão preocupadas com o excesso de peso, mas têm mais receio da bulimia e da anorexia, de acordo com um estudo do movimento energia Positiva sobre as “Percepções e expectativas da População Portuguesa face à Alimentação, Actividade Física e Peso”.

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os últimos tempos têm-se realizado várias acções de sensibilização e formação sobre os cuidados alimentares. A Organização Mundial de Saúde (OMS) alerta para o aumento da obesidade, nomeadamente entre os mais pequenos, e as autoridades de Saúde querem apostar na informação para prevenir e tratar o problema. Uma das iniciativas que tem percorrido o país é o Movimento Energia Positiva, da Direcção-Geral de Saúde e da Galp Energia, que apresentou a investigação “Percepções e Expectativas da População Portuguesa face à Alimentação, Actividade Física e Peso”. A investigação baseia-se num estudo qualitativo e noutro quantitativo. Com estes estudos, os investigadores pretendiam conhecer o nível de informação sobre os estilos de vida saudáveis, as percepções, expectativas e barreiras à adopção de hábitos alimentares saudáveis, actividade física e prevenção de obesidade e a auto-percepção dos portugueses em relação a hábitos alimentares, actividade física, imagem e peso corporal.

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Fonte: Stockxpert

INFormAdos, mAs PouCo ACtIVos O estudo qualitativo aborda a obesidade infantil e juvenil, junto de mães, crianças e jovens. Quando se fala de obesidade infantil, as mães mostram-se preocupadas, mas se, por um lado, pensam que se devem adoptar hábitos de alimentação saudáveis, por outro, acham que as crianças estão a crescer e não devem ser alvo

de grandes restrições. As crianças e os jovens também não são alheios à questão da boa alimentação. Através da escola e dos meios de comunicação social, estão informados sobre a temática, mas trata-se de uma realidade que, na maioria das vezes, lhes é indiferente. De acordo com o estudo, as preocupações só existem quando se começa a falar de “peso a mais”, principalmente junto das raparigas, que são mais pressionadas socialmente em termos estéticos. Na análise aborda-se ainda a percepção das implicações de uma alimentação não saudável. Em primeiro plano surgem as consequências sociais, na medida em que quem tem excesso de peso ou é obeso é mais gozado pelos pares e poderá ter mais problemas de auto-estima. As consequências para a saúde surgem num segundo plano e numa perspectiva futurista, como se pode ler no estudo. As CAusAs do ProblemA Para os participantes no estudo, as causas do problema podem ter diferentes origens. Antes de mais, destaca-se a sociedade e o estilo de vida actual, que levam a um maior consumo de comida fast-food e pré-preparada e a uma vida mais sedentária. Associado a esta questão está o papel cada vez menos activo da mãe em casa, a insegurança que leva os pais a não deixarem que os filhos brinquem na rua e a tentação da tecnologia, com as comunicações virtuais. As mães afirmam, no estudo, que as refeições rápidas facilitam o dia-a-dia, para


além de serem atractivas para as crianças e os jovens. Os sabores são agradáveis e o marketing que existe à volta da fast-food e da comida pré-preparada é muito forte e apelativo. Além disso, as mães pensam, na sua maioria, que é melhor comer mais do que sofrer de anorexia ou bulimia. Quanto ao papel da escola, consideram que as ementas das cantinas estão a mudar e a melhorar os hábitos alimentares. O estudo revela que as mães confiam na oferta alimentar, admitindo que após o 1º Ciclo já não é possível controlar tão bem a alimentação dos filhos. A partir do 5º ano de escolaridade, as crianças e os jovens são facilmente influenciados pelos colegas a comerem nos bares e nas máquinas de comida, porque “comer na cantina é coisa de criança”, como referiram na investigação. Quanto à actividade física, os vários participantes no estudo consideram que é muito importante, apesar de nem sempre terem uma actividade. As justificações são várias: falta de vontade, falta de tempo, dificuldades económicas, incapacidade por se ter

A obesidade entre os mais jovens tem crescido e a promoção de hábitos de vida saudável entre esta camada da população é uma directiva da OMS cada vez mais urgente.

excesso de peso ou por se sofrer de obesidade e ausência de infra-estruturas. o estudo QuANtItAtIVo O estudo quantitativo baseia-se na percepção dos adultos e revela que a obesidade é

vista como uma doença por 81% dos inquiridos. A maioria considera ainda que se deve continuar a falar sobre o tema, não considerando exagerado o tempo que se dedica ao assunto actualmente. Quanto a acções para evitar o excesso de

Fonte: Movimento Energia Positiva

obesidade

Hospital do Futuro | FeV. 2009 | N.08

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obesidade

Coordenador da Plataforma Contra a Obesidade Em entrevista à HdF fala-nos sobre este problema de Saúde Pública Como vê as campanhas de prevenção da obesidade? Após a OMS ter elaborado a Carta Europeia Contra a Obesidade (2006), têm sido tomadas medidas mais abrangentes que visam a prevenção desta doença. Anteriormente o enfoque era na informação e na sensibilização, hoje em dia dá-se um maior destaque a acções intersectoriais, que permitam de facto a mudança de comportamentos. Esta mudança é muito positiva. Os profissionais de saúde estão preparados para prevenir e tratar o problema do excesso de peso e da obesidade? Há pouco tempo tínhamos 70% de profissionais que não estavam preparados para lidar com a questão da obesidade. No âmbito da Plataforma Contra a Obesidade temos realizado várias acções de formação, o que contribui para a redução desta percentagem. Hoje temos mais profissionais preparados para prevenir e tratar o problema, nomeadamente nos Cuidados de Saúde Primários. Os pais têm noção do problema que é o excesso de peso? Já estamos a envolver os pais, que têm mostrado, inclusive, vontade de aprender a cozinhar pratos mais saudáveis. No contexto da Plataforma temos vários programas, nomeadamente em parceria com as autarquias, para promovermos a alimentação saudável na cozinha regional. O excesso de peso não costumava ser considerado um problema. Hoje em dia já há uma noção de que estamos perante um problema de saúde.

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Quais são os objectivos da Plataforma Contra a Obesidade? Vamos continuar a informar e a formar a população e os profissionais de saúde. Pretendemos ainda que os alimentos embalados ou pré-embalados tenham um rótulo com informação nutricional e estamos a promover o Selo Menu Saudável para os restaurantes que tenham iniciativas no âmbito da alimentação saudável. Esperamos também que a indústria passe a fabricar alimentos com menos gordura, sal e açúcar e que haja mais controlo sobre a publicidade para crianças. Se tudo correr como se pretende, em 2015 veremos melhorias significativas na saúde das populações de países mais desenvolvidos. MJG

peso, 39% da população adulta diz que faz algo para evitar o excesso de peso. Quanto ao que estariam dispostos a deixar de comer, 54% menciona os fritos e 22% os doces e os chocolates. No caso de 14% das pessoas, a resposta foi clara: “tudo o que for necessário”. Mas, também há quem diga que não deixaria de comer doces (17%), nem praticaria exercício físico (12%). A Plataforma Contra a Obesidade acredita que é preciso continuar a investir em meios de prevenção, como tem acontecido no Movimento Energia Positiva, com roadshows nas escolas, nas praias, com um programa televisivo (Vida Positiva) e com estes estudos. A prevenção deve continuar, principalmente, com os agentes locais, segundo Isabel do Carmo, que faz parte da Plataforma e é uma das investigadoras. Além disso, é preciso investir mais no fecho dos bares da escola à hora do almoço, controlar a publicidade a certos produtos e tratar os casos de pré-obesidade e de obesidade. Alertas que vão ao encontro das preocupações da OMS. De acordo com a organização, o baixo consumo de frutas e hortícolas é responsável por 31% das doenças cardíacas e 11% dos acidentes vasculares cerebrais (AVC). A OMS acrescenta ainda que seriam evitadas 23 mil mortes anuais por doença coronária se se tivesse uma alimentação saudável que incluísse ingestão de cereais, legumes, vegetais, fruta, mais peixe do que carne, poucos doces e gorduras e um consumo moderado de produtos lácteos. MJG

Fonte: Stockxpert

ENTREVISTA JOÃO BREDA

N.08 | FeV. 2009 | Hospital do Futuro

A Organização Mundial de Saúde defende que seriam evitadas 23 mil mortes anuais por doença coronária se se tivesse uma alimentação saudável que incluísse ingestão de cereais, legumes, vegetais, fruta, mais peixe do que carne, poucos doces e gorduras e um consumo moderado de produtos lácteos.

FICHA TÉCNICA Estudo Qualitativo Todas as mães que participaram no estudo tinham crianças com idades entre os 3 e os 5 anos, os 6 e os 9 e os 10 e os 12 anos. As crianças tinham idades entre os 7 e os 12 anos, com um Índice de Massa Corporal (IMC) normal ou com excesso de peso. Os jovens tinham entre 15 e 17 anos e diferentes IMC. Todos os participantes pertenciam às classes sociais B/C e residiam na zona da Grande Lisboa e em Castelo Branco. Foram ainda realizados nove focus-group. O trabalho de recolha decorreu entre 11 de Março e 17 de Abril. Estudo Quantitativo O estudo quantitativo abordou o excesso de peso em adultos e incluiu 800 entrevistas com indivíduos com mais de 15 anos, residentes em Portugal Continental. O trabalho realizou-se em 21 de Abril e 5 de Maio. O erro amostral é de cerca de 3,5% e o intervalo de confiança é de 95%.


lunch&learn

José Paulo

Hospital do Futuro | FeV. 2009 | N.08

Misericórdias:

Cooperação com as Autarquias No debate sobre a cooperação entre as misericórdias e as autarquias concluiu-se que ainda se tem de caminhar muito para que esta seja mais frutífera, mas que já foram dados alguns passos importantes. manuel de lemos lançou a ideia de criar uma Comissão que junte a união das misericórdias Portuguesas e a Associação de municípios Portugueses.

A

Presidente da Comissão Parlamentar de Saúde, Maria de Belém Roseira, foi a moderadora do Lunch&Learn sobre “Misericórdias:

Cooperação nas Autarquias” e lançou a pergunta: como conjugar uma sociedade competitiva com as necessidades sociais, nomeadamente na área da Saúde? O Pre-

sidente da Câmara Municipal de Sintra, Fernando Seara, considerou essencial continuar a haver uma ligação entre as autarquias e as misericórdias, embora veja as parcerias actuais como “mitigadas e incompletas”. O Presidente da União das Misericórdias Portuguesas, Manuel de Lemos, concordou e defendeu a criação de uma comissão mista entre a União das Misericórdias Portuguesas (UMP) e a Associação Nacional dos Municípios Portu- +

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N.08 | FeV. 2009 | Hospital do Futuro

O evento reuniu cerca de 100 pessoas no hotel Villa Rica, em Lisboa.

gueses (ANMP). Fernando Seara começou por destacar o papel das autarquias a nível social, que, no seu entender, nem sempre é reconhecido. Realçou ainda as cooperações entre as autarquias e as misericórdias, apesar de ainda ser necessário melhorar o intercâmbio entre estes dois agentes sociais. O presidente da autarquia de Sintra mostrou também insatisfação perante as ajudas que provêm do Estado e que não são suficientes face às necessidades com que as autarquias se deparam todos os dias. A solução está, no seu entender, numa sólida política social local, que determine as limitações e as possibilidades das autarquias no sector social, assim como uma melhor interacção entre os diferentes sectores da sociedade. As autarquias querem ter um papel mais activo na acção social, mas faltam os meios necessários, explicou Fernando Seara. Manuel de Lemos também considerou que o Estado não dá os apoios necessários e que as parcerias entre misericórdias e autarquias poderiam melhorar. Falando da transferência de competências sociais do Estado para as autarquias – nas quais as misericórdias podem ter um papelchave na execução dos projectos -, vê com alguma desconfiança esta transferência, já que na discussão governamental desta temática as misericórdias não foram ouvidas. Além disso, esta transferência, do seu ponto de vista, ainda precisa de ser esclarecida ao nível do financiamento. “Como ninguém fala em regras, à cautela,

todas as Misericórdias e todo o Sector Social têm manifestado as maiores reservas às transferências” e como “o Estado Central, quando se dispõe a transferir competências em sede de políticas sociais, nunca resolve adequadamente a questão do financiamento”, as “autarquias retraemse”, disse o Presidente da UMP. Como solução para o desenvolvimento do sector social, Manuel de Lemos defendeu a criação de uma comissão mista entre a UMP e a ANMP. “No topo, haveria uma Comissão Mista UMP/ANM para acompanhar e promover a cooperação e a resolução de conflitos”, defendeu. E acrescentou que “autarcas e provedores deverão compreender que, no futuro, vão-se colocar às Comunidades problemas sociais que não se resolvem simplesmente dando mais dinheiro às pessoas, ou não fosse a pobreza a incapacidade de gerir os recursos”. Fernando Seara respondeu a este desafio, garantindo que irá falar desta possibilidade ao Presidente da ANMP, Fernando Ruas, e concorda quando Manuel de Lemos diz que a cooperação entre misericórdias e autarquias só corre bem “quando cada uma das partes percebe que está entre iguais, isto é, ambas são instituições autónomas que actuam no mesmo espaço, que têm o mesmo target – os interesses da comunidade – e que se respeitam mutuamente”. No debate falou-se ainda de alguns perigos subjacentes a esta transferência, realçando o caso francês. “O Estado francês

começou por fazer uma enorme transferência de competências para as Autarquias, mas como, em muitos casos, o Maire [Presidente da Câmara] só deixava entrar no lar ou na creche quem fosse do seu partido ou, pior ainda, como se verificaram muitos desvios de financiamento, tem-se assistido ao recuo das transferências para níveis intermédios da Administração”, realçou Manuel de Lemos. Os três intervenientes alertaram também para a responsabilidade do sector social no futuro.Vai ser este sector que vai ter de promover, no terreno, as políticas sociais. A ligação entre os vários intervenientes a nível social também foi um dos temas abordados.Todos concordaram com a necessidade de haver uma maior interligação entre os vários agentes da rede social, mesmo Manuel de Lemos, que defendeu a criação da comissão entre a ANMP e a UMP. No final, intervenientes e assistência não deixaram de falar da importância do sector social em áreas-chave da saúde, como os cuidados continuados e os cuidados ao domicílio. MJG

José Paulo

José Paulo

lunch&learn

FICHA TÉCNICA Data: - 25 de Setembro Local: - Hotel Villa Rica, Lisboa Oradores: - Fernando Seara, Presidente da Câmara Municipal de Sintra (à esquerda, na foto - Manuel de Lemos, Presidente da União das Misericórdias Portuguesas (à direita, na foto) Moderadora: - Maria de Belém, Presidente da Comissão Parlamentar da Saúde


portugal sem fumo

Hospital do Futuro | FeV. 2009 | N.08

Um problema chamado o Portugal sem Fumo, da iniciativa do Fórum Hospital do Futuro e dos laboratórios Pfizer, realizou-se pelo segundo ano consecutivo. este ano já há uma lei anti-tabaco, mas parece que ainda muita tinta há-de correr para se prevenir e tratar o tabagismo.

tabagismo

Fonte: Wisetarget

U

m grupo de especialistas reuniu-se no passado dia 15 de Setembro, à porta fechada, para discutir, pelo segundo ano, um “Portugal Sem Fumo”. Por base tiveram o «Estudo Comparativo dos Custos e Carga da Doença do Tabagismo e Alcoolismo em Portugal 2008» do Centro de Estudos Aplicados da Faculdade de Ciências Económicas e Empresariais (Universidade Católica Portuguesa), do Centro de Estudos de Medicina Baseada na Evidência da Faculdade de Medicina de Lisboa e da Unidade de Nutrição e Metabolismo do Instituto de Medicina Molecular da Faculdade de Medicina de Lisboa. Além das conclusões da investigação, debateu-se a nova lei e a prevenção do tabagismo. A nova lei ainda não tem um ano, logo ainda é muito cedo para se retirar ilações, segundo os intervenientes na sessão fechada Portugal Sem Fumo. Admitem, porém, que já se nota diferenças no ar que se respira nos locais públicos, para além de os fumadores passivos estarem mais protegidos. No entanto, será que a lei também ajudou os fumadores? A maioria dos intervenientes acredita que a nova lei foi essencial na saúde dos fumadores passivos, mas receiam que não leve os fumadores a deixar de fumar. Ainda é necessário aumentar o apoio a quem quer deixar de fumar e o facto de não fumarem tanto durante o dia não significa que fumem menos; exemplo

disso são também as crianças que continuam a chegar às urgências com crises respiratórias, provocadas pelo fumo passivo, como foi referido pelos especialistas. Na sessão fechada realçou-se a importância de se aumentar o preço do tabaco e de se continuar a organizar acções de informação e formação. As acções devem começar com os mais pequenos, para que não se comece

a fumar, pois quanto mais cedo se for alertado para o problema do tabagismo, mais facilmente se evita começar a fumar. Mas isto não basta. Os especialistas acreditam que a solução está no triângulo informação, prevenção e tratamento. É importante prevenir, mas também é preciso tratar. Quem já fuma tem direito a ter consultas de cessação tabágica. Apesar de

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portugal sem fumo

N.08 | FeV. 2009 | Hospital do Futuro

FICHA TÉCNICA

José Paulo

Data: 15 de Setembro Local: INFARMED, Lisboa Organização: Fórum Hospital do Futuro Enabling Partner: Laboratórios Pfizer Moderadora: Ana Escoval – Professora Auxiliar, Escola Nacional de Saúde Pública

A reunião juntou 24 especialistas na temática do tabagismo, no INFARMED, em Lisboa.

já existirem, ainda há quem tenha de esperar meses por uma consulta, tempo que pode levar as pessoas a desistir. Outra questão levantada foi a necessidade de os profissionais de saúde, nomeadamente os médicos de Medicina Geral e Familiar, aconselharem os seus doentes a deixar de fumar, falando-lhes dos riscos que a dependência lhes poderá trazer no futuro.

doenças provocadas pelo tabaco - Cancro da cavidade oral (lábios, boca, língua), laringe e faringe - Cancro do esófago - Cancro do pâncreas - Cancro da bexiga e rins - Cancro do colo do útero - Cancro do pulmão - Doenças cardiovasculares - Problemas respiratórios - Problemas gastrointestinais

Fumar começou por ser uma moda, mas ao longo dos anos tornou-se um dos principais factores de risco da Saúde Pública, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). Nos últimos tempos, tem havido uma onda internacional contra o tabaco que tem levado a alterações legislativas e, em Portugal, tal como em muitos outros países, já há uma lei anti-tabaco. O objectivo é proteger os fumadores passivos – que também já sofrem com patologias relacionadas com o fumo passivo – e prevenir e tratar o tabagismo. Apesar das medidas já tomadas, ainda há várias arestas a limar. As consultas de cessação tabágica, por exemplo, aumentaram de um momento para o outro, mas ainda há quem espere e desespere, durante meses, para ter a primeira consulta. De qualquer forma, deixar de fumar é essencial para a própria saúde e para a saúde de quem os rodeia. MJG

a doença pulmonar obstrutiva Crónica (dpoC)

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Uma das doenças mais relacionadas com o tabaco é a Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC). A doença resulta da obstrução das vias aéreas e caracteriza-se por um bloqueio da passagem do ar através da árvore respiratória. A limitação do fluxo aéreo é habitualmente progressiva e provoca a inflamação dos brônquios e pulmões. A DPOC instala-se lenta e progressivamente. Por isso, muitas vezes o paciente só

recorre ao médico numa fase avançada da doença. Aqui ficam os principais sintomas: - tosse acompanhada por expectoração; - infecções respiratórias frequentes – episódios de bronquite aguda; - queixas de cansaço fácil para médios esforços, até não se conseguir exercer tarefas mínimas, como a higiene diária e falar. A doença não tem cura e, nas fases mais avançadas, o indivíduo é obrigado a receber oxigénio 24 horas por dia.

Participantes: - António Araújo – Coordenador, Clínica de Patologia do Pulmão, Instituto Português de Oncologia Porto - António Vaz Carneiro – Professor, Faculdade de Medicina de Lisboa - Carlos Dias – Associação Portuguesa para a Promoção da Saúde Pública - Cecília Pardal – Pneumologista, Hospital Fernando da Fonseca - Cristina Fonseca – Liga Portuguesa contra o Cancro - Francisco Amaral – Presidente, Câmara Municipal de Alcoutim - Helena Febra – Núcleo Doenças Cardiovasculares, Associação Portuguesa de Médicos de Clínica Geral - Ivone Pascoal – Coordenadora Nacional da Comissão de Tabagismo, Sociedade Portuguesa de Pneumologia - José Antunes – Director, Jornal Tempo Medicina - Laurinda Ladeiras – Núcleo Educação para a Saúde, Direcção Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular, Ministério da Educação - Luís Rebelo – Presidente, Confederação Portuguesa de Prevenção do Tabagismo - Luísa Soares Branco – Presidente, RESPIRA - Margarida Borges – Médica Pneumologista, Hospital de Santa Maria - Marta Lima Basto – Comissão de Coordenação do Programa de Doutoramento em Enfermagem, Escola Superior de Enfermagem Calouste Gulbenkian - Miguel Gouveia – Professor, Faculdade de Ciências Económicas e Empresariais, Universidade Católica de Lisboa - Pedro Rolo Duarte – Jornalista - Renato Santos – Médico de Família, Centro de Saúde S. Brás de Alportel, ARS Algarve - Rita Santos – Gestora de Programa, Área do Tabagismo, Associação Nacional de Farmácias - Saboga Nunes – Professor, Escola Nacional de Saúde Pública - Sérgio Vinagre – Coordenador do Programa de Prevenção e Tratamento do Tabagismo, ARS Norte - Sofia Pimenta – Instituto Português da Juventude - Teles de Araújo – Presidente, Observatório Nacional de Doenças Respiratórias e Associação Nacional de Tuberculose e Doenças Respiratórias - Teresa Bandeira – Direcção, Sociedade Portuguesa de Pediatria - Víctor Gil – Director de Serviço de Cardiologia, Hospital Amadora-Sintra; Fórum Médicos sem Tabaco


portugal sem fumo

Hospital do Futuro | FeV. 2009 | N.08

Tabaco mata

três vezes mais do que o álcool um estudo português alerta para a necessidade de haver mais medidas de saúde contra o tabagismo. Conheça as principais conclusões.

José Paulo

Miguel Gouveia, do Centro de Estudos Aplicados da Faculdade de Ciências Económicas e Empresariais (Universidade Católica Portuguesa), apresentou as conclusões do estudo em conferência de imprensa.

se pretende menosprezar o problema do álcool, segundo os responsáveis pelo estudo, mas alertar para a necessidade de se apostar em medidas e políticas de saúde que ajudem no combate ao tabagismo, tal como existem para o alcoolismo. O tabaco acaba por ser mais nocivo para a população por se tratar de uma dependência que só traz consequências graves ao fim de muitos anos, ao contrário do álcool, cujas consequências negativas afectam o indivíduo num curto espaço de tempo, defenderam. O estudo conclui que o tabagismo tem uma carga de doença por incapacidade

8,7 vezes maior do que o alcoolismo e gera 2,6 vezes mais custos para o sistema de saúde.

Fon

te

: Sto ckxp A er t CArgA dA doeNçA Ambas as dependências podem trazer graves problemas de saúde, mas o consumo de tabaco é sempre nocivo, ao contrário do álcool, que pode ser benéfico se consumido de forma moderada, explicaram os autores do estudo. Como as consequências do tabagismo são menos visíveis a curto e médio prazo, as pessoas e as próprias instituições ten- +

13 José Paulo

A

cada oito segundos morre uma pessoa com problemas relacionados com o tabaco, de acordo com o «Estudo Comparativo dos Custos e Carga da Doença do Tabagismo e Alcoolismo em Portugal 2008» do Centro de Estudos Aplicados da Faculdade de Ciências Económicas e Empresariais (Universidade Católica Portuguesa), do Centro de Estudos de Medicina Baseada na Evidência da Faculdade de Medicina de Lisboa e da Unidade de Nutrição e Metabolismo do Instituto de Medicina Molecular da Faculdade de Medicina de Lisboa. O estudo foi debatido numa sessão fechada, com 28 especialistas de várias áreas, no passado dia 15 de Setembro, no âmbito da iniciativa Portugal Sem Fumo, que se realizou pelo segundo ano consecutivo. Na prática, o tabaco mata mais três vezes do que o álcool. Com esta conclusão não

Ana Escoval, da Escola Nacional de Saúde Pública, apresentou as conclusões do grupo de reflexão.


portugal sem fumo prémios hdf

O estudo debruçou-se ainda sobre os custos das doenças e outros problemas de saúde relacionados com os factores de risco. Incluindo todos os custos, o conjunto de patologias associadas ao consumo do álcool “representa um total de custos para o sistema de saúde ligeiramente inferior aos custos correspondentes para o tabaco”, lê-se no estudo.

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As CoNClusões “A comparação entre os custos e a carga da doença gerados pelo tabagismo com os gerados pelo consumo do álcool em Portugal mostrou que a dimensão dos problemas de saúde gerados pelo tabaco é muito superior”, conclui o estudo. No entanto, os investigadores deixam o alerta: tanto o tabaco como o álcool são responsáveis por várias doenças, que se podem tornar incapacitantes e levar à morte. Exemplos disso são a hipertensão, a cirrose e as doenças cardiovasculares. “A análise confirma que quer os custos, quer a perda de saúde em termos de anos de vida e da incapacidade provenientes do álcool são de grande dimensão”, diz-se no estudo. A questão que se levanta é a da consciência do perigo e dos apoios. As consequências do álcool são facilmente visíveis, há mais apoios e uma maior consciência da população, explicam os autores. No tabaco, os problemas só aparecem a médio e longo prazo. Além disso, enquanto um pouco de vinho à refeição faz bem ao coração, o tabaco nunca é benéfico. MJG

Mortes Atribuíveis ao Consumo de Tabaco e de Álcool, por Sexo e Idade

Fonte: Estudo Comparativo dos Custos e Carga da Doença do Tabagismo e Alcoolismo em Portugal 2008

DALYS por Morte atribuíveis ao Consumo de Tabaco e de Álcool, por Sexo e Idade

Fonte: Estudo Comparativo dos Custos e Carga da Doença do Tabagismo e Alcoolismo em Portugal 2008

Na conferência de imprensa estiveram presentes Maria do Céu Machado, Alta Comissária da Saúde, Francisco George, Director-Geral de Saúde, Luís Pisco, Presidente da Associação Portuguesa de Médicos de Clínica Geral, e Margarida Borges, do Hospital de Santa Maria.

José Paulo

dem a não dar a atenção necessária ao problema do tabagismo, de acordo com os especialistas que se reuniram na sessão fechada. Os investigadores mediram também a carga da doença através dos Anos de Vida Ajustados por Incapacidade (DALYs) gerados pela mortalidade. De acordo com o estudo, a carga da doença atribuível ao álcool é de 5%, ao contrário do tabaco, em que é de 11,2%, ou seja, 2,2 vezes superior. Entre homens e mulheres há grandes desigualdades no que diz respeito à carga da doença. (ver gráfico)

N.08 | FeV. 2009 | Hospital do Futuro


Hospital do Futuro | FeV. 2009 | N.08

as novas tecnologias na saúde

Nuno dias, director da Portugal telecom (Pt), explica a aposta da Pt no sector da saúde, defendendo que a sua oferta traz ao mercado português mais-valias ao nível da integração de soluções e da capacidade de gestão de projecto. Qual é a estratégia da PT na área da Saúde? A PT decidiu há cerca de três anos entrar nesta área e aparecer como líder de mercado. Foi feita uma avaliação global do mercado para conhecer melhor as suas necessidades, assim como os players e as tendências internacionais. Observou-se que o mercado da saúde era o que estava mais atrasado na implementação das novas tecnologias, apesar de haver uma grande abertura por parte dos stakeholders para se introduzir as Tecnologias de Informação e Comunicação nas unidades de saúde. Elegemos, então, quatro grandes pilares no sector da saúde: Cuidados de Saúde Primários, Cuidados Hospitalares, Cuidados Continuados, Integração e Mobilidade (Cuidados Domiciliários, Telemedicina, Telehomecare). Com base nestes pilares, criámos uma arquitectura que, na nossa perspectiva, se enquadrava nas necessidades do mercado da Saúde. Estabelecemos ainda parcerias com vários players que já tinham soluções que poderiam ser aproveitadas de forma estratégica e, noutros casos, desenvolvemos as nossas próprias soluções. A PT, neste momento, é das empresas com uma oferta mais diversificada e integrada, organizada em diversas categorias, que vão desde o tradicional serviço de telefonia ao outsourcing de

Comunicações, Sistemas e Tecnologias de Informação. O core business da PT está nas telecomunicações. Que mais-valias podem dar ao sector da Saúde? Na Saúde poderemos trazer mais-valias em dois pontos fundamentais: integração de soluções e a capacidade de gestão de projecto. As unidades de saúde, em Portugal, têm muitas soluções que não comunicam entre si e temos a solução que pode resolver essa questão. Para além disso, estamos habituados a gerir grandes projectos em áreas complexas como as Telecomunicações e Sistemas de Informação. Essa experiência é essencial num sector com um elevado grau de complexidade, como é o da Saúde. Na prática tem-nos mostrado que esta prática de gestão de projecto tem trazido ganhos significativos para os nossos clientes, já que sabem que os projectos são bem implementados, dentro dos budgets e timings que estavam planeados. Quais são as expectativas da PT em relação ao sector da Saúde e, mais concretamente, ao projecto da Rede Digital da Figueira da Foz? O projecto da Rede Digital da Figueira da Foz é totalmente inovador. A nível europeu e mundial não há muitos mais projec-

David Oitavém

Tecnologia nos Cuidados de Saúde tos desta natureza. A ligação entre os diferentes cuidados de saúde numa mesma região é fundamental e vai trazer ganhos enormes para os profissionais, utentes e para o próprio Serviço Nacional de Saúde, que consegue controlar melhor a despesa. A rede permite ainda um registo único de saúde para cada utente da região. Esperamos que o conceito possa ser exportado para o resto do país. A imagem da PT, no sector da Saúde, tem estado muito associada aos Cuidados de Saúde Primários. Contudo, a vossa oferta é mais abrangente. Que outras soluções têm? Começámos por trabalhar mais nos Cuidados de Saúde Primários, mas, neste momento, temos uma oferta global e integrada: Cuidados de Saúde Primários, Cuidados Hospitalares, Cuidados Continuados e Domiciliários e Integração. No caso da Integração estamos a falar, inevitavelmente, em hospitais, já que têm várias soluções que não comunicam entre si. A PT tem, já no terreno, soluções de integração no Centro de Saúde do Futuro (Figueira da Foz) e na Maternidade Alfredo da Costa. Temos ainda um projecto na área dos Cuidados Domiciliários, na região do Algarve, que ajudará os profissionais de saúde a terem acesso à informação do paciente a +

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as novas tecnologias na saúde

quem prestam cuidados em casa. A Gestão do Atendimento também é uma área muito forte da PT, havendo uma grande receptividade por parte do mercado. Como é que a PT vê o futuro dos Sistemas de Informação no sector da Saúde?

Vê de uma forma muito positiva. Neste momento há uma convergência muito grande entre todos os stakeholders do mercado, ou seja, o Ministério da Saúde está a fazer um esforço muito grande para modernizar esta área e os utilizadores aceitam com motivação as soluções

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inovadoras que aparecem no mercado nacional e internacional. Na prática, está ultrapassado o estigma de que a Tecnologia vai substituir os profissionais de saúde. Acreditamos que a próxima geração de utentes já terá um relacionamento mais informatizado com a saúde.

Fonte: PT Prime

“Temos um tempo de espera de apenas sete minutos”

Como surgiu o projecto do Centro de Saúde do Futuro? O projecto resulta da assinatura de um Protocolo de Cooperação entre a PT, a Administração Regional de Saúde do Centro e o Hospital da Figueira da Foz. O projecto permitirá a integração do Hospital da Figueira da Foz, das Unidades de Saúde Familiar (USF) e dos Centros de Saúde. Neste momento, temos a plataforma informática da PT na USF de S. Julião. Na prática, a plataforma está subjacente a uma visão de futuro que está inerente à desmaterialização de todos os procedimentos e processos de saúde, de modo a que o contacto entre o cidadão e o profissional seja o mais simples, efectivo, eficiente e flexível.

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Quais são as mais-valias da solução instalada? Os pontos fortes são sobretudo três. Antes de mais, a acessibilidade. Na USF temos um quiosque electrónico que permite gerir as filas de espera. Quando as pessoas chegam, basta passarem o cartão do utente no quiosque e ficam referencia-

José luís biscaia, director da unidade de saúde Familiar (usF) de s. Julião, na Figueira da Foz, está satisfeito com a solução da Pt e, em declarações à revista HdF, falou da importância da informatização na saúde e da construção do Centro de saúde do Futuro. das. Com este dispositivo temos um tempo de espera de apenas sete minutos. Outra vantagem é a facilidade em marcar consulta. A equipa tem um portal que permite ao cidadão programar e marcar uma consulta, pedir receitas nos casos de doentes crónicos ou pedir uma declaração médica - por exemplo, para o ginásio ou a piscina. No caso das receitas recebe um SMS avisando que já pode ir buscar a receita. A unidade tem ainda o Processo Clínico Electrónico, que já não é uma novidade, mas facilita bastante o trabalho do profissional, já que a informação está centrada no doente e está disponível sempre que o profissional precise. Para além disso, o utente pode ainda aceder às informações clínicas, através do portal. Neste caso, as informações disponíveis são apenas as mais gerais e que não comprometem a privacidade do utente. O Centro de Saúde do Futuro vai estender-se a outras unidades? O Portal ainda só está disponível para a USF, mas este ano deverá alargar-se ao centro de saúde. Mais tarde, chegará tam-

bém ao hospital, com a criação da Região de Saúde Digital da Figueira da Foz. No entanto, não nos podemos esquecer que a relação pessoal com o profissional mantém-se. Como costumo dizer, trata-se das TIC no toque. As tecnologias da informação e da comunicação ajudam na relação entre o profissional e o utente. Perante as mudanças, qual foi a reacção dos utentes e dos profissionais? A adesão foi bastante positiva. As pessoas já não têm de esperar muito tempo nas filas para se credenciarem. Aliás, vêem-se muitos idosos a explicarem, por iniciativa própria, como decorre o trajecto do utente. Em relação aos profissionais, houve as dificuldades normais de um processo de transição, mas sem grandes problemas. Os resultados são positivos. Qual é a chave do sucesso? O apoio dos profissionais, o apoio da PT – HIS (Health Innovation Systems) e o entendimento e o apoio da tutela. Este trio tem sido fundamental.


David Oitavém

hospital do futuro

Hospital do Futuro | FeV. 2009 | N.08

O Hospital dos Lusíadas foi criado na horizontal para facilitar a mobilidade dos profissionais e dos utentes.

Serviços inovadores no Hospital dos Lusíadas o Hospital dos lusíadas abriu recentemente. Criado de raiz, foi pensado, desde logo, para ser um hospital do futuro, como disse à revista HdF o director, Fernando lacerda Nobre. Numa visita guiada pelo hospital, conhecemos as instalações e os serviços considerados mais inovadores.

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riado de raiz, o Hospital dos Lusíadas investiu em equipamentos médicos de vanguarda e na Inovação organizacional, quer das pessoas quer das instalações. Além de ter sido construído na horizontal, para facilitar a deslocação dos profissionais e dos utentes, deu-se também especial atenção ao ambiente. Exemplo disso é o Serviço de Pediatria e a Urgência de Pediatria. Na sala de espera, as crianças têm jogos e pinturas para passarem o tempo. E para evitar o drama de se ir ao médico, há pinturas nas paredes com ratinhos, relógio,

abelhas, entre outros animais do mundo das crianças. Mas a brincadeira não fica por aí. As portas da entrada dos consultórios têm desenhos. Assim, temos a sala do sapinho e os mais pequenos podem saber quanto medem, comparando a sua altura à da girafa que está sentada num escadote. Os bebés, ao ser pesados, sempre podem olhar para a parede pintada com um barco cheio de cores. O objectivo é deixar os mais pequenos o mais à vontade possível. Mas o bem-estar não é apenas para os mais pequenos. A maioria dos consultó-

rios têm vista para um jardim e aposta-se na luz natural. Na Urgência há também salas específicas para quem precisa de ficar em observação durante algumas horas. Fernando Lacerda Nobre, director, explica que tudo foi pensado, inclusive a disposição dos serviços. Deste modo, o bloco operatório, o recobro e a sala de Cuidados Intensivos estão concentrados num mesmo espaço. Caso o doente operado necessite, de urgência, de ser encaminhado para o serviço de Cuidados Intensivos, não são necessárias várias deslocações. A Obstetrícia permite ainda que a grávida faça uma cesariana na sala de partos, sem necessitar de se deslocar para o Bloco Operatório. Associado a este serviço temos o Neonatal. As crianças costumam + passar por esta ala apenas quando são

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A sala de espera do Serviço de Pediatria tem livros, jogos e muita cor.

prematuros e têm problemas, mas todos passam pela Neonatologia. O hospital considera que esta medida pode prevenir possíveis problemas de nascença que possam surgir após algumas horas. A acompanhar os bebés está sempre um

“Ao contrário dos restantes hospitais privados, se a criança nascer prematura e com um peso muito baixo, não precisamos de a enviar para uma unidade pública”

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neonatologista. “Ao contrário dos restantes hospitais privados, se a criança nascer prematura e com um peso muito baixo, não precisamos de a enviar para uma unidade pública”, refere o Director. O Coordenador da Neonatologia, Pedro Silva,

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David Oitavém

David Oitavém

hospital do futuro

O Serviço de Neonatologia está preparado para tratar crianças com apenas 500 gramas.

afirma que é possível, técnica e humanamente, tratar de uma criança que nasça com 500 gramas. Ainda nos serviços, destaca-se o de Cirurgia Ambulatória. Nestes casos, os doentes são operados e não precisam de ficar internados. A pensar nisso, o hospital tem quartos para estes doentes passarem as horas necessárias após a pequena cirurgia. orgANIzAção e gestão No hospital não há directores clínicos. Pelo menos no nome. O objectivo é criar uma multidisciplinaridade entre as várias especialidades, daí existirem os coordenadores de cada serviço. Na Urgência não há triagem, mas os utentes são atendidos por um médico de Medicina Interna. Caso seja necessário algum especialista, como um obstetra ou um oftalmologista, estes estão disponíveis para prestar serviço. Com uma sala de reanimação, o hospital espera vir a receber doentes atendidos pela Via Verde do AVC. Os meios já existem, falta apenas tratar da questão do transporte. Uma questão que está “encaminhada”, segundo Fernando Lacerda Nobre. Além de um hospital de Dia, têm também o hospital de Dia Médico, onde são seguidos os doentes com maiores complica-

ções e mais fragilizados, como os oncológicos. Associada a este serviço, há a Consulta da Dor Crónica. Os quartos também são diferentes do que é habitual, principalmente num hospital público. Há quartos individuais e de duas camas. Cada um tem televisão, casa-de-banho e, nos individuais, há um sofá que pode ser utilizado pelo acompanhante do doente que precise de ficar a dormir no hospital. O Lusíadas tem todas as especialidades habituais numa unidade hospitalar, situada numa zona central. Uma das áreas onde tem uma aposta forte é os Acidentes de Trabalho, já que a Hospitais Privados de Portugal (HPP), grupo detentor do hospital, tem já alguma tradição nesta área da saúde. Com acordos com vários sub-sistemas e seguradoras, pretende abrir as portas a quem costuma ir ao hospital privado, mas também a outros utentes, de acordo com Fernando Lacerda Nobre. O hospital tem poucos meses de vida (inaugurado em Setembro de 2008), mas o director assegura que foi criado com todas as condições necessárias para ser uma unidade de referência. Quanto a projectos futuros, há a criação de uma urgência pré-hospitalar que “está bem encaminhada”, como refere, e o que for necessário para manter a inovação no Hospital dos Lusíadas. MJG


espanha

Hospital do Futuro | FeV. 2009 | N.08

Um portal para os Mayores espanha tem desde 2001 um portal destinado unicamente à terceira Idade. os mais idosos e os profissionais do sector da gerontologia e geriatria podem aceder às várias informações que vão surgindo no meio académico e científico.

Fonte: Portal Mayores

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ada vez mais se fala dos problemas da Terceira Idade, logo há uma maior necessidade de se adquirir conhecimento e partilhar informa-

ções. Em plena Sociedade da Informação, nada melhor do que um portal onde se disponibilize os mais variados conteúdos sobre Gerontologia e Geriatria. Em Espanha, os profissionais que trabalham com idosos e, mesmo os mais velhos, podem aceder, através da Internet, a várias informações sobre os seus problemas e os desafios que enfrentam todos os dias. O Portal Mayores, como se chama, foi criado em 2001, após um acordo de colaboração com o Consejo Superior de Investigaciones Científicas e o Instituto de Mayores y Servicios Sociales. Trata-se de um portal científico de livre acesso e gra-

tuito que é especializado em Gerontologia e Geriatria. É dirigido ao mundo académico e científico, aos profissionais do Serviço Social, aos mais velhos e à sociedade em geral. O seu objectivo é criar e gerir informação sobre a Terceira Idade. Deste modo, oferece conteúdos temáticos, partilha de conhecimentos, apoio documental, inovação em tecnologias da Sociedade de Informação, normas de acessibilidade e standards webizados. Os conteúdos são organizados, classificados e arquivados pela própria equipa do portal Mayores. O material disponível provém de várias organizações. +

19 A equipa do Portal Mayores, do Centro de Ciencias Humanas y Sociales (Madrid)


espanha

Os visitantes mais habituais são os académicos e os investigadores, os profissionais do Serviço Social, os idosos e a sociedade em geral. Até ao fecho da edição, o Portal Mayores contava com nove mil visitas diárias, tendo sido a média diária em 2005 de 3500 visitas e em 2006 de oito mil. O feedback não podia ser melhor: os utilizadores costumam enviar informação que é utilizada para alimentar o conteúdo informativo do portal. “Os utilizadores do Portal Mayores enviam-nos informação que alimenta as distintas bases de dados, além de serem os próprios responsáveis de ser-

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viços ligados à Gerontologia e Geriatria a actualizarem os dados dos seus serviços”, disse à revista HdF Guillermo Spotorno, um dos responsáveis do Mayores. A sAúde e o PortAl O Portal abarca as mais variadas áreas. A Saúde, como não poderia deixar de ser, também faz parte da lista. A nível da Saúde há informação para os profissionais do sector, como psicólogos, especializados em Gerontologia, e para os mais velhos. Nesta área pode-se aceder a informações sobre avanços científicos, a uma lista de

clínicas, monografias sobre temas relacionados com a Terceira Idade, como o sono, depressão, cuidadores, Doença de Alzheimer, maus-tratos, sexualidade, relacionamentos, dependência, nutrição, Doença de Parkinson e viuvez. O Portal Mayores ganhou o Prémio TAW (Test de Acessibilidad Web), em 2006, por ter sido considerado o portal mais acessível da Administração Pública, Autonómica e Provincial em Espanha. O prémio é da Fundación CTIC, Ministério da Indústria, Turismo e Comércio e do Governo das Astúrias. MJG

A informática pode ser uma maisvalia para os doentes mentais. No Hospital de zamora, em espanha, os doentes têm um sistema informático que os ajuda a enfrentar fobias e que lhes permite falar com o psiquiatra por videoconferência.

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alar por videoconferência com o psiquiatra e enfrentar uma fobia através da realidade virtual fazem parte da estratégia de tratamento do serviço de Psiquiatria do Hospital de Zamora, em Espanha. A doença mental ainda não é de todo aceite na sociedade e ainda existem muitos estigmas. Mas a realidade está a mudar, ou não houvesse cada vez mais pessoas com problemas do foro psíquico, como depressão, ansiedade, esquizofrenia, entre outras. Como em qualquer unidade de psiquiatria, o Hospital de Zamora está dividido em várias unidades, em função do estado do doente (agudo ou menos

agudo). Mas, paralelamente às actividades habituais destes serviços, a informática tem sido uma ajuda para profissionais e doentes. Que o digam os utentes que vivem longe do hospital. Em vez de se deslocarem, basta ligarem-se à Internet e, através de um sistema de videoconferência, podem falar com o psiquiatra. O software Gradior, como é denominado, permite também aos doentes trabalharem diariamente a sua memória, atenção e percepção, consoante as suas necessidades. Mas o software não se fica por aqui e permite recriar situações da vida social, para que, em realidade virtual, as pessoas consigam ultrapassar as fobias. Associado à psicoterapia e à terapia cognitivo-comportamental , o sistema permite ao doente enfrentar virtualmente o seu medo e aprender como fazê-lo em situações reais. Por exemplo, se se tem fobia de andar de avião, o software recria uma viagem de avião. Poderá ser também utilizado para desenvolver capacidades mentais, de acordo com o psiquiatra do Hospital de Za-

Fonte: sotckxpert

Sessões de psiquiatria por videoconferência

mora, Manuel Franco. A informática não veio substituir as terapias existentes, mas é mais uma ajuda, principalmente para quem vive afastado do hospital e de outras unidades de tratamento psiquiátrico. MJG


cidades

Hospital do Futuro | FeV. 2009 | N.08

Cidades com mais saúde seIxAl e VIlA NoVA de gAIA são dois dos concelhos que fazem parte da rede de Cidades saudáveis. No âmbito deste projecto, que também tem uma vertente internacional, têm realizado várias iniciativas para promover a saúde dos cidadãos.

Fonte: Câmara Municipal do Seixal

Fonte: Câmara Municipal do Seixal

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ada vez mais se tem noção de que o ambiente em que se vive condiciona, de alguma forma, a saúde das populações. Quem vive na cidade é, inevitavelmente, afectado pela poluição e pela insegurança, o que leva a uma vida mais sedentária. A pensar nesta realidade, a Organização Mundial de Saúde (OMS) criou o Projecto das Cidades , no âmbito do qual se criaram Redes Nacionais de Cidades Saudáveis. O objectivo é um só: promover e qualificar a saúde a nível físico, mental, social e ambiental, segundo a OMS. Mas, afinal, o

Os “Clubes de Saúde” do Seixal organizam caminhadas.

que é uma cidade saudável? Ainda de acordo com a mesma organização, uma cidade saudável é “aquela que coloca a saúde e o bem-estar dos cidadãos no centro do processo de tomada de deci-

Duas monitoras tornam o domingo dos seixalenses mais activo e saudável.

sões” e que procura melhorar o bemestar dos cidadãos a todos os níveis, promovendo a Saúde. o ProJeCto em PortugAl O projecto existe em Portugal desde 1997 e integra vários municípios: Amadora, Aveiro, Bragança, Cabeceiras de Basto, Lisboa, Loures, Lourinhã, Miranda do Corvo, Montijo, Odivelas, Oeiras, Palmela, Portimão, Resende, Seixal, Serpa, Setúbal, Torres Vedras, Viana do Castelo, Vila Franca de Xira e Vila Real. A revista HdF dá-lhe a conhecer um pouco mais dos projectos do Seixal e de Vila Nova de Gaia, um do Sul e outro do Norte. +

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cidades

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SEIXAL O Seixal tem investido na promoção da Saúde da sua população e, no âmbito, da Rede de Cidades Saudáveis, tem organizado algumas iniciativas.

moVImeNto e sAúde É um projecto que pretende melhorar a qualidade de vida da população, combater o sedentarismo, tornar as pessoas mais activas e a saberem auto-gerir a sua condição física. Deste modo, promove a criação de “Clubes de Saúde”, isto é, organizações informais de duas ou mais pessoas que se juntam para realizarem caminhadas. Destina-se à população em geral. Resultados: - Caminhadas diárias ou tri-semanais em todas as freguesias; - Grandes caminhadas em eventos: Agita Seixal, Dia Mundial da Saúde, Mês do Coração, Dia Europeu do Diálogo Intercultural e Seixalíada.

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Fonte: Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia

sAúde sobre rodAs Trata-se de um projecto de intervenção comunitária que, através de uma abordagem de proximidade, procura tornar os cuidados de saúde primários mais acessíveis à população carenciada do concelho, de acordo com Eunice Teixeira, responsável pelo Projecto Seixal Saudável. Os destinatários são as crianças, os jovens e as mulheres, sobretudo os que se encontram em situação de risco. Resultados: - 1500 intervenções (rastreios à hipertensão, apoio a grupos de risco, vacinação, consultas e ensino de planeamento familiar, visitas domiciliárias ao nível da saúde infantil); - Desenvolvimento de competências pessoais e sociais.

Vem Com PezINHos de lã sem se FAzer ANuNCIAr … ProJeCto de PreVeNção de INtoxICAções Por moNóxIdo de CArboNo Esclarece a população e ajuda as pessoas a prevenirem-se contra a inalação de monóxido de carbono. Destina-se à população em geral. Resultados: - Estudo epidemiológico e ambiental/habitacional, através da monitorização das habitações onde ocorrem as intoxicações, assim como o número e o tipo de equipamentos envolvidos; - Houve uma redução no número de intoxicações e foram criadas respostas que permitem o diagnóstico e o tratamento precoce do problema.

ProJeCto muNICIPAl de teAtro séNIor des (drAmAtIzAr) Os idosos devem ter o máximo de prazer no que fazem, independentemente, das suas limitações físicas, mentais ou outras e o este projecto de teatro pretende dar-lhe essa percepção. Destina-se aos idosos das associações de reformados, pensionistas e a todos os outros idosos do concelho. Resultados: - Três grupos activos com 23 participantes; - Dois Encontros Nacionais de Teatro Sénior; - Constituição de outras actividades de animação cultural teatral. obserVAtórIo de segurANçA rodoVIárIA O objectivo é diagnosticar as causas dos acidentes rodoviários registados e promover a formação de boas práticas rodoviárias. Destina-se à população em geral, com especial enfoque nas crianças, jovens e idosos. Resultados: - Boa aceitabilidade do projecto.

Em Vila Nova de Gaia aproveita-se a praia para praticar exercício físico.

VILA NOVA DE GAIA Vila Nova de Gaia é o concelho mais populoso da Área Metropolitana do Porto, a população jovem é dominante e o concelho sentiu necessidade de continuar a criar condições para manter a população no concelho, segundo informações prestadas por Mercês Ferreira, a responsável pelo projecto. Aqui ficam algumas iniciativas.

sAúde AmbIeNtAl Nesta área foram tomadas várias iniciativas para melhorar o ambiente. Exemplo disso foi a despoluição dos cursos de água, a gestão das zonas balneares, a gestão de resíduos sólidos urbanos, a instalação de um aterro sanitário, uma central de triagem para potenciar a valorização dos resíduos recicláveis, produção de electricidade a partir do biogás produzido no aterro sanitário e mais espaços verdes e de lazer. Resultados: - Mais espaços verdes e de lazer, melhor gestão dos recursos e dos resíduos. oPtImIzAção do sIstemA VIárIo CoNCelHIo O objectivo era estabelecer uma hierarquia de utilização da rede, melhorando as infra-estruturas e promovendo modos de transporte não monitorizados. Requalificaram-se e criaram-se vias pedonais e ciclovias, alargaram-se passeios e melhorou-se a segurança rodoviária. Resultados: - Mais e melhores ciclovias; - Acesso a outros meios de transporte, como o Metro; - Requalificação do Porto de Pesca; - Reabilitação dos espaços públicos da Afurada; - Promoção do Desporto em novos espaços. eduCAção Para que a educação conduza ao desenvolvimento e ao progresso, dotaram-se as infra-estruturas escolares com melhores condições. Foi lançado ainda o projecto “Educação Universal e Gratuita” e foram financiados, este ano lectivo, manuais escolares a mais de doze mil crianças do 1º Ciclo do Ensino Básico. O objectivo é alargar a iniciativa a todos os alunos do concelho que frequentem o Ensino Obrigatório. Foram também realizadas acções de formação e sensibilização sobre saúde ambiental. Resultados - Mais alunos do 1º Ciclo do Ensino Básico a receberem livros escolares.


gestão & economia

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Ana Strecht, Vogal do Conselho de Administração do Instituto Português de Oncologia do Porto

oi Vilfredo Pareto quem nos disse que vinte por cento das causas geram oitenta por cento dos resultados. Tal como qualquer outro conhecimento também este pode ser visto de duas formas: a negra, onde 80% dos nossos problemas têm origem em 20% das causas; a branca, onde apenas 20% das nossas acções bastarão para que obtenhamos a correcção de 80% dessas causas, Lei do Menor Esforço (George Zipf). Ora em saúde não me parece que a situação possa ser muito diferente. Vejamos, por exemplo, o escasso recurso com que os hospitais se deparam à data, problema estrutural que não temos como reparar no curto prazo de uma gestão de três anos: os profissionais. A escassez de profissionais é frequentemente gerida pela gestão do tempo. Mas, como nos diz David Allen, “a gestão do tempo” não é mais do que um problema mal etiquetado que tem poucas hipóteses de ser uma abordagem efectiva de sucesso. O que conseguimos efectivamente gerir são as nossas actividades durante o tempo. A definição dos resultados e das acções físicas necessárias é o processo, fundamental, pelo qual conseguiremos gerir o que fazemos. Assim, no sentido de minimizarmos os nossos esforços, na melhor compreensão do princípio 80/20, devemos conquistar um amplo poder de discernimento do que ocorre à nossa volta (Richard Koch), por forma a identificarmos quais são os vital few defeitos que nos desviam dos resultados e acções físicas necessárias à

Gestão de Tempos e Métodos em Saúde

prestação de cuidados e as vital few capacidades que nos dirigem para a melhor prestação de cuidados. David Allen entende que na prossecução da gestão das nossas actividades devemos promover dois elementos: o controlo e a perspectiva, através do desenvolvimento de três modelos fundamentais: 1. Um processo de workflow; 2. Uma estrutura de seis níveis de perspectiva;

3. Um modelo de planeamento natural. O processo de workflow serve para conquistar conhecimento sobre as tarefas que queremos ver realizadas para a melhor prestação de serviços e para tal devemos: A. RECOLHER – todas as tarefas e informação para uma caixa física: um e-mail, um pda, um gravador, um sistema informático por forma a libertar a mente. +

Quanto mais alto estamos na hierarquia, mais alargada e abrangente deve ser a nossa visão.

Fonte: Mediana

Fonte: Mediana

Hospital do Futuro | FeV. 2009 | N.08

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gestão & economia

B. PROCESSAR – a informação que se colocou na caixa, um item de cada vez sem nunca voltar a colocá-lo na caixa e, de acordo, na minha modesta opinião, com o método de Eisenhower (na figura em baixo), analisar se o item requer acção, definir se devemos fazê-la, delegála ou diferi-la no tempo; se não requer acção, definir se devemos referenciá-lo, deitá-lo fora ou agrupá-lo a uma acção futura.

N.08 | FeV. 2009 | Hospital do Futuro

B. Os projectos correntes; C. As áreas de responsabilidade; D. As metas de curto prazo (um ano); E. As metas de médio prazo (cinco anos); F. As metas de longo prazo (mais de cinco anos). Quanto mais alto estamos na hierarquia, mais alargada e abrangente deve ser a nossa visão. O processo deve ser revisto por perspec-

Delegar

Elaborar de imediato

Deixar cair

Elaborar mais tarde

Importante

Não Importante

Urgente

Não Urgente Numa perspectiva micro, as tarefas a verde devem ser elaboradas pelo próprio.

C. ORGANIZAR – cada vez que processamos um item devemos ter em atenção quais são as acções que o sucedem e o antecedem, quais os inputs e recursos necessários à sua execução e qual a duração e o prazo da tarefa em causa. D. REVISãO – todos os items devem ser revistos diariamente para garantir que estão a ser executados ou não conforme o previsto e se precisam ou não de ser re-organizados.

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Fundamental em todo este processo é o sistema de recolha escolhido. Deve ser fácil, simples e divertido. É necessário que o processamento das tarefas seja elaborado tendo em conta uma estrutura de seis níveis (pela ordem apresentada): A. As acções correntes;

tiva semanalmente, uma vez que estamos numa era de informação instantânea e de incerteza, agrupando as tarefas de acordo com a sua similitude e as suas necessidades de recursos. No modelo de planeamento natural, devemos, no processamento das tarefas, definir os seus princípios e propósitos, visualizar o resultado, fazer brainstorming, organizar e identificar as acções que se lhe seguem. Como o nome indica, um planeamento que surge com naturalidade. Enfim, tudo se reduz ao conhecimento do processo produtivo, à priorização e organização das tarefas necessárias à prestação de cuidados, quer em perspectivas micro, como macro, e manter este processo em constante reavaliação. Este afinal é o circuito de qualquer processo de melhoria contínua da qualidade

(Richard Koch). Não esquecer o princípio de Pareto (80/20), por onde começou a nossa história, pelo qual garantiremos que com os mesmos recursos faremos mais. Aquilo de que falamos não é mais do que re-engenharia de processos: através do estabelecimento de equipes multi-disciplinares, do regulamento de tarefas dos processos de uma empresa, hospital, e do alinhamento da tecnologia de informação à visão processual - recursos humanos, processos e tecnologia (Longaray). Esta abordagem começou a ser difundida por Michael Hammer, no início do século XX, como uma busca de uma nova forma de realizar um processo a partir de uma nova realidade tecnológica, a fim de obter o desempenho máximo pela utilização dessa nova tecnologia. Ela surge da maior necessidade de competir que uma empresa tem para que obtenha o sucesso ou a sobrevivência. Num hospital, para obter a melhor gestão dos recursos públicos ao serviço da saúde da população. Estudos feitos em empresas americanas mostram que 70% dos projectos de reorganização de processos falham (Grant). Podemos adoptar soluções completamente automatizadas, semi-automatizadas ou não automatizadas, mas o que não deve ser deixado de parte é que no desenvolvimento de processos devemos ter em conta: 1. Para que serve o processo; 2. Procurar eliminar tarefas que em nada contribuem para o resultado; 3. Procurar padronizar a documentação; 4. Procurar que a documentação seja de simples leitura e tratamento; 5. Homogeneizar o conhecimento para todos os membros da equipe. Nunca, mas nunca, deixar de transformar as necessidades dos utentes como um dos parâmetros da re-organização dos processos. Em meu entender estas serão as ferramentas fundamentais para a re-organização de processos num hospital. Como cada um de nós as põe em prática – isso é o divertido de todo o processo, mas ele é, como qualquer outro, um processo de aprendizagem.


turismo & saúde

Hospital do Futuro | FeV. 2009 | N.08

Turismo de saúde,

A

hospitalização privada portuguesa assiste hoje a uma verdadeira mudança de paradigma. O financiamento de seguradoras e subsistemas de saúde – que representam já mais de 40% da população portuguesa – fez emergir nos últimos anos um sector privado mais sofisticado, maduro e, sobretudo, independente. O sector da hospitalização privada, que detém hoje vários centros de excelência, tem em construção 25 novos hospitais até 2010, cresce a taxas anuais de dois dígitos nos últimos anos e coloca no mercado: — Cuidados de saúde com elevados índices de sofisticação e complexidade (cuidados intensivos; cirurgias, como no domínio das neurociências, com tecnologias de ponta; cuidados de telemonitorização em ambulatório, etc.), susceptíveis de exigirem grande diferenciação ao nível dos recursos humanos e de tecnologia. — Condições para o tratamento de casos que até há pouco tempo eram exclusivos do sector público, permitindo afirmar-se cada vez mais pela qualidade global do serviço. — Cuidados de saúde numa perspectiva de integração/rede, como por exemplo unidades hospitalares com valências orientadas para a assistência adequada de hotéis/residências para cidadãos com mais

Téofilo Leite, Presidente da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada (APHP), Director da União Europeia de Hospitalização Privada (UEHP)

Fonte: APHP

um vector estratégico para a hospitalização privada portuguesa

“estaremos a caminho de uma rede europeia de cuidados de saúde?” de 65 anos. Um dos reflexos deste conjunto de investimentos é o progressivo aumento da competitividade do próprio sector do turismo nacional, induzindo a procura de cuidados de saúde nacionais por parte de cidadãos estrangeiros, bem como o reforço da procura no “nicho” de mercado do turismo sénior de elevado valor acrescentado. Consciente dos novos desafios inerentes ao aumento da esperança de vida, a hospitalização privada portuguesa desenvolve respostas no domínio do turismo de saúde, associado, por exemplo, a segunda residência, para os cidadãos oriundos sobretudo do Norte da Europa. A curto prazo, constataremos que, por exemplo, as unidades hospitalares privadas em construção no Algarve potenciam a fixação de cidadãos estrangeiros, que assim aliam ao clima e à gastronomia que apreciam o conforto e a segurança conferidos por cuidados de saúde de qualidade. Contudo, muito há ainda a fazer no domínio da regulação transnacional.

Num contexto de grande circulação interpaíses de doentes e profissionais da Saúde, que soluções se impõem para enquadrar esta mobilidade crescente? Qual a resposta política coerente aos recentes acórdãos do Tribunal Europeu de Justiça sobre a obrigação dos sistemas de saúde nacionais suportarem os custos de tratamentos prestados noutro EstadoMembro? Como flexibilizar o sistema de saúde nacional de modo a enquadrar essas decisões do Tribunal Europeu de Justiça, que favorecem, de forma inequívoca, a mobilidade europeia dos doentes? Num mercado cada vez mais globalizado e “Único”, estaremos a caminho de uma rede europeia de cuidados de saúde? Uma directiva para os serviços de saúde na Europa, que entrará em vigor em Junho de 2009, se aprovada pelo Parlamento Europeu e pelo Conselho, poderá, contudo, abrir as portas nesse sentido, já que os Estados membro devem adequar as leis nacionais até Junho de 2010.

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eventos

N.08 | FeV. 2009 | Hospital do Futuro

“Não podemos ter medo de inovar”

O

II Fórum Nacional de Saúde reuniu vários especialistas do sector e em debate esteve o Plano Nacional de Saúde (PNS) 20042010. O encontro “procurou reforçar a perspectiva intersectorial do Plano, no âmbito da filosofia «a saúde em todas as políticas», e obter contributos para o próximo PNS 2011-2016, afirmou o Alto Comissariado da Saúde em comunicado de imprensa. Em destaque estiveram vários temas, como cooperação, gestão, cuidados de saúde, sistemas de informação, políticas e medidas de saúde, sempre na perspectiva de se dar enfoque ao doente e não à doença. Prevenção, capacitação, informação, conhecimento e articulação entre sectores foram palavras-chave no Fórum. O actual PNS trouxe mais-valias, continuando a contribuir para os bons resultados que Portugal tem na área da saúde

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materno-infantil e melhorando as políticas e as medidas de acção em relação à obesidade, disse à HdF o Secretário de Estado da Saúde, Manuel Pizarro. A obesidade é uma das áreas que deverá continuar a ter um especial enfoque no próximo Plano Nacional de Saúde para 2011-2016, de acordo com o responsável pela Plataforma Contra a Obesidade, João Breda. A articulação entre os diversos sectores (social, privado, sociedade civil, Estado) vai continuar a ser um tema da actualidade. A articulação entre sectores traz benefícios ao sector da Saúde e é necessário passar à prática os objectivos de se criar uma maior intersectoraliedade. “Temos de passar à acção e não podemos ter medo de inovar”, defendeu a Presidente da Comissão Parlamentar de Saúde, Maria de Belém Roseira. Jeremy Veillard, represen-

tante da Organização Mundial de Saúde (OMS) na Europa, concordou com a criação de medidas e políticas que melhorem a articulação entre sectores, assim como entre os diferentes cuidados de saúde (primários, hospitalares e continuados). O responsável chamou também a atenção para a necessidade de capacitar os utentes, através de programas de prevenção, que levem à mudança de comportamentos. Mas fazendo um balanço global, o responsável da OMS mostrouse satisfeito com as melhorias “significativas” que têm ocorrido na saúde portuguesa. MJG

Veja as entrevistas em www.hospitaldofuturo.tv e na Rede Social do Fórum Hospital do Futuro hospitaldofuturo.ning.com


David Oitavém

entrevista

Hospital do Futuro | FeV. 2009 | N.08

Novo Matos, Presidente da Sociedade Portuguesa de Cirurgia Minimamente Invasiva

Cirurgia, Novo matos é o Presidente da sociedade de Cirurgia minimamente Invasiva. em entrevista à revista HdF fala das vantagens desta técnica cirúrgica, tanto para profissionais como para os doentes. explica-nos também por que havia tanta necessidade de se criar uma sociedade nesta área. Quais são os objectivos da Sociedade Portuguesa de Cirurgia Minimamente Invasiva? A Sociedade nasceu só em Setembro do ano passado e surgiu da necessidade imperiosa que havia neste país de defender uma nova estratégia de cirurgia, a minimamente invasiva. Éramos o único país da Europa que não tinha uma sociedade deste tipo. A primeira cirurgia minimamente invasiva laparoscópica foi em 1987.

mas quase sem dor Não se trata de uma especialidade recente e todos os países têm sociedades nacionais de cirurgia minimamente invasiva. Aliás, há uma sociedade europeia. A sociedade também tem um papel informativo. Temos tido uma boa adesão, já que, no nosso país, as pessoas não tinham a possibilidade de ter formação nesta área. Além do mais, somos transversais em termos de especialidades. Damos informação e formação em várias áreas: cirurgia geral, torácica, ginecológica, plástica, gastroenterológica, urológica, entre outras. E porquê esta transversalidade? Porque todos os profissionais comungam do mesmo conceito: tratar as pessoas com menos cicatrizes, menos dores, menos tempo de hospitalização e de baixa médica. A cirurgia minimamente invasiva tem mais de 20 anos, mas temo-nos atrasado.

Qual é a razão do atraso? O atraso deveu-se a interesses de algumas pessoas, ao conservadorismo, à existência de outras sociedades... Há quem pense que as sociedades já existentes são suficientes, mas isso não é verdade. Faltava uma que se dedicasse especificamente a este tipo de cirurgia, estando em permanente actualização. Com isto não quero dizer que tenhamos más relações com as restantes sociedades. Muito pelo contrário. Quem são os membros? Trata-se de uma sociedade com um conceito de gente jovem. Esta cirurgia implica uma atitude diferente, porque não podemos mexer e visualizar os órgãos directamente, mas através de um ecrã. Quanto mais jovem se for, melhor é para se +

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entrevista

N.08 | FeV. 2009 | Hospital do Futuro

David Oitavém

Têm parcerias? Sim. A Sociedade tem parcerias com as Faculdades de Medicina e a nível internacional. Há muitas entidades e empresas que desenvolvem tecnologia para cirurgia minimamente invasiva.

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O Presidente da SPCMI defende que os alunos de Medicina já deveriam ter aulas de cirurgia minimamente invasiva

José Manuel Novo de Matos, 54 anos, é licenciado em Medicina. É Chefe de Serviço de Cirurgia Geral no Hospital de S. José, desde 2002, Coordenador da Unidade de VídeoCirurgia e do Grupo de Estudo e Tratamento da Obesidade do mesmo hospital. É o Fundador da Sociedade Portuguesa de Cirurgia Minimamente Invasiva e membro de várias sociedades portuguesas e internacionais de Cirurgia, de Laparoscopia e de Cirurgia Bariátrica. Organizou recentemente o 1º Curso Ibérico de Cirurgia Laparoscópica e Toracoscópica, em Cáceres, juntando pela primeira vez cirurgiões espanhóis e portugueses na organização e participação do Curso. Em Maio de 2008, trouxe para Portugal, pela primeira vez, o Robot Cirúrgico Da Vinci, permitindo que os cerca de 300 participantes do 1º Congresso da Sociedade Portuguesa de Cirurgia Minimamente Invasiva o pudessem experimentar.

Como tem sido a adesão aos cursos? A adesão tem sido muito boa. Temos cursos recorrentes e um site (www.spcmin.pt) com vídeos onde os sócios podem aprender as técnicas da cirurgia. Foi uma pedrada no charco, porque a maioria dos cirurgiões são muito conservadores. No entanto, os cursos são dirigidos a todos os cirurgiões. oPerAr Com meNos CICAtrIzes e meNos dores Falemos da técnica em si. O que é a Cirurgia Minimamente Invasiva? Na cirurgia tradicional havia o hábito de que quanto maior fosse a incisão, melhor era o cirurgião. Os profissionais foram educados durante muitos anos com base neste lema. A realidade mudou e nos últi-

mos 30 ou 40 anos tentamos agredir cada vez menos o corpo humano. E os desenvolvimentos estão à vista. Começou-se por ter a laparoscopia, que possibilita com três pequeníssimas incisões fazer uma operação. Trata-se de uma técnica pouco agressiva, sem tantas dores como a tradicional e com menos cicatrizes. O conceito é provocar uma agressão mínima ao doente. A partir de 2001 houve um grande salto nesta área e, neste momento, está-se a desenvolver o NOTES, a cirurgia pelos orifícios originais. Neste caso não há cicatriz. Esta técnica permite, por exemplo, retirar uma vesícula pela vagina. Ainda estão a ser realizados testes, mas a técnica mostra-se muito promissora. Quais são as vantagens deste tipo de cirurgia? A técnica, como não é tão agressiva, traz benefícios para o sistema imunológico do doente e tem menos riscos. Além disso, há menos dores, requer menos tempo de hospitalização e menos tempo de baixa médica. O uso de robôs na cirurgia também traz mais vantagens aos profissionais, já que o toque e o corte por parte do braço do robô é muito preciso, sem erros. Mesmo que o cirurgião esteja a tremer, esses movimentos não passam através do robô.

A SPCMI foi formada em 2007 e o seu Presidente explica que o objectivo é “apanhar o comboio” dos países mais avançados nesta área, como Espanha, Brasil, Japão e EUA.

David Oitavém

aprender esta técnica. No 1º Congresso de Cirurgia Minimamente Invasiva - que decorreu o ano passado, em Évora -, a média de idades dos 350 participantes rondava os 34 anos.


entrevista

Hospital do Futuro | FeV. 2009 | N.08

É aí que deve começar.

“temos um site com vídeos onde os sócios podem aprender as técnicas da cirurgia” E quais são as dificuldades? Também as há. Se o cirurgião ainda só realizou cirurgias tradicionais tem de passar por vários níveis dos cursos, tem de ter acompanhamento, deslocar-se a sítios de referência onde se fazem estas cirurgias e operar acompanhado até ficar autónomo. Quais são as áreas onde se realiza mais a cirurgia minimamente invasiva? Acima de tudo na Cirurgia Geral e depois

na Ginecologia, Urologia, Cirurgia Pediátrica, Cirurgia Torácica, entre outras. Quando é que vamos ter os cursos de Medicina com esta cadeira? Estamos a trabalhar para esse objectivo. Já temos um projecto e já contactámos com os responsáveis das faculdades. Tudo indicava que se iria avançar este ano lectivo, ma ainda não houve resposta. Tenho esperança que possamos começar a desenvolver este treino a nível universitário.

Que objectivos têm para o futuro? A luta é apanhar o comboio da Europa e do mundo. Os mais avançados nesta técnica são Espanha, Brasil, Japão e EUA. Se não nos conseguirmos aproximar dos outros países nos próximos dez anos, no máximo, que venha outra sociedade! Portugal é que está atrasado face à Europa e ao mundo! Há standards internacionais que apelam a este tipo de cirurgia. Temos de os cumprir. Para além dos cursos, tentaremos perceber qual é o estado da ar te destas cirurgias a nível nacional, vendo o que se faz e com que qualidade. É muito impor tante ter estas noções, para melhorarmos. MJG

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novidades

N.08 | FeV. 2009 | Hospital do Futuro

LIVROS EM SAÚDE

Hospitais Transformados em Empresa Análise do Impacto na Eficiência: Estudo Comparativo Ana Harfouche

Epilepsia: apoio financeiro para cirurgia o Alto Comissariado da saúde tem um projecto de financiamento que vai ajudar os doentes com epilepsia refractária. este tipo de epilepsia não responde às terapêuticas e só se poderá resolver com uma cirurgia. o problema tem sido o custo da intervenção.

C

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Os Sectores Públicos integrados, como é o caso em Portugal do SNS, deparam-se com problemas de ineficiência e baixa capacidade de resposta às necessidades dos doentes. Os problemas orçamentais e a falta de autonomia de gestão tendem a exacerbar a ineficiência e os fracos incentivos à produtividade e qualidade. Nas últimas décadas houve uma procura intensa de novos e inovadores modelos de gestão que proporcionassem um contributo maior na eficiência. A reforma estrutural operada em Portugal em Dezembro de 2002, com a criação dos hospitais SA, não foi excepção. O impacto na governação do sector e o estudo da eficiência ocorrida com estas transformações, num momento próximo ao da sua ocorrência, permitiu avaliar a eficiência hospitalar, numa perspectiva comparada: Hospitais do Sector Público Administrativo (Gestão Tradicional) versus Hospitais do Sector Público Empresarial (New Public Management).

erca de 5% dos doentes com epilepsia correspondem a casos refractários, ou seja, já não há medicamentos que consigam controlar os ataques epilépticos. As complicações de saúde são inevitavelmente graves e os doentes perdem qualidade de vida, ficando impedidos de trabalhar e de ter uma vida social. Perante a gravidade da situação e o facto de os custos da cirurgia poderem ascender aos dez mil euros por doente, o Alto Comissariado da Saúde (ACS) arrancou, este ano, com um programa de financiamento para que a cirurgia se possa realizar em quatro centros hospitalares: Centro Hospitalar do Porto, Hospitais da Universidade de Coimbra, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental (Hospital Egas Moniz) e Centro Hospitalar de Lisboa Norte (Hospital de Santa Maria). Os protocolos de colaboração entre o ACS e as Administrações Regionais de Saúde foram assinados em Dezembro de 2008. Em Portugal, existem cerca de 50 mil pessoas com epilepsia, ou seja, 2500 potenciais candidatos a tratamento cirúrgico. Anualmente, surgem 5000 novos casos de epilepsia e 250 novos candidatos. Contudo, em dez anos, foram operados apenas cerca de 300 doentes nos centros de referência para este tipo de cirurgia, devido ao custo da intervenção. A iniciativa nasceu de uma proposta da Liga Portuguesa Contra a Epilepsia e tem como objectivo, de acordo com os seus responsáveis, promover a prática da cirur-

gia da epilepsia no país, durante um ano. A partir de 2010, os estabelecimentos hospitalares deverão contratualizar esta actividade com as respectivas Administrações Regionais de Saúde. Com a promoção da cirurgia pretende-se que haja cada vez mais doentes com qualidade de vida, apesar das consequências da epilepsia, e pretende-se dar o apoio necessário aos hospitais. O Presidente da Liga Portuguesa Contra a Epilepsia e membro por inerência da Direcção da Associação Portuguesa de Familiares, Amigos e Pessoas com Epilepsia, João Manuel Lima, disse à Revista HdF que este apoio é essencial, já que este tipo de cirurgia exige uma equipa multidisciplinar, para que se tenha uma perfeita noção dos doentes que precisam de facto da cirurgia e qual a zona do cérebro que deve ser extraída. Na prática, a cirurgia não vai curar, mas vai controlar os ataques epilépticos, extraindo-se a parte do cérebro responsável pelos mesmos. Até ao momento, as equipas multidisciplinares têm sido compostas por voluntários, referiu ainda o mesmo responsável. João Manuel Lima referiu ainda que a epilepsia refractária aparece, sobretudo, em jovens adultos, que ficam dependentes da Segurança Social e das famílias. No seu entender, este apoio demonstra aos hospitais que a Tutela aposta na recuperação destes doentes. O financiamento da cirurgia acaba por resolver um problema de saúde, mas também social. MJG


perspectivas

As Tecnologias de Informação ao Serviço da Saúde

A

pressão que se coloca hoje nos sistemas de saúde existentes, com o objectivo de dar resposta às necessidades cada vez mais prementes da população, exige rápidas e inovadoras respostas às empresas que operam neste sector de actividade. Neste sentido, estamos conscientes de que é necessário encontrar e implementar sistemas que melhorem eficazmente a qualidade da prestação de cuidados, aumentando o seu âmbito e extensão, reduzindo os respectivos custos. Acreditamos que é nas Tecnologias e nos Sistemas de Informação que encontramos a resposta adequada para a resolução de muitos dos problemas existentes. De facto, as Tecnologias da Informação permitem, de uma forma imediata, distribuir informação e, em simultâneo, fornecer ferramentas colaborativas aos profissionais de saúde, distribuindo a informação disponível de uma forma estruturada e organizada, revelando-se hoje como uma componente vital dos sistemas de saúde e das respectivas Instituições, melhorando significativamente a prestação de cuidados de saúde aos utentes. No caso, a Glintt Healthcare Solutions apresenta-se ao mercado como um parceiro proactivo na área das Tecnologias de Informação, tendo toda a sua actividade exclusivamente dedicada ao desenvolvimento de sistemas de informação para o

sector da Saúde, tendo desenvolvido, ao longo de anos de actividade, soluções inovadoras, de próxima geração tecnológica, flexíveis, poderosas e fáceis de utilizar, proporcionando reais mais-valias e benefícios tangíveis às Instituições de Saúde. O Sistema cobre as Áreas Clínicas, incluindo os MCDT - Meios Complementares de Diagnóstico e Terapêutica, e Clínico Administrativa, que vão desde a Gestão de Doentes, Agendamento, Recepção, Facturação (ao doente e às entidades), até ao cálculo de Honorários dos respectivos profissionais. O rápido acesso a toda a informação registada e a automatização de tarefas complexas permitem libertar os profissionais para tarefas clínicas, reduzindo custos operacionais, agilizando o processo de melhoria e aumentando a eficiência da gestão operacional. A implementação eficiente de um Sistema de Informação Hospitalar deverá contribuir para: (i) Facilitar a implementação das melhores práticas (ii) Aumentar a qualidade e segurança dos cui-

dados prestado (iii) Reduzir os custos (iv) Racionalizar a utilização de recursos humanos (v) Facilitar a implementação de políticas e práticas de saúde. Destacamos o Sistema de Gestão de Doentes, que constitui um módulo administrativo, que funciona como o núcleo central de informação para todos os sistemas de gestão hospitalar e que responde eficazmente às necessidades administrativas, fundamentalmente nos seguintes aspectos: (i) Identificação e referenciação de doentes, (ii) Caracterização dos episódios clínicos e registo de actividade clínica, (iii) Gestão de agendas e planeamento de recursos, (iv) Compilação de dados para facturação, (v) Análise de custos e de produção. A compilação de todos os dados recolhidos é uma fonte de informação fundamental para a gestão, disponibilizando um conjunto alargado de indicadores base que responderá às principais necessidades dos vários níveis de Gestão – Serviços, Unidades Funcionais e Administração. Podemos afirmar que a Glintt-HS conseguiu toda a experiência necessária para poder assumir o desenvolvimento de qualquer projecto na área da saúde, tendo através do portfólio de soluções que desenvolveu até à data marcado uma forte e firme posição e obtido o reconhecimento do mercado nacional.

Publi-reportagem: Glintt

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