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1 Tipos e Características de Recursos Ergogênicos

João Carlos Bouzas Marins

Q introdução

A busca por estratégias que visem à melhora do rendimento físico ocorre há muitos séculos. Existem, por exemplo, relatos históricos bem documentados de que, na cultura grega, havia recomendações de certos tipos de alimentos que deveriam ser consumidos para aprimorar o desempenho de atletas nos Jogos Olímpicos da Antiguidade.1,2 Da mesma forma, na cultura romana, os gladiadores e soldados deveriam ter determinado padrão alimentar antes das guerras para melhorar as habilidades de guerreiros.3 Em algumas culturas indígenas, o consumo de certos chás e a inalação de ervas também faziam parte da cultura local para aumentar o rendimento.1,4,5 Durante a Segunda Guerra Mundial, o uso de anfetaminas foi estimulado pelos soldados com o claro objetivo de aumentar a capacidade de resistência em combate.2 Isso torna claro que a busca por superar os limites físicos não é um fenômeno contemporâneo, é da própria natureza humana.

Com os Jogos Olímpicos da época moderna, desde os primeiros eventos existem relatos de atletas que consumiram “produtos milagrosos”, principalmente em provas como maratona, ciclismo e levantamento de peso olímpico (LPO).1

Contudo, após a Segunda Guerra Mundial, quando o esporte foi utilizado como meio de propaganda de viés político, surgiram com muita frequência estratégias, principalmente farmacológicas, que visavam desenvolver o rendimento do atleta de modo totalmente artificial, ou seja, a saúde era o que menos importava. Assim, esteroides anabólicos e testosterona foram amplamente utilizados para aumentar o ganho de potência muscular, fator determinante em provas anaeróbicas. Somente em 1962, antes dos Jogos Olímpicos de Tóquio em 1964, O Comitê Olímpico Internacional iniciou uma proposta de combate ao doping, dando origem aos primeiros controles do tipo nos Jogos Olímpicos da Cidade do México, em 1968.1 Ao longo das últimas décadas, dezenas de atletas foram “pegos” por uso de estratégias proibidas, perdendo suas medalhas e seus recordes. Atualmente, a Agência Mundial Antidoping (WADA; do inglês, World Anti-Doping Agency) possui uma estrutura tecnológica que conta com o apoio de governos e do esporte em geral na tentativa de promover o “jogo limpo”, o que tem dificultado que o sucesso de um atleta ocorra por meios artificiais.

É possível conceituar recurso ergogênico (RE) como: “uma ação ou estratégia que busca

Estudos com realização de biopsia muscular encontraram fortes evidências do aumento de GM com esse tipo de estratégia (Figura 1.4), o que, na prática, originou o folclore da “noite de massas” na véspera de uma competição de longa distância. Isso, de fato, não deixa de ser uma conduta correta, mas na realidade deveria ser nos três dias que antecedem a prova e se chamar “dias de massa”.

Essa manipulação dietética apresentava como benefício maior capacidade atlética de forma lícita, aumentando a capacidade temporal e/ou de intensidade do exercício; em contrapartida, provocava alguns efeitos indesejáveis em alguns atletas, tais como:

 Mioglobinúria.

 Alterações no eletrocardiograma (ECG).

 Desconforto gástrico.

 Dores torácicas.

 Aumento da massa corporal.

 Alterações na palatabilidade.

Segundo Liebman & Wilkinson (1996),9 outros sintomas também podem aparecer, como hipoglicemia, irritabilidade e fadiga crônica. Cabe destacar ainda que essa manipulação aguda nas duas fases propostas compreende uma ruptura completa do padrão alimentar habitual do atleta, o que pode afetar seu estado anímico. Por último, é importante ressaltar que esse tipo de estratégia não pode ser mantido por muito tempo, já que pode provocar carências nutricionais importantes.

A estratégia apresentada nas Figuras 1.2 e 1.3 foi amplamente empregada até o início dos anos 1980. Sherman et al. (1981)10 realizaram um experimento que comprovou não haver a necessidade da fase de manipulação dietética dos primeiros três dias, sendo, assim, menos agressiva para o atleta.10 Eles mantiveram a dinâmica de exercícios conforme a programação inicial (Figura 1.4), mas utilizaram apenas a fase aguda da sobrecarga de