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Francisco Drezza - Exemplo para o controle de tráfego aéreo

Por KAROLINE RIBEIRO Segundo Sargento Especialista em Informações Aeronáuticas

Francisco Drezza marcou uma época e definiu o perfil profissional do controlador de tráfego aéreo brasileiro

Em 1943, o governo do Estado de São Paulo cedeu para o Ministério da Aeronáutica as instalações da Hospedaria dos Imigrantes (hoje Memorial do Imigrante), localizada à Rua Visconde de Parnaíba, 1316, no bairro da Mooca, para ali ser instalada a Escola Técnica de Aviação (ETAv), com a finalidade de formar técnicos e especialistas para os trabalhos de manutenção das aeronaves da Força Aérea Brasileira.

Em 3 de março de 1944, iniciouse o primeiro curso de formação dos denominados “Controladores de Voo ou Controladores de Torre” na ETAv, sob a direção de Mr. Walter Fields, navegador da American Airlines e especialista em aviação formado pela Civil Aeronautics Administration (CAA), que era a agência responsável pelo controle de tráfego aéreo, programas de segurança e desenvolvimento das vias aéreas nos Estados Unidos.

Os dois meses primários eram destinados à instrução militar, que ficava a cargo dos cinco Sargentos do Exército que atuavam na Escola. As aulas teóricas, ministradas na língua inglesa e por professores americanos, só começaram após esse período de adaptação, no qual os alunos obtinham treinamento de ordem unida, maneabilidade, hinos, armamento, tiro e ética militar.

A conclusão da primeira turma de controladores de voo

Drezza - aluno da Escola Técnica de Aviação, 1944 (arquivo Embry-Riddle Aeronautical University)

se deu em 3 de março de 1945, habilitando-os como os primeiros operadores do País. Francisco Drezza foi o primeiro colocado dessa turma.

Nascido em 9 de outubro de 1924, em Itatiba, cidade do interior de São Paulo, Drezza - ao saber da existência da ETAv - fez a inscrição para o concurso com o objetivo de se tornar mecânico de aviões.

Drezza já tinha formação em Mecânica Industrial e trabalhava na Companhia Paulista de Estradas de Ferro. Quando soube da aprovação, pediu demissão e ingressou no curso. Nas etapas eliminatórias, durante os testes de aptidão, foi designado para o Curso de Operador de Torre.

Os egressos dessa turma foram encaminhados para o Rio de Janeiro e iniciaram o estágio na Torre de Controle do Aeroporto Santos Dumont. Logo depois, em meados do mês de maio, uma parte do grupo foi para São Paulo inaugurar a Torre de Controle de Congonhas. Nesse grupo estava o jovem Drezza.

Em 1943, foi instalada em Congonhas a primeira Estação de Comunicações, no então chamado Serviço de Rotas da Quarta Zona Aérea (SR4), que englobava os estados de São Paulo, Paraná, Mato Grosso (antes da divisão), Goiás e parte de Minas Gerais (Triângulo Mineiro).

Ao chegar à Torre de Congonhas, recém-inaugurada, não encontraram mapas nem procedimentos para auxiliar na operação. Então, os primeiros mapas começaram a ser desenhados pelo então terceiro sargento Drezza, para ter certeza da segurança dos pousos e decolagens.

Drezza foi o responsável por criar procedimentos numa época em que a tecnologia existente não se comparava a de hoje. O trabalho era feito sem o auxílio do radar, os controladores operavam no modo conhecido como “convencional”. O controlador emitia as autorizações de tráfego em função das posições reportadas pelos pilotos.

Quando o serviço de controle passou a ser prestado pelo efetivo militar (recém-formado na Escola) não foi um período fácil, por envolver o diálogo na fonia entre um aviador e um controlador, ou seja, um oficial e um graduado. As autorizações de tráfego aéreo eram entendidas como quebra de hierarquia. Os aviadores, nessa época oriundos do Exército, não aceitavam receber ordens de subordinados.

Drezza foi fundamental na orientação dos mais modernos neste obstáculo inicial. Seu conselho era ter paciência e inteligência para superar as dificuldades. Em algum tempo,

Primeira turma de controladores de tráfego aéreo formada no Brasil (1945)

os pilotos passaram a confiar no serviço prestado e o obstáculo foi superado.

Entre 1950 e 1951, Drezza trabalhou na antiga Diretoria de Rotas Aéreas, auxiliando na interpretação prática dos documentos de tráfego aéreo, oriundos da ICAO (Internacional Civil Aviation Organization). De 1951 até 1956, Chico Drezza figurou como elemento de ligação entre o SR4 e as chefias operacionais. Como bom orientador, frequentou a Torre e o Centro de Controle, instruindo, demonstrando e motivando os grupos de controladores.

Em 1957, foi para os Estados Unidos em missão, onde realizou um curso básico para Controladores de Voo.

Com seus conhecimentos, em 1959, passou a integrar também a instrução prática, já preparando a operação por radar. O treinamento acontecia todos os dias para garantir a segurança dos conhecimentos e habilidades dos instruendos. Atualmente, a formação de controlador dispõe de simuladores e inúmeros recursos tecnológicos. O primeiro radar de São Paulo (e da América do Sul) foi inaugurado em 1962.

Serviu à FAB até 1972 e era o Suboficial mais antigo. Passou toda a sua carreira em São Paulo, consolidando o Controle de Tráfego Aéreo na Torre de Congonhas.

Homenagens

O Suboficial Drezza foi reconhecido nas comemorações do Dia do Controlador de 2018 no, então, Serviço Regional de Proteção ao Voo de São Paulo

“Não importa quem esteja trabalhando na posição operacional, o padrão deve ser sempre o mesmo e o melhor possível! Sem o crédito dos usuários não seremos reconhecidos e nada será construído. Todos nós somos um só. Nós somos parte do Serviço de Proteção ao Voo (SPV) do Brasil" Francisco Drezza

(SRPV-SP). Ele recebeu das mãos do Terceiro Sargento Luiz Antonio Venancio Júnior, na época o controlador de tráfego aéreo mais moderno da unidade, uma placa de homenagem que materializava a admiração dos seus colegas de trabalho e por ser um dos primeiros ATCO, considerado um dos fundadores da Torre de Controle do Aeroporto de Congonhas. Já em 2019, durante as comemorações e na ocasião da ativação do COP (Centro de Operações), que foi reformado e repaginado, o então chefe do SRPV-SP, Coronel Aviador Anderson da Costa Turola, inaugurou o novo auditório, que passou a levar o nome de “Francisco Drezza”.

“Obrigado por esta linda homenagem. Naquele tempo tudo era diferente. Foi desafiador e gratificante” disse Drezza emocionado, na ocasião.

Despedida

O militar que marcou a história da Força Aérea Brasileira (FAB) e principalmente a história do CRCEA-SE partiu na manhã do dia 10 de novembro de 2020, em Alphaville (SP).

Prezando pela excelência no cumprimento de sua missão, Drezza sempre foi – e sempre será – um exemplo para todos os controladores de tráfego aéreo brasileiros.