Revista HdF Nº9

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perfis saudáveis “Tento só fazer asneiras uma vez por semana na alimentação”

diz Manuel de Lemos, Presidente da União das Misericórdias

www.hospitaldofuturo.com

director: Paulo Nunes de Abreu

N.09 | ANo IV | QuAdrImestrAl | JuNHo 2009 | 4,00€

Em destaque: quando a cura se transforma em doença

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arritmias cardíacas

tecnologias da saúde

doença crónica

Conheça os mitos sobre dispositivos electrónicos. Saiba o que pode fazer e o que está proibido.

Conheça as iniciativas do Plano Tecnológico da Saúde. Como vai mudar o seu dia-a-dia na Saúde?

Os auto-cuidados são fundamentais. A integração é também indispensável.

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perspectivas

Novas tendências em cuidados hospitalares

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s sistedos utentes, mas de médicos e actibemvos hospitalaestar res integrados ocidentais caracna rede inforterizaram-se nos mática do Hosúltimos anos por pital; um crescimento • Robotização: automatização da procura de da farmácia e serviços públicos da logística de e uma maior eximateriais; sistegência na qualimas de robotidade e eficiência Roser Vicente (Directora Geral, Gesaworld) Liliana Ramalho (Directora, Gesaworld Portugal) zação (bloco por parte dos cioperatório); dadãos. A satura• Tecnologia energética eficiente: uso ção dos serviços de urgência, as listas de ➲ Assistencial: incorporação de fórmulas das tecnologias mais avançadas em espera para cirurgia e para algumas espealternativas à hospitalização com elevada energias renováveis e redução de emiscialidades de Cuidados Primários e a exisresolutividade (cirurgia de ambulatório, sões contaminantes. tência de um grande volume de pessoas hospital de dia, consultas de alta resolutique percorrem distâncias consideráveis vidade e em acto único) e com serviços Para que os novos recursos de saúde se para aceder a tratamentos crónicos ou baseados nas telecomunicações (telemeadaptem aos desafios actuais e futuros, consultas especializadas são exemplos dicina e teleradiologia); os elementos de inovação expostos dedeste crescimento da procura. ➲ Sustentabilidade ambiental: desenho verão percorrer de forma transversal as Frente a esta situação, os gestores públiestrutural com a incorporação de critérios diferentes fases do seu desenvolvicos devem aproximar-se das novas realide sustentabilidade ambiental e de efimento: desde o planeamento estratédades sociais e oferecer respostas ciência energética, permitindo a obtenção gico, ao desenho organizativo, funcional inovadoras que, sem duplicar recursos, de certificação LEED (Leadership in Energy e arquitectónico do novo recurso, consofereçam maior proximidade ao cidadão and Environmental Design) como Green trução, equipamento, arranque e desencombinando um alto grau de custo-efecHospital. A presença de critérios de susvolvimento da sua actividade tividade, rapidez resolutiva e níveis de tentabilidade energética na construção e assistencial. Finalmente, destaca-se a imqualidade. Os elementos inovadores que funcionamento do novo recurso permite os novos dispositivos de saúde devem inportância da interligação do novo dispoa obtenção de benefícios ambientais de cluir para responder de forma eficaz e sitivo com os restantes recursos de inquestionável valor, reduz os custos de sustentável aos desafios actuais e futuros saúde, de forma a potenciar uma prestaconstrução e de funcionamento e oferece dos sistemas de saúde organizam-se em ção de cuidados próxima dos cidadãos, aos profissionais e utentes um edifício quatro grandes âmbitos: mais eficiente e adaptada aos novos de“saudável”. ➲ Organizativo: os hospitais do futuro safios no âmbito da prestação de cuida➲ Tecnológico: aplicam a reengenharia de processos, uldos de saúde. • “Hospital digital”: digitalização dos retrapassando assim a estrutura funcional gistos médicos, rede inteligente de particlássica e orientando os serviços para os lha de registos e dispositivos diagnósticos Publi-reportagem: Gesaworld seus utentes, a partir de novas modalidaque permitem a deslocalização dos profisdes de prestação de cuidados, tais como sionais (telemedicina); a consulta em acto único (consultas de • Sistemas de radiofrequência: tecnolodiagnóstico rápido), obtendo uma resgia de identificação por radiofrequência posta no mesmo dia; (RFID) para a monitorização e localização


Índice

FICHA TÉCNICA Director:

Perspectivas

Paulo Nunes de Abreu

Editorial

Joana Branco (Edição), Maria João Garcia

Novas tendências em cuidados hospitalares p. 2 p. 4

Redacção:

Fotografia: David Oitavem, José Paulo

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Perfis Saudáveis António Vaz Carneiro, Manuel de Lemos, Rui Portugal p. 5

Destaque

Danos Colaterais p. 8

Hospital do Futuro Hospitais de Coimbra caminham para o futuro p.11

Gestão & Economia da Saúde Novas Tendências na Gestão da Doença Crónica p. 13

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Entrevista “Os enfermeiros foram e continuam a ser um pilar na gestão”, Bastonária da Ordem dos Enfermeiros, Maria Augusta de Sousa p. 17

As Novas Tecnologias na Saúde e-Health... Perspectivas Europeias em 2009... p. 19 O Plano Tecnológico da Saúde p. 20

Debate Impacto Económico da Prevenção do Tromboembolismo p. 21

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Cardiologia Arritmias cardíacas e dispositivos: um mito urbano p. 24

Saúde-em-Rede

Os Cuidados Hospitalares em Discussão p.26

SNS em análise Eficiência versus Qualidade no SNS, em Portugal: Metodologias de Avaliação p. 29

Saúde Ibérica

Um Parque Tecnológico de Saúde p. 32

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Opinião Carcinoma da mama: Problemas e oportunidades p. 34

Saúde no Trabalho Câmara Municipal do Porto: Uma Abordagem Integrada na Promoção do Bem-Estar p. 36

Medicamentos

Mais medicamentos falsos em circulação p. 38

Design e Paginação: Nuno Pacheco Silva

Sede da Redacção: GroupVision Serviços Editoriais e de Educação Pólo Tecnológico de Lisboa Edifício Empresarial 3 1600-546 Lisboa Tel: 217 162 483 - Fax: 217 120 549 hdf@groupvision.com

Colaboram neste Número: Carlos Morais, Responsável Unidade Pacing e Arritmologia Hospital Fernando Fonseca, Coord. Nacional Campanha Bate Bate Coração; João Guerra, Medicina Interna, Hospital Reynaldo dos Santos; Maria do Rosário Giraldes, Economista, Professora Universitária de Economia da Saúde, Assessora Principal da Administração Central do Sistema da Saúde, Ministério da Saúde; Maria Helena Monteiro, docente e investigadora do Centro de Investigação em Administração e Políticas Públicas do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP-UTL), coordenadora do Grupo Permanente de Saúde e membro da Associação para a Promoção e o Desenvolvimento da Sociedade de Informação; Nuno Abecassis, Assistente Hospitalar Graduado Cirurgia Geral, Membro da Direcção e Coordenador da Área Médica da Associação Portuguesa de Apoio à Mulher com Cancro da Mama; Sara Magalhães, Chefe de Divisão, e Anabela Guedes e Cristina Ribeiro, Técnicas Superiores de Serviço Social da Direcção Municipal de Recursos Humanos, Câmara Municipal do Porto.

Conselho Redactorial: José Ávila da Costa, Presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna; Manuel Correia, Presidente Conselho Directivo Escola Superior de Tecnologias da Saúde de Lisboa; Pedro Barosa, Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Hospitalar; Verónica Rufino, Presidente, Associação Portuguesade Apoio à Mulher com Cancro da Mama.

Entidade Proprietária e Editor: GroupVision Serviços Editoriais e de Educação

Nº Contribuinte: 507 932 366

Tiragem: 8.000 exemplares

Periodicidade: Quadrimestral

Nº Registo no ICS: 124679

Depósito Legal: 230918/05

Impressão e Acabamento:

Perspectivas 36

«Os cidadãos devem poder optar sem constrangimentos entre os sectores público e privado da saúde» p. 39

Lisgráfica, Impressão e Artes Gráficas S.A., Rua Consiglieri Pedroso, nº90, Casal de Sta. Leopoldina, 2730-053 Barcarena

Distribuição: Logista

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editorial

N.09 | JuN. 2009 | Hospital do Futuro

Paulo Nunes de Abreu Director da Revista Hospital do Futuro

Serviço Nacional de Saúde faz anos

Mas os reptos que iremos enfrentar no futuro estão longe de estar bem equacionados no presente e muitos dos problemas que temos no presente resultaram de más práticas ocorridas no passado. Como exemplo a enorme escassez de profissionais de saúde, em particular de médicos. Milhares de portugueses continuam hoje sem médico de família. Dezenas de especialidades médicas continuam sem “especialistas” em virtude de uma debilidade endémica na gestão previsional de recursos humanos em saúde.

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Por outro lado, os problemas demográficos e a própria solvência económica dos sistemas de protecção social e de financiamento público da saúde. Os impostos não vão chegar para as necessidades que são crescentes e a resposta adequada, caso exista, transcende o mero âmbito de actuação de um Estado-Nação e o problema terá que ser solucionado no âmbito de um Estado-União de Estados. Não se vislumbram grandes esforços políticos no sentido da construção de uma política europeia de protecção social e de saúde para o cidadão. Talvez os exemplos de bons resultados de eficácia e eficiência que a nova administração Obama consiga obter nos EUA nos possam fazer mudar de perspectiva aqui na Europa.

Finalmente o registo individual de saúde. Temos um novo cartão de cidadão que substituiu com vantagem vários documentos de identificação que anteriormente existiam em separado, incluindo o cartão de saúde. O projecto “Cartão do Cidadão” é um dos principais motores da concretização dos princípios do “governo electrónico” e integra-se na política de desenvolvimento científico e tecnológico, prevista pelo actual Governo. É pena que o mesmo não possa substituir com vantagem os velhinhos “boletins de saúde”, armazenando aí os registos individuais de saúde como a vacinação, tipo sanguíneo, etc. A visão de um novo SNS tecnologicamente avançado já pede esse grau de integração que hoje ainda falta. Um serviço nacional de saúde que seja um motor da sociedade de informação não se compadece com teses do estilo: “O Cartão do Cidadão não conterá dados sobre a situação de saúde ou de segurança social do seu titular.” Que pena que não se possa dar já este grande salto qualitativo com o actual cartão do cidadão. Espero que quando se comemorarem os 35 anos do SNS se possa avançar tanto quanto já se avançou na presente legislatura. Seria um sinal de maturidade política para Portugal.

É pena que o cartão do cidadão não possa substituir com vantagem os velhinhos“boletins de saúde”, armazenando aí os registos individuais de saúde como a vacinação, tipo sanguíneo, etc.

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m ano em que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) celebra 30 anos deve ser condignamente assinalado. Esse tem sido o mote de vários congressos e eventos, que ao longo de 2009 apresentam um excelente trabalho de divulgação e inspiração para o nosso SNS.


perfis saudáveis

Hospital do Futuro | JuN. 2009 | N.09

António Vaz Carneiro Podia fazer-me um resumo do seu dia? Levanto-me às 7,30 h. Chego ao Hospital de Santa Maria/Faculdade de Medicina de Lisboa (FMUL) pelas 8,30 h. De manhã, reuniões, aulas, conferências (fora da FMUL). De tarde, aulas, escrita de ar tigos, relatórios, preparar aulas e reuniões; discussão de projectos científicos com os colaboradores do Centro de Estudos de Medicina Baseada na Evidência (que dirijo). Trabalha quantas horas por dia? 12. Como consegue tratar do seu bem-estar e da sua saúde tendo o cargo que tem? Interrompo regularmente as actividades diárias para ler e ouvir música (ainda que por pouco tempo, infelizmente). Saio muitas vezes a meio da tarde para ir buscar os meus filhos ao colégio e ir lanchar com eles. Depois volto para o trabalho. Vou ao cinema pelo menos uma ou duas vezes por semana. Como é que lida com o stress? Nem o sinto… Pratica desporto? Pratico ténis “puxado” duas vezes por semana à hora do almoço (uma hora). Vou ao ginásio (corrida e pesos) uma vez na outra hora de almoço. Corro uma mini-

“O check-up em pessoas assintomáticas de baixo risco é não só inútil como prejudicial”

maratona (seis a sete quilómetros) todos os domingos de manhã. Tem cuidados com a alimentação? Partindo do princípio que o que está a perguntar é se eu faço alguma dieta especial, então a resposta é negativa. Como absolutamente de tudo. Fuma? Não. Costuma fazer rastreios? Comecei a medir a tensão arterial uma vez por ano, a medir o colesterol e o sangue oculto nas fezes bianualmente. E check-up? Não faço, nunca fiz nem nunca farei. O check-up (também chamado o exame médico periódico), quando realizado em pessoas assintomáticas de baixo risco, em cuidados primários, é não só inútil (porque não diagnostica nada) como prejudicial (porque diagnostica muitas vezes doenças inexistentes – resultados falso positivos). Mesmo quando diagnostica

Fonte: AVC

Professor, Faculdade de medicina da universidade de lisboa; director, Centro de estudos de medicina Baseado na evidência.

qualquer anomalia laboratorial, ela é a maior parte das vezes suficientemente pouco importante para não requerer nenhuma intervenção, deixando os médicos e os doentes num estado de ansiedade sobre tratar ou não… Hoje recomendase, baseado na melhor evidência científica, rastreios para grupos de médio e alto risco, e não para a população em geral (por definição de baixo risco). Sempre teve uma boa saúde? Sim. Quando era mais novo teve alguma atitude ou hábito que lhe tenha trazido problemas de saúde? Não. Qual foi a pior doença que teve? Contagiado por um doente, tive há 14 anos uma gripe estival que se complicou com uma pneumonia pneumocócica bilateral, com sépsis e insuficiência respiratória necessitando de ventilação assistida. Tenho seis dias perdidos na minha vida…

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perfis saudáveis

N.09 | JuN. 2009 | Hospital do Futuro

Rui Portugal

José Paulo

Presidente, Administração regional de saúde de lisboa e Vale do tejo (ArslVt)

“De vez em quando paro e nada me faz trabalhar”

Manuel de Lemos Presidente, união das misericórdias Portuguesas Podia fazer-me um resumo do seu dia? Acordo às 8,00h, tomo o pequeno-almoço (leve, café com leite e pão torrado com manteiga). Trabalho a partir das 9,00h até às 13h. Tento comer pouco ao almoço (nem sempre consigo), bebendo água ou um copo de vinho. Tenho a mania de que sei de vinhos! Trabalho em regra até às 19,30/20,00h. Janto entre as 20h e as 22,30h. Volto para casa e em regra trabalho até à 1h00 da manhã. Trabalha quantas horas por dia? Como dizia um célebre político “é só fazer as contas” (10 a 11h/dia) Como consegue tratar do seu bem-estar e da sua saúde tendo o cargo que tem? Com dificuldade. De vez em quando paro e nada me faz trabalhar.

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pecialista em futebol no estádio. O meu clube, o FCP, só me dá alegrias a não ser quando os árbitros estão contra ele (o que acontece cada vez mais). Tem cuidados com a alimentação? Cada vez mais. Tento só fazer asneiras uma vez por semana.

Podia fazer-me um resumo do seu dia? Os dias são sempre muito preenchidos. Começam com alguns momentos de convívio familiar, com o pequeno-almoço em família e depois há que encaminhar as crianças (sou pai de cinco filhos) para a escola. Procuro estar sempre na ARSLVT perto das nove horas da manhã e aí começa uma sequência de reuniões, quer internas, quer externas e também a presença obrigatória em alguns eventos em que tenho de representar a Instituição a que presido. A agenda é sempre muito carregada. Procuro que o jantar seja sempre em casa, com a família. Considero que mesmo para quem tem uma vida profissional muito intensa, como é o meu caso, é muito importante conciliar isso com a vida familiar, pois esse é o verdadeiro grande suporte para todas as restantes actividades e desafios da nossa vida. Trabalha quantas horas? Cerca de 12 horas por dia. Como consegue tratar do seu bem-estar e da sua saúde tendo o cargo que tem? Procuro praticar algum desporto, bem como ter uma alimentação saudável. São os cuidados básicos.

Fuma? Não Costuma fazer rastreios? Uma vez por ano.

Como é que lida com o stress? Sempre lidei muito bem com o stress e até posso dizer que gosto de trabalhar sob alguma pressão.

E check-up? Não. Sempre teve uma boa saúde? Graças a Nossa Senhora da Misericórdia!

Como é que lida com o stress? Muito bem! Consigo ser cáustico comigo próprio e de há muito tenho a noção que tudo é bastante relativo.

Quando era mais novo teve alguma atitude ou hábito que lhe tenha trazido problemas de saúde? Não. Sempre cultivei o equilíbrio.

Pratica desporto? Pratiquei desporto, mas agora sou um es-

Qual foi a pior doença que teve? Um grave acidente de viação.

Pratica desporto? O meu desporto é um desporto “caseiro”, por assim dizer. Tenho uma daquelas bicicletas estáticas e procuro, sempre que possível, dar umas pedaladas valentes. Por outro lado, na ARSLVT, várias vezes por semana eu e mais alguns membros do Conselho Directivo, bem como outros colaboradores, aproveitamos uma parte


perfis saudáveis

Hospital do Futuro | JuN. 2009 | N.09

Costuma fazer rastreios? E check-up? Não. Não costumo fazer rastreios e checkup. Acho que para isso contribui o facto de ser ainda relativamente novo, acho eu, pois afinal, vendo bem as coisas, já estou mais perto dos 50 anos do que penso! E de nunca ter tido qualquer problema de saúde verdadeiramente importante. Sempre teve uma boa saúde? Sim, felizmente sempre gozei de boa saúde.

Fonte: ARSLVT

Quando era mais novo teve alguma atitude ou hábito que lhe tenha trazido problemas de saúde? Não, nunca.

“Várias vezes por semana aproveitamos a hora do almoço para dar uma caminhada de meia hora”

da hora do almoço para dar uma caminhada de cerca de meia hora. Tem cuidados com a alimentação? Sim. Procuro ter uma alimentação equilibrada e cuidada. Privilegio muito as frutas e os vegetais. Aliás, aqui no piso do Con-

selho Directivo procuramos sempre ter umas cestas de fruta à disposição de quem aqui vier e, também, para consumo de quem aqui trabalha. Fuma? Não. Nunca fui fumador.

Qual foi a pior doença que teve? Como disse, felizmente, sempre tive uma boa saúde, sem grandes problemas nem sobressaltos. A única situação séria por que passei foi na sequência de um atropelamento, quando estava numa reunião de trabalho na Suécia. Fui abalroado por um automóvel e sofri um traumatismo crânioencefálico, vulgo traumatismo craniano. Estive mesmo internado, mas tudo acabou por correr bem e hoje aqui estou!

17ª CONFERÊNCIA SINASE Boas Práticas na Educação, saúde e Qualidade como já vem sendo habitual, em 29 de Junho de 2009, vamos realizar a 17ª conferência sinasE, na universidade católica de Lisboa, em formato idêntico ao realizado em anos anteriores, sobre o tema “Boas Práticas na Educação, saúde e Qualidade”, dividida em cinco painéis, de acordo com a seguinte estrutura: 1. 2. 3. 4. 5.

EXPEriÊNcias orGaNiZacioNais Na Educação EXPEriÊNcias orGaNiZacioNais Na saúdE Entrega dos Prémios de reconhecimento à Educação a Educação E a saúdE como FacTorEs dE ProGrEsso – aPoios do PoPH Entrega dos Prémios Hospital do Futuro 2008/2009 e Prémios c.G.c.

Esta conferência servirá como reflexão e promoção das Boas Práticas nas áreas da Educação e da saúde. Tal como em anos anteriores, serão premiadas as Boas Práticas na saúde e, este ano, pela primeira vez, na Educação, de acordo com as seguintes categorias:

Prémios saúdE

1. 2. 3. 4. 5. 6.

Autarquias Biotecnologia e-Saúde Educação Gestão e Economia da Saúde Parcerias em Saúde

7. 8. 9. 10. 11.

Prevenção da Obesidade Qualidade em Saúde Serviço Privado Serviço Público Serviço Social

Prémios Educação

1. Inovação pedagógica 2. Comunidade e Parcerias/Protocolos 3. Quadro de Excelência 4. Quadro de Valor 5. Ambiente e sustentabilidade

6. Prevenção da Saúde Pública no meio escolar 7. Formação profissional 8. O melhor município para estudar

a escolha das pessoas e entidades premiadas resultará da avaliação das candidaturas, analisadas por um júri constituído por personalidades com reconhecidos méritos nos contextos dos diferentes Prémios instituídos. Estes Prémios têm como objectivo motivar e estabelecer exemplos a seguir no futuro, contribuindo, assim, para a melhoria da qualidade de vida e desenvolvimento global. carla Gonçalves Pereira (directora Executiva)

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destaque

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Danos colaterais

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uando um doente se dirige a uma unidade de saúde nem sempre sai com a solução para a doença, mas com mais uma doença. Diversos estudos internacionais são unânimes em demonstrar que aproximadamente 10% dos doentes que recorrem ao hospital sofrem algum efeito adverso como consequência dos cuidados prestados, principalmente no que diz respeito ao uso dos medicamentos, a infecções e a complicações peri-operatórias. Os estudos, reconhecidos pelas organizações de saúde, vão ainda mais longe: 50% das complicações poderiam ter sido prevenidas. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), os eventos adversos devem-se a várias causas, como a crescente complexidade na gestão dos doentes, em que interferem factores organizacionais, factores pessoais dos profissionais e outros relacionados com a doença. Já existem leis que prevêem indemnizações no caso de o utente sofrer algum evento adverso decorrente dos cuidados prestados, mas nem sempre é fácil demonstrar que houve erro ou negligência e a lei não se cinge apenas às consequências provenientes dos cuidados prestados.

PANorAmA INterNACIoNAl Os EUA são, desde 2002, o país de vanguarda no que diz respeito às medidas de segurança do doente (ou Patient Safety, na versão inglesa). Há linhas de orientação que devem ser seguidas por todos os profissionais de saúde, de acordo com a Joint Comission Board, uma entidade governamental. Há medidas estipuladas que incluem vários trâmites como o controlo de infecções, o registo de pacientes, a qualificação dos profissionais, medidas de segurança bem específicas consoante diversas patologias. Os hospitais só poderão ser certificados se cumprirem com as linhas de orientação sobre segurança do doente. Existe também uma base de dados onde se recolhem todos os casos de erros. Os erros têm diminuído, desde 2002, mas mesmo assim há muito trabalho a fazer nas unidades de saúde dos EUA, de acordo com a Joint Comission Board. A entidade norte-americana apresentou, em 2007, estatísticas relevantes sobre a segurança do doente. Só 27,5% dos hospitais tinham uma compliance (conformidade) de 90% na área da cardiologia, por exemplo. No caso da pneumonia, a percentagem ficou pelos 38,6%. Apesar de os

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os cuidados de saúde existem para resolver problemas, mas nem sempre isso acontece. Por vezes, quem recebe cuidados médicos fica exposto a infecções que pioram o seu estado de saúde. trata-se de efeitos adversos que podem ter origem em erros profissionais, mas também em erros do sistema de saúde. A revista HdF foi ao encontro das medidas implementadas para garantir a segurança dos doentes. resultados não serem considerados muito positivos, a Joint Commission Board salienta no relatório apresentado que a introdução das National Guidelines for Patient Safety Goals trouxeram algumas mudanças.

A OMS também tem normas para garantir a segurança dos pacientes e lança campanhas como a Clean Care is Safer Care (Cuidados Limpos são Cuidados Seguros) ou o Global Patient Safety Challenge (Desafio Global de Segurança do Doente), um programa de segurança do doente que aplica as guidelines da OMS de higiene das mãos com acções em curso de segurança do sangue, injecções, imunização, procedimentos clínicos, entre outros aspectos. São campanhas que se pretendem “low-cost” (baixo custo), por aplicarem acções simples, mas que a OMS defende que já se provou serem muito eficazes na redução das infecções. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, há mais de 1,4 milhões de pessoas em todo o mundo que contraem infecções hospitalares, inclusive em hospitais mais modernos (5% a 10%). O objectivo das medidas e das campanhas passa por evitar os erros provocados


destaque

Hospital do Futuro | JuN. 2009 | N.09

EUA melhoram a segurança dos doentes cardíacos e respiratórios

A PRÁTICA Acções internacionais em que Portugal participa

Fonte: Joint Commission Board, 2007

Dados sobre a segurança dos doentes norte-americanos relacionados com problemas cardíacos e com a pneumonia.

na prestação de cuidados de saúde e evitar todas as consequências que daí advêem, como a falta de qualidade de vida do utente, a sua possível morte, o absentismo laboral, a baixa produtividade e o desincentivo dos profissionais de saúde. A World Alliance for Patient Safety da OMS recomenda ainda as seguintes áreas de intervenção: cultura e formação sobre segurança do doente dirigidas tanto a profissionais como a doentes e familiares, desenvolvimento de sistemas de informação para reportar eventos adversos (tal como acontece nos EUA), aplicação de práticas seguras nas unidades de saúde e a participação dos doentes e utentes dos serviços de saúde. A segurANçA do doeNte em PortugAl Em Portugal não há uma estratégia nacional, como nos EUA, que estipule linhas de orientação para a segurança do doente ou uma base de dados onde se reportem todos os eventos adversos provenientes dos cuidados de saúde. Já estão a ser tomadas algumas medidas estipuladas pela OMS, como a campanha de higiene das mãos e já se estão a preparar acções mais concertadas a nível nacional, mas por enquanto não está em curso uma estratégia global. Também não há dados concretos que permitam perceber os eventos adversos

provocados por cuidados de saúde. Especialistas do sector da Saúde alertam para a necessidade de haver uma estratégia nacional, como Paula Lobato Faria, professora de Direito da Saúde da Escola Nacional de Saúde Pública e especialista na área da segurança do doente. A docente alerta também para a necessidade de haver uma lei-quadro que se cinja à segurança do doente no que diz respeito aos efeitos adversos provenientes de cuidados prestados. Tanto Paula Lobato Faria como José Fragata, docente no ISCTE e também especialista em segurança do doente, alertam para a necessidade de o Ministério da Saúde estipular que as uni- +

IPSE (Improving Patient Safety in Europe) Início: 1 de Janeiro Projecto: Uniformizar práticas e resultados em termos de infecções associadas aos cuidados de saúde e resistências aos antimicrobianos nos países europeus. EuNetPass Início: Maio de 2007 Projecto: Desenvolver uma rede europeia de colaboração em segurança do doente e projectos em cinco áreas coordenadas em rede (cultura em segurança clínica, educação e formação, sistemas de notificação e aprendizagem, estudos-piloto na área dos erros medicamentosos e na formação e promoção e disseminação). Clean Care is Safer Care – OMS Início: Portugal aderiu em Outubro de 2008 Projecto: Em Portugal foi estabelecido um protocolo entre o Serviço de Utilização Comum dos Hospitais e a DGS. A campanha para evitar infecções conta com a participação de 84 hospitais do Serviço Nacional de Saúde e 33 privados. Também aderiram seis unidades da Rede de Cuidados Continuados e Integrados. e-Bug Projecto: Incentivar a higiene das mãos para atenuar a cadeia de infecção e diminuir o uso de antibióticos. O local de intervenção vai ser a escola e os alunos dos 2º e 3º ciclos vão ter acesso a um conjunto de recursos pedagógicos.

Imagem de Campanha da Direcção Geral da Saúde

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destaque

N.09 | JuN. 2009 | Hospital do Futuro

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Programas Nacionais

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Diversos estudos internacionais são unânimes em demonstrar que aproximadamente 10% dos doentes que recorrem ao hospital sofrem algum efeito adverso como consequência dos cuidados prestados, principalmente no que diz respeito ao uso dos medicamentos, a infecções e a complicações peri-operatórias. A OMS tem desenvolvido campanhas nestas áreas, como é o caso da “Clean Care is Safer Care” (em baixo).

dades de saúde só devem receber a certificação se cumprirem com as normas de segurança do doente relacionadas com os efeitos adversos dos cuidados prestados. Em declarações à HdF, Cristina Costa, da Divisão de Segurança do Doente do Departamento de Qualidade da Direcção-Geral de Saúde (DGS) refere que já se está a trabalhar nesta questão e dentro em breve essa exigência fará parte dos processos de certificação. Irá também ser criada uma circular normativa para promover a organização de actividades no âmbito da segurança do doente nas unidades de saúde, que incluirá a definição de uma taxonomia de segurança do doente e a definição de indicadores, bem como a promoção e formação dos profissionais e enquadramento jurídico. Paula Lobato Faria também defende que deve haver uma base de dados onde se

repor tem os erros, mas para isso admite que é necessário mudar a cultura dos profissionais de saúde. No seu entender, tem de se encarar esta questão da segurança dos doentes como algo benéfico e não como um indicador dos erros que cada profissional faz. Considera ainda que este trabalho da base de dados não deve ser feito pelos profissionais de saúde habituais, que já têm várias tarefas, para além da de cuidar dos doentes. Questionados sobre a necessidade de se criar uma entidade que trate destas questões, Paula Lobato Faria e José Fragata consideram que já existem as entidades necessárias e que o importante é passar à acção com as entidades que já existem Paulo Moreira, do European Centre for Disease Prevention and Control (ECDC), alerta também para a necessidade de haver uma estratégia nacional nos vários países que garanta a segurança dos doentes face a efeitos ad-

Programa Nacional de Controlo da Infecção Associada aos Cuidados de Saúde (PNCI) Início: Aprovado em 15 de Novembro de 2005 Projecto: Programa de continuidade para controlo das infecções que abrange também as unidades onde se prestem Cuidados de Saúde Primários, as Unidades de Cuidados Continuados e Integrados e todas as outras unidades onde se prestem cuidados de saúde. Programa Nacional de Prevenção e Controlo das Resistências aos Antimicrobianos Início: 2008 Projecto: Evitar o uso desnecessário de antimicrobianos. Segundo dados do European Centre for Diseases Prevention and Control (ECDC) de 2006, Portugal é o sétimo país entre os 27 a registar o maior consumo de antibióticos em ambulatório, existindo uma relação directa entre o consumo e a resistência aos antibióticos. versos provocados pelos cuidados de saúde. No seu entender, as medidas propostas pela OMS são positivas e devem ser adoptadas nos vários países e inseridas numa estratégia nacional que garanta a sua implementação. Quanto à criação de uma entidade, o responsável considera que se trata de uma decisão política. “Os modelos de intervenção nesta matéria, na Europa, são diversos e Portugal terá que decidir o seu caminho na especificidade do seu sistema e dos seus recursos”, afirma. O problema é delicado e levanta muitas questões, mas já estão a ser dados passos que não podem voltar atrás. Afinal, estamos a falar da segurança dos utentes, uma segurança que pode significar a vida ou a morte. MJG


hospital do futuro

Carlos Jorge Monteiro

Hospital do Futuro | JuN. 2009 | N.09

Hospitais de Coimbra caminham para o futuro Nesta edição da revista fomos visitar os Hospitais de Coimbra. Fernando regateiro, Presidente do Conselho de Administração, salienta que o importante para se ser um hospital do futuro é saber-se conjugar todas as vertentes de uma unidade hospitalar: a tecnologia é importante, mas o profissionalismo, a motivação e o humanismo dos profissionais também fazem a diferença.

P

ara se ter um hospital do futuro não precisamos apenas de equipamentos de alta tecnologia. É preciso também ter bons profissionais, motivados e que saibam escutar os doentes. Quem o defende é o presidente do Conselho de Administração (CA) dos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC). Um hospital do futuro tem de ser visto de uma forma holística, no seu entender, sem destaque para nenhuma área, já que todos os serviços devem caminhar no mesmo sentido: mais e melhores cuidados para os utentes. Isto implica muita formação e investigação ou não estivéssemos a falar de um hospi-

tal universitário, onde a assistência, o ensino e a investigação são pilares centrais.”Os HUC são claramente um hospital do futuro”, disse Fernando Regateiro à HdF. “Há uma preocupação com a inovação e o desenvolvimento, mas também com a componente humana que nem sempre se vê. Na saúde costumamos centrar-nos nas novas tecnologias para definirmos um hospital do futuro, mas isso nao é suficiente. É importante, mas se não houver profissionais de qualidade e motivados, as tecnologias não contribuem de todo para a satisfação do utente”, refere o Presidente do CA. Fernando Regateiro vai ainda mais longe e

defende que não basta apostar em Investigação e Desenvolvimento (I&D), é preciso passar à prática. Nesse sentido, os HUC têm apostado no ensino e na investigação e têm previsto, no plano estratégico do hospital, mais investimento nestas áreas. Alguns investimentos já se vêem, como é o caso do Instituto de Ciências Biomédicas, o centro de treino biomédico que evita que os profissionais estagiários treinem procedimentos em pacientes, e todas as unidades de investigação. Os trabalhos publicados e apresentados em conferências a nível nacional e internacional, também são um sinal de vanguarda, defende. No âmbito deste investimento vai ainda ser construído um bloco de oncologia, de acordo com o director clínico dos hospitais, Francisco Parente. Já existe um Hospital do Dia, mas é necessário criar este bloco porque está a aumentar o número de doentes com cancro que se dirigem ao hospital. Outra novidade é a criação de um gestor do doente. O objectivo é criar a possibili- +

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Fernando Regateiro, Presidente do Conselho de Administração, explicou que “há uma preocupação com a inovação e o desenvolvimento, mas também com a componente humana que nem sempre se vê.”

dade de o doente ter um acompanhamento mais personalizado que faça a ligação entre os diferentes serviços. “O centro é o doente. A mudança tem de ter em conta as necessidades dos doentes”, afirma Fernando Regateiro. Mas não se trata de olhar apenas para as necessidades actuais, no seu entender. Também é preciso investigar e trabalhar olhando para o futuro, tendo em conta as necessidades futuras. Exemplo disso foi a campanha de Mãos Limpas, criada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e implementada há alguns meses pelo Ministério da Saúde português: antes da ordem do Ministério da Saúde, os HUC já tinham implementado esta campanha. O mesmo aconteceu com as medidas de poupança energética.

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o Futuro NA CArdIologIA e NA medICINA NuCleAr No Serviço de Cardiologia, os HUC apostaram nas novas tecnologias como forma de dinamizar o trabalho dos profissionais de saúde e de tornar mais célere e rigoroso o diagnóstico das doenças. Nesse caso, destaca-se o uso dos sistemas de informação e das novas tecnologias nas várias unidades, como a unidade de insuficiência cardíaca, onde se realizam implantes de pacemakers e desfribilhadores em casos de arritmia. A unidade de doentes coronários, a única no país, está informatizada e a unidade de hemodinâmica tem um sistema informatizado de gestão de stocks. Neste momento também já se

Carlos Jorge Monteiro

Carlos Jorge Monteiro

hospital do futuro

O Serviço de Medicina Nuclear é o único que está aberto 24 horas por dia.

está a partilhar, em tempo real, imagens e relatórios com o Hospital de Aveiro, de acordo com o director do serviço, Luís Providência. A unidade de cuidados intensivos está em rede, o que permite seguir, desde 2004, todos os doentes que estão ou já estiveram na unidade, segundo o responsável. Mas a I&D não está apenas nas novas tecnologias, mas também no ensino e na investigação, explica Luís Providência. O mesmo acontece na unidade de Medicina Nuclear, de acordo com o seu responsável, João Pedroso Lima. Os HUC têm tido um grande desenvolvimento na área da Medicina Nuclear e é o único serviço no país onde se realizam exames PET/CT, que permitem detectar mais facilmente doenças, nomeadamente as causas da dor torácica (e a gravidade da situação), a existência de uma tromboembolia pulmonar (responsável por muitas mortes e que em poucas horas pode provocar a morte) e a existência de neoplasias nos casos de cancro. Além da vertente de diagnóstico, o serviço também tem uma vertente terapêutica, já que em alguns casos os doentes têm de receber elavadas doses de radiação para se detectar determinados problemas (a maioria dos casos estão relacionados com problemas da tiróide) e necessitam de ficar isolados em quartos durante algumas horas. Nesta unidade há quartos onde os doentes ficam a recuperar do exame. A unidade aposta também numa tecnolo-

gia que veio da Suécia, mas que já sofreu algumas adaptações com software português, e que permite realizar exames com doses menos elevadas de radiação, sem pôr em causa a qualidade do diagnóstico. As inflamações reumatismais também são curadas nesta unidade, que está aberta 24 horas por dia. “O horário é muito importante. Os enfartes do miocárdio (que nem sempre se detectam facilmente) ou as tromboembolias pulmonares acontecem a qualquer hora. Com o serviço disponível 24 horas por dia, podemos realizar logo os exames que são necessários”, afirma Pedroso Lima. A investigação e o ensino são igualmente uma componente importante do serviço. E Pedroso Lima vai mais longe: sempre que há um novo equipamento experimenta-o em si, antes de o colocar ao serviço dos doentes. Os HUC procuram então ser um hospital do futuro com uma resposta integrada que passa por disponibilizar tecnologias, mas também inovar na gestão, na administração e, sobretudo, na componente humana, como faz questão de salientar várias vezes Fernando Regateiro. “É preciso haver assistência, ensino e investigação. É importante ter um equipamento de alta tecnologia, mas também é preciso haver um médico com um estetoscópio que saiba escutar os doentes e lhes transmita segurança. Todos os profissionais são essenciais nesta componente humana. Nunca nos devemos esquecer de que o utente está no centro”, refere. MJG


Novas Tendências na Gestão da Doença Crónica

S

atisfazer as complexas necessidades de pessoas com incapacidades e doenças crónicas é o único maior desafio que enfrenta a prática médica organizada dos nossos dias. Os cuidados correntes não estão a ser capazes de realizar convenientemente esse trabalho. Vários inquéritos e auditorias têm revelado proporções bastante grandes de doentes crónicos que não estão a receber tratamentos efectivos, que têm um controlo precário da doença e que se sentem frustrados com os cuidados recebidos (1). Uma das respostas estruturadas para ajudar a resolver este problema e que tem vindo a expandir-se, universalmente, é a Gestão da Doença (GD). Este conceito, tradução de “disease management”, é definido pela Disease Management Association of America como “um sistema coordenado de intervenções e de comunicações de cuidados de saúde para populações com condições nas quais os esforços de auto-gestão são significativos” (2). A maior parte destas condições são as doenças crónicas (DC), enquanto entidades nosológicas bem definidas, como a diabetes, a hipertensão, a insuficiência cardíaca crónica, a asma e a doença pulmonar obstrutiva crónica, bem como quadros sintomáticos prolongados, como as lombalgias. A GD envolve um rico mix

João Guerra, Medicina Interna, Hospital Reynaldo dos Santos

de intervenções para melhorar os resultados dos doentes portadores de doenças crónicas nas quais os auto-cuidados são o factor crítico de sucesso do tratamento. Isto significa que as intervenções de GD têm o máximo potencial para produzir resultados positivos nas populações com doença crónica que requeiram tratamento sustentado, monitorização contínua e feedback sistemático do doente. Estas intervenções incluem um amplo es-

David Oitavem

gestão & economia

Hospital do Futuro | JuN. 2009 | N.09

pectro de actividades, como identificação exacta da doença alvo, educação do doente e do prestador, acções de modificação comportamental, monitorização da persistência e adesão à medicação e avaliação sistemática de resultados clínicos e da evolução dos custos (3). Desde o seu aparecimento, em 1993, tornou-se, rapidamente, uma importante estratégia para gerir a doença crónica em grandes + populações (4).

O modelo contemporâneo de GD não só incorpora tratamentos adequados e a adopção de guidelines baseadas na evidência, mas, também, simultaneamente, desenvolve uma infraestutura para os administrar com eficiência e efectividade, coordenando os recursos médicos para os doentes através da totalidade dos sectores que compõem o sistema de saúde, mantendo o doente real no centro dos cuidados prestados.

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Porque é que a GD, quer nos EUA, quer na Europa, continua a asssumir esta importância na prestação de cuidados e qual é a lógica subjacente ao conceito? Tendo em conta que o modelo americano não é, directamente, exportável para sistemas de saúde com culturas e práticas médicas organizacionais e esquemas de financiamento distintos, na Europa o Modelo de GD tem-se vindo a adaptar a essas diferentes características conceptuais e ope-

Foco tradicional

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própria doença; e, do lado do prestador/organizações promove a melhoria da eficiência e da custo-efectividade da prestação de cuidados para o doente crónico (5). Também contribui para consolidar aquela importância a evolução permanente a que os PGD têm estado associados, distanciando-se cada vez mais do modelo tradicional de cuidados, cujas diferenças podem ser observadas no quadro 1.

Gestão da Doença

• Tratamento da doença em indivíduos doentes

• Prevenção da doença

• Abordagem reactiva à doença

• Abordagem proactiva à gestão da doença assente em guidelines baseadas na evidência

• Foco no preço – contratualização pelos • Foco nos resultados/custos – serviços prestados contratualização pelos resultados obtidos

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• Cuidados fragmentados através de serviços descoordenados

• Cuidados coordenados com infraestrutura para apoiar os prestadores de cuidados

• Especialistas para tratar a doença avançada

• Médicos dos CSP em parceria com especialistas para tratar proactivamente os problemas de saúde

• Prestadores individuais, individualmente responsáveis pelo doente

• Sistema de gestão integrada de cuidados, multiprofissional, através de uma infraestrutura coordenada

racionais, sem se afastar dos fundamentos e princípios orientadores, quase axiomáticos da GD. Os que fazem a apologia da GD sugerem que os Programas de Gestão da Doença (PGD), instrumentos de operacionalização do conceito, empenham-se ao máximo em preencher os hiatos existentes nos sistemas de cuidados de saúde correntes (ainda formatados para responder aos cuidados agudos), fornecendo aos portadores de DC suporte para os auto-cuidados, previamente indisponíveis, para eles, na forma sistemática e estruturada. Estas competências incluem, na perspectiva do doente, a maximização da funcionalidade, a prevenção das exacerbações agudas, a competência e autoconfiança para resolver problemas do quotidiano, decorrentes da doença, a melhoria da qualidade de vida, em suma, redefinem o papel do doente, tornando-o mais activamente co-responsável no controlo da sua

Quadro I

Verifica-se, pois, pelas diferenças do quadro 1, que o modelo contemporâneo de GD não só incorpora tratamentos adequados e a adopção de guidelines baseadas na evidência, mas, também, simultaneamente, desenvolve uma infraestutura para os administrar com eficiência e efectividade, coordenando os recursos médicos para os doentes através da totalidade dos sectores que compõem o sistema de saúde, mantendo o doente real no centro dos cuidados prestados. Uma distinção fundamental entre a GD e outras abordagens aos cuidados médicos (sobretudo, a dos cuidados geridos) consiste na deslocação do foco de atenção do prestador para o doente, que passa a ser reconhecido como o principal focus de controlo da doença (6). Outra distinção fundamental é a deslocação do foco de tratamento do doente com incidência primária em episódios discretos de cuidados, para a provisão de cuidados de saúde

de alta qualidade através do continuum (7). Várias tendências na gestão da doença estão actualmente em curso, reflectindo uma actualização de intervenções que visam colmatar falhas eventualmente detectadas na operacionalização dos PGD, tendo por base um processo de melhoria contínua, com vista à obtenção de elevados padrões de qualidade e desempenho. Tais tendências são: 1) A evolução dos programas de uma única doença para programas de gestão multi-doenças: Esta evolução reflecte uma tendência lógica natural dos PGD, na medida em que grande parte dos doentes crónicos tem mais do que uma doença, como complicação da doença primária (comorbilidade) ou não (pluripatologia), fazendo todo o sentido enveredar por uma abordagem holística, particularmente para aqueles que são os doentes mais complexos e graves. 2) O interesse em expandir a Gestão da Doença para áreas relacionadas: A aplicação dos princípios da GD à incapacidade e à gestão de risco numa perspectiva de longo prazo tem vindo a despertar o interesse de indústrias não familiarizadas com estes princípios a questionarem se as podem aplicar nas suas áreas. Com efeito, o potencial de efectividade das intervenções proposta pela GD é um factor bastante atractivo para essas organizações. 3) A emergência da informática médica como uma competência nuclear: A informática como competência nuclear é uma importante tendência na GD. A criação de bases de dados e de departamentos de informática nos hospitais na última década contribuiu fortemente para acelerar esta tendência. Os sistemas inteligentes (data mining) são, actualmente, capazes de identificar doentes em risco através da aplicação de modelos preditores nos PGD. As próximas gerações destes programas procurarão, especificamente, aqueles doentes nas diferentes categorias de risco que revelam potencial para modificar o seu comportamento para condutas mais custo-efectivas, gerando menos custos, a longo prazo. 4) Melhoria dos métodos de avaliação


A informática como competência nuclear é uma importante tendência na Gestão da Doença.

Adoptar abordagens sistémicas para a melhoria da qualidade e redução das variações nos cuidados, que incluam a integração do conceito de cuidados do “Medical Home”, é um dos desafios da Gestão da Doença. económica da Gestão da Doença: Tem-se registado nestes anos mais recentes uma evolução nos métodos para avaliar o impacto económico e financeiro dos PGD, de forma a ser possível determinar com maior exactidão a real efectividade destes programas. Este é um tema em permanente discussão entre os líderes da GD. 5) Contratualização baseada nas actividades prestadas: A contratualização dentro dos PGD tem também evoluído para a focalização nas operações contínuas da gestão médica do dia-a-dia destes programas. O crescente interesse pela métrica

baseada nas actividades resulta da premissa de que se os doentes não forem contactados, ou activamente geridos pelo programa (ou seja, estes doentes não podem andar esquecidos pelos sistemas de saúde), não serão possíveis grandes poupanças. Dada a grande variedade de tipos de serviços seleccionados a prestar para cada doença crónica, a definição do que constitui um “contacto” ou “uma gestão activa” e de qual o pacote de serviços mais efectivos para o doente permanece uma fonte de complexo e contínuo debate.

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6) Tendência de evolução para um quadro de coordenação de cuidados mais completamente integrado: Engloba a Gestão da Doença, a gestão de caso, a revisão de utilização e os programas comportamentais e de bem-estar. Esta abordagem integrada oferece um cenário win-win para doentes, prestadores e entidades pagadoras, característica que aumenta o valor dos PGD (8). Neste domínio, a integração dos dados dos registos médicos electrónicos com as actividades de GD através do fluxo multidireccional da informação do doente, entre os vários prestadores e a infraestrutura de GD que os suporta, é encarada como um desafio e um objectivo desejável. Dada a constante evolução da indústria de GD, particularmente na última década, subsistem questões para o seu futuro desenvolvimento no sentido de consolidar o seu valor e credibilidade como intervenção que contribui para melhorar a qualidade dos cuidados e ajudar a controlar os custos relacionados com os cuidados prestados aos doentes crónicos. Tais questões inscrevem-se nos domínios do pla- +

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A Gestão da Doença envolve um mix de intervenções para melhorar os resultados dos doentes portadores de doenças crónicas nas quais os auto-cuidados são o factor crítico de sucesso do tratamento.

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neamento, construção, implementação e operacionalização de soluções inovadoras que respondam essencialmente aos seguintes desafios e oportunidades de melhoria: 1. Desenvolvimento de Organizações de Gestão da Doença como o nexo lógico para os cuidados integrados efectivos. 2. Obtenção de consensos sobre o melhor método de avaliação de resultados dos Programas de Gestão da Doença. 3. Descobrir mais vias de integração efectiva dos médicos com outros prestadores de cuidados de saúde. 4. Estabelecer sistemas de informação que assegurem a conectividade do fluxo de dados dos doentes entre todos os intervenientes (e sectores) no processo (e locais) de cuidados. 5. Consolidar a transição de um modelo de doença para uma abordagem no continuum dos cuidados, na qual as iniciativas de manutenção da saúde e do bem-estar sejam a componente principal da estratégia de saúde populacional, tendo como alvo os compor tamentos de risco, que, se bem sucedidas, podem inflectir a curva ascendente de custos inerentes às doenças crónicas, através da prevenção da doença e das suas

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complicações. Este quadro conceptual define o estádio de evolução da GD para o conceito de Gestão de Saúde Populacional. 6. Adoptar abordagens sistémicas para a melhoria da qualidade e redução das variações nos cuidados, que incluam a integração do conceito de cuidados do “Medical Home”. Em conclusão, o paradigma da Gestão da Doença já deu provas, em várias latitudes, de que funciona para melhorar a qualidade dos cuidados. Contudo, devem prosseguir os esforços para que a GD seja capaz de reduzir os custos, dimensão em que a evidência disponível não é, ainda, absolutamente convergente. Mas, enquanto a medição e a comunicação do seu valor continua a ser uma preocupação prioritária dos seus líderes, o que é certo é que, em termos internacionais, a GD alcançou a aceitação dos mercados da saúde. E, à medida que as técnicas de GD atingem a maturidade, há um reconhecimento crescente de que a GD tem um impacte importante em vários domínios: resultados de saúde, qualidade de vida, satisfação do doente, produtividade, coordenação dos cuidados e segurança

do doente, particularmente, no ambulatório (9). Revela-se, por estas razões, a intervenção mais promissora para optimizar a coordenação dos cuidados, nos sistemas de saúde, públicos ou privados onde a fragmentação dos cuidados é a principal barreira para de alcançar a qualidade, em matéria de cuidados crónicos.

Referências: 1. Wagner EH. Managed care and chronic illness: health services research needs. Health Serv Res. 1997;32:702-14. 2. DMAA. http://www.dmaa.org/dm_definition.asp. Acedido em 13 de Abril 2009. 3. Hay J et al. Introduction. Managing Disease: A Comprehensive Guide. 2007; DMAA. Washington DC. 4. DMAA. Disease Management Program Evaluation. 2004; Washington DC. 5. Epstein RS et al., From Outcomes Research to Disease Management: A Guide for the Perplexed. Ann Int Med. 1996; 124:832-837. 6. Ellrodt G. Et al., Evidence-based disease management. JAMA. 1997; (278) 20:1687-92). 7. Villagra VG. Integrating disease management into the outpatient delivery system during and after managed care. Health affairs Suppl. 2004; W4-281-3. 8. Odell J. Three Trends Shape Disease Management in 2005. Aug 1, 2005; Managed Care Executive. 9. Greenberg L. Future Directions in Disease Management. Managing Disease: A Comprehensive Guide. 2007; DMAA. Washington DC.


entrevista

David Oitavevm

Hospital do Futuro | JuN. 2009 | N.09

enfermeiros

“Os foram e continuam a ser um pilar na gestão” o papel do enfermeiro gestor é, muitas vezes, oculto e subvalorizado, no entender da Bastonária da ordem dos enfermeiros, maria Augusta de sousa. em entrevista à revista HdF falou ainda da necessidade de planificar melhor a distribuição dos enfermeiros e da ideia de se colocar farmacêuticos a administrar vacinas. Que balanço faz da saúde portuguesa? Globalmente temos indicadores muito positivos, apesar dos problemas que ainda têm de ser resolvidos. Há áreas críticas e que estão mais relacionadas com questões organizacionais e de distribuição dos recursos humanos para prestarem cuidados de saúde. Há problemas que duram há muito tempo, como as listas de espera para as cirurgias, que se devem à má alocação de recursos e à sua organização. De qualquer forma, temos bons indicadores, melhorámos a despesa, a acessibilidade e uma inversão total da situação das

despesas que passaram de privadas para públicas. Em relação à distribuição dos profissionais, há grandes assimetrias, nomeadamente no que diz respeito a médicos e enfermeiros. Esta má distribuição de recursos humanos verifica-se, sobretudo, nos cuidados de proximidade, já que há mais médicos do que enfermeiros em muitas zonas. Por que existem estas assimetrias? Devido a políticas de distribuição e de formação que não foram devidamente acauteladas. No início da década de 90

foram tomadas decisões que, a longo prazo, levaram a esta assimetria e às implicações inerentes que afectam inevitavelmente a população, como nos cuidados de saúde primários, que são mais de proximidade. Não nos podemos esquecer que a população vive mais e há mais doenças crónicas. A lógica de que os cuidados se prestam sobretudo nos hospitais está a mudar. E é preciso haver uma melhor alocação, nomeadamente de enfermeiros, que têm um papel fulcral nos cuidados de proximidade. Considera que o papel do enfermeiro é subvalorizado? Do ponto de vista do discurso, o papel do enfermeiro é valorizado. O problema é passar para o terreno o que se defende na teoria. Os cuidados de saúde têm uma componente multidisciplinar, mas há um +

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entrevista

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semelhante a outros profissionais. Aliás, o problema não é a lei, mas a cultura que se vive numa unidade de saúde. Em relação ao ACE é necessário perceber que vamos ter estruturas que passam a médias/grandes empresas, onde os enfermeiros gestores podem ter um papel fulcral. Até agora temos apoiado e potenciado bastante o envolvimento dos enfermeiros na reorganização dos cuidados primários, mas se não derem o devido valor ao papel do enfermeiro, vamos ter de deixar de participar…

Como vê o papel do enfermeiro gestor? Os enfermeiros foram e continuam a ser sempre um dos pilares fundamentais no que diz respeito à gestão dos serviços e cuidados, assim como à sua continuidade. O enfermeiro já tem um papel fundamental na gestão. É inerente à sua profissão, apesar de este papel ser muito oculto e quase não se valorizar. Aliás, neste momento, estamos a assistir a uma ocultação deste papel. Independentemente de como se organizam as questões, a natureza dos cuidados de enfermagem está ligada à continuidade e à segurança. O papel do enfermeiro é muitas vezes micro, mas tem influência em termos macro. Há quase um desrespeito total por esta função do enfermeiro e há uma incapacidade política de se pensar que nem tudo depende do diagnóstico médico. É necessário ver quem pode dar um contributo acrescido na área da gestão. Este ocultamento pode levar à desresponsabilização, já que as pessoas não se sentem envolvidas.

Fala-se muito de contenção. Quais são os principais problemas que um enfermeiro enfrenta na gestão da despesa em saúde? È fácil dizer que é necessário fazer contenção. Mas onde? É necessário eliminar desperdícios que são mesmo… desperdícios. Mas é necessário fazer esta gestão com cautela, porque estamos a trabalhar com pessoas. O enfermeiro tem uma cultura profissional que permite lidar com estas situações, mas por outro também não deixamos de fazer muitas coisas, porque estamos a falar de pessoas que precisam da nossa ajuda. Uma questão muito delicada é a definição de prioridades. Há pouco tempo estive num centro de saúde em que se teve de decidir entre ajudar mães de um bairro bastante problemático ou idosos acamados. Estamos a falar de pessoas - não se pode escolher. Mas, se faltam profissionais, temos de tomar uma decisão e escolher entre duas situações que são importantes e que precisam mesmo de cuidados. A decisão destas prioridades é de uma complexidade ética terrível.

o que se pode fazer para evitar essa situação? É preciso reforçar critérios cada vez mais assentes na qualidade dos cuidados e onde os enfermeiros gestores podem ter um papel fulcral. É possível evoluir e basta olhar para a reforma dos cuidados de saúde primários, nomeadamente no investimento em cuidados de proximidade. Além disso, há também os regulamentos hospitalares, que exigem que os enfermeiros tenham um papel na área da gestão

o que pensa dos cuidados de enfermagem que são prestados por outros profissionais? A urgência pré-hospitalar exige que os cuidados sejam suportados por quem tem a capacidade para os fazer. Neste momento há uma ideia peregrina de que estes cuidados, que envolvem muitas vezes segundos de vida ou morte, sejam administrados por pessoas que não têm a competência necessária. Precisamos garantir a segurança dos utentes! Outra si-

“Se faltam profissionais, temos de tomar uma decisão e escolher entre duas situações que são importantes e que precisam mesmo de cuidados. A decisão destas prioridades é de uma complexidade ética terrível.”

tuação é a administração de vacinas em farmácias por farmacêuticos. Não temos nada contra estes profissionais, mas não têm a formação que tem o enfermeiro. Os cidadãos têm todo o direito de terem cuidados prestados por quem tem formação e que possa prestar cuidados com qualidade e segurança. E a nossa sociedade tem condições para isso. Quais são os maiores desafios que os enfermeiros têm de enfrentar nos próximos tempos? O sector da enfermagem deve ter um papel interventivo e de motor na Saúde, nomeadamente com o aumento da complexidade das organizações de saúde. É necessário também garantir um papel activo nas ligações multifuncionais que exigem as unidades de saúde, assim como um papel activo na gestão dos cuidados. MJG

Veja a entrevista em

David Oitavem

grosso [de tarefas] que tem de passar, obrigatoriamente, pelos cuidados de enfermagem, devido à natureza dos problemas. Exemplo disso são os cuidados domiciliários. Temos ainda uma cultura muito enraizada de que os cuidados de saúde dependem daquilo que é o diagnóstico médico. Aliás, um estudo de Fevereiro deste ano da Entidade Reguladora da Saúde demonstra esta realidade. Esta situação inverte e perverte o que já está estipulado, inclusive pela Organização Mundial de Saúde, de que os cuidados de proximidade são essenciais. E, claro, o papel do enfermeiro é essencial neste tipo de cuidados.

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as novas tecnologias na saúde

Hospital do Futuro | JuN. 2009 | N.09

eHealth … Perspectivas europeias em 2009…

P

ara os Cidadãos e Profissionais de Saúde, o eHealth promete trazer mais eficácia e qualidade à prestação dos serviços de saúde, através de novas ferramentas e possibilidades. Como? • Vai permitir uma maior capacidade no acompanhamento e monitorização de pacientes com doenças crónicas (exemplos:Telemedicina,Telecuidados e Telemonitorização) • Vai permitir a prestação de cuidados de saúde, no interior da Europa, independentemente da localização geográfica do cidadão, viabilizando a continuidade dos tratamentos sem interrupção (exemplos: Processo Clínico Electrónico, Telemedicina: Teleconsulta, Telediagnóstico)

Para a Sociedade em geral, o eHealth vai contribuir para acelerar inovações nas áreas da saúde e das tecnologias. Como? 1- Vai dinamizar a montagem de infra-estruturas, soluções e dispositivos que permitam uma maior interoperabilidade de saberes e acções (exemplos: eAgenda, ePrescrição, e-Referenciação,…). 2- Vai dinamizar a aquisição de conhecimento e a sua aplicação em soluções com

José Paulo

o tema da Conferência anual sobre eHealth, ao nível dos estados membros da Comunidade europeia, que decorreu este ano em 20 de Fevereiro de 2009, em Praga (www.ehealth2009.cz), foi «eHealth para os Indivíduos, para a sociedade e para a economia». Maria Helena Monteiro, docente e investigadora do Centro

de Investigação em Administração e Políticas Públicas do Instituto Superior mais inteligência e de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP-UTL) e membro da Associação exigências, no uso para a Promoção e Desenvolvimento da Sociedade de Informação (APDSI), onde coordena o Grupo Permanente de Saúde de transacções e interacções electrónicas (e-literacy). 3- Vai empurrar a investigação científica e - Vão surgir novos modelos de gestão e lio desenvolvimento dos mercados da derança, em contextos de maior transpaSaúde e das Tecnologias, viabilizando inorência e responsabilização (risk vações tecnológicas e de saberes com pomanagement). tencial de desenvolvimento social elevado. Cada uma destas perspectivas envolve caminhos conhecidos e outros ainda não Para a Economia em geral, o eHealth vai conhecidos. Mesmo os caminhos já cocontribuir para a transformação do Sector nhecidos e por vezes já experimentados da Saúde nos modelos de funcionamento vão ter uma dimensão e complexidade das diversas instituições do ecossistema radicalmente diferentes. da saúde. Como? Convido-os para já a familiarizarem-se - As cadeias de valor das diversas instituicom as iniciativas do nosso Plano Tecções da saúde, ao incorporarem as novas nológico para a Saúde (http://www.porsoluções e exigências, vão necessariatugal.gov.pt) e vamos continuar a trazer mente modificar os processos de financiaestes múltiplos temas para este fórum mento e funcionamento tal como são de interacção. conhecidos hoje (exemplos: eTransformation, eInnovation, …). - Vão surgir economias e poupanças face eHealth para os Indivíduos, para aos modelos actuais. As pressões para a Sociedade e para a Economia uma maior eficiência (menores custos) e qualidade (evitar erros e recuperar erros) Mais informações: vão surgir mais naturalmente. http://www.goodehealth.org/news/news.php

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as novas tecnologias na saúde

O Plano Tecnológico da Saúde Portugal vai continuar a apostar na área da e-Saúde e, além de várias iniciativas já implementadas ou a iniciarem-se, foi aprovado o Plano Tecnológico da Saúde (PTS), em Novembro de 2008, em Conselho de Ministros. Não se trata apenas da informatização do sector, que começou há algum tempo e com vários projectos da iniciativa de alguns profissionais ligados à Saúde, mas também da implementação de um Sistema de Informação Integrado da Saúde (SIIS), de acordo com o PTS. O objectivo é ter um sistema “centrado no cidadão, orientado para o processo, independente do local e do momento e que suporte multi-formatos e multi-fornecedores”, é referido no texto do plano. Conheça as iniciativas previstas. MJG

Projecto: Registo nacional de Identificação e Acesso Objectivo: Criação de base de dados com os registos administrativos dos doentes e respectivo acesso através de um sistema de identificação de natureza única. Fase: A ser implementado. Projecto: Portal da Transparência Objectivo: Portal de informação sobre os níveis de qualidade e suporte ao acesso electrónico seguro. Fase: Já implementado (http://portaldatransparencia.min-saude.pt/).

QuAlIFICAr A PrestAção de CuIdAdos Projecto: Registo Clínico Electrónico Objectivo: Criação de um sistema nacional de registo de informação clínica do SNS. Fase: A ser implementado.

sImPlIFICAção dos ProCessos Projecto: E-Agenda Objectivo: Simplificar o processo de marcação de consultas, facilitando o acesso e a integração da gestão do acesso. Fase: Está a ser implementado de forma faseada nas várias regiões. Já está disponível em Lisboa e Vale do Tejo e no Centro.

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Projecto: Prescrição de Medicamentos para Portadores de Patologias Crónicas Objectivo: Plataforma electrónica de pedidos de prescrição de medicamentos para doenças crónicas. Fase: A implementar.

Projecto: Call Center da Saúde – Linha Saúde 24 Objectivo: Diversificação de canais de contacto. Fase: Implementado.

Projecto: Sistema de Aplicações Sectoriais Objectivo: Integração da informação sobre programas de saúde, como o combate à obesidade, à PMA (Programa de Apoio à Fertilidade), Plano Nacional de Vacinação, entre outros. Fase: A ser implementado.

Projecto: Consulta A Tempo e Horas Objectivo: Alargamento do sistema de referenciação, nomeadamente da primeira consulta Fase: Já implementado nalgumas unidades.

Projecto: Portais “Campus da Saúde” Objectivo: Criação de portais que permitam a partilha de boas práticas e conhecimento. Fase: A ser implementado.

Projecto: SIGIC (Sistema Integrado de Gestão de Inscritos em Cirurgia) Objectivo: Gerir as cirurgias programadas. Fase: Já implementado.

Projecto: Novos paradigmas de Gestão dos Cuidados de Saúde Primários Objectivo: Criação das Unidades de Saúde Familiar e dos Agrupamentos de

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Centros de Saúde. Fase: Em implementação. Projecto: Gestão do Ciclo de Vida dos Produtos de Saúde Objectivo: Criação de um sistema nacional que monitorize o ciclo de vida dos produtos gastos em Saúde. Fase: A ser implementado. Projecto: Incentivo ao Medicamento e Dispositivo Médico Nacional Objectivo: Estruturação e desenvolvimento do cluster da indústria farmacêutica nacional e dos produtos de saúde, fomentando a investigação e o desenvolvimento de parcerias. Fase: A ser implementado.

oPtImIzAr os reCursos Projecto: Tratamento de Resíduos Objectivo: Construção de um Centro Integrado de Valorização Energética, Reciclagem e Tratamento de Resíduos Hospitalares, Industriais e Animais. Fase: A ser implementado. Projecto: Recursos Partilhados da Saúde Objectivo: Criação de serviços partilhados nas áreas financeira, gestão e recursos humanos. Fase: Em implementação. Projecto: Política do Medicamento Objectivo: Implementação de um sistema electrónico de suporte de facturas e política do medicamento, diminuindo o desperdício. Fase: Em implementação. Projecto: Prescrição Electrónica de Medicamentos e MCDT (Meios Complementares de Diagnóstico e Tratamento) Objectivo: Desmaterialização dos processos, rapidez de resposta e obtenção, em estado real, do estado e custo dos serviços. Fase: Em implementação.


debate

David Oitavem

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Impacto Económico da Prevenção do Tromboembolismo A formação de coágulos de sangue nas artérias é um grave problema de saúde, mas em Portugal ainda é um problema pouco valorizado, segundo explicou no lunch&learn sobre o tema rui Ferreira, Coordenador Nacional para as doenças Cardiovasculares.

O

tromboembolismo venoso, ou seja a formação de coágulos de sangue nas artérias, é um grave problema de saúde e é cinco vezes mais frequente do que as infecções hospitalares, referiu Ana França, coordenadora do estudo multinacional ENDORSE,

que envolveu 358 hospitais e 32 países no mundo. A responsável chamou a atenção, no Lunch&Learn do Fórum Hospital do Futuro, para a necessidade de haver mais monitorização do problema que põe em risco a população hospitalizada ou que esteve recentemente internada. Só em Por-

tugal existe um risco de 53%, segundo dados revelados pela responsável. O segredo no combate a esta doença está na profilaxia, isto é, na prevenção da doença. Dos 358 países que participaram no estudo ENDORSE, Portugal encontrase no quarto lugar na lista de países que estão mais em risco de ter doentes com tromboembolismo por não fazerem a profilaxia necessária. Os doentes mais afectados são os mais graves, nomeadamente quem é internado por problemas pulmonares e cardíacos. Além do uso de +

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debate

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Projecto NICE • Reino Unido

medicamentos, pode-se também recorrer a meias compressoras e aparelhos de compressão que ajudam o sangue a circular. O Coordenador Nacional para as Doenças Cardiovasculares considera que se trata de uma realidade difícil, já que envolve diversas especialidades da Medicina, o que dificulta o trabalho de se definir uma estratégia. No seu entender, é essencial apostar-se nos sistemas de informação em saúde que permitem recolher todos os dados relacionados com o tromboem-

Risco de desenvolver tromboembolismo venoso consoante situação clínica: - 10-20% nos pacientes internados com doenças graves, como pneumonia ou insuficiência cardíaca;

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- 40-60% após a prótese da anca ou joelho ou cirurgia de fractura do colo do fémur; - 60-80% após lesão muscular.

bolismo venoso. «É necessário fazer-se uma análise epidemiológica», disse. O coordenador referiu ainda que é necessário dar-se mais atenção a este problema, já que se trata de uma questão pouco valorizada. Ana França referiu que, de acordo com o estudo ENDORSE, a prevenção evita a doença, traz mais qualidade de vida aos doentes, reduz os acidentes cardiovasculares e diminui os gastos na Saúde. E deixou algumas percentagens que demonstram como o risco de tromboembolismo venoso aumenta sem serem tomadas medidas preventivas (ver caixa). Ana França apresentou ainda alguns dados que considera essenciais para uma se ter uma maior noção da importância da prevenção: - O tromboembolismo é a causa mais frequente e evitável de morte; - Perfaz 5% das mortes hospitalares; - É cinco vezes mais frequente do que as infecções nosocomiais (hospitalares); - Tem 2.500 vezes mais risco do que as reacções às transfusões. Mas para que haja mais prevenção é necessário sensibilizar mais os profissionais de saúde para o problema e adoptar linhas de orientação que ajudem a definir estratégias. MJG

David Oitavem

A qualidade e a duração da vida aumentaram com a prevenção do tromboembolismo, no Reino Unido.

FICHA TÉCNICA Data: - 30 de Abril de 2009 Local: - Hotel Villa Rica, Lisboa Oradores: - Ana França, Coordenadora Nacional do Estudo Multinacional ENDORSE (na foto, à direita) Rui Ferreira, Coordenador do Programa Nacional para as Doenças Cardiovasculares Moderadora: - Céu Mateus, Vice-Presidente da Associação Portuguesa de Economia da Saúde (na foto, à esquerda)


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cardiologia

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Arritmias cardíacas e dispositivos: um mito urbano

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ma arritmia é uma perturbação do ritmo cardíaco. As arritmias podem aparecer em qualquer idade e mesmo em corações saudáveis. No entanto, as arritmias são mais frequentes em idades avançadas e associadas a outros problemas cardiovasculares: a hipertensão arterial, a doença coronária aterosclerótica e a insuficiência cardíaca. Habitualmente não temos a percepção do batimento do nosso coração. Em algumas situações podemos sentir ligeiras alterações de ritmo, o coração a bater desordenadamente, pequenas pausas, palpitações, etc. Mas frequentemente estes sintomas não traduzem nada de importante. Se forem muito frequentes ou se aparecerem associados a outros sintomas como tonturas, desmaios, falta de ar ou dor no peito, se ocorrerem após um evento cardíaco importante (um enfarte do miocárdio, por exemplo), ou se existir na família uma história significativa de doenças cardiovasculares ou de morte súbita deve ser consultado um médico. Este avaliará a situação e procederá à realização dos exames considerados necessários para o esclarecimento da sua potencial gravidade, propondo o tratamento mais adequado. A maioria das arritmias é benigna, com poucos sintomas, mas existem de facto arritmias graves que podem ser inclusive causa de morte. Aliás, deve referir-se que cerca de metade das causas de morte por

doença cardíaca é por arritmia e que as arritmias são a causa mais frequente de morte súbita. Nos últimos anos têm sido Carlos Morais, Responsável pela Unidade de Pacing grandes os progressos tecnoe Arritmologia do Hospital Fernando Fonseca, Coordenador lógicos colocando novas soNacional da Campanha Bate Bate Coração luções para o tratamento das arritmias cardíacas. Hoje em dia muitas arritmias não se trarápidos podendo se necessário aplicar tam com fármacos. Existem terapêuticas um pequeno choque eléctrico interno minimamente invasivas que podem passar que é capaz de interromper a arritmia pela ablação por cateter de certas arritpermitindo que o coração retome o mias. A ablação por cateter consiste na ritmo cardíaco normal. Os CDI podem destruição do foco de origem ou de porser a única terapêutica verdadeiramente ção crítica do circuito de uma arritmia, eficaz para prevenção da morte súbita através da aplicação de formas de energia em doentes de alto risco (como, por (sendo mais frequentemente utilizada a exemplo, as pessoas que tiveram um enenergia de radiofrequência). farte do miocárdio com grave comproOutra terapia actualmente disponível para misso do músculo cardíaco). o tratamento de arritmias consiste na imMais recentemente, grupos específicos de plantação de dispositivos electrónicos: os doentes com insuficiência cardíaca grave pacemaker e os cardioversores desfibriresistente à terapêutica médica convenlhadores (CDI). cional podem também ser tratados com Estes dispositivos são implantados no sucesso com a implantação de pacemapeito do doente recorrendo a uma cirurkers especiais que, através da estimulação gia relativamente simples. Estes aparelhos eléctrica, vão melhorar o funcionamento estão ligados a duas ou mais sondas que cardíaco, corrigindo a assincronia mecâestão dentro do coração e monitorizam nica existente. continuamente o ritmo cardíaco em interUtilizando uma combinação das mais movalos de milisegundos. dernas tecnologias de comunicação à disSe o ritmo cardíaco ficar demasiado lento, tância (telefones móveis, internet), temos o pacemaker fornece estímulos eléctricos até neste momento a possibilidade de que servem para corrigir e manter os acompanhar e monitorizar à distância o batimentos cardíacos dentro do normal. funcionamento de alguns destes dispositiNo caso do CDI, este é também capaz vos. Isto pode ser feito em tempo real a de detectar ritmos cardíacos demasiado partir da própria casa do doente, fazendo


cardiologia

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de algum modo que o hospital “se desloque a casa do paciente”, com todas as óbvias vantagens inerentes. Um aspecto que preocupa frequentemente os doentes portadores destes dispositivos ou a quem é colocada a indicação para implantar um consiste nas eventuais limitações que possam ocorrer nas suas actividades diárias. Por definição, qualquer dispositivo electrónico pode sofrer alterações no seu funcionamento pela acção de um campo electromagnético externo. Um exemplo simples que todos conhecemos é o das interferências que ocorrem no ecrã do computador quando um telemóvel está em funcionamento por perto. Vivemos num ambiente repleto de campos electromagnéticos, sejam eles naturais (os raios numa tempestade) ou fabricados

pelo homem (todos os dispositivos eléctricos que utilizamos, ie: máquina de barbear, TV, secador de cabelo, telemóvel, microondas etc.). Os doentes portadores de dispositivos electrónicos (PM, CDI) movem-se assim diariamente num ambiente em que o contacto com campos electromagnéticos externos é constante, particularmente em meios urbanos. Naturalmente isso causa receios, crenças, medos, que se não são convenientemente esclarecidos são causa de sofrimento e perda de qualidade de vida. Felizmente que podemos afirmar que, de um modo geral, esses medos são verdadeiros mitos urbanos, já que os dispositivos são praticamente imunes a interferências externas. Isso deve-se não só ao isolamento proporcionado pelo re-

Bate, Bate Coração O Instituto Português do Ritmo Cardíaco (IPRC), a Associação Portuguesa de Arritmologia, Pacing e Electrofisiologia (APAPE) e a Associação Portuguesa de Portadores de Pacemakers e CDI´s (APPPC) lançaram, em conjunto, a campanha nacional “Bate, Bate coração”, uma iniciativa inédita em Portugal, que visa sensibilizar a população em geral para as arritmias cardíacas, educar sobre os seus riscos e esclarecer sobre os meios de diagnóstico e tratamentos existentes. A campanha arrancou a 17 de Fevereiro e já realizou diversas iniciativas, como os Encontros Bate, Bate Coração. Pensamos com estas iniciativas poder dar um contributo positivo para uma ampla discussão na sociedade sobre o tema das arritmias cardíacas, aumentando o conhecimento geral dos portugueses sobre este tema e assim facilitar o acesso a diagnósticos e terapêuticas. Mais informação: http://www.batebatecoracao.com

vestimento exterior, mas também a funções de protecção que minimizam a possibilidade de interferências externas causarem danos ou mau funcionamento. Assim, podemos afirmar que o lar é um meio seguro para os por tadores de dispositivos. Não existe qualquer impedimento ou cuidado especial no uso de TVs, plasmas, LCDs e respectivos comandos, microondas, torradeiras, máquinas de lavar, secadores de cabelo, máquinas de barbear, ventoinhas, consolas de jogos, computadores, ferros eléctricos, etc. O uso de telemóveis é também possível, sendo apenas recomendado aos doentes com pacemaker ou CDI que mantenham o telemóvel a uma distância superior a 15 cm do aparelho. Na prática, isto corresponde a falar sempre do lado contrário ao local onde o aparelho foi implantado, guardar o telemóvel no bolso das calças, no cinto ou na mala (não no bolso da camisa, se este estiver em cima do dispositivo) e é claro que não existe qualquer problema em estar perto de outras pessoas que estejam a usar telemóvel. Outra questão frequentemente colocada é a possibilidade de realização de exames médicos a doentes portadores de dispositivos. Não existe qualquer restrição na realização de exames convencionais como sejam Rx, ecografias ou TACs. Apenas está proibida a realização de ressonância magnética nuclear devido à elevada potência dos campos electromagnéticos utilizados. Certos procedimentos ou exames que envolvem aplicação de energia directamente sobre a área do dispositivo podem também ser prejudiciais pelo que a sua utilização deve ser sempre discutida com o médico assistente. Recomenda-se que os doentes portadores de dispositivos sejam sempre portadores do cartão internacional que os identifica como tal. Sempre que um exame ou tratamento seja prescrito, o doente deve referir que é portador de um pacemaker ou de um CDI. A equipa de saúde que implantou o dispositivo e acompanha o paciente saberá responder a todas as dúvidas e questões colocadas.

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saúde em rede

David Oitavem

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Os Cuidados Hospitalares em discussão A gestão da doença, a necessidade de médicos gestores e a integração estratégica de objectivos inovadores foram alguns dos temas abordados na sessão pública do think tank saúde-em-rede 2009.

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Think Tank Saúde-em-Rede reuniu, pelo segundo ano, vários especialistas do sector para discutir cuidados hospitalares, após um primeiro ano em que se falou de Cuidados de Saúde Primários. Após a sessão fechada de 21 de Fevereiro, no passado dia 18 de Março foram apresentadas publicamente as conclusões do encontro de peritos. A conclusão principal do Think Tank focase na necessidade de se criar um gestor do doente, sendo para tal necessário desenvolver programas de gestão da doença e criar unidades integradas de cuidados. Com esta gestão é possível prestar melhores cuidados e desentupir as urgências, às quais se recorre muitas vezes por causa da agudização das doenças crónicas, relembrou Luís Campos, do Hospital S. Francisco Xavier, e um dos participantes que apresentou as conclusões do Think Tank. “Os serviços prestados devem ser

adequados às necessidades de cada doente”, referiu. Para isso é importante adequar o modelo de financiamento às necessidades em saúde e incentivar novas experiências de financiamento, através de objectivos de uma maior eficiência e qualidade, aferindo o custo por doente/doença e centralizando a informação do utente. A reorganização dos serviços consoante as necessidades dos doentes melhora a utilização do tempo, permite uma maior orientação para a doença e leva à criação de gestores de processo. As tecnologias da informação e da comunicação poderão ser um forte aliado na gestão da doença, mas para isso são necessárias melhorias que levem à implementação do Processo Clínico Electrónico a nível nacional. Nesse sentido, defendeuse a criação uma agência nacional de avaliação das tecnologias da saúde, bem como promover a integração estratégica de I&D (Investigação e Desenvolvimento) com os objectivos das organizações. Em termos de contratualização interna é crucial haver um sistema de incentivos, estabelecer níveis intermédios de gestão adequados a cada estrutura hospitalar e

desenvolver as competências centradas em necessidades emergentes (Cuidados Primários, cronicidade da doença, geriatria, entre outras). A gestão do doente/doença permitiria melhorar a comunicação com o doente e a família, nomeadamente através da melhoria das competências de comunicação dos profissionais de saúde e utilizando ferramentas adequadas a essa mesma comunicação, consoante os grupos-alvo. O benchmarking e a troca de experiências também são essenciais na melhoria dos cuidados prestados, assim como o estabelecimento de parcerias com entidades externas ao sistema de saúde, como Organizações Não-Governamentais, Instituições de Solidariedade Particular, entidades privadas, municípios, entre outros. o PerFIl do ProFIssIoNAl de sAúde Cada vez mais é necessário ter-se em conta o perfil do profissional. A sobrevivência das organizações e a sua sustentabilidade dependem da adaptação às condições ambientais, como o aumento da esperança média de vida e o aumento das doenças crónicas. Quem trabalha em


Saúde tem cada vez mais necessidade de ter uma especialização elevada e capacidade de trabalhar intensamente. A rapidez na evolução do conhecimento e das tecnologias da Saúde implica uma permanente actualização e a emergência de novas profissões (como na área da gerontologia, por exemplo) e competências. Para isso, é necessário aliar o crescimento da especialização ao desenvolvimento do trabalho multidisciplinar e interdisciplinar, havendo “aglutinadores/generalistas e o desenvolvimento de competências transversais, como em comunicação, sistema de informação, qualidade, trabalho em equipa, gestão de comportamentos, gestão de conhecimento, entre outras. É necessário envolver todos os grupos profissionais nos objectivos da organização e permitir a diferenciação técnica em áreas-chave”, referiu Manuel Delgado, do Hospital Curry Cabral, que também apresentou as conclusões do Think Tank. Para favorecer estas mudanças, os especialistas defendem a criação de um plano estratégico de pessoal que integre os planos de desenvolvimento e inovação do

Luís Campos, Director do Serviço de Medicina IV do Hospital S. Francisco Xavier, e Manuel Delgado, Presidente do Conselho de Administração do Hospital Curry Cabral (da esquerda para a direita), apresentaram as conclusões do Saúde-em-Rede

hospital, serviço e pessoal, assim como mecanismos de certificação e re-certificação dos profissionais. Além do mais, também é prioritário incentivar financeiramente o indivíduo e as equipas, criar uma política institucional de formação pós-graduada e contínua de quadros e fomentar o espírito de pertença. Mas tudo isto acarreta desafios. É necessário redefinir os papéis dos profissionais de saúde, flexibilizar e dinamizar as equipas

David Oitavem

saúde em rede

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de prestadores no tempo e no espaço, alinhar os desempenhos por referenciais de qualidade/boas práticas, formar os profissionais e ter novos modelos de remuneração que estimulem o mérito e atribuam incentivos. O papel do líder de equipas é fulcral e também é importante que se defina indicadores de acesso e qualidade, que se adeqúem as modalidades de pagamento a indicadores de resultados, que se desenvolvam sistemas de informação e +

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saúde em rede

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• Alexandre Lourenço - Administração Central do Sistema de Saúde • Ana Cristina Mesquita – Enfermeira, Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal; Escola Nacional de Saúde Pública • Ana Escoval – Administradora Hospitalar, Escola Nacional de Saúde Pública; Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Hospitalar • António Dias Alves – Assessor do Secretário de Estado Adjunto e da Saúde, Ministério da Saúde • António Lourenço – Director de Serviços de Saúde, Sub-Região de Saúde de Santarém • Artur Vaz – Administrador Hospitalar, Hospital Amadora-Sintra • Carlos Costa - Professor, Escola Nacional de Saúde Pública • Carlos Esteves – Enfermeiro, Centro Hospitalar do Médio Ave • Casimiro Dias – Organização Mundial de Saúde • Fátima Vaz – Serviço de Oncologia Médica, IPO Lisboa • Fernando Regateiro – Presidente do Conselho de Administração, Hospitais da Universidade de Coimbra • João Guerra – Medicina Interna, Escola Nacional de Saúde Pública, Hospital Reynaldo dos Santos – Vila Franca de Xira • João Oliveira - Director Serviço de Oncologia Médica, IPO Lisboa • Luís Almeida Santos – Centro de Responsabilidade Integrada, Hospital de São João • Luís Campos – Director do Serviço de Medicina IV, Hospital São Francisco Xavier • Manuel Delgado – Presidente do Conselho de Administração, Hospital Curry Cabral • Manuela Mota Pinto – Administradora Hospitalar, Hospital Pediátrico de Coimbra • Marta Themido – Centro Hospitalar de Coimbra • Melo Gouveia – Director dos Serviços Farmacêuticos, IPO Lisboa • Paula de Sousa – Administradora Hospitalar, Centro Hospitalar de Coimbra • Paulo Boto – Professor, Escola Nacional de Saúde Pública • Paolo Casella - Cirurgião Pediátrico, Hospital D. Estefânia • Paulo Moreira – European Centre for Disease Prevention and Control (ECDC), Estocolmo (Suécia), Escola Nacional de Saúde Pública • Pedro Afonso – Vogal Executivo, Hospital de São Sebastião • Pedro Lopes – Presidente, Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares • Ricardo da Luz - Director de Qualidade, Espírito Santo Saúde • Ricardo Monteiro – Enfermeiro, Professor, Escola Superior de Saúde de Leiria • Rosa Marques Reis – Vogal do Conselho de Administração da Administração Regional de Saúde do Centro • Rui Santana – Professor, Escola Nacional de Saúde Pública, ARS Alentejo • Vítor Raposo – Professor, Faculdade de Economia de Coimbra

David Oitavem

PAINEL MULTIDISCIPLINAR DE ESPECIALISTAS

Boi Ruiz, Presidente da União Catalã dos Hospitais, e Erik Roodenbeke, Director-Geral da Federação Internacional dos Hospitais (da esquerda para a direita), trouxeram ao debate uma perspectiva internacional

que haja contratualização de projectos específicos na área da I&D. O ideal, de acordo com as conclusões do Think Tank, seria a criação de auditorias externas independentes que avaliassem os mais variados indicadores. Por outras palavras, esta estrutura promoveria a Clinical Governance, que inclui a gestão do doente. A exPerIêNCIA INterNACIoNAl Na sessão pública do Think Tank estiveram também presentes oradores estrangeiros. Boi Ruiz, Presidente da União Catalã dos Hospitais, apresentou as linhas gerais que guiaram esta região de Espanha para implementar a direcção clínica em 2007. Boi Ruiz salientou que a direcção clínica inclui, inevitavelmente, o planeamento estratégico, focalizado nos cuidados ao utente, que estabelece a gestão clínica e a avaliação dos resultados com o meio, através do qual se alcançam os objectivos de excelência e eficiência que constituem um valor corporativo. Mas nem tudo é um mar de rosas: o responsável chama a atenção para algumas limitações, como a reticência dos gestores na cedência da gestão de orçamentos, a falta de predisposição do médico para a responsabilidade de riscos, a falta de líderes, a inércia das organizações na manutenção do status quo, a desconfiança histórica entre médicos e gestores, o compromisso dos Conselhos de Administração e o novo papel do director médico. Erik Roodenbeke, Director-Geral da Federação Internacional dos Hospitais, perante a situação actual da Saúde apontou cinco

desafios que se devem ter em conta em qualquer mudança na Saúde: a idade dos profissionais, o aumento da capacidade de formação, a revisão de tarefas, a mobilidade profissional e o acesso a cuidados de saúde em áreas periféricas. De acordo com Roodenbeke, dever-se-á apostar no trabalho em part-time para se evitar o absentismo, no outsourcing de serviços privados, na adaptação às necessidades do país e na mobilidade. Para isso têm de ser criados incentivos que devem ser testados, a priori, para que não sejam desfasados da realidade e para que sejam uma forma de reconhecer o trabalho dos profissionais. MJG

Parceria - Escola Nacional de Saúde Pública Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Hospitalar - Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares - Associação Portuguesa de Médicos de Clínica Geral Enabling Partner - Laboratórios Pfizer Organização - Fórum Hospital do Futuro


sns em análise

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Eficiência versus Qualidade no SNS, em Portugal: Metodologias de Avaliação Maria do Rosário Giraldes, Economista, Professora Universitária de Economia da Saúde, Assessora Principal da Administração Central do Sistema da Saúde, Ministério da Saúde, Lisboa

indicador agregado de avaliação de eFiciência e Qualidade Metodologia de Avaliação CeNtros de sAúde rocedeu-se a uma avaliação dos centros de saúde numa perspectiva de gestão e da qualidade da prestação utilizando um Indicador Agregado de Avaliação da Eficiência e da Qualidade (IAAEQ). Inclui os indicadores de eficiência: despesa com actividades preventivas e curativas por utilizador, despesa com medicamentos nos principais grupos fármaco-terapêuticos, e despesa com análises, RX, ecografias e TAC por utilizador. O Indicador Agregado de Avaliação da Qualidade é composto por 12 indicadores de processo e 5 indicadores de outcome. Os indicadores de processo são: percentagem de mamografias em mulheres com idade igual ou superior a 40 anos; o número de embalagens de anticoncepcio-

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nais em relação às mulheres dos 15 aos 49 anos; primeiras consultas de saúde infantil no grupo etário 0-1 ano, em relação ao número de nados vivos; percentagem de crianças vacinadas contra a hepatite B e contra a poliomielite no grupo etário 01 ano; percentagem de crianças vacinadas contra o sarampo no grupo etário 12-23 meses; número de vigilâncias no grupo etário 6-14 anos; número de crianças alvo de saúde oral em relação às crianças do grupo etário 6-14 anos; número total de consultas com marcação no total de consultas; número de consultas com

marcação pelo telefone no total de consultas; número de consultas marcadas com hora de atendimento no total de consultas; e número de consultas canceladas no total de consultas programadas. Os indicadores de outcome considerados foram: nados vivos em mulheres com menos de 15 anos; mortalidade pós-neonatal; taxa de morbilidade por tuberculose, hepatite B e sarampo na população total. O Indicador Agregado de Avaliação da Eficiência e da Qualidade resultou da média simples do Indicador Agregado de

O objectivo da Avaliação da Eficiência e da Qualidade em Hospitais em Entidades Públicas Empresariais (EPE) e Sector Público Administrativo (SPA) foi proceder a uma avaliação dos Hospitais numa perspectiva de eficiência, utilizando indicadores de gestão, e de qualidade

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sns em análise

Avaliação da Eficiência e do Indicador Agregado de Avaliação da Qualidade, em que a síntese dos indicadores de processo foi convertida em índice de base inversa a fim de poder ser adicionada aos indicadores de outcome. Dos dez melhores centros de saúde, três são da Sub-Região de Saúde do Porto (Negrelos, Rebordosa e Paredes) e dois das Sub-Regiões de Saúde de Braga (Vila Verde, Vila Nova de Famalicão I), Leiria (Pedrogão Grande e Batalha) e de Vila Real (Mesão Frio e Sabrosa), enquanto que um pertence à Sub-Região de Saúde de Aveiro (Sever do Vouga). Os centros de saúde mais eficientes, segundo a metodologia seguida, são os centros de saúde de Sever do Vouga, Castelo de Paiva, Albergaria-a-Velha, Ílhavo, Vale de Cambra, Arouca, Mealhada, e Aveiro na Sub-Região de Saúde de Aveiro e Vila Nova de Famalicão II e Barcelinhos na Sub-Região de Saúde de Braga.

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Metodologia de Avaliação HosPItAIs Procedeu-se a uma avaliação dos hospitais. O objectivo da Avaliação da Eficiência e da Qualidade em Hospitais em Entidades Públicas Empresariais (EPE) e Sector Público Administrativo (SPA) foi proceder a uma avaliação dos Hospitais numa perspectiva de eficiência, utilizando indicadores de gestão, e de qualidade, designadamente indicadores de processo e de outcome. Numa perspectiva de eficiência escolheu-se o conceito de eficiência técnica e procedeu-se a correcção da despesa por utilizador com base no Índice de Case-Mix (ICM). Construiu-se um Indicador Agregado de Avaliação da Eficiência, composto quer por indicadores de gestão, relacionados com a actividade principal do hospital, quer com as secções auxiliares de apoio clínico (imagiologia, medicina física e reabilitação, patologia clínica e imuno-hemoterapia) e serviços hoteleiros. A síntese dos indicadores de eficiência num único indicador resultou da ponderação de cada indicador em função da importância da despesa de cada

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componente na despesa total. Ponderou-se cada um dos indicadores de gestão com o inverso do índice de casemix (ICM), relativo àquele ano. Procedeu-se a uma homogeneização da informação, com base no valor médio dos hospitais desse grupo, que foi adicionado ao Indicador Agregado de Avaliação da Eficiência de cada hospital, em relação aos indicadores de gestão em falta, devido ao facto de nem todos os hospitais possuírem as mesmas valências ou os mesmos serviços de apoio clínico. Construiu-se igualmente um Indicador Agregado de Avaliação da Qualidade, que considera indicadores de processo, designadamente a percentagem de cirurgias em ambulatório e a percentagem de cesarianas no total de partos e a taxa de autópsias e um indicador de outcome a percentagem de episódios de internamento por infecções cirúrgicas no total de procedimentos cirúrgicos. Estes indicadores foram agregados, segundo uma média simples, após transformação dos dois indicadores de qualidade positivos (quanto mais elevados melhor a situação relativa) em índice de base inversa, a fim de poderem ser adicionados. O Indicador Agregado de Avaliação da Eficiência e da Qualidade resultou da média simples do Indicador Agregado de Avaliação da Eficiência e do Indicador Agregado de Avaliação da Qualidade, em que o indicador agregado de qualidade foi convertido em índice de base inversa. Numa avaliação realizada em 2008 utilizaram-se como indicadores de qualidade três indicadores subjectivos, designadamente a população utilizadora, que classifica o nível dos serviços prestados como bom ou muito bom quanto ao pessoal técnico, quanto ao pessoal administrativo e quanto às instalações. Foram igualmente considerados 11 indicadores de processo, designadamente a taxa de autópsias, a percentagem de crianças acompanhadas no internamento, a taxa de resolução de listas de espera para intervenção cirúrgica (LIC), a taxa de resolução das listas de espera de consultas, a percentagem de quedas de doentes internados em relação ao número de dias de

internamento, a percentagem de cesarianas no total de partos, a percentagem de cirurgias em ambulatório, a percentagem de cancelamento de consultas programadas, a percentagem de cancelamento de intervenções cirúrgicas programadas, a percentagem de readmissões não programadas e a percentagem de readmissões não programadas para intervenções cirúrgicas pelo mesmo motivo. Foi também considerado um indicador de outcome a percentagem de episódios de internamento com complicações por infecções cirúrgicas no total de procedimentos cirúrgicos. Hospitais resultAdos – eficiência Este Indicador Agregado de Eficiência, ponderado pelo inverso do índice de case-mix, em hospitais do Grupo I, apresenta os valores mais baixos nos Hospitais de Montijo, Anadia e Seia. O Hospital do Litoral Alentejano é, neste Grupo I, o menos eficiente. No Grupo II é o Hospital de Águeda a apresentar o Indicador Agregado de Eficiência mais favorável. Os Hospitais de Lamego e S. João da Madeira apresentam também uma boa situação, todos hospitais SPA. É o Hospital da Figueira da Foz, EPE, a apresentar, no entanto, a pior situação relativa. Em hospitais EPE e SPA do Grupo III são o Hospital de Vale de Sousa, EPE, e o Hospital de Vila Franca de Xira, SPA, a apresentarem o melhor Indicador Agregado de Eficiência, seguidos do Hospital de Torres Vedras, que também é SPA. Neste grupo, apenas o Hospital de Vale de Sousa é EPE, embora o Hospital de Bragança, igualmente EPE, apresente a quarta posição. Os Hospitais de Portalegre e das Caldas da Rainha, ambos SPA, encontram-se em última posição. No Grupo IV é o Hospital de São Sebastião a apresentar o melhor valor do Indicador Agregado de Eficiência, seguido do Hospital de Aveiro, ambos EPE, e do Hospital de Curry Cabral. Os hospitais mais ineficientes neste grupo são o Hospital Garcia de Orta, EPE, e o Centro Hospitalar (CH) de Cascais.


sns em análise

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No Grupo V, constituído por hospitais centrais e hospitais que desempenham funções de hospital central, evidencia-se a situação do CH de Vila Nova de Gaia, SPA, com a melhor situação relativa do Indicador Agregado de Avaliação da Eficiência, seguido dos Hospitais de Viseu e Santo António, ambos EPE. No Grupo VI os hospitais com um Indicador Agregado de Avaliação da eficiência mais favorável são os Hospitais de Santa Marta, em primeiro lugar, seguido do Hospital do Outão e do IPO de Coimbra, todos EPE. Os Hospitais mais ineficientes, neste grupo, são os Hospitais de Joaquim Urbano e o Hospital D. Estefânia, que não são EPE. resultAdos – Qualidade A consideração da componente de eficiência e de qualidade em hospitais do Grupo I leva a que o Hospital de Seia se classifique em primeiro lugar, seguido do Hospital de Alcobaça. Numa perspectiva de avaliação da qualidade são também estes dois hospitais a apresentarem as duas primeiras posições.

Em hospitais do Grupo II a componente de qualidade considerada em conjunto com a componente de eficiência leva a que o Hospital de Oliveira de Azeméis se classifique em primeiro lugar, o que já se verificava com o Indicador Agregado de Avaliação da Qualidade. Seguem-se os Hospitais de Santo Tirso e de Vila Nova de Famalicão, que possuem igualmente uma boa situação numa perspectiva de qualidade. Em hospitais do Grupo III o Indicador Agregado de Eficiência e Qualidade leva a classificar em primeiro lugar o Hospital de Vale de Sousa, que segundo uma perspectiva de eficiência ocupava igualmente a primeira posição, seguido do CH do Barlavento Algarvio. O Hospital de Vale de Sousa numa perspectiva de qualidade ocupa a terceira posição, enquanto o CH do Barlavento Algarvio ocupa a segunda. O CH das Caldas da Rainha apresenta a primeira posição. O Hospital Garcia de Orta classifica-se em primeiro lugar segundo o Indicador Agregado de Qualidade. O CH do Alto Minho classifica-se em segundo lugar

numa perspectiva de qualidade, enquanto o Hospital de Santarém se classifica em terceiro lugar. A consideração da componente de eficiência e de qualidade em hospitais do Grupo V leva a que o Hospital de Santa Maria se classifique em primeiro lugar, seguido do Hospital de Viseu, e do Hospital Pulido Valente, todos hospitais EPE. Os Hospitais de Santa Maria e de Pulido Valente ocupam igualmente as primeiras posições numa perspectiva de qualidade. A componente qualidade, em conjunto com a componente eficiência, em hospitais do Grupo VI, leva a considerar o Instituto de Oftalmologia Dr. Gama Pinto em primeiro lugar, seguido da Maternidade Júlio Diniz e do IPO de Lisboa, em que só este último Hospital é EPE. Numa perspectiva de qualidade são igualmente estes Hospitais que ocupam a primeira posição.

Resumo das principais conclusões do artigo publicado na Revista Acta Médica Portuguesa, 2008 vol. 23 (2) 21-44.

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saúde ibérica em rede

Fonte: PTCSG

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Um campus

tecnológico

de saúde

o Parque tecnológico de Ciências da saúde de granada ainda está em fase de expansão, mas já tem o terreno todo ocupado, abrangendo uma vasta área que inclui quatro municípios. todo o local está preparado para ter os sistemas de informação em saúde mais avançados.

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s responsáveis pelo Parque Tecnológico de Ciências da Saúde de Granada, em Espanha, têm como objectivo torná-lo no maior campus de Saúde da Europa e um dos mais importantes a nível mundial. O campus situa-se no sul de Granada, uma cidade universitária com uma grande tradição na Saúde, Biomedicina e ciências da vida. Os responsáveis pelo parque vêem este espaço como uma «referência óptima para a criação, implementação e expansão

de instituições e empresas que transformem o conhecimento em desenvolvimento económico e social, especialmente nos sectores farmacêutico, biossanitário, assistencial e alimentar». Com uma superfície de 625.000 m2, integra diversas áreas, como a Assistência em Saúde, o Desenvolvimento Empresarial, a Investigação e o Ensino na área da Saúde e da Biomedicina. A nível do Ensino conta com a presença de vários pólos da Universidade de Granada, bem como do Complexo Multifuncional Avançado de Simulação e

Formação Profissional – no total, o espaço dedicado ao ensino representa 25% da área do parque. O projecto conta com o apoio da Junta da Andaluzia, através dos departamentos da Inovação, Ciência e Empresa, Saúde e Obras Públicas e Transportes, da Universidade de Granada, das Câmaras de Granada e Armilla, da Diputación Provincial de Granada, do Conselho Superior de Investigações Científicas (CSIC), da Caja Granada, da Caja Rural, da Confederação Granadina de Empresários e da Câmara de Comercio Industria y Navegación de Granada. Quanto ao futuro, Miguel Peinado, da Junta da Andaluzia, disse à HdF que este passa pela expansão do parque que “já tem os terrenos todos ocupados”. “Tratase de uma operação complexa, na medida em que o objectivo é ampliar o parque em mais de um milhão de metros quadrados de sólo público e privado que abrange quatro municípios: Granada, Armilla, Ogíjares e La Zubia.”, acrescentou o representante do Parque. Neste momento está a ser construído um novo Hospital Universitário, o Instituto de Medicina Legal (sede também do Banco de ADN), o novo centro de Gestão da Fundação do parque e o centro de Genómica e Investigação Oncológica (GenyO) e há seis edifícios já operacionais. MJG


saúde ibérica

Hospital do Futuro | JuN. 2009 | N.09

Centro de Empresas e Innovación – BIC Granada Criado com fundos da União Europeia, foi o primeiro a abrir portas no parque. É um espaço de criação de empresas de Inovação de base tecnológica, incubadoras, assessoria, Inovação+Desenvolvimento+Investigação e transferência tecnológica. Nas suas instalações estão 37 empresas com um total de 220 trabalhadores e já se desenvolveram 84 projectos de Inovação e Desenvolvimento e já foram publicadas 32 patentes.

OBJECTIVOS • A promoção de uma investigação interdisciplinar em Biomedicina a nível internacional para o avanço da Saúde, através do conhecimento, diagnóstico, tratamento, cura e prevenção de doenças; • A protecção e a transferência do conhecimento gerado especialmente na área da Saúde e Biomedicina; • A Consolidação de um tecido empresarial biosanitário de base tecnológica ao serviço da prática clínica; • Ser um centro de excelência assistencial que dá resposta às necessidades de Saúde do paciente.

Complejo Multifuncional Avanzado de Simulación en Innovación Tecnológica Este centro aglutina todas as metodologias existentes na formação de profissionais de emergências de Saúde. Instituto de Parasitologia e Biomedicina “López Neyra” Está dependente do Consejo Superior de Investigaciones Científicas, dedica-se à investigação biomédica e abarca áreas como a imunologia, biologia molecular, biologia celular e farmacologia de saúde pública. Existem 18 grupos de investigação.

O PARQUE TECNOLÓGICO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE TEM LIGAÇÕES COM VÁRIAS INSTITUIÇÕES E VÍNCULOS PÚBLICOS E PRIVADOS

Laboratórios ROVI Com uma superfície total de 9.000 m2 e um investimento que supera os 20 milhões de euros, aspira converter-se num foco relevante de investigação no mundo das ciências biomédicas, pondo em marcha as instalações mais avançadas de Espanha na investigação e produção de medicamentos, actualmente centrados na bemiparina sódica (utilizada em problemas antitrombóticos). Compañía Servilens Fit&Cover Fabrica e exporta lentes de contacto.

Fonte: PTCSG

Centro de Investigação Biomédica Está dependente da Universidade de Granada, aglutina 28 grupos de investigação (com 300 investigadores) e o objectivo é situar-se na primeira linha de investigação biomédica na Europa. O centro também é sede do Banco Andaluz de Células Madre.

• Escuela Andaluza de Salud Pública • Centro de Instrumentación Científica da Universidad de Granada • Corporación Tecnológica de Andalucía • Fundación de Investigación Biosanitaria de Andalucía Oriental “Alejandro Otero” • International Association of Science Parks • Asociación de Parques Científicos y Tecnológicos de España • Red de Espacios Tecnológicos de Andalucía • Parque de las Ciencias

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opinião

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Carcinoma da mama: Problemas e oportunidades

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75% até aos 50 anos nos portadores destas mutações. Uma verdadeira prevenção do carcinoma da mama só é possível nestas últimas situaNuno Abecassis, Assistente Hospitalar Graduado de Cirurgia Geral, Membro da Direcção e Coordenador da Área Médica ções quando o diagnóstico da da Associação Portuguesa de Apoio à Mulher com Cancro mutação patogénica é feito da Mama (APAMCM) em familiares de doentes com carcinoma da mama em que a doença ainda não se manifestou. terações suspeitas de corresponder a Acontece, no entanto, que estas situações manifestações precoces da doença. Com não representam mais que 10% dos casos a disseminação geográfica dos equipade carcinoma da mama na população. mentos de mamografia, e com ela a faciliEm relação à maioria das pessoas a única dade de acesso das populações a este medida que conduz a uma alteração do meio de diagnóstico, reúnem-se as conprognóstico da doença é o diagnóstico dições para que seja viável a realização precoce da doença, numa fase em que a periódica de mamografias de rastreio nas eficácia dos tratamentos disponíveis permulheres entre os 40 e os 75 anos. Estes mite assegurar taxas de cura da ordem rastreios podem ter uma organização dos 90%. A eficácia dos meios de diagnósformal com base populacional em que tico precoce depende da intersecção de todas as mulheres duma determinada três vectores: a incidência etária da população são regularmente convocadas doença, as modificações das característipara realizar mamografias de rastreio, sicas do meio mamário com a idade da tuação que só se verifica nalgumas regiões mulher e a disponibilidade, características do país, ou depender da iniciativa dos técnicas e custo dos meios de diagnósmédicos de família ou ginecologistas astico. O carcinoma da mama, como a sistentes que tomam a iniciativa de pedir maioria das doenças oncológicas, tem regularmente estes exames. Em todo o uma variação quase exponencial da sua caso a adopção destas medidas numa incidência com a idade, tornando-se esta percentagem cada vez maior da populamais frequente a partir dos 40 anos. Por ção tem conduzido nas sociedades mais outro lado, com o envelhecimento da desenvolvidas, após um aumento inicial mama as quantidades relativas de tecido da incidência da doença resultante dum glandular e de suporte vão variando, toraumento do número de diagnósticos, a nando o órgão mais transparente aos Rx uma redução progressiva da mortalidade e com isso aumentando muito a acuida doença, já que aumenta também a dade da mamografia na detecção de alprobabilidade de cura.

Fonte: APAMCM

O

Carcinoma da mama é a doença oncológica mais frequente no sexo feminino, com uma incidência estimada de perto de 5.000 casos/ano na população portuguesa. A sua incidência está claramente relacionada com a existência e intensidade de estimulação estrogénica. É muito mais frequente no sexo feminino (a incidência no sexo masculino é cerca de 100 vezes menor), o risco aumenta proporcionalmente ao período de vida fértil da mulher (sendo maior quanto mais precoce a menarca e mais tardia a menopausa), aumenta também nas mulheres estéreis ou que têm o primeiro filho depois dos 30 anos, diminui com o número de gravidezes e partos e com o período de aleitamento materno, aumenta com o uso de anticonceptivos orais (menos nas pílulas de última geração que nas anteriores com maior carga estrogénica) e com a terapêutica hormonal de substituição. Por outro lado é evidente a existência de um risco familiar, estando a incidência aumentada nos familiares em primeiro grau das doentes com carcinoma da mama, sendo esse risco tanto maior quanto maior o número de pessoas afectadas numa determinada família e mais precoce a idade em que o diagnóstico é feito. No extremo deste espectro encontram-se situações de risco familiar muito aumentado na dependência de alterações genéticas conhecidas e identificáveis que condicionam risco de contrair carcinoma da mama superior a


opinião

Hospital do Futuro | JuN. 2009 | N.09

A diminuição da mortalidade por carcinoma da mama na população portuguesa demonstra a eficácia dos programas de rastreio.

sxc.hu

A par desta alteração do prognóstico quanto à vida resultante do diagnóstico precoce da doença, outro benefício que o mesmo traz às mulheres que se submetem regularmente a mamografias de rastreio é a redução drástica das sequelas estéticas e funcionais do tratamento. Com o aumento exponencial de diagnósticos em fases precoces, geralmente infraclínicas, a abordagem terapêutica também se foi modificando com a introdução de protocolos de tratamento conservador

em que a mastectomia (remoção completa da glândula) foi em muitas situações abandonada em favor de ressecções mais limitadas complementadas por radioterapia da mama restante, sem com isso comprometer o controlo da doença. Estas técnicas têm vindo a ser progressivamente melhoradas com a integração de conceitos de cirurgia plástica no planeamento e execução destas ressecções (cirurgia oncoplástica) e com a melhoria técnica da radioterapia complementar,

O risco de incidência de carcinoma da mama aumenta nas mulheres que têm o primeiro filho depois dos 30 anos, mas diminui com o número de gravidezes e partos e com o período de aleitamento materno.

permitindo resultados estéticos francamente melhores no fim do tratamento. A outra grande fonte de morbilidade pós tratamento do carcinoma da mama é a remoção dos gânglios linfáticos axilares, necessária para controlo regional da doença e estabelecimento de prognóstico e necessidade de tratamentos complementares. A precocidade do diagnóstico mamográfico de rastreio faz com que a probabilidade de metastização ganglionar axilar diminua significativamente. Por outro lado, foram estabelecidas técnicas que permitem identificar e biopsar o primeiro gânglio no trajecto de drenagem linfática do tumor da mama (chamado gânglio sentinela). Sabe-se que, se este gânglio não contiver células tumorais, a probabilidade de estas existirem em qualquer outro gânglio axilar é extremamente baixa. Daí que se possa restringir a necessidade de remoção de todos os gânglios axilares apenas aos doentes que potencialmente beneficiam dela, poupando todos os outros (cerca de 80%) às sequelas funcionais, sensitivas e possível linfedema resultantes da cirurgia regional mais alargada. É assim fundamental veicular junto das mulheres e seus médicos assistentes as vantagens da realização regular destes exames de rastreio, de modo a conseguir uma cobertura populacional tão grande quanto possível, que acarrete a médio prazo uma mudança radical da realidade desta doença. A evolução dos números da mortalidade por carcinoma da mama na população portuguesa já demonstra a eficácia dos esforços daqueles que iniciaram os programas de rastreio mamográfico no nosso país.

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saúde no trabalho

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Câmara Municipal do Porto: Uma Abordagem Integrada na Promoção do Bem-Estar Sara Magalhães, Chefe de Divisão, e Anabela Guedes e Cristina Ribeiro, Técnicas Superiores de Serviço Social Direcção Municipal de Recursos Humanos da Câmara Municipal do Porto

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Fonte: C.M. Porto

A

Câmara Municipal do Porto (CMP) tem 2.863 colaboradores, cuja média de idades é de 43 anos; pertencem maioritariamente ao grupo profissional assistente operacional; 56,89% têm até ao 9.º ano de escolaridade e 19,51% têm formação superior. É neste quadro que são estruturados, na Direcção Municipal de Recursos Humanos, programas que visam garantir o apoio social, a prevenção e a promoção da saúde e de estilos de vida saudável, assegurados por uma equipa multidisciplinar, que integra profissionais de áreas diversas como Serviço Social, Psicologia, Higiene e Segurança no Trabalho, Gestão de Refeitórios, Medicina do Trabalho, Enfermagem e Educação, responsável pelo planeamento articulado de acções individualizadas ou dirigidas ao universo de colaboradores. Destas intervenções, destaca-se, desde logo, a identificação e acompanhamento de contextos de alcoolismo e tabagismo, concretizada através da articulação de programas como a “Intervenção na Prevenção do Álcool”, a implementação do projecto “Viver Sem Tabaco – Viver Melhor para Viver Mais”que integra a consulta de Cessação Tabágica. Assim, o programa “Intervenção na Prevenção do Álcool” tem o seu foco de actuação na prevenção da problemática do consumo de bebidas alcoólicas em meio laboral, assentando numa perspectiva de

promoção da segurança e da saúde dos colaboradores, bem como dos utentes e munícipes da CMP, através da identificação e intervenção precoce nas situaçõesproblema, com vista ao seu tratamento e reabilitação. Neste quadro, foi definido e implementado na Autarquia um Regulamento Interno Sobre a Prevenção e Controlo do Consumo de Bebidas Alcoólicas que pretende reduzir a incidência dos problemas relacionados com o consumo de álcool, bem como promover a adopção de estilos de vida mais saudáveis, com enfoque numa atitude preventiva. No que respeita à intervenção ao nível da prevenção e tratamento do tabagismo,destaca-se a implementação do projecto “Viver Sem Tabaco – Viver Melhor para Viver Mais” com enfoque na diminuição das patologias associadas ao consumo de tabaco e na eliminação da exposição

ao fumo de tabaco ambiental na Câmara Municipal do Porto. Das acções realizadas, a avaliação da função pulmonar dos colaboradores, efectuada em 2007, revelou-se determinante para a criação de uma consulta de Cessação Tabágica, em Novembro desse ano, uma vez que 27,5% dos indivíduos avaliados necessitavam de intervenção directa no consumo tabágico. Paralelamente, são assinaladas datas como o Dia Mundial Sem Tabaco, o Dia Internacional do Não Fumador e o Dia Mundial da Alimentação, com a realização de iniciativas transversais a toda a Organização, que incluem a prática de exercício físico (Tai-Chi, Body Balance, Yoga, etc.), sessões de ginástica laboral, realização de rastreios (com sinalização e acompanhamento dos colaboradores em risco), tais como Colesterol, Tensão Arterial, Monóxido de Carbono no ar expirado, Índice de Massa Corporal,


saúde no trabalho

Fonte: C.M. Porto

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A Câmara Municipal do Porto promove programas com o objectivo de garantir o apoio social, a prevenção e a promoção da saúde e de estilos de vida saudável.

Osteoporose, Cancros da Próstata e da Mama, doenças Cardiovasculares. A abordagem integrada na promoção do bem-estar desenvolvida na DMRH é caracterizada, também, por ser um processo participado e partilhado pelas diferentes estruturas municipais mediante a identificação e co-responsabilização de colaboradores-chave que adequam e direccionam as acções previstas às respectivas especificidades (dimensão, grupos profissionais, entre outras). Ainda no contexto da prevenção e promoção da saúde dos colaboradores, são adoptadas medidas que visam a conciliação da vida profissional com a vida familiar, aspecto determinante para o bem-estar e qualidade de vida. Assim, tem sido implementado um conjunto estratégico de respostas, de incidência diversificada, que tende a contribuir para o equilíbrio dos interesses e necessidades pessoais dos colaboradores com os horários, exigências e condições de trabalho e, consequentemente, para o acréscimo da satisfação e da motivação. São assim disponibilizados um Jardim de Infância e um ATL, quatro refeitórios municipais e, ainda, de forma a contemplar outras áreas da vida dos colaboradores, são estabelecidos protocolos com entidades privadas, que proporcionam condições privilegiadas no acesso a produtos/serviços relacionados com a saúde e bem-estar (especialidades médi-

cas, exames complementares de diagnóstico, ginásios), com o lazer (agências de viagens, salas de espectáculos), entre outros. Simultaneamente, e porque a aposentação é perspectivada como uma componente activa do percurso do colaborador, foi criado, há já alguns anos, um programa específico direccionado aos colaboradores aposentados ou em processo de aposentação, designado “Porto Mais“, que actua em duas vertentes distintas: a pré-aposentação e a aposentação. Assim, no processo de preparação para a aposentação, procura-se desenvolver um conjunto de competências, facilitadoras da integração nesta nova etapa da vida e potenciadoras de um processo de envelhecimento saudável e activo. Neste contexto, é organizado, anualmente, um curso de preparação para a aposentação, com a participação de entidades externas de referência nesta área. As temáticas abordadas proporcionam aos participantes oportunidades de reflexão; pretendem contribuir para a definição de novos planos de vida e sensibilizar para as mudanças/alterações, sejam estas de ordem biológica, psíquica ou social, fornecendo estratégias essenciais para a gestão positiva desta mudança. Paralelamente, a manutenção da ligação dos colaboradores aposentados à CMP é consolidada, pela via da sua participação, numa base regular, nas iniciativas culturais

e recreativas, programadas pela DMRH. Anualmente, são convidados a participar na “Semana do Aposentado” e no “Almoço de Natal”, que para além da componente cultural, pretendem proporcionar momentos de convívio, espaços de reencontro e de troca de experiências, prevenindo o isolamento e promovendo o reforço do sentimento de pertença ao grupo e à CMP. Neste alinhamento, numa perspectiva da promoção da qualidade de vida e da autonomia pós-aposentação, foi constituído o grupo “Os Seniores da CMP”, vocacionado para o desenvolvimento autónomo de iniciativas de cariz sócio-cultural e para uma colaboração activa nos programas desenvolvidos pela DMRH, seja ao nível da organização, seja na participação nos próprios eventos. Mais recentemente, foi criado o projecto “Voluntariado Cultural”, que actua como mecanismo facilitador do exercício da cidadania, valorizando e potenciando a experiência de vida e os conhecimentos dos colaboradores aposentados, que investem o seu tempo no desenvolvimento de actividades de carácter educativo e de comunicação com o público dos museus municipais. Para além das evidentes maisvalias resultantes deste “intercâmbio”, o projecto contribui, de uma forma mais ampla, para a promoção de uma vida saudável, activa e, sobretudo, proactiva.

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medicamentos

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Mais medicamentos falsos em circulação

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ntre 2005 e 2006 houve um aumento de 384% nas apreensões de medicamentos contrafeitos nos países da União Europeia, de acordo com um relatório de 2007 da Comissão Europeia. O relatório europeu revela ainda que em 2007 foram apreendidos 4.081 milhões de medicamentos contrafeitos, o que representa um aumento de 51% em relação a 2006. A globalização no mercado da indústria farmacêutica tem aspectos muito positivos, mas também diminui as barreiras co-

merciais e facilitando a circulação de bens e serviços. As autoridades europeias estimam que a contrafacção de medicamentos afecte 8% a 10% do mercado mundial. As regiões mais afectadas são a África, Ásia e América do Sul. A Internet é um meio fácil para se fazer circular medicamentos contrafeitos. De acordo com o Infarmed, dos 85 medicamentos vendidos pela Internet que foram analisados por esta autoridade farmacêutica, 79 eram contrafeitos. Um estudo da Europe Economics, uma

consultora económica europeia, de Maio de 2008, concluiu que é urgente proibir-se a re-embalagem e a re-rotulagem, assim como assegurar que as embalagens originais não são abertas antes de chegarem ao doente. Apesar das normas da Comissão Europeia que regulamentam a contrafacção, a indústria farmacêutica considera que ainda há alguns problemas, como refere Rui Ivo, director executivo da Apifarma. Um deles é o facto de a Comissão Europeia não prever a proibição da reembalagem. MJG

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www.hospitaldofuturo.com


perspectivas

«Os cidadãos devem poder optar sem constrangimentos entre os sectores público e privado da saúde»

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a semana em que se realizou nos Hospitais da Universidade de Coimbra o congresso evocativo dos 30 anos do Serviço Nacional de Saúde (SNS), esteve em Portugal o ex-secretário de Estado da Saúde britânico (cargo equivalente ao Ministro da Saúde português) responsável pela modernização do britânico National Health Service (NHS), que servirá de modelo ao SNS. Para John Reid, é necessário permitir que os cidadãos possam escolher o prestador de cuidados de saúde, público ou privado; e, em consequência, introduzir competição no sistema. No domínio da gestão da Saúde, quais as novas soluções britânicas que aconselharia a Portugal? Não é suposto dizer aos portugueses que caminho devem seguir. Contudo, em ambos os países é enorme a pressão sobre os recursos. Uma das formas de lidar com isso é promover a eficiência através da competição; é colocar os sectores público e privado ao mesmo nível. O que desejo com isso é que o comum dos cidadãos esteja em condições de escolher o hospital onde quer ser tratado e quando o deseja ser. As pessoas merecem-no e o nível de satisfação de todos em relação aos serviços aumentaria. Por que defende a liberdade de escolha dos cidadãos e a

concorrência entre instituições? Qualquer monopólio, seja ele público ou privado, tem a tendência para ser pouco dinâmico, avesso à mudança e servir pior as pessoas. No caso do Reino Unido, o que fizemos com as reformas no serviço de saúde foi permitir às pessoas escolher o hospital onde desejam ser tratadas, seja num público ou num privado. E em vez de pagarmos aos hospitais sem olharmos para os serviços que efectivamente faziam, começamos a pagar em função dos tratamentos que prestam. Todos ganharam com essas mudanças, sobretudo os cidadãos, porque passaram a beneficiar de tratamentos com menor tempo de espera e com mais qualidade. E fez-se isso sem colocar em causa os princípios fundadores do NHS, que são os mesmos do SNS: um acesso gratuito e universal. Na prática, o que se ganhou com a total liberdade de escolha dos cidadãos?

Anteriormente, esta era uma vantagem exclusiva dos mais abastados e bem relacionados. Os ricos sempre tiverem direito de escolha. Agora, todos os outros também têm, porque todos os hospitais privados que correspondem aos padrões e preços do NHS também estão acessíveis. O cidadão tem o direito de escolher e o dinheiro vai para onde o doente for. Isto é que é colocar o doente no centro do sistema. Por outro lado, a qualidade melhorou em termos de espera, serviço personalizado e uso eficiente de recursos escassos. Este sistema não pode conduzir a uma situação similar à dos EUA, em que existe uma dependência dos seguros de saúde para cuidados mais céleres? Claro que não. Primeiro porque o dinheiro vem dos impostos gerais. Depois, todos os cidadãos estão abrangidos pelo sistema. Por fim, a prestação de cuidados médicos, qualquer que seja o local, é gratuita. Todos os hospitais privados praticam preços standard e os valores que recebem por cada acto são provenientes do orçamento público, financiado pelos impostos e não pelo bolso de cada cidadão. Na prática, há parceria entre público e privado sob controlo do Estado. O Estado tem o dinheiro e define orientações estratégicas.

Publi-reportagem: APHP

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