TN Petróleo 126 Digital

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OPINIÃO

É preciso (des)inverter a relação entre inovação e ciência de Telmo Ghiorzi, pós-doutorando pela FGV, doutor em Políticas Públicas pela UFRJ e mestre em engenharia de petróleo pela Unicamp

Evento ANOS

SPE Women in Energy Symposium: E&P Opportunities Caderno de Sustentabilidade

Ano XXI • 2019 • Nº 126 • www.tnpetroleo.com.br

RenovaBio reduzirá 600 milhões de toneladas de carbono da atmosfera até 2020

Especial: Gás natural

Brasil a gás:

sob alta pressão ARTIGOS Números do futuro do petróleo, por Thiago Valejo Rodrigues Dados, tecnologias e inovação, por Ali Hage

ENTREVISTA EXCLUSIVA

Raphael Neves Moura, superintendente de Segurança Operacional e Meio Ambiente da ANP

Diálogo com os agentes do setor deve ser permanente


nossas redes sociais

sumário

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edição nº 126 • 2019

Entrevista especial: Raphael Neves Moura

Diálogo com os agentes do setor deve ser permanente

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Especial: Gás natural

Brasil a gás:

Sob alta pressão

20

SPE Women in Energy Symposium: E&P Opportunities

Diversidade no setor de O&G:

Ainda não chegamos lá


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Caderno de Sustentabilidade

CONSELHO EDITORIAL Affonso Vianna Junior

RenovaBio reduzirá 600 milhões de toneladas de carbono da atmosfera até 2020

Alexandre Castanhola Gurgel Antonio Ricardo Pimentel de Oliveira Bruno Musso Colin Foster David Zylbersztajn Eduardo Mezzalira Eraldo Montenegro Flávio Franceschetti Gary A. Logsdon Geor Thomas Erhart Gilberto Israel Ivan Leão Jean-Paul Terra Prates

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João Carlos S. Pacheco

Coffee Break

João Luiz de Deus Fernandes

Ai Weiwei chega ao Rio

José Fantine Josué Rocha Luiz B. Rêgo Luiz Eduardo Braga Xavier Marcelo Costa Márcio Giannini Márcio Rocha Melo Marcius Ferrari Marco Aurélio Latgé Maria das Graças Silva Mário Jorge C. dos Santos Maurício B. Figueiredo Nathan Medeiros Paulo Buarque Guimarães Roberto Alfradique V. de Macedo Roberto Fainstein Ronaldo J. Alves Ronaldo Schubert Sampaio

artigos 30 Números do futuro do petróleo, por Thiago Valejo Rodrigues 32 Dados, tecnologias e inovação, por Ali Hage

seções 02 editorial

28 caderno de sustentabilidade

04 hot news

36 coffee break

10

entrevista exclusiva

38 feiras e eventos

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capa

39 opinião

20 eventos

Rubens Langer Samuel Barbosa

Ano XXI • Número 126 • 2019 Foto: Agência Petrobras


editorial

A nova onda do gás A

competição para ver quem avança mais rápido no setor de gás está acirrada entre o Rio de janeiro e o Governo Federal. A vocação natural do Rio, já consagrado como a capital nacional do petróleo, assegura

vantagens. Principalmente quando há vários agentes do governo estadual atuando em sinergia para que as coisas aconteçam. Tanto que no dia 18 de junho, a Agência Reguladora de Energia e Saneamento Básico do Estado do Rio de Janeiro (Agenersa) aprovou um conjunto de regras para dar mais compe-

titividade ao setor de gás natural no estado. Dentre elas, a redução do volume mínimo necessário para a caracterização de consumidor livre e maior autonomia para a construção de gasodutos. Isso ocorreu um dia depois do governo federal editar a portaria MME nº 252, que regulamentou o processo de enquadramento de projetos prioritários nos setores de óleo, gás e biocombustíveis para emissão de debêntures incentivadas. Pontos para o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico e Geração de Emprego e Renda, Lucas Tristão, e a subsecretária de Petróleo e Gás, Cristina Pinho, que estão mobilizados para assegurar o protagonismo do

Rua Nilo Peçanha, 26/904 Centro – CEP 20020 100 Rio de Janeiro – RJ – Brasil Tel/fax: 55 21 3786-8365 www.tnpetroleo.com.br tnpetroleo@tnpetroleo.com.br

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Rio de Janeiro no cenário do Novo Mercado de Gás, programa lançado em 23

DISTRIBUIÇÃO Benício Biz Editores Associados.

de julho pelo governo federal.

ISSN 1 415889-2

Essa disputa já foi mencionada até pelo secretário executivo de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia (MME), Márcio Félix, no lançamento do Anuário da indústria de óleo e gás, no início de agosto. O Rio não se acanhou: no encerramento do 19º seminário de gás natural, promovido pelo Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP), Lucas Tristão anunciou um acordo com a entidade e a Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace), para a transferência de conhecimento técnico e de melhores práticas internacionais. “O nosso objetivo é fortalecer a vocação energética do Rio de Janeiro para usinas termelétricas e exploração de óleo e gás”, afirmou o secretário. O estado fluminense já sinalizou que pretende ‘queimar’ etapas para alavancar esse mercado. Afinal, respondendo por 54% da produção nacional desse energético e com uma infraestrutura de escoamento e transporte consolidada, não faltará gás! É o que esperamos.

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TN Petróleo 126

Benício Biz Diretor da Benício Biz Editores

Filiada à ANATEC Os artigos assinados são de total responsabilidade dos autores, não representando, necessariamente, a opinião dos editores. TN Petróleo é dirigida a empresários, executivos, engenheiros, geólogos, técnicos, pesquisadores, fornecedores e compradores do setor de petróleo.



hot news

1º Ciclo de Oferta Permanente tem 47 inscritas Petrobras, ExxonMobil, Shell, CNOOC e PetroRio foram aprovadas no final de julho COMISSÃO ESPECIAL DE Licitação (CEL) da Oferta Permanente aprovou no dia 15 de agosto novas declarações de interesse acompanhadas de garantia de oferta para 14 setores, sendo nove de blocos exploratórios e cinco de áreas com acumulações marginais. Esses setores farão parte da sessão pública de apresentação de ofertas do 1º Ciclo da Oferta Permanente, que será realizada em 10 de setembro. Estarão em oferta na

Setores que farão parte da sessão pública Blocos Exploratórios Bacia: Parnaíba Setor: SPN-N Bacia: Potiguar Setor: SPOT-T2 Bacia: Potiguar Setor: SPOT-T4 Bacia: Recôncavo Setor: SREC-T1 Bacia: Recôncavo Setor: SREC-T2 Bacia: Sergipe-Alagoas Setor: SSEAL-T3 Bacia: Campos Setor: SC-AR4 Bacia: Sergipe-Alagoas Setor: SSEAL-AP1 Bacia: Sergipe-Alagoas Setor: SSEAL-AUP2

Áreas Com Acumulações Marginais Bacia: Espírito Santo Setor: SES-T4 Bacia: Espírito Santo Setor: SES-T6 Bacia: Potiguar Setor: SPOT-T4 Bacia: Recôncavo Setor: SREC-T4 Bacia: Sergipe-Alagoas Setor: SSEAL-T3 4

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sessão pública 273 blocos exploratórios, dos 600 que compõem a Oferta Permanente atualmente (constantes do Anexo I do Edital), e todas as 14 áreas com acumulações marginais. A Comissão Especial de Licitação (CEL) aprovou no dia 29 de julho as inscrições de mais 12 empresas para Oferta Permanente: Andorinha Petróleo Ltda., CNOOC Petroleum Brasil Ltda., Creative Energy Serviços e Exploração Ltda., Enauta Energia

S.A, ExxonMobil Exploração Brasil Ltda., FE Intermodal EIRELI, FMT Serviços Indústria e Comércio Ltda., Perícia Engenharia e Construção Ltda., Petróleo Brasileiro S.A – Petrobras, PetroMais Global Exploração e Produção Ltda., Petro Rio O&G Exploração e Produção de Petróleo Ltda., Shell Brasil Petróleo Ltda. A aprovação foi publicada no Diário Oficial da União no dia seguinte. Atualmente, há 47 empresas inscritas.

Empresas inscritas aprovadas • Andorinha Petróleo Ltda. • Alvopetro S/A Extração de Petróleo e Gás Natural • BP Energy do Brasil Ltda. • Brasil Refinarias Ltda. • Capricorn Brasil Petróleo e Gás Ltda. • Central Resources do Brasil Produção de Petróleo Ltda. • Construtora Kamilos Ltda. • CNOOC Petroleum Brasil Ltda. • Creative Energy Serviços e Exploração Ltda. • Guindastes Brasil Locação de Equipamentos Ltda. • Dimensional Engenharia Ltda. • DEA Deutsche Erdol AG • Eagle Exploração de Óleo e Gás Ltda. • Enauta Energia S.A. • Energizzi Energias do Brasil Ltda. • Eneva S.A. • Êxito Importadora e Exportadora S.A. • Exxonmobil Exploração Brasil Ltda. • FE Intermodal EIRELI • FMT Serviços Indústria e Comércio Ltda. • Geopark Brasil E&P de Petróleo e Gás Ltda. • Great Energy S.A. • Guindastes Brasil Óleo e Gás Ltda. • Imetame Energia Ltda.

• Karoon Petróleo e Gas Ltda. • Murphy Exploration & Production Company • Newo Óleo e Gás Ltda. • NTF Óleo e Gás Ltda. • Oil Group Exploração e Produção S.A. • Partex Brasil Ltda. • Perícia Engenharia e Construção Ltda. • Petroborn Óleo e Gás S.A. • Petroil Óleo e Gás Ltda. • Petro Rio O&G Exploração e Produção de Petróleo Ltda. • Petrol Serviços de Sondagem Ltda. - EPP • Petróleo Brasileiro S.A. • Petromais Global Exploração e Produção Ltda. • Petrosynergy Ltda. • Petro-Victory Energia Ltda. • Phoenix Empreendimentos Ltda. • Repsol Exploração Brasil Ltda. • Rosneft Brasil E&P Ltda. • Shell Brasil Petróleo Ltda. • Tucano Serviços de Apoio a Óleo e Gás Eirelli • Ubuntu Engenhria e Serviços Ltda. - ME • Vipetro Petróleo S.A. • Wintershall do Brasil Exploração e Produção Ltda.


informe comercial

Risers Rígidos Vallourec: a melhor solução para os desafios do Pré-Sal brasileiro

O

Pré-Sal brasileiro, uma das maiores e mais promissoras descobertas de óleo e gás do Mundo é visto também como um grande desafio para as operadoras bem como para toda cadeia de fornecimento da indústria de O&G. A região de águas ultraprofundas é caracterizada pela alta produtividade dos poços e pelo alto teor de H2S e CO2 nos reservatórios. Em áreas como Libra, os índices de CO2 podem chegar a 45%, exigindo materiais extremamente resistentes à corrosão e poços produzindo até 50 mil barris de petróleo por dia. Parte fundamental da produção, a escolha das infraestruturas subsea é um dos maiores desafios enfrentados pelas operadoras. Nesse contexto os risers rígidos da Vallourec se apresentam como a melhor solução para atender as exigências desse ambiente altamente corrosivo em águas ultraprofundas. Os risers rígidos podem ser projetados para resistir a uma vida útil de 25 a 30 anos nas atuais condições de pré-sal, considerando mais de 2.000 metros de lamina d’água e ambiente de HPHT (alta pressão/alta temperatura). A tecnologia existente pode lidar com todos os requisitos críticos relacionados com esse desenvolvimento, e representa uma solução de menor custo. A resistência à corrosão dos risers rígidos é garantida pelas elevadas propriedades do aço carbono utilizado, o qual é revestido internamente com uma camada de liga resistente a corrosão (inconel) - através de um processo de cladeamento, uma tecnologia conhecida há décadas e utilizada amplamente no mercado mundial offshore. Além disso, os tubos são revestidos externamente com revestimento anticorrosivo em epóxi e em seguida isolamento térmico - que pode ser, por exemplo, de poliuretano sintático (PU) ou polipropileno constituindo em um revestimento de cinco camadas (5LPP), conforme figura abaixo:

Outra vantagem do uso do tubo rígido é a possibilidade de fabricação de linhas mais leves e com diâmetros maiores, que oferecem maior vazão de óleo e, consequentemente, maior capacidade de produção. Além de um arranjo submarino muito mais otimizado com uma quantidade bem inferior de linhas necessárias. “Os tubos rígidos possuem dimensão de até 14 polegadas de diâmetro interno. É possível produzir mais e com menor uso da linha, menor custo de infraestrutura, instalação e manutenção”, explica o superintendente de Qualidade da Vallourec, Dr. Júlio Márcio Silva. Em resumo, os principais benefícios para os operadores com a utilização de risers rígidos são: • Menor custo total de aquisição (TCO), incluindo custo de engenharia e projeto, materiais e instalação. • Garantir maior produtividade do sistema (maior flow rate): através de maiores diâmetros e menor fator de atrito da superfície interna mais lisa do tubo rígido. • Resistência comprovada à alta pressão, temperatura e corrosão (H2S ou CO2) durante toda a vida útil do campo (25 a 30 anos). • Permitir instalação em maiores profundidades de lamina d’água com uma menor carga útil sobre unidade de produção.

Vallourec One Stop Shop

No Brasil, a Vallourec, referência mundial em soluções Line Pipe (onshore e offshore), sempre presente nos mais importantes projetos de flowlines de exportação e interligação de sistemas submarinos, além de risers rígidos de produção - criou uma grande unidade no conceito “One Stop Shop” em Vitoria-ES para fornecer soluções integradas a esses tipos de projetos. Em operação e localizado na costa brasileira, o empreendimento reúne desde a elaboração de especificações técnicas, em conjunto com o cliente, até a entrega personalizada, a integração de produtos e serviços que resulta na oferta de soluções completas: dimensionais padronizados ou sob medida, tolerâncias restritas nas pontas dos tubos através de moderno sistema de medição e usinagem (end truing), serviços de solda-

gem (double joint ou multi joint), revestimentos anticorrosivos e isolamento e, ainda, logística e gestão especializada para projetos. Além de revestimento de tubos anticorrosivo e isolamento térmico, a unidade de Vitória pode fornecer qualificações de soldagem e produzir o tubo double joint, com revestimento anti-corrosivo e com isolamento térmico em produção industrial. Christian Hahne, Superintendente de Vendas de Projetos Line Pipe, explica: “Aqui está um exemplo de criação de valor: oferecendo tubos de 24,4 metros em vez dos tradicionais tubos de 12,2 metros que o EPCI teria de soldar e revestir na embarcação ou em sua spoolbase. Ajudamos, portanto a reduzir em 50% os custos e tempo de revestimento de solda e junta de campo (FJC), que é um caminho crítico da operação, reduzir o tempo de operação da embarcação, aumentar a qualidade e os níveis de inspeção”. Para soldagem, contamos com a experiência e know-how da Serimax – empresa pertencente ao Grupo Vallourec. Ao reduzir o tempo de operação da base de carregamento de carretéis e eliminar 50% de FJC, estamos reduzindo o custo total de aquisição cliente (TCO). Globalmente, nosso conceito “One Stop Shop” pode acelerar a etapa fabricação, proporcionando uma redução de tempo de execução do projeto para o operador e acelerando o tempo para o primeiro óleo. Afirma Diego Almeida, Coordenador de Marketing da Vallourec. A Vallourec está estrategicamente posicionada para atender aos desafios do Pré-Sal com tecnologia consolidada no mercado e cadeia de fornecimento integrada e eficiente. Com fabricação de tubos local e centro de serviços completo, a solução de riser rígidos pode oferecer altos índices de conteúdo local e ainda oferecer o menor custo entre as tecnologias disponíveis.

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hot news

FRASES

Nos próximos 5 anos profissões ligadas à tecnologia serão mais promissoras, mostra Senai

Divulgado hoje (12), o Mapa do Trabalho 2019-2023 mostra que, entre as áreas que mais vão demandar formação profissional estão a metalmecânica (1,6 milhão vagas), construção (1,3 milhão), logística e transporte (1,2 milhão), alimentícia (754 mil), informática (528 mil), eletroeletrônica (405 mil), energia e telecomunicações (359 mil). O topo do ranking por área, no entanto,

"Privatizar Petrobras, por enquanto, é brincadeira e especulação"

"Grandes incertezas permanecem... o risco de queda para o crescimento econômico mundial é predominante." Relatório da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), que revisou para baixo pela segunda vez em três meses, a projeção de crescimento da demanda global por petróleo para este ano, refletindo as incertezas relacionadas ao crescimento da economia global, 15/08/2019.

aquelas cujos profissionais estão aptos a trabalhar em qualquer segmento, como pesquisadores e desenvolvimento, técnicos de controle da produção e desenhistas

LEVANTAMENTO FEITO pelo Serviço

industriais. Neste segmento, o Senai estima

Nacional de Aprendizagem Industrial

a criação de 1,7 milhão de vagas nos próxi-

(Senai) mostra que as profissões liga-

mos cinco anos. Técnicos de controle de

das à tecnologia estarão entre as mais

produção; de planejamento e controle de

promissoras, pelo menos nos próximos

produção; em eletrônica; eletricidade e ele-

cinco anos. No período, ocupações que

trotécnica e em operação e monitoração de

têm a tecnologia como base não só

computadores estão entre as 20 ocupações

motivarão a abertura de novos postos de

transversais que mais exigirão formação

trabalho como exigirão a requalificação

entre 2019 e 2023.

de parte da mão de obra hoje disponível.

A demanda por qualificação prevista in-

Realizado para subsidiar a oferta de

clui o aperfeiçoamento de trabalhadores que

cursos da instituição, o Mapa do Trabalho

já estão empregados e, em parcela menor

Industrial indica que, até 2023, o Brasil terá

(22%), aqueles que precisam de capacitação

de qualificar 10,5 milhões de trabalhadores

para ingressar no mercado de trabalho. Essa

em ocupações industriais para fazer frente

formação inicial inclui a reposição em vagas

"Foi sim. Aprovado ontem. É a retomada chegando ao offshore brasileiro"

às mudanças tecnológicas e à automação

já existentes e que se tornam disponíveis

dos processos de produção.

devido à aposentadoria, entre outras razões.

Segundo o Senai, a demanda por pro-

O Mapa ainda indica que os profis-

fissionais qualificados dos níveis superior

sionais com formação técnica terão mais

Décio Oddone, sobre aprovação da compra do campo de Maromba, da Petrobras, pela norueguesa BW Offshore. Reuters, 17/08/2019

e técnico deverá criar vagas de trabalho

oportunidades na área de logística e trans-

para trabalhadores qualificados a exercer

porte, que exigirá a capacitação de 495.161

funções pouco lembradas há algum tempo.

trabalhadores. A metalmecânica precisará

É o caso de ocupações como condutores

qualificar 217.703 pessoas. De acordo com

de processos robotizados, cujo número de

especialistas responsáveis pela elaboração

vagas a entidade calcula que aumentará

do estudo, a área de logística destaca-se,

22% - contra um crescimento médio proje-

entre outros fatores, pela necessidade de

tado para outras ocupações industriais da

aumentar a produtividade por meio da me-

ordem de 8,5% no mesmo período.

lhoria dos processos logísticos.

Newsletter TN Petróleo Diariamente, na tela do seu computador, as informações do setor naval e offshore. Assine em www.tnpetroleo.com.br 6

pações transversais, compreendidas como Foto: Divulgação

Paulo Guedes, Ministro da Economia, depois de dizer ao presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, para ficar alerta. O Estadão, 16/08/2019.

deverá ser liderado pelas chamadas ocu-

TN Petróleo 126

Além dos condutores de processos

O Mapa do Trabalho Industrial é ela-

robotizados, as maiores taxas de cres-

borado a partir de cenários sobre o com-

cimento do nível de ocupação deverão

portamento da economia brasileira e dos

ocorrer entre pesquisadores de engenharia

seus setores, projetando o impacto sobre

e tecnologia (aumento de 17,9%); engenhei-

o mercado de trabalho e estimando a de-

ros de controle e automação, engenheiros

manda por formação profissional com base

mecatrônicos e afins (14,2%); diretores de

industrial (formação inicial e continuada), e

serviços de informática (13,8%) e operado-

serve como parâmetro para o planejamento

res de máquinas de usinagem CNC (13,6%).

da oferta de cursos do Senai.


A REFINARIA DE PAULÍNIA (Replan), maior refinaria da Petrobras em capacidade de processamento de petróleo, investirá R$ 393 milhões na segurança operacional de suas unidades em 2019. Neste ano, cinco paradas de manutenção em unidades de grande porte foram realizadas, e a última delas terá início nesta segunda-feira, 19 de agosto, com a parada da maior unidade de tratamento de diesel do Sistema Petrobras. Cerca de 1.200 trabalhadores de empresas prestadoras de serviços executarão os trabalhos de manutenção na unidade durante os próximos 36 dias. Entre os meses de março a junho, foram realizadas manutenções em unidades de tratamento de diesel e ga-

Foto: Agência Petrobras

Segurança operacional da Replan recebe R$ 393 milhões em investimentos

solina, de geração de hidrogênio, de produção de gasolina e gás liquefeito de petróleo (GLP). Nesse período, cerca de 2300 trabalhadores foram contratados pelas empresas prestadoras de serviços para a execução dos trabalhos. As paradas para manutenção têm por objetivo manter a segurança e confiabilidade operacional da refinaria, reestabelecer as capacidades opera-

cionais, além de promover melhorias nas suas instalações. Os serviços também atendem à NR-13 – Norma Regulamentadora do Ministério do Trabalho e Emprego, que estabelece um tempo máximo de seis anos para que as unidades operem de forma ininterrupta. No período em que as unidades estão em manutenção, o mercado é atendido com produtos de outras unidades de refino da Petrobras e não compromete o abastecimento. A Refinaria de Paulínia é a maior unidade de refino da Petrobras, respondendo por aproximadamente 20% do processamento de petróleo do país. Possui capacidade para processar diariamente 69 milhões de litros de petróleo e entre seus principais produtos estão a gasolina, diesel, gás de cozinha e querosene de aviação.

ANP negocia 1,139 bilhão de litros no 68º Leilão de Biodiesel no primeiro e no segundo dia de seleção das ofertas (14 e 15/08) pelos distribuidores de combustíveis. Esse volume foi oriundo exclusivamente de produtores detentores de selo Combustível Social e representou 99,56% do total ofertado no leilão. No último dia de seleção das ofertas (16/08), foram arrematados 2,55 milhões de litros de biodiesel de produtores detentores ou não de selo Combustível Social, em torno de 0,22% do total ofertado no leilão. O processo de apresentação de ofertas de biodiesel pelas usinas e de seleção pelos distribuidores para mistura voluntária ocorreu no dia 19/08. Foram disponibilizados 500 mil litros, sendo 100,00% de produtores detentores do selo Combustível Social, volume este que representou 9,95% do saldo total de oferta não vendida para fins de adição obrigatória. Foram negociados 400 mil litros de biodiesel, represenFoto: Divulgação

NO 68º LEILÃO DE BIODIESEL da ANP foram arrematados 1,139 bilhão de litros de biodiesel (volume obrigatório e voluntário), para atendimento às misturas obrigatória e voluntária. Desse volume, 1,138 bilhão de litros foram para mistura obrigatória, sendo 99,78% deste total oriundo de produtores detentores do selo Combustível Social. O preço médio de negociação foi de R$ 2,857/L, sem considerar a margem da Adquirente, e o valor total negociado atingiu o patamar de R$ 3,252 bilhões, refletindo num ágio médio de 1,30% quando comparado com a média ponderada dos “Preços Máximos de Referência” regionais (R$ 2,820/L). A apresentação das ofertas de biodiesel ocorreu em um único dia (12/08), com 38 produtores disponibilizando um volume total de 1,141 bilhão de litros, sendo 99,74% de produtores detentores do selo Combustível Social. Em continuidade ao processo do Leilão de Biodiesel, foram arrematados 1,136 bilhão de litros de biodiesel

tando 80,00% do total ofertado no leilão autorizativo. Os Leilões de Biodiesel destinam-se a atender o disposto na Lei nº 13.263, publicada no DOU em 24/03/16, que estabelece em 11% o percentual mínimo obrigatório de adição de biodiesel ao óleo diesel vendido ao consumidor final (B11), a partir de 1º de setembro de 2019. Ressalta-se que o 68º Leilão (L68) visa a garantir o abastecimento de biodiesel no mercado nacional durante o período de 01 de setembro a 31 de outubro de 2019, conforme os critérios estabelecidos no Edital de Leilão Público nº 004/19-ANP, e que os volumes comercializados no leilão somente serão validados após homologação pela Diretoria Colegiada da ANP. TN Petróleo 126

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Campos em produção na Bacia Potiguar são vendidos para SPE 3R Petroleum, divulga Petrobras A PETROBRAS ASSINOU na sexta-feira, 9 de agosto, com a SPE 3R Petroleum S.A., subsidiária integral da 3R Petroleum e Participações S.A., contrato para a venda da totalidade de sua participação em um conjunto de campos de produção, terrestres e marítimos, denominado Polo Macau, na Bacia Potiguar, localizados no Estado do Rio Grande do Norte. O Polo Macau engloba os campos de Aratum, Macau, Serra, Salina Cristal, Lagoa Aroeira, Porto Carão e Sanhaçu. A Petrobras detém 100% de participação em todas as concessões, com exceção da concessão de Sanhaçu, na qual é operadora com 50% de participação, enquanto os 50% restantes são da Petrogal. A produção total atual de óleo e gás desses campos é de cerca de 5,8 mil barris de óleo equivalente por dia. O valor da venda é de US$ 191,1 milhões, pago em duas parcelas: (i) US$ 48 milhões com a assinatura do contrato; e (ii) US$ 143,1 milhões no fechamento da transação, sem

Foto: Divulgação

hot news

Reduc: Petrobras investe R$ 168 milhões em segurança operacional A PETROBRAS INVESTIRÁ R$ 168 milhões na parada programada de manutenção da Refinaria Duque de Caxias (Reduc), que tem início nesta segunda-feira, 12 de agosto, e duração prevista de 31 dias. Trata-se de um procedimento de rotina nas instalações industriais da companhia e segue itens normativos e padrões internacionais de segurança. O valor do investimento será utilizado na manutenção e aquisição de equipamentos para as unidades de processamento do conjunto de produção de Lubrificantes. Além dos colaboradores próprios envolvidos na parada, aproximadamente 2400 empregos temporários serão gerados pelas empresas contratadas para o serviço. O processo de seleção dos trabalhadores é de inteira responsabilidade dessas empresas, que atuaram junto ao Sistema Nacional de

Empregos (Sine) para o recrutamento de mão de obra na região. A parada para manutenção visa manter a segurança operacional, garantindo a segurança dos trabalhadores, das instalações e das comunidades próximas, atender as normas do Ministério do Trabalho (integridade dos equipamentos) e restabelecer as capacidades operacionais, além de promover melhorias no processo industrial. A Reduc tem capacidade para processar diariamente 38 milhões de litros de petróleo. Atualmente, a refinaria é responsável por cerca de 80% da produção nacional de lubrificantes. A manutenção no conjunto de produção de lubrificantes não afetará o abastecimento destes produtos ao mercado.

considerar os ajustes devidos. O fechamento da transação está sujeito ao cumprimento de condições precedentes, tais como a aprovação pela Agência Nacional

Em Santa Catarina, quatro fornecedores avançam para terceira e decisiva fase da chamada pública de GN

do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis

APÓS QUATRO MESES de análise das

ço competitivo e a redução de risco de

(ANP).

12 propostas recebidas pela SCGÁS na

abastecimento para contratação de um

A operação está de acordo com a Siste-

chamada pública para aquisição de supri-

novo supridor.

mática para Desinvestimentos da Petrobras

mento, os quatro proponentes melhores

Os critérios utilizados para determi-

e alinhado às disposições do procedimento

ranqueados nos critérios de avaliação se-

nar os fornecedores que avançam para a

especial de cessão de direitos de exploração,

guirão para a última etapa de negociações.

terceira etapa da chamada pública foram

desenvolvimento e produção de petróleo, gás

São eles: Petrobras, Shell Brasil, Total

sustentados por: preço (melhores ofer-

natural e outros hidrocarbonetos fluidos,

E&P do Brasil e Yacimientos Petrolíferos

tas), prazo para início do suprimento (abril

previsto no Decreto 9.355/2018.

Fiscales Bolivianos (YPFB).

de 2020), confiabilidade (fonte e forne-

A transação está alinhada à otimização do

O desenvolvimento de novos supri-

cimento seguros), indexação (índice de

portfólio e à melhoria de alocação do capital

dores de gás que tenham diversos pontos

reajuste temporal), modal (como o GNL),

da companhia, visando à geração de valor

de exploração e acesso ao insumo é es-

penalidades (take or pay e ship or pay),

para os nossos acionistas.

tratégico para o setor no Brasil, visando

estratégia (possibilidade de deslitorização

A 3R Petroleum é uma empresa brasileira

à formação de portfólio e garantia de en-

da oferta) e alguns pré-requisitos como,

de óleo e gás com foco no redesenvolvimento

trega do produto de forma competitiva

por exemplo, tempo de atuação no merca-

de campos maduros terrestres, e conta com

para o mercado. A SCGÁS conduziu esta

do e valor mínimo de capital acumulado.

o suporte financeiro de fundos geridos pela

segunda etapa do processo com acom-

A tendência é que Santa Catarina pas-

Starboard Asset Ltda., gestora brasileira

panhamento de consultoria especializa-

se a contar com mais de um supridor do

de investimentos alternativos com foco em

da para definição dos métodos técnicos

insumo, mudando a lógica estabelecida

operações de longo prazo nos segmentos de

e critérios adequados, considerando a

desde 1996. Os novos contratos serão

private equity e crédito privado.

busca por garantias operacionais, pre-

assinados até dezembro de 2019.

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TN Petróleo 126


CALL FOR PAPERS Innovation sparks new synergies and drives dynamic exchanges. Seize this opportunity to share your knowledge with the world at the 23rd World Petroleum Congress in Houston. Choose from 23 technical forums across five main topics. Innovations in Upstream Innovations in Downstream & Petrochemicals Innovations in Natural Gas Future Energy Landscape

Š2019_WPC_CFP-02

Managing Energy Solutions

Time is running out, submit your abstracts today! WPC2020.COM

DEC 6-10, 2020 HOUSTON, USA TN PetrĂłleo 126

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entrevista exclusiva

DIÁLOGO COM OS AGENTES DO SETOR DEVE SER

PERMANENTE por Beatriz Cardoso

De volta pra casa. Essa é a impressão que se tem ao ouvir Raphael Neves Moura, novo Superintendente de Segurança Operacional e Meio Ambiente (SSM) da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, falar dos desafios da área nessa entrevista exclusiva à TN Petróleo. A trajetória de Raphael, que é Ph.D. em Engenharia, pela Universidade de Liverpool, explica isso: entre 2007 e 2013 ele gerenciou duas áreas de segurança da ANP (CSO e SSM), participando do desenvolvimento do arcabouço regulatório para a segurança das operações petrolíferas no Brasil, incluindo a criação da área na agência e a elaboração e implementação do Sistema de Gerenciamento da Segurança Operacional (SGSO). Por isso, vê com tranquilidade a ‘migração’ da superintendência de Exploração, assumida no segundo semestre do ano passado, para a de SSM. “Ter lidado com as dificuldades dos operadores na fase inicial do contrato, justamente no momento de investimentos em exploração, auxilia bastante na compressão do papel da ANP de tornar a regulação mais objetiva e orientar os agentes econômicos a integrar os aspectos de segurança operacional nas operações diárias”. 10

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TN Petróleo – De volta à área de SSM, quais as lições aprendidas na assessoria da diretoria e à frente da superintendência de Exploração que podem ser úteis na sua nova posição? Raphael Moura – Antes de mais nada, gostaria de ressaltar o imenso prazer de retornar à SSM nessa nova fase da carreira e da Industria do Petróleo e Gás Natural no país. Depois de participar ativamente de um ciclo bem-sucedido de desenvolvimento do arcabouço regulatório para a segurança das operações petrolíferas no Brasil, incluindo a criação da área na ANP e a elaboração e implementação do Sistema de Gerenciamento da Segurança Operacional (SGSO), agradeço a grande oportunidade de me juntar a uma equipe extremamente qualificada e que tem como objetivo principal o aprimoramento da segurança operacional, com a nobre missão de proteger a vida humana e o meio ambiente. As experiências mais recentes na ANP trazem importantes ganhos para a área de segurança operacional e meio ambiente. O período na assessoria da diretoria traz uma profunda visão da estratégia da Agência, e onde a SSM poderia contribuir com a agenda regulatória do país. O fortalecimento da Coordenadoria de Meio Ambiente da SSM, que foi recentemente transformada pela diretoria em uma Coordenadoria Geral, é um bom exemplo disso. Já o tempo como Superintendente de Exploração agrega um valor inestimável,


Raphael Neves Moura, superintendente de Segurança Operacional e Meio Ambiente da ANP.

EM 2019, JÁ PASSAMOS DE 2.5 MILHÕES DE BARRIS POR DIA, E A ERNEST YOUNG, NO BRAZIL ENERGY MAP, ESTIMA NOSSA PRODUÇÃO DE PETRÓLEO EM 6.36 MILHÕES DE BARRIS POR DIA, EM 2030.

Foto: Divulgação

desenvolver e priorizar ações regulatórias que agreguem valor às operações e ajudem a indústria a identificar os riscos associados a grandes acidentes.

relacionado com o conhecimento do imenso potencial exploratório do país e a identificação das áreas estratégicas para desenvolvimento da indústria, que só pode - e será - concretizado com segurança e respeito ao meio ambiente. Além disso, ter lidado com as dificuldades dos operadores na fase inicial do contrato, justamente no momento de investimentos em exploração, auxilia bastante na compressão do papel da ANP de tornar a regulação mais objetiva e orientar os agentes econômicos a integrar os aspectos de segurança operacional nas operações diárias. Na sua visão, quais as grandes lições aprendidas nos últimos 20 anos, que podem contribuir para a indústria de O&G superar os desafios inerentes ao desenvolvimento de projetos offshore?

No final de 1997, antes da abertura do mercado, o Brasil, por meio da Petrobras, produzia cerca de 900 mil barris de petróleo por dia. Em 2019, já passamos de 2.5 milhões de barris por dia, e a Ernest Young, no Brazil Energy Map, estima nossa produção de petróleo em 6.36 milhões de barris por dia, em 2030. Esse é o grande desafio que lidamos há alguns anos, o rápido e expressivo aumento de instalações e operações offshore. Enquanto as empresas precisam investir na infraestrutura produtiva, em tecnologia e na formação de profissionais, para lidar com os desafios advindos desse grande aumento das atividades, a ANP, por sua vez, precisa manter um corpo técnico altamente qualificado e estabelecer sistemas de informação e apoio decisão eficazes. Só assim, a ANP poderá expandir sua capacidade de

A mentalidade está mudando... Nos últimos 20 anos, a percepção da sociedade quanto à importância da segurança operacional como meio de preservação do meio ambiente e da qualidade de vida das pessoas aumentou muito. Acidentes como o ocorrido na Usina Nuclear de Fukushima passaram a ter potencial para afetar a indústria, de forma mais ampla. A Alemanha, por exemplo, decidiu descomissionar oito reatores e rejeitar a construção de novas unidades, atendendo aos anseios da sociedade, após o evento no Japão. Em relação à indústria do petróleo, as metodologias para garantia da segurança das operações, além da organização e a regulação do setor, evoluíram bastante, baseadas na experiência nacional e internacional. Grandes acidentes também impactaram o desenvolvimento do setor. A ANP, por exemplo, até o acidente com o Plataforma P-36, ocorrido em 2001 e que vitimou 11 pessoas, não possuía estrutura dedicada à segurança. A partir do TN Petróleo 126

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entrevista exclusiva

acidente, a Agência firmou convênios de cooperação e contratos com a Diretoria de Portos e Costas da Marinha do Brasil, para a realização de perícias técnicas a bordo das plataformas, e com universidades, para verificação da integridade mecânica das plantas de processo. A própria ANP se estruturou nesse sentido... Sim. A partir de 2004, a ANP passou a contar com unidades especializadas em segurança operacional e meio ambiente, que foram estruturadas e providas de pessoal, com o passar do tempo. A intensificação dos contatos com organismos internacionais, como o International Regulators’ Forum, que envolve reguladores de 10 países, e o desenvolvimento de iniciativas como a Operação Ouro Negro, que congrega a Marinha, a Secretaria do Trabalho, o IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e o Ministério Público do Trabalho em ações conjuntas de fiscalização, além da participação em workshops, seminários técnicos e congressos, também aceleraram o processo de internalização do aprendizado. Portanto, a necessidade de diálogo constante com a indústria, a plena divulgação dos resultados das fiscalizações e do status da segurança das operações, e intensificação do contato com reguladores nacionais e internacionais são as grandes lições aprendidas, que permitem o aprimoramento contínuo da segurança no Brasil. De que forma a presença de operadoras do mundo inteiro podem contribuir para a melhoria da segurança operacional no país, desde E&P ao refino e distribuição? O aumento da diversidade de operadores tem um aspecto muito positivo, uma vez que promove o intercâmbio de tecnologias. A troca de informações e de lições aprendidas, quando petrolíferas formam consórcios ou operam na mesma região, reduz custos, acelera o conhecimento sobre as operações e reduz incertezas. 12

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A indústria 4.0 vai ter um impacto enorme em termos de segurança operacional. Aonde esse impacto vai ser mais decisivo: monitoramento da integridade de ativos? Ações preventivas? Melhoria da análise de risco? Penso que a indústria 4.0 terá um papel significativo no gerenciamento e controle, em tempo real, das operações e das condições de equipamentos, sistemas e plantas de processo. O desenvolvimento de ferramentas para análise das bases de dados atualmente disponíveis, contendo todo o histórico de operações, também revolucionará o conhecimento sobre a atividade petrolífera e permitirá a difusão da automação de processos. Por fim, a introdução de tecnologias disruptivas, como a separação e o processamento submarinos, a inspeção autônoma de estruturas, dutos e equipamentos, a automação integral de sondas de perfuração e a introdução de grandes unidades desabitadas proporcionará a redução de custos e riscos, e a viabilização da produção em novos ambientes. Em termos de segurança operacional, descomissionamento hoje é tão crítico quando o desenvolvimento da produção? Ou seja, carrega tantos riscos quanto os de uma unidade em produção? Em tese, do ponto de vista da segurança operacional, não. Unidades a serem descomissionadas não possuem inventário de petróleo ou gás natural e não operam em altas pressões, quase que eliminando os riscos existentes em unidades em produção. Dessa forma, os riscos operacionais acabam se concentrando nas operações de reentrada e de abandono de poços. Há outros desafios de descomissionamento, como a decisão de remoção ou permanência das unidades e estruturas submarinas, e no manuseio e descarte de rejeitos e substâncias perigosas, o gera implicações ambientais, na saúde dos trabalhadores e na navegação. Como vem evoluindo a revisão da Resolução que regula o descomissionamento

e do Programa de Desativação de Instalações (PDI)? Quantas unidades de produção offshore já estão em processo de descomissionamento? A ANP, em conjunto com a Marinha e com o IBAMA, vem trabalhando na revisão da Resolução e no novo modelo de PDI, que será único, para as três instituições. Já estamos trabalhando em conjunto para realizar as análises dos PDIs atualmente em andamento, e a revisão deve entrar em processo de consulta pública nos próximos 30 dias. Qual a Importância do SGSO na consolidação de uma cultura de segurança evolutiva no upstream brasileiro? Instituímos o SGSO em 2007, para aprimorar a segurança de instalações marítimas de perfuração e produção de petróleo e gás natural. O regulamento técnico trouxe um grande impacto e inovação na maneira de regular segurança no Brasil, cujos resultados, após esses 12 anos de regulamento, me parecem bastante positivos. Nossa tradição de regulação era prescritiva, ou seja, os regramentos, em geral, apresentavam listagem de requisitos que deveriam ser obedecidos pelos agentes regulados, sob pena de multas. Com o SGSO, essa abordagem mudou. O regulamento contém 17 práticas de gestão orientadas à avaliação de riscos, ao desempenho de segurança e ao aprimoramento contínuo do sistema de gerenciamento de segurança operacional. As petroleiras estão bem aderentes a essas práticas? Os concessionários passaram a ter que demonstrar que seu sistema de gestão é capaz de gerenciar os riscos advindos das suas operações, e a ANP passou a conduzir auditorias periódicas, aplicando não conformidades e prevendo prazos para o saneamento dos desvios identificados, a depender da sua gravidade. Dessa maneira, o SGSO não foi desenvolvido para ser mais um regulamento de segurança, mas sim uma filosofia para condução de operações seguras,


com conceitos que passaram a permear todos os níveis das organizações, da operação à alta administração. Como fomentadora e motivadora do aprimoramento da segurança, a ANP foi muito bem-sucedida, e o regulamento vem cumprindo sua função. Por que faltam guias e normas da indústria para suporte à regulação não prescritiva? Qual o caminho a seguir? O caminho a ser seguido é o de ampliação do diálogo com a indústria, associações representativas, academia e entidades normativas, para identificar que tipo de normas, guias e manuais de boas práticas precisam ser desenvolvidos, para esclarecer a aplicação e aprimorar o uso dos regulamentos de segurança. Quais são os principais pontos para a melhoria do regime de segurança do upstream brasileiro?

Desde 2017, a ANP vem estudando, promovendo eventos e coletando informações sobre pontos de melhoria para o arcabouço regulatório do Brasil. Como resultado, esperamos aprimorar a regulamentação e endereçar novos desafios egressos do aumento de produção, da diversidade de operadores nos ambientes terrestres e marítimos e no uso da tecnologia em favor da segurança. Um bom exemplo é a viabilização, através da tecnologia, da colaboração e do trabalho de equipes descentralizadas, com parte das atividades relacionadas ao monitoramento das operações e à segurança sendo executadas fora dos limites das instalações. Tal dinâmica tem grande influência e potencial de alteração nos processos relacionados com o gerenciamento da segurança operacional. Como evoluir nos assuntos relacionados a Fatores Humanos?

Esse é um assunto muito importante. O aprimoramento da segurança das operações, no estágio em que nos encontramos, dependerá muito da conscientização sobre o impacto dos fatores humanos nas operações. A evolução passa pelo reconhecimento das interfaces entre o projeto e a operação das instalações, e a necessidade de realizar revisões periódicas de projeto, para redução do risco. O treinamento de gerentes e operadores em soft skills, como processo decisório e percepção de risco, e o monitoramento do impacto do ambiente no desempenho profissional também são temas importantes. Por fim, a demonstração de liderança e o desenvolvimento de uma cultura de segurança, associados a processos de comunicação e aprendizado sobre riscos, podem ajudar a incorporar a evolução desejada.

Programas de Desativação de Instalações Offshore analisados/em análise pela SSM Unidade de Produção

Campo

FPSO Brasil

Roncador

FPSO Marlim Sul

Marlim Sul

Bacia Campos

PCA-01 (Plataforma Fixa) PCA-02 (Plataforma Fixa)

Situação

Aprovado Cação

Espírito Santo

PCA-03 (Plataforma Fixa) Bicudo

P-12 (Semissubmersível)

Linguado

P-15 (Semissubmersível)

Piraúna

P-33 (Semissubmersível)

Marlim

FPSO Cidade do Rio de Janeiro

Espadarte

FPSO Piranema Spirit

Piranema

Campos

Em Análise

Foto: Divulgação

P-07 (Semissubmersível)

Sergipe

Segurança operacional em debate Rapahel Moura é um dos convidados da Society Petroleum Engineers (SPE) -Seção Brasil para o II Seminário de Segurança Operacional Offshore, que se realizará nos dias 9 e 10 de outubro, na Sede da FIRJAN. O objetivo do evento, que entrou definitivamente para a agenda da indústria de O&G é fomentar apresentações e debates sobre as temáticas de Segurança de Processo, Sistemas de Gestão, Fatores Humanos, Tecnologia e Integridade Mecânica, aprimorando o conteúdo abordado na primeira edição e considerando os desafios atuais e avanços, principalmente quanto ao atendimento a novas Regulações. O evento é destinado a profissionais de operadoras, academia, consultorias, e empresas de bens e serviços. TN Petróleo 126

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Foto: André Luiz Mello/IBP

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Brasil a gás:

SOB ALTA PRESSÃO Mote de mais um programa governamental, dessa feita sob o codinome Novo Mercado de Gás, o energético que vem sendo apontado há mais de uma década como o ‘combustível’ da transição energética ‘ganha mais pressão’ para avançar no país. Com uma participação de 12,5% na matriz energética do país – e 34% da geração termoelétrica, quase igual ao da biomassa –, o gás natural torna-se, de novo, um dos focos da atenção da indústria de energia. Embora tenha avançado menos de 50% em uma década – respondia por 8,7% da matriz em 2009 – o potencial de expansão do segmento de gás natural jamais foi questionado. Tanto que não faltaram planos para impulsionar esse mercado, que acabou em ‘pane seca’ devido a indefinições no marco regulatório, quebra de monopólio, acesso à infraestrutura, entre outros. Agora, sob ‘alta pressão’, a aposta é que será possível avançar a todo gás.

Por Beatriz Cardoso TN TNPetróleo Petróleo126 126 15


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mercado de gás natural no Brasil ganhou novo impulso nos últimos dois meses com uma série de iniciativas e eventos que buscam consolidar os caminhos para o energético alcançar uma nova posição na matriz energética brasileira. O ponto de partida foi o lançamento do programa Novo Mercado de Gás, no dia 23 de julho, pelo ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, a partir da assinatura do decreto presidencial Nº 9.934, que instituiu o Comitê de Monitoramento da Abertura do Mercado de Gás Natural (CMGN). “Um mercado de gás natural aberto, dinâmico e competitivo, visando a retomada do crescimento econômico e do desenvolvimento regional, que vai promover uma verdadeira revolução energética e industrial no setor ”, afirmou o ministro.

Projetos prioritários Seis dias depois, a Companhia de Gás de São Paulo (Comgás) teve aprovado como prioritário o Projeto de Expansão, Suporte e Investimentos à Infraestrutura de Distribuição de Gás Natural na Área de Concessão da Comgás (20192024). Com investimentos programados de R$ 3,47 bilhões entre os anos de 2019 e 2024, o projeto da Comgás foi o primeiro enquadrado como prioritário para emissão de debêntures incentivadas, de acordo com a portaria MME nº 252. Editada pouco mais de um mês antes (17 de junho), essa portaria regulamentou o processo de enquadramento de projetos prioritários nos setores de óleo, gás e 16

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biocombustíveis para emissão de debêntures incentivadas. Entre as várias atividades do setor de gás natural que podem ter projetos enquadrados nessa portaria estão escoamento da produção, tratamento e processamento, transporte, estocagem subterrânea de gás natural, liquefação de gás natural e regaseificação de gás natural liquefeito (GNL) e prestação dos serviços locais de gás canalizado. No mesmo caminho da Comgás, que deve emitir R$ 2,5 bilhões em debêntures incentivadas, outra empresa do setor, está com projeto enquadrado nessa mesma portaria, segundo o secretário de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do MME, Márcio Félix. “Eu não posso anunciar, porque é uma empresa com ação em bolsa”, afirmou o secretário, observando que o valor será menor que o da Comgás.

Competitividade no setor O anúncio foi feito por Márcio Félix na abertura do 19ª Seminário sobre Gás Natural, promovido a cada dois anos pelo Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP), realizado entre os dias 14 e 15 de agosto, no Rio de Janeiro, reunindo especialistas e os principais stakeholders dessa cadeia de valor, além de várias autoridades do setor, em diferentes painéis e palestras. Não por acaso, o tema desse ano foi Abertura, Competitividade e Transição para o Novo Mercado de Gás, referindo-se ao programa governamental que prevê a abertura do mercado de transporte e distribuição de gás natural. “Diante de uma transformação muito grande no Brasil, o gás natu-

ral se tornou o cerne de qualquer debate, com a promoção da concorrência, o aperfeiçoamento da regulação e distribuição e a eliminação de barreiras tributárias. O gás promoverá a ‘patinetização’ molecular da economia. Sem meias palavras, esses pilares, conjuntamente, ajudarão na redução significativa do preço do gás”, afirmou Félix. “As medidas do governo promovem a criação de um mercado livre com foco nos grandes consumidores e na importação, que associados aos avanços previstos na tributação irão tornar o gás natural mais acessível e competitivo, facilitando, assim, a industrialização da economia brasileira”, afirmou o presidente do IBP, José Firmo, na abertura do evento. Endossando as palavras do dirigente do IBP, o secretário de Avaliação, Planejamento, Energia e Loteria do Ministério da Economia, Alexandre Manoel Ângelo da Silva, disse que o governo garantirá às empresas do setor acesso à infraestrutura em escoamento e transporte. “Com isso, espera-se que o preço do gás natural se torne mais competitivo”.

Etapas a cumprir “A chegada da competição permitirá que este Novo Mercado de Gás cumpra um papel relevante no desenvolvimento do país”, a f i r m o u Lu i z Costamilan, secretário executivo de Gás


Foto: Divulgação

Foto: André Luiz Mello/IBP

Comitê sem sociedade civil

Natural do IBP. “A ideia é que em 10 anos a oferta de gás dobre e o setor fique mais dinâmico e competitivo graças aos investimentos em infraestrutura, transporte e as oportunidades, cada vez mais reais, para investidores midstreamers”, pontuou. Para ele, no entanto, são várias as etapas pela frente para melhor efetivação da nova regulamentação. “A ANP, juntamente com as Agências Reguladoras Estaduais terão que se capacitar para a nova realidade. A migração do sistema

de transporte para o modelo de entrada e saída, pelo qual a injeção ou retirada do gás pode ocorrer em qualquer ponto irá requerer uma ampla discussão regulatória”. A regulação dos consumidores livres e a necessária adequação de tarifas de distribuição em casos específicos, a ser promovida pelas agências estaduais, é imprescindível. É preciso atacar também a questão tributária no transporte de gás natural. “Melhor seria se chamássemos de transmissão, buscando soluções que sejam alinhadas

OS PILARES DO PROGRAMA do Novo Mercado de Gás são: promover a concorrência, harmonizar as regulações estaduais e federal no setor, estimular a integração do setor de gás com os setores elétrico e industrial e remover barreiras tarifárias que impeçam a abertura do mercado e a competição. O Comitê CMGN será composto por membros do MME, Casa Civil, Ministério da Economia, Conselho de Administrativo de Defesa Econômica (CADE), Agência Nacional do Petróleo (ANP), e Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Ele irá coordenar as ações e atividades dos diversos agentes de estado que vão atuar para a efetiva quebra do monopólio do petróleo e do gás natural no país. Entre as suas competências estão o monitoramento das ações necessárias à abertura do mercado de gás e a proposição de medidas ao CNPE. TN Petróleo 126 17


com as características da atividade, a fim de reduzir a insegurança jurídica”, observa Costamilan. Para ele, o acesso à infraestrutura de escoamento e processamento por múltiplos agentes, e a disponibilização de curto prazo de capacidade nos gasodutos de transporte existentes (além da chamada pública da TBG) permitirão a competição na oferta de gás natural, beneficiando os consumidores.

Mercado em transformação A abertura do mercado para novos players foi destacada por vários participantes do seminário promovido pelo IBP. “A Petrobras retém a posição dominante no mercado com 75% da produção e 40% do consumo. O Novo Mercado de Gás veio para promover a concorrência, acabar com esse monopólio, remover as barreiras tributárias e harmonizar as regulações estatais e federais, gerando um mercado cada vez mais competitivo, com investimentos no transporte de gás, o que vai gerar, no futuro, a diminuição do preço do gás para o consumidor final”, afirmou Hélio Bisaggio, superintendente de Infraestrutura e Movimentação da Agência Nacional do Petró18

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leo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Ele repete, em outras palavras, o que disse o diretor geral da Agência, Décio Oddone, no lançamento do programa em Brasília, três semanas antes. “O modelo atual não serve mais. Os interesses do país são maiores do que os de qualquer empresa, por mais importante e emblemática que seja. Assim, o setor de petróleo e gás no Brasil não pode ficar restrito à Petrobras. O programa promove a concorrência, que é fundamental para que as leis de mercado prevaleçam. Também busca a harmonização das regulações estaduais e federal. Em resposta, a diretora-executiva de Refino e Gás da Petrobras, Anelise Lara, afirmou: “A Petrobras se compromete a sair da atividade de transporte e vai vender as participações que ainda possui da TAG e NTS. A estatal escolheu a opção de ser carregador e comercializador de gás”. A executiva destacou ainda que o mercado tende a crescer, principalmente entre 2020 e 2023, com a entrada dos projetos do pré-sal na Bacia de Santos. “Esses novos investimentos de infraestrutura serão feitos

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juntos com os parceiros”, pontuou Anelise Lara. No evento de encerramento, foi a vez do presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, falar sobre o novo cenário, afirmando que uma das ações da empresa, nesse novo cenário, será a revisão do acordo Gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol). “Estamos em processo de negociação com a Bolívia e haverá uma significativa redução da tarifa de transporte, que vai reduzir muito o preço. O desenvolvimento do mercado de gás natural é extremamente importante para a reindustrialização”, disse o executivo, ressaltando que apenas em 2025 o volume da produção interna deverá crescer de forma expressiva. Já o ministro da Economia, Paulo Guedes, voltou a falar do choque de energia, que vai ser impulsionado pela abertura do mercado de gás natural no Brasil. “Essa medida pode contribuir para uma redução de 40% no preço da energia no país em cerca de dois anos”, tem reiterado Guedes, que sinalizou medidas futuras para reduzir a participação do estado no setor. “Não duvido que vamos privatizar coisas maiores”, conclui Guedes, falando diretamente ao presidente da estatal.


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dução e demanda do potencial do mercado de gás natural. “Concluímos mais uma etapa para trazer o pragmatismo à abertura do mercado de gás. A celebração

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secretário de Desenvolvimento Econômico do estado do Rio de Janeiro, Lucas Tristão, assinou memorando de entendimento com o IBP e a Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace) que prevê a transferência de conhecimento técnico e de melhores práticas internacionais, além de estabelecer perspectivas de pro-

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Governo do Rio assina acordo com IBP e Abrace para troca de conhecimento e melhores práticas no mercado de gás

Compromisso saudável A ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás) vê como saudável o compromisso do governo, em adotar medidas para estimular a entrada de novos agentes e aumentar a concorrência na oferta da molécula de gás. “A Abegás espera que todo esse processo leve em consideração o pleno respeito aos contratos de concessão já firmados, preservando a segurança jurídica e garantindo a

previsibilidade indispensável. Isso é essencial para que as concessionárias — elo fundamental na cadeia produtiva — possam continuar a exercer seu papel de desenvolver a demanda, investindo na construção de redes de distribuição e na ampliação de mercado com soluções que ao mesmo tempo assegurem eficiência na prestação de serviços e total segurança aos consumidores e à população”, salientou Marcelo Mendonça, diretor de Estratégia e Mercado da Abegás.

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Parceria tripartite

desse acordo é mais uma demonstração do nosso objetivo de fortalecer a vocação energética do Rio de Janeiro para usinas termelétricas e exploração de óleo e gás. O convênio que assinamos transforma todo esse gás em energia mais barata para o Brasil crescer, o Rio de Janeiro se reindustrializar e se tornar mais competitivo. Queremos fomentar a geração de energia limpa e melhorar a malha de distribuição em nosso Estado, e consequentemente, no Brasil”, declarou o secretário. O acordo assinado no encerramento do seminário sobre Gás Natural, coloca as duas instituições à disposição do Estado para contribuir com a evolução do mercado de gás no Rio de Janeiro, fornecendo informações e participando de soluções para uma regulação apropriada.

“Qualquer cenário que passe pela quebra unilateral de contratos, que são instrumentos jurídicos perfeitos, tem o efeito de minar a confiança de investidores e afugentar novos aportes”, pondera, apoiando a abertura do mercado e a entrada dos consumidores livres. “Nossa preocupação é que esse processo aconteça sem que se respeite os contratos de concessão vigentes e, ainda, sem que se observe a devida remuneração dos serviços de movimentação de gás prestados pelas distribuidoras para o atendimento aos consumidores livres”, explica. “ Reforçamos que o mercado livre no setor de gás só será viável com a participação de mais agentes ofertando gás natural de forma competitiva”. TN Petróleo 126 19


eventos

SPE Women in Energy Symposium: E&P Opportunities

AINDA NÃO CHEGAMOS LÁ

Diversidade no setor de O&G:

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Foto: Indio Silva

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s mulheres ainda não têm participação expressiva nas posições de lideranças na indústria de óleo e gás, a despeito de atuarem em todas as etapas dessa cadeia e valor – do upstream ao downstream. “Ainda não chegamos lá”, afirmou a diretora de Refino e Gás Natural da Petrobras, Anelise Lara, na palestra de abertura do SPE Brazil Women In Energy Symposium: E&P Opportunities, realizado no dia 18 de julho de 2019, no Rio de Janeiro. Terceira mulher a ocupar cargo na diretoria executiva da estatal – “todas concursadas”, frisou –, Anelise recordou o ingresso na estatal em 1986. “O primeiro concurso com 10 vagas para mulheres na engenharia de petróleo, aconteceu em 1981. Eu entrei cinco anos depois, quando a Petrobras tinha 57 mil empregados. As mulheres eram apenas 10%. Hoje, somos 48 mil funcionários e a participação das mulheres está em torno de 16%”, afirmou. Ou seja, o cenário mudou pouco em termos de diversidade. Com o objetivo de inserir esse tema definitivamente na pauta do dia dessa indústria, o comitê Women in Energy (WIN) da Seção Brasil da Society Petroleum Engineer (SPE) abriu sua agenda

em 2020 e veio ao Brasil para participar do simpósio.

Feito inédito

de atividades com este simpósio, que passou a integrar o calendário internacional da SPE, e criou o primeiro comitê nos Estados Unidos para promover esse debate. Agenda que deve ser reforçada pela futura presidente da SPE, Shauna Noonan, que assume o comando

O comitê brasileiro conseguiu um feito raro: reuniu durante um dia inteiro as principais lideranças femininas do setor no Brasil, sem lacunas na agenda, para debater as oportunidades que o segmento de E&P oferece para as profissionais mulheres, em um momento de reaquecimento das atividades no País. Os debates reuniram lideranças como Carla Lacerda, presidente da Exxon Brasil, Veronica Rezende Coelho, vice-presidente de Desenvolvimento e Produção no Brasil da Equinor, Luna Vianna, CEO Petrol, Lorena Dominguez Espido, COO da Repsol Sinopec Brasil, Anelise Lara, diretora de Refino e Gás Natural da Petrobras, Patricia Pradal, diretora de Desenvolvimen-


to de Negócios da Chevron, Isabel Waclawek, diretora de Pesquisa e Desenvolvimento da Total, Sylvia dos Anjos, gerente executiva de Libra da Petrobras, Ana Zambelli, do Conselho Administração da Petrobras, e Renata van der Haagen, coordenadora de Relacionamento Estratégico de Petróleo, Gás e Naval da Firjan.

Observando que ingressou justamente na época das descobertas de campos gigantes em águas profundas, Anelise Lara lembra que o início da carreira gerencial se deu em 1998, já no cenário de abertura do mercado. Nesse ano, ao assumir a Gerência de Simulação de Reservatórios do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes), era a única mulher em um setor com 20 homens. “Os caminhos foram cheios de desafios, mas fui conquistando reconhecimento”, afirma Anelise Lara. “Precisamos ter mais referências na academia e fora delas. Devemos empolgar, inspirar a participação de mais mulheres nesse mercado. Daí a importância desse evento, que reúne profissionais de diferentes idades, nesse momento de transformação dos segmentos de gás natural e refino, similar ao de exploração e produção”, afirmou a engenheira de petróleo, que também já presidiu a SPE Seção Brasil. Anelise pontuou que apesar do cenário não ter mudado muito, houve conquistas importantes. “Na diretoria da Petrobras já somos 25%, atingindo a meta estabelecida pelo presidente da companhia. Eu disse que agora é preciso dobrar a meta para 50%”, brincou Anelise Lara. “Ainda falta muito, mas é preciso que vejam o futuro com mais mulheres executivas!”, concluiu.

Foto: Indio Silva

Futuro com mais executivas

Anelise Lara, diretora de Refino e Gás Natural da Petrobras

Oportunidades na indústria 4.0 A necessidade de avançar nessa discussão foi enfatizada por Shauna Noonan, que é da diretoria de Engenharia Artificial Lift da Engineering da Occidental Petroleum Corporation, tendo atuado durante 22 anos em projetos de elevação artificial e desenvolvimento de tecnologias na ConocoPhillips e na Chevron. Uma das cinco mulheres do board da SPE, integrado por 21 membros, e segunda mulher presidente da SPE, Shauna considera o momento propício para mudanças. “Os projetos em águas profundas voltaram aos patamares do início da década, tendo o Brasil como um dos principais protagonista, e houve uma redução expressiva dos custos de E&P e a indústria avançou na digitalização”, destacou. A engenheira de petróleo afirmou que a transformação digital vai abrir novas frentes. Segundo Shauna, a diversidade terá uma nova dimensão na indústria 4.0, que cria oportunidades tanto nas operadoras como no setor de serviços, no qual elas ainda são ínfima minoria”, observou, lembrando que era a única mulher em campo, quando foi supervisora de perfuração no Canadá.

Para ela, com tecnologias como a Internet das Coisas (IoT), a realidade virtual ou ampliada, as barreiras físicas e as distâncias deixam de existir. “Tudo fica mais próximo nesse cenário de alta conectividade. O que possibilitará o acesso das mulheres a novas funções”, afirmou. “A indústria 4.0 vai promover mudanças nas posições executivas do setor de óleo e gás, que está na penúltima posição em termos de diversidade, perdendo apenas para a de construção (a pior)”, finalizou.

Mudança de mentalidade Para Ana Zambelli, que integra o Conselho de Administração da Petrobras, esse cenário somente vai ser alterado com uma mudança de mindset, para que haja igualdade de oportunidades. “Ou seja: que todos tenham as mesmas oportunidades, respeitando a diversidade, possibilitando que cada um se desenvolva fazendo uso justamente da força dessas diferenças”. Ela é contrária a cotas ou políticas que simplesmente estabelecem metas de participação das mulheres, sem atentar para a formação de lideranças nas corporações. “Muitas profissionais receiam assumir uma posição, devido a essas diretrizes”, observa Ana, que integra TN Petróleo 126 21


Foto: Indio Silva

eventos

Carla Lacerda, presidente da ExxonMobil no Brasil

o Comitê de Diversidade do IBP (Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis). “Uma profissional não precisa ter vergonha de ter alçado um posto devido a essas políticas. Digo apenas ‘se você está preparada para assumir, abrace essa oportunidade’. A porta pode ter sido aberta por outros fatores, mas somente talento e capacidade vão mantê-la nessa posição. Aproveite e mostre sua competência, seu valor”, pontua Zambelli. A conselheira da Petrobras frisa ainda que a maior parte das empresas vem falando de diversidade há 20 anos, mas avançou pouco. “E os resultados são inexpressivos mesmo nas empresas que fizeram algo nesse sentido, devido à falta de foco. Não basta recrutar na base. É preciso que haja progressão de carreira com diversidade. Enquanto não tivermos mais mulheres seniores nas organizações, as juniores terão muito menos probabilidades de serem promovidas”, salienta Ana Zambelli, uma das líderes do Programa de Mentoria para Mulheres do IBP, criado justamente para contribuir na formação de novas lideranças. 22

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Diversidade na formação Em um universo onde a formação técnica é maioria absoluta, duas oceanógrafos mostram que mesmo com formação distinta, quem sabe e aproveita as oportunidades faz acontecer. “Eu, que imaginava seguir o caminho da Ciência, estou há mais de 30 anos na indústria de petróleo”, revelou Carla Lacerda, presidente da ExxonMobil Brasil. Segundo a executiva, muitas coisas na trajetória dela aconteceram mais por acidentes de percurso do que por uma carreira estruturada. “Os tempos mudaram e hoje temos programas mais estruturados, que possibilitam aproveitarmos melhor essas oportunidades, que ainda são poucas. Quando eu entrei na empresa, esses programas não existiam”, explica. Ela enfatiza que é importante valorizar o que foi conquistado. “Aprendemos muito para chegarmos a esse momento, mas a jornada não terminou pois há muitos desafios pela frente e são de todas as empresas”, diz Carla Lacerda, pontuando que hoje as mulheres são 28% da força de trabalho da Exxon Mobil no mundo, mas que

no Brasil são 40%, mesmo índice entre as lideranças. São também maioria na equipe dela, entre os cargos executivos. “Há cada vez mais mulheres entrando no pipeline. Precisamos abrir caminhos para que possam chegar a cargos de liderança. E isso passa por uma mudança de atitude no sentido de não deixar o preconceito interferir nas carreiras das pessoas”, concluiu. Também formada em oceanografia, a primeira COO (Chief Operating Officer) da Repsol Sinopec Brasil, Lorena Dominguez Espido, recém nomeada, também destacou a diversidade na empresa. “Cerca de 40% são mulheres, subindo para 50% nos times de liderança. Dos cinco executivos no País, três são mulheres”, observou Lorena, ao fazer um balanço dos interesses da empresa no Brasil. O mais importante, na visão da executiva, é fazer o que a pessoa gosta. “Depois, focar energia no que você quer”, afirmou a oceanógrafa que tampouco havia pensado que seguiria trajetória no setor de óleo e gás.

Engenheira das ciências Se tem oceanógrafo no comando, normal haver engenheiros seguindo a toa das ciências, como é o caso da diretora de Pesquisa e Desenvolvimento da Total, Isabel Waclawek. Formada em engenharia, ela se viu obrigada a assumir funções de analista de informática ao se formar, em meio a um cenário de baixa oferta de empregos. Depois de dez anos nessa área, e de ter filhos, decidiu fazer mestrado, onde conheceu o que lhe abriu as portas para o mundo das ciências e do petróleo. A porta de entrada foi o Cenpes, mas logo se veria em empresas de serviços do setor de petróleo. “Depois de ser selecionada entre 60 pessoas, a chefia me enviou para trabalho de campo, afirmando


que eu precisava conhecer na prática o que fazia em teoria”, lembra, rindo, ao contar a primeira vez que embarcou a serviço. Passou por outras empresas desse segmento até ir para a BG e Shell, na qual começou sua rota rumo aos laboratórios de pesquisa. Passou por alguns dos principais centros de pesquisa do setor de óleo e gás no mundo, entre os quais os da Shell e da BG, no Reino Unido e na Noruega, até assumir o comando de P&D da petrolífera francesa Total. Uma posição rara no mercado de óleo e gás, embora ela afirme que na área de P&D não há distinção. “Aqui a diversidade é natural”.

Tecnologia na mira A transformação digital e a indústria 4.0 já estão incorporadas no dia a dia de lideranças femininas que se destacam no debate sobre novas tecnologias. É o caso, por exemplo, da geóloga Sylvia dos Anjos, gerente executiva da Petrobras para a área de Libra. Primeira profissional brasileira (de qualquer gênero) o prêmio AAPG Distinguished Service Award for 2017, um dos mais importantes na área no mundo, concedido pela American Association of Petroleum Geologists (AAPG), Sylvia representa a “tecnologia de batom” com muita honra, como brincam seus admiradores. Prova disso foi a apresentação técnica, mas envolvente, na qual falou sobre o papel das tecnologias digitais nos projetos de E&P no pré-sal. “A busca de tecnologia para otimizar a produção de Libra foi o grande salto do ‘gato’, quando o petróleo caiu a um terço do valor depois do primeiro leilão de partilha”, lembrou. A expectativa dela é ter é um ativo conectado, com todas as tecnologias digitais que vão permitir diagnósticos de segurança, equipamentos, processos, melhoria da per-

Setor de serviços tem efeito multiplicador de oportunidades A INDÚSTRIA DE ÓLEO e gás mobiliza no mínimo o equivalente a quatro profissionais na área de serviços para cada petroleiro das operadoras (oil company) em atividades no Brasil hoje. O que abre uma enorme frente de oportunidades para as mulheres, que são ínfima minoria nesse segmento da cadeia produtiva de óleo e gás. Quem revelou isso foi Alejandro Duran, diretor da ABESPetro (Associação Brasileira de Empresas de Serviços do Petróleo), que reúne mais de 40 empresas líderes globais de serviços no setor e respondem por 80% das atividades de E&P no Brasil. “Isso precisa mudar. Não porque seja bom em termos de imagem, de equidade, e sim por uma questão de sobrevivência”, afirmou Alejandro, ao destacar o efeito multiplicador da indústria de serviço. “A indústria de produtos e serviços tem que se reinventar. E a diversidade é um dos caminhos”. Ele ressaltou que o setor reúne engenheiros, biólogos, geofísicos,

diversos profissionais, todos trabalhando e dependendo de dados, da análise de dados (data intelligence). “Precisamos de profissionais que façam isso sob um ponto de vista diferente. Sinto falta dessa capacidade de analisar, de trazer uma outra visão em relação àquela a qual estamos acostumados. As mulheres podem trazer essa diversidade que tanto precisamos”, conclui. Para ele, o desafio não assusta as profissionais do mercado. “Vi mulheres que foram tiradas da zona de conforto, assumindo uma função diferenciada e com total sucesso”, afirmou. E quando uma empresa faz isso, tem que assegurar, proteger as pessoas que estão nesse movimento, por que vai ‘gerar bala’ por parte de quem resiste a mudanças. “Mas se colocarmos mais profissionais em outras áreas, do subsea ao topside, passando por várias áreas, podem acreditar: vamos ter mais exemplos de sucesso”, concluiu o executivo.

formance etc. “A digitalização pode melhorar nossa indústria, otimizar processos e ser inclusiva, porque a inteligência está compartilhada com todos”, disse a gerente. “As tecnologias estão aí, mas precisamos ser mais ágeis na contratação, implementação”, observou. Destacando a expertise da empresa no uso de novas tecnologias, tanto em novos ativos como em campos maduros, a vice-presidente Sênior de Desenvolvimento e Produção no Brasil da Equinor, Veronica Rezende Coelho, falou do impacto delas na recuperação avançada. “Em Roncador, junto com a Petrobras, o uso de tecnologias aplicadas com sucesso na Noruega, onde os índices de recuperação já alcançaram 50%, vão gerar a

oportunidade de recuperarmos 1 bilhão de barris”, revelou a executiva. Para ela, “esse mundo em transição representa oportunidades para geração de valor”. Inclusive em termos de diversidade, assunto no qual a Equinor vem avançando há um bom tempo. “Sou um exemplo disso. É preciso aceitar o desafio, abraçá-lo, como disse Ana Zambelli. Saí de Itaperuna para viver na Noruega, passei por várias funções, e hoje estou aqui. Na Equinor há lugar para quem quer fazer a diferença”, concluiu.

Resiliência e empreendedorismo Para a diretora de Desenvolvimento de Negócios da Chevron, Patricia Pradal, um atributo fundaTN Petróleo 126 23


Foto: Indio Silva

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Shiniti Ohara, presidente da SPE BRASIL e Eduarda Zanetti, vice-presidente do WIN Brasil

mental nesse movimento em busca de igualdade de oportunidades é a resiliência. “Quem não for resiliente não vai sobreviver. É preciso analisar, pensar, ter paciência e entender o momento que estamos vivendo para avançar nesse mercado, que oferece múltiplas oportunidades”, diz a executiva, que também faz parte do conselho de Administração de E&P e do programa de mentoria do IBP. “O Brasil é muito rico: do onshore ao offshore, do convencional ao shale gas (que sequer começamos a extrair), passando pelos campos maduros, que têm baixo índice de recuperação comparado a de outros países, temos inúmeras oportunidades profissionais para quem quer fazer parte dessa indústria”, diz a executiva que também ‘caiu’ por acaso no setor há 20 anos, e nunca mais saiu

da área. “Gosto do que faço”, conclui Pradal. Já a jovem empreendedora Luna Viana, CEO da Petrol Serviços, começou na área quando mal se formou em engenharia, em uma empresa de E&P em 2010, e logo viu que era necessário empreender. “A crise veio e vi que o caminho era prospectar oportunidades”, diz a engenheira, que começou como funcionária numa empresa menor e virou sócia. “Tive de aprender de tudo um pouco. Quando se empreende não há caminhos fáceis”, afirma a CEO que viu o enorme potencial, onshore e offshore, que o País oferecia. Hoje, prestes a completar uma década no mercado, continua a empreender, apoiada em uma rede de proteção. “Tenho um pool de amigos, parceiros e consultores informais que são uma verdadeira rede de proteção, que sinaliza quando corremos o risco de sair do rumo”, diz Luna, que aposta na retomada para setor para consolidar o caminho para a Petrol. O enorme potencial apontado pela executiva da Chevron está no radar dessa nova geração de empreendedores.

O desafio é delas A presidente do comitê Women in Energy (WIN) da SPE Seção Brasil, Barbara Cavalcante, lembrou que a questão do SMS (Se-

gurança, Meio Ambiente e Saúde) nas corporações, há duas décadas era função de um time nas empresas de O&G. “Hoje está no dia a dia das pessoas. Esse é o nosso desafio: fazer com que a diversidade seja incorporada à cultura das empresas de O&G. E não somente operadoras, mas de toda a cadeia produtiva, incluindo as prestadoras de serviço responsáveis pela maioria das contratações do setor”, reiterou a líder do WIN na SPE Brasil. A engenheira de petróleo, Eduarda Zanetti, vice-presidente do WIN Brasil, ressaltou que um passo importante foi dado com esse simpósio. “Vamos ter uma programação bem forte para promover esse debate em todos os níveis. Depende de a gente avançar, principalmente quando temos todo o apoio da diretoria da SPE Seção Brasil. Concorda com as lideranças do WIN Brasil a coordenadora de Relacionamento Estratégico de Petróleo, Gás e Naval da Firjan, Renata van der Haagen, porque ainda há um longo caminho a ser percorrido em prol da igualdade de gênero. “Temos a obrigação de inspirar nossas filhas, sobrinhas e demais meninas e mulheres a irem além. Precisamos criar oportunidades para que se desenvolvam, e que seja entendido, de uma vez por todas, que a diversidade traz maior dinamismo e fortalecimento para a sociedade como um todo”, concluiu.

Todos bem na foto! Para relembrar bons momentos dos grandes eventos do setor, acesse a nossa galeria de fotos no Flickr. Afinal de contas, recordar é viver!

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eventos

Rio Pipeline 2019

Desafios e oportunidades do

do setor dutoviário no Brasil

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Foto: Divulgação

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Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP) deu início no dia 30/07 aos debates que serão aprofundados durante a Rio Pipeline 2019 – maior evento internacional da indústria de dutos –, que acontecerá entre os dias 03 e 05 de setembro, no Rio de Janeiro. O evento de aquecimento, que contou com a presença de executivos do setor dutovário, abordou questões como os desafios e oportunidades do setor diante de um cenário de transição nos segmentos de mid e downstream no país. Durante a abertura, Milton Costa Filho, secretário-geral do IBP, apresentou os objetivos e a importância da Rio Pipeline e se mostrou animado com a possibilidade dessa edição ser a melhor dos últimos tempos. “O momento não poderia ser mais propício, já que estamos diante de mudanças significativas no mercado. Além das privatizações, este processo de abertura traz à tona a busca por maior competitividade no setor, o que inclui a necessidade de formação de equipes com profissionais qualificados para atender as novas demandas que

irão surgir. Tudo isso, alinhado a um momento de transição energética e transformação digital, faz do momento atual o melhor cenário para a Rio Pipeline 2019”, disse. O avanço das discussões sobre as ocorrências de furto de combustíveis e os acidentes decorrentes das derivações clandestinas

está no centro da preocupação das operadoras. As ações de combate a essa prática reforçam a necessidade de se desenvolver programas de inteligência e segurança para garantir a proteção à vida, ao meio ambiente, à segurança energética do país, além da integridade das instalações.


Desse modo, pensando em conter os frequentes furtos de combustíveis em oleodutos, Mauro Mendes, gerente-executivo de logística da Petrobras, apresentou o Programa Integrado de Proteção de Dutos, o Pró-Dutos, uma parceria da estatal com a Transpetro. “O Pró-Dutos, lançado no mês de junho, tem como objetivo prevenir furtos de combustíveis na malha de oleodutos operada pela Transpetro”, explicou. “Nosso objetivo é o de reduzir em 75% os furtos até dezembro de 2021, para assim, minimizar riscos, operar com segurança e evitar impactos das atividades clandestinas, já que, muitas vezes, os furtos causam vazamentos de produtos que contaminam o solo e podem resultar em explosão, colocando em risco a sociedade, o meio ambiente e o patrimônio das empresas”, completou Mendes. Além do Programa Integrado de Proteção de Dutos, Mauro Mendes comentou sobre os significativos passos que o Brasil vem dando em relação ao desenvolvimento do mercado de gás

natural e de refino e logística. Segundo o executivo, a Petrobras vai investir cerca de US$ 1,4 bilhão em refino e US$ 370 milhões em logística nos próximos anos. Pensando ainda no setor de logística, Antonio Rubens, presidente da Transpetro, informou que a empresa, braço logístico da Petrobras, vem se preparando para esse novo momento de transição. “Estamos nos preparando para dar um novo passo, focando em nos posicionarmos como prestadora de serviço logístico, sempre mantendo a excelência de nossas operações”, afirmou. Wong Loon, presidente da NTS, também abordou a relevância de priorizar e investir em segurança e destacou que essa área precisa estar ligada a um sistema de governança e compliance. “A NTS prevê investir 900 milhões de reais nos próximos cinco anos, enquanto busca se tornar mais eficiente e se prepara para a expansão futura da malha e atração de novos clientes”, pontuou. De acordo com Gustavo Labanca, diretor-presidente da Transpor-

tadora Associada de Gás (TAG), a companhia também pretende se preparar para atuar no novo mercado de gás e se tornar relevante no horizonte de cinco anos. “O desafio é trazer novos clientes à rede de transporte de gás no país”, complementou. Para Wagner Biasoli, presidente da Logum – que opera o maior duto de etanol do país – o cenário se mostra mais promissor para o etanol nos próximos anos, impulsionado pelo RenovaBio, política de estímulo à expansão dos biocombustíveis. “Desta forma, a empresa se organiza para retomar a expansão da sua malha”, conclui. Por fim, o diretor-presidente da TBG, Ivan de Sá, mostrou como a empresa vem trabalhando em um novo modelo de entradas e saídas. “Esse novo modelo é um trabalho conjunto com a ANP, um grande passo para trazer mais dinâmica para o mercado brasileiro de gás. É uma excelente oportunidade de reduzir o custo unitário, viabilizando uma maior demanda para o setor”, finalizou.

Indústria naval brasileira. Um setor em expansão.

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suplemento especial Ano 7 • nº 63 • agosto de 2019 • www.tnsustentavel.com.br

Eficiência Energética • Comercialização de Energia • Legislação Ambiental • Reciclagem

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indústria sucroenergética representa um grupo estratégico no processo de redução da emissão de carbono em virtude da produção de biocombustível e bioeletricidade, que posiciona o setor como o emissor com maior capacidade de geração de CBIO (Créditos de Descarbonização). O Ministério de Minas e Energia, por meio do RenovaBio (Política Nacional de Biocombustíveis), estabeleceu promover uma redução de 10% na intensidade de carbono da matriz de combustíveis do Brasil até 2028. A meta representa a redução de 600 milhões de toneladas de carbono da atmosfera até 2020, o que equivale a dois anos de emissões da matriz de combustível. Considerando que cada título de CBIO é emitido com base na retirada de uma tonelada de carbono, o volume representará a emissão de 6 bilhões de certificados com um valor inicial de US$ 10 (dólares) ou uma quantia estimada em torno de R$ 23 bilhões no período. Para isso, o governo federal, por meio das ações do RenovaBio, incentivará o crescimento da participação dos bicombustíveis dos atuais 20% para 28,6% na matriz de combustíveis. De acordo com pesquisas apresentadas na tese de doutorado de Luciano Cunha de Souza, defendida na UnB (Universidade de Brasília), em 2015, o Brasil está na liderança da tecnologia para a cultura da cana. O estudo demonstra que nas etapas de produção

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de biocombustíveis como a logística, fermentação, destilação, geração de vapor, geração de energia elétrica a partir do bagaço, entre outras, são de amplo domínio brasileiro e necessitariam de um esforço menor que o de outros países para evoluírem. O potencial de crescimento e a vantagem competitiva do setor também são reconhecidos pelo presidente-executivo da Abraceel (Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia), Reginaldo Medeiros, que aponta boas perspectivas. "As usinas deixam de produzir mais energia por razões econômicas. A perspectiva é boa para o reconhecimento da capacidade dos geradores de energia. A expansão da oferta e abertura do mercado viabilizará novos projetos no setor", afirma Medeiros.

RenovaBio Itinerante As particularidades do tema e os debates sobre aspectos da legislação e oportunidades do mercado serão tratados e esclarecidos no programa "RenovaBio Itinerante", que acontecerá na 27ª FENASUCRO & AGROCANA, que será realizada entre os dias 20 e 23 de agosto, em Sertãozinho (SP). O objetivo da ação é levar o programa ao conhecimento dos produtores e importadores de biocombustíveis e dirimir dúvidas, estimulando a adesão ao processo de certificação eficiente de biocombustíveis. O diretor do Departamento de Biocombustíveis do Ministério de Minas

Foto: Divulgação

RenovaBio reduzirá 600 milhões de toneladas de carbono da atmosfera até 2020

e Energia, Miguel Ivan Lacerda de Olivera, reforça a importância do setor no processo de retenção de carbono e a posição estratégica do Brasil no mercado. "O RenovaBio é um novo paradigma por conta da retenção de carbono. A eficiência do Brasil no setor sucroenergético e de energia de biomassa é o melhor do mundo. Estamos resolvendo um problema, a produção de etanol deve dobrar nos próximos 10 anos e isso é uma grande oportunidade para o Brasil", afirma Oliveira. Já o gerente de bioeletricidade da UNICA (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), Zilmar José de Souza, aponta que por meio da regulamentação, a indústria sucroenergética irá ganhar força e impulsionar todo mercado de bioenergia e biocombustível. "A regulamentação do setor é fundamental e existem muitas oportunidades pela frente com o RenovaBio e o CBIO. A partir do crescimento da cana, as outras formas de cogeração serão impulsionadas e crescerão naturalmente. O setor sucroenergético possui muita força e muita competitividade", diz Souza.


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tecnologia da informação

Números do futuro do petróleo Acesso remoto, interatividade, robotização. A lista de expressões que passaram a integrar o dia a dia da indústria parece não ter fim. Pensar em como será o futuro é um exercício desafiador, pois a cada momento surge uma novidade.

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Thiago Valejo Rodrigues é Coordenador de Conteúdo Estratégico Petróleo, Gás e Naval da Firjan

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o olhar para um mercado específico, como o de petróleo e gás natural, percebe-se uma demanda crescente por capacidade de processamento de dados na, já eterna máxima, ‘transformação digital’. Quando se aprofunda o debate com especialistas de ciência de dados, incluem-se linguagens tipo SQL, Python e análises de lógica Fuzzy, otimização por algoritmos genéticos e outra infinidade de tecnologias e ferramentas que, mais uma vez, já fazem parte da realidade da execução e monitoramento de atividades das grandes empresas que estão neste mercado. Mas, afinal, onde começa e até onde vai essa tal transformação? A resposta pode cair em discussão similar entre os defensores da Apple e os fãs da Samsung. Isso, porque ainda há muito que consolidar, amadurecer e aprender no digital. E a cada nova geração de celular, um concorrente ultrapassa o outro. Em segmentos como o de sísmica ou no processamento da produção de óleo, o volume de dados gerados para serem interpretados e transformados em informação é um dos principais motivadores para digitalização. Ambientes notoriamente mais complexos, como o do pré-sal, exigem um trabalho ainda mais integrado entre os diversos elos da cadeia produtiva. De nada adianta ter um celular de última geração se é preciso enviar um arquivo para outro que não suporta o mesmo, seja em tamanho, tipo ou método de transferência. Cooperação é fator fundamental para avanços tecnológicos. Da mesma forma que Apple e Samsung já foram parceiras na fabricação de chips processadores, é preciso buscar colaboração e identificar as competências para a melhor solução de negócio. Nesse contexto, há que se reconhecer o papel do capital humano, que vem antes mesmo de marcas, empresas ou processos. Quem faz o melhor ambiente de inovação são as pessoas. Elas iniciam o processo de transformação. As máquinas certamente só farão o trabalho pesado se tiverem profissionais capacitados para projetar, programar, construir. Por outro lado, pouco ainda se fala sobre traduzir em números o resultado financeiro e econômico em números com a aplicação das novas tecnologias do digital.


que o conteúdo a ser transmitido seja ampliado em até 34%. Ou seja, possibilita reduzir de oito para seis horas a carga horária do curso em questão. A capacitação também é importante para a qualidade de vida dos profissionais. Em plataformas de petróleo existe limitação de espaço físico e ambientes confinados. Um indicador relevante é a redução de afastamentos por acidentes de trabalho. Essa redução pode chegar a 90% por problemas ergonômicos quando se simula o ambiente em que o trabalhador exercerá a função durante seu treinamento. Há ainda os conceitos de conectividade e acesso a informações armazenadas em nuvem que precisam, tais como o petróleo, serem explorados e desenvolvidos. Temos a certeza, que por mais modelos de previsão e códigos de programação que sejamos ca-

Foto: Cortesia Shell

O emprego de tecnologias como realidade virtual ou aumentada nas salas de aula, para treinamento, é prática já consolidada para qualificação de profissionais para a indústria do petróleo. Além destas, o aumento de gamificação na didática de ensino é uma prática relevante já usada pela Firjan SENAI, em especial, desenvolvidas por seu Instituto SENAI de Tecnologia (IST) em Automação e Simulação, no Rio de Janeiro. Voltando à capacidade de processamento, os primeiros computadores, assim como os primeiros celulares, não tinham desempenho suficiente para rodar programas, dos quais hoje não imaginamos viver sem. A mesma comparação pode se fazer em ganho de produtividade para quando se usa realidade virtual ou aumentada no treinamento. O uso dessas tecnologias permite

pazes de criar, não conseguimos ainda determinar quando substituiremos os celulares por chips implantados em nossos corpos. Assim, não é possível ainda prever o exato momento que a transformação digital atingirá o seu ápice e partiremos para novas fronteiras, mas sabemos que, para chegar lá, navegaremos ainda por muitos dados.

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segurança

Dados, tecnologias e inovação Um diagnóstico das questões culturais que envolvem as equipes de exploração.

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ste artigo discute a questão da cultura informacional nos departamentos de exploração de companhias de petróleo. Através de survey que envolveu três empresas do setor, foram identificados comportamentos e hábitos em relação ao gerenciamento de dados e informações. Através dos resultados obtidos, foi possível responder se existe um ambiente favorável a inovação e adoção de novos processos e tecnologias nas equipes de exploração principalmente nos workflows que dependem de integração, processamento e interpretação de dados. A fim de indicar alternativas para alguns dos problemas identificados, são também discutidos os conceitos de capacidade dinâmica e capacidade absortiva e suas relações com adaptação e gestão de competências.

Transformação digital

Dean Pereira de Melo é geólogo formado pela UERJ, com mestrado em Geofísica e Geologia Marinha e MBA em Gestão Empresarial e Sistemas de Informações ambos pela Universidade Federal Fluminense. Atualmente trabalha na área de Gestão de Dados Geológicos.

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Atualmente quando se fala dos desafios da exploração e produção (E&P) de petróleo e gás natural, um dos assuntos mais tratados é transformação digital. Conferências, artigos e livros começam a construir um discurso e um arcabouço teórico mais robusto acerca do tema. A representação concebida por Carvajal et al., 2018 (figura 1) demonstra os principais componentes de um campo inteligente (DOF – Digital Oil Fields). A literatura mais recente, que aborda especificamente a transformação digital no setor de petróleo (Cooper & Crompton, 2019; Cann & Goydan, 2019), trata a questão cultural como chave para uma possível virada disruptiva que afetaria todos os segmentos desta indústria. Contudo, não há estudos e dados empíricos sobre as questões culturais envolvidas na indústria de O&G, sobretudo na atividade de exploração. Observando o interesse cada vez maior Figura 1 – Principais componentes de um campo de petróleo digital em assuntos relacio- (Carvajal et al., 2018).


nados a colaboração, engajamento, gestão de mudanças, realizei, durante meu mestrado na Universidade de Aberdeen (Reino Unido), uma investigação sobre as culturas informacionais dominantes nos departamentos de exploração de companhias de petróleo. Ou seja: compreender os comportamentos e atitudes dos colaboradores que influenciam a forma como os técnicos lidam com dados e informações.

Método Para atingir os objetivos propostos, três companhias de Petróleo que operam internacionalmente foram envolvidas. Além destas, uma quarta organização do setor público, focada em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), e não vinculada a cadeia de O&G ,fez parte do estudo. O principal instrumento de investigação adotado foi um questionário online (survey) desenvolvido especificamente para esta pesquisa. As questões (45) abordavam a forma como os colaboradores da área de exploração lidam com os dados: isto é, seus hábitos de compartilhamento, processamento e gestão dos dados visando inovação, uso dos dados para controle de processos e compliance e uso dos dados com foco em resultados (conhecimento e performance dos ativos). O questionário foi respondido por um total de 177 colaboradores das quatro organizações. Os dados foram processados e representados em um spider diagram elaborado por Choo (2013), que reconhece quatro culturas informacionais (tipologias): orientada a resultados, orientada a risco e inovação, orientada a regras e orientada a relacionamento e comunicação. Das 45 questões propostas, 20 foram usadas para calcular o posicionamento de cada uma das tipologias. De acordo com a escala

Figura 2 – Perfil informacional dos departamentos de exploração.

likert de frequência, cada resposta foi codificada com um valor (ex. nunca = 0; sempre=5). Para representar cada tipologia com apenas um número foi utilizada a mediana.

Cultura voltada para resultados Os departamentos de exploração das três companhias envolvidas mostraram perfis de cultura informacional muito similares (figura 2). Todos as equipes de exploracionistas tem como cultura dominante aquela orientada a resultados. Por outro lado, todas as equipes estudadas apresentam cultura orientada a riscos como a menos dominante. O que isso significa em termos práticos? A interpretação desses resultados à luz do framework elaborado por Choo, 2013, revela que dados e informações são gerenciados para maximizar a chances de sucesso e manter a vantagem competitiva. Além disso, o controle e confiabilidade das informações devem permitir e priorizar a medição da performance do negócio. Com base no questionário desenvolvido, podemos afirmar que em geral os técnicos (majoritariamente geocientistas e engenheiros) têm a percepção de que sua performance é avaliada de acordo com os dados que geram e que existe uma relação clara com o al-

cance das metas do negócio. Além disso, existe uma crença de que as informações são gerenciadas para subsidiar decisões. Esses fatores levam estas equipes a terem uma cultura fortemente orientada a resultados. A cultura orientada a risco pressupõe, ainda de acordo com Choo (2013), que os dados são geridos para favorecer inovação e criatividade. O foco é externo porque há preocupação em acompanhar as tendências no ambiente de negócios, que permitam a companhia realizar movimentos a fim de manter se manter competitiva em relação aos dados (aquisição, processamento e análise). O número de respostas positivas (sempre e/ou frequentemente) para os itens relativos à cultura de risco e inovação foram menores em relação as demais tipologias (resultados, regras e relacionamento). Entre todas as questões, as duas que tiveram maior número de respostas ‘nunca’ e ‘raramente’ foram relacionadas ao amplo compartilhamento de dados ainda que isso envolva riscos (atraso do projeto ou resultado abaixo do esperado) e testar novas formas de analisar dados e gerar novos produtos (ex. modelos). Ambas questões relacionadas a cultura relacionada a risco. TN Petróleo 126 33


segurança

Figura 3 – Comparação dos perfis informacionais entre departamentos de exploração, pesquisa para exploração e departamento de pesquisa governamental.

Avaliação de possível bias Uma vez que foi observado que os três departamentos de exploração têm a mesma cultura informacional predominante (focada em resultados) e a cultura menos prevalente (focada em riscos) levantou-se a hipótese de que o instrumento de pesquisa estaria enviesado (bias). Para investigar esse aspecto, uma organização neutra de pesquisa, ligada ao setor público de P&D, foi analisada por meio do mesmo questionário. A fim de fazer a comparação entre os perfis de cultura informacional, além de representar o perfil da companhia neutra, os dados de uma das companhias de petróleo (chamada Companhia A) foi dividido entre equipes que atuam na área de pesquisa apoiando a exploração e equipes que efetivamente atuam nos projetos exploratórios (figura 3) A companhia neutra, que é formado por um grupo de cientistas focados em pesquisa e desenvolvimento, tem a cultura informacional de risco e inovação mais expressiva. Por outro lado, esta equipe de P&D é a que tem cultura orientada a regras e compliance menos dominante; o grupo de pesquisa ligado a exploração fica numa posição intermediária e os times de exploração são os mais orientados a compliance. 34

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No que tange a cultura de resultados, observamos que o grupo de pesquisa ligado a exploração está no mesmo nível do grupo de P&D da companhia neutra. As equipes de exploração são as mais influenciadas por resultados. Finalmente, as três equipes são igualmente dominadas pela cultura de relacionamento. Os perfis informacionais em si mostram uma certa lógica, de acordo com a natureza dos grupos pesquisados. Em relação a questão da cultura voltada a compliance, por exemplo, as equipes de exploração são de fato as mais cobradas e influenciadas por questões de conformidade legal. Nenhuma das equipes, por outro lado, se destaca em relação a relacionamento e comunicação. De fato, ter uma gestão de dados que reforce participação, senso de identidade e relação interpessoal não parece ser uma questão prioritária para o negócio aqui investigado.

Discussão Os resultados deste projeto apoiam o argumento de que existe uma barreira cultural para que os departamentos de exploração adotem inovações e assumam riscos inerentes aos processos de adoção de novas tecnologias e processos.

Uma hipótese levantada neste estudo é que equipes com cultura informacional extremamente focada em resultados, tenderiam a ter dificuldades em impulsionar uma cultura de criatividade e inovação. Observa-se, pelos dados previamente discutidos, que existe uma baixa tolerância ao processo de tentativa-erro que se aplicaria por exemplo nos testes de geração de novos modelos e simulações. Além disso, também poderia haver uma dificuldade na absorção de novos processos. De fato, uma gestão de informações que favoreça testes e novos desenvolvimentos, também requer um tempo maior de coleta, integração e processamento de dados. Essas hipóteses aqui levantadas, no entanto, precisam ser verificadas por outros estudos empíricos. Uma das questões a serem exploradas é como incentivar esses grupos a adotarem novos processos, isto é, aplicar novas práticas após a etapa de projeto. Um conceito que pode ser útil nesta discussão é capacidade absortiva. Capacidade absortiva é uma capacidade dinâmica que é, por sua vez, um conjunto de processos organizacionais que permitem que as empresas modifiquem, integrem, construam e reconfigurem constantemente as competências internas e externas, a fim de lidar com os ambientes que mudam rapidamente (Pavlou & El Sawy, 2011). Capacidade absortiva está ligada a aquisição e uso de novos conhecimentos para mudar e reconfigurar rotinas e recursos organizacionais (Vera et al., 2011). Nessa visão, estamos estabelecendo uma relação entre competência, adaptação às demandas e cultura informacional. A literatura tem discutido ações que possam efetivamente melhorar a capacidade absortiva de organizações e departamentos (Moubariki, 2018). A primeira constatação é


que há necessidade de um sistema de recompensa diretamente ligado ao compartilhamento de dados, informações e conhecimento que afetam o processo de assimilação. A segunda sugestão, mais genérica, está relacionada ao desenvolvimento de novas formas de organizar o trabalho que favoreçam a integração entre áreas (cross-departamental); finalmente é sugerido que métodos ágeis podem melhorar e facilitar o compartilhamento do conhecimento. Ações menos convencionais também estão no radar das operadoras e de pesquisadores. As técnicas de gameficação (uso de elementos de jogos tais como recompensa, pontuação, personalização, competição) são consideradas potenciais para acelerar adoção de práticas e melhorar o engajamento (Cann & Goyndan, 2019). Treinamentos virtuais com participantes espalhados ao redor do

mundo e disseminação de informações através de mídias inspiradas no YouTube já são discutidos como alternativas para divulgação interna de informações técnicas.

Conclusões 1- As equipes de exploração têm hábitos e comportamentos de gerenciamento dos dados que focam principalmente em resultados (avaliação e performance de ativos). 2- A cultura informacional menos predominante é a cultura de risco e inovação. 3- Ações específicas precisam ser colocadas em prática no sentido de promover inovação e adoção de novas tecnologias na exploração. Nesse sentido, o conceito de capacidade absortiva pode ser útil. 4- Estudos apontam para alternativas como sistema de recompensa diretamente ligado ao compartilhamento de dados, informações e conhecimento, como incentivo.

Mídias internas inspiradas no YouTube, gameficação e treinamentos virtuais também surgem como formas de acelerar a adoção de novos métodos de trabalho e divulgação de informações técnicas. Referências Cann, G. and Goydan, R. (2019) Bits, bytes, and barrels: the digital transformation of oil and gas. Calgary, Canada: MADCann Press. Cooper, S. and Crompton, J. (2019) A digital journey: the transformation of the oil and gas industry. Independently published. Moubariki, M. (2018). The impact of organizational culture on absortive capacity. Thesis. Open University of the Netherlands, faculty of Management, Science & Technology, Master Business Process Management & IT. Pavlou, P. A., & El Sawy, O. A. (2011). Understanding the Elusive Black Box of Dynamic Capabilities. Decision Sciences, 42(1), 239-273. Vera, D., Crossan, M., & Apaydin, M. (2011). A Framework for Integrating Organizational Learning, Knowledge, Capabilities, and Absorptive Capacity. 153-180

INFORMAÇÃO DE QUALIDADE. A tecnologia da informação se aperfeiçoa em ritmo acelerado. Não basta ser rápido na transmissão dos fatos; é preciso ser eficaz, saber onde prospectar a informação e ser ágil ao transformá-la em notícia.

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coffee break

AI WEIWEI CHEGA AO RIO

A maior exposição do artista plástico chinês Ai Weiwei já realizada, premiada pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) como MOSTRA AI WELWEI CCBB Rio de Janeiro Rua Primeiro de Março, 66 - Centro, Rio de Janeiro – RJ, 20010-000 Data: 21 de agosto a 4 de novembro Horário: de segunda a quarta das 9h às 21h 36 TN TNPetróleo Petróleo126 126

a Melhor Exposição Internacional de 2018. Convidado pelo curador Marcello Dantas, o artista desvenda a cultura brasileira e cria obras que representam a biodiversidade, a paisagem humana e a criatividade local.


Ai Weiwei Raiz apresenta também alguns dos trabalhos mais icônicos do artista, hoje considerado um dos principais nomes da cena contemporânea internacional. Os trabalhos de Ai Weiwei, são célebres por expressar a tensão entre o mundo contemporâneo e os modos tradicionais chineses de pensamento e produção. É o caso de sua obra-prima Dropping a Han Dynasty Urn (Deixando cair uma urna da Dinastia Han – foto acima), que apresenta o jovem artista derrubando intencionalmente uma urna cerimonial (de cerca de 2 000 anos) da Dinastia Han, período importante da história da civilização chinesa. A exposição também conta com obras inéditas, nascidas da imersão profunda que o artista realizou pelo Brasil. Entre os destaques de suas criações em solo brasileiro encontra-se uma série de obras feitas com centenárias raízes de pequi-vinagreiro (espécie de árvore típica da Mata Atlântica baiana e atualmente em risco de extinção) encontradas desenterradas na região de Trancoso, na Bahia. O conjunto, que foi produzido pelo artista e contou com o trabalho de carpinteiros chineses e brasileiros, dá nome ao projeto. Com esta mostra, o Centro Cultural Banco do Brasil reforça seu compromisso com

Fotos: Divulgação

a promoção do acesso à cultura, oferecendo ao seu público uma programação de referência no cenário cultural.

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feiras & congressos

2019 Agosto

Setembro

26 a 30 - Brasil Oil & Gas TechWeek 2019 Local: Rio de Janeiro Tel.: (21) 2112-9000 ogtechweek.com.br

03 a 05 - Brasil Rio Pipeline 2019 Local: Rio de Janeiro Tel.: (21) 2112-9000 riopipeline.com.br

03 a 06 - Reino Unido SPE Offshore Europe 2019 Local: Aberdeen Tel.: +44 (0)20 82712142 e-mail: enquiries@oilfieldtechnology.com www.offshore-europe.co.uk

12 a 16 - Kwait Kwait Oil & Gas Local: Kwait Tel.: +973 17 550033 e-mail: ali.haji@ubm.com kogs-expo.com

29 a 31 - Brasil OTC Brasil 2019 Local: Rio de Janeiro Tel.: +1.972.952.9494 e-mail: meetingsotc@spe.org otcbrasil.org

Outubro

01 a 02 - Reino Unido Future Downstream Local: Londres Tel.: +973 17 550033 futureoilgas.com/downstream

feiras e congressos

INFORMAÇÃO DE QUALIDADE.

2018

Para você curtir! 24 a 27 – Brasil Rio Oil & Gas 2018 Local: Rio de Janeiro e-mail: eventos@ibp.org.br http://www.riooilgas.com.br/

25 a 26 - EUA International Refining & Petrochemical Conference (IRPC) Local: Houston, TX Hortensia.Barroso@GulfEnergyInfo.com goo.gl/PrC7kM

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opinião

Telmo Ghiorzi, pós-doutorando pela FGV, doutor em Políticas Públicas pela UFRJ e mestre em engenharia de petróleo pela Unicamp.

É preciso (des)inverter a relação entre inovação e ciência

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Os grandes avanços que deram novos horizontes ao setor são o fim da exclusividade da Petrobras no pré-sal, a regularidade e previsibilidade nos leilões de blocos, a extensão e ampliação do Repetro e as mudanças nas regras de Conteúdo Local (CL) e de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PDI). As mudanças nas regras de CL e o PDI, embora representem uma formidável evolução, ainda podem ser aperfeiçoadas, sobretudo quando se coloca em perspectiva os mais recentes avanços conceituais das abordagens Cadeias Globais de Valor (CGV) e Sistemas de Inovação (SI). Elas se destacam entre as abordagens utilizadas para compreender e explicar o processo de desenvolvimento econômico de países emergentes. Edição especial de The European Journal of Development Research (EJDR), de julho de 2018, traz uma coletânea de artigos com evidências de que o crescimento econômico, diferentemente do que até então se acreditava, não é uma consequência inexorável da inclusão das empresas nas CGV. Embora os mecanismos causais ainda estejam sendo investigados, restam poucas dúvidas de que empresas de países emergentes, quando expostas à competição internacional, tendem a ocupar posições de menor relevância econômica, se não estiverem inseridas em SI robustos e funcionais. Os princípios econômicos que fundamentam CGV e SI são distintos e por vezes antagônicos. Enquanto CGV se sustentam na abordagem econômica neoclássica, em que a inovação é um fenômeno exógeno à economia e à

Foto: Divulgação

esde 2016, a indústria brasileira de óleo e gás passa por um positivo e vigoroso “freio de arrumação”, com mudanças no arcabouço regulatório e legislativo que deram ao segmento um certo grau de blindagem e de estabilidade, quando comparado com demais setores econômicos do país. Contudo, aperfeiçoamentos são sempre possíveis e necessários. No caso do petróleo, há aperfeiçoamentos que podem transformar os fornecedores locais em protagonistas na indústria petrolífera global.

sua dinâmica, SI se baseiam na economia da inovação, que afirma ser a inovação, ou seja, a destruição-criadora, a própria essência da atividade econômica e a força-motriz de seu crescimento. Essa convergência de conceitos antagônicos teve início há cerca de 10 anos e a edição especial do EJDR consolida o conhecimento acumulado nesta área da economia industrial. As mudanças nas regras de CL simplificaram sua aplicação e expuseram as empresas brasileiras a mais competição internacional. Isso implica redução de custos de produção e, portanto, aumenta a competitividade e o grau de viabilidade econômica do óleo produzido no país. Contudo, os princípios da política de substituição de importações permanecem centrais nas regras de CL. Isso induz as empresas brasileiras a permanecerem presas à realização de atividades de menor valor agregado nas CGV. Isto é, presas à manufatura local, em vez de expandirem para atividades que geram mais valor econômico como P&D aplicado, engenharia conceitual e básica, TN Petróleo 126

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feiras opinião & congressos

serviços especializados, entre outras. O PEDEFOR, concebido para estimular a engenharia nacional, inovações e exportações a partir do Brasil, pode induzir mudanças de caráter filosófico nas regras de CL. Mudanças essas que dariam às empresas brasileiras controle sobre a governança das CGV. Ou seja, permitiriam às empresas brasileiras, uma vez que detenham o conhecimento, escolherem que empresas e em que locais as atividades das CGV seriam realizadas. A palavra-chave é o conhecimento. Ou, mais precisamente, o acúmulo de capacidades tecnológicas que dão às empresas os recursos, rotinas e ferramentas para desenvolver inovações e assim gerar mais lucro e valor econômico. Muitas dessas capacidades tecnológicas estão hoje presentes nas matrizes das subsidiárias das empresas que operam no Brasil. São essas capacidades que precisam ser desenvolvidas e internalizadas no Brasil. Não se trata de mera transferência de tecnologia, mas sim de criar no sistema de fornecedores do setor petrolífero Brasil a cultura de desenvolver e acumular competências tecnológicas e, portanto, de ter a inovação como essência da atividade industrial. Mudanças conceituais nas regras de PDI, além de mudanças no CL, podem ser também indutoras dessa transformação. Em consulta pública concluída recentemente, a ANP propôs aperfeiçoamentos que simplificam a aplicação dos recursos mobilizados pelas regras de PDI. Ao contrário da natureza punitiva das regras de CL, as regras de PDI são de natureza indutora de atividades econômicas de maior valor agregado. Elas estão hoje subutilizadas e o aperfeiçoamento recente aponta claramente na direção de aumentar o estímulo à economia do setor brasileiro de petróleo. Contudo, as regras de PDI guardam em seu núcleo a inversão apontada pelo economista Nathan Rosenberg (1927-2015), em seu livro “Por dentro da caixa-preta”, publicado em 1982. Para ele, “(...) estamos mal servidos pela visão estereotipada da prioridade temporal da pesquisa básica, dessa pesquisa conduzindo a ou culminando em um avanço tecnológico”. Rosenberg foi um dos primeiros economistas, talvez o mais brilhante e contundente, a apontar que –ao contrário do raciocínio ainda dominante no Brasil– as inovações tecnológicas é que precedem a ciência e a pesquisa básica. Entre inúmeros exemplos, um dos mais emblemáticos é o da máquina a vapor. Novamente citando Rosenberg: “O grande feito de Sadi Carnot, ao criar a ciência da termodinâmica, foi resultado da tentativa, quase meio século depois da grande inovação de (James) Watt, de entender o que determina a eficiência das máquinas a vapor”. Essa inversão é usual em países emergentes e é adotada como base de suas políticas de inovação. Isso 40

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contribui decisivamente para bloquear o crescimento econômico deles. Contudo, as evidências são implacáveis ao mostrar que o crescimento econômico decorre do acúmulo de capacidades tecnológicas das empresas e da adoção de políticas de inovação que reflitam desinverter a visão estereotipada apontada por Rosenberg. É precisamente essa desinversão que pavimentou o crescimento econômico recente de países como Coreia do Sul e China, por exemplo. Trabalho realizado por Carlos Leal e Paulo Figueiredo, da FGV (https://bit.ly/31tqRcO), publicado em 2018, traz dados e conclusões que contrariam o senso comum sobre as atividades de P&D e inovação tecnológica no Brasil. Os autores apresentam evidências que indicam os efeitos deletérios decorrentes da inversão apontada por Rosenberg. Com efeito, o investimento anual em P&D no Brasil, da ordem de 1,3% do PIB, é similar ao de países como Espanha, Itália e Canadá. Todavia, o efeito dos investimentos em P&D sobre o crescimento econômico do Brasil é pífio quando comparado a outros países. A razão disso reside, entre outros fatores, no excesso de participação do Estado nos investimentos em P&D (mais de 50% contra menos de 30% em média em países desenvolvidos), e no excesso de foco em pesquisa básica e pesquisa não-orientada (70% no Brasil contra 22% na Coreia do Sul, por exemplo) em vez de foco em inovações tecnológicas. Em outras palavras, o crescimento econômico do Brasil está bloqueado em razão da aplicação de políticas de inovação baseadas numa inversão conceitual desnudada há quase 40 anos. A reversão desse quadro está longe de ser fácil ou simples, pois ele se baseia em distorções enraizadas há décadas e que permeiam políticas públicas e organizações voltadas, pelo menos teoricamente, a estimular o desenvolvimento de inovações tecnológicas. Contudo, não há alternativa. Somente iniciativas concretas e, de certo modo, revolucionárias no que se refere a políticas de inovação tecnológica, podem colocar o Brasil e, em particular, o setor de petróleo, em rotas de crescimento econômico ainda mais acelerado. As mudanças aplicadas sobre nossa indústria petrolífera nos últimos anos são inatacáveis pela perspectiva de promover um certo grau de isolamento e estabilidade do setor perante as flutuações gerais e inerentes à economia do país. Contudo, por meio de mudanças conceituais mais profundas nas regras de CL e de PDI, e que reflitam a necessidade de desinverter conceitos, a retomada da atividade que se inicia pode ser alavanca de transformação dos fornecedores brasileiros em líderes globais incontestáveis na exploração e produção de óleo e gás natural no ambiente offshore.


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