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" Maria Misionária"

Olhar para Maria Missionária é fazer memória dos feitos de Deus na história da Salvação. Partimos do pressuposto que toda missão nasce do coração de Deus Trindade. Seu projeto de salvação é universal, por isso, abraça a humanidade de todos os tempos e lugares. É nesta perspectiva que olhamos para Maria, Mãe de Jesus, a primeira missionária, aquela que carrega o Verbo de Deus em seu ventre materno.

O Concílio Vaticano II acena para a importância de reconhecermos o modo progressivo e claro do papel da Mãe do Salvador na economia da salvação, descrito na Sagrada Escritura e na venerável Tradição. Maria encontra-se já profeticamente delineada na promessa da vitória sobre a serpente (cf. Gn 3,15), feita aos primeiros pais caídos no pecado. Ela é, igualmente, a Virgem que conceberá e dará à luz um Filho, cujo nome será Emanuel (cf. Is 7,14; cf. Mq 5,2-3; Mt 1,22-23). “É a primeira entre os humildes e pobres do Senhor, que confiadamente esperam e recebem a salvação de Deus” (LG, n. 55).

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A Serva de Deus põe-se a caminho

O Sim de Maria assumido como “Serva do Senhor” é um acontecimento grande demais para permanecer encerrado em si mesma. Convicta de sua responsabilidade, assume a nova missão para a qual fora destinada e eleita. “Naqueles dias, Maria pôs-se a caminho para a região montanhosa, dirigindose apressadamente a uma cidade de Judá” (Lc 1,39).

Maria é uma mulher de ação, levanta-se e parte apressadamente em direção à sua parenta que estava grávida. Deixa para trás a tutela do noivo José. Põe-se a caminho, não há tempo para perder, pois é preciso levar a boa notícia para Isabel. Ao se encontrarem, as duas mulheres reconhecem que está irrompendo um tempo novo. As promessas feitas aos Pais estão se cumprindo. Novamente Deus revela que se importa com a vida dos pequenos, dos pobres, famintos e humilhados.

Isabel proclama a bem-aventurança da fé. Maria é feliz porque acreditou. “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! Feliz aquela que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido!” (Lc 1,42-45). A saudação da prima constitui um prolongamento da aclamação do anjo, em Nazaré. Maria carrega a grande bênção da infinita misericórdia de Deus no “fruto” do seu ventre. Ela é a “tenda” do Altíssimo, carrega o autor de todas as profecias. Ela vai tornar-se a discípula de Seu Filho, acompanhando-o pelas estradas empoeiradas até a crucificação, e lá permanece em pé. Depois da Páscoa, Maria é a missionária que anima os seguidores de Jesus, mantendoos vigilantes, em oração, à espera do Espírito (cf. At 1,14).

Contemplando

Lectio Divina - Semana Santa

2. A Palavra ilumina a nossa realidade (Leitura bíblica: Evangelho segundo São Mateus, 26, 14-25)

Então, um dos Doze, chamado Judas Iscariotes, dirigiu-se aos chefes dos sacerdotes e lhes perguntou: "O que me darão se eu o entregar a vocês?". E fixaram-lhe o preço: trinta moedas de prata. Desse momento em diante Judas passou a procurar uma oportunidade para entregá-lo. No primeiro dia da Festa dos Pães sem Fermento, os discípulos dirigiram-se a Jesus e lhe perguntaram: "Onde queres que preparemos a refeição da Páscoa?". Ele respondeu dizendo que entrassem na cidade, procurassem um certo homem e lhe dissessem: "O Mestre diz: O meu tempo está próximo. Vou celebrar a Páscoa com meus discípulos em sua casa". Os discípulos fizeram como Jesus os havia instruído e prepararam a Páscoa. Ao anoitecer, Jesus estava reclinado à mesa com os Doze. E, enquanto estavam comendo, ele disse: "Digo que certamente um de vocês me trairá". Eles ficaram muito tristes e começaram a dizer-lhe, um após outro: "Com certeza não sou eu, Senhor!". Afirmou Jesus: "Aquele que comeu comigo do mesmo prato há de me trair. O Filho do homem vai, como está escrito a seu respeito. Mas ai daquele que trai o Filho do homem! Melhor lhe seria não haver nascido". Então, Judas, que haveria de traí-lo, disse: "Com certeza não sou eu, Mestre!" Jesus afirmou: "Sim, é você".

Perguntas para refletir: O que nos diz a Leitura? Que atitudes você vê em Judas?

3. A Palavra de Deus nos ajuda a discernir

Judas foi-se, mas deixou discípulos, que não são seus discípulos, mas do diabo. Não sabemos como foi a vida de Judas. Um jovem normal, talvez, e até com inquietações, pois o Senhor o chamou para ser discípulo. Ele nunca conseguiu ser um discípulo: não tinha boca de discípulo, nem coração de discípulo... Era débil no discipulado, mas Jesus amava-o... Judas gostava de dinheiro: na casa de Lázaro, quando Maria ungiu os pés de Jesus com aquele perfume caro, ele fez a reflexão e João sublinhou: “Dizia isso não porque ele se interessasse pelos pobres, mas porque era ladrão” (cf. Jo 12, 6). O amor ao dinheiro tinha-o afastado das regras, roubar, e de roubar a trair, o passo é breve. Quem gosta demasiado de dinheiro trai para ter mais, sempre: é uma regra, é um fato. O jovem Judas, talvez bondoso, com boas intenções, acaba por ser um traidor ao ponto de ir ao mercado para vender: “Foi ter com os príncipes dos sacerdotes e disse: 'que me quereis dar, eu vo-lo entregarei?'” (cf. Mt 26, 14). Na minha opinião, este homem estava fora de si.

Um aspecto que me chama a atenção é que Jesus nunca o chama “traidor”; diz que será traído, mas não o chama “traidor”. Nunca diz: “Vai-te embora, traidor”. Nunca! Na verdade, chama-lhe “Amigo” e beija-o. O mistério de Judas… como é o mistério de Judas? Não sei.

O coração de Judas, inquieto, atormentado pela ganância e angustiado pelo amor a Jesus - um amor que não conseguiu tornar-se amor, mortificado com este nevoeiro, procura os sacerdotes para lhes pedir perdão e salvação. “Que nos importa? Isso é contigo” (cf. Mt 27, 4). O diabo fala assim e deixa-nos no desespero.

Pensemos nos muitos Judas institucionalizados neste mundo, que exploram as pessoas. E pensemos também no pequeno Judas que cada um de nós tem dentro de si na hora de escolher entre lealdade ou interesse. Cada um de nós tem a capacidade de trair, de vender, de escolher pelo próprio interesse. Cada um de nós tem a possibilidade de se deixar atrair pelo amor ao dinheiro, aos bens ou pelo bem-estar futuro. “Judas, onde estás?”, mas faço esta pergunta a cada um de nós: “Tu, Judas, o pequeno Judas dentro de mim: onde estás?”.

(Trecho da Homilia do Santo Padre Francisco: "Judas, onde estás?", quarta-feira, 8 de abril de 2020)

Espiritualidade

4. A Palavra nos fala para nos comunicarmos com Deus

Quando você sente que traiu Jesus, Ele lhe pergunta: “Você me ama?”. Convidamos você a rezar o Salmo 32

5. A Palavra transforma nossas atitudes

Perguntas para refletir: Que atitudes devo corrigir ou o que devo fazer para me livrar das minhas culpas e pecados?

Terminamos a nossa oração agradecendo a Deus pelo seu amor, pelo seu perdão.

• Cantamos uma canção de perdão.

• Rezamos o Pai Nosso e uma Ave Maria.

Oração Vocacional

Semeador do Reino e pastor do rebanho! Ao contemplar o mundo de hoje, teu coração se comove de novo: tantas pessoas estão cansadas e abatidas, e vivem como ovelhas sem pastor; a colheita continua grande, e os operários ainda são poucos.

Pede ao Senhor da colheita que envie mais operários: homens e mulheres com um coração grande para amar e forte para lutar; generosos na doação de si mesmos a Ti e ao Teu povo; dispostos a viver a fraternidade para além das fronteiras de sangue ou de nação; desejosos de serem o próximo daqueles que estão longe.

Desperta em nós e em nossas comunidades aquela mesma paixão que abrasou o coração do Pe. Berthier. Converte-nos em incansáveis apóstolos das vocações.

Suscita em nossas comunidades um ambiente de acolhida e crescimento para todos aqueles que chamas a servir Teus e nossos irmãos e irmãs.

Amém!

Invocações MSF

Jesus, Maria e José: esclarecei-nos, socorrei-nos e salvai-nos!

Nossa Senhora da Salette, reconciliadora dos pecadores: Rogai sem cessar por nós, que recorremos a vós!

Venerável Pe. João Berthier: intercedei por nós!

Que está acontecendo hoje? Um grande silêncio reina sobre a terra. Um grande silêncio e uma grande solidão. Um grande silêncio, porque o Rei está dormindo. A terra estremeceu e ficou silenciosa, porque o Deus feito homem adormeceu e acordou os que dormiam há séculos. Deus morreu na carne e despertou a mansão dos mortos.

Ele vai antes de tudo à procura de Adão, nosso primeiro pai, a ovelha perdida. Faz questão de visitar os que estão mergulhados nas trevas e na sombra da morte. Deus e seu Filho vão ao encontro de Adão e Eva cativos, agora libertos dos sofrimentos.

O Senhor entrou onde eles estavam, levando em suas mãos a cruz vitoriosa. Quando Adão, nosso primeiro pai, o viu, exclamou para todos os demais, batendo no peito e cheio de admiração: “O Senhor está no meio de nós”. E Cristo respondeu a Adão: “E com teu espírito”. E tomando-o pela mão, disse:

“Acorda, tu que dormes, levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará. Eu sou o teu Deus, que por tua causa me tornei teu filho. Por ti e por aqueles que nasceram de ti, agora digo, e com todo o meu poder, ordeno aos que estavam na prisão: ‘Saiam!’; e aos que jaziam nas trevas: ‘Venham para a luz!’. E aos entorpecidos: ‘Levantem-se!’

Eu te ordeno: Acorda, tu que dormes, porque não te criei para permaneceres na mansão dos mortos. Levanta-te dentre os mortos; eu sou a vida dos mortos. Levantate, obra das minhas mãos; levanta-te, ó minha imagem, tu que foste criado à minha semelhança. Levanta-te, saiamos daqui; tu em mim e eu em ti, somos uma só e indivisível pessoa.

Por ti, eu, o teu Deus, me tornei teu filho. Por ti, eu, o Senhor, tomei tua condição de escravo. Por ti, eu, que habito no mais alto dos céus, desci à terra e fui até mesmo sepultado debaixo da terra. Por ti, feito homem, tornei-me como alguém sem apoio, abandonado entre os mortos. Por ti, que deixaste o jardim do paraíso, ao sair de um jardim fui entregue aos judeus e num jardim, crucificado.

Vê em meu rosto os escarros que por ti recebi, para restituir-te o sopro da vida original. Vê na minha face as bofetadas que levei para restaurar, conforme à minha imagem, tua beleza corrompida.

Vê em minhas costas as marcas dos açoites que suportei por ti para retirar de teus ombros o peso dos pecados. Vê minhas mãos fortemente pregadas à árvore da cruz, por causa de ti, como outrora estendeste levianamente as tuas mãos para a árvore do paraíso.

Adormeci na cruz e por tua causa a lança penetrou no meu lado, como Eva surgiu do teu, ao adormeceres no paraíso. Meu lado curou a dor do teu lado. Meu sono vai arrancar-te do sono da morte. Minha lança deteve a lança que estava dirigida contra ti.

Levanta-te, vamos daqui. O inimigo te expulsou da terra do paraíso; eu, porém, já não te coloco no paraíso, mas num trono celeste. O inimigo afastou de ti a árvore, símbolo da vida; eu, porém, que sou a vida, estou agora junto de ti. Constituí anjos que, como servos, te guardassem; ordeno agora que eles te adorem como Deus, embora não sejas Deus.

Está preparado o trono dos querubins, prontos e a postos os mensageiros, construído o leito nupcial, preparado o banquete, as mansões e os tabernáculos eternos adornados, abertos os tesouros de todos os bens e o reino dos céus preparado para ti desde toda a eternidade”.

(Homilia de um cristão anônimo do século IV)