Correio de Venezuela 865

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ANO 22 • DEPÓSITO LEGAL: 199901DF222

Edição Especial #865 - 10 de Junho de 2020

NÃO HÁ GENTE COMO A GENTE


QUINTA-FEIRA 10 DE JUNHO DE 2021 CORREIO DA VENEZUELA /# 865

2 | DESTAQUES

FRASE DESTACADA

MENSAGEM ESPECIAL

MARCELO REBELO DE SOUSA

Caras e caros compatriotas,

PRESIDENTE DA REPÚBLICA DE PORTUGAL “É necessário agir em conjunto com organização, transparência eficácia, responsabilidade e resultados duradouros. Que tudo façamos para o conseguir. Deixo um apelo à convergência para aproveitar recursos e não uma chuva de benesses para alguns que se veja com olhos de interesse colectivo e não com olhos de egoísmo pessoais ou de grupo (...) Esta terra de emigração, de partida, impõe que levemos mais longe o que nos liga às comunidades. É necessário prosseguir e melhorar o que já fizemos no ensino da língua de Camões, na proteção social, nas condições efetivas que damos no voto, desde os tempos em que negávamos nas presidenciais, de modo a que não se tenha de percorrer milhares de quilómetros para o exercer. É necessário o povo português ultrapassar um estranho complexo que de vez em quando ainda nos domina, a nós que não conhecemos uma família que não tenha, pelo menos, um dos seus lá fora”.

FOTOFLASH

Neste Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, dirijo-me a vós a partir dos Estados Unidos da América, onde neste ano celebrarei o 10 de junho com a comunidade portuguesa. Junto-me assim a uma festa que acontece pelo mundo inteiro e que tem os portugueses, em particular aqueles que residem no estrangeiro, como seus protagonistas e grandes dinamizadores. Onde está um português está Portugal. Hoje celebramos esse Portugal no Mundo, nos 5 continentes e em mais de 100 países. Lembramos hoje as primeiras gerações de emigrantes que partiram para os Estados Unidos, o Brasil, o Canadá, a Venezuela e outros países, em busca de uma vida melhor, como lembramos os seus filhos e netos ou tantos jovens graduados e pós-graduados portugueses que vivem hoje em mobilidade constante. Com todos eles, que hoje celebramos, deve existir um diálogo permanente, quotidiano, olhando para o futuro sem esquecer o passado: - Preservando a memória através da museologia, da literatura ou das tradições que o movimento associativo mantém vivas; - Criando e reforçando as redes científicas, culturais, económicas e sociais entre o país e a diáspora; - Prestando serviços de qualidade nos postos consulares no estrangeiro; - Reforçando os vínculos que ligam portugueses e lusodescendentes ao país, através do ensino da língua portuguesa, da ação cultural externa, do incentivo ao investimento e do apoio ao movimento associativo. A Diáspora, um importante ativo estratégico do nosso país, tem a particularidade de nos le-

var ao mundo devolvendo-nos a Portugal, fazendo-nos avançar sem deixarmos, contudo, de refletir sobre o país que somos. Permitam-me que manifeste a minha alegria pelo regresso das visitas às comunidades e da oportunidade de, como aqui, nos Estados Unidos, ouvir as suas histórias, conhecer os seus feitos, o seu dia-a-dia e, uma vez mais, ver a sua capacidade de resiliência e a sua coragem. Em tempos pandémicos, essas características foram especialmente evidentes: no esforço que fizeram para manter a distância aos amigos e familiares que os esperavam em Portugal, no exemplo que deram de entreajuda e solidariedade nos países de acolhimento; e no facto de termos tantas e tantos portugueses notáveis, que estiveram e estão na linha da frente do combate a pandemia e que hoje saudamos em particular: médicos, enfermeiros, investigadores, alguns deles com importantes contributos para desenvolvimentos das vacinas contra a Covid19, auxiliares de saúde e todos os que contribuíram para combater esta situação que ainda nos afeta, mas que esperamos que progressivamente possamos ultrapassar e retomar a normalidade. Celebremos hoje as comunidades portuguesas e a língua de Camões, sem as quais não saberíamos o que é Portugal ou ser português no mundo. Feliz 10 de junho para todas e para todos.

BERTA NUNES

SECRETARIA DE ESTADO PARA AS COMUNIDADES PORTUGUESAS

PORTUGAL EM NÚMEROS Honrar a nossa Pátria. Esta é uma semana de grande intensi-

Rif.: J-40058840-5

dade de acontecimentos nas Comunidades Portuguesas. Naturalmente que o tema é transversal a todos os que têm (e sentem) Alma Lusíada, mas ainda mais especial para aqueles que passam por momentos menos bons fora da sua terra natal. Contudo, é tempo de perseverança, de luta e de ganhar ânimo para enfrentar com destreza e racionalidade o futuro. É esta a mensagem que se deve deixar a todos os nossos compatriotas que um dia optaram por viver noutra terra, por procurar um futuro melhor, e que se incluíram entre outros povos, com uma atitude afirmativa de cooperação e de fraternidade, contribuindo para o bem estar e para o regresso de outros países que, hoje assumem, também, como seus. Honramos a nossa Pátria e queremos honrar o nosso compromisso com quem nos acolhe.

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Diretor Aleixo Vieira Sub Diretor: Sergio Ferreira Soares Endereço: Av. Veracruz. Edif. La Hacienda. Piso 5, ofic. 35F. Las Mercedes, Caracas. Telefones: (0212) 9932026 / 9571 E-mail: editorial@correiodevenezuela.com

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cidadãos residiam em Portugal no ano 2019 segundo dados do Instituto Nacional de Estatística

+5.700.000 portugueses residem no estrangeiro, e contarmos com as diferentes gerações de lusodescendentes

700.000

euros serão distribuídos entre 65 associações da diáspora em 17 países em 2021

170.000

alunos frequentam as aulas de Língua Portuguesa no estrangeiro

7,1%

foit a Taxa de desemprego registada no primeiro Trimestre do ano 2021

0,55%

foi a variação do Índice de preços no consumidor durante o mês de Abril de2021

Chefe de redação Sergio Ferreira |Jornalistas Oscar Sayago, Ommyra Moreno, Delia Meneses, Julio Materano, Andreína Mendes, Antonio Da Silva |Correspondentes Edgar Barreto (Falcón), José Manuel De Oliveira (Falcón), Carlos Balaguera (Carabobo), Trinidad Macedo (Lara), Silvia Gonçalves (Bolívar), Mariana Santos (Nueva Esparta), Luis Canha (Mérida), Carlos Marques (Mérida), Antonio Dos Santos (Zulia) |Colaborações Catanho Fernandes, Sónia Gonçalves, Cristina Da Silba Bettencourt, Arelys Gonçalves, Serafim Marques, António Delgado, Daniel Bastos, Ana Cristina Monteiro |Paginação Franklin Lares |Fotografia Agostinho Perregil |Administração Jesús Quijada, M. Liliana Batista |Distribuição Luis Alvarado, Carlos A. Perregil R. |Tiragem 15.000 exemplares |Fontes de Informação Lusa, Diário de Notícias, DN Madeira, Portuguese News Network e outras publicações.


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4 | DIA DE PORTUGAL

10 de Junho: Uma data com história A efeméride nacional nem sempre foi conhecida como na atualidade Portugal é um dos poucos países do Mundo que dedica o seu dia nacional a uma data relacionada com a Cultura, dia apontado para a morte de Camões, e não a um facto da sua História. Mas o dia 10 de Junho nem sempre foi conhecido como na atualidade. A primeira referência legal que declara “Dia de Festa Nacional e de Grande Gala” o 10 de junho data de 27 de abril de 1880. É um decreto das Cortes Reais em que o rei D. Luís I acedeu a que se assinalassem os 300 anos da data apontada pelos historiadores para a morte de Luís de Camões, 10 de junho de 1580. Após a queda da Monarquia e a implantação da República, em 1919, na primeira lista de feriados nacionais elaborada pelo Governo, não aparece ainda o 10 de Junho, mas o decreto 17.171, de 29 de agosto de 1919, consagrava-o como feriado. Durante o regime ditatorial do Estado Novo de 1933 até à Revolução dos Cravos de 25 de Abril de 1974, o dia 10 de Junho era celebrado como o “Dia da Raça: a raça portuguesa ou os portugueses”. Foi aproveitado para exacerbar as características nacionais. Como Camões foi uma figura emblemática, associada aos Descobrimentos, foi usado como forma de o regime celebrar os territórios coloniais e o sentimento de pertença a uma grande nação espalhada pelo mundo, com uma raça e língua comum. O 10 de Junho é estipulado como feriado, na sequência dos trabalhos legislativos após a implantação da República a 5 de Outubro de 1910. No decorrer desses trabalhos legislativos, foi publicado um decreto a 12 de Outubro, que definia os feriados nacionais. Alguns feriados foram eliminados, particularmente os religiosos, de modo a diminuir a influência da Igreja Católica e com a intenção de consolidar a laicização da sociedade. O decreto que definia os feriados nacionais dava ainda a possibilidade dos municípios e concelhos escolherem um dia do ano que representasse as suas festas tradicionais e municipais. Lisboa escolheu para feriado municipal o 10 de Junho, em homenagem a Camões, uma vez que a data é apontada como sendo a da morte do poeta. O que seria apenas um feriado municipal passa a ser exaltado com o Estado Novo. Assim, a partir desse momento o Dia de Camões passou a ser celebrado a nível nacional. Mas não ficou por aqui: até ao 25 de Abril, o 10 de Junho era conhecido como o Dia de Camões, de Portugal e da Raça, este último epíteto criado por Salazar na inauguração do Estádio Nacional do Jamor em 1944. A

partir de 1977 este dia fica designado como Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. No Decreto-Lei n.º 39-B/78 de 4 de março, lê-se: “O dia 10 de Junho, Dia de Camões e das Comunidades, melhor do que nenhum outro, reúne o simbolismo necessário à representação do Dia de Portugal. Nele se aglutinam em harmoniosa síntese a Nação Portuguesa, as comunidades lusitanas espalhadas pelo Mundo e a emblemática figura do épico genial”. Ficava, assim, batizado o “Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas”. Neste dia o Presidente da República e altas individualidades do Estado participam em cerimónias de comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, que decorrem em cidades diferentes todos os anos. Anualmente são distinguidas novas individualidades pelo seu trabalho em nome da nação. O poeta da epopeia dos Descobrimentos Luís Vaz de Camões, autor do poema Os Lusíadas, uma das obras mais importantes da literatura portuguesa, que celebra os feitos marítimos e guerreiros de Portugal, nasceu em Lisboa, Portugal, por volta de 1524. Era filho de Simão Vaz de Camões e Ana de Sá e Macedo, aparentada com a casa de Vimioso, da alta nobreza portuguesa, e sobrinho de D. Bento de Camões, cônego da Igreja de Santa Cruz de Coimbra. Em 1527, durante uma epidemia de Peste, em Lisboa,

D. João III e a corte transferiram-se para Coimbra, e Simão, a mulher e o filho, com apenas três anos, acompanharam o rei. Luís de Camões viveu sua infância na época das grandes descobertas marítimas. Foi aluno do colégio do convento de Santa Maria, tornando-se um profundo conhecedor de história, geografia e literatura. Em 1537, D. João III transferiu a Universidade de Lisboa para Coimbra. Camões iniciou o curso de Teologia, mas levava uma vida irrequieta, desordeira, além da fama de conquistador, mostrando pouca vocação para a Igreja. Em 1544 deixou as aulas de teologia e ingressou no curso de filosofia. Já era conhe-

cido como poeta. Com 20 anos, encontra-se com D. Catarina de Ataíde, dama da rainha D. Catarina da Áustria, esposa de D. João III e, desse encontro nasce uma ardente paixão, mais tarde imortalizada pelo poeta, que se referia à dama do paço, com o anagrama “Natércia”. Em um sarau, seguido de um torneio poético, o espanhol Juan Ramon, sobrinho de um professor da Universidade, sentiu-se ofendido por causa dos versos de Camões. Seguiu-se um duelo e o espanhol saiu ferido, o que terminou na prisão do poeta, sob o protesto dos estudantes. No final de muitas discussões, Camões é perdoado, com a condição de ser desterrado durante um ano em Lisboa. Na capital, era perseguido por outros poetas, sendo vítima de muitas intrigas para desprestigiá-lo e afastá-lo da corte. Para fugir das perseguições, em 1547, Camões resolve embarcar, como soldado, para a África. Serviu dois anos em Ceuta. Combateu contra os mouros e durante uma briga perdeu o olho direito. Em 1549, Camões retorna para Lisboa, onde é conhecido pela sua vida pouco comedida e chega a ser preso devido a um assalto em que participa. Perdoado por D. João III parte para o Oriente, onde vai ficar por quase duas décadas. Em 1569, Camões resolve voltar para Portugal e embarca na nau Santa Fé, levando consigo um escravo, que lhe acompanhou até seus últimos dias. Chega a Cascais em 7 de abril de 1570. Depois de 16 anos, estava de volta à sua pátria. Em 1572, publica seu poema Os Lusíadas. Com o sucesso, Camões recebe do rei D. Sebastião uma pensão anual, que mesmo assim não o livrou da extrema pobreza em que vivia. Luís de Camões morreu em Lisboa, Portugal, no dia 10 de junho 1580, em absoluta pobreza. Teria sido enterrado em cova rasa. Mais tarde, em 1594, Dom Gonçalo Coutinho, mandou esculpir uma lápide com os dizeres: “Aqui jaz Luís de Camões, Príncipe dos Poetas do seu tempo. Viveu pobre e assim morreu”.


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Um pequeno país, com uma gigante diáspora Se contarmos com os lusodescendentes, a população portuguesa nos países de emigração atinge quase os 6 milhões de pessoas Desde 1978 que as comunidades portuguesas são associadas ao Dia de Portugal, reflexo do reconhecimento do seu significado para o país, da valorização da sua ligação ao país de origem e do contributo que podem dar enquanto presença portuguesa no estrangeiro e do papel que desempenham nas relações entre os povos. As comunidades portuguesas no mundo são um dos mais importantes ativos estratégicos da política externa do Estado português e são a mais forte manifestação do Portugal global. Constituem a porta de entrada de Portugal no mundo globalizado e, simultaneamente, a introdução do mundo nos territórios locais e regionais. O número de portugueses que residem fora do país é um número expressivo, que resulta de várias vagas migratórias, diferentes entre si no tempo, nas razões que levaram à partida, nas geografias de destino e até no perfil económico, social e das qualificações dos emigrantes. De resto, as vagas mais recentes de emigração portuguesa apresentam um nível de formação mais elevado, em linha com o aumento do nível educacional que se registou em Portugal. Portugal tem registo consular de portugueses em 178 dos 193 países que fazem parte das Nações Unidas. Entre um quinto e um quarto da população nascida em Portugal reside fora do país: viverão hoje no globo mais de 2,5 milhões de emigrantes portugueses. Se contarmos com os lusodescendentes, a população de origem portuguesa nos países de emigração ultrapassa os 5,7 milhões, cujos principais países de fixação são: Estados Unidos da América, Brasil, França, Canadá, Suíça, Venezuela, Reino Unido, África do Sul, China, Alemanha, Espanha, Luxemburgo, Bélgica e Austrália. É assim um “pequeno país” com uma “gigante diáspora”. “Isso significa metade da população portuguesa e um terço dos nacionais portugueses ou de pessoas que o podem ser a qualquer momento (...) e dá uma dimensão muito importante às comunidades portuguesas que residem no es-

trangeiro e faz da relação com essas comunidades um eixo central de qualquer política pública. Somos 15 milhões de portugueses hoje no mundo” assegurou o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva. Importância das Comunidades A importância das Comunidades Portuguesas no estrangeiro é visível em todos os domínios: na afirmação da língua portuguesa como língua de comunicação internacional; na sua relevância económica, visível, por exemplo, no facto das remessas de emigrantes representarem 1,7% do Produto Interno Bruto (PIB) português; ou até na afirmação que os nacionais conseguem nos países de acolhimento, como atestam as centenas de portugueses e lusodescendentes eleitos ou nomeados para cargos públicos no estrangeiro em 2019. O movimento associativo nas comunidades portuguesas no mundo conta com mais de 2.000 associações. Em 2018 foi atribuído um apoio de 305 mil euros a 61 candidaturas, no marco do concurso anual de apoio ao movimento associativo das comunidades portuguesas. Em 2019 foram apoiadas 92 candidaturas com 588 mil euros e, em 2020, 79 candidaturas com 503 mil euros. Segundo dados ainda preliminares, em 2021 mais de 700 mil euros serão distribuídos por 101 candidaturas propostas por 65 associações de 17 países. Considerando que a língua portugue-

dras e 174 bolsas de estudo. A rede EPE oficial está presente em 11 países (Alemanha, Bélgica, Espanha, França, Luxemburgo, Países Baixos, Reino Unido, Suíça, África do Sul, Namíbia e Zimbabué). Estende-se ainda à Austrália, Canadá, Estados Unidos e Venezuela (em forma de rede apoiada), onde o ensino é assegurado por docentes locais, com o apoio material e pedagógico das Coordenações de Ensino do Camões, I.P.

sa é um elo fundamental de ligação do país às comunidades portuguesas, o Camões – Instituto da Cooperação e da Língua é responsável pela coordenação e articulação da política externa do Governo nas áreas da cooperação internacional e da promoção da língua e cultura portuguesas. Através do Instituto Camões, a língua portuguesa é ensinada em 76 países com 320 professores, 170 mil alunos (dos quais 70 mil no pré-escolar, básico e secundário), 84 centros de língua portuguesa, 51 leitores, 57 cáte-

Estudo aponta para 31 milhões O total de portugueses e luso-descendentes no Mundo, até à terceira geração, poderia vir ser superior a 31 milhões. A conclusão é do estudo ‘Emigração: A diáspora dos portugueses’, realizado pelo empresário Adriano Albino, que fez um levantamento dos portugueses que emigraram entre 1951 e 1965, através de entrevistas e recolha de dados. O estudo teve em consideração o nome do emigrante, o estado civil, a data de chegada, a cidade de origem, o número de filhos, netos e bisnetos, de cada uma das regiões do Mundo. Partindo dos emigrantes originais registados nas estatísticas oficiais, o autor conseguiu calcular um coeficiente multiplicador dessas famílias que chegaram aos vários pontos do Mundo. ‘Isto é o resultado de muita investigação, de convivência com a comunidade portuguesa. Se não houvesse essa diáspora, Portugal teria mais de 40 milhões de habitantes’, garantiu Albino.


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Uma nação cheia de factos curiosos Portugal é um país especial repleto de caráter, peculiaridades e tradições que o moldam

com as novas riquezas e adornos vindas do oriente, que saía à rua em pleno inverno, aquando do seu aniversário a 21 de Janeiro. A comitiva ficava manifestamente suja, daí a decisão de calcetar as ruas do percurso como forma de dar resposta ao problema. A livraria mais antiga está em Lisboa Sendo uma nação de apaixonados por livros, não é de surpreender que a livraria mais antiga do mundo esteja situada em Lisboa. Datada de 1732, a Bertrand Chiado na Rua Garrett é a mais antiga livraria em funcionamento. A livraria original foi aberta por Pedro Faure na Rua Direito do Loreto. Este esperava que a sua livraria se tornasse num centro de eventos intelectuais e artísticos. Faure foi bem-sucedido, mas, em 1775, o Grande Terramoto de Lisboa praticamente destruiu a loja. Desanimado, Faure vendeu a livraria aos Irmãos Bertrand, que a transferiram temporariamente, tendo regressado 18 anos depois à zona da Baixa de Lisboa.

Enquanto umas das nações mais antigas na Europa, Portugal teve a sua génese em 1139. Desde 1297, altura em que os portugueses e os espanhóis assinaram um tratado que cedia o Algarve a Portugal, as suas fronteiras têm permanecido praticamente inalteradas. O primeiro rei, Afonso I Henriques, chegou ao poder em 1143, tendo o país permanecido um reino até 1910, altura em que se tornou república. Em 1494, foi assinado o Tratado de Tordesilhas que, essencialmente, deu a Portugal a metade oriental do “Novo Mundo”, incluindo o Brasil, a África e a Ásia. O Império Português foi o primeiro império global, e uma das mais antigas potências coloniais, que durou quase seis séculos desde que Ceuta foi capturada em 1415, até que Macau foi entregue à China em 1999. Portugal é um país pequeno tanto em tamanho, quanto em população. É possível cruzar o país em um dia: são 721 km de estradas de uma ponta a outra. Para além destes dados, do conhecimento de todos, Portugal é um país repleto de curiosidades que valem sempre a pena conhecer. Lisboa destruída por um terramoto A 1 de novembro de 1755, durante a celebração religiosa do Dia de Todos os Santos, às 9:40, Lisboa foi atingida por um terremoto de magnitude 9,0. Os relatórios da época indicam que o terramoto durou entre três e seis minutos e criou fissuras com 5 metros de largura no centro da cidade. Aproximadamente 40 minutos após o terramoto, um tsunami engoliu a zona portuária e a baixa, continuando a subir pelo rio Tejo. Para agravar a situação, as velas que tinham sido acesas por toda a cidade nas casas e nas igrejas para o Dia de Todos os Santos foram derrubadas devido ao terramoto, provocando assim inúmeros incêndios. À medida que o tsunami recuava, a cidade começou a arder violentamente durante horas, asfixiando as pessoas até 30 metros de distância das chamas. Morreram 275.000 pessoas e 85% dos edifícios foram destruídos. Sendo Lisboa a capital de um devoto país católico, com uma longa história de evangelismo nas colônias, esta catástrofe causou muitos obstáculos à Igreja Católica, que não conseguiu explicar esta manifestação da raiva de Deus. Primeiros pastéis feitos no século XIII Os pastéis de nata são a sobremesa favorita de Portugal e tem sido assim desde o século XIII, pois, segundo consta, foram criados por monges no Mosteiro dos Jerónimos em Lisboa. Aparentemente, os monges tinham-se estabelecido em França

Primeiro alfabeto de Trás-os-Montes Os historiadores aceitam o Fenício como o alfabeto mais primitivo que se conhece, com cerca de 5 mil anos de antiguidade. Começam, no entanto, a surgir outras hipóteses, levantadas sobretudo por achados arqueológicos ainda por decifrar, que apontam para um surgimento anterior aos Fenícios e, o Alfabeto do Alvão, com 6 mil anos, é o melhor candidato a ser considerado o Alfabeto mais antigo do mundo. Nos finais do século XIX, no Nordeste de Portugal, nas mágicas terras de Trás-os-Montes, encontraram-se, junto a um dólmen, uma série de pedras esculpidas e gravadas com signos idênticos aos de Glozel. quando se inspiraram na deliciosa pastelaria disponível. Precisavam de encontrar uma forma de utilizar as gemas dos ovos que sobravam quando as separavam das claras para obter a goma para a roupa. Após a Revolução Liberal em 1820, o mosteiro estava em risco de encerrar e, como tal, os monges começaram a vender os pastéis de nata a uma refinaria de açúcar nas redondezas. Em 1834, o mosteiro acabou por fechar e a receita foi vendida à referida refinaria de açúcar. Três anos depois, os donos da refinaria abriram a Fábrica de Pastéis de Nata de Belém, que continua a funcionar até hoje e é gerida pelos descendentes dos donos originais. Lisboa não é a capital oficial Ao longo dos seus 900 anos de histórias, Portugal já teve 5 cidades como capital: Guimarães, Coimbra, Lisboa, Rio de Janeiro e Angra do Heroísmo. Estas 2 últimas cidades foram capitais do país em situações históricas muito complicadas, a primeira durante as invasões francesas e a segunda durante a guerra entre liberais e absolutistas. Em 1255, o Rei D. Afonso III resolveu mudar toda a sua corte da antiga capital,

Coimbra, para Lisboa, que, entretanto, se tinha tornado a maior e a mais importante cidade do país. Lisboa ganhou impulso para o seu crescimento sobretudo devido às boas condições do seu estuário para acolher navios de mercadorias, atraindo assim cada vez mais população e ganhando um estatuto e uma importância estratégica superiores a Coimbra. Assim sendo, Lisboa tornou-se Capital de facto pela simples razão de se ter tornado a moradia do Rei. Nunca foi emitido qualquer documento que oficializasse Lisboa como capital. Calçada criada para um rinoceronte A calçada começou em Portugal de forma diferente da que hoje é, mais desordenada. São as cartas régias de 20 de Agosto de 1498 e de 8 de Maio de 1500, assinadas pelo rei D. Manuel I de Portugal, que marcam o início do calcetamento das ruas de Lisboa, mais notavelmente o da Rua Nova dos Mercadores (antes Rua Nova dos Ferros). O objectivo seria que a Ganga, um rinoceronte branco, ricamente ornamentada, não sujasse de lama com o calcar das suas pesadas patas, o numeroso e longo cortejo, com figurantes aparatosamente engalanados

Português é idioma oficial de 9 países Tendo sido anteriormente um império global, não é de surpreender que o português enquanto idioma tenha viajado para lá das costas de Portugal. Na verdade, afirma-se que o português é a quinta língua mais falada do mundo (depois do mandarim, inglês, espanhol e árabe), com cerca de 273 milhões de falantes totais. O português é falado em 5 continentes e é a língua oficial não apenas de Portugal, mas também do Brasil, de Cabo Verde, de Angola, da GuinéBissau, de Moçambique, de São Tomé e Príncipe e da Guiné Equatorial. O idioma também é falado em Goa, em Macau e em Timor-Leste. O maior produtor de cortiça do mundo O sobreiro é uma das poucas árvores autóctones ainda existentes em Portugal e o país utiliza-o em seu benefício ao produzir 70% das exportações de cortiça do mundo. Os principais importadores de cortiça portuguesa são a Alemanha, o Reino Unido e os EUA. Portugal possui o maior sobreiral do mundo, sendo atualmente ilegal o abate de sobreiros sem autorização do governo.


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25 Patrimónios da UNESCO enchem de orgulho aos portugueses Portugal possui 17 bens e 8 patrimónios imateriais que chamam a atenção de nativos e estrangeiros

românticas de Portugal. Sintra foi um dos primeiros locais na Europa onde se ensaiou a arquitectura romântica, quando no século XIX D. Fernando II transformou as ruínas de um mosteiro em castelo, o actual Palácio da Pena, reunindo de forma genial elementos góticos, egípcios, islâmicos e renascentistas. Fazem ainda parte o Castelo dos Mouros e o Palácio da Vila.

Há 46 anos ativou-se a Convenção para a Proteção do Património Mundial Cultural e Natural, com o objetivo proteger o património cultural e natural ao longo dos anos para que a história e cultura nunca se percam. Com esta iniciativa chegou a conhecida “Lista do Património Mundial da Unesco», composta por monumentos e locais de grande riqueza natural e cultural. Mais de 186 países aderiram a esta Convenção, sendo Portugal um desses países. A UNESCO já efetuou 25 classificações de Património da Humanidade, entre centros históricos, sítios arqueológicos, paisagens culturais, parques naturais e património intangível. Estes contributos portugueses para a história mundial são de visita obrigatória e um bom pretexto para conhecer o país de norte a sul.

Centro Histórico do Porto Uma cidade que cresceu mantendo-se fiel à sua essência e características. O núcleo inclui: a Sé Catedral; o edifício do Palácio da Bolsa; a igreja de Santa Clara; as muralhas Fernandinas; a Igreja da Cedofeita, a Torre dos Clérigos, a Ponte Luiz I e o Mosteiro da Serra do Pilar. Aliás, é preciso atravessar o Douro para apreciar o casario colorido, que contrasta com o céu, e a autenticidade das ruelas que descem até à Foz. Sítios de Arte Rupestre do Vale do Côa No vale do rio Côa existe uma imensa galeria de arte rupestre, que se estende por vários quilómetros. Diz-se que este é o maior conjunto de arte paleolítica ao ar livre da Península Ibérica e um dos maiores do mungo. São milhares de gravuras e pinturas, registadas no xisto, de animais e figuras humanas, que conduziram à criação do Parque Arqueológico do Vale do Côa e, pouco depois, à classificação como Monumento Nacional em 1997 e Património da Humanidade pela UNESCO em 1998.

Centro Histórico de Angra do Heroísmo Escala obrigatória entre a Europa e outros continentes entre os séculos XV e XIX, quando apareceram os barcos a vapor, a maior cidade da ilha Terceira possui muitos vestígios desse áureo passado. Embora tenha saído fortemente danificada do terremoto de 1980, a cidade conserva ainda grandes monumentos com e 400 anos. Mosteiro dos Jerónimos Localizado ao pé do Rio Tejo e dos famosos Pastéis de Belém, é um local que chama a atenção pela magnitude, riqueza de detalhes e beleza única. O Mosteiro, erigido em memória do Infante D. Henrique, conserva ainda hoje grande parte das magníficas dependências conventuais que contribuíram para a sua fama internacional, incluindo o Claustro quinhentista, o antigo Refeitório dos frades e a sala da Livraria. Torre de Belém É um dos monumentos que caracteriza a identidade de Lisboa, símbolo da expansão marítima. Localizada à margem do Rio Tejo e construída para defesa da cidade, a Torre tornou-se posteriormente o local de onde partiram as naus dos Descobrimentos e retrata a extravagância que se vivia em Portugal na época em que o país era uma grande potência. Nós, cordas, esferas armilares e cruzes estão presentes na fachada. Mosteiro da Batalha De estilo gótico e manuelino, o Mosteiro

de Santa Maria da Vitória, conhecido como Mosteiro da Batalha, é um edifício majestoso construído como agradecimento pelo triunfo contra os espanhóis na Batalha de Aljubarrota, em 1385. Considerado “o” grande monumento do gótico português e um dos mais belos mosteiros da Europa do fim da Idade Média: o seu claustro real é uma obra-prima arquitetónica.

reis de Portugal, e em 1556 a instituição da Universidade veio reforçar ainda mais a importância cultural da cidade. Vale a pena visitar o seu centro histórico, com as casas caiadas de branco dos séculos XVI – XVIII, ornamentadas com azulejos e varandas de ferro forjado; a Praça do Giraldo, o Templo romano, a Sé e a Igreja de São Francisco (com a sua a arrepiante Capela dos Ossos).

Convento de Cristo Este monumento construído no século XII pela Ordem dos Templários, em pleno movimento de Reconquista, reflecte artisticamente a história de Portugal com testemunhos da arte românica, da simbologia templária, dos estilos gótico e manuelino, da arte do renascimento, do maneirismo e por fim, do barroco. De destacar a Charola Tamplária românica da igreja, o claustro de D. João III e a janela da Sala do Capítulo.

Mosteiro de Alcobaça Fundado no século XII, por ordem de D. Afonso Henriques, foi uma das primeiras fundações monásticas cistercienses em território português. Hoje, a Real Abadia de Santa Maria de Alcobaça continua a ser um dos mais bem preservados edifícios dessa ordem religiosa na Europa. O conjunto impressiona pela simplicidade e grandeza: para além dos emocionantes túmulos de D. Pedro e D. Inês, à sua beleza acresce a importância arquitectónica e cultural.

Centro Histórico de Évora Évora viveu a sua época dourada no século XV, quando se tornou residência dos

Paisagem Cultural de Sintra Uma das paisagens mais misteriosas e

Floresta Laurissilva da Ilha da Madeira A floresta primitiva da Madeira sobreviveu a cinco séculos de humanização, nas encostas viradas a norte, numa superfície que equivale a 20% da ilha: são quase 15.000 hectares de floresta húmida subtropical. Deve o seu nome ao tipo de árvores que a compõe: Lauráceas. A Laurissilva mantém ali as suas características subtropicais, representando a mais extensa e bem preservada mancha das ilhas atlânticas. Centro Histórico de Guimarães A cidade tem grande simbolismo na identidade portuguesa, por ter sido a origem da nação. Dominado por um majestoso castelo, Guimarães tem sabido “envelhecer”. Passou de povoação medieval a cidade moderna sem perder o seu charme e autenticidade, graças à preservação de ruas e edifícios, encontrando-se aqui edifícios que remontam quase à fundação de Portugal. Para além de visitar o Castelo e Paço dos Duques, vale a pena perder-se na atmosfera medieval das praças do centro. CONTINUA NA PÃGINA 12 ->


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Região Vinhateira do Alto Douro Criada por necessidade do Homem, de adaptar as suas necessidades agrícolas às encostas íngremes e solos acidentados do vale do Douro, é uma das regiões de produção agrícola mais importantes do país. A Região Demarcada do Douro é a mais antiga região vitícola regulamentada do mundo (séc. XVIII). O Homem foi abrindo socalcos para plantar as vinhas que emprestam cores diferentes à paisagem, em cada estação do ano. Um esforço que foi moldando o cenário em 13 concelhos e 24 mil hectares. Alguns vinhedos continuam a ser explorados por agricultores que ainda respeitam as técnicas de cultivo tradicionais. Vinha da Ilha do Pico A ilha do Pico, nos Açores, é um lugar engraçado de origem vulcânica. No seu solo escuro, aparentemente improdutivo, produz-se vinho de grande qualidade: mais um belo exemplo da capacidade de adaptação do Homem. As encostas até ao mar são ocupadas por 987 hectares de vinhas, separadas por muros de pedra negra, testemunho da labuta de gerações de pequenos agricultores que souberam criar algo único, num ambiente hostil. Casas particulares, solares do século XIX, adegas, igrejas e portos de mar tornam-na especial. Cidade-Quartel Fronteiriça de Elvas Perto da fronteira luso-espanhola, encontramos a maior fortificação abaluartada do mundo, com cerca de 10 km de perímetro e datada dos séculos XVII a XIX. Só do céu se percebe o formato de estrela desta construção do reinado de D. Sancho II, fundamental para a defesa da zona raiana. O sítio classificado pela UNESCO inclui o castelo, dois fortes, três fortins, igrejas, as muralhas, fossos secos e o grandioso aqueduto da Amoreira, com 843 arcos. Universidade de Coimbra, Alta e Sofia Situada no topo da colina que preside a

cidade e fundada em 1290, por iniciativa do rei D. Dinis, é uma das universidades mais antigas da Europa e foi, durante muitos séculos, a única universidade portuguesa. O valor patrimonial e cultural e científico é inestimável, não só no contexto nacional. A UNESCO classificou duas áreas: Alta (com a Biblioteca Joanina, o Pátio das Escolas, a Capela de São Miguel e a Torre do Relógio) e Sofia, na baixa de Coimbra, onde funcionaram várias várias escolas do século XVI. Real Edifício de Mafra – Palácio, Basílica, Convento, Jardim do Cerco e Tapada O contínuo fascínio que D. João V sentiu por Roma levou-o a contratar importantes artistas para Mafra, que, assim, se transformou num dos mais relevantes locais do Barroco italiano fora de Itália. O Real Edifício de Mafra, que inclui o Palácio, Basílica, Convento, Jardim do Cerco e Tapada, é uma das obras mais emblemáticas do século XVIII. Vale a pena demorar-se na monumental biblioteca, com um acervo que abrange mais de quatro séculos. Juntamente com o santuário de Bom Jesus, este foi o último lugar acrescentado à lista de Património Mundial da UNESCO em Portugal. Bom Jesus do Monte, em Braga Para além de ser um local de fé, o Santuário do Bom Jesus constitui um conjunto arquitectónico e paisagístico formidável, reconstruído e ampliado ao longo de mais de 600 anos, sendo definido por um longo e complexo percurso de vai sacra, que se estende pela encosta do Monte Espinho, conduzindo o peregrino por entre capelas que abrigam conjuntos escultóricos evocativos da paixão de cristo, fontes, estatuária e jardins formais. Vale a pena apreciar os estilos artísticos (barroco, rococó e neoclássico), mas também o simbolismo das imagens da longa escadaria e a engenharia do funicular hidráulico mais antigo do mundo. Oito Patrimónios imateriais da UNESCO

Para além dos lugares físicos, Portugal viu reconhecido pela UNESCO algum do seu património imaterial. O mais emblemático é o Fado (2011), com origem nos bairros históricos de Lisboa (Mouraria, Alfama, Bairro Alto e Madragoa), símbolo de Portugal e uma música do mundo. Cantando o amor, o ciúme e a desgraça, mas também a esperança, o sonho e, porque não, a história de um povo que de há séculos o elegeu como a sua canção mais representativa. O Fado apesar das suas humildes origens nas vielas e nas tascas da velha Lisboa, não tardou a conquistar adeptos entre a burguesia, toureiros e nobres, que o associaram ao casticismo das corridas de touros e lhe deram a senhoria dos palácios. Na área da música há ainda a destacar o Cante Alentejano (2014), expressão musical única da região do Baixo Alentejo. Faz parte da identidade da região porque é algo único, não só em Portugal como em todo o mundo. Cantado em coro, por grupos de homens e mulheres, sem recurso a instrumentos musicais, é uma das tradições mais genuínas do país. A Dieta Mediterrânica faz parte do bilhete de identidade da gastronomia portuguesa. A UNESCO considerou-a um estilo de vida, destacando o convívio, a celebração e a transmissão de saberes à mesa. Pão, azeite, vinho e peixe fazem parte de uma forma de comer que une Portugal a outros povos, o que resultou numa candidatura conjunta de sete países. Leia também: Tavira e a “obscure chamber” (a pequena cidade integrou a candidatura conjunta). Na área do artesanato tradicional, a UNESCO distinguiu o Fabrico de Chocalhos (2015), arte singular que existe na região do Alentejo há mais de dois mil anos. Este instrumento de percussão tem um som inconfundível e um papel fundamental na paisagem sonora das áreas dos pastores. Ofício importante na identidade da região, esta arte preserva-se ainda sobretudo nos concelhos de Estremoz, Reguengos

de Monsaraz e Viana do Alentejo, tendo sido passada de geração em geração. Acrescente-se ainda a olaria preta de Bisalhães (Vila Real, 2016), uma louça preta da aldeia de Bisalhães, no concelho de Vila Real, que continua a ser produzida com técnicas ancestrais. Por exemplo, é cozida na soenga, forno escavado no chão, que dá a cor negra ao barro. Depois de estar em brasa, a loiça é abafada com musgo e terra, adquirindo o seu aspecto final. É o homem que trabalha na roda de oleiro. Usa pedras do rio para fazer o polimento das peças, o brunido. É também com pedras que as mulheres voltam a polir e a decorar. A Produção de Figurado em barro de Estremoz (2017), vulgarmente conhecido como “Bonecos de Estremoz”, é uma arte popular com mais de três séculos. A UNESCO classificou esta arte de produzir figuras em barro cozido e policromadas, feitas à mão segundo uma técnica que remonta ao século XVII. Estão inventariadas mais de cem figuras diferentes e todos os dias se inventam novas temáticas, sempre relacionadas com o quotidiano das gentes alentejanas, na sua vivência rural e urbana. A lista de património mundial imaterial inclui ainda a arte da Falcoaria Real (Salvaterra de Magos, 2016). A falcoaria é uma modalidade de caça praticada em Portugal desde o século XII e assinalada no território desde a fundação da nacionalidade. Praticada por homens e mulheres um pouco por todo o país, a quem se dá o nome de falcoeiros, a sua prática manteve-se, em grande parte, inalterada ao longo dos séculos. Mais recentemente, a UNESCO somou o Carnaval de Podence (Macedo de Cavaleiros, 2019), enquanto manifestação ancestral carnavalesca, com os seus tradicionais “caretos”. Na origem, estavam associados à figura do “diabo à solta” e representavam os excessos, a euforia e a alegria permitidos nesta altura do ano, depois dos meses frios de Inverno, celebrando também a fertilidade da Primavera que se aproximava.


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Entre lendas e crenças populares No imaginário português existem centenas de histórias que fazem rica à cultura lusa

Lenda da Lagoa do Negro Esta lenda conta a história de como a Lagoa do Negro, na ilha Terceira, apareceu. Conta-se que, há séculos, existia uma família nobre na Terceira, com escravos negros. A única filha do patriarca era submissa e receava o pai, e aceitou sem questionar um casamento imposto. A moça, presa num casamento por conveniência do pai, apaixonou-se por um escravo, que também a amava. Um dia, uma aia que seguia a morgada para todo o lado, escutou os apaixonados a falar do seu amor, e foi contar ao seu amo. Este, vexado e enraivecido, ordenou que se prendesse o escravo. O homem, ao ouvir cães de caça e cavalos ao longe, percebeu que o buscavam e pôs-se em fuga. Fugiu pelos montes, até não mais conseguir correr, e deixou-se cair. Diz a lenda que o escravo começou a chorar tanto e com tanta tristeza, que as suas lágrimas fizeram nascer uma lagoa à sua frente. Assustado e encurralado, correu colina acima e atirou-se para a lagoa, onde morreu afogado.

A história de Portugal está repleta de pequenas lendas, algumas mais fantasiosas que outras e algumas sobre as quais não se sabe ao certo se foram acontecimentos verídicos ou não. São às centenas as lendas portuguesas, contos, ditos e crenças populares que fazem da nossa cultura tão rica e interessante. No imaginário português, estarão sempre lendas relativas a milagres e a feitos heróicos, más também histórias de vingança, justiça, amores impossíveis, amores perfeitos e acontecimentos verídicos mas com toques de imaginação, provavelmente para aumentar a carga dramática ou heróica do realmente sucedeu. Lenda do Galo de Barcelos Há muitos anos, uma família de peregrinos galegos foi hospedar-se numa estalagem de Barcelos. Conta-se que os habitantes andavam alarmados com um roubo e o galego se tornou suspeito. As autoridades resolveram prendê-lo, apesar dos seus juramentos de inocência. No entanto, acabou sendo condenado à morte na forca. O homem pediu que o levassem à presença do juiz que o condenara, onde voltou a afirmar a sua inocência e, perante a incredulidade dos presentes, apontou para um galo assado que estava sobre a grande mesa junto de outras iguarias, exclamando: - “É tão certo eu estar inocente, como certo é esse galo cantar quando me enforcarem!”. O juiz empurrou o prato para o lado e ignorou o apelo. Pois o que parecia impossível aconteceu, quando o peregrino estava a ser enforcado, o galo assado ergueu-se na mesa e cantou perante o espanto de todos os que zombaram do pobre galego. Compreendendo o seu erro, o juiz correu para a forca descobrindo que o galego se salvara graças a um nó mal feito. Anos mais tarde, o galego teria voltado a Barcelos para esculpir o Monumento do Senhor do Galo em louvor à Virgem Maria e a Santiago Maior. Desde então, o Galo de Barcelos passou a figura popular. Lenda da Mula da Rainha Santa D. Mafalda, filha preferida de D. Sancho I e irmã favorita de D. Afonso II, foi escolhida para mulher de D. Henrique, herdeiro do trono de Castela, que tinha apenas doze anos quando se tornou rei. D. Berengária, a mãe de D. Henrique, invocou ao Papa a consanguinidade dos jovens e o divórcio teve lugar ainda antes da súbita morte do rei, aos 14 anos. D. Mafalda viveu os últimos anos da sua vida no Mosteiro de Arouca, onde recebeu o hábito de monja, mas quis o destino que morresse em Rio Tinto, aos 90

Lenda do Milagre das Rosas Conta a lenda que o rei D. Dinis foi informado sobre as ações de caridade da rainha D. Isabel e das despesas que implicavam para o tesouro real. Um dia, o rei decidiu surpreender a rainha numa das suas habituais caminhadas para distribuir esmolas e pão aos necessitados. Reparou que ela procurava disfarçar o que levava no regaço. D. Dinis perguntou à rainha onde ia e ela respondeu que se dirigia ao mosteiro para ornamentar os altares. Não satisfeito com a resposta, o rei mostrou curiosidade sobre o que ela levava no regaço. Após alguns momentos de atrapalhação, D. Isabel respondeu: “São rosas, meu senhor!”. Desconfiado, o rei acusou-a de estar a mentir. Obrigou-a, a abrir o manto e revelar o que estava lá escondido. A rainha Isabel mostrou, perante os olhos de todos, as rosas que guardava no regaço. Por milagre, o pão que levava escondido tinha-se transformado em rosas.

anos. Conta a lenda que os habitantes sugeriram pôr-se o caixão em cima da mula de D. Mafalda: para onde ela se dirigisse seria o local da sepultura da “rainha”. Assim fizeram, a mula dirigiu-se para o Mosteiro de Arouca e morreu. O sepulcro de D. Mafalda foi por duas vezes aberto no século XVII e tanto o seu corpo como as suas vestes estavam incorruptos. Em 1793, o Papa Pio VI designou-a com o título de beata. Lenda da Senhora do Monte Conta-se que no final do século XV, a cerca de 1 quilómetro acima de onde se situa a igreja de Nossa Senhora do Monte, na localidade do Terreiro da Luta, uma menina brincava durante a tarde com uma pasto-

rinha. A pastorinha ofereceu uma merenda a esta menina. A pastorinha, muito satisfeita, contou o sucedido à sua família, que não acreditou na sua história, por ser improvável que naquela mata deserta e tão afastada da povoação aparecesse uma menina. No dia seguinte, o pai foi de modo oculto observar a cena. Foi quando viu sobre uma pedra uma pequena imagem de Maria Santíssima e, à sua frente, a inocente pastorinha que se apressou a dizer-lhe que era aquela imagem a menina de quem lhe falava. O pai, perplexo, não ousou tocar a imagem e comunicou o facto à autoridade, que mandou colocar a imagem na Capela da Encarnação, Deu-se, desde então, este nome àquela venerada imagem

Lenda de D. Sebastião No dia 4 de agosto de 1578, D. Sebastião liderou as tropas portuguesas no norte de Marrocos, disposto a aliviar a pressão dos mouros sobre as fortalezas portuguesas. Por causa da inexperiência do jovem rei, os portugueses sofreram grandes baixas, incluindo a do próprio monarca que, apesar de ter os seus restos mortais enterrados no Mosteiro dos Jerónimos, ainda permanece no imaginário popular como o “Rei Adormecido”, que regressará numa manhã de nevoeiro para livrar Portugal de todo o mal. Após o seu desaparecimento sem deixar herdeiros, iniciou-se uma delicada crise sucessória no país, abrindo espaço para Filipe II de Espanha governar. Portugal entra em luto mas, pouco tempo depois, este sentimento é transformado em esperança do reaparecimento do rei.


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Os portugueses na Venezuela: 500 anos de presença e trabalho A história da emigração portuguesa na terra de Bolívar é muito antiga Numa altura em que os reinos de Espanha e de Portugal competiam pelo domínio do Oceano Atlântico e das costas africanas, surgiu a necessidade de celebrar um convénio que estabelecesse a divisão das zonas de navegação conhecidas e a conquistar para evitar conflitos entre ambas as coroas. Assim, a 7 de Junho de 1494 foi assinado o Tratado de Tordesilhas, segundo o qual se estabelecia uma linha de demarcação a 374 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde, que dava a Portugal a possibilidade de explorar um vasto território (Brasil). Entre o grupo de marinheiros que, sob o comando de Alonso de Ojeda, descobriram a Venezuela, em 1499, estavam alguns portugueses. A presença lusitana em terras crioulas se consolidaria rapidamente e em 1519 já existia uma povoação chamada Portugal, à qual a chegava zarpando desde Cumaná e navegando em direcção a sul. Desde o início do século XX até 1935, a imigração portuguesa caracterizou-se pela dispersão e em número reduzido. Nesse período, a Venezuela viveu uma grande instabilidade política e o território carecia de comunicações, pelo que Cipriano Castro e Juan Vicente Gómez temiam a influência dos estrangeiros. A política baseava-se em permitir a entrada “gradual” de estrangeiros e sedia-los onde pudessem ser vigiados. No entanto, com a chegada de López Contreras ao poder, a presença dos europeus tornou-se indispensável. Por Decreto Executivo de 26 de Agosto de 1938, se cria o Instituto Técnico de Imigração e Colonização, mediante o qual o governo passava a planear a distribuição de latifúndios a agricultores venezuelanos e estrangeiros para repovoar os campos, elevar a qualidade de vida e melhorar a etnicidade da população. Muitos outros lusos vieram sem ser chamados pelo ITIC e alojaram-se em pousadas onde se encontravam compatriotas. Em 1941, os portugueses demonstraram entusiasmo pelo país ao chamar os seus familiares, “o que fez pensar na chegada de lavradores e operários de todas as regiões de Portugal para se instalarem com as suas famílias nas agrestes terras venezuelanas”. A chegada de Isaías Medina Angarita ao poder implicou mudanças na política migratória, com a eliminação do ITIC em Junho de 1949. Assim, seria permitida a entrada no país aos estrangeiros com os quais o Estado não mantinha compromisso. Em 1948, muitos venezuelanos elevaram o tom agressivo contra os estrangeiros e os

portugueses foram incluídos na lista das 10 nacionalidades mais criticadas pelos venezuelanos. Já nesse ano, alguns portugueses eram donos de pequenos restaurantes. Segundo números oficiais, em 1950 foi registado um aumento de 10.510 portugueses estabelecidos na Venezuela. As mudanças operadas na política migratória estavam na ordem do dia e, em breve, com a chegada de Marcos Pérez Jiménez ao poder e com a política de “Portas Abertas”, seria facilitada a entrada de portugueses no país. Na década de 1950, foram os navios a vapor que transportaram passageiros até La Guaira provenientes desde Portugal. Em 1954, a companhia Colonial de Navegação incorporou o Santa María e o Vera Cruz, dois dos navios mais relembrados pelos emigrantes. No ano de 1955, o número de lusos alojados em pensões diminuía e se registrava um incremento dos radicados em casas de administração familiar. Rómulo Betancourt, ante a onda de histórias xenófobas com que foi confrontado ao chegar ao poder em 1959 e reconhecendo a relevância das comunidades estrangeiras radicadas no país, solicitou a Alejandro Hernandes da Associação Pró Venezuela para lançar um apelo em apoio à banca nacional e para acabar com essa campanha de rumores. É que assim que, a 14 de Março de 1960, vai para o ar uma cam-

panha com o objectivo de acalmar a onda de xenofobia que grassava pelo país desde a queda de Marcos Pérez Jiménez. Acalmada a situação, os portugueses continuaram a estabelecer-se e a construir em Caracas os primeiros edifícios das ‘barriadas populares’, onde se instalaram O maior crescimento no número de portugueses na Venezuela está compreendido entre os censos de 1961 e 1981: a proporção indica que, a cada 9 estrangeiros que entravam no país, 1 vinha de Portugal. Isto ficouse a dever à depressão económica portuguesa e ao receio de vir a fazer parte do recrutamento massivo de tropas para a guerra colonial em África. O censo de 1981 registou a presença de 93.029 lusos em terras crioulas. No entanto, segundo explica de Abreu Xavier: “Se o efeito multiplicador se aplica ao resultado dos censos portugueses e venezuelanos dos anos 1980 e 1981, poderia dizer que então a comunidade lusa estava entre os 400.000 e 450.000 indivíduos”. Este período culmina em 1983 com a extensão das visitas a Portugal, até converter-se numa modalidade de vida por temporadas. A instabilidade política e económica na Venezuela, em conjunto com o despontar da economia portuguesa no mercado europeu, levaram a uma queda no número de lusitanos no país latino-americano, entre os censos de 1981 e 1990, seja por morte da

primeira geração ou pelo regresso a terras ibéricas. Os números indicam que a perda de cidadãos lusos foi de 2.475 por ano. No entanto, quem decidiu ficar na Venezuela, continuou dando passos firmes rumo ao crescimento pessoal e da nação, dando espaço ao bonito orgulho na portugalidade. Para além de algumas instituições que já tinham sido criadas nas duas décadas anteriores, este novo período foi marcado pelo nascimento de mais de uma centena de instituições portuguesas. O associativismo continuaria, assim, em ascensão com a criação de diversos clubes, como o Centro Português (1958), Casa Portuguesa de Aragua (1965), Associação Desportiva Luso Venezuelana (1972), Casa de Portugal de Maracaibo (1972), Centro Luso Larense (1977), Centro Social Madeirense (1978), Centro Português de Puerto Ordaz (1979), Centro Luso de Catia la Mar e Centro Atlântico Madeira (1984), Centro Luso Venezuelano de La Victoria (1985), Centro Luso Venezuelano de Acarigua (1986), Centro Português de Punto Fijo (1987), Centro Luso de Los Valles del Tuy (1992), Centro Português de Barinas (1996), Centro Sociocultural Virgem de Fátima (2002), Casa Portuguesa Venezuelana de Naguanagua (2004); para além de outras em Ciudad Bolívar, Maturin, Calabozo, El Tigre, Villa de Cura, Margarita, Guarico, Anaco, Puerto Cabello, Barcelona, Ciudad Guayana, Coro, Araure e Táchira.


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Sabedoria popular: Entre expressões e provérbios Os ditados populares ou adágios transmitem o conhecimento do povo

“Quem bate esquece; quem apanha, não” Ditado popular que ilustra a diferença de perceção dos acontecimentos entre um agressor e a sua vítima. O agressor esquece com facilidade que agrediu, física ou verbalmente, a vítima. Por sua vez, a vítima não esquece tão facilmente ou tão rápido e guarda mágoa.

Os provérbios são manifestações populares de sabedoria. Regra geral, falam de pequenas ou grandes verdades do dia-a-dia e do comportamento das pessoas. São pequenas lições de vida em forma de sabedoria que é transmitida de geração em geração. E são muitos os provérbios portugueses que merecem destaque e uma análise mais detalhada. Também conhecidos por ditados populares, os provérbios fazem parte da cultura portuguesa e das tradições do nosso povo. Alguns deles variam de região para região e outros estão a cair em desuso e no esquecimento. Ninguém sabe ao certo como eles surgiram. Mas porque falam sobre verdades universais ou aspetos lógicos do quotidiano, continuam a ser utilizados regularmente nas mais variadas situações. Descubra alguns dos melhores provérbios populares portugueses e os seus significados.

Em terra de cego quem tem um olho é rei Talvez um dos mais conhecidos provérbios portugueses. Aliás, talvez seja um daqueles que explicar melhor o nosso comportamento enquanto sociedade. Significa que, num grupo de ignorantes, aquele que possui algum conhecimento, embora pouco, tem tendência para ser o líder. “Um dia da caça, outro do caçador” Nem todos os dias são maus. Em alguns dias, alguns são recompensados pela sorte e outros têm azar. Noutros, acontece o inverso. Indica também que a paciência é uma virtude e que devemos usá-la e esperar por dias melhores. Depois da batalha aparecem os valentes O significado deste provérbio popular é simples e evidente: muitas pessoas mostram ser corajosas ou sábias apenas depois do problema já ter sido resolvido. Aplica-se também em situações em que alguém se gaba do que não fez ou em casos em que alguém diz ser capaz de fazer algo mas depois desiste e aparece apenas no final para dar o seu palpite.

“Sem papas na língua” As papas são partículas que surgem na língua de algumas galinhas, sendo uma espécie de tumor que as impede de cacarejar. Sem as papas, a língua fica livre. A expressão vem da frase castelhana “no tener pepitas en la lengua”, e significa hoje ser franco e dizer o que quer sem rodeios. “Maria vai com as outras” A rainha D. Maria I ficou louca de um dia para o outro, tendo sido declarada incapaz de governar e afastada do trono. Passou a viver recolhida e apenas era vista em público na companhia de outras damas. Quando o povo assim a via, comentava “lá vai D. Maria com as outras”. Hoje, a expressão aplicase a uma pessoa que não tem opiniões próprias e que segue o que os outros lhe dizem. “Andar à toa” Uma toa é a corda que reboca uma embarcação a outra, sendo que um navio que está à toa não tem rumo nem leme, indo para onde o navio que o reboca quiser. O ditado significa assim andar sem destino, apenas a passar o tempo. “Amigo da onça” O termo parece ter surgido a partir da história de um caçador mentiroso que, ao ser surpreendido sem armas por uma onça, deu um grito tão forte que o animal fugiu. Como ninguém acreditava na sua história, o caçador perguntou se o interlocutor era amigo dele ou amigo da onça. Atualmente, esta expressão designa al-

guém hipócrita ou um falso amigo.

expressão é usada para designar algo certo, um negócio seguro.

“De pequenino é que se torce o pepino” Para que os pepinos se desenvolvam, os agricultores têm de lhes dar forma, retirando uns “olhinhos” que, se não forem removidos, fazem com que o pepino não cresça da melhor forma e adquira um gosto desagradável. Por analogia, tal como se molda os pepinos, também é preciso moldar o carácter das crianças desde tenra idade.

“Um olho no peixe, outro no gato” É uma variação do mais polémico e preconceituoso “um olho no burro e outro no cigano”. Aplica-se a situações em que alguém deve estar atento aos dois lados de um conflito ou prestar atenção tanto à vítima como ao agressor.

“Cor de burro quando foge” Originalmente, a frase era “corre do burro quando ele foge”, o que faz sentido, já que um burro enraivecido pode ser perigoso. A tradição oral acabou por modificar a frase até à expressão que usamos hoje.

“Andar com o rei na barriga” Esta expressão vem dos tempos da monarquia, altura em que as rainhas eram tratadas com especial deferência quando estavam grávidas, já que iam aumentar a prole real e dar herdeiros ao trono. Hoje, a expressão refere-se a alguém que dá muita importância a si mesma.

“Favas contadas” Para se votar antigamente, usavam-se favas brancas e pretas, que significavam respectivamente sim ou não. Cada votante colocava a fava na urna, sendo que quem tivesse mais favas brancas ganhava. Hoje, a

“O seguro morreu de velho” Ditado popular que fala sobre algo evidente: alguém mais precavido tem sempre mais hipóteses de ter sucesso na vida do que aqueles que vivem sem preocupações.

“Águas passadas não movem moinho” Pretender mostrar que situações ou atitudes do passado não resolvem os problemas do presente e que nos devemos focar nos dias de hoje se quisermos evoluir e melhorar a nossa condição. “Apressado come cru” Provérbio em tudo semelhante ao famoso “a pressa é inimiga da perfeição”. Aplicase em casos onde a paciência é a qualidade necessária para resolver uma situação, tarefa ou problema. “Plantar verde para colher maduro” Outro dos provérbios portugueses sobre as virtudes da paciência e de pensar a longo prazo. Significa que devemos preparar o futuro com antecedência e ser pacientes na espera pelos resultados. Aplica-se também quando alguém utiliza perguntas hábeis para conseguir as respostas que pretende. “Filhos criados, trabalhos dobrados” Ditado popular que significa que os filhos continuam a causar preocupações mesmo quando se tornam adultos. Além disso, essas preocupações podem ser ainda maiores do que quando eles eram crianças.


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Cultura Portuguesa: Exemplo de autenticidade No ano de 2020 foram escolhidas as 7 Maravilhas da Cultura Popular em Portugal Fruto do desenvolvimento social e cultural, e ao contrário de muitos países que se renderam às maravilhas da globalização, resultando na indiferenciação e quebra de autenticidade, Portugal afirma-se hoje pelos seus valores únicos e pela dimensão da sua multiculturalidade, onde a expressão da sua autenticidade se encontra em cada aldeia, vila ou cidade. Das muitas razões que explicam porque Portugal está hoje na moda, uma das mais marcantes é seguramente a sua base cultural e a importância da sua cultura popular. Foi devido à manutenção e a afirmação inequívoca desta autenticidade, com manifestações em múltiplas categorias culturais, que em 2020 foram escolhidas as 7 Maravilhas da Cultura Popular. Bailinho da Madeira – Calheta Nos quatro cantos do mundo, o Bailinho da Madeira é conhecido devido à vasta comunidade emigrante, bem como ao número peculiar de turistas que visitam, anualmente, a Região. Desde os hotéis, às ruas, do sul ao norte e em todos os cantos da Ilha, é possível ouvir o Bailinho da Madeira, sendo este considerado Património Musical e Imaterial. O que muitos não sabem é que a génese da música e letra do Bailinho da Madeira foi criada no concelho da Calheta. O seu autor foi o poeta popular, João Gomes de Sousa, popularmente mais conhecido como o “Feiticeiro da Calheta”, uma figura icónica no concelho, sendo acima de tudo um sábio popular que, pelos seus dizeres e cantares, se tornou uma referência para a comunidade. Através da poesia popular criada muitas vezes pelo método repentista, cantada em desafio ou despique, tecia apreciações analíticas ou denunciadoras consideradas certeiras sobre temas antropológicos, de moral social e individual, acontecimentos históricos, comportamentos, problemas sociopolíticos e religiosos, até mesmo sobre temas teológicos e culturais diversos. Em 1938, o Feiticeiro da Calheta vai à cidade do Funchal com o Rancho Folclórico do Arco da Calheta para participar na primeira Festa das Vindimas, sendo uma festa popular, onde houve um concurso de Ranchos Folclóricos. É neste evento que toca e canta, pela primeira vez, o Bailinho da Madeira e ganha o primeiro prémio. Desde então, o tradicional Bailinho da Madeira mo-

ve massas, anima arraiais de forma sublime e está presente nos acontecimentos mais importantes da época ao nível local, regional, nacional e internacional. Colete Encarnado – Vila Franca de Xira O Colete Encarnado é a maior festa de Vila Franca de Xira e uma das maiores do Ribatejo. Realizou-se pela primeira vez em 1932 e o seu mentor foi o grande agrário José Van-Zeller Pereira Palha, figura preponderante de Vila Franca tendo sido seu presidente de Câmara. O Colete Encarnado realiza-se sempre no primeiro fim-de-semana de Julho e tem como primordial figura o Campino, figura ímpar da lezíria ribatejana, que anualmente é homenageado com a entrega, pelo Presidente da Câmara, do Pampilho de Honra a um campino escolhido entre os seus pares. O Colete Encarnado vive, entre outras coisas, das esperas e largadas de touros nas ruas, da Homenagem ao Campino, da noite da sardinha assada, do convívio nas tertúlias e dos concertos pelos palcos espalhados pela cidade. É uma festa que dura três dias, composta por largadas de toiros em algumas ruas da cidade (Rua Joaquim Pedro Monteiro, Rua Serpa Pinto, Rua 1º de Dezembro, Largo 5 de Outubro e Praça de Toiros Palha Blanco), por festas nas Tertúlias, por concertos em diversos pontos da cidade (Av Pedro Victor, Largo da Misericórdia, Mercado Municipal, Mártir Santo, etc) que promovem um são convívio entre os seus habitantes e

os milhares de veraneantes que visitam Vila Franca por esta altura. Tipicamente o programa inclui também uma Missa Rociera (6ª feira), um concerto pela Banda do Ateneu Artístico Vilafranquense (Sábado), Concentração de barcos tradicionais, entrega do Pampilho de Honra, desfile de campinos, charretes e carros alegóricos das Tertúlias e associações Realizam-se também na Praça de Toiros Palha Blanco duas Corridas de Toiros e uma Garraiada da Sardinha Assada (2:00 AM de Domingo). A festa termina no domingo com concertos e fados, tendo por epílogo às 24h00 de domingo com um fogo de artificio, com acompanhamento musical. Este espectáculo ocorre junto à marina de Vila Franca de Xira, de onde se vislumbra uma fantástica vista sobre o rio Tejo e ponte Marechal Carmona que une Vila Franca de Xira à margem sul do rio. Criptojudaísmo – Belmonte Belmonte, terra de tolerância e diferentes credos! Após o édito de expulsão de D. Manuel e o estabelecimento da Inquisição, na Vila continuou a viver uma comunidade judaica em segredo até à sua “descoberta” no início do século XX, mas em total conivência com a restante população. Estes Filhos de Israel isolados de restantes comunidades e em segredo mantiveram os costumes principais do Judaísmo até ao presente, subsistindo numa comunidade fechada, havendo muitos casamentos

entre eles, na qual as mulheres se encarregaram da preservação, manutenção e passagem das tradições, sem sinagoga, com recurso a poucos livros e objetos sagrados, sendo sobretudo através da via oral. Isto originou que se perdesse o uso do hebraico e muitos dos ritos religiosos, mas a base religiosa do judaísmo foi mantida. Estes judeus são chamados de criptojudeus ou “marranos” numa alusão à proibição ritual de comer carne de porco. Estes continuavam com o hábito de acender uma vela na sexta ao pôr do sol, mas em potes de barro, guardavam o sábado (Shabbat), tinham casamentos e funerais cristãos, mas também os celebravam em casa segundo a sua religião. Mais de 500 anos em contacto com o catolicismo originou também que muitas das suas orações se misturassem, sendo a referência a santos, um exemplo dessa mistura. Desde 1989, altura em que se fundou a Comunidade Judaica de Belmonte que estes se encontram em processo de retorno ao judaísmo primitivo, têm sinagoga, rabino, cemitério, mas séculos de convivência em segredo não se apagam facilmente, em Belmonte ainda se sentem criptojudeus! Por isso candidatamos a comunidade criptojudaica de Belmonte, porque esta é uma marca intemporal, histórica e identitária de Belmonte, que enfrentaram séculos na perpetuação da sua religião. CONTINUA NA PÁGINA 22 ->


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Festas em Honra de Nossa Sra. dos Remédios – Viseu, Lamego A Romaria da Senhora dos Remédios de Lamego é um excesso de festividade, multidão e simbologia, que cruza uma matriz citadina e rural, atestando que Lamego é um património vivo, uma cidade monumento e nobre que, setembro após setembro, abre as suas engalanadas portas de par em par, para receber milhares de romeiros e peregrinos durante os seus dias de festa, projetando a devoção, o sentido e a identidade do povo lamecense, muito para além das muralhas do seu Castelo. De origem medieval, as Festas em Honra de Nossa Senhora dos Remédios têm a sua génese no ritual religioso e nas peregrinações ou romarias que, então, se impunham e preenchiam toda a vida quotidiana das terras lamecenses. Incrementadas aquando da construção do novo Santuário de Nossa Senhora dos Remédios, concluído em 1761, desde logo muito concorrido por multidões, novenas e romagens processionais à Virgem dos Remédios, as festas contribuem decisivamente para a conquista de uma verdadeira dimensão de Romaria, intensa e extensa, das Festas da Cidade, num desmedido e sentido abraço entre a comoção profana e religiosa. E assim, ano após ano, Lamego veste-se e engalana-se para a Festa. Um mar de gente desagua numa Romaria viva e participada, onde confluem tradições seculares da mítica cidade das Primeiras Cortes de Portugal. Cria-se assim, uma ambiência festiva, humana e singular. Seja no Arraial quando vagueia uma multidão pela noitada de Lamego, na Novena quando se gera multidão em madrugadas de fé, quando se lança o seu famoso fogo-de-artifício, que pincela e rasga os céus num pranto de cor e vivas à Nossa Senhora dos Remédios, quando se aprecia a “iluminação”, que orgulha e exalta os festejos, quando se comercializa na feira franca, ou se dança e canta ao desafio, ou se presencia o cortejo etnográfico, ou a afa-

mada “Batalha de Flores” e a imponente “Marcha Luminosa”, que arregalam espíritos e desejos, ou se enfrentam os célebres cabeçudos, que afastam os maus espíritos nas suas arruadas, com o ruído avassalador do ressoar dos bombos, ou ainda quando se vive a original, iconográfica e singular “Procissão de Triunfo”, que marca por inteiro a Romaria de Lamego. Os Santeiros de São Mamede do Coronado – Porto, Trofa Os Santeiros de São Mamede do Coronado, Trofa, são hoje um marco importante da valorização do património cultural, material e imaterial, associado à produção de “imaginária religiosa” em Portugal. Desde o séc. XIX que existem no Vale do Coronado, famílias de artífices que produzem imagens religiosas em madeira. No entanto, foi em 1920, a partir desta freguesia, que a produção de imaginária religiosa iniciou um novo ciclo em Portugal. Nesse ano, o mestre José Ferreira Thedim (1891-1971), descendente de uma família com tradição na arte, executou a imagem da Capelinha das Aparições, no Santuário de Fátima. Esta obra, hoje uma das mais famosas do mundo, teve grande aceitação entre os crentes e gerou um novo tema iconográfico que, mesmo antes da aprovação das aparições pelas autoridades eclesiásticas em 1930, já estava difundido por todo o país. Concedido o culto da imagem nas igrejas, deu-se um aumento de encomendas à oficina Thedim. Já na segunda metade da década de 1940, este mestre realizou duas novas imagens da iconografia mariana de Fátima, a Virgem Peregrina e o Imaculado Coração de Maria, ambas sustentadas nas elucidações da irmã Lúcia, com quem privou para o efeito. Tal como os Thedim, na localidade existiam outras famílias antigas de imaginários que, oportunamente se adaptaram ao novo mercado dos devotos da Cova da Iria. Os seus espaços oficinais eram também

oficinas-escola, onde o saber-fazer se transmitia entre as diversas gerações de aprendizes. A partir daqui, até à década de 1970, proliferaram várias pequenas e médias oficinas com fins bastante diferentes, realizando um repertório vasto de imaginária em diversos materiais. Além de José Ferreira Thedim, algumas também cresceram e atingiram dimensão considerável. São os casos das oficinas de Avelino Vinhas (19122005), Crispim Monteiro (1914-1977) e Francisco da Silva Ferreira (1910-1995). Nessa época, São Mamede do Coronado assumiu-se como o principal centro de produção da imaginária em Portugal. Depois dos anos setenta, as encomendas abrandaram e muitas oficinas encerraram. Na atualidade, estes profissionais trabalham isoladamente, na sua maioria, em casa. Romaria de S. Bartolomeu – Viana do Castelo, Ponte da Barca Numa perfeita simbiose entre o sagrado e o profano, a Romaria de S. Bartolomeu, que acontece todos os anos entre os dias 19 e 24 de Agosto, assume-se como um convívio de gente alegre que vibra com a sua festa e que nela tem orgulho! A Romaria de S. Bartolomeu é por si só um verdadeiro cartaz de promoção do concelho de Ponte da Barca e uma montra da sua dinâmica associativa. Esta Romaria é de todos e para todos, “dos de cá, dos que não estão cá e dos que são de fora”! É sobejamente conhecida no Norte de Portugal pela sua genuinidade e da gente que nelas participam! De 19 a 24 de Agosto, a vila de Ponte da Barca não dorme: são cinco dias consecutivos em que se vive de dia e de noite! O programa é concorrido! Os três primeiros dias iniciam-se com um festival de música com os grupos folclóricos do concelho; passa pelo Concurso do Melão Casca-de-Carvalho e pela festa da rádio local (Rádio Barca); decorre a Gincana de Bicicletas e o jogo da Malha; compete a magnífica Corrida de Cavalos; encanta a Noite de Cantares ao Desa-

fio! No dia 23 de Agosto, fervilha já a vila: o dia desperta com a alvorada com salva de morteiros e Grupos de Zés Pereiras e a missa matinal; decorre a Feira do Linho e o Concurso Pecuário e o incrível Cortejo Etnográfico, executado e participado por todas as freguesias do concelho. A Romaria de é marcada pela famosa e musical noite de 23 para 24 de Agosto, onde a população local e os visitantes formam rusgas populares que animam as ruas da vila Romaria de S. João d’Arga – Caminha, Viana do Castelo A Serra d’Arga representa uma cadeia montanhosa situada entre o rio Minho e Lima. Local de excelentes pastagens, ao qual o seu nome se deve, constituída pelas três chãs ou agras: Arga de Cima, Arga de Baixo e Arga de São João. Nesta última é onde tem lugar a romaria de São João d’Arga, todos os anos nos dias 28 e 29 de agosto, no mosteiro e capela com o nome do seu patrono – São João Baptista. Esta montanha possui um caráter genuíno e telúrico do modo de vida dos seus habitantes, hoje muito presente em momentos de festa – no colorido dos seus trajes e na alegria das danças e cantares tradicionais – cujo valor cultural é inequívoco. A Romaria de São João d’Arga realiza-se anualmente, desde há vários séculos, no Santuário de São João d’Arga, local onde se encontra a capela com o mesmo nome. Esta é conhecida, principalmente, pelas suas danças e cantares e pela beleza típica dos trajes coloridos das suas romeiras, caraterísticos do Alto Minho. Nela encontramos a riqueza das danças como o Vira, a Rosinha, o Malhão, a Góta da Serra d’Arga, a Cana-verde, a Tirana, etc., num encontro espontâneo de grupos de tocadores de concertinas, cantadores e dançarinos aos quais se juntam os romeiros no adro da capela. Assistimos à chegada de grupos – as rusgas – oriundos dos concelhos vizinhos assim como de diversos pontos do país.


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Um país rico em Gastronomia As artes culinárias constituem um património intangível, testemunho da identidade cultural

Sardinha Assada (Peixe) Na Península Ibérica já se reconhecia a importância e o valor da sardinha no século XVI, como se comprova no recenseamento de peixes do litoral lusitano, realizado pelo desembargador Duarte Nunes do Leão, no século XVI: “No mesmo mar de Setúbal e no de Sesimbra, sua vizinha, há a mais sardinha e mais saborosa que se pode dar”. Reza a história que, em 1855, as sardinhas de Setúbal alcançaram menção honrosa na exposição Internacional de Paris. Em 15 de Janeiro de 2010, a sardinha portuguesa, de onde se destaca a que é pescada em Setúbal, foi a primeira pescaria na Península Ibérica e na União Europeia, a obter o rótulo azul com a certificação de sustentabilidade e boa gestão dos recursos piscatórios MSC (“Marine Stewardship Council”).

A comida é um dos grandes valores e paixão dos portugueses. Foi por isso que no ano 2011, foram eleitas as 7 Maravilhas da Gastronomia, com a finalidade de divulgar e promover o património gastronómico nacional, reconhecido e apreciado em todo o mundo pela sua diversidade, pelos sabores únicos e qualidade dos produtos com que os pratos são confecionados. As artes culinárias constituem um património intangível, testemunho da identidade cultural, e são um fator decisivo na escolha de Portugal como destino turístico. Foi promovido e salvaguardado o receituário português, garantindo o seu caráter genuíno e promovendo os produtos agrícolas de superior qualidade, privilegiando a diversidade regional. Alheira de Mirandela IG (Entradas) A Alheira de Mirandela, que absorve esta denominação associada ao local de comercialização e expedição, a cidade de Mirandela, é o enchido regional mais consumido e conhecido no país, mais envolto em mistério e único no mundo. O fumeiro transmontano – enchido em tripa ou apenas de salga e fumo – quando não ia para as feijoadas e cozidos, quando não constituía só por si uma refeição, servia também como entrada aos melhores manjares festivos e domingueiros. As alheiras consomem-se depois de assadas em brasa suave ou depois de fritas num pouco de azeite e na gordura que vão largando. Queijo Serra da Estrela – DOP (Entradas) Composto por poucos ingredientes, o Queijo Serra da Estrela é um alimento completo e complexo na biodiversidade vertida do leite cru e inteiro das ovelhas autóctones Serra da Estrela e Mondegueira, flor de cardo (Cynara cardunculus) e sal marinho. Com um território de 3120 Km², 110 queijarias e 100000 animais, este histórico alimento estruturou a vida social, hábitos e tradições das gentes desta região. Queijo que celebra quadras festivas, momentos familiares e motivo para sentar os amigos tem vindo a ganhar num passado recente várias medalhas de ouro em concursos internacionais. O seu nome está reconhecido como Denominação de Origem Protegida em todo o espaço Europeu. Caldo Verde (Sopa) De origem Minhota, mas adoptado por todas as regiões, a receita foi escrita em verso. Escritores e poetas referem-no: Camilo, Eça, Júlio Dinis, Ramalho Ortigão. Correia

de Oliveira define-o: “Que núpcias de sustento e de sabor”. Pessoa foi devoto desta simbiose de caldo de batata e couve-galega. O poeta Arnaldo Ferreira descreve o caldo verde num poema que Amália cantou e imortalizou tornando-se no segundo Hino Nacional, “Uma Casa Portuguesa”: “Basta Pouco, Poucochinho p’ra alegrar, uma existência singela… É só Amor, pão e vinho, e um Caldo Verde, verdinho a fumegar na tigela”. Como ingredientes tem couve-galega, batata, azeite, alho, cebola, água, chouriço e sal, sendo preparado num tradicional pote de ferro com a ajuda de uma colher de pau, até estar pronto a servir nas famosas tigelas de barro portuguesas. Arroz de Marisco (Marisco) O Arroz de Marisco, da Praia de Vieira de

Leiria, é um prato muito conhecido. Nos nossos dias, esta praia é um ponto turístico muito procurado pela gastronomia, pelas virtudes medicinais das águas e dos banhos de mar muito ricos em iodo. O artesanato e a gastronomia descrevem a riqueza da ligação do Homem ao mar, quer nas cores vivas dos barquinhos de madeira, quer no sabor do famoso arroz de marisco, prato muito afamado no nosso território. Procurado pelos seus habitantes e pelos turistas, que têm no arroz de marisco uma forma de visitar mais frequentemente esta praia. Este prato diferencia-se dos restantes por ser servido directamente do lume num tacho de barro, ainda a fervilhar. A lagosta, os camarões grandes e as amêijoas conferem-lhe um sabor único a mar, muito bem acolitados com pimento, coentros e arroz carolino.

Leitão da Bairrada (Carne) Desde o tempo dos romanos que o leitão assado é conhecido. Porém, o registo de nascimento comprovado por testemunhos orais e escritos data da década de 20, do século passado. Os primeiros locais de venda foram os hotéis de toda a região, na qual nasceram grandes assadores. São confecionados aproximadamente três mil leitões por dia e o leitão assado é servido em dezenas de restaurantes e preparado por centenas de assadores nas suas casas, trazendo à Bairrada milhares de apreciadores durante todo o ano. É temperado com unto, sal, alhos e pimenta. É no forno bairradino aquecido com lenha – vides ou eucalipto – que o leitão vai depois a assar lentamente, cerca de 2 horas, “espetado” numa vara. A sua qualidade deve-se à escolha das raças, como a Bisara (raça original e preferencial) e os vários cruzamentos de raças actualmente existentes. Deve ser cortado em pequenos pedaços, sem que sejam sobrepostos, servido em travessas com a pele sempre virada para cima, e acompanhado por pequenas batatas cozidas com a pele, laranja e salada. O leitão assado é um produto gastronómico reconhecido pela Entidade Regional de Turismo Centro de Portugal. Pastel de Belém (Doces) No início do Século XIX, junto ao Mosteiro dos Jerónimos, laborava uma refinação de cana-de-açúcar associada a um pequeno local de comércio variado. Como consequência da revolução liberal ocorrida em 1820, são em 1834 encerrados todos os conventos em Portugal, sendo expulsos o clero e os trabalhadores. Numa tentativa de sobrevivência, alguém do Mosteiro põe à venda nessa loja uns doces pastéis, rapidamente designados por “Pastéis de Belém”. Em 1837 inicia-se o fabrico dos “Pastéis de Belém”, em instalações anexas à refinação, segundo a antiga “receita secreta”, oriunda do convento, a qual é exclusivamente conhecida pelos mestres pasteleiros.


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Futebol em Portugal: A história de uma paixão Foi em 1875 que a bola de futebol começou a conquistar a alma do povo português, tornando-se com o passar dos anos, numa das maiores paixões nacionais Não há certeza quanto ao momento em que uma bola de futebol rolou pela primeira vez em Portugal. Alguns historiadores defendem que foi na Ilha da Madeira, freguesia da Camacha, onde se jogou uma partida de futebol pela primeira vez, em 1875. Seria ao inglês Harry Hinton, jovem residente na Madeira, que devemos a introdução do «Foot-Ball», em solo português. Treze anos mais tarde, uma bola trazida pelos irmãos Pinto Basto, rolou num Domingo de tarde na Parada de Cascais, num jogo que o organizador, Guilherme Pinto Basto, denominou de «ensaio», que seria na gíria da época, a forma como se denominava um treino. Para todos os efeitos, era a primeira vez que se jogava futebol em Portugal continental. Mas o primeiro jogo de facto só teria lugar só a 22 de Janeiro do ano seguinte, no Campo Pequeno em Lisboa, novamente pela mão dos Pinto Basto. Uma equipa de portugueses enfrentou uma equipa de ingleses, e a vitória sorriu às cores nacionais. O FC Porto seria o primeiro dos grandes clubes portugueses a nascer (1893). Seria Guilherme Pinto Basto o responsável pela fundação do Clube #Internacional de FootBall (CIF), fundado em 1902, como uma continuação do extinto Foot-Ball Club Lisbonense (1892), o clube que tinha defrontado o Foot-Ball Club do Porto a 2 de Março de 1894, no Campo Alegre, na disputa da Taça D. Carlos I no primeiro jogo de futebol entre equipas de Lisboa e Porto, que os lisboetas venceram. Em 23 de Setembro de 1910 é fundada a Associação de Futebol de Lisboa. O Campeonato de Lisboa foi, durante muitos anos, o principal torneio português porque reuniu os melhores jogadores e clubes como Benfica, Sporting, Belenenses e Carcavelinhos. Com o crescimento do futebol nas duas principais cidades e também no Algarve, no Minho, na Madeira e em tantas outras localidades, mais se acentuava a necessidade de criação de um organismo que coordenasse a atividade em todo o País. Assim, e por iniciativa das três Associações existentes (Lisboa, fundada em 1910, Portalegre, em 1911, e Porto, em 1912), é fundada

em 31 de Março de 1914 a União Portuguesa de Futebol. Só mais tarde, por deliberação do Congresso de 28 de Maio de 1926, a União passou a denominar-se Federação Portuguesa de Futebol, que chamou a si a organização das principais competições: Campeonato de Portugal (1922-38, competição em sistema de eliminatórias para se definir o campeão nacional), Campeonato da I Liga (1934-38, competição no sistema de todos contra todos, para estudar a viabilidade dum campeonato nacional), Campeonato da II Liga (1934-38, competição semelhante à anterior mas aberta aos clubes de todas as associações), Campeonato Nacional da I Divisão (desde 1938, depois duma reestruturação das competições federativas), Campeonato Nacional da II Divisão (de 1938 a 1990, semelhante à I Divisão mas dividido por grupos geográficos), Campeonato Nacional da III Divisão (desde 1947), Supertaça Cândido de Oliveira (desde 1980, disputada entre o campeão nacional e o vencedor da Taça de Portugal) e Campeonato Nacional da II Divisão de Honra (1990). O nascimento da Seleção A Seleção Portuguesa de Futebol es-

treou-se oficialmente a 18 de dezembro de 1921 contra a Espanha, jogo que acabou 3-1 a favor dos espanhóis. Para a História ficava o primeiro golo nacional da autoria do benfiquista Alberto Augusto. A primeira vitória foi obtida a 18 de junho de 1925, contra a Itália, por 1-0. Antes da participação nas eliminatórias do Mundial da FIFA de 1958, a seleção portuguesa colecionava apenas derrotas em jogos oficiais, quase todas elas pesadas. Até 1954, a equipa não constituía um problema para quase nenhum adversário, tendo participado apenas em 4 eliminatórias de acesso ao Mundial. Na disputa pelo acesso ao Mundial de 1934, Portugal foi batido pela Espanha por nada menos que 9-0. Nas eliminatórias do Mundial de 1938, Portugal foi eliminado pela Suíça, em jogo único, por 2-1. No acesso ao Mundial de 1950, mais uma eliminação e mais uma goleada perante os espanhóis: 5 -1. Quatro anos mais tarde, para o Mundial de 1954, mais uma derrota por 9 golos, desta feita frente à Áustria. Nas eliminatórias para o Mundial de 1958, Portugal não conseguiu ainda chegar à fase final. Mesmo assim, alcançou o primeiro êxito notável da sua história, derro-

tando a Itália por 3-0. A estreia de Portugal na fase final de uma grande competição deu-se em 1966, onde a Seleção das Quinas chegou às meias-finais do Mundial da FIFA, onde seria vencida pela equipa anfitriã, e futura campeã, a Inglaterra. Portugal terminou o torneio em terceiro lugar, após vencer a Rússia. Apesar da exibição notável no mundial de 1966, a Seleção não conseguiu dar seguimento a essa prestação, conseguindo qualificar-se para a fase final de uma grande competição apenas 18 anos depois. Portugal chegou pela primeira vez à fase final de um Campeonato da Europa em 1984, chegando também às meias finais e perdendo da mesma forma com o anfitrião do torneio e futuro campeão, a França. Na senda da boa participação no Europeu dois anos antes, Portugal voltaria a qualificar-se para um Campeonato do Mundo em 1986, mas acabou por desiludir os adeptos ao não passar da primeira fase. Após o afastamento do Mundial, as consequências foram pesadas: o selecionador José Torres demitiu-se e uma série de jogadores foram afastados da equipa, que durante dois anos contou com um leque de opções secundárias. A reconstrução foi gradual, e Portugal só se voltaria a qualificar para um grande campeonato de seleções dez anos depois. Durante várias décadas, a seleção portuguesa não fez parte de um grupo de equipas candidatas a vencer títulos. No entanto, a equipa portuguesa evoluiu, sendo presença constante em quase todas as fases finais de grandes torneios a partir do início do século XXI, fruto da presença na equipa de vários jogadores de classe mundial (incluindo dois vencedores da Bola de Ouro), que representam regularmente os principais clubes europeus. A aposta dos três grandes clubes portugueses - Sporting, Benfica e Porto - na formação de jogadores tem também beneficiado a seleção, cuja média de idades tem vindo a descer. O primeiro grande título da equipa portuguesa foi conquistado em 2016, quando os portugueses venceram a final do Campeonato da Europa frente à anfitriã França, após vitória no prolongamento. 3 anos depois, os portugueses venceram a primeira edição da Liga das Nações da UEFA, após disputarem a final da competição contra a Holanda no Estádio do Dragão. Até 2016, a sua melhor prestação em grandes torneios fora a presença na final do Euro 2004, competição da qual foi país anfitrião e que perdeu frente à Grécia. Portugal chegou também à final da Taça Independência em 1972, que perdeu contra o Brasil, e venceu a Skydome Cup em 1995, o seu único troféu a nível sénior até 2016.


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