Coreo(codes) : movimentos codificados em espaços singulares

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Patrícia Machado e Tom Lisboa

Patrícia Machado e Tom Lisboa

1ª edição Curitiba, 2022

COMO USAR ESSE LIVRO

COREOGRAFIAS

Para assistir às coreografias de Coreo(codes), abra a câmera do seu celular e aponte para o QR Code incluído nas páginas do livro.

Caso a câmera do seu celular não abra automaticamente o QR Code, será necessário baixar um aplicativo para efetuar a leitura.

TRILHA SONORA

Os stop motions não têm som, mas no rodapé de cada página há a indicação de uma trilha sonora sugerida por Patrícia Machado, Tom Lisboa e por quem realiza a dança/ performance.

SUGIRA UMA MÚSICA

O stop motion te fez lembrar de alguma canção em especial?

As trilhas sonoras sugeridas estão organizadas no Spotify em uma playlist. Para encontrá-las, digite Coreocodes e o nome da pessoa que dançou. Exemplo: Coreocodes Nilvia.

Inclua ali sua sugestão de música. A playlist é colaborativa.

HOW TO USE THIS BOOK

CHOREOGRAPHIES

To watch the choreographies of Coreo(codes), open your cell phone camera and point it to the QR code included in the pages.

If your cell phone camera does not automatically open the QR code, you will need to download an app for this purpose.

SOUNDTRACK

The stop motions have no sound, so at the bottom of each page, there is the soundtrack suggested by Patrícia Machado, Tom Lisboa, and those who perform the dance/ performance.

SUGGESTING A SONG

Did the stop motion remind you of any particular song?

Organized in a playlist on Spotify are the suggested soundtracks by the authors. To find them, type in “coreocodes” and the name of who danced. Example: coreocodes nilvia

Include your song suggestion in the playlist. It is collaborative.

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introdução

Coreo(codes) é um projeto híbrido de autoria da bailarina Patrícia Machado e do fotógrafo Tom Lisboa. Materializado na forma de uma publicação, este livro é o resultado de uma mescla de atividades, tais como oficinas de dança on-line (realizadas durante o período de isolamento imposto pela pandemia do coronavírus); documentação fotográfica das cidades visitadas; registros visuais das coreografias que seriam posteriormente transformadas em stop motions, e um aplicativo das tecnologias móveis, os QR Codes.

Coreo(codes) resgata a sensação de pertencimento ao local em que se habita por meio da subjetividade de quem ali mora. No lugar do espaço público e generalizado, privilegiamos o que há de privado e singular. O projeto foi realizado em quatro municípios do interior do Paraná, com população de até 50.000 habitantes – Assis Chateaubriand (Oeste), Lapa (região Metropolitana de Curitiba), Jacarezinho (Norte Central) e Pru dentópolis (Sudeste). Nossa abordagem foi alicerçada pelo desejo de conhecer estes locais através da perspectiva de alguns de seus habi tantes. Em cada cidade foram realizados os mesmos procedimentos: após uma sequência de oficinas de dança on-line em grupo, os partici pantes foram incentivados a produzirem, individualmente, pequenas coreografias inspiradas pelos recantos que os conectavam àquela localidade (um jardim, uma praça, uma rodoviária, ou até mesmo a sala de casa). Uma vez finalizada a coreografia, Patrícia e Tom viajavam para cada cidade a fim de registrar fotograficamente as performances nos lugares previamente selecionados. Cada um dos 27 stop motions deste livro é o resultado de um processo colaborativo entre Patrícia, Tom e cada participante. Patrícia procurou provocar memórias gestuais e movimentos de cada um dos envolvidos. Tendo como base o material visual produzido em cada cidade, Tom desenvolveu uma animação composta por cerca de 300 fotografias editadas e tratadas individualmente acrescentando novas camadas interpretativas, temporais e espaciais à coreografia original.

INTRODUCTION

Coreo(codes) is a hybrid project by dancer Patrícia Machado and photographer Tom Lisboa. This publication came out as a book and is the result of a mix of activities: online dance workshops (due to the coronavirus pandemic), photographic documentation of the towns visited, recordings of the choreographies that would later become stop motions, and an application of mobile technologies, the QR codes.

Coreo(codes) brings back the feeling of belonging to a location through the subjectivity of those who live there. Instead of the public and generalized space, we privileged what was private and singular. Held it was in four municipalities in the countryside of Paraná, each with a population of up to 50,000 inhabitants: Assis Chateaubriand (West), Lapa (Metropolitan region of Curitiba), Jacarezinho (North Central), and Prudentópolis (Southeast), being our approach based on the desire to know these places through the perspective of some of their inhabitants. In each town, were performed the same procedures. After a sequence of online dance workshops, participants were encouraged to individually produce small choreographies inspired by the sites that connected them to that location (a garden, a square, a bus station, or even the living room at home). Once finished with the choreography, Patrícia and Tom travelled to each of those towns. They aimed to photograph and record the choreography in the settings chosen.

Each of the 27 stop motions in this book results from a collaborative process between Patricia, Tom and each dancer/performer. Patrícia tried to bring out gestural memories and movements of them. Based on the visual material produced in each town, Tom developed an animation composed of around 300 edited and treated photographs, adding new interpretive, temporal and spatial layers to the original choreography.

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Viver é como um dançar no improviso

Desde 2012, a simplicidade e a potência de um longa-metragem em stop motion passou a me acompanhar. Trata-se de Mantenha-me em pé ( Tiens-moi droite , 2012), da diretora francesa Zoé Chantre, que assisti na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Simples porque foi feito sem equipe alguma, e com o mínimo de equipamento possível (apenas uma câmera pequena, um microfone incorporado e um computador para montagem). Potente porque seu aparente amadorismo esconde uma sofisticada escolha estética e revela a ma neira encontrada pela diretora para lidar com sua própria condição. Desde a infância, Chantre convive com uma acentuada escoliose em forma de “S” e com um angioma significativo no lado esquerdo do cé rebro. A impressão que guardo do filme é a de desenhos feitos a lápis, que são continuamente apagados e refeitos, conferindo à obra uma aparência de “filme rascunho”, de algo que se tenta passar a limpo e, talvez, encontrar algum sentido. Seria quase o que Milan Kundera comentou, em A Insustentável Leveza do Ser (1984), sobre o primeiro ensaio da vida já ser a própria vida, o que a leva a “parecer sempre um esboço. No entanto, mesmo esboço não é a palavra certa, pois um esboço é sempre um projeto de alguma coisa, a preparação de um quadro, ao passo que o esboço que é a nossa vida não é o esboço de nada, é um esboço sem quadro”. Quase dez anos depois, quando iniciei Coreo(codes) com Patrícia Machado, e buscava uma solução conceitual para este projeto, a lembrança desse stop motion me pareceu apropriada. Contribuiu que, apesar de minha familiaridade com fotografia, eu não tinha nenhum tipo de treinamento nessa área. Embarquei, então, em um processo absolutamente intuitivo. Sentia que tatear um resultado sem a segurança de uma técnica e transformar minhas limitações em uma possibilidade de explorar novas formas de expressão me co nectavam com a honestidade do filme de Chantre. Para compensar a

falta de destreza, dediquei atenção redobrada a cada narrativa, aos gestos das “personagens” que eu ia delineando, à fluidez das transições, e à maneira pela qual o espaço e o tempo iam sendo modelados sob as múltiplas possibilidades da linguagem cinematográfica. As 27 coreografias/performances que são ativadas por QR Codes nas páginas deste livro são o resultado desse processo de investigação e aprendizado. Hoje, revendo todo o material, identifico muito do meu amadorismo, no entanto, ele se fez absolutamente necessário para o tipo de vida que eu queria retratar.

Por fim, uma das belezas de Coreo(codes) foi o modo como os parti cipantes nos abriram suas vidas e mostraram, em seus corpos, um pouco de sua história e como se relacionam com o lugar onde vivem. Certa vez, durante um café, um amigo incrédulo me perguntou: “Mas como assim as pessoas espontaneamente vêm até vocês?”. Ao que eu respondi: “Sim. Nós apenas fizemos o chamado em determinadas cidades e as pessoas apareceram em nosso caminho. A maioria delas nem tem experiência prévia com a dança”. Assim como um cartaz é capaz de atrair uma série de desconhecidos para uma sessão de cine ma, a Patrícia, eu, e esse grupo maravilhoso nos reunimos durante um período de tempo para sonhar, explorar movimentos e descobrir novas potencialidades em nós mesmos. Este livro fica como uma feliz memória desse encontro. A vida acidentalmente nos pôs nesse baile. E dançamos.

Living is like a dance in improvisation

Since 2012, the simplicity and power of a stop motion film have accompanied me. It was Tiens Moi Droite by French director Zoé Chantre, and I saw it at the São Paulo International Film Festival. Simple because it was created without any crew and with as little equipment as possible. Only a tiny camera, a built-in microphone, and a computer for editing. Powerful because its apparent amateurism is a sophisticated aesthetic choice and way the director encountered to deal with her condition. Since childhood, she has lived with a pronounced S-shaped

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scoliosis and a significant angioma on the left side of her brain. The impression I keep in my memory is that of pencil drawings, continually erased and redone, giving the work an appearance of a ‘rough draft film’, of something that one tries to produce a clean copy and, perhaps, seek some sense in it. It would be almost what Milan Kundera said about the first essay of life already being life itself, which leads it to “seem always like a sketch; however, even a sketch is not the right word. A sketch is always an outline of something, the groundwork for a picture, whereas the sketch that is our life is a sketch for nothing, an outline with no picture.”

Almost ten years later, when I started Coreo(codes) with Patrícia Machado, and I was looking for a conceptual solution for this project, the memory of this stop motion seemed appropriate. Contributed to that, despite being familiar with photography, I had no training in this area. So I embarked on an intuitive process. I felt that groping for a result without the security of a technique and turning my limitations into a possibility to explore new forms of expression connected me with the honesty of Chantre's film. As compensation for my lack of artistry, I paid extra attention to each narrative, the gestures of the ‘characters’ I was outlining, the fluidity of transitions, and how space and time would continuously become shaped under the multiple possibilities of the cinematographic language. The outcome of that investigation and learning process is the 27 choreographies/performances that are set in motion by a QR Code on the pages of this book. Today, reviewing the whole work, I identify a lot of my amateurism. However, it was necessary for the kind of life I wanted to portray. Finally, one of the beauties of Coreo(codes) was the way the participants opened their lives to us and showed, in their bodies, a little of their history and how they relate to the place where they live. Once, in a cafe, a doubtful friend asked me: “But how come people spontaneously come to you?” To which I replied: “Yes. We just made the call in certain cities, and people came our way. Most of them did not even have any previous dance experience.” Just as a poster can attract many strangers to a movie session, Patricia, I and this marvellous group got together for some time to dream, explore movements and discover new potential in ourselves. This book remains a happy memory of that meeting. Life accidentally took us to that ball. And so we danced.

Rastrear memórias e dançar lugares

PATRÍCIA MACHADO

“Eu sonho em cima dele Lixo ele Levo ele Lavo ele Esculpo e faço um passarinho” (Hélio Leites)

O caminho que Tom e eu traçamos, desde 2016, quando pela primeira vez sonhamos esse projeto, faz-me lembrar o modo como o artista Hélio Leites descreve seus processos de criação. Por meio desse jogo de palavras/ações/intuições, insistimos em ideias e desistimos delas infinitas vezes até chegarmos ao que hoje se apresenta aqui. Como certeza, tínhamos o desejo de encontrar um novo pacto do sensível para discutir e registrar memórias, gestos e espaços.

Há algum tempo venho imprimindo importância na escuta em meus processos de criação, não uma escuta passiva, mas relacional, em que busco ressoar junto das pessoas ao ativar suas memórias. Na construção dessa obra, coube a mim, na experiência da mediação, escutar as histórias de cada morador(a) e ajudar a revelar o excesso do imaginário capaz de provocar movimentos. Antes de tudo, é um exercício de escuta perceber o que nos faz escolher lugares e também sermos escolhidos por eles.

Ao longo do processo, as memórias construídas nos ambientes começaram a se desenhar para mim como traçados de gestos no espaço, e tão logo capturamos essa lógica, Tom integrou o stop motion ao projeto. Essa técnica nos ajudou a compreender a imagem do mo vimento como rastro do que deixamos de nós nos lugares, rastros silenciosos, mas repletos de vibração.

Decidida a técnica, o desafio foi entender os espaços não apenas como territórios, mas como lugares de acontecimentos e existências. Inscrever

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o cotidiano de nossos corpos no espaço se apresentou como um modo de enfeitiçar as duras lógicas que nos apreendem a ele. Uma dança capaz de ritualizar nossa presença por onde passamos.

Como nos convida a pensar Luis Simas (2020), nossa missão foi en carnar os lugares e por isso encantá-los. Encantar do latim incantāre: o canto que enfeitiça, inebria e cria outros sentidos para ele. Lançar o corpo no espaço e perceber-se nele é jogo de encarar, encarnar e encantar-se a si. Afirmar a vida como uma política de construção de conexão entre pessoas e seus espaços, tão limitados nos últimos dois anos de pandemia.

Coreo(codes) se revela, para mim, como uma dança poética de co existência no lugar. Vibrar a vida ao integrar o visível e o invisível de habitar um tempo-espaço, seja ele o teatro onde assistimos à primeira peça, o parquinho onde brincávamos na infância ou o colo da nossa avó. Encantemo-nos!

resonate with people by activating their memories. In the construction of this work, it was on me, experienced in mediation, to listen to the stories of each resident, and help them reveal the excess of the imaginary capable of provoking movements. Above all, it is a listening exercise to understand what makes us choose places and what makes them choose us.

Throughout our process, memories built in the environments began to draw for me as traces of gestures in space. As soon as we captured this logic, Tom integrated stop motion into the project. This technique helped us understand the image of movement as a trace of what we leave of ourselves in places, silent trails but full of vibration.

Once chosen the technique, the challenge was: to understand spaces not only as territories but also as terrain of events and existences. Inscribing the daily life of our bodies in space was presented as a way of bewitching the harsh logic that apprehends us to it. A dance capable of ritualizing our existence wherever we go.

Tracking memories and dancing places

Sculpt it and create a little bird.”

The path that Tom and I have been following since 2016, when we first dreamed of this project, reminds me of how the artist Hélio Leites describes his creative processes. Through this words/actions/intuitions game, we insisted on ideas and quit those infinite times until we got to what we present today. Surely, we desired to manufacture a new pact of the sensitive to discuss and record memories, gestures and spaces.

For some time now, I have been giving importance to listening in my creative processes, not passive listening but a relational one seeking to

As Luis Simas invites us to think, our mission was to embody the places and thus enchant them. Enchanting comes from the Latin word incantare, which means the song that inebriates and creates other meanings for them. Launching the body into space and perceiving oneself in it is the game of looking, incarnating and enchanting oneself. Affirm life as a policy of building connections among people and their locations, so restricted in the last two years of the pandemic.

Coreo(codes) reveals itself as a poetic dance of coexistence. Vibrate life by integrating the visible and the invisible by inhabiting a time-space. It could be the theatre where we watched our first play, the playground we played on in our childhood or our grandmother’s lap.

Let us be enchanted!

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“I dream of it Polish it Take it for a walk Wash it
(Hélio Leites)

assis chateaubriand

Anahy

A Avenida / The Avenue

Foi interessante a analogia que Anahy usou para descrever sua relação com a Avenida Tupãssi. “É como o vestido que estou usando agora para dançar. Antigo, mas sempre novo, mesmo com as mudanças do tempo”. Depois disso, foi im possível dissociar o movimento dos carros e o próprio vento que batia nas árvores de sua vestimenta e dos gestos que fazia em nossa frente. Tudo era dança.

The analogy that Anahy used to describe her relationship with Tupãssi Avenue was interesting. “It’s like the dress I’m wearing to dance. Old but always new, even with the changes of time”. After that, it was impossible to dissociate the comings and goings of the cars and the very wind hitting the trees from her garment and the gestures she made in front of us. Everything was dancing.

Trilha sonora sugerida / Suggested soundtrack:

Anahy – Carinhosa

(Otto)

Patrícia Machado – Bolero (Maurice Ravel)

Tom Lisboa – Blurred lines (Blackbird Blacbird)

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Anne e Paulo

O Centro de Eventos / The Events Centre

Fechando os olhos, Anne e Paulo conseguem reconstruir cada momento que viveram no Centro de Eventos Ângelo Micheletto, especialmente durante a Expo Assis. São memórias sensoriais. Depois de ouvirmos suas histórias, a dança que registramos se transformou. Hoje, de olhos bem abertos, Patrícia e eu conseguimos imaginar tudo o que não está lá: as luzes desta festa, o cheiro de comida no ar, a alegria do público e até a música que tocaria naquele instante. Closing their eyes, Anne and Paulo manage to reconstruct every moment they lived at the Ângelo Micheletto Events Centre, especially during Expo Assis. These are sensory memories. After listening to their stories, there was a transformation in the dancing in our recording. With our eyes wide open, nowadays, Patricia and I can imagine the party lights, the food smell in the air, the joy of the audience around, and even the music playing at that moment.

Tom

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Trilha sonora sugerida / Suggested soundtrack: Anne e Paulo – Sweet Caroline (Neil Diamond) Patrícia Machado – Ain’t No Mountain High Enough (Marvin Gaye & Tammi Terrell) Lisboa – Here you come again (Dolly Parton)

Beth A Casa Mal Assombrada / The Haunted House

Assombro é uma palavra com duplo sentido, que pode signi ficar tanto maravilhado quando aterrorizado. Para boa parte da população de Assis, essa é uma casa mal assombrada. Para Beth, no entanto, é algo fascinante, um paralelo entre a reali dade e o imaginário ou o mistério do desconhecido. De nossa parte só temos a dizer que, durante a edição das imagens, percebemos que um pássaro surgiu voando, inesperadamente, no início da coreografia.

Astonishment is of a double meaning. It can mean both amazed and terrified. For much of the population of Assis, this is a haunted house. For Beth, however, it is something fascinating, a parallel between reality and the imaginary or the mystery of the unknown. For our part, we only have to say that, when we went to edit the film, we noticed that a bird had unexpectedly appeared in the scene at the very beginning of the choreography.

Beth

Patrícia

Tom

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Trilha sonora sugerida / Suggested soundtrack: – Quase um Segundo (Cazuza) Machado – Triste, Louca ou Má (Francisco, el Hombre) Lisboa – This House is... (Gustavo Santaolalla, Jarvis Cocker)

Foto: Estúdio Fotográfico Tozo e Grasi

Maicon

O Bar / The Bar

O Insane Bar não existe mais. Foi preciso que o proprietário do prédio, agora abandonado, nos abrisse a porta. Maicon nem se incomodou com o excesso de poeira e entulho e ia narrando a noite em que conheceu Beth, que viria a ser sua esposa: “aqui eu a vi pela primeira vez, ali nós conversamos e, claro, acabamos também dançando”. Um encontro que mudou sua vida. Uma história que continua na companhia dos filhos Luiz e Mariana.

The Insane Bar no longer exists. The building abandonment would take the owner to open the door for us. Maicon did not even bother with the excess of dust and rubble and started narrating the night he met Beth, who would become his wife: here I saw her for the first time, there we chatted and, of course, we ended up dancing too. An encounter that changed his life, a story that continues in the company of their children Luiz and Mariana.

Trilha sonora sugerida / Suggested soundtrack:

Maicon – Partilhar (Rubel e Ana Vitória)

Patrícia Machado – Can't Help Falling in Love (Elvis Presley)

Tom Lisboa – Quem é? (Frenéticas)

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Roselei A

Paróquia / The Parish

A Paróquia São Francisco de Assis e Roselei vieram ao mundo quase ao mesmo tempo, no início dos anos 1970. Curiosamente, o modo como ela nos disse sua idade nos pareceu algo perene, tal qual este tipo de construção: cinco décadas. Foi neste lugar que ela realizou seus Ritos de Passagem dentro da tradição católica, desde o batismo até o matrimônio. Experiências tran sitórias, mas que “ficam gravadas na nossa alma”.

Roselei and the Parish of São Francisco de Assis came to existence almost at the same time, in the early 1970s. Interestingly, the way she told us her age seemed something perennial, like this type of construction: five decades. In that place, she went through the catholic tradition Rites of Passage: from baptism to marriage. Those are experiences that pass but “stay engraved in our souls”.

Trilha sonora sugerida / Suggested soundtrack:

Roselei – Word on a wing (David Bowie)

Patrícia Machado – Cuidado (Madredeus)

Tom Lisboa – Bachianas Five (Beth Chafey-hon)

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Vanderson

O Horto / The Forest Garden

A dança faz parte da vida de Vanderson há 27 anos e, atualmente, ministra aulas de jazz em projetos sociais em Jacarezinho. O Horto o conecta com uma lembrança de infância que foi decisiva para sua escolha profissional: numa adaptação de Giselle, o lugar foi transformado no cemitério em que a Rainha Myrtha e as Willis castigavam todos os homens que adentravam seus domínios a dançar até a morte. Era uma lenda, mas parece que ela se transformou em realidade. A dança o enfeitiçou até os dias de hoje.

Dancing has been part of Vanderson’s life for 27 years, and he currently teaches jazz dance classes in social projects in Jacarezinho. The forest garden connects him with a childhood memory which was decisive for his career choice. In the adaptation of the ballet Giselle, the location became the cemetery, where Queen Myrtha and the Willis punished all men who entered their domains to dance to death. “It was a legend, but I believe it has become real. The dance has bewitched me to this day.”

Trilha sonora sugerida / Suggested soundtrack:

Vanderson – Hispanola (Vangelis)

Patrícia Machado – Luminous (Jun Miyake)

Tom Lisboa – Romeo and Juliet, Op. 64 (Sergei Prokofiev)

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jacarezinho

Adelvane

A Rodoviária / The Bus Station

A (antiga) Rodoviária de Jacarezinho é uma joia do patrimônio histórico da cidade. Para quem seria a futura Palhaça Margarida, aquele espaço foi um laboratório onde podia observar os transeuntes, muitos dignos de um filme de Fellini. E foi como uma espécie de Cabíria, que Adelvane retornou a este lugar cheio de lembranças da família e de onde fez sua primeira viagem de ônibus, em 1981. Desde então, foram várias partidas e chegadas motivadas pelo nobre ofício de ser Artista.

The (old) Jacarezinho Bus Station is a jewel of the town’s historical heritage. For who would be the future Clown Margarida, it was a laboratory where she could observe passersby, many worthy of being in a Fellini film. And resembling a kind of Cabiria, Adelvane returned to that place full of family memories and from where she made her first bus trip, in 1981. Since then, there have been several departures and arrivals motivated by the noble craft of being an Artist.

Trilha sonora sugerida / Suggested soundtrack:

Adelvane – La vie en rose (Edith Piaf)

Patrícia Machado – Isn’t She Lovely (Ao vivo) (Hamilton De Holanda, Mestrinho)

Tom Lisboa – Danzando nella nebbia (Nino Rota)

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Bianca

O Instituto / The Institute

Desde criança, Bianca adora o movimento. Quando corre em ritmo acelerado, um de seus prazeres é apreciar a cadência de sua respiração quando para abruptamente. Durante a pandemia do Covid-19, o IBC (Instituto Brasileiro do Café) era onde se sentia segura e conseguia amenizar os sintomas da ansiedade. Hoje abandonado, o prédio vê a ação do tempo seguir ininterrupta e é o que mais a atrai nestas paragens. Since childhood, Bianca has loved movement. When she runs at a fast pace, one of her pleasures is enjoying the rhythm of your breathing when she stops abruptly. During the covid-19 pandemic, it was at the CBI (Coffee Brazilian Institute) where she felt safe and managed to alleviate the anxiety symptoms. Even abandoned, the action of time continues uninterrupted in this place and is what attracts her most in these stops.

Patrícia

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Trilha sonora sugerida / Suggested soundtrack: Bianca – Porz Goret (Yann Tiersen) Machado – Caravan (John Wasson) Tom Lisboa – Ray of light (Madonna)

Cleiton

A Igreja / The Church

Na virada do século XIX para o XX, a Igreja Matriz de Jacarezinho insistia em separar os cristãos por conta da cor de sua pele. Surgiu então, em 1903, construída pelos próprios negros, a Igreja São Benedito, local onde podiam realizar seus cultos e cantar e dançar suas congadas. Na infância, Cleiton trabalhou ali como coroinha e cresceu conectado com vários movimentos culturais. Hoje ele estuda História, é mestre de bateria de Escola de Samba, percussionista e rapper (MC Kueyo).

At the turn of the 19th century, the mother church of Jacarezinho would insist on separating Christians because of their skin colour. Then, in 1903, the São Benedito Church was built by the black people themselves, where they could perform their services and sing and dance their congadas. When a child, Cleiton served there as an altar boy. He grew up connected with various cultural movements. Today he studies History. He is a Samba School master, percussionist and rapper (MC Kueyo).

Cleiton – Meu Mundo É Hoje (Eu Sou Assim) (Paulinho da Viola)

Patrícia Machado – Feira das Sete Portas (Letieres Leite, Orkestra Rumpilezz)

Tom Lisboa – Sobre o amor e seu trabalho silencioso (Céu)

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Trilha sonora sugerida / Suggested soundtrack:

Elaine O Teatro / The Theatre

O vídeo não mostra que as poltronas vermelhas, algumas marcadas com um “X” por conta do distanciamento social necessário durante a pandemia, combinam com as longas cortinas aveludadas do palco. Quando elas se abrem, Elaine se transporta para outros lugares e sua imaginação voa. Ela é uma guerreira na área cultural e na vida, ou, como prefere dizer: “uma cultivadora de sonhos”. É no teatro que ela transforma muitos deles em realidade.

The video does not show that the red armchairs, some marked with an X due to the social distancing necessary during the pandemic, match the long velvet curtains on the stage. When they open, Elaine transports herself to other places and her imagination flies. She is a warrior in the cultural field and life, or as she prefers saying: “a cultivator of dreams”. It is in the theatre that she turns many of them into reality.

Trilha sonora sugerida / Suggested soundtrack:

Elaine – I´m woman (Emmy Meli)

Patrícia Machado – What a feeling (Irena Cara)

Tom Lisboa – O amor e o poder (Rosana)

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Lívia

O Colo / The Lap

Lívia e a Dona Anita estavam concentradas, acertando detalhes do que iam fazer, e não viram quando uma senhora que cami nhava pela calçada se aproximou e nos disse: “tirem bastante foto da vó”. Desejo atendido: esse stop motion reuniu quase 300 imagens em sequência, onde cada uma registrou o carinho e o amor entre elas. “O meu lar em Jacarezinho é o colo da minha avó. Não importa para onde eu vá, é para seus braços que sempre voltarei”.

Lívia and Ms Anita were concentrating, working out details of what they would do. They did not see it when a lady walking along the pavement approached us and said: Take lots of pictures of grandma. Wish fulfilled: this stop motion brought together almost 300 images in sequence, each one recording the affection and love between them. “My home in Jacarezinho is the lap of my grandmother. No matter where I go, it is to your arms I will always come back.”

Trilha sonora sugerida / Suggested soundtrack:

Lívia e Anita – Clair de lune (Debussy)

Patrícia Machado – Dona Cila (Maria Gadú)

Tom Lisboa – Eu não existo sem você (Tom Jobim)

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Tete

O Boteco / The Bar

Assim que chegamos fomos trabalhar. Fizemos as fotos e filmamos a Tete relembrando seus tempos de modelo e ma nequim, em Curitiba. A doença da mãe a trouxe de volta a Jacarezinho, mas ela acabou permanecendo ali depois de seu falecimento. Sua casa hoje abriga também um local onde as pessoas se reúnem para comer bem, ouvir música e confraterni zar, o Boteco da Tete. E foi lá que terminamos o dia, comendo bolinhos de barreado recheados com banana e tomando umas cervejas. Dia bom esse.

As soon as we arrived, we went to work. We took the photos and filmed Tete remembering her time as a model and mannequin in Curitiba. Her mother’s illness brought her back to Jacarezinho, but she ended up staying even after her Mum’s death. Her home today also houses a place where people gather to eat well, listen to music and socialize: Tete’s Bar. And that’s where we ended the day, eating barreado croquettes stuffed with bananas and having a few beers. That was a good day indeed.

Trilha sonora sugerida / Suggested soundtrack:

Tete – Una furtiva lacrima (Luciano Pavarotti)

Patrícia Machado – Tô voltando (Simone)

Tom Lisboa – Carol ou Clarisse (Benditos, Mart´nália)

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Tom

A Faixa de Pedestres / The Crossing

Tom literalmente cruzou nosso caminho. Ele nos viu traba lhando e disse que queria mostrar o que fazia, uma mistura de mímica com Hip-Hop. De passagem por Jacarezinho para realizar um trabalho social com crianças, ele se apresentava na faixa de pedestre para conseguir uma grana extra. Quando per guntado sobre a coisa mais inusitada que já tinha acontecido com os motoristas, ele disse: “Foi quando chegaram pra mim e disseram que gostavam muito do que eu fazia”.

Tom literally crossed our path. He saw us working and said he wanted to show his skills, a mix of mime and Hip-Hop. Passing by Jacarezinho to do social work with children, Tom made presentations at the pedestrian crossing to earn extra money. When we asked him about the most unusual thing that had ever happened with the drivers, he said: “It was when one came to me and said that he really liked what I did”.

Trilha sonora sugerida / Suggested soundtrack:

Tom – Für Elise (Hip Hop Remix) (Blue Claw Philharmonic)

Patrícia Machado – Trabalhador Brasileiro (Seu Jorge)

Tom Lisboa – Valsa dos clowns (Jane Duboc)

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Lapa

Ari O Santuário/

The Sanctuary

Quando jovem, Ari foi seminarista por quatro anos e o Santuário de São Benedito simboliza a transição de um templo dedicado à fé a um local de pesquisa. Ao estudar sobre a Congada da Lapa e a religiosidade afro-brasileira no Paraná, suas relações com este templo foram desconstruídas e o que era considerado sagrado cedeu espaço a uma percepção fenomenológica. Colocado frente a este espelho, o Santuário ressurgiu com inquietante semelhança.

As a young man, Ari was a seminarian for four years, and the São Benedito Sanctuary symbolizes the transition from a temple dedicated to the faith to a place of research. The deconstruction of the relationship with that site happened when he studied Congada da Lapa and Afro-Brazilian religiosity in Paraná. Beliefs once considered sacred gave way to a more phenomenological perception. The Sanctuary reappeared with an uncanny resemblance once placed in front of that mirror.

Trilha sonora sugerida / Suggested soundtrack:

Ari – Zabumbazul (Divan Gattamorta)

Patrícia Machado – Energia (Abacaxi)

Tom Lisboa – Padê Onã (Kiko Dinucci, Bando Afromacarrônico)

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BRUNO

O PARQUE / The Park

A sensação das pedras aquecidas sob seus pés durante o pôr do sol no Parque Estadual do Monge se mistura com a do vento que se entrelaça com seus fios de cabelo, pernas, braços e dedos. Neste horário, o sol já alaranjado não machuca seus olhos e ele pode contemplá-lo por mais tempo. Quando dançou, Bruno tinha 28 anos e orgulhava-se de ter duas famílias: uma na rua e outra em casa.

The feeling of the warm stones under his feet during the sunset at The Monge State Park mixes with the wind that weaves through his hair, legs, arms and fingers. At this moment, the already orange sun does not hurt his eyes, and he can gaze at it longer. When he danced for us, Bruno was 28 years old and was proud of having two families: one on the street and one at home.

Trilha sonora sugerida / Suggested soundtrack:

Bruno – Onde nascem os heróis (Escama)

Patrícia Machado – Prickly Pear (Portico Quartet)

Tom Lisboa – Pais e filhos (Legião Urbana)

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Carol O Jardim / The Garden

A conexão com a terra e a natureza é algo ancestral e que foi herdado de seus antepassados. A dança de Carol é expansiva e intuitiva, assim como o vento que toca as folhas de uma árvore. Por trás de cada intenção de movimento foi tecida a questão do cultivo, da colheita e do cuidado. No dia da sessão de fotos estávamos ouvindo As Quatro Estações, de Vivaldi.

The connection with land and nature is an ancestral thing that she inherited from her household. Carol’s dance is expansive and intuitive, like the wind that touches the leaves of a tree. Behind each intention of movement, we worked on the proceedings of cultivating, harvesting, and caring. Four Seasons by Vivaldi was playing on the day of the photo shooting.

Trilha sonora sugerida / Suggested soundtrack:

Carol – Four Seasons - Spring (Vivaldi)

Patrícia Machado – Oração ao tempo (ao vivo)

(Caetano Veloso)

Tom Lisboa – Le premier bonheur du jour (Pink Martini e The Von Trapps)

79

Diego O Parque / The Park

Diego adora esportes e é professor de xadrez. O Parque Estadual do Monge é um local onde costumava ir quando criança e, hoje, é para onde por vezes leva sua filha. Ali ele encontra um refúgio, um abrigo para cantar, orar, relaxar e também dançar. Sua coreografia revive uma lembrança de sua adolescência, quando seus passos ritmados chamavam a atenção de todos nas festas em que participava.

Diego loves sports and works as a chess teacher. The Monge State Park is where he used to go as a child and where today he takes his daughter. There Diego finds refuge to sing, pray, relax and also dance. His choreography brings back a memory of his adolescence when his rhythmic steps caught the attention of everyone at the parties he attended.

Diego

Patrícia

Tom

82
Trilha sonora sugerida / Suggested soundtrack: – Reggae gone ragga (Dr. Alban) Machado – Love sets you free (Kelly Price) Lisboa – Move this (Technotronic)

Gaby

O Parquinho / The Playground

Era no parquinho que Gaby ia se divertir aos sábados, quando sua mãe saía para trabalhar e, durante a semana, era um espaço de recreação entre sua casa e a escola. Em 2020, realizou o sonho de fazer parte de um grupo de teatro. A dança que compartilhamos aqui, vinha sendo treinada por ela na plata forma Tik Tok, e o stop motion adicionou filtros e efeitos que caracterizam este aplicativo.

The playground was where Gaby went to have fun on Saturdays when her mother went to work, and during the week, a recreation space between her home and school. In 2020, she fulfilled her dream of being part of a theatre group. The dance we share here, she had been training for Tik Tok, and this stop motion added filters and effects that characterize this app.

Trilha

Gaby – Golden (Harry Styles)

Patrícia Machado – That’s what I like (Bruno Mars)

Tom Lisboa – I need you (Luxxury)

87
sonora sugerida / Suggested soundtrack:

José A Avenida / The Avenue

A Avenida Dr. Manoel Pedro, que atravessa toda a cidade da Lapa, é o local onde José descobriu a razão do pertencer, de estar conectado a um povo, à política, à natureza e à própria vida. Além de oferecer passagem para os carros, ela foi proje tada para ser um arborizado espaço de convivência para seus habitantes. É ali que ele pratica esportes, toma seu chimarrão e aproveita a companhia de seus amigos.

Dr Manoel Pedro Avenue, which crosses the entire city of Lapa, is where José discovered “the reason for belonging”: of being connected to a people, to politics, to nature, and to life itself. In addition to offering passage for cars, its design intended to be of the tree-lined living space for its inhabitants. It is there he practices sports, drinks his mate and enjoys the company of his friends.

José

Patrícia Machado – Swing Low, Sweet Cadillac (Dizzy Gillespie)

Tom Lisboa – Another one bites the dust (Queen)

90
Trilha sonora sugerida / Suggested soundtrack: – Fly me to the moon (in other words) (Frank Sinatra, Count Basie)

Kamilly

A Cachoeira / The Waterfall

“Amo animais, amo livros, amo flores e amo cachoeiras”, disse Kamilly quando perguntada sobre o que ela mais gostava de fazer na cidade. Do alto de seus 16 anos, ela afirma que gosta das coisas simples da vida. Em sua coreografia ela mostra os movimentos transbordando de sua pele. Tendo a cachoeira como pano de fundo, seus gestos se diluíram na própria água que os refletia.

“I love animals, I love books, I love flowers, and I love waterfalls,” told us Kamilly when we asked her what she liked to do most in town. From the top of her 16 years old, she says she enjoys the simple things in life. In her choreography, the idea was that the movements overflowed her skin. With the waterfall as a backdrop, her gestures would merge in the very water that reflected them.

Trilha sonora sugerida / Suggested soundtrack:

Kamilly – Too Late (Zeeba)

Patrícia Machado – Um corpo no mundo (Luedji Luna)

Tom Lisboa – Waters of March (Marisa Monte e David Byrne)

95

Mara O Teatro / The Theatre

Foi no centenário Theatro São João, na Lapa, que Mara teve seu primeiro emprego como guia de turismo local e descobriu seu amor pelo teatro. Na sua coreografia, ela resgatou lembranças dos gestos que executava para apresentar o palco aos visitantes: abrir a cortina, reunir o grupo e apontar com reverência (usando os dois braços) o lugar onde sentava o Imperador.

At the centenary São João Theatre, in Lapa, where Mara had her first job as a local tour guide, she discovered her love for the stage. In her choreography, she recollected memories of the gestures she performed to introduce the theatre to visitors, like opening the curtain, gathering the group and reverently pointing (and using both arms) to the place where the Emperor used to sit down.

99
Trilha sonora sugerida / Suggested soundtrack: Mara – Salzburg Symphony No 1 (Wolfgang Amadeus Mozart) Patrícia Machado – Pompidou (Portico Quartet) Tom Lisboa – Akkad Bakkad (Mohit Chauhan)

Nílvia

A casa / The House

Foi uma dança de agradecimento e despedida. A casa em que mora há 52 anos, e agora está posta à venda, era um cenário perfeito. Na sala, a saudosa relação que tinha com sua mãe se fez presente: acrescentamos sua foto em preto e branco na pilastra central (onde antes repousava um calendário), além de inserirmos em um vaso a flor de uma roseira que ela plantou há quase 30 anos.

It was a dance of thanks and farewell. The house in which she has lived for 52 years, and is now up for sale, was a perfect setting. In the living room, the longing relationship she had with her mother was present: we added her black and white photo to the central pillar (where a calendar used to be), and in the vase, the flower of a rose bush that she planted almost 30 years ago.

102
Trilha sonora sugerida / Suggested soundtrack: Nilvia – La vie en rose (Richard Claydeman) Patrícia Machado – Kalu (Dalva de Oliveira) Tom Lisboa – Carinhoso (Elizeth Cardoso)

Patrícia

A Estação de Trem / The Train Station

Quando criança, Patrícia e sua melhor amiga costumavam frequentar um acampamento de ciganos, de onde sua dança teve inspiração. Seu local preferido na Lapa também tem a ver com esse estado nômade de viver: a estação ferroviária. Seu avô costumava contar a ela histórias fantásticas que conectavam os trilhos do trem à sua imaginação. Uma viagem sem sair do lugar.

As a child, Patricia and her best friend used to go to a gipsy camp, which inspired her dancing. Her favourite place in Lapa also has to do with this nomadic living life: the train station. Her grandfather used to tell her fantastical stories that connected the train tracks to her imagination: a journey without moving.

Trilha sonora sugerida / Suggested soundtrack:

Patrícia – Alabina (Ishtar Alabina e Los Niños de Sara)

Patrícia Machado – Entre dos aguas (Paco de Lucia)

Tom Lisboa – Sous le soleil de Bodega (Les Négresses Vertes)

107
prudentópolis

Clarice

O Teatro / The Theatre

“Aqui nesse palco, foi onde minha paixão por dançar e ence nar se iniciou”. Clarice começou no ballet aos 6 anos. Hoje, tem 13, e traz a convicção de que é no palco que será feliz. As memórias de sua primeira apresentação são tão intensas quanto fugidias e foram o ponto de partida para a coreografia que registramos. Neste dueto entre passado e presente, sua dança ressurgiu como se fosse a original.

“Here, on this stage, is where it all began, where my passion for dancing and acting initiated.” Clarice started ballet at age 6. Today she is 13 and is convinced that it is on stage that she will be happy. The memories of her first performance are as intense as they are fleeting, and it was the starting point for the choreography we recorded. In this duet between past and present, her dance resurfaced as if it were the original.

Trilha sonora sugerida / Suggested soundtrack:

Clarice – La valse d’Amélie (Yann Tiersen)

Patrícia Machado – Nutcracker, Op. 71, Act: II: No. 13 (Tchaikovsky)

Tom Lisboa – Dance of the sugar plum fairy (Momot)

113

Ivanize

O Cemitério / The Cemetery

Ivanize é natural de Prudentópolis e morou parte de sua vida em frente ao cemitério onde gostava de brincar. Nunca sentiu medo ou culpa por isso. Era uma espécie de lugar sagrado que trazia um ar de mistério e uma conexão com outro universo. Achava que estava levando alegria para as almas. Lá está sepultado seu dido (avô em ucraniano), que deixou doces memórias, inclusive das paçocas que fazia.

Ivanize is from Prudentópolis and lived part of her life in front of the cemetery, where she liked to play. She never felt fear or guilt about it. It was a type of sacred place, which had an air of mystery and a connection to another universe. She thought she was bringing joy to souls. Her dido (grandfather in Ukrainian), who left her sweet memories, including the paçocas he used to make, is buried there.

Ivanize – Квітка Цісик. Пісні України (14) (У горах Карпатах)

Patrícia Machado – Prelude N.1 Melodía lírica (Heitor Villa-Lobos, Pablo Sains Villegas)

Tom Lisboa – Ciranda da bailarina (Coro infantil)

116
Trilha sonora sugerida / Suggested soundtrack:

Juju

Ponte Nova/Pinheiro de Pedra

Ao mesmo tempo em que parecia segurar um delicado casulo, Juju também simulava no próprio corpo estar aprisionada dentro de algo. Assim ela começou a narrar sua história, recriando o desgaste emocional que a fez residir por quase quatro anos no exterior, alguns deles como voluntária em Myanmar. Os gestos traduzem sua relação com Prudentópolis, uma fase que ela carinhosamente chama de “metamorfose da borboleta”.

At the same time that she seemed to hold a delicate cocoon, Juju also simulated in her own body being trapped inside something. So she began to narrate her history by recreating the emotional exhaustion that made her live abroad for almost four years, some of them as a volunteer in Myanmar. The gestures that appear next reflect her relationship with Prudentópolis, a phase that she affectionately calls the “metamorphosis of the butterfly”.

Trilha sonora sugerida / Suggested soundtrack:

Juju – Peça Felicidade (versão acústica) (Melim)

Patrícia Machado – Me curar de mim (Flaira Ferro)

Tom Lisboa – Bela flor (Maria Gadú)

121

Mari O Campo / The Field

Mari não é originária de Prudentópolis, mas sua vida parece ter passado a fazer sentido quando mudou para lá, há cerca de três anos. Nesta cidade ela redescobriu o prazer da reflexão e a importância do silêncio. Este campo representa sua entrada na umbanda, um marco em sua espiritualidade. Os eucaliptos que forram o chão das giras são colhidos nestes arredores. Mari is not originally from Prudentópolis, but her life seems to have made sense when she moved there about three years ago. In this town, she rediscovered the pleasure of reflection and the importance of silence. This field represents her entry into Umbanda, a milestone in her spiritual life. The eucalyptus trees, which cover the ground in the giras (ceremonies), are harvested in these surroundings.

Mari – A sala tá cheia (A Barca)

Patrícia Machado – Canto de proteção (Clarianas)

Tom Lisboa – Yáyá Massemba (Maria Bethânia)

124
Trilha sonora sugerida / Suggested soundtrack:

Concepção e criação: Patrícia Machado e Tom Lisboa

Direção de movimento: Patrícia Machado

Fotografia e stop motion: Tom Lisboa

Montagem: Lívea Castro

Projeto gráfico: Letícia Lampert

Revisão português: Ana Guida

Revisão inglês: Liane von Mühlen

Textos dos participantes e tradução para inglês: Tom Lisboa

Produção: Artéria Cultural

Assistente de produção: Alessandra Lange

Rede social: Ana Paula Luz

Assessoria de imprensa: Fernando de Proença

Acompanhe as novidades do projeto através do Instagram @coreocodes

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Machado, Patrícia

Coreo(codes) : movimentos codificados em espaços singulares / Patrícia Machado, Tom Lisboa. -- Curitiba, PR : Drops Cultural, 2022.

ISBN 978-65-997249-0-9

1. Artes 2. Corpo - Arte 3. Corpo - Imagem 4. DançaAspectos sociais 5. Fotografias I. Lisboa, Tom. II. Título. CDD-792.8 22-101738

Índices para catálogo sistemático: 1. Dança : Artes 792.8

Aline Graziele Benitez - Bibliotecária - CRB-1/3129

Publicação: Produção: Realização: Incentivo:
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