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Aleluia!

A maior festa litúrgica da Igreja (Católica) é, sem dúvida, a Páscoa da Ressurreição, precedida pelo tempo quaresmal cuja intenção principal é preparar as comunidades e os fiéis para tão importante momento. Assim a celebração do Tríduo Pascal, que culmina com a Ressurreição do Senhor, recebe atenção especial em todas as igrejas do mundo, sendo entendido como Catequese por excelência. No Domingo da Ressurreição, o Papa, em nome de toda a Igreja, costuma dirigir sua alocução - ‘urbi et orbi’ - para os cristãos do mundo inteiro. É sempre um momento muito esperado pelos fiéis, sejam os reunidos junto à Praça de São Pedro ou os que acompanham as transmissões das redes de comunicação ao redor do planeta. A sua vez, as falas anuais do Papa Francisco têm sido muito pertinentes e enfáticas acerca dos desafios que rondam a humanidade em compromisso com o Projeto do Reino, levado às últimas consequências pela paixão, morte e ressurreição de Cristo.

as do excelência.

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No Domingo da Ressurreição de 2018, vimos Francisco parafraseando a imagem do ‘grão de trigo’ (Jo 12, 24): “Nós, cristãos, acreditamos e sabemos que a ressurreição de Cristo é a verdadeira esperança do mundo, a esperança que não decepciona. É a força do grão de trigo, do amor que se humilha e oferece até ao fim e que verdadeiramente renova o mundo. Esta força dá fruto também hoje nos sulcos da nossa história, marcada por tantas injustiças e violências. Dá frutos de esperança e dignidade onde há miséria e exclusão, onde há fome e falta trabalho, no meio dos deslocados e refugiados, (...) das vítimas do narcotráfico, do tráfico de pessoas e da escravidão dos nossos tempos”. E exorta a produzir frutos de diálogo, de reconciliação, de sabedoria, de consolação e de paz num momento histórico de tantos conflitos entre países, povos e culturas, onde para muitos contemplar a Ressurreição de Cristo é a única esperança que resta.

Já na Festa Pascal de 2019, o Papa alude à ressurreição de Cristo como princípio de vida nova para todo ser humano, fonte de verdadeira renovação do coração e da consciência; início do mundo novo, liberto da escravidão do pecado e da morte, aberto ao Reino de Deus, reino de amor, paz, justiça e fraternidade. E cita a Exortação Apostólica aos Jovens proclamando: “Cristo vive: é Ele a nossa esperança e a mais bela juventude deste mundo! Tudo o que toca torna-se jovem, fica novo, enche-se de vida. Por isso as primeiras palavras, que quero dirigir a cada jovem [e a cada] cristão, são estas: Ele vive e quer-te vivo! Está em ti, está contigo e jamais te deixa. Por mais que te possas afastar, junto de ti está o Ressuscitado, que te chama e espera por ti para recomeçar. Quando te sentires envelhecido pela tristeza, os rancores, os medos, as dúvidas ou os fracassos, Jesus estará a teu lado para te devolver a força e a esperança” (Christus Vivit 1-2).

O Domingo da Ressurreição de 2020 é marcado por um clima de angústia, medo e receios: estamos em meio à pandemia se alastrando e fazendo vítimas mundo afora. É uma Páscoa de solidão, longe dos afetos, vivida entre lutos e sofrimentos. Papa Francisco conclama a manter acesa a chama que acendeu esta Boa Nova na noite dum mundo enlaçado a desafios diversos, agora oprimido pela pandemia, colocando à dura prova nossa grande família humana: “O Ressuscitado é o Crucificado; e não outra pessoa. Indeléveis no seu corpo glorioso, traz as chagas: feridas que se tornaram frestas de esperança. Para Ele, voltamos o nosso olhar para que sare as feridas da humanidade atribulada”. Não há mais tempo para indiferenças, egoísmos, divisões; é tempo de solidariedade, de diálogo, de cuidado. “É um contágio diferente, que se transmite de coração a coração, porque todo o coração humano aguarda esta Boa Nova. É o contágio da esperança: Cristo, minha esperança, ressuscitou!”.

No dia da Ressurreição do Senhor, em 2021, no meio de uma crise mundial afetando todas as esferas da sociedade, devido à pandemia que segue ceifando vidas, o Papa não hesita em fazer sérias críticas sobre o descaso com a fome e o não acesso às vacinas, aos países mais pobres, além do escândalo de diversos conflitos armados pelo mundo que não dão trégua. “Perante, ou melhor, no meio desta complexa realidade, o anúncio de Páscoa encerra em poucas palavras um acontecimento que dá a esperança que não decepciona: Jesus, o crucificado, ressuscitou. Não nos fala de anjos nem de fantasmas, mas dum homem, um homem de carne e osso, com um rosto e um nome: Jesus”, diz Francisco. O Pai ressuscitou o Filho porque cumpriu o desígnio da Salvação, tomando sobre si as nossas mazelas; suas chagas são a chancela do seu Amor incondicional. O Ressuscitado é nossa única esperança e conforto: ‘o ódio só pode ser dissipado pelo amor, é preciso cessar os conflitos, reconstruir a paz; o sonho de Deus é a família humana hospitaleira e acolhedora’.

Por fim, na Celebração Pascal de 2022, o Papa Francisco lamenta: “Jesus, o Crucificado, ressuscitou! Veio ter com aqueles que choram por Ele, fechados em casa, cheios de medo e angústia. Veio a eles e disse: A paz esteja convosco! (...). Diante dos olhos incrédulos dos discípulos, repete: A paz esteja convosco! Também nossos olhos estão incrédulos, nesta Páscoa de guerra. Demasiado sangue, vimos demasiada violência. (...) Sentimos dificuldade em acreditar que Jesus tenha verdadeiramente ressuscitado, que tenha verdadeiramente vencido a morte. Terá porventura sido uma ilusão? Um fruto da nossa imaginação? Não; não é uma ilusão! Hoje, mais do que nunca, ressoa o anúncio pascal tão caro ao Oriente cristão: Cristo ressuscitou!”. Todavia, estamos mostrando quanto ainda falta em nós o Espírito de Jesus, pois não apostamos na reconciliação, na vitória do amor. Hoje, mais do que nunca, precisamos d’Ele; só Ele pode dar-nos a Paz. Mas, enquanto houver guerra, vamos maculando seu corpo chagado: pelo ‘ódio fratricida’, pela ‘dureza do coração’, por ‘nossos pecados’. Que haja paz, que vivamos em paz: