Aeroespaço 67

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Notícias - Ano 14

DTCEA-CZ - Radar de defesa 3D TPS B-34

n0 67


Notícias - Ano 14

n 0 67

04 Reportagem

Encurtando distâncias Implementação do PBN reduz emissões de CO2, consumo, ruídos e gastos operacionais no Sul do País

08 Reportagem

04

DECEA sob nova direção Organização responsável pelo SISCEAB está sob o comando do Tenente-Brigadeiro Domingues

10 Reportagem

13

Reportagem

Treinamento Virtual Simuladores ajudam na capacitação dos controladores de tráfego aéreo do ACC-BS – no CINDACTA I

13 16

Reportagem

Aplicativo FPL BR - Plano de voo na palma da sua mão Uma nova ferramenta para a elaboração, validação, envio e atualização dos dados do plano de voo pela internet

18

Seção Quem É?

2º Tenente Lara A adjunta da chefia do ACC-AZ é exemplo para o corpo feminino da FAB nos remete à uma série de reflexões

16 25

Artigo

Os fatores humanos e o aspecto psicológico na segurança operacional O homem é o mais vulnerável às influências que podem afetar de maneira negativa o seu comportamento

25

Um sinal que salva vidas O registro das balizas de emergência ajuda na localização de aeronaves, embarcações e pessoas

30

Seção - Conhecendo o DTCEA

Cruzeiro do Sul - AC O mais ocidental dos destacamentos de controle do espaço aéreo está, a aproximadamente, 120 Km da fronteira com o Peru

Expediente Informativo do Departamento de Controle do Espaço Aéreo - DECEA produzido pela Assessoria de Comunicação Social - ASCOM/DECEA Diretor-Geral: Tenente-Brigadeiro do Ar Jeferson Domingues de Freitas Assessor de Comunicação Social e Editor: Paullo Esteves - Coronel Aviador Reformado (MTB 38412 RJ) Coordenação de pauta e edição: Daisy Meireles (RJ 21523 JP) Redação: Daisy Meireles (RJ 21523 JP) Denise Fontes (RJ 25254 JP) Glória Galembeck (DRT/PR 05549) Gisele Bastos (MTB 3833 PR) Daniel Marinho (MTB 25768 RJ)

2

Projeto Gráfico/Diagramação: Aline da Silva Prete (MTB 38334 RJ) Fotos: Fábio Maciel (RJ 33110 RF) Luiz Eduardo Perez (RJ 201930 RF) Contatos: Home page: www.decea.gov.br Intraer: www.decea.intraer Email: contato@decea.gov.br Endereço: Av. General Justo, 160 Centro - CEP 20021-130 Rio de Janeiro/RJ Telefone: (21) 2101-6031 Editada em Outubro - 2017

Nossa capa A foto de Luiz Eduardo Perez ilustra o radar de defesa 3D TPS B-34 – instalado no DTCEA de Cruzeiro do Sul, no Acre


Editorial Somos DECEA, somos todos Força Aérea

N

essa primeira edição da Aeroespaço da minha gestão como diretor-geral, recebo como uma

A reportagem que abre esta edição é sobre a implementação do PBN Sul, que encurtou rotas, reduzindo

oportunidade de dialogar com todos vocês de uma for-

emissões de CO2, consumo de ruídos e gastos operacio-

ma diferenciada.

nais.

Assumi a direção em agosto deste ano e sinto com

Destacamos, ainda, o treinamento virtual dos contro-

clareza o reconhecimento que a Força Aérea tem pelo

ladores de tráfego aéreo do ACC-BS, que possibilita corre-

DECEA, não só pela sua grandiosidade, que extrapola o

ção de falhas e melhor aproveitamento em atividade real.

País, nem tampouco pela nossa missão, mas também

Outra inovação do DECEA na área tecnológica é o

pela eficácia e pela eficiência de seus comandantes

lançamento do aplicativo FPL BR, que permite ao pilo-

nesses 16 anos de atividade, assim como a experiência

to enviar o plano de voo pelo celular. A ação incorpora

dos comandados.

novas tecnologias e busca a otimização da prestação

Estou entusiasmo com os projetos do DECEA, que considero de primeira qualidade e de extremo pro-

dos serviços aos nossos usuários. De outra forma, seguimos mostrando o valor dos

fissionalismo. Tenho a certeza de que estou sendo

nossos colaboradores, como a 2º Tenente Lara, do

facilitado em meu comando e que posso contar com a

CINDACTA IV, militar que se destaca pelo profissiona-

colaboração de todos vocês nesse comando.

lismo, dedicação e pioneirismo.

Vamos juntos mostrar que o DECEA é Força Aérea e que o que produzimos é em prol do País e da sociedade. Nessa fase de reestruturação da FAB haverá muitos

Na área social, damos luz ao trabalho das psicólogas da seção de Fatores Humanos da ASEGCEA e dos regionais, que formaram um corpo profissional com ações,

impactos no DECEA e minha recomendação é seguir

projetos, estudos e pesquisas voltados para objetivos

em frente, pois continuaremos investindo em melho-

comuns relativos à segurança operacional.

rias no controle do espaço aéreo, como podemos confirmar nas páginas desta edição da Aeroespaço. Estamos juntos na campanha de reestruturação, fazendo mudanças em nossa estrutura administrativa, operacional e técnica, nos preparando para o futuro.

Matéria de capa desta edição, o Destacamento de Controle do Espaço Aéreo de Cruzeiro do Sul, no Acre, divulga suas ações de controle, defesa e segurança do espaço aéreo, assim como a cidade e suas peculiaridades. Todas essas e outras atividades do DECEA contri-

Em acordo com essa campanha, o DECEA está fa-

buem para melhoria dos processos e valorização dos

zendo a sua parte, pois estamos inseridos no processo

nossos recursos humanos. Vamos continuar a produ-

de inovação e renovação de nossas atividades. Con-

zir, a inovar. Nós representamos o SISCEAB e juntos

trolar, defender e integrar – é o que vemos nas nossas

somos mais fortes. Somos todos FAB e é isso que nós

ações.

visualizamos.

Tenente-Brigadeiro do Ar Jeferson Domingues de Freitas Diretor-Geral do DECEA

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Artigo

Encurtando distâncias

Implementação da Navegação Baseada em Performance (PBN) reduz emissões de CO2, consumo, ruídos e gastos operacionais no Sul do País Por Daniel Marinho Fotos de Fábio Maciel

Vulcão Puyehue

(Foto divulgação internet: Ian Salas/EPA)

4


V

oos orientados por satélite,

é a menor distância entre dois

baseados em performance

pontos. Reformulando a lógica

de bordo e dispositivos digitais

convencional na distribuição

de alta precisão. A dispensa

das rotas no mapa, os trajetos

gradual do convencional baliza-

não precisam mais interceptar

mento dos voos por sensores no

os símbolos correspondentes

solo – deposto por uma navega-

aos auxílios de voo no solo, o que

ção aérea, enfim, mais linear –

redesenha por completo a dispo-

revoluciona a aviação em todo o

sição dos percursos. As subidas e descidas dos

mundo. No Brasil, não é nem será di-

voos, igualmente, passam a

ferente. Distâncias encurtadas,

ser executadas de modo contí-

viagens mais rápidas, menos

nuo, sem variações bruscas de

emissão de CO , economia de

aceleração e nivelamento de

custos…. Os benefícios são signi-

altitude (quando, por exemplo,

ficativos.

um avião desce executando

2

Não à toa, no dia 12 de outubro

pequenos mergulhos seguidos

entrou em vigor o resultado do

de ajustes de altitude, tal qual

maior projeto de restruturação

num degrau imaginário). São

de um espaço aéreo controla-

os chamados CDO – Continuous

do já empreendido no País: a

Descent Operations (Operação

implementação da chamada

de Descida Contínua) e CCO –

Navegação Baseada em Perfor-

Continuous Climb Operation

mance (PBN – Performance Based

(Operação de Subida Contínua)

Navigation) no sul do Brasil.

que, além de viabilizar melhores

A redistribuição e otimização

trajetórias de voo e economia no

de aerovias e procedimentos de

consumo de querosene, reduzem

navegação aérea em cerca de 1,8

significativamente os ruídos das

milhão de Km2 de espaço aéreo

operações aéreas nas proximida-

ratifica de vez, às aeronaves com

des de aeródromos.

tecnologia embarcada e tripulação capacitada, o voo orientado por satélites e sistemas digitais de performance de bordo na região.

Mais de 300 novas Cartas Ao todo foram confecciona-

Rotas menores, economia de custos As alterações do PBN-Sul impactarão cerca de 300 mil voos por ano, que, a partir de agora, cruzarão os céus em caminhos abreviados. Para se ter uma

das mais de 300 novas Cartas

ideia do corte de gordura, do to-

Aeronáuticas (mapas aéreos).

tal do antigo composto de rotas,

Elas revelam os traçados dos

foram reduzidas 1.430 milhas

novos caminhos pelos quais vêm

(2.650 Km) em trajetórias de voo

evoluindo a racionalização da

na região; distância equivalente

navegação aérea no Brasil que,

a um voo entre o Rio de Janeiro e

com o PBN, pode render-se, en-

Macapá.

fim, ao preceito euclidiano que

Gerente do projeto, o chefe da Di-

há muito já proclamava: a reta

visão de Operações do Instituto de

5


Capitão Aviador Axel Cezar visualiza novas cartas de procedimentos de navegação

Montreal, no Canadá, aprovou retamente relacionada à emis-

uma resolução que define as

Cartografia Aeronáutica (ICA),

são de dióxido de carbono na

diretrizes regulatórias para um

Major Eduardo Sardella da Silva,

atmosfera. O DECEA estima que,

esquema global de compensação

afirma que a fluidez entre as

em face da redução dos trajetos

de emissões de carbono (CO2)

terminais aéreas também será

e do tempo das viagens, cerca

para o transporte aéreo interna-

aprimorada ao viabilizar, “além

de 6.500 toneladas de CO2/ano

cional. A iniciativa, conhecida

dos encurtamentos de trajetó-

a menos deixarão de ser despa-

como GMBM (Global Market-Ba-

rias, acessibilidade a localidades

chadas no céu.

sed Measure), teve por finalidade

anteriormente não contempladas e a possibilidade de expansão de operações sem exigência de grandes alterações”. Rotas mais curtas, porém,

A redução nas emissões de poluentes no céu é um anseio

do crescimento neutro de CO2 da aviação civil internacional já a partir de 2020. A implementação do PBN pelo

impactam em outras variáveis

de toda a comunidade aero-

DECEA avaliza o comprome-

significativas. Com a redução dos

náutica e vem ocupando cada

timento do estado brasileiro

tempos de viagem, as aeronaves

vez mais espaço na agenda do

com a resolução da OACI. O País

diminuem também o consumo

controle aéreo do País e de todo

exerce, atualmente, importan-

de combustível e, consequen-

o mundo. É, inclusive, exigência

te liderança na América do Sul

temente, os custos de voo. De

de organismos internacionais

na ascensão de uma navegação

acordo com os cálculos do Subde-

reguladores da atividade, como

aérea mais sustentável.

partamento de Operações (SDOP)

a Organização da Aviação Civil

É o que afirma o chefe do

do Departamento de Controle do

Internacional (OACI), que a tem

SDOP/DECEA, Brigadeiro Luiz

Espaço Aéreo (DECEA), a redis-

tomado como prioridades nos

Ricardo de Souza Nascimento.

tribuição dessas estradas do céu

últimos anos em face dos objeti-

"Sem dúvida, com a iniciativa,

reduzirá o consumo de combus-

vos de desenvolvimento susten-

agregaremos mais eficiência na

tível das aeronaves em duas mil

tável da Organização das Nações

gerência espaço aéreo em nosso

toneladas por ano.

Unidas (ONU).

País, emitindo menos CO2 e

Não é pouco. Sobretudo porque a queima de querosene está di-

6

Os Objetivos de Sustentabilidade da ONU

apoiar o objetivo da promoção

No ano passado, a 39ª As-

reduzindo os ruídos nas proxi-

sembleia da OACI, reunida em

midades dos aeroportos. Espe-


ramos, também, que os usuários

de procedimentos de navegação

duas capitais monitoradas por

se beneficiem da nova estrutura

aérea operando no conceito.

radar também em baixa altitude.

das rotas de modo a reduzir seus

Nas aerovias, a implementação

A Terminal Aérea de Porto Ale-

custos operacionais e a carga

também vem ocorrendo gradu-

gre também sofreu ajustes. Seus

de trabalho da tripulação. Estes

almente. O trecho relacionado à

setores foram reconfigurados

fatores são fundamentais para

ponte-aérea Rio-São Paulo, por

de modo a atender os fluxos do

atingirmos os objetivos estraté-

exemplo, opera nestes termos

Aeroporto Internacional de Porto

gicos do setor”, afirma o oficial.

desde dezembro de 2013 e vem

Alegre e da Base Aérea de Cano-

obtendo benefícios na redução

as - ALA 3, independentemente.

zação dos Serviços de Navegação

dos trajetos e ruídos nas vizi-

Para uma melhor harmonização

Aérea Civil (CANSO – Civil Air

nhanças de importantes aero-

entre voos militares e civis, os

Navigation Services Organiza-

portos, como o Santos-Dumont.

procedimentos de chegada e

Para o diretor-geral da Organi-

tion), Jeff Poole, o gerenciamento de tráfego aéreo de fato tem um “papel preponderante nos objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU; é hoje uma atividade de importância vital para a redução em emissões de poluentes na atmosfera do planeta.” É importante destacar que o PBN, porém, não é exatamente uma novidade no Brasil. Já vem sendo implementado nas terminais aéreas mais movimentadas do País desde 2009; casos de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Belo Horizonte, que já dispõem

Terminais Aéreas Anexadas Para o melhor aproveitamento dos voos, alguns limites de terminais aéreas também foram alterados quando o PBN-Sul entrou em vigor. Áreas de menor movimento, que ainda não dispunham da tutela de um radar terminal foram anexadas às terminais mais movimentadas. Caso de Joinville – que agora passa à Terminal Aérea de Curitiba – e de Navegantes – anexada à Terminal de Florianópolis – consolidando um grande corredor entre as

saída foram elaborados com o objetivo de permitir fluxos de tráfego aéreo específicos para cada operação, civil e militar, com separações lateral/vertical e regiões de abrangência distintas. Apesar da distância, São Paulo também precisou adequar-se à nova circulação. O oeste da terminal aérea mais movimentada do País ganha agora um novo ponto de chegada especialmente dedicado às aeronaves provenientes do sul, encurtando suas descidas e aproximações aos aeroportos paulistanos.

Cartógrafa do ICA visualiza as novas delimitações das principais terminais aéreas do Sul do País

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Reportagem

DECEA sob nova direção Tenente-Brigadeiro do Ar Jeferson Domingues de Freitas assume, ao ser promovido ao mais alto posto da carreira, como diretor-geral da organização que faz o controle do espaço aéreo brasileiro Por Gisele Bastos Foto de Fábio Maciel

O

Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA), organização responsável pelo Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro (SISCEAB), está sob o comando do TenenteBrigadeiro do Ar Jeferson Domingues de Freitas, desde agosto deste ano. O oficial-general retorna à sua cidade natal após comandar o Quinto Comando Aéreo Regional (V Comar), atualmente denominado Ala 3 - unidade que congrega o V Comar e a Base Aérea de Canoas (Baco). À época em que comandou a organização, o então Major-Brigadeiro Domingues participou ativamente do processo de reestruturação. “Foram meses de muito trabalho e levo comigo a sensação do dever cumprido. A implantação da Ala 3 foi um sucesso e ela tem em seu alicerce enxutas estruturas administrativa, logística e operacional, gerenciadas pelas mãos de pessoas altamente comprometidas, que têm a honra de vestir o azul”, ressaltou. Com a reorganização da Força Aérea Brasileira (FAB), a Ala passou a ter caráter tático e operacional, já que é constituída por sete esquadrões aéreos – entre caças, aviões de patrulha e transporte, helicópteros e aeronaves remotamente pilotadas –,

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grupos especializados em manutenção de aeronaves, suprimento de aviação, armamento aeronáutico e segurança e defesa. Na Ala 3, o então Major-Brigadeiro Domingues empreendeu importantes ações junto a autoridades governamentais e o Exército para promoção da vigilância do espaço aéreo na faixa de fronteira do Brasil, Paraguai e Bolívia. Também desenvolveu os primeiros projetos de usinas na FAB para geração de energia, como a construção de usinas fotovoltaicas para suprir o consumo de energia elétrica em unidades no Rio Grande do Sul e Goiás (Anápolis). Outro ponto significativo em sua gestão foi a construção de um novo hangar para o esquadrão de veículos aéreos não-tripulados (Esquadrão Hórus - 1°/12° GAv) e a reforma do esquadrão de suprimento e manutenção, ambos na Base Aérea de Santa Maria (RS). As novas instalações para o Hórus foram projetadas para a manutenção de aeronaves remotamente pilotadas, RQ-450 e RQ-900, em missões de controle aéreo avançado, posto de comunicações no ar e reconhecimento aéreo. As duas obras foram concluídas com valores abaixo do estimado. Três anos antes comandou a Escola de Especia-


listas de Aeronáutica (EEAR), localizada em Guaratinguetá, interior de São Paulo, onde investiu na formação de sargentos das 28 especialidades que atuam em todos os setores da Força Aérea Brasileira, sendo a atualização de currículos, conforme normas do Ministério da Educação, sua incursão mais significativa. Outra benfeitoria foi a reforma dos pavilhões de ensino e a criação de um Esquadrão de Suprimento e Manutenção (ESM), nos moldes das unidades onde os alunos vão trabalhar no futuro. Antes de comandar a Escola, passou pela 6ª Subchefia do Estado-Maior da Aeronáutica (EMAER), cuja atribuição é fazer a gestão dos Projetos Estratégicos da FAB. Nas Forças Armadas este planejamento tem a finalidade de construir uma capacidade militar para delinear ações de Defesa Nacional. Por designação do comandante da Aeronáutica, o EMAER deve manter atualizado um plano estratégico com o estabelecimento de prioridades em todos os níveis organizacionais. Naquela ocasião, o então Brigadeiro Domingues participou do lançamento do Plano Estratégico Militar da Aeronáutica 20102031. Coincidentemente, o Objetivo 1 descrito no Plano é: “alcançar excelência no controle do espaço aéreo sob responsabilidade do Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro (SISCEAB)”. No ano em que o Plano foi lançado estava prevista a modernização e o reaparelhamento dos órgãos de controle. E também, a concessão de novas estações de trabalho para os Centros Integrados de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo de Brasília (CINDACTA I) e de Recife (CINDACTA III) para prover constante e eficaz vigilância do espaço aéreo. Outras atualizações previstas para o quadriênio foram os projetos de implantação e substituição de sistemas e equipamentos de auxílios à navegação aérea, aproximação e pouso, além da substituição de estações de meteorologia aeronáutica de superfície e de altitude. Quando chegou ao posto mais alto da carreira, foi convidado à direção-geral do DECEA. Assim que assumiu o cargo, participou da Reunião de Comandantes do Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro (RECOSCEA), mostrando entusiasmo com a nova missão. "Vibrei quando soube da minha indicação. Considero o DECEA, uma organização de primeira

qualidade e de extremo profissionalismo. Tenho a certeza de que serei facilitado em meu comando e que posso contar com a experiência de todos vocês. Vamos juntos mostrar que o DECEA é a Força Aérea e que o que produzimos é em prol do País e da sociedade!" – declarou aos comandantes, ao conhecer as particularidades das organizações subordinadas. Ele reconhece o SISCEAB como uma ilha de excelência na FAB e define o DECEA como uma organização inspiradora. “Estou encantado com as tecnologias e manutenções remotas, com os aplicativos facilitadores, que otimizam nossos recursos. Acredito que conseguiremos manter ou elevar o índice para a auditoria da Organização de Aviação Civil Internacional (OACI) em 2018!", pontuou o DGCEA.

PERFIL O Tenente-Brigadeiro do Ar Jeferson Domingues de Freitas é natural do Rio de Janeiro, casado com Livia Maria e pai de três filhas: Deniza, Débora e Daniela. Praça de 3 de março de 1975, foi promovido ao atual posto em 31 de julho de 2017. Além dos cursos de carreira, possui formação em: Instrução de Voo, Líder de Esquadrão da Aviação de Caça, Combate Eletrônico, Inspetor de Aviação Civil e Tráfego Aéreo Internacional. Cursou, ainda, Gestão Orçamentária e Financeira, na Escola Nacional de Administração Pública (ENAP) e MBA em Gestão Estratégica na Universidade Federal Fluminense (UFF). Piloto de caça, soma mais de quatro mil horas de voo nas seguintes aeronaves: TZ-13 – Blanick, Z-16 – Quero-quero; T-23 – Uirapuru; T-25 – Universal; U-42 – Regente; AT-26 – Xavante; F-5B/E/F – Tiger II; C-95 – Bandeirante; VU-35 – Lear Jet; VC-96 – Boeing 737200 e C-98 – Caravan. Entre os principais cargos atuou como chefe da Seção de Instrução Especializada do 2º/5º Grupo de Aviação, comandante de Esquadrilha do 1º/4º Grupo de Aviação, comandante do Esquadrão de Comando da Base Aérea de Fortaleza, chefe da Divisão de Produções e Divulgação do Centro de Comunicação Social da Aeronáutica, assessor especial para Assuntos de Aeronáutica da Presidência da República, adido aeronáutico junto à Embaixada do Brasil no Uruguai, chefe da 6ª Subchefia do Estado-Maior da Aeronáutica, comandante da Escola de Especialistas da Aeronáutica, vice-chefe do Estado-Maior da Aeronáutica e comandante do Quinto Comando Aéreo Regional (V COMAR), atualmente denominado Ala 3.

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Reportagem

Um sinal que salva vidas

Por Denise Fontes Fotos de Luiz Eduardo Perez

O registro das balizas de emergência tem ajudado na localização de aeronaves, embarcações e pessoas

E

m fevereiro de 2015, o holandês

tenhamos os dados de localização e

Ebrahim Hemmatnia ficou à

de alertas de emergência com maior

deriva no Oceano Atlântico, a uma

precisão, economia de tempo, além

distância de 810 quilômetros da costa

de aumentar as chances de sobrevi-

brasileira, quando a embarcação em

vência das vítimas”, explica um dos

que estava quebrou. Ele foi resgatado

operadores do BRMCC, o Sargento

graças ao acionamento do Emergency

Juan Raphael Calaça Perto.

Position-Indicating Radiobeacon (EPIRB), que emitiu um sinal captado

a serviço da população nacional e

por satélites e retransmitidos ao Cen-

também de estrangeiros que estejam

tro Brasileiro de Controle de Missão

na área de responsabilidade de busca

COSPAS-SARSAT (BRMCC), órgão do

e salvamento brasileira. “O alerta

Departamento de Controle do Espaço

chega ao BRMCC em média de dois a

Aéreo (DECEA), localizado no Primei-

oito minutos após o acionamento da

ro Centro Integrado de Defesa Aérea e

baliza. A partir desse sinal é possível

Controle de Tráfego Aéreo (CINDACTA

saber a localização e acionar o socor-

I), em Brasília - DF.

ro”, relata o supervisor do sistema,

Equipes da Força Aérea Brasileira (FAB) e da Marinha do Brasil (MB)

10

Esse sistema funciona 24 horas

Sargento Flávio Custódio de Brito. Cabe ao BRMCC verificar o sinal de

foram deslocadas para prestar o

alerta e transmiti-los aos Centros de

socorro. “Este sistema permite que

Coordenação de Salvamento Aero-


náutico (Salvaero) e/ou Marítimo (Salvamar), que

nica, agilizamos o envio dos recursos de salvamen-

assumem a missão de prestar o Serviço de Busca

to, quando se tratar de acionamento real”, explica o

e Salvamento. Se a área detectada estiver fora dos

militar.

limites de responsabilidade do Brasil, o BRMCC retransmite a informação para o país emérito. A partir daí, podem ser acionados aeronaves,

Registro das balizas de emergência O BRMCC solicita que o usuário que já havia re-

embarcações e grupos no solo para a missão de

gistrado sua baliza, recadastre o equipamento pelo

busca e salvamento.

endereço: infosar.decea.gov.br. Atualmente, 3.896

Com a ajuda das informações do COSPAS-SARSAT

equipamentos já foram registrados.

(Sistema Espacial de Busca de Embarcações em Si-

É necessário criar uma conta, em seguida serão

tuação de Emergência - Sistema de Busca e Salva-

gerados login e senha, e, assim, o usuário terá aces-

mento por Rastreamento de Satélites), os pilotos

so ao sistema. “Os proprietários devem recadastrar

das aeronaves podem realizar sua busca em uma

suas balizas para constar de informações que não

área muito menor. Isso ajuda a aumentar a taxa

existem no banco de dados anterior. O registro

de sobrevivência das vítimas e reduz os custos da

de ELT 406 MHz é simples, rápido e livre de quais-

missão de busca e salvamento (SAR). Até o mo-

quer taxas. Para aqueles que ainda não possuem

mento, cerca de 35 mil vidas foram salvas graças

cadastro, o procedimento é o mesmo”, esclarece o

ao COSPAS-SARSAT.

Sargento Renato. O militar recomenda, caso o usuário troque a

Sistema INFOSAR

baliza para uma aeronave ou navio diferente ou,

Os proprietários de aeronaves e embarcações que

ainda, se as informações de contato pessoal ou de

possuem balizas de emergência 406MHz (Trans-

emergência mudarem, que atualize as informa-

missores Localizadores de Emergência - ELT e PIRB)

ções no banco de dados de registro, além de incen-

ou localizadores pessoais (PLB) podem gerenciar os

tivar o novo proprietário a fazer o mesmo.

registros de seus equipamentos junto ao sistema de

O sistema também disponibiliza uma série de

cadastro INFOSAR, que disponibiliza o cadastro, a

ferramentas administrativas e operacionais, como

edição, a execução, a visualização dos registros e o

relatórios, integração com o banco de dados da

histórico de acionamento.

Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), do Cen-

Segundo o operador do BRMCC, Sargento Renato Marques Monteiro, antes da mudança era necessá-

tro de Gerenciamento da Navegação Aérea (CGNA) e integração com o sistema COSPAS-SARSAT.

rio enviar uma solicitação via email ou fax ao BRMCC para realizar o registro e operador da unidade militar inseria as informações manualmente em um banco de dados interno. “Com o INFOSAR, o usuário tem autonomia para gerenciar os dados técnicos da baliza, do proprietário, dos contatos de emergência da aeronave. Quando a baliza é registrada, rapidamente é identificada a natureza do sinal transmitido, e por meio de uma ligação telefô-

Sistema de cadastro INFOSAR 11


O BRMCC verifica o sinal de alerta e transmite ao SALVAERO ou SALVAMAR, que assumem a missão SAR

Falsos alertas O Brasil ocupa destaque no cenário internacional do programa, embora enfrente o obs-

emitido é verdadeiro, a partir do contato com o

táculo cultural dos falsos alertas. Em 2016, o

proprietário. Isso evita a perda de tempo, preju-

sistema COSPAS-SARSAT recebeu 1.628 sinais

dicial ao salvamento”, alerta o Tenente Ronan.

de alerta. Desses, 99% eram falsos. De acordo com o chefe do BRMCC, Tenente

Mesmo sendo um item importante de localização, nem toda a frota de aeronaves brasilei-

Ronan Souza Freitas, os sinais falsos são muito

ras possui o ELT e não há legislação que torne

comuns devido aos testes nos equipamentos

obrigatório o registro da baliza no BRMCC.

e acionamentos não intencionais. “Por causa

O artigo 58 do Código Brasileiro de Aeronáu-

desta elevada taxa de falso alerta, os Salvaeros

tica (CBA) prevê indenização à União por quem

são obrigados a investigar cada sinal de emer-

provocar a movimentação desnecessária de

gência, antes de deslocar as equipes de busca

recursos de busca e salvamento por negligên-

e salvamento. Os procedimentos incluem a

cia, imprudência ou transgressão. Apesar disso,

comunicação com os proprietários de aerona-

o DECEA tem priorizado o trabalho de cons-

ves, embarcações, aeroportos, clubes de aviação

cientização através de campanhas de divulga-

e outros meios”, revela o oficial.

ção para destacar a importância do registro

Um dos problemas é o registro das balizas,

12

formulário, permitindo identificar se o sinal

das balizas pelos proprietários de aeronaves e

que pode ser facultativo. A falta de registro não

embarcações. “Quanto mais rápido receber o

impede seu funcionamento, mas dificulta os

sinal, localizar o objeto de busca, maior será a

procedimentos. “Quando a baliza é registrada,

nossa chance de salvar vidas”, esclarece o chefe

os dados necessários estarão especificados no

do BRMCC.


Treinamento Virtual

Reportagem

Simuladores ajudam na capacitação dos controladores de tráfego aéreo Por Denise Fontes Fotos de Luiz Eduardo Perez

Diante da tela do simulador, o controlador de tráfego aéreo (ATCO) se depara com as mesmas dificuldades de um cenário real. À sua frente, as imagens reproduzem situações de emergência. A descrição faz parte do treinamento de rotina que estes profissionais do Centro de Controle de Área de Brasília (ACC-BS), órgão operacional do Primeiro Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (CINDACTA I), cumprem no simulador para manter a operacionalidade.

13


ao final do treinamen-

nuição de ocorrências de acidentes e

to, os controladores

incidentes aeronáuticos. Segundo o

estejam devidamente

chefe do COI, Major Aviador Rodrigo

capacitados para lidar

Caldeira Magioli, o ACC-BS registrou

com demandas coti-

o menor número de incidentes aero-

dianas e extremas do

náuticos em três anos, cujos fatores

setor aéreo, além de

contribuintes são muitos. Entre

melhorar a qualidade

eles, a formação e a capacitação dos

do serviço prestado,

controladores de tráfego aéreo.

afirma o Capitão Ângelo

Segundo Magioli, essa redução é

Rogerio Esteves, chefe do

resultado, também, das Pesquisas de

ACC-BS.

Fatores Operacionais, que têm o ob-

Acidentes, pousos de O treinamento foi elaborado

emergência, mudanças

do ATCO e identificar deficiências

com base nas diretrizes contidas

de pista e até ameaças de sequestro

que possam contribuir para os inci-

no plano de ação do Departamen-

são criados nos cenários virtuais. “O

dentes. "Os índices baixos se devem,

to de Controle do Espaço Aéreo

simulador possibilita ao controlador

ainda, ao trabalho da área técnica,

(DECEA). A equipe do ACC-BS foi a

vivenciar uma situação que, muitas

que tem atuado de forma integra-

responsável pela identificação das

vezes, não terá na atividade real.

da com a área operacional e com

necessidades e prioridades operacio-

Mas, se por acaso ele tiver, estará

grande eficiência na prestação dos

nais e planejamento dos exercícios

familiarizado com estes cenários,

serviços de comunicações”, relata o

simulados e pelo acompanhamento

minimizando as chances de erro”,

Major Magioli.

da execução da instrução teórica e

explica o Tenente Luiz Carlos da

prática. Os controladores passam,

Silva Carvalho, supervisor regional

ticos no ACC-BS reduziu 80% até

no ano, por uma carga de até 60

do ACC-BS.

o mês de julho deste ano, contabi-

horas de exercícios nos simuladores

É no treinamento realizado no

O número de incidentes aeronáu-

lizando apenas uma ocorrência,

do Centro Operacional Integrado

simulador que o instrutor tem a

segundo dados do CINDACTA I. Em

(COI) do CINDACTA I e do Instituto

possibilidade de corrigir falhas

2015, ocorreram 31 e já em 2016,

de Controle do Espaço Aéreo (ICEA),

para melhorar o aproveitamento

foram nove, uma redução de 70%.

em São José dos Campos (SP).

do controlador, em atividade real. No trabalho realizado no simulador

Operações Simultâneas

nários que retratam situações de

e no debrifim, compartilhamos

Para gerenciar as operações para-

excesso de demanda de tráfego, de-

conhecimentos e boas práticas,

lelas simultâneas independentes no

gradações, contingências, procedi-

contribuindo para melhoria dos

Aeroporto Internacional Juscelino

mentos de emergências utilizando

serviços, afirma o Sargento Ricardo

Kubitschek, em Brasília (DF), os con-

as medidas do Serviço de Gerencia-

Rodrigues Magalhães, supervisor e

troladores de tráfego aéreo passa-

mento de Fluxo de Tráfego Aéreo

instrutor do ACC-BS.

ram, também, por treinamento nos

O treinamento contempla ce-

(ATFM), técnicas de vigilância do

Esses benefícios não são únicos. O

serviço de tráfego aéreo e separa-

uso do simulador permite economia

ção convencional. O objetivo é que,

em relação aos custos e uma dimi-

O CINDACTA I abrange 1,5 milhão de Km² e controla, em média, 1,5 mil voos por dia, sendo responsável pela maior quantidade de tráfego aéreo do País, 45% do total 14

jetivo de acompanhar as atividades

simuladores do ICEA. Os militares realizaram atividades em simuladores programados


para apresentar as mais diversas

análises de risco necessárias para

situações, das mais simples até as

retomar as operações. Uma das

independência às duas pistas aumen-

mais complexas. Houve um grande

mudanças adotadas para evitar

ta a capacidade de funcionamento do

investimento no treinamento dos

incidentes é que agora cada pista

aeroporto, especialmente nos horários

controladores. Eles fizeram todos

do aeroporto possui uma carta de

com maior movimentação aérea.

os procedimentos de contingência

procedimento diferente da outra.

possíveis para que estivéssemos

Primeiro, foram realizados os

ao mesmo tempo, a operação que dá

Atualmente, o aeroporto tem capacidade para realizar 62 movimentos

preparados para as operações, ga-

pousos simultâneos durante o dia

aéreos por hora na capital federal, o

rantindo a segurança das operações

e em condições visuais. Posterior-

que significa uma aproximação ou

no aeroporto de Brasília, destacou o

mente, os procedimentos passa-

decolagem por minuto. A operação

comandante do CINDACTA I, Briga-

ram a ser realizados, também, por

independente permite ampliar a capa-

deiro do Ar Gustavo Adolfo Camargo

instrumentos.

cidade para até 80 pousos ou decola-

de Oliveira. A preparação para o Aeroporto de Brasília realizar a operação simultâ-

Segurança nas operações As operações de pistas simultâne-

gens por hora. Quando a operação simultânea é ativada, a torre de controle de tráfego

nea independente foi de dois anos.

as seguem os padrões de segurança

aéreo trabalha com duas equipes: uma

De acordo com a Organização da

preconizadas pela OACI e passaram

voltada para a pista sul e outra para a

Aviação Civil Internacional (OACI),

por estudos dos órgãos relacionados

norte, é como se houvesse duas torres

um dos critérios de segurança é que

ao espaço aéreo. Para realizar esses

em ação.

a separação entre as pistas precisa

procedimentos são exigidas regras

ser de pelo menos 1.310 metros.

rígidas de segurança e que não são

mos aumentar o fluxo de aeronaves

Em Brasília, a distância é de 1.850

tão simples de ser atingidas. "A

que se aproximam do aeroporto. Isso

metros, ou seja, 700 a mais do que o

operação requer critérios rígidos e

traz uma redução nas filas de aerona-

mínimo exigido.

cumprimento de normas”, explica

ves na aproximação, a diminuição da

Em 12 de novembro de 2015, o pro-

o chefe do Controle de Aproxima-

emissão de gás carbônico e também

cedimento de decolagens simultâne-

ção da terminal Brasília (APP-BR),

reduz a complexidade do controle de

as independentes entrou em vigor,

Tenente Wilson Floripes Junior.

tráfego aéreo", explica o Brigadeiro

mas foi suspenso em 2 de março de 2016, em função do registro de dois incidentes – ocorridos em 22/02 e

Vantagens da operação simultânea independente

"A grande vantagem é que consegui-

Gustavo sobre as vantagens econômicas e operacionais. O CINDACTA I abrange 1,5 milhão de

De acordo com o Anuário Esta-

Km² e controla, em média, 1,5 mil voos

res de tráfego aéreo agiram imedia-

tístico de Tráfego Aéreo, elabora-

por dia, sendo responsável pela maior

tamente e evitaram problemas mais

do pelo Centro de Gerenciamento

quantidade de tráfego aéreo do País,

da Navegação Aérea (CGNA), em

45% do total. Com a operação simultâ-

Após estudar

2015, o Aeroporto de Brasília

nea em pistas paralelas, o Aeroporto

os relatos

registrou 199.246 mil movimen-

de Brasília se destaca entre os princi-

dos voos, o

tos aéreos, tornando-se o terceiro

pais hubs internacionais e os maiores

maior do País.

aeroportos do mundo a pôr em prática

02/03. Nos dois casos, os controlado-

graves.

CINDACTA I refez todas as

Mais do que decolar ou pousar

esse gerenciamento de tráfego aéreo.

A operação que dá independência às duas pistas aumenta a capacidade de funcionamento do aeroporto, especialmente nos horários com maior movimentação aérea 15


Artigo

Aplicativo FPL BR

Plano de voo na palma da sua mão Por Denise Fontes Fotos de Fábio Maciel

O aplicativo está disponível gratuitamente em plataformas IOS e Android. A previsão é que em dois anos, com a adesão dos pilotos à nova ferramenta, ocorra uma diminuição de mais de 50% no envio do plano de voo presencial ou por telefone, podendo chegar a 80% em algumas localidades. 16

O

Brasil possui um setor aé-

desenvolvido pela Comissão de Im-

reo bastante movimentado,

plantação do Sistema de Controle do

funcional e com alto potencial de

Espaço Aéreo (CISCEA), em parceria

crescimento. Para dar conta desse

com a empresa Atech Negócios em

desafio, o Departamento de Controle

Tecnologia S/A, do grupo Embraer.

do Espaço Aéreo (DECEA) tem priori-

Segundo o adjunto da Divisão

zado a qualidade de suas atividades,

de Operações da CISCEA, Tenente-

incorporando novas tecnologias e

Coronel Aviador Ricardo Barbosa

sempre em busca contínua pela oti-

Arrais de Oliveira, o aplicativo

mização da prestação dos serviços

tem o objetivo de atender às

aos usuários.

necessidades dos pilotos. “Uma

Uma ação de destaque nesse

delas é a mobilidade. A ferramenta

sentido é o lançamento do aplicativo

permite apresentar um plano de

FPL BR, uma nova ferramenta para

voo de qualquer lugar, de maneira

a elaboração, validação, envio e atu-

prática e segura, utilizando seu

alização dos dados do plano de voo

smartphone, além de acompanhar o

pela internet. O software conta com

status da aprovação do plano de voo

versões para as plataformas iOS e

em tempo real”, esclarece o gerente

Android e está disponível gratuita-

do projeto.

mente nas lojas App Store e Google Play. Pilotos civis e militares podem fazer o download do aplicativo

No Brasil, ocorrem aproximadamente 8.500 voos diários. Somente em São Paulo, são 700 mil movimentos por ano, segundo dados do


DECEA. “O aplicativo é um módulo do Sistema

mais ágil e fácil, além de racionalizar o uso das

Integrado de Gestão dos Movimentos Aéreos, o

Salas AIS, tornando o serviço mais eficiente e

SIGMA. Todas as informações são tratadas e apro-

unificado, de acordo com a reestruturação da

vadas por este sistema”, acrescenta o oficial.

FAB colocada em curso pelo comandante da

A interface disponibiliza, ainda, a consulta de

Aeronáutica”, avalia o chefe do Subdepartamento

plano de voo completo (PVC) e simplificado (PVS),

de Operações do DECEA, Brigadeiro do Ar Luiz

além de mensagens de atualização relacionadas à

Ricardo de Souza Nascimento.

modificação (CHG), cancelamento (CNL) e atraso (DLA). Outra funcionalidade é o recebimento de notifi-

Para se ter uma ideia, mais de dois mil usuários participaram da campanha de teste do aplicativo. “É rápido e de fácil utilização, além de permitir

cações sobre aprovação ou reprovação das men-

o acesso a diversos serviços”, afirma o piloto do

sagens enviadas. Possibilita ao usuário, também,

Grupo Especial de Inspeção em Voo (GEIV), Te-

fazer solicitação de cadastro no Centro de Geren-

nente Aviador Jean Pierre de Castro Benevides.

ciamento da Navegação Aérea (CGNA), gerenciar

O aplicativo foi elogiado, também, pelo piloto

os dados pessoais, além de permitir uma inte-

de linha aérea de helicóptero Renato Pietrofor-

gração com outros órgãos fiscalizadores, como

te Carvalho, que ressaltou as vantagens do uso

a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), a

do software: “Permite uma série de facilidades,

Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeronáu-

tanto no preenchimento como no gerenciamento

tica (INFRAERO) e a Assessoria para Assuntos de

dos dados do plano de voo, além de diminuir os

Tarifas de Navegação Aérea (ATAN).

erros, já que o próprio sistema conduz o processo,

Praticidade, rapidez e segurança Com o envio qualificado dos planos de voo e a sua validação por intermédio do cruzamento de dados de diversos órgãos do setor, a incidência de erros diminui. Assim, incompatibilidades que

oferecendo as opções de resposta para cada item do formulário”. As sugestões, dúvidas ou críticas sobre o aplicativo FPL BR devem ser encaminhadas para o Serviço de Atendimento ao Cidadão - SAC DECEA (www.decea.gov.br/sac/fplbr).

possam impedir a realização do voo são identificadas previamente, reduzindo a necessidade de intervenção manual dos profissionais do DECEA. De acordo com o presidente da CISCEA, MajorBrigadeiro do Ar Sérgio Roberto de Almeida, a primeira fase do processo digital permitiu ao piloto apresentar seu plano de voo pela internet através do Portal de Serviço de Informação Aeronáutica (AISWEB). “Com a evolução do sistema de tráfego aéreo brasileiro, é possível enviar o plano de voo pelo celular, sem a necessidade do piloto se deslocar até uma Sala de Informações Aeronáuticas (AIS). O plano de voo é processado imediatamente, gerando economia de pessoal e garantia do processo de aprovação de forma segura e eficiente”, descreve o oficialgeneral. “O aplicativo trouxe vários benefícios, tanto para o usuário como para a Força Aérea Brasileira. Os pilotos têm mais uma forma de acesso ao envio de planos de voo, de maneira

O software conta com versões para IOS e Android 17


Quem É?

2º Tenente LARA

CINDACTA IV

"O controle de tráfego aéreo é muito apaixonante" Por Daisy Meireles Fotos de Luiz Eduardo Perez e arquivo pessoal

A trajetória na Força Aérea Brasileira da curitibana Cristiane Lara Prestes, de 36 anos, hoje 2º Tenente Especialista em Controle de Tráfego Aéreo, adjunta da chefia do Centro de Controle de Aérea Amazônico (ACC-AZ)

F

ormada em Direito pela Pontifícia

da imagem da FAB. Tem uma carreira

Universidade Católica do Paraná

de 15 anos na Aeronáutica, desen-

(PUC-PR), a Tenente Lara é exemplo

volvendo atividades em diversos

para o corpo feminino da Força Aérea

segmentos, onde consegue aliar seus

Brasileira (FAB) e nos remete à uma

conhecimentos racionais e intuitivos.

série de reflexões sobre autoconhecimento, confiança, liderança e coope-

Uma carreira de sucesso

ração.

Aos 18 anos, iniciando a facul-

Cristiane Lara interessou-se pela vida militar desde muito cedo. Aos 21

concursos: Academia da Força Aérea

anos, ingressou na Escola de Especia-

(AFA), como intendente, e Banco do

listas da Aeronáutica (EEAR). Investiu

Brasil (BB). Mas só passou para o BB,

na carreira e, em 2016, formou-se

permanecendo por quase um ano e

oficial no Curso de Formação de

meio na instituição.

Oficiais Especialistas (CFOE), obtendo

Em 2001, voltou a insistir na car-

a primeira colocação na sua especia-

reira militar e fez prova para a EEAR.

lidade.

Passou no concurso e ingressou, no

Tenente Lara tem um vasto conhe-

18

dade de Matemática, tentou dois

ano seguinte, na segunda turma

cimento e valoriza o trabalho de seus

mista da Escola, a Verde Soberana.

subordinados e os considera funda-

Não tinha ideia do que era controle de

mentais para o sucesso e a construção

tráfego aéreo, mas escolheu essa es-


pecialidade porque lhe proporcionava maior chance, quando formada, de voltar para Curitiba. Na Escola, identificou-se de imediato com a atividade: “o controle de tráfego aéreo é muito apaixonante, é viciante”. O que confirma sua mãe, a professora Eliane: "Controle de tráfego aéreo tem tudo a ver com o psiquismo dela, pois é exigente consigo mesmo e muito disciplinada". Na EEAR, Lara terminou como 01 do corpo feminino e 5ª colocada na sua turma de controladores de tráfego aéreo (ATCO). Depois que se formou, voltou à Curitiba e trabalhou no Centro de Controle de Área (ACC-CW), destacando-se entre os ATCO com melhor desempe-

Tenente Lara: sintonia e respeito na relação com os graduados do ACC-AZ

nho operacional, isto em todas as fases de ascensão dentro do processo de elevação de nível operacional

Lara, como aluna, mostrava enorme dedicação e

naquele órgão.

muito comprometimento. “Até 2014, a Sargento Lara

Ela superou a fase de estágio com louvor e con-

atuou no ARCC-CW em diversas missões e também

quistou a posição de instrutora do ACC-CW, sendo

nas buscas ampliadas de comunicação. Com conheci-

referência na função pelas seriedade e atenção que

mento técnico, somado ao bom empenho, engrande-

dedicava aos estagiários recém-chegados. Ascendeu

ceu de forma ímpar o Sistema de Busca e Salvamento

à posição de supervisora do órgão ATC, onde, histo-

Aeronáutico (SISSAR)” – enaltece o amigo Claro.

ricamente, era desempenhada por militares mais

Sua experiência na busca e salvamento foi muito

antigos. Entretanto, mesmo como 2º Sargento, man-

importante para enxergar um pouco melhor a Força

teve a firmeza de conduta que lhe era característica

Aérea como um todo. “O ATCO que sai da Escola de

e conquistou, rapidamente, o respeito de todos os

formação e trabalha só em escala operacional de ór-

controladores e supervisores.

gãos de controle, como era meu caso, pela natureza

Quem nos contou o sucesso da trajetória de Laura

da atividade, acaba tendo uma visão muito estreita

em Curitiba foi o Major Adoniran Nascimento, seu

do Sistema. Quando fiz o curso de busca e salva-

ex-chefe no ACC.

mento pude ter contato direto com outras áreas de

Ela foi escolhida para trabalhar no Centro de Co-

atuação da FAB, conhecer pessoas de outras espe-

ordenação de Salvamento Aeronáutico (ARCC), órgão

cialidades e entender melhor o que eles realmente

que exige a presença dos melhores profissionais

fazem e como. Outra oportunidade bastante rica que

na área de controle de tráfego aéreo. “Desde que a

o SAR me proporcionou foi o Exercício Carranca,

conheci, ainda como graduada, intuitivamente, senti

onde atuei lado a lado com esquadrões de busca e

que ela se tornaria oficial, pois já demonstrava, em

salvamento e Salvaeros de outras regiões, inclusive

seu perfil, um sentimento de comprometimento com

com membros da Marinha. Ampliamos muito nosso

a Força Aérea e forte vontade de crescer. Isto era tão

horizonte e a compreensão da vastidão da FAB. Isso

evidente, que aconteceu!” – conta Adoniran.

foi importante para fortalecer o respeito pela insti-

O aprendizado na busca e salvamento O Sargento Leandro Claro dos Santos conheceu

tuição e o senso de pertencimento, que são fatores essenciais para que continuemos desempenhando nossas atribuições da melhor maneira possível, a

Lara em 2002, na EEAR, e a reencontrou no Segundo

despeito de todas as dificuldades que nós enfrenta-

Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Trá-

mos diariamente” – declara a Tenente Lara.

fego Aéreo (CINDACTA II). Em 2013, ele coordenou o Curso SAR001 e foi instrutor de diversas disciplinas, onde, a então Sargento

O Major Francisco Ediberto Nascimento, adjunto da Divisão de Coordenação e Controle do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA), conheceu a então

19


Sargento Lara no período em que ela trabalhava no ARCC-CW e, mais diretamente, no Exercício

muito, mas sem descuidar da parte física. Treina-

Carranca III, quando percebeu que ela era extre-

va sempre, sem nunca diminuir o ritmo. Quem

mamente competente. “Lara demonstrou toda a

contou esses detalhes foi o Tenente Bruno Garcia

sua capacidade em alcançar seus objetivos e se

Franciscone, da Divisão de Coordenação e Controle

tornou referência para outras meninas da espe-

do DECEA.

cialidade” – revela Nascimento.

Mérito intelectual Em 2015, quando decidiu fazer o CFOE, Lara

Tenente Rochelly de Miranda Correa, adjunta do setor de Serviços de Tráfego Aéreo do DECEA, também trabalhou com Lara no CINDACTA II e a reencontrou no CFOE. Rochelly revela que a amiga

queria ascender na carreira e tinha anseio por

sempre se coloca no lugar das outras pessoas e

novos desafios.

resolve situações com muita praticidade e natura-

Conquistou mérito acadêmico e terminou o

lidade. “Ela tem facilidade para o aprendizado e,

curso como 01 da sua especialidade, resultado de

com sua objetividade, sempre se saiu muito bem.

dedicação e inteligência. Destacou-se também

Resolve os impasses ao invés de ficar remoendo os

pelo condicionamento físico excelente, conseguin-

erros e pensando no ‘se’. Lara é orgulho e motiva-

do a nota máxima em praticamente todos os testes

ção para as mulheres militares”.

físicos.

Tenente Bárbara Pacheco Lins, adjunta do setor

Ela sempre se mostrou muito motivada e certa

de Serviços de Tráfego Aéreo do DECEA, é a amiga

do que queria. Ajudava bastante os colegas, corri-

do coração de Lara desde o segundo dia de aula na

gia falhas de continência, ajeitava o fardamento

EEAR. Frente às dificuldades da rotina, da mudan-

do pessoal, dentre outras coisas. Quando o curso

ça, da convivência, Bárbara conta que Lara sempre

começou, passou a sentar-se sempre na frente em

se mostrou muito forte, decidida, extremamen-

todas as aulas, prestava muita atenção, tirava to-

te inteligente e esperta: “Ela é uma pessoa fora

das as dúvidas que tinha e não sossegava enquan-

da curva, daquelas que você não entende como

to não entendesse tudo perfeitamente.

consegue resolver as coisas. Carrego esse ‘piano’

"Tento ser a chefe que eu gostaria de ter. O respeito é mútuo e profundo, acima de tudo porque somos seres humanos e, profissionalmente, também não poderia ser diferente, pois eles desempenham uma atividade extremamente importante para o País, além disso, eles são quem eu era ontem” - Tenente Lara

20

Dedicava-se ao curso de corpo e alma, estudava


há mais de década e essa é minha maneira ogra

como adjunta, dividindo a função com outros três

de dizer que somos amigas há muito tempo”.

oficiais.

Após a Escola, ambas partiram para o Centro

O interesse da Unidade para que ela fizesse

de Operações Integradas (COI) do CINDACTA II.

parte da equipe da chefia do ACC foi pelas suas

“Com a idade e a maturidade, vi surgir uma nova

competência e experiência como controladora de

Lara, mais emotiva e totalmente dedicada à famí-

tráfego aéreo, mas o fato de ser mulher também

lia, mas sempre com aquela vontade de se superar,

influenciou, uma vez que, atualmente, o efetivo

de renovar e aprender” – revela Bárbara.

feminino representa mais de 60% do ACC-AZ. En-

Passaram juntas para o CFOE 2015 - turma

tão, por uma decisão gerencial, logo após um mês

Êxodus, quando Lara voltou a ser aluna e demons-

na função, Lara recebeu a notícia de que substitui-

trou, como era de se esperar, garra, inteligência e

ria interinamente o chefe, Tenente Márcio.

liderança que lhe são peculiares desde sempre.

A escalada no CINDACTA IV Pela primeira colocação no CFOE na sua

"As controladoras de tráfego aéreo sentem-se muito bem representadas e posso afirmar, sem pestanejar, que todo efetivo sente-se honrado por ter uma profissional capacitada, que entende o

especialidade, pôde escolheu servir em Manaus,

serviço operacional, que não foge da raia quando

vislumbrando maior benefício para a vida pessoal

o assunto é trabalho. Ela tem um estilo próprio de

e profissional a médio prazo. "A cidade é cheia de

liderar, preocupando-se com a harmonização do

peculiaridades, mas tem absolutamente tudo que

grupo” - declara o Tenente Márcio.

se precisa para viver com qualidade. As pessoas

Lara confessa que teve que aprender na marra

são muito acolhedoras e eu adoro as chuvas daqui.

todas as respostas que o Tenente Márcio tinha com

O espetáculo da natureza é diário" – justifica.

sua vasta experiência no ACC-AZ.

A Tenente Lara apresentou-se em Manaus no dia 5 de janeiro de 2017, mas saiu em férias e veio a instalação na sequ-

Suas atividades no setor são diversas: coleta e registra os dados operacionais e as anomalias técnicas que interferem no desempenho do serviço de Controle de Tráfego Aéreo (ATC); coordena a

ência. Retornou no dia

execução dos serviços de tráfego aéreo na Região

13 de fevereiro, quan-

de Informação de Voo Amazônico (FIR-AZ); cria e

do ainda não estava

efetua as modificações necessárias ao adequado

definida sua função na

processamento automatizado das mensagens de

Unidade. Só depois do

tráfego aéreo apresentadas para tratamento;

Carnaval ficou acertada sua atividade no ACC-AZ,

presta serviço de ATC às aeronaves sobrevoando as áreas de controle e de informação de voo e de

21


alerta ao Voo Visual (VFR) na FIR de controle;

ACC-AZ tem uma equipe operacional estratégica e a

cumpre acordos operacionais, normas e orienta-

Tenente Lara é flexível, resiliente, atenciosa e sabe

ções de fluxo de tráfego aéreo e procedimentos

exigir com leveza. Por isso, acredito que seus princí-

específicos das atividades do órgão; verifica a

pios são alimentados pelo seu caráter”.

compatibilidade entre as autorizações de sobrevoo recebidas e os planos de voo corresponden-

dos ATCOs do ACC-AZ, afirma que a Tenente Lara

tes, informando ao Quarto Centro de Operações

sabe liderar e gerenciar como poucos. “Conversa-

Militares (COpM4) as discrepâncias observadas.

mos muito, dividimos nossas preocupações com o

Fora isso, faz escala de chefe de missão de

trabalho diário. Posso dizer que ela é uma chefe-

busca e salvamento (SMC) no ARCC-AZ, resulta-

-amiga. Sabemos como é difícil a adequação em

do de suas atuações SAR; eventualmente, traba-

Manaus e essa relação de amizade ajuda muito na

lha na comissão de prova do Curso de Formação

adaptação”.

de Sargentos (CFS). Um de seus graduados, o 2S Cláudio Sérgio,

Com os 130 graduados do ACC-AZ, a Tenente Lara se relaciona com sintonia e respeito. “É muito

nos conta que ela passou por muitas turbulên-

fácil essa relação, porque eu me vejo neles, não

cias e viveu um momento de transição: "Sofreu

sou diferente, somos parte de um grupo que tem

internamente não só pela novidade, mas por

que atingir um objetivo. Agora eu desempenho

estar longe de casa. Passou de graduada para

outra função, mas trabalhei na escala durante toda

oficial, e isso é um novo rumo de vida que mui-

minha carreira enquanto graduada. Conheço todos

tos almejam e poucos alcançam.

os anseios, angústias, dificuldades e facilidades,

Apesar disso, não esquece que foi sargento e nunca se engrandece. Ela tem o coração aberto para chefiar o ACC-AZ e se envolve, mesmo sem

então fica muito fluída essa comunicação com eles, pois falamos a mesma língua"- define a Tenente. A importância dessa conquista é reconhecida

conhecer os processos. Deu a cara a tapa e não

não só pelas graduadas do ACC-AZ, mas também

deu as costas. Ensina o trabalho, levanta a moral

foi legitimado pela Contra-Almirante Martha Herb

da equipe e abraça. Assume seu papel, suas tare-

- primeira mulher a ocupar a mais alta patente

fas e faz a diferença na relação profissional do

dentro da Marinha Norte Americana e diretora do

efetivo com atitudes simples, fazendo o nosso

Colégio Interamericano de Defesa (CID), instituição

dia de trabalho ser mais feliz e gratificante”.

especializada na formação de Mestres em Ciência

O 3S José Morais acha que uma chefia não trabalha independente e sim conjugada. "O

22

A 3S Daniele Bezerra, que trabalha com a escala

Lara e Bárbara, amigas desde o segundo dia de aula na EEAR

de Defesa e Segurança Interamericana. Em abril deste ano, a comitiva do CID esteve no

Festa de final de curso EEAR - 2003


CINDACTA IV e a diretora ficou bem impressionada

pelo Tenente-Coronel Gilber Martins Valadares,

com a quantidade de militares femininas da Orga-

então coordenador de destacamentos do CINDAC-

nização: “Vocês podem chegar além do céu”, disse

TA IV, de que isso não seria um problema, o que

a contra-almirante. Em agosto, a militar america-

veio a se confirmar no transcorrer do período de

na enviou uma medalha especial para as brasilei-

comando”.

ras, dentre elas, a Tenente Lara.

O quilate de cada militar integrante da Força

As mulheres estão inseridas na FAB há 35 anos

e do profissional que ele se torna, está direta-

e, diante das mudanças sociais bastante significati-

mente relacionado à capacidade de enxergar

vas nas Forças Armadas, têm seu papel respeitado

a amplitude e a importância das atividades

e valorizado, mas ainda há um longo caminho a ser

desenvolvidas pela Instituição. Essa habilidade

percorrido.

é aprimorada ao longo da carreira, através de

E, assim, esperamos que a Tenente Lara alcance esse reconhecimento, após ter cumprido a missão

desafios e experiências. “Vir para São Gabriel da Cachoeira me colo-

de substituir o comandante do Destacamento de

cou frente a frente com uma realidade tocante,

Controle do Espaço Aéreo de São Gabriel da Cacho-

não apenas das Forças Armadas, mas do Brasil,

eira (DTCEA-UA) em suas férias, entre setembro e

da grandeza, da diversidade, das dificuldades e

outubro deste ano. Assim, mais uma vez, assumiu

do País maravilhoso, abençoado e enorme que

como pioneira, pois foi a primeira mulher – mesmo

nós temos a responsabilidade de cuidar”, decla-

que interinamente – a comandar um DTCEA.

ra a Tenente Lara.

“Ao ser consultada sobre meu interesse e dis-

Afastada de grandes centros urbanos e, portanto,

ponibilidade para a missão, fiquei muito contente,

de todas as facilidades que estes proporcionam, em

já que uma indicação dessa natureza demonstra

que o acesso se dá apenas de avião ou barco, que tem

que meus superiores confiam na minha postura

voo comercial apenas duas vezes por semana, reali-

militar/profissional e na forma como desenvolvo o

zado por apenas uma companhia aérea, em que a

meu trabalho, além de ser uma oportunidade única

população é composta essencialmente por indíge-

na carreira. Muitos oficiais de controle de tráfego

nas, militares (itinerantes) e comerciantes locais,

aéreo chegam à reserva sem ter a experiência de

São Gabriel da Cachoeira tem um destacamento de

comandar um Destacamento, muito menos com as

extrema importância para execução do serviço

peculiaridades do DTCEA-UA. De início, me surgiu o

de defesa e controle do espaço aéreo brasileiro,

receio de ser mulher e comandar um Destacamen-

pois abriga e mantém a operacionalidade de

to numa localidade isolada, porém, fui orientada

um radar de rota, um radar meteorológico,

ICEA - instrutora no estágio operacional - 2011

Curso de Formação de Oficiais Especialistas (CFOE) – 2015

23


uma estação meteorológica de altitude, bem como frequências VHF e UHF usadas pela aviação. Sem

Cachoeira” – complementa a oficial. Todo esse protagonismo coloca a Tenente Lara

essas instalações não seria possível fazer o contro-

em evidência e, com isso, ela percebe que suas

le de tráfego aéreo e a vigilância nessa região do

conquistas e posição exigem muito de si e, por isso

País. Além disso, presta o Serviço de Informação e

mesmo, se faz muita cobrança.

Alerta para as aeronaves que voam nas redondezas e utilizam o aeroporto local.

No papel de líder, ela entende que o poder de influenciar pessoas pelos seus atos e tomar decisões que

“Ver de perto o funcionamento de um Desta-

afetam a vida de outros exigem que sejamos o melhor

camento - a rotina dos militares, as dificuldades

que podemos ser como exemplo: “Temos que ser espe-

dos técnicos para manter a operacionalidade dos

lhos, refletir justiça e humildade; fazer o que gostaria

meios, a dedicação 24 horas por dia, o isolamento -

que tivessem feito com você e, diante de cada erro ou

aviva o senso de responsabilidade que cada um de

acerto, crescer, aprender e melhorar”.

nós deve manter para que nossa missão seja bem cumprida. Vivenciar esse comando, mesmo que de

Finalizamos com as palavras da Tenente Bárbara, que define bem a personalidade da nossa entre-

forma breve, aumentou o orgulho de fazer parte

vistada: “Lara conquista a todos com seu jeito de

da Força e a admiração por todos os militares que

ser - direto e sem ‘mimimi’. Ela continua a mesma

servem em lugares inóspitos. Também intensificou

de sempre, de riso fácil e conversa boa, daquelas

meu respeito pelo Exército Brasileiro, que levanta

que são conquistadas com uma simples xícara de

pontes, asfalta ruas, mantém hospitais e faz diver-

café com leite e bolo de chocolate”.

sas missões de apoio à população indígena, sem mencionar os Pelotões de Fronteira, de fundamental importância para o País, sobretudo na região Amazônica. Por tudo isso, me sinto honrada e grata por poder fazer parte e contribuir. Hoje sou uma profissional militar e me sinto uma pessoa melhor do que eu era quando cheguei em São Gabriel da

24

"A experiência que adquiri na Busca e Salvamento me fez valorizar muito a carreira e as pessoas que compõem a Instituição"

Tenente Lara


Os fatores humanos e o aspecto psicológico na segurança operacional

Artigo

Por Rosângela Cassano Colaboração: 1T Simone, 2T Castelões, CV Cássia e 3S Priscilla (ASEGCEA/ASEGFH) Infografias: Aline Prete | Freepik

A

Psicologia é uma ciência que se dedica aos estudos a respeito dos processos mentais (sentimentos, pensamentos e razão) do comportamento humano

e de suas interações com o ambiente físico e social. Dentre as suas áreas de atuação, a mais comumente conhecida é a prática clínica, na qual, de forma tradicional, o profissional exercita o papel de quem escuta e faz pontuações ao sujeito que o procura. Diferentemente da atuação acima citado, os profissionais de psicologia do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA) e dos órgãos subordinados são especialistas em Fatores Humanos, Aspecto Psicológico. Seu foco de trabalho está no gerenciamento da segurança operacional, seguindo os princípios e orientações da Organização da Aviação Civil Internacional (OACI). Com isso, debruçam-se em atividades como identificação, compreensão e análise dos possíveis desequilíbrios nas interfaces dos elementos que compõem o contexto operacional. A experiência desses profissionais é aplicada na rotina dos órgãos operacionais e nas decisões gerenciais, transcen-

25


dendo, assim, muito mais a questão individual. Suas

sendo requisitado no aprimoramento do desempe-

atividades se apropriam de práticas e conceitos de

nho humano junto ao gerenciamento da segurança

Fatores Humanos e de Segurança Operacional, sendo

operacional nas atividades de tráfego aéreo.

esses dois diretamente relacionados, e pautam suas

De acordo com a Diretriz do Comando da Aeronáu-

ações às necessidades de prevenção de acidentes ae-

tica (DCA) 351-2, que trata da Concepção Operacional

ronáuticos. Dentre tantas ações, vale ressaltar a im-

ATM Nacional, a maioria dos acidentes aeronáuticos

portância de identificar perigos no contexto opera-

tem como fator contribuinte o desempenho humano.

cional que impactam negativamente no desempenho

Embora seja a parte mais flexível e valiosa do sistema

humano e propor ações para mitigar os possíveis ris-

aeronáutico, o ser humano também é o mais vulne-

cos [DOC 9683 – Human Factors Training Manual e

rável às influências que podem afetar de maneira

DOC 9758 – Human Factors Guidelines for Air Traffic

negativa o seu comportamento. Em benefício da se-

Management (ATM) Systems].

gurança e da eficácia, é imprescindível compreender melhor o tema dos Fatores Humanos e aplicar este conhecimento de forma ampla e proativa.

PSICOLOGIA NO ATC

Fator Humano é uma expressão que a OACI considerou definir de forma clara e objetiva, uma vez que uma utilização leiga poderia se associar a qualquer

FATORES HUMANOS

SEGURANÇA OPERACIONAL

um dos fatores relacionados aos seres humanos. É, portanto, o termo que representa o homem com suas capacidades, necessidades e limitações, interagindo com máquinas, equipamentos, procedimentos e

A inserção do trabalho desses profissionais foi, aos poucos, conquistando espaço e sendo incluído nas

outras pessoas em determinado ambiente.

diferencial do seu olhar na análise do comportamen-

A evolução da atuação das atividades de Fatores Humanos

to humano ocupacional. Esse foi um caminho árduo,

No gerenciamento da segurança operacional, essa

atividades dos órgãos operacionais, mostrando o

pois nem sempre seus questionamentos e colocações

atuação começou pela investigação do Fator Huma-

eram bem entendidos. Entretanto, com o seu foco de

no, Aspecto Psicológico, nos incidentes de tráfego

trabalho tendo sido compreendido pela organização

aéreo, considerado o marco inicial da atuação da

e pelo efetivo, cada vez mais esse profissional foi

Psicologia no Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro (SISCEAB). Porém, essa prática era realizada somente nos incidentes em que o Oficial de Segurança do Controle do Espaço Aéreo (OSCEA)

ASPECTO OPERACIONAL

F A T O R HUMANO

requisitasse a investigação do Fator Humano. A partir de 2006, após a compreensão dos requiASPECTO PSICOLÓGICO

sitos da OACI, da experiência adquirida e das boas práticas aprendidas com o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA) e instituições internacionais, essa atividade passou a ser de caráter obrigatório em todas as ocorrências geradoras de Relatório de Investigação do Controle

ASPECTO MÉDICO

do Espaço Aéreo (RICEA). Desde 2008, com o estabelecimento do termo de parceria entre o DECEA e a Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), somado ao reduzido contingente de psicólogos militares, é que a Assessoria de Segurança Operacional no Controle do

26


Espaço Aéreo (ASEGCEA) tem conseguido imprimir

situacional, atenção, percepção, tomada de

uma dinâmica mais aprofundada na área de Fatores

decisão e raciocínio lógico.

Humanos, Aspecto Psicológico, seja na melhoria da

Em 2016, a Direção-Geral do DECEA, em função da

capacitação de pessoal ligada ao operacional, seja na

importância de centralizar os profissionais de psi-

aplicação de novos métodos e programas de preven-

cologia junto à segurança operacional, decidiu pela

ção desenvolvidos, que visam aos indivíduos e às

migração de todos os psicólogos do Subdepartamen-

organizações do DECEA.

to de Administração (SDAD) para a ASEGCEA, assim

Em 2010, a ASEGCEA elaborou um relatório ana-

como dos regionais para as Seções de Investigação

lítico descritivo sobre os fatores contribuintes nos

e Prevenção de Acidentes/Incidentes do Controle

incidentes de tráfego aéreo, que apontou tendências

do Espaço Aéreo (SIPACEA), formando um corpo da

a partir das quais se pôde projetar atividades, progra-

psicologia com ações, projetos, estudos e pesquisas

mas e projetos de cunho preventivo para o incremen-

voltados para objetivos comuns relativos à segurança

to da segurança operacional.

operacional.

Desde então, foram desenvolvidos vários projetos e

No início de 2017, foi instituída a ASEFGH - Seção

atividades, como os apresentados abaixo.

de Fatores Humanos da ASEGCEA e, nesse mesmo

1. Participação nas equipes de gerenciamento do

período, 16 psicólogos, recém-incorporados ao Co-

risco - Nessa atividade, o especialista em fatores

mando da Aeronáutica (COMAER), foram alocados na

humanos tem por objetivo identificar os perigos

ASEGCEA e nas SIPACEAs.

afetos ao risco corrente ou à mudança, classificando os riscos e propondo ações mitigadoras referentes à área dos fatores humanos. 2. Pesquisas de Fatores Humanos (PFH) - Busca

Suporte Regulatório dos Fatores Humanos, Aspecto Psicológico Por meio da Instrução do Comando da Aero-

identificar de forma proativa os perigos presentes

náutica (ICA 63-36), Atividades de Fatores Huma-

nos órgãos ATC (controle do tráfego aéreo), com

nos, Aspecto Psicológico no Gerenciamento da

vistas à mitigação das condições inseguras obser-

Segurança Operacional e do Manual do Comando

vadas, geralmente trata-se de condições latentes

da Aeronáutica (MCA 63-15) – que refere-se aos

presentes no âmbito das variáveis psicossociais e

Fatores Humanos no Gerenciamento da Seguran-

organizacionais, que possuem potencial de afetar o

ça Operacional no SISCEAB, foi possível contex-

desempenho humano na prestação dos serviços de

tualizar o papel do psicólogo no Gerenciamento

tráfego aéreo.

da Segurança Operacional e garantir um trabalho

3. Programa de Desenvolvimento das Habilida-

específico e padronizado dos profissionais de

des Não Técnicas (PDHNT) - Tem a finalidade

Psicologia nas Organizações Regionais do DECEA,

de desenvolver, preventivamente, as habilidades

o que favorece a padronização e o planejamento

não técnicas dos ATCO (controladores de tráfego

direcionado para as atividades de prevenção.

aéreo) para lidar melhor com as interfaces do seu trabalho. 4. Projeto EUROCONTROL/DECEA: Long Term Man-

Além das normas citadas, esses profissionais ainda contam com outros suportes normativos, tais como:

power Planning (LTMMP) - Uma das atividades do

DOC 4444 – Air Traffic Management;

especialista em Fatores Humanos nesse programa

DOC 9683 – Human Factors Training Manual;

é o mapeamento das competências dos ATCO. Há

DOC 9758 – Human Factors Guidelines for

várias recomendações afetas aos fatores humanos

Air Traffic Management (ATM) Systems;

a serem implementadas decorrentes deste projeto.

DOC 9859 – Safety Management Manual (SMM);

5.Treinamento da Memória Operacional (me-

DOC 9966 – Fatigue Risk Management

mória de trabalho) - Será executado com o foco

System (FRMS);

na memória operacional que está diretamente

MCA 63-7 – Investigação do Aspecto Psicológico

ligada aos aspectos relevantes na função de

nos Incidentes de Tráfego Aéreo.

ATCO, tais como manutenção da consciência

O suporte teórico utilizado nas atividades de

27


Modelo Shell

Homem – Equipamento (adaptação das características do equipamento às capacidades e limitações

H

Hardware

S

L

Software

E

Homem – Suporte Lógico (disponibilidade dos sistemas de apoio como requisitos normativos, materiais impressos, procedimentos operacionais normatizados) Homem – Ambiente (relação com o ambiente físico e organizacional)

Liveware

Enviroment

dos seres humanos)

L

Liveware

Homem - Homem (relações interpessoais) O Modelo Reason proporcionou um meio de

L

aceitação por parte da indústria sobre o conceito de acidente organizacional e também um modo para compreendermos, de forma gráfica, como as atividades aéreas funcionam com êxito ou se dirigem ao fracasso, em termos de segurança operacional.

fatores humanos no gerenciamento da segurança

Segundo Reason, os acidentes acontecem quando

operacional é o Modelo Shell, um diagrama prático

uma conjunção de fatores permite que eles acon-

que faz uso de blocos para representar os diferentes

teçam. Sendo cada um desses fatores necessários,

componentes do contexto operacional.

porém não suficientes isoladamente, para quebrar

O Modelo Shell tem seu nome baseado nas letras

as defesas do sistema. No caso dos sistemas aeronáu-

iniciais desses componentes: elemento central é o ser

ticos, que possuem barreiras de defesas profundas,

humano (liveware) e a ele devem ajustar os demais

raramente uma única falha é suficiente para levar

participantes: o equipamento (hardware), o ambien-

ao acidente.

te (enviroment), o suporte lógico, procedimentos

Continuando a teoria desse Modelo, as falhas nos

e tarefas (software) e o próprio elemento humano

equipamentos ou as humanas (ativas) nunca abrem

(liveware). As bordas dos blocos não são retas e sim

as brechas nas barreiras de defesas, no entanto,

dentadas, indicando que é necessário um ajuste cui-

são os elementos deflagradores do problema. Essas

dadoso entre eles para evitar sobrecarga no sistema e

brechas são consequências das decisões gerenciais

sua eventual ruptura.

tomadas nos mais altos níveis do sistema, que permanecem adormecidas até que são ativadas por algum arranjo ou circunstância operacional.

Equipe da ASEGCEA

O Modelo Reason afirma que todos os acidentes são fruto da combinação de falhas ativas e latentes. As falhas ativas são as ações ou omissões, incluindo erros e violações, que têm consequências adversas imediatas. Em geral, são considerados atos inseguros. Referem-se aos executores, ao pessoal que trabalha na linha de frente. As falhas latentes são as condições preexistentes no sistema, mesmo antes de causar algum prejuízo, per-

28


Modelo Reason

proativa, a identificação de manecendo latentes até que alguma falha ativa aja sobre elas. Para Reason, o ambiente de trabalho possui muitos aspectos que podem condu-

variáveis que podem estar influenciando negativamente o desempenho humano no contexto operacional e oferecer sugestões para corrigi-las. Hoje, a PFH é reconhecida pelas autoridades geren-

zir o indivíduo ao erro e podem afetar o compor-

ciais, principalmente porque os resultados apresen-

tamento individual e da equipe operacional. Esse

tados permitem que ações sejam implementadas

ambiente abriga diversas condições latentes que

tempestivamente para a melhoria do desempenho

podem favorecer as falhas ativas.

do órgão na prestação dos serviços de tráfego aéreo e

As defesas são criadas e alimentadas pela organização, mais especificamente pelos responsáveis por

da segurança operacional. Nos últimos dois anos, os projetos e atividades da

decisões gerenciais e processos organizacionais. As

área de Fatores Humanos, Aspecto Psicológico al-

defesas atuam primordialmente sobre a tecnologia,

cançaram maior reconhecimento das Organizações

o treinamento e os regulamentos, sendo a última

Regionais do DECEA devido à credibilidade e ao apoio

rede de proteção contra as falhas latentes.

do ex-diretor-geral do DECEA, Tenenente-Brigadeiro

Atividades em destaque A partir do trabalho no contexto operacional, foi identificada pelos profissionais de Fatores Huma-

do Ar Carlos Vuyk de Aquino, que gerou desdobramentos significativos de ações proativas afetas aos Fatores Humanos. Com isso, a participação dos profissionais de

nos a necessidade de levantar condições potenciais

psicologia, nesse contexto, tem sido cada vez mais

de perigos presentes nos órgãos ATC que pudessem

essencial, visto que objetiva, como propósito maior, o

influenciar negativamente o desempenho humano,

incremento e a promoção da segurança operacional

bem como sugerir ações para mitigá-las. Para tanto,

em todo o SISCEAB.

esses profissionais desenvolveram e implementaram

Ademais, o trabalho desses psicólogos é assesso-

a Pesquisa de Fatores Humanos (PFH), que dispõe de

rar os gestores na vigilância dos processos orga-

questionários, observações de campo e entrevistas

nizacionais, identificando as condições latentes e

confidenciais, realizados diretamente com os inte-

reforçando as defesas. Dessa forma, melhorando as

grantes das equipes operacionais. Essa ferramenta

condições de trabalho para conter as falhas ativas

vem ganhando destaque por apresentar, de forma

no ambiente operacional.

29


Seção

Conhecendo o

DTCEA-CZ

Cruzeiro do Sul - AC Por Glória Galembeck Fotos de Luiz Eduardo Perez

L

ocalizado a aproximadamente 120 quilômetros da fronteira com o Peru, o

Destacamento de Controle do Espaço Aéreo de Cruzeiro do Sul (DTCEA-CZ), no Acre, segue uma regra comum às demais unidades criadas no contexto do projeto Sistema de Vigilância da Amazônia (SIVAM): possui independência de energia elétrica, de telecomunicações e de água. Por meio de seus geradores de eletricidade, do sistema de captação e de tratamento de água e de sua central de telecomunicações, o DTCEA-CZ tem autonomia para manter suas atividades por aproximadamente 30 dias em caso de restrições severas, quer sejam provocadas por problemas no fornecimento comercial, quer sejam decorrentes de conflitos. O Destacamento de Cruzeiro do Sul está situado no extremo ocidente do Brasil. Existe uma única cidade antes da fronteira com o Peru, o município acreano de Mâncio Lima. Fisicamente, a organização militar (OM) do Comando da Aeronáutica mais próxima é o DTCEA de Eirunepé – no Amazonas. Porém, como o acesso terrestre é impraticável, os únicos meios de transporte existentes são o aéreo e o fluvial.

O Destacamento O DTCEA-CZ foi criado em 11 de novembro de 1999, por meio da portaria 728/GC3 e tem como missão prover os meios necessários para o controle, a segurança e a defesa do espaço aéreo no extremo oeste do Brasil. Para atingir esse objetivo, o Destacamento é equipado com o radar de defesa 3D TPS B-34, fabricado pela

O mais ocidental dos destacamentos de controle do espaço aéreo 30


Lockheed Martin, com a Estação de Comunicações VHF Park

Air, e com o Radar Meteorológico DWSR8500S. Além desses equipamentos principais, o Destacamento possui, ainda, uma Estação Meteorológica de Altitude (EMA), na qual são realizadas duas sondagens diárias por meio do lançamento de equipamentos acoplados a balões que se elevam a grandes altitudes. Além dela, existe também a EMS (Estação Meteorológica de Superfície). O radar 3D TPS-34 é transportável e está implantado na região denominada Área 2. Os dados gerados por esse radar são transmitidos para o Quarto Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (CINDACTA IV) e são utilizados tanto pelo Centro de Controle de Área Amazônico (ACC-AZ) quanto pela defesa aérea, no Quarto Centro de Operações

Graduado faz manutenção preventiva em grupo gerador

Militares (COpM4). Pelas suas características, o radar possui a capacidade de detectar aeronaves a baixas altitudes, requisito de suma importância para o combate a ilícitos na região de fronteira. A transmissão dos dados é feita por uma antena transportável Telesat, com backup viabilizado por um link da empresa Oi. O shelter do radar possui duas posições para controlador de tráfego aéreo que, em manobras ou operação real, torna possível a comunicação com aeronaves. Dois grupos geradores de energia elétrica, também transportáveis, completam o aparato de apoio ao funcionamento do radar. O radar meteorológico fornece informações como a velocidade e a intensidade das nuvens na região, que são disponibilizados na rede WEBMET e utilizados pela aviação comercial em geral. Redundância é uma palavra-chave ao se tratar de serviços essenciais em pontos remotos. Na Estação de Comunicações VHF, o sistema SBT realiza a repetição de dados

Seção Administrativa

de voz das comunicações de aeronaves, recebidos pelo equipamento Park Air para o CINDACTA IV, além de trafegar dados de internet e intraer. Caso haja alguma pane no sistema SBT a transmissão de dados e voz é feita por um

link da Oi como alternativa.

Shelter do radar 31


No DTCEA-CZ há dois grupos geradores de energia

tar, garantem o abastecimento. Após a captação, a água é

elétrica com 330 kVA de potência cada. Em caso de

tratada com cloro e é disponibilizada para o consumo.

interrupção no fornecimento de energia comercial, um

Diariamente, pela manhã e no início da noite, um dos

dos geradores é acionado e garante a operacionalidade de

três graduados do efetivo, da especialidade Básico em Me-

todos os sistemas e equipamentos instalados. O aciona-

teorologia (BMT) lançam o balão meteorológico, a fim de

mento é automático e um banco de baterias provê ener-

coletar informações sobre temperatura, umidade, pres-

gia para que o Destacamento não pare de funcionar, pois

são atmosférica, direção e velocidade dos ventos. O balão

o gerador leva em média dez segundos até que comece a

é inflado com o gás hidrogênio, produzido pelo equipa-

gerar energia elétrica para assumir a carga.

mento Sagim, que realiza a separação do hidrogênio e

Para manter o sistema em condições, são realizadas,

do oxigênio a partir da água. Antes de cada lançamento,

mensalmente, simulações de falta de energia elétrica e,

a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária

semanalmente, os motores dos geradores são postos em

(Infraero) é consultada para verificar se há aproximação

funcionamento sem carga.

ou decolagem de aeronaves, pois é a responsável pelos

Os equipamentos instalados no Destacamento possuem

pousos e decolagens no Aeroporto Internacional de

uma faixa de temperatura para sua operação normal,

Cruzeiro do Sul, localizado a menos de um quilômetro do

por isso há dois chillers instalados, que refrigeram as

DTCEA-CZ.

instalações ininterruptamente. Os equipamentos são da

Para cumprir a missão do Destacamento, o Tenente

empresa Trane. O chiller é um climatizador que refrigera

Crespo conta com um efetivo de 32 militares distribuídos

água movimentada por bombas através de dutos para

nas seções Técnica, Administrativa e Operacional. Desse

os ambientes internos do Destacamento, Essa água tem

total, 20 são cabos e soldados, além de graduados de

como destino os trocadores de calor onde a água gelada

especialidades típicas de um DTCEA, como BET (eletrôni-

refrigera o ar.

ca), BMT (meteorologia), SEL (eletricidade), SEM (eletro-

No que diz respeito à água potável, três poços artesia-

mecânica) e SAD (administração). Conta, ainda, com um

nos, localizados na área 2 do Destacamento e na vila mili-

suboficial BMA (mecânica de aeronaves), um sargento COM (comunicações) e uma Sargento SEF (enfermagem) - que se mudaram para Cruzeiro do Sul por estarem acompanhando a transferência de cônjuges e, embora não estejam na Tabela de Lotação de Pessoal (TLP), foram incorporados à rotina por meio de atividades administrativas e ligadas à segurança do Destacamento.

32

Efetivo do DTCEA-CZ

Tenente Crespo, comandante do DTCEA-CZ: “Percebemos a importância da presença da Força Aérea nos rincões desse Brasil imenso”.


O comandante

foi a Inteligência. Nos anos de 2005 e 2006, atuou no

Dentre os sete comandantes que já passaram pelo

Centro de Inteligência Aeronáutica (CIEAR), período

DTCEA-CZ, cinco são da especialidade de Comunica-

no qual, além da formação básica em Inteligência,

ções, um é Meteorologista. O atual comandante é o 1º

realizou cursos no Exército e na Agência Brasileira de

Tenente Carlos Eduardo Martins Crespo, do quadro de

Inteligência (ABIN). Entre 2007 e 2011, atuou no Gabi-

oficiais especialistas da Aeronáutica (QOEA), da espe-

nete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da

cialidade Guarda e Segurança (GDS). Tenente Crespo

República, na segurança pessoal do chefe do executivo.

assumiu a função em 8 de janeiro de 2015, mas já

O ingresso no Sistema de Controle do Espaço Aéreo

conhecia a OM pois, entre 2011 e 2012, como graduado

Brasileiro (SISCEAB) se deu em 2011, com a transfe-

1S, serviu no DTCEA-CZ nas funções de encarregado da

rência para o DTCEA-CZ. De Cruzeiro do Sul, o militar

seção Administrativa e da Segurança do Destacamento.

seguiu para o Centro de Instrução e Adaptação da Aero-

A designação de um Oficial GDS para comandar o

náutica (CIAAR), onde realizou o Estágio de Adaptação

Destacamento se deu em função da particularidade

ao Oficialato (EAOF) e se formou Segundo Tenente, em

que ocorre em determinadas localidades especiais: a

7 de dezembro de 2012. Assumiu os primeiros cargos

escassez de militares dispostos a se transferirem para

inerentes ao oficialato no Parque de Material de Eletrô-

lugares distantes dos grandes centros urbanos.

nica da Aeronáutica do Rio de Janeiro (PAME-RJ), como

O Tenente Crespo ingressou na Força Aérea Brasileira

chefe das Seções de Segurança e Defesa e de Inteligên-

(FAB) em 17 de julho de 1989, com aluno da Escola de

cia. Em 2015, ocorreu a transferência para Cruzeiro do

Especialistas de Aeronáutica (EEAR), onde se formou

Sul.

na especialidade Infantaria de Guarda (BGD). Como

“Comandar o DTCEA-CZ é a missão mais importante

graduado, começou a carreira no Parque de Material

de minha carreira. Sou o único Oficial da Unidade e

Bélico (PAMB). Na sequência, serviu no Esquadrão Aero-

tenho responsabilidade de gerenciar pessoas e cum-

terrestre de Salvamento, o PARA-SAR, onde realizou os

prir a missão. O trabalho é imenso e me faz orgulhoso

cursos de Paraquedista Militar, Salvamento e Resgate,

pela confiança em mim depositada. É gratificante o

Mergulho, Salto Livre, Mestre de Salto, Guerra na Selva

trabalho realizado no Destacamento, pela dedicação de

(realizado no Centro de Instrução de Guerra na Sel-

nossos militares e pela certeza da necessidade de nosso

va - CIGS -, do Exército Brasileiro) e Guerra Eletrônica

trabalho. Aqui se percebe quão importante é a presença

(realizado no Grupo de Instrução Tática e Especializada

da FAB nos rincões desse Brasil imenso. Contudo, nosso

- GITE). A passagem pela Busca e Salvamento foi a mais

trabalho é feito no silêncio, visto que, no imaginário

longa da carreira do militar, e perdurou de 1997 a 2004.

das pessoas do interior, a FAB se resume a pilotos, avi-

A seguinte área de atuação do então sargento Crespo

Rio Juruá

ões e helicópteros”, avaliou o Tenente Crespo.

Mercado Municipal da Farinha

33


A cidade

Fórum de Cruzeiro do Sul. Uma das fotografias em exibi-

Cruzeiro do Sul possui cerca de 82 mil habitantes

ção mostra um C-130 Hércules da FAB em 1969, rodeado

e é a segunda maior cidade do Acre, atrás apenas

por uma pequena multidão, e destaca: “primeiro avião de

da capital Rio Branco, segundo dados do Instituto

grande porte que pousou em Cruzeiro do Sul”. Outro pon-

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A região

to que merece uma visita é a Catedral de Nossa Senhora

que hoje compreende o município era habitada por

da Glória, construção de 1957 em estilo germânico, com

tribos indígenas do tronco Arawak ou Aruak. Ao

forma octogonal, que fica no centro da cidade.

longo das margens do rio Juruá vivia a tribo dos

A maior parte dos habitantes vive na zona rural e é grande

Náuas, etnia dominante, multiplicando-se em tabas,

a produção de farinha de mandioca, a pecuária bovina e a

dominando o rio e a selva.

criação de alevinos. O comércio é outro ponto forte da econo-

A partir de 1857 tiveram início expedições para o alto Juruá, proporcionando o povoamento da região. Forma-

mia local e gera boa parte dos empregos da população. A cidade não oferece muitas opções de lazer, há apenas

ram-se seringais, em virtude da imigração de nordes-

uma sala de cinema, duas casas noturnas e alguns res-

tinos que abandonaram os sertões fugindo das secas. O

taurantes. Outra opção de diversão é o Igarapé Preto, uma

seringal, denominado Centro Brasileiro, foi explorado a

formação de águas escuras e frias localizada na rodovia

partir de 1890 e passou a congregar grande número de

AC-405. Os militares frequentam o clube do 61º Bata-

brasileiros.

lhão de Infantaria de Selva (61º BIS) – unidade militar do

Em 1904, por força de lei, o Acre foi dividido em três departamentos administrativos, sendo que a sede do Departamento do Alto Juruá se situava em Cruzeiro do Sul. No mesmo ano, foi elevado de povoado à condição de vila e, em 1906, se tornou cidade. Parte da história do município

A

Exército na cidade, que tem cerca de 700 militares -, com piscina, churrasqueira, campo de futebol, quadra poliesportiva e salão de festas. Outro serviço oferecido pelo Exército disponível para os militares do DTCEA-CZ é o atendimento no Posto Médico de Guarnição, que presta atendimento de atenção básica à saúde. O acesso às especialidades médicas é um complicador na vida dos militares que servem em Cruzeiro do Sul,

é contada no Centro Cultural do

pois, em alguns casos, simplesmente não há profissionais

Juruá, que funciona às margens

especializados disponíveis nem no Hospital do Juruá, que

do rio, nas instalações do primeiro

atende pelo Sistema Único de Saúde (SUS), muito menos

pesar das limitações existentes em um lugar pequeno e distante, é possível viver com pouco gasto em Cruzeiro do Sul. Além disso por se tratar de uma localidade especial, há o adicional de 20% no soldo e, a cada dois anos de serviço, um acréscimo de oito meses na contagem do tempo de serviço para a reserva. Profissional e culturalmente, servir no DTCEA-CZ é uma excelente oportunidade de conhecer a vida na fronteira.

34


Vila Residencial

em clínicas particulares. Nesses casos, é preciso viajar para Rio Branco, para atendimento particular, agendar consultas no Hospital de Aeronáutica de Manaus (HAMN) ou no Hospital de Força Aérea de Brasília (HFAB).

Vila Habitacional A vila militar que atende o efetivo do DTCEA-CZ possui sete casas. Uma para o comandante e outras seis para os graduados. Há uma fila de espera de aproximadamente um ano, e quatro militares aguardam a vez. A infraestrutura de saneamento e energia elétrica é adequada e tem a vantagem de ficar próxima ao Posto Médico de Guarnição do 61º BIS e do Hospital do Juruá.

Catedral Diocesana Nossa Senhora da Glória

De Cruzeiro do Sul para o mundo Na edição 2017 da cerimônia de entrega do Oscar, em Los Angeles, nos Estados Unidos, um pequeno objeto, produzido em Cruzeiro do Sul, brilhou no tapete vermelho e foi registrado por fotógrafos de moda e de celebridades do mundo todo. Trata-se de uma pequena bolsa de mão, usada pela atriz Stacy London, que foi fabricada pelo artista plástico Maqueson Pereira Silva (foto), na Marchetaria do Acre. Essa técnica consiste na incrustação ou aplicação de partes recortadas de madeira em objetos de marcenaria. Talvez tenha sido a aparição mais glamourosa de uma peça do artesão, que possui uma história de vida digna de um roteiro de filme. Maqueson é natural de Porto Walter, município acreano cujo acesso é exclusivamente fluvial. “Dos barrancos do Rio Juruá”, como diz, Maqueson foi estudar, nos anos 1970, em um colégio de padres alemães no Acre, distante três dias de barco da casa de seu pai e, depois, ingressou no seminário em Santa Catarina. Não se ordenou padre, mas encontrou grandes mestres entre os religiosos. Os estudos o levaram até o Liceu de Artes e Ofício, em Frankfurt, na Alemanha, onde fez sua formação como artista plástico. Viajou pelo mundo, a convite do Ministério das Relações Exteriores, em feiras e congressos, explicando sobre sua arte. De volta ao Acre, fixou residência em Cruzeiro do Sul e montou sua oficina que, muito além de produzir peças de marchetaria, abre novas possibilidades na vida de pessoas em situação de vulnerabilidade social. Ex-dependentes de drogas e álcool e egressos do crime têm, na Marchetaria do Acre, a chance de aprender um ofício e ganhar a vida com dignidade. Atualmente, 23 jovens aprendem e trabalham com Maqueson que, além da marchetaria, busca transmitir princípios básicos de ética e moral para seus alunos. Os temas das obras de Maqueson sempre remetem à Amazônia, que foi a grande motivação para o artista plástico iniciar seu trabalho. “Conheci a fundo a Amazônia, sua vida, sua natureza, seus costumes, sua gente, a fauna e a flora dessa região. Viajei pelo rio Juruá, passei pelos seus estreitos e furos, explorei igarapés e paranás, vivi em comunhão íntima com o meio e com o habitante. De tanto amá-los e senti-los, um dia meu coração transbordou de emoção e resolvi mostrar para o mundo um pouco daquilo que vi e vivi em um estilo raro, e que é a maneira mais coerente que encontrei de falar do ser e da Amazônia”, explicou.

35


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