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Opinião Anitta, Luísa Sonza e Miley Cyrus contra o machismo na indústria musical

Estela Vieira

suais de suas canções.

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Os Anitters, fãs da cantora, muitas vezes entram na linha de frente em defesa ao trabalho da ídola, mas Anitta também costuma se posicionar e exaltar seu trabalho e o de outras colegas da indústria. “Se eu canto que vou em festas e que sou louca, eu quero seguir tendo respeito”, defendeu-se em seu Twitter.

A indústria pop de música nos entrega muitos produtos de alta qualidade: clipes, canções, apresentações em shows... A lista é extensa e deixa os amantes desse tipo de conteúdo maravilhados. No entanto, desde que o pop entrou nas grandes paradas, as artistas mulheres sofrem com diversos tipos de abusos contra sua arte. Desde um público machista a produtores que tentam colocar seus trabalhos em caixas, as cantoras desse estilo musical têm trabalhado incansavelmente para colocarem suas músicas no topo dos principais charts mundiais.

Apesar de vivermos em um país extremamente machista, o preconceito contra as mulheres da música pop é um problema que ronda o mundo inteiro.

“As mulheres têm que ser livres para fazer o que quiserem com seus corpos e com suas vidas”, desabafou a cantora brasileira Anitta, em seu Twitter. A artista é a dona do hit “Envolver”, que em março deste ano alcançou o primeiro lugar no Spotify Global, o principal chart de uma das maiores plataformas de streaming do mundo.

Anitta é uma das principais artistas da música pop brasileira da contemporaneidade, isso porque ela produz conteúdos não só para o mercado nacional. Ela também fala com o público estrangeiro, e tem alcançado muito respeito no exterior. Apesar do notável sucesso, desde o início de sua carreira a cantora ouve comentários que reduzem sua arte a uma dança sexy e as letras mais sen-

Mas o machismo, como dito anteriormente, não vem somente do público, muito menos fica restrito aos brasileiros. Durante as gravações do Video Music Awards 2020 (VMA), a cantora Miley Cyrus foi vítima de um comentário machista vindo de um dos diretores do evento, e relatou a experiência no podcast Joe Rogan Experience.

De acordo com a cantora, a discussão aconteceu depois que o diretor disse que ela quer ser tratada como um cara, mas se fosse um homem, eles não precisariam lidar com alguns problemas que estavam acontecendo nos bastidores. “Um cara não faria isso porque ele não deixaria o seu show sexy como vou deixar. E eu estou ciente disso. Eu sei sobre os direitos das mulheres”, respondeu a cantora.

As histórias de Cyrus e Anitta se encontram uma vez que as duas mulheres recebem tratamentos diferentes do que os que são dados aos homens da mesma indústria. Apesar de todo o glamour existente, todas as fotos em tapetes vermelhos e exaltação de milhares de fãs, as mulheres da música pop sofrem segregação em muitos aspectos. Luísa Sonza, por exemplo, chegou a falar sobre o machismo dentro da indústria em seu Twitter. Na rede social, a cantora escreveu “Bizarro como o cenário musical brasileiro desvaloriza as artistas femininas. A gente faz TUDO, entrega TUDO e mesmo assim a desvalorização é clara. Que nojo. Valorizem a gente, frequentem os shows, questionem sim quando tiver pouca ou pior, nenhuma mulher nos shows, eventos e premiações. Vocês não têm noção do que a gente passa desse lado ‘pra’ ser reconhecida e valorizada”.

Em uma indústria ainda monopolizada pelos homens, as mulheres precisam lutar cada vez mais para conquistar um pouco de espaço. Apesar da democracia existente em diversos países ao redor do mundo, nesses mesmos territórios as mulheres, são deixadas às margens de diversos eventos, e suas músicas são, por vezes, derrubadas em plataformas de streaming, ou mesmo em festivais, por exemplo. Cyrus, Sonza e Anitta representam fielmente as cantoras de música pop que, ao redor do mundo, buscam conquistar a atenção e o espaço merecido.

Portanto, o que podemos fazer quanto sociedade para ajudá-las, obviamente, é ouvir suas obras, divulgar incansavelmente e abrir nossas mentes para uma luta que é de todas nós.

É papel não só das mulheres, mas também dos homens garantir essa reparação. São tristes os relatos de jovens que são abusadas de diversas formas ao iniciar a carreira na indústria. Elas são como os homens, realizam o mesmo trabalho de entreter e levar cultura aos quatro cantos do mundo, mas sofrem agressões físicas e verbais, são controladas diuturnamente por seus empresários e/ ou agentes, são elas que sofrem com a rejeição brutal e os julgamentos incessantes do público. O machismo afeta quem busca levar alegria e diversão para nossos lares, o machismo afetou Amy Winehouse, afetou Britney Spears, entre muitas outras. Esse fenômeno tão doentio desenvolvido pelo patriarcado tira vidas, liberdades e encerra, muito precocemente, carreiras de mulheres, que poderiam ser grandes nomes. Ainda muito jovem na indústria da música pop, mas demonstrando um grande talento, a cantora Billie Eilish fez diversos desabafos em seu novo álbum, Happier Than Ever (Mais Feliz do que Nunca), sobre como o sistema por trás do que vemos nas plataformas é abusivo. Na canção Your Power, Eilish retrata o abuso de poder que as mulheres sofrem por seus superiores. Como elas confiam naqueles homens de terno e gravata, e como entregam a eles seus sonhos de se tornarem grandes nomes da arte. Billie mostra, em partes, aquilo que foi vivido por Miley Cyrus, enquanto Hannah Montana, e por Britney Spears, enquanto era uma jovem menina que, dia a dia, conquistava multidões, e logo teve toda sua liberdade tomada por homens que tinham interesse exclusivamente em seu dinheiro. Apesar de tudo o que vivemos e vemos no pop, o que podemos fazer para amenizar seus impactos é ouvir o que essas mulheres têm a dizer, e garantir que mais pessoas possam ouvir seus gritos, muitas vezes silenciados. O machismo é um problema social que cerca a sociedade do mundo há milênios. Engana-se totalmente quem acredita que essa é uma questão exclusivamente brasileira.

As mulheres devem ter seus lugares respeitados, suas vozes devem ser ouvidas e seus momentos devem ser exaltados. É sempre muito fácil apontar o dedo e xingar alguma cantora. É sempre simples dizer que seu trabalho não é tão bom, e comparar com o de algum homem que cante músicas do mesmo gênero. Apesar da facilidade em fazer tudo isso, devemos, antes de condenar, refletir sobre o quão difícil foi para ela chegar até aquele palco. As mulheres da música pop não só precisam, como merecem e devem ser respeitadas. A luta feminista não é apenas de grupo A ou B, mas sim de todas nós, e jamais devemos deixar que o machismo continue ganhando força e enfraquecendo sonhos.