PIC Jornal O Dialeto

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EDITORIAL

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O DIALETO Do tema proposto “São Paulo e seus contrastes”, surgiu o tema do nosso jornal “Cultura de Luxo e Lixo”. Tema este que traz à tona as desigualdades das sociedades de massa e suas diversas vertentes, o Luxo como produtos e entretenimento e o Lixo, por sua vez, como resultado desse consumo compulsivo e sem precedentes. Um tema bastante complexo, que exigiu muita pesquisa e paciência para atingir o resultado necessário e desejado, porém, fascinante que nos permite olhar criticamente para a sociedade atual. Todo o Luxo do Boticário e sua “Bioconsciência”, que a princípio seria apenas mais uma campanha de sustentabilidade, porém, por trás da campanha omitiu a grande preocupação da empresa com o problema das falsificações de produtos. Já a Cavalera, com seu slogan “Luxo para todos”, que promoveu em

2007 um luxuoso desfile as margens do rio Tietê terá que se deparar com a questão: O Luxo da Cavalera é realmente para todos ou só mais um clichê para vender? E uma entrevista com a jornalista Lívia Meimes, autora do livro digital “Bravo: Lixo e Luxo no jornalismo cultural da Editora Plus, onde fala sobre a atual situação do jornalismo cultural no Brasil. Enfim, um apanhado abrangente do tema exigido, de forma clara e coerente, que nos leva a diversos questionamentos do atual mundo em que vivemos. E como dizia Rita Lee: “Não quero Luxo nem Lixo”! Boa leitura!

Fotos: www.sxc.hu

empolgação dos antigos estudantes de jornalismo (que escolhiam a profissão com o ideal de tentar mudar o mundo em que vivemos) e a vontade de fazer a diferença. Foi assim que surgiu a idéia da primeira edição do jornal “O Dialeto” na cabeça de quatro futuros jornalistas: Aline Peralta, Fabíola Galhardo, Kelly Gobi e Diego Mota. Uma idéia que nasceu ao som de Dead Fish, Lenine, Rita Lee, Titãs, Charlie Brown Jr e todos os possíveis sons que Lixo e o Luxo possam fazer. Pelos livros de Marx, Guy Debord - e sua sociedade espetacular, pelos professores que nos fizeram pensar dialeticamente e que nos incentivaram a buscar cada vez mais conhecimento para alimentar discussões, de ter sempre atitude, ir contra modismos, revolucionar, promover debates e discussões, e combater a alienação e o conformismo.

EXPEDIÊNTE Nem Luxo, Nem Lixo

Reitor Professor Dr. João Carlos Di Gênio Diretoria Professor Francisco Alves Assistente da Diretoria Professora Elisabete Brihy Coordenador Geral do Curso de Jornalismo Professor Fernando Perillo da Costa Coordenador de Jornalismo – Tatuapé Professor Elvis Wanderley dos Santos Professor Responsável Leonardo Garzaro Responsáveis Aline Peralta Diego Mota Fabiola Galhardo Kelly Gobi

Como vai você? Assim como eu Uma pessoa comum Um filho de Deus Nessa canoa furada Remando contra a maré Não acredito em nada Só não duvido da fé... E como vai você? Assim como eu Uma pessoa comum Um filho de Deus Nessa canoa furada Remando contra a maré Não acredito em nada Não! Até duvido da fé... Não quero Luxo nem Lixo Meu sonho é ser imortal Meu amor! Não quero Luxo nem Lixo Quero saúde prá gozar no final Luxo! Lixo! Meu sonho é ser imortal Meu amor! Luxo nem Lixo Quero saúde pra gozar no final... E como vai você? Composição: Roberto de Carvalho / Rita Lee

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O DIALETO

COMPORTAMENTO

O Boticário: Preocupação com o meio ambiente ou com falsificações?

Projeto “Bioconsciência”, presente nas lojas O Boticário, desde 2009, ainda causa dúvidas entre seus clientes. Por Aline Peralta devolução das embalagens dos produtos O Boticário para reciclagem.

Imagem: Institucional Boticário

O que muita gente não sabe é que por trás de toda a campanha de cunho ambiental existe a preocupação com as falsificações dos produtos da marca. Um exemplo das falsificações de produtos O Boticário aconteceu na região sul do país, segundo reportagem publicada no jornal Correio do Povo do Pará, em maio deste ano, foram aprendidos 48 frascos de perfumes falsificados que estavam sendo comercializados em uma loja em Laranjeiras do Sul.

Frente de uma das lojas da marca espalhadas pelo país Boticário é uma empresa brasileira, O fundada em 1977 pelo farmacêutico Miguel Krigsner. A marca sempre es-

teve preocupada com a preservação da natureza, tanto que em 1990 foi criada a Fundação O Boticário de Proteção á Natureza, uma organização sem fins lucrativos promove ações de conservação das belezas naturais do Brasil. A marca atualmente levantou a bandeira da sustentabilidade, lançando no ano passado o projeto “Bioconsciência”, campanha que teve início em novembro de 2009, consiste no incentivo à

Diante da situação alguns comerciantes alegaram que os produtos tinham sido rejeitados pela fábrica em São Paulo devido defeito de fabricação. Os produtos apreendidos estavam sendo revendidos com valor inferior ao normal e apresentavam problemas de violação, falta de tampa e até sujeira nas embalagens. Entre as mercadorias apreendidas pela polícia da cidade estavam até perfumes que já saíram de linha como o... Ops!, que já não é vendido há algum tempo nas franquias. Nossa reportagem esteve presente em algumas franquias e em nenhuma delas as vendedoras souberam dar detalhes do projeto, nem sobre o problema das falsificações. A falta de informação sobre o projeto é tamanha por parte dos consumidores que em uma das franquias havia Lixo no container destinado ao recolhimento das embalagens.

Quase um ano após o lançamento do projeto muitos clientes ainda não têm conhecimento da campanha: “Vou ao Boticário todos os meses, seja para repor algum produto que uso ou para presentear alguém, porém nenhuma vendedora mencionou o projeto, então, eu continuava a descartar minhas embalagens incorretamente”. Diz Cristiane Criscenti, 35, gerente de faturamento, cliente do Boticário a mais de 15 anos. A impressão que fica é que não houve treinamento aos vendedores e que a campanha não teve a divulgação que merecia, ao contrário da nova linha de produtos de maquiagem de Luxo da marca, intitulada Make B, que possui forte apelo comercial, destaque em todas as lojas e comerciais de televisão em horário nobre. Em contato com O Boticário via email, pelo SAC ou pelo canal da marca intitulado “Institucional” não obtivemos respostas. Até o fechamento dessa matéria marca preferiu não se pronunciar sobre o assunto. Diante disso fica a dúvida, o projeto “Bioconsciência” quer despertar consciência ambiental em seus clientes ou apenas mascarar a problema das falsificações de produtos por trás da moda da sustentabilidade? Para mais informações: www.boticario.com.br 0800-413011(chamada gratuita)

Cavalera: o Luxo é realmente para todos? Marca de Igor Cavalera em parceria com o ex-deputado Turco Loco ganha as passarelas mundiais e ostenta o Luxo para todos. Por Kelly Gobi marca Cavalera foi criada em 1995, A pelo ex baterista da banda Sepultura Igor Cavalera e o ex deputado estadual Alberto Hiar, conhecido como “Turco Loco”, por vender roupas com preços baixos em um programa de televisão.

A princípio o intuito da marca era a satirizar e protestar contra o monopólio das grandes marcas como: Adidas, Lacoste, Coca-Cola, além de personagens de desenhos animados, que acabavam com a concorrência das marcas menores.

Foto: Kelly Gobi

Ao longo desses quinze anos de existência a Cavalera contou com a participação de vários estilistas famosos como Marcelo Sommer, Thais Losso e André Lima como parceiros em suas coleções.

Banner gigante que promete “Luxo para todos” na Zona Leste de SP

Uma das parcerias que lhe rendeu bons frutos foi com o estilista André Lima que foi convidado a criar uma coleção e usou de seu bom humor para brincar com marcas famosas como Luis Vitton, Chanel, entre outras e criou o slogan “Luxo para Todos” que vem sendo usado desde então pela marca. Outra parceria bem sucedida feita pela Cavalera foi com o estilista Marcelo Sommer, que na SPFW (São Paulo Fashion Week) de 2007, abriu o penúl-

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timo dia de desfiles com um inusitado desfile ás margens do Rio Tietê. A idéia do desfile era instigar à reflexão do público a degradação das águas do rio que cortam a cidade, mostrar que o Luxo pode ser para todos e que a moda também pode ser reciclada. Mais fica a dúvida, como o luxo pode ser para todos, se os produtos considerados de Luxo são caros, (o que é caso da própria Cavalera) e nem todos tem condições de comprar? Nossa reportagem fez uma cotação dos preços da Cavalera em sua loja online, constatamos que existem produtos com preços mais acessíveis, o que é o caso de algumas babylooks, em compensação algumas blusinhas básicas, sem nenhuma estampa ou até mesmo um top, por preços injustos, por ser um produto com acabamento básico (R$ 300) incoerentes para a realidade de nosso país. Entramos em contato com a assessoria de imprensa de André Lima, estilista criador do slogan usado pela marca, e até o fechamento da matéria não obtivemos respostas.


ENTREVISTA

Lívia Meimes e o jornalismo cultural

O DIALETO

O trabalho de conclusão da faculdade de jornalismo que virou referência ao jornalismo cultural. Por Fabiola Galhardo

Repórter do caderno geral do jornal Zero Hora

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cultura do jornalismo é a forma mais simples de observar e analisar o que desperta interesse na população e é baseado nesse processo que surgiu a obra, E- Book: Luxo e o Lixo no jornalismo cultural, editora eletrônica PLUS, de Lívia Meimes, 30 anos, jornalista do jornal Zero Hora, formada e mestre em comunicação na PUCRS. Lívia Meimes tem uma personalidade crítica, olhar apurado do cotidiano, observadora e tem fácil abstração, resultado: escreveu um livro para o trabalho de conclusão de curso, do qual a jornalista obteve a nota máxima dos orientadores. Meimes, explica: “Eu sempre critiquei a indústria cultural. Desde adoles-

cente, nos anos 80, a ‘moda’ era ditar o que era ‘comercial’ e o que era ‘underground ou alternativo’. Hoje, com Internet não existe mais essa distinção.” Devido a essas e outras questões que a impulsionou a escrever sobre o assunto. Segundo a jornalista, a banalização da informação, as imagens de apelo, a exploração da vida íntima, a aparência como qualidade principal, entre outras questões, são o que contribuem para o empobrecimento da cultura. O fato de tudo estar semi pronto, um “fast food cultural”. É possível perceber essa excassez na televisão, em revistas de fofocas, em sites na internet que alimentam o mercado com formas de entretenimento, como: as novelas, os realitys shows, séries, o mundo de celebridades, etc. A sociedade é sobrecarregada o tempo todo com informações que desejam ver e não param para refletir sobre elas. “Hoje em dia o valor da informação é medida pela quantidade de pessoas que se interessam por ela e não pelo conteúdo que ela produz”, declara Meimes. Ela acredita que um dos motivos para a atual crise no jornalismo impresso é a desvalorização da informação séria para a valorização de informações resumidas e distrativas. A escritora levanta a questão de que nos dias de hoje a cultura e as variedades se confundem. O excesso de desinformações e o entretenimento têm mais espaço do que a crítica e as informações de âmbito cultural.

Entretanto, acredita que bom jornalismo nunca irá acabar. “Mesmo sendo niilista (risos) sou muito otimista, porque vejo bom jornalismo sendo feito. Mas, sei que nem sempre é assim, tem a questão comercial, mas isso é inevitável na maioria das empresas, é o capitalismo, o lucro”. Em questão cultural o Luxo de celebridades, riquezas, belezas, glamour, etc. se tornam Lixo. E o conhecimento profundo, com amplitude de reflexão e inteligência, é considerado Luxo, por ser próximo da raridade, pois em meio a tanta confusão de informações é difícil dividir o que é culturalmente necessário e o que é culturalmente desnecessário. E você já parou para pensar se consume mais o Luxo ou o Lixo na atual cultural jornalística que vivemos ?

Capa do E- Book de Lívia Meimes, publicado pela editora PLUS

Lixo tecnológico: para onde vai?

Cresce a preocupação de empresas como a agência de Publicidade ONN Networking com o Lixo eletrônico, veja a solução adotada pela empresa Por Diego Mota

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ecentemente um relatório divulgado pela ONU divulgou que o Brasil é o primeiro em produção de Lixo tecnológico, gerando 96,8 mil toneladas do mesmo por pessoa, mais o que é o Lixo tecnológico? Lixo tecnológico é toda a parte física de um computador, placas, baterias, monitores, entre outros descartados pelos consumidores. Procuramos Alessandro Ferreira, 30, Gerente de redes e infra-estrura de redes da agência ONN Networking, para dar mais informações sobre o assunto. O Dialeto: Como e quando um aparelho se torna Lixo tecnológico? Alessandro: Uma das causas mais comuns para aparelhos eletrônicos se tornarem Lixo é a queima que na troca acaba sendo mais fácil comprar um novo do que trocar a peça, mais o que mais influência é à novidade, o lançamento de aparelhos novos. No caso da agência essa transformação se dá por qual dos motivos? No caso da agência ela faz o aparelho se tornar Lixo, por não corresponder mais, o que ela precisa, ou simplesmente porque saiu um novo no mercado, mais eficiente, mais bonito.

Pilha de gabinetes, monitores antigos de CRT (tubo) rumo a extinção. De quanto em quanto tempo é formado o Lixo tecnológico? O tempo é o menor (risos), é difícil ser pelo tempo por tempo ele dura bastante, depende muito do usuário, no caso da agência o tempo são três anos, até porque temos programa de comprar computadores novos todos os anos, mais antes de ele ser descartado ele passa por vários funcionários. Denominados por classes. O que é feito com esse Lixo? Geralmente é doamos para ONGs, no caso dos que não funcionam mais,

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chamamos uma empresa especializada em recolher esse tipo de material para jogar em um lugar adequado ou doamos para empresas que dão aula de montagem e manutenção de micros pra ensinar os alunos a mexer. Para qual instituição vocês doam? Não tem uma instituição específica, procuramos doar para várias instituições, fazemos um levantamento com os funcionários para saber se eles conhecem alguma que precise e fazemos a doação, até para ser mais justo, é melhor doar para instituições diferentes do que doar tudo para a mesma e os computadores ficarem encostados sem uso. Onde deve ser jogado esse Lixo? O computador em si pode ser jogado no Lixo comum o que não se deve jogar são as baterias, por que elas são feitas com mercúrio, e podem estourar ou vazar e isso prejudica o meio ambiente, o mesmo acontece com os monitores CRT, mais conhecidos como tubo, o legal é descartar esses materiais em postos de coleta. No metrô Sacomã ou Alto do Ipiranga tem esses postos que coletam baterias de celular e notebooks e conseguem levar esse Lixo numa boa.


O DIALETO

São Paulo, 16 de novembro de 2010

O Boticário: preocupação com o meio ambiente ou com falsificações?

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Imagem: Institucional Boticário

Boticário é uma empresa brasileira que sempre teve conciência ambiental. Lançou em 2009 um projeto chamado “Bioconsciência”, que consiste na devolução das embalagens dos produtos da marca para reciclagem. Porém, existe a preocupação com a falsificação dos produtos O Boticário. Diante disso, fica a dúvida: a marca quer realmente despertar em seus clientes uma atitude sustentável ou resolver o problema das falsificações?

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Uma das lojas participantes do projeto “Bioconsciência”, em um shopping na Zona Leste da cidade de São Paulo

Foto: Kelly Gobi

Cavalera: O Luxo realmente para todos?

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avalera é uma marca de roupas do ex integrante da banda de rock Sepultura e o ex deputado Alberto Hair, conhecido como “Turco Loco”

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Para onde vai o Lixo tecnológico?

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e acordo com relatório da ONU (Organização da Nações Unidas) o Brasil é o país que mais produz o chamado eLixo, que são computadores, celulares, pilhas, baterias, entre outros. E você o que faz com o seu Lixo eletrônico? Conheça a posição adotada pela agência de publicidade ONN NETWORKING em relação ao e-Lixo.

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Foto: acervo pessoal

Banner do slogan “Luxo para todos” de uma das franquias da Cavalera, localizada no Shopping Tatuapé

A marca que promoveu em 2007 um desfile as margens do rio Tietê, promete “Luxo para todos” Mas, será que o Luxo é mesmo para todos ou apenas um clichê para aumentar as vendas e convencer de que a marca pode ser algo acessível para todas as classes sociais?

Lívia Meimes e o jornalismo cultural

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ornalista do jornal Zero Hora e autora do E- Book: “Bravo! O Lixo e o Luxo no jornalismo cultural”, fala sobre sua obra e dá sua opinião sobre a atual situação do jornalismo no Brasil, a banalização da informação, o apelo pela imagem, a exploração da vida íntima, a aparência como qualidade principal e a mistura de entretenimento e cultura.

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