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opinião

Breve análise da Resolução ANP n. 32/2014, de Marilda Rosado de Sá Ribeiro, sócia fundadora de Marilda Rosado Advogados Associados (MRA).

Indústria naval fluminense: R$ 10 bilhões em investimentos Nas águas do Promef Produção offshore mobiliza estaleiros

Ano XVI • julho/agosto 2014 • Nº 96 • www.tnpetroleo.com.br

ESPECIAL: INDÚSTRIA NAVAL

NAVIOS ZARPAM NA PRODUÇÃO INDUSTRIAL BRASILEIRA Produção de combustível a partir da pirólise de pneus, por Ronaldo Gonçalves do Santos Grandes projetos de gerenciamento em petróleo e gás, por José Sá

Entrevista exclusiva

Manuel Fernandes sócio líder de Óleo e Gás da KPMG no Brasil

O Brasil continua atraente para os investidores


2014 15 a 18 de Setembro Rio de Janeiro - Brasil

“Novo cenário geopolítico: superando os desafios”

Uma das mais importantes feiras de óleo e gás do calendário mundial de eventos Uma oportunidade de visitar mais de 1.300 empresas expositoras A chance de encontrar executivos, autoridades e técnicos do setor de mais de 35 países 07/14

mais informações:

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O grupo Kongsberg está celebrando neste ano de 2014 seu aniversário de 200 anos. Dois séculos de conquistas, inovações e transformações. Uma jornada que começou na Noruega, com o pioneirismo na área de tecnologia global. Estamos orgulhosos e com certeza prontos para mais 200 anos. Junto com os nossos funcionários e clientes, sempre prontos para o próximo desafio.

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KM.KONGSBERG.COM


sumário

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edição nº 96 jul/ago 2014

Entrevista exclusiva

Manuel Fernandes, sócio líder de Óleo e Gás da KPMG no Brasil

entrevista exclusiva

O Brasil continua atraente para os

com Manuel Fernandes, sócio líder de Óleo e Gás da KPMG no Brasil

INVESTIDORES por Beatriz Cardoso

A possibilidade de dobrar os volumes de reservas, o comprometimento com operadoras do mundo inteiro que atuam no país, estabilidade política e o respeito aos contratos firmados no setor de óleo e gás são alguns dos fatores que mantêm o Brasil no foco das atenções dos investidores internacionais. “O nível de compromisso do país é alto, mas a capacidade de investimento é limitada”, alerta o sócio líder de Óleo e Gás da KPMG no Brasil, Manuel Fernandes.

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O FATOR QUE MAIS IMPACTOU NEGATIVAMENTE A INDÚSTRIA DE ÓLEO E GÁS FOI A FALTA DE PREVISIBILIDADE DE REALIZAÇÃO DAS RODADAS DE LICITAÇÃO, O QUE DIFICULTA O PLANEJAMENTO FINANCEIRO DAS EMPRESAS.

“MAS NÃO VEJO o financiamento como um gargalo”, complementa o executivo em entrevista exclusiva à TN Petróleo. Ao fazer uma análise do setor brasileiro de óleo e gás frente às mudanças no cenário energético das Américas, principalmente em relação à reforma do marco regulatório de óleo e gás mexicano, ele afirma: “A indústria brasileira não perde para a do México.” TN Petróleo – Na avaliação de vocês, a indústria brasileira de óleo e gás continua sendo um grande atrativo para os investidores de óleo e gás? Manuel Fernandes – Sim. Sabemos que os Estados Unidos e o México têm ofertas que podem competir com o Brasil. Mas nosso país tem um sistema de exploração e produção conhecido e provado, regime político democrático, estabilidade e os contratos assumidos são respeitados. Além disso, o país tem um nível de compromisso já assumido com as grandes operadoras que operam aqui e com as novas que chegaram agora. O nível de compromisso do Brasil é alto, mas a capacidade de investimento é limitada.

Quais os principais impasses ou pontos negativos? O principal ponto negativo é que não temos previsibilidade na periodicidade dos leilões e no cronograma de licitação de novos campos. Outro ponto de atenção é que o custo da mão de obra não é competitivo quando comparado aos países asiáticos. Por último, a questão tributária, que é mais complexa aqui do que em outros países.

O que mudou no setor de óleo e gás no Brasil nesse período e que se constitui em fator positivo? O principal ponto positivo foi o fato de em 2013 diversas empresas novas terem assumido a posição de operadoras.

Como vocês veem a evolução dessa indústria nos últimos cinco anos, depois da crise de 2008? A evolução da indústria tem sido positiva nos últimos anos, quando o Brasil conseguiu provar as reservas, sobretudo de 2008 a 2010 com o pré-sal, e foi incentivado e consolidado o desenvolvimento do conteúdo local. Em contrapartida, o país ficou cinco anos sem realizar novas licitações de campos, o que só voltou a acontecer no ano passado, possibilitando mais clareza para o futuro.

Qual o fator negativo que ocorreu nesse período? O fator que mais impactou negativamente foi a falta de previsibilidade de realização das rodadas de licitação, o que dificulta o planejamento financeiro das empresas.

Como têm sido as fusões e aquisições no setor de óleo e gás nesse período no Brasil? E na América Latina? A KPMG trimestralmente realiza uma pesquisa que traz informações sobre fusões e aquisições de diversos setores, incluindo, óleo e gás. Segundo o levantamento, a indústria foi uma das que mais realizou transações no ano passado, impactada, principalmente, pela realização de três leilões em 2013. Foram 38 operações somente em 2013 e 19 em 2012. Já no primeiro trimestre

de 2014 foi registrado um aumento de 125% se comparado ao mesmo período do ano passado. Durante os três primeiros meses deste ano foram concretizadas nove operações contra quatro em 2013. Não temos número sobre a América Latina. De que modo a reforma no setor de energia do México impacta a indústria brasileira de óleo e gás? O Brasil vai perder muito de seu atrativo por causa do México? A indústria brasileira não perde para a do México. Esse

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O Brasil continua atraente para os investidores

Quais os principais pontos positivos dessa indústria, para os investidores? Podemos citar a estabilidade política, respeito aos contratos, modelo provado. Além disso, aqui não há restrição do controle de capital como acontece na Argentina e Venezuela.

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especial: indústria naval

Especial Indústria naval

NAVIOS ZARPAM

Navios zarpam na produção industrial brasileira

NA PRODUÇÃO INDUSTRIAL BRASILEIRA por Beatriz Cardoso

A bandeira brasileira tem cada vez mais presença na frota naval e offshore do país e na navegação de longo curso, principalmente no setor de óleo e gás. Mais ainda: foi ‘hasteada’ na produção industrial do país, que em pouco mais de uma década registrou um aumento expressivo na participação do setor naval: saltou de exíguos 0,02% em 2000, para 0,25% em 2011, segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ou seja, a indústria naval cresceu mais de 12 vezes em pouco mais de uma década. E tem a expectativa de singrar novas rotas nos próximos anos, ainda que para chegar ao porto seguro do desenvolvimento sustentável ainda tenha de superar algumas ‘borrascas’. 24

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especial: indústria naval

Navios zarpam na produção industrial brasileira

será um grande polo naval

“OS FORNECEDORES de equipamentos para a indústria de O&G reconhecem as vantagens competitivas que o Porto do Açu oferece como plataforma para os seus negócios”, afirma a diretora de Operações da Prumo, Cristiane Marsillac, em uma rápida entrevista à TN Petróleo. TN Petróleo – O Porto do Açu é um complexo logístico e industrial, que também abriga players do setor naval, como a Wartsila e, agora, a Edison Chouest, com seu estaleiro de reparos. Vocês acreditam que podem atrair para a região outros players do setor naval? Cristiane Marsillac – Com certeza. O Porto do Açu possui as melhores condições para instalação de bases offshore no país por sua localização estratégica, próximo à Bacia de Campos, área de cais disponível dentro do Canal do Terminal 2 e calado de até 14,5 m. Também temos área disponível no entorno, o que facilita a instalação imediata de uma cadeia de fornecedores. Que tipos de empresa terão vantagem ao se instalar no complexo? No Porto poderão ser instaladas bases para movimentação e tratamento do petróleo, base de apoio para as operações offshore 38

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Foto: Divulgação

Com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES) e uma direção que não quer perder tempo, a Prumo acelera a implantação do complexo do Porto do Açu, que até o final da década deverá se consagrar como um complexo naval sem precedentes no país.

de E&P e polo metalmecânico dedicado à indústria de óleo e gás, entre outras coisas. Há espaço para estaleiros de grande porte? Ou apenas para fornecedores de equipamentos? Algum investidor manifestou interesse em fazer um empreendimento naval no local? Estamos mantendo conversas com diversos potenciais clientes desta indústria, mas, neste momento, não podemos comentá-las. Além disso, há espaço para um estaleiro de reparo para embarca-

ções de grande porte, projeto que está em desenvolvimento. Quais empresas da cadeia naval estão instaladas ou em instalação no local? Atualmente, as empresas do setor naval que estão se instalando no porto são: National Oilwell Varco (NOV), fornecedora de componentes mecânicos para sondas de perfuração terrestres e marítimas; a Technip Brasil, que está construindo uma unidade de produção de tubos flexíveis, com área para armazenagem e teste de material; a Wärtsilä, que vai produzir e montar grupos geradores e propulsores azimutal (será a primeira unidade industrial brasileira, após décadas de atuação no Brasil); a InterMoor, do Grupo Acteon, que fornecerá apoio logístico e serviços especializados à indústria de óleo e gás; a Edison Chouest Offshore (ECO), que implantará uma base de apoio logístico offshore e estaleiro de reparos navais, com capacidade para receber até 18 embarcações da empresa ou de parceiros. Temos ainda a GE, que está criando uma unidade no polo metalmecânico, e a Vallourec, fornecedora de soluções tubulares Premium, que vai instalar lá uma base logística,

Maior contrato de crédito do BNDES é com a Prumo Empresa responsável pelo complexo do Super Porto do Açu obteve R$ 1,8 bilhão. NO TOPO DO RANKING dos maiores empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), divulgado no balanço da instituição, está a Prumo Logística, que conduz obras de implantação do porto de Açu, no município de São João da Barra (RJ), norte fluminense. Criado pela LLX de Eike Batista, o complexo passou a ser controlado pelo grupo americano EIG (com 52% do capital), enquanto que o milionário brasileiro ficou com uma fatia de 11,6% da companhia. O empreendimento será dedicado à movimentação

de cargas gerais (carvão mineral, produtos siderúrgicos, granito e contêineres) e a serviços de logística para o setor de óleo e gás na Bacia de Campos. Dos R$ 1,8 bilhão contratados em fevereiro, metade é dívida nova e os outros R$ 900 milhões serão usados na renegociação de empréstimo detido anteriormente por um banco privado. No total, a Prumo contratou R$ 2,3 bilhões de empréstimo-ponte com o BNDES, com garantia dos bancos Bradesco e Santander. O empréstimo reflete a política do BNDES (leia-se Governo) de dar

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prioridade à infraestrutura, ainda que já haja avaliações de que o volume de financiamento dos investimentos no setor constitui um desafio nos próximos anos. Segundo a Prumo, que também emitiu R$ 750 milhões em debêntures, distribuídas pela Caixa Econômica Federal (CEF), e tem R$ 2 bilhões de capital próprio (chamado de “equity”) para seguir adiante com o projeto, o montante de empréstimos se justifica pelo porto ser, segundo a empresa, “um dos maiores empreendimentos de infraestrutura em execução no país atualmente”.

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HUMANO

Fotos: Banco de Imagens TN Petróleo

I

nicialmente responsável pela aquisição de dados sísmicos nas equipes, ele aprendeu a definir quais informações deveriam ou não ser readquiridas, e também a traçar novos rumos em seu percurso profissional, que hoje soma mais de 50 anos de atividades na geofísica, tendo comandado a gerência geral do Centro de Processamento de Dados de E&P da Petrobras, no Rio de Janeiro. A experiência de três décadas fez deste piauiense criado em Fortaleza mão de obra cobiçada no exterior. Tanto que, quando se aposentou, em 1990, continuou na lida, ficando sete anos em Houston (EUA), pela norte-americana Western Geophysical, que posteriormente se uniu à francesa Schlumberger. “Quando decidi fazer o concurso da Petrobras, a empresa era nova, e todos achavam uma maravilha”, conta Simplício Freitas, que não sabia ao certo o que era essa profissão de petroleiro, que escolhera aos 18 anos. O que chamou sua atenção foi a possibilidade de realizar um curso na Escola Técnica Nacional do Rio de Janeiro. “Estudávamos em tempo integral, oito horas por dia. Quando iniciamos o curso, eu e meus colegas pensávamos que iríamos passear e coisa e tal. Mas no final das contas não tínhamos tempo, pois levávamos trabalho para casa. Já naquela época a Petrobras era muito rígida, e segue assim até os dias de hoje. Só quem alcançasse a média... pelo que me lembro era a nota 7, seguia no curso”, recorda o geofísico. Tanto que, de uma turma de 30 alunos, apenas 16 se formaram. O curso oferecido tinha várias matérias programadas, entre elas sísmica – ou geofísica –, e isso possibilitou o desenvolvimento da habilidade dos estudantes visualizarem resultados e definirem diagnósticos. Ele lembra que na década de 1960, os equipamentos, hoje obsoletos, eram feitos com válvulas, exigindo manutenção constante e, consequentemente, conhecimentos de eletrônica e eletricidade. “O observador geofí-

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Especial Indústria naval

Porto do Açu será um grande polo naval

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Perfil profissional

perfil profissional

O conteúdo nacional

Integrante da primeira turma de ‘observadores geofísicos‘ da Petrobras, na década de 1960, Simplício Freitas não apenas acompanhou de perto a transição da mão de obra estrangeira da estatal para a nacional, como vivenciou a evolução tecnológica que tornou a petroleira líder em exploração de águas ultraprofundas. “Sou o conteúdo nacional de outrora!”, brinca Simplício, que estagiou com equipes norte-americanas na Bahia, Maranhão e Amazonas. Mais do que isso, um representante do capital humano formado dentro da Petrobras, uma vez que foi depois de entrar na estatal que ele decidiu cursar Economia. A experiência na petroleira levou-o também a, mais tarde, fazer mestrado em Ciências, Engenharia e Sistemas de Computação pela Coppe, da Universidade por Karolyna Gomes Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

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A NFX, joint venture, formada pela Prumo e a BP, também terá uma base no Porto do Açu. Qual o objetivo? Será uma base para importar, exportar, vender, armazenar, misturar, distribuir e/ ou comercializar combustíveis marítimos, sob a marca da BP Marine. Este centro de abastecimento deverá atender às demandas de navios dos mais variados portes e atividades, como PSVs (Platform Supply Vessels) e navios de cabotagem e de longo curso, por combustíveis como diesel marítimo (MGO/Marine Gas Oil) e bunker (IFO/Intermediate Fuel Oil).

Foto: Divulgação

PORTO DO AÇU

para armazenagem e fornecimento ‘just in time’ de tubos e serviços especializados.

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34 Nas águas do Promef 36 Produção offshore mobiliza estaleiros

sico era a pessoa que operava esses instrumentos, na época o que havia de melhor no mundo. A Petrobras sempre utilizou tecnologia de ponta. Eu era o operador dos instrumentos e indicava se os resultados eram satisfatórios”, esclarece Simplício. Atualmente, o aparato tecnológico digital da petroleira permite captar imagens e coletar milhões de dados em camadas profundas do solo, como as localizadas abaixo da camada de sal (que podem ter até 2 km de espessura), a 7.000 m abaixo do nível do mar. “A geologia sabe que em alguns lugares existe grande possibilidade de haver petróleo. Então nós vamos tentar ‘ver ’ esses lugares, por meio das imagens captadas nas sísmicas 2D, 3D e 4D. Não dá para ser uma única imagem: são avaliadas centenas delas antes de uma equipe decidir furar um poço. É como uma tomografia. Hoje, a tecnologia é equivalente a uma ‘tomografia da terra’”, compara, para dar um exemplo.

Local de nascimento: Piauí Idade: 72 Hobby: Alguns. Entre eles ler, dançar tango, vinhos e desfrutar uma boa mesa Música: Muitas. Tenho cinco mil no iPod e coloco em aleatório. Clássica e popular. Livro: Muitos. Quase todos os clássicos. Reli Os Sertões. Atualmente estou lendo Histórias da vida privada. Dos autores mais recentes gosto do Eduardo Giannetti. Filme: São tantos. Lembro que assisti Girassóis da Rússia e Dr. Jivago mais de uma vez. Melhor lugar para descansar: Minha casa. Lendo e bebericando vinho. Casado: Uma vez só. Desde 1969. Filhos: Também um só. Dois netos!

Conteúdo nacional Sua fluência em inglês (desde os 14 anos) abriu grandes possibilidades na petroleira. Assim, acabou estagiando em equipes compostas por norte-americanos que, posteriormente, seriam substituídos pela mão de obra nacional. “O norte-americano sabia que eu estava ali para substituí-lo. Eu sou um conteúdo nacional de outrora!”, brinca. Durante sete anos atuou em missões onshore com grupos que realizaram levantamentos de dados geofísicos na Bahia, Maranhão e Amazonas. “Em 1961 fui para a Bahia. No final de 1962 fui designado para Barreirinhas e, a seguir, para a bacia do Amazonas. Acabei adoecendo de malária duas vezes. Lembro que saí do hospital com menos 22 quilos e fui beber umas cervejas. Na verdade, eu já devia estar morto”, ri

o geofísico, recordando que quase todos do grupo tiveram a doença. “Vi companheiros morrerem. A malária é infernal.” Simplício não só venceria sua batalha contra a doença, que ainda hoje aflige a região amazônica, mas viveria uma conquista pessoal inédita ao se tornar o primeiro observador sísmico brasileiro da equipe – cargo sempre ocupado por norte-americanos até então.

Primeiras experiências na costa Os levantamentos de dados sísmicos eram concentrados, na época, em terra firme, pois a tecnologia estava dando seus primeiros passos. Mas a aventura americana de explorar a região costeira acabou ganhando espaço também no Brasil. Tanto que logo no início de sua carreira, em

1961, Simplício zarpou para uma experiência no mar, no navio sísmico Texin. A embarcação havia recebido autorização especial para realizar levantamentos de dados na costa brasileira. A viagem, que o levou a Sergipe, Alagoas e Bahia, passando ainda pela foz do rio São Francisco, durou cerca de dois meses. “Era algo ainda muito incipiente, mas como já estava sendo feito nos Estados Unidos, a Petrobras decidiu tentar também”, recorda. Simplício integrou o grupo por ser o observador geofísico com melhor fluência em inglês. “Apenas duas pessoas falavam português no navio: o prático e eu. O objetivo dessa missão era levantar dados na costa, já que nesses estados já havia descobertas de petróleo onshore.” Bom observador, Simplício se destacava a cada novo desafio assumido. Em 1967, ele retornou ao Rio de Janeiro para estagiar no Centro de Processamento de Dados Sísmicos (CPD), ainda operado pelos norte-americanos. “Esse centro, com tecnologia analógica, ficava localizado na Avenida Rio Branco, 10, lembra ele. Cerca de um ano depois, surgiram os equipamentos digitais no mercado. “A companhia, obviamente, adquiriu um. Dr. Wagner Freire, Paulo Novaes, eu e alguns outros poucos fizemos essa transição”, explica, observando que a empresa sempre primou em buscar o que havia de melhor no mercado, enviando, muitas vezes, técnicos ao exterior. Ele lembra que as primeiras descobertas de petróleo no Brasil foram no final da década de 1930 e os primeiros computadores chegaram no final da década de 1950. Mesmo antes do advento do registro digital, os dados, então analógicos, já eram processados em um CPD no Rio de Janeiro contratado pela Petrobras. A mudança para os registros digitais, em 1968, foi imediatamente TN Petróleo 96

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O conteúdo nacional humano


fino gosto

SOPA LEÃO VELOSO (foto principal) INGREDIENTES (4 porções) Caldo de peixe: 1 1/2 kg de cabeça de cherne; 2 cebolas ramo de aipo; 3 ramos de salsa; 3 ramos de cebolinha; 1 alho-poró; 4 ramos de manjericão; 1 ramo (pequeno) de alecrim; 5 ramos de coentro; 4 litros de água Caldo de camarão e mexilhão: 200 g de camarões do tipo UM (médio) (cerca de 7 unidades); 50 g de mexilhões; 1/2 litro de água Sal a gosto Polvo e lula: 300 g de polvo; 300 g de lulas; 1/2 litro de água; sal a gosto Refogado: 2 colheres (sopa) de azeite de oliva extravirgem; 2 colheres (sopa) de óleo de milho; 1 cebola bem picada; 1/2 cabeça de alho (cerca de 6 dentes); 2 tomates; 2 folhas de louro; 1 cálice de vinho tinto. Finalização: noz-moscada a gosto; 1 colher (sobremesa) de colorau; 1 colher (sobremesa) de creme de arroz; folhas de hortelã a gosto Utensílios: 4 panelas (sendo uma de 5 litros); coador grande; 1 frigideira; 1 panela de barro grande

RIO MINHO:

FRUTOS DO MAR GRELHADO

Da cidade francesa, a bouillabaisse desembarcou na Cidade Maravilhosa e foi abrasileirada, eliminando-se o açafrão e acrescentando-se o sabor dos peixes locais. O toque particular, segundo Ramón, é dado pela cabeça dos peixes, além de pedaços de cherne, mexilhões e camarões. Um detalhe importante: para que a sopa fique perfeita, ele vai ao encontro de todos os seus fornecedores, logo nas primeiras horas da manhã, para escolher os mais frescos e suculentos mariscos. E diz que algumas vezes até rejeita produtos, tal o nível de sua exigência. E é com a cabeça do cherne e temperos como manjericão, alecrim, aipo, alho-poró e coentro, que prepara o caldo, grande trunfo da Leão Velloso. Para completar a iguaria, polvo, lula, camarões e mexilhões. São cinco horas de preparo para servi-la diariamente, e para fazer a alegria dos seus fiéis e honrados comensais, além dos novos fregueses da casa. Encravado na Praça XV, num lugar histórico, o Rio Minho anda sofrendo com as obras da demolição do viaduto da Perimetral. Mas Ramón, otimista como é, acredita que daqui a dois anos, no máximo, tudo vai ficar uma maravilha. E mais: as pessoas vão poder olhar o mar a partir do anexo que ele criou ao lado do restaurante principal, e que carinhosamente apelidou de ‘point do Rio Minho’. Vida longa para o Rio Minho!

mais de um século de tradição

À frente do mais longevo restaurante da cidade – o Rio Minho, que completou 130 anos –, o espanhol Ramón Dominguez, seu quarto proprietário, emocionado, solta a frase com muita convicção e certeza: “Isto aqui é minha vida. É aqui que me sinto bem.” por Orlando Santos

O

RIO MINHO (desde 1884)

Rua do Ouvidor, 10 – Centro – RJ Tel.: 2509-2338 De segunda à sexta, das 11h às 16h 72

O restaurante está no mesmo lugar – Rua do Ouvidor, 10 – e há mais de três décadas tem a orientação gastronômica e empresarial feita por essa figura bonachona e alegre. Desde 2010, Ramón vem contando com a ajuda da filha Cristina para tocar o barco, a mais antiga referência gastronômica da cidade. Decorado com azulejos portugueses, exibindo um grande quadro do rio que lhe empresta o nome, a casa, tombada pelo patrimônio histórico, é o berço de um dos mais tradicionais pratos da culinária carioca e brasileira: a sopa Leão Veloso. Considerado um dos guardiões da tradição culinária carioca, Ramón não se cansa de lembrar que a casa era frequentada por personalidades como José Maria da Silva Paranhos Junior (1845-1912), o Barão do Rio Branco, o diplomata e filólogo Antonio Houaiss (1915-1999) e, claro, pelo embaixador Pedro Leão Veloso Neto (1887-1947), o criador da sopa que leva o seu nome. Esta, como lembrou o pesquisador Fabiano Dalla Bona, em Fama à mesa, é uma adaptação do embaixador gastrônomo de um clássico da culinária francesa, a bouillabaisse, tradicional da cidade de Marselha.

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PREPARO Caldo de peixe: Em uma panela, coloque a cabeça do cherne junto com cebola, aipo, salsa, cebolinha, alho-poró, manjericão, alecrim, coentro e água, e cozinhe por 30 minutos. Retire a cabeça do peixe inteira, desfie a carne e reserve em uma tigela. Depois, passe o caldo de cozimento por uma peneira, descartando as partes sólidas e reservando o líquido. Caldo de camarão e mexilhão: Em outra panela, cozinhe os camarões e os mexilhões em água por 10 minutos. Adicione sal a gosto e depois coe, separando a água do cozimento dos camarões e mexilhões e reservando o caldo e os frutos do mar separadamente. Polvo e lula: Em uma terceira panela, cozinhe o polvo e as lulas na água por 30 minutos. Adicione sal a gosto e retire os frutos do mar, cortando o polvo em pedaços e a lula em rodelas e reservando-os. Refogado: Em uma frigideira, coloque azeite de oliva e óleo de milho, esquentando bem. Acrescente a cebola, os dentes de alho, os tomates, as folhas de louro e o vinho tinto. Deixe ferver por 15 minutos, coe e reserve todos os ingredientes sólidos do refogado. Finalização: Em uma panela grande, de aproximadamente cinco litros, coloque 1/2 litro do caldo de peixe com 1/2 litro do caldo de camarão e mexilhão, acrescente o refogado e deixe ferver por 15 minutos, mexendo bem. Adicione a noz-moscada e o colorau, deixe ferver por mais 15 minutos e coe. Volte com o líquido para o fogo e acrescente o creme de arroz — que fará engrossar o caldo —, mexa bem e deixe ferver por mais 15 minutos. Então, acrescente os frutos do mar reservados: polvo em pedaços, lulas em fatias, camarões, mexilhões e a carne da cabeça do cherne desfiada. Misture tudo, transfira para uma panela de barro, corrija o sal e ferva até borbulhar. Ao servir, acrescente folhas de hortelã.

MINEIRO DE BOTAS (sobremesa) INGREDIENTES 1 colher de sopa de manteiga; 100 g de queijo prato; 2 ovos; 1 banana prata; 1 xícara de açúcar PREPARO Coloque a manteiga na frigideira e deixe esquentar. Corte o queijo em pedaços bem pequenos e jogue na frigideira junto com a manteiga derretida. Bata os ovos, amasse a banana e misture. Quando o queijo estiver bem derretido, adicione os ovos batidos e a banana amassada. Mexa até formar uma massa consistente sem deixar grudar na frigideira. Coloque numa travessa e molde em formato de “pão francês”. Cubra com açúcar e/ou canela (a gosto) e queime com um ferro bem quente. Se preferir, sirva acompanhado de uma bola de sorvete de creme. TN Petróleo 96

CONSELHO EDITORIAL Affonso Vianna Junior Alexandre Castanhola Gurgel Antonio Ricardo Pimentel de Oliveira Bruno Musso Colin Foster David Zylbersztajn Eduardo Mezzalira Eraldo Montenegro Flávio Franceschetti Gary A. Logsdon Geor Thomas Erhart Gilberto Israel Ivan Leão Jean-Paul Terra Prates João Carlos S. Pacheco João Luiz de Deus Fernandes José Fantine Josué Rocha Luiz B. Rêgo Luiz Eduardo Braga Xavier

Rio Minho: mais de um século de tradição

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Fotos: TN Petróleo

coffee break

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Fino Gosto

Coffee Break MNBA expõe 65 obras que sintetizam o legado do artista brasileiro

PORTINARI O para ver e admirar

Quando comemorou, no início de 2014, seus 77 anos, o Museu Nacional de Belas Artes recebeu um valioso presente: 222 obras do pintor brasileiro Candido Portinari, doadas pela Finep – Inovação e Pesquisa, uma das principais agências de financiamento de P&D do país.

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por Orlando Santos

O presente está sendo compartilhado desde o dia 1º de julho pelo museu, que apresenta ao público, pela primeira vez, um conjunto de 65 obras restauradas do pintor. A síntese dessa produção artística pode ser vista até novembro, no MNBA, que tornou-se o museu brasileiro com maior número de obras do pintor, somando 243 peças no total, entre pinturas, desenhos, gravuras, pequenos esboços e gigantescos murais. A exposição está montada em núcleos temáticos: retratos, social, religioso e ilustração, como os trabalhos para os livros de Machado de Assis (O alienista e Memórias póstumas de Brás Cubas, por exemplo). Para a diretora da instituição, Monica Xexéo, a mostra oferece à sociedade um conjunto de obras ainda não vistas pelo grande público. Candido Portinari doação Finep exibe os estudos/desenhos para murais da igreja de São Francisco de Assis, situada na Pampulha, em Belo Horizonte (MG), projetada por Oscar Niemeyer. Os trabalhos para os ciclos econômicos dos painéis do Palácio Gustavo Capanema, no Rio Janeiro, e para jogos infantis, também integram a exposição, assim como as matrizes de gravuras de personagens históricos, como o inconfidente Tiradentes. A parceria da Finep com o Projeto Portinari vem de longa data. A agência forneceu recursos para a realização da pesquisa completa do legado do pintor,

que conta com mais de cinco mil obras, espalhadas pelo mundo inteiro. O projeto cedeu 222 obras de Portinari à autarquia, que formalizou a doação ao Museu de Belas Artes. “A Finep estava em busca do lugar certo para expor estas obras. Chegamos ao MNBA e sabemos o quanto esta doação será importante para a cultura brasileira”, afirmou o presidente da Finep, Glauco Arbix. A exposição inclui trabalhos de Portinari que já pertenciam ao acervo do MNBA, como as obras fundamentais Café, retrato de Olegário Mariano, além da monumental tela Primeira missa no Brasil, pintada em 1948, no Uruguai, e doada em janeiro de 2013 pelo Ministério da Cultura. O ARTISTA – Candido Portinari nasceu em 30 de dezembro de 1903, na pequena cidade de Brodowski, no interior do estado de São Paulo. Aos 15 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro, decidido a aprimorar seus dons na Escola Nacional de Belas Artes, onde começou a se destacar e a chamar a atenção tanto de professores quanto da própria imprensa. À custa de muita obstinação e talento, tornou-se um dos mais famosos pintores das Américas. Com sua morte prematura aos 58 anos, provocada por intoxicação pelas tintas utilizadas nos quadros, Portinari deixou um extraordinário legado: mais de cinco mil obras, entre murais, afrescos, pinturas, desenhos e gravuras que representam uma ampla síntese crítica de todos os aspectos da vida brasileira de seu tempo. O MNBA HOJE – Depois de um período em que teve sérios problemas estruturais que ameaçavam suas valiosas coleções, o MNBA está hoje plenamente recuperado e com equipamentos atualizados, sendo considerado o mais

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importante museu de arte brasileira do século XIX, um dos afamados internacionalmente e dos maiores em seu gênero em toda a América do Sul. Possui mais de 6.733,84 m² de área de exposição, com 1.797,32 m² de reservas técnicas. Além dos espaços de exposição e setores administrativos, o museu possui um Departamento de Conservação e Restauração, com laboratórios para trabalhos de pintura e papel, as Reservas Técnicas e a Oficina de Molduras e Gesso. ACERVO – O acervo do MNBA teve início com o conjunto de obras de arte trazidas por Dom João VI, em 1808, e foi sendo ampliado ao longo do século XIX e início do século XX, com a incorporação do acervo da Escola Nacional e outras aquisições, e hoje conta com cerca de 15 mil peças, entre pinturas, esculturas, desenhos e gravuras de artistas brasileiros e estrangeiros, além de uma coleção de arte decorativa, mobiliário, arte popular e um conjunto de peças de arte africana.

Mostra Portinari doação Finep Exposição: de 1º de julho a novembro de 2014 Visitação: terça/sexta de 10h às 18h; sábado, domingo e feriado de 12h às 17h Local: Museu Nacional de Belas Artes Endereço: Avenida Rio Branco, 199 – Centro – RJ Informações: (21) 3299-0600 Entrada franca TN Petróleo 96

Portinari para ver e admirar

Marcelo Costa Márcio Giannini Márcio Rocha Melo Marcius Ferrari Marco Aurélio Latgé Maria das Graças Silva Mário Jorge C. dos Santos Maurício B. Figueiredo Nathan Medeiros Paulo Buarque Guimarães Roberto Alfradique V. de Macedo Roberto Fainstein Ronaldo J. Alves Ronaldo Schubert Sampaio Rubens Langer Samuel Barbosa

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artigos 68 Produção de combustível a partir da pirólise de pneus, por Ronaldo Gonçalves do Santos 70 Grandes projetos de gerenciamento em petróleo e gás, por José Sá

opinião 79 Breve análise da Resolução ANP n. 32/2014, por Marilda Rosado de Sá Ribeiro

Ano XVI • Número 96 • jul/ago 2014 Foto: Agência Petrobras opinião

Breve análise da Resolução ANP n. 32/2014, de Marilda Rosado de Sá Ribeiro, sócia fundadora de Marilda Rosado Advogados Associados (MRA).

Indústria naval fluminense: R$ 10 bilhões em investimentos Nas águas do Promef Produção offshore mobiliza estaleiros

seções

4 editorial 6 hot news 10 indicadores tn 40 eventos 46 perfil profissional 49 caderno de sustentabilidade

58 pessoas 62 produtos e serviços 72 feiras e congressos 74 fino gosto 76 coffee break 79 opinião

Ano XVI • julho/agosto 2014 • Nº 96 • www.tnpetroleo.com.br

ESPECIAL: INDÚSTRIA NAVAL

NAVIOS ZARPAM NA PRODUÇÃO INDUSTRIAL BRASILEIRA Produção de combustível a partir da pirólise de pneus, por Ronaldo Gonçalves do Santos Grandes projetos de gerenciamento em petróleo e gás, por José Sá

Entrevista exclusiva

Manuel Fernandes sócio líder de Óleo e Gás da KPMG no Brasil

O Brasil continua atraente para os investidores


editorial

Vamos içar âncoras?

O

mar ainda está revolto, mas é nossa obrigação ‘levantar ferro’ para tentar retomar o curso do desenvolvimento. As projeções indicam que vamos crescer menos do que o esperado este ano. Mas precisamos acreditar que é possível evitar que essa desaceleração da economia ganhe força se buscarmos o melhor desempenho do ‘motor’ da indústria naval, movido, principalmente, a óleo e gás. A carteira de encomendas é única no mundo, mas sabemos que há desafios a vencer, entre os quais o gargalo da mão de obra, em função da velocidade da expansão do setor naval, e a produtividade e competitividade necessárias para atender a demanda local, nos prazos e na excelência exigidos pela indústria offshore. Fôlego nós temos, como ficou demonstrado pelos resultados alcançados em 2013. De acordo com dados do Fundo de Marinha Mercante (FMM), no ano passado foram entregues 77 embarcações de uma carteira de encomendas de mais de 400 embarcações. Deste total, 21 são navios de apoio offshore e quatro de cabotagem (entre os quais gigantes do tipo Suezmax). Nos últimos dois anos, o FMM desembolsou R$ 9,7 bilhões, o que corresponde a quase 43% do total dos recursos (R$ 22,7 bilhões) alocados pelo Fundo desde 2001. Sem falar nas plataformas de produção de petróleo e gás: nove, em pouco mais de um ano, seis das quais total ou parcialmente construídas no Brasil, possibilitando ao país marcar mais um recorde offshore: superar meio milhão de barris na produção do pré-sal em apenas oito anos, desde a descoberta dessa nova fronteira. E fez isso inovando, impulsionando a geração de novas tecnologias e processos em sua cadeia de fornecedores. Esse volume só foi alcançado no Mar do Norte em dez anos (e em 20 no Golfo do México), em águas e reservatórios menos profundos. A perspectiva para este ano é de que novos recordes sejam marcados, tanto na entrega de embarcações e plataformas como na produção de petróleo – consolidando a recuperação da curva de produção da estatal. É claro que há inúmeros desafios a serem vencidos além dos já citados, como o chamado ‘custo Brasil’, a revisão da política de conteúdo nacional, a definição e realização de novos leilões de áreas para exploração de hidrocarbonetos, a necessidade de previsibilidade da demanda para que a indústria naval possa investir mais em inovação e qualificação – assim como na gestão e no planejamento. Mas não podemos ficar ancorados em uma verdadeira ‘baia’ de oportunidades, que sempre trazem em seu bojo os riscos implícitos em qualquer nova fronteira – seja de petróleo ou de negócios. O Brasil precisa produzir mais e mais para atender ao mercado local. E ganhar mais produtividade e competitividade para disputar o mercado internacional, nos mais diversos segmentos. Essa é a tarefa à qual devemos nos propor para afastarmos o risco de um apagão, sem chegar sequer à disputa de pênaltis. Benício Biz Diretor da Benício Biz Editores

Rua Buenos Aires, 2/406 Centro – CEP 20070 022 Rio de Janeiro – RJ – Brasil Tel/fax: 55 21 2224-1349 www.tnpetroleo.com.br tnpetroleo@tnpetroleo.com.br

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Filiada à ANATEC Os artigos assinados são de total responsabilidade dos autores, não representando, necessariamente, a opinião dos editores. TN Petróleo é dirigida a empresários, executivos, engenheiros, geólogos, técnicos, pesquisadores, fornecedores e compradores do setor de petróleo.


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O Brasil subiu duas posições e ocupa o 10º lugar no índice de atratividade de investimento em energia renovável elaborado pela EY (nova marca da Ernst & Young). O Renewable Energy Country Attractiveness Index, ranking trimestral da EY que analisa o mercado de fontes limpas em 40 países, mostra que leilões previstos para este ano fizeram com que o país subisse ao top 10 pela primeira vez. A expectativa, segundo análise da EY, é que a energia eólica lidere novamente os investimentos no Brasil, mas o interesse por energia solar está crescendo rapidamente com as novas previsões de capacidade de geração. Mário Lima, diretor executivo de consultoria em sustentabilidade da EY, afirma que a existência de normas para os leilões de energias renováveis são pontos importantes para atrair mais investimentos no país. “Investidores gostam de regras claras”, destaca. Segundo ele, um grande obstáculo hoje para o desenvolvimento da geração de energia solar é a exigência de elevado conteúdo local para a concessão de financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) — hoje, 60% dos equipamentos de-

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Foto: Free Images

Brasil está entre os dez mais atraentes para energia renovável

vem ser fabricados no Brasil. “A redução atrairia fabricantes para o mercado. Além disso, a China faz hoje fortes investimentos no setor, o que resulta em queda nos custos dos equipamentos”, afirma. Lima ressalta que a instalação de parques solares é relativamente rápida. No ranking da EY, o Brasil ocupa o 7º lugar na atração de investimentos para parques eólicos construídos em terra. Além disso, está na 10ª colocação em aportes em usinas termossolares e 15ª em usinas solares fotovoltaicas. Estados Unidos, China, Alemanha e Japão seguem como os quatro primeiros colocados no índice de atratividade; o Canadá subiu uma posição em relação ao último índice, de 6º para 5º colocado, trocando de posição com o Reino Unido.

Além do Brasil, Chile e África do Sul também são destaques no ranking da EY. O Chile subiu para a 13ª posição, impulsionado pelo fluxo constante de aprovação de projetos e uma proposta de imposto sobre as emissões de carbono. A África do Sul vai aumentar uma pipeline de projetos já em expansão, com as projeções em torno 2.5 GW de nova capacidade eólica e até 9 GW de energia solar, o que a eleva para 17 º lugar. Além disso, a Nigéria é classificada como o novo mercado a ser observado. Seguem os 15 primeiros colocados do ranking: 1. Estados Unidos; 2. China; 3. Alemanha; 4. Japão; 5. Canadá; 6. Reino Unido; 7. Índia; 8. França; 9. Austrália; 10. Brasil; 11. Coreia do Sul; 12. Itália; 13. Chile; 14. Bélgica; 15. Holanda


Foto: Divulgação Shell

Shell anuncia 3ª grande descoberta no Golfo do México

(28,5% de participação) e Nexen (14,3% de participação), uma filial integral da CNOOC Limited. A descoberta está a 16 km do poço Appomattox – cuja viabilidade comercial já foi declarada – e do poço Vicksburg, descoberto em 2013 (consórcio entre a Shell, operadora com 75% de participação, e a sócia Nexen, com 25%). A Shell e a Nexen estão dando prosseguimento à descoberta de Rydberg com atividades exploratórias no poço Gettysburg, localizado no bloco Desoto Canyon 398, que está a 16 km da área de desenvolvimento de Appomattox. Norphlet é uma formação geológica constituída no período jurássico – entre 199 e 155 milhões de anos – que se estende do continente até as águas profundas do oeste do golfo. Com mais de dez anos de trabalhos exploratórios na região, as atividades bem-sucedidas da Shell nesta formação comprovam a liderança da companhia em tecnologia submarina e de exploração. O Golfo do México é uma grande área de produção nos Estados Unidos, que responde por quase 50% da produção de petróleo e gás da Shell no país e atingiu quase 180 mil boe por dia em 2013.

A Petrobras e o Consórcio Solimões, formado pela companhia estatal russa Rosneft e pela empresa brasileira HRT, assinaram, no dia 14 de julho, um Protocolo de Entendimentos para continuidade dos estudos que avaliam a viabilidade econômica do aproveitamento do gás da Bacia do Solimões, na Região Amazônica. Esses estudos, iniciados em outubro de 2012, terão agora foco em soluções voltadas para a liquefação do gás ou a geração de energia, podendo haver uma conjugação entre essas duas opções. Foto: Divulgação HRT

A Shell obteve resultado positivo para hidrocarbonetos com o poço exploratório Rydberg, marcando a terceira grande descoberta da companhia em Norphlet, em águas profundas do Golfo do México. O poço está localizado a 120 km da costa, no bloco Mississippi Canyon 525, com lâmina d’água de 2.280 m. A perfuração foi feita em uma profundidade total de 8.038 m, onde foi encontrada uma coluna de petróleo de 122 m. A avaliação completa do poço está sendo concluída, mas a expectativa está em torno de 100 milhões de barris de óleo equivalente (boe). Juntamente com as descobertas Appomattox e Vicksburg, o potencial total de Norphlet poderá alcançar mais de 700 milhões de boe. Para o diretor de Upstream da Shell para as Américas, Marvin Odum, a descoberta representa o surgimento de novas perspectivas para as atividades da Shell em águas profundas. “Essa descoberta consolida nossa posição de liderança no lado oeste do Golfo do México. E a proximidade desta área com as outras descobertas na região tornam Rydberg especialmente promissora.” Trata-se da primeira descoberta do consórcio entre a Shell (operadora, com participação 57,2%), a Ecopetrol America Inc.

Petrobras, Rosneft e HRT estudarão viabilidade econômica para gás do Solimões

Na assinatura do documento, a Petrobras foi representada pelo diretor da Área de Gás e Energia, José Alcides Santoro Martins; a Rosneft, pelo presidente do seu Conselho de Administração, Igor Sechin; e a HRT, pelo seu CEO, Milton Franke. O prazo de vigência deste protocolo é de 12 meses, a partir da assinatura que aconteceu em Brasília, na presença da presidenta Dilma Rousseff e do presidente da Rússia, Wladimir Putin. TN Petróleo 96

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O ministro-chefe da Secretaria de Portos da Presidência da República, César Borges, assinou no dia 23 de julho a autorização para construção de um Terminal de Uso Privado (TUP) em Maragogipe, Bahia. O TUP faz parte do empreendimento Estaleiro Enseada Indústria Naval, localizado na margem direita do Rio Paraguaçu. O novo terminal terá uma área de aproximadamente 17 mil metros quadrados, com um investimento de R$ 850 milhões e movimentação estimada de 44 mil toneladas por ano de carga geral. “Esse projeto é importante para a Bahia e para o Brasil. O Governo Brasileiro vem dando todo o apoio necessário para o desenvolvimento da indústria naval, e eu fico satisfeito com esse investimento no Recôncavo, que precisa de incentivos para gerar emprego e renda”, destacou o ministro.

Foto: Divulgação

SEP autoriza TUP do Estaleiro Enseada

O empreendimento como um todo ocupará uma área de aproximadamente 1,75 milhão de metros quadrados, e tem expectativa de investimentos de R$ 2,6 bilhões. As obras do estaleiro começaram em 2012 e devem ser concluídas em 2015. Ele vai desenvolver projetos complexos de engenharia naval e processar até 60 mil toneladas de aço por ano. Seis mil trabalhadores estão envolvidos nas obras.

O presidente do Grupo Enseada Indústria Naval, Fernando Barbosa, destacou a utilização de tecnologia japonesa de ponta no empreendimento e o investimento na capacitação de trabalhadores da região. “Temos 72% das obras concluídas e uma terceira turma de jovens da região no Japão fazendo treinamento. Eles estão voltando e aplicando o que aprenderam lá”. Além do TUP de Maragogipe/ BA, outras 21 novas instalações de uso privado já foram autorizadas pela Secretaria de Portos a partir do novo marco regulatório do setor. A Secretaria de Portos (SEP) também autorizou a expansão de outros dois TUPs já existentes. São R$ 7 bilhões em investimentos. Outras 50 solicitações de empreendimentos privados estão em andamento, num total estimado de R$ 17,2 bilhões em novos terminais.

Termelétricas ficarão ligadas no mínimo até o fim do ano As usinas termelétricas em operação deverão ficar ligadas até o final deste ano. A afirmação foi feita no dia 22 de julho pelo diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Hermes Chipp, durante evento na zona sul da cidade do Rio de Janeiro. Segundo ele, a expectativa é que haja uso “acentuado” das termelétricas nos próximos meses e até o próximo ano. As termelétricas são usadas para garantir o abastecimento de energia quando os reservatórios das usinas hidrelétricas estão baixos.

Segundo projeção da ONS, os reservatórios das usinas das regiões Sudeste e Centro-Oeste (a principal fornecedora de energia ao Sistema Interligado Nacional) devem fechar julho em nível de 33% de energia armazenada, chegando a 18,5% em novembro deste ano, caso as previsões meteorológicas se confirmem. A ideia é que, mesmo que o regime de chuvas que enche os reservatórios das hidrelétricas seja equivalente à média histórica, as termelétricas vão continuar funcionando. “[O objetivo é garantir] o armazenamento [de água nos

reservatórios]. Não deixar o nível cair tanto e tentar recuperar um pouco o reservatório e dar uma tranquilidade”, disse Chipp. As usinas termelétricas funcionam com combustíveis como gás natural e óleo. Por isso, podem ser ligadas e desligadas de acordo com a necessidade. Mas, além de serem consideradas mais poluentes que as hidrelétricas, têm um custo maior de geração. Ou seja, quanto mais energia produzida por essas usinas, mais cara fica a conta de luz do usuário final.

Tradição, simplicidade e eficiência em Comércio Exterior A Costa Porto é um Centro de Gestão de Negócios Internacionais pioneiro na América Latina com expressiva atuação em consultoria de comércio exterior, logística integrada e gestão aduaneira com experiência há mais de 90 anos de mercado.

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Fiesp critica manutenção de taxa de juros “O Brasil precisa de uma política econômica que promova o crescimento, crie rendas e gere empregos”, afirma presidente da federação paulista. O Comitê de Política Monetária, Copom manteve a Selic em 11% a.a. Para Benjamin Steinbruch, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), a manutenção da taxa Selic nesse patamar mantém o risco de recessão na economia brasileira. Um amplo conjunto de indicadores mostra que a atividade está fraca na maioria dos setores. A produção industrial no segundo trimestre será, muito provavelmente, o quarto trimestre consecutivo de queda, configurando um quadro recessivo na indústria de transformação. Nos demais setores, como o de comércio e serviços, os indicadores mostram que prevalecem o pessimismo e a morna atividade. “A confiança do empresariado não é uma simples questão de humor. Sua base é formada no crescimento das vendas, capacidade de produção, desempenho do mercado. Quando a demanda

enfraquece e não se vê possibilidade de reversão no curto prazo, a confiança diminui e o investimento se retrai”, afirma Steinbruch. “É preciso reduzir a taxa de juros para estimular a demanda da economia e os investimentos produtivos, e recolocar o país na rota do otimismo. O Brasil precisa de uma política econômica que promova o crescimento, crie rendas e gere empregos”, conclui o presidente da Fiesp. Indústria quer maior integração externa – Quase um ano após lançar a Agenda de integração externa, na qual a Fiesp sintetizou os assuntos de maior relevância para a integração econômica internacional brasileira, o Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Derex) volta ao tema, definindo propostas concretas que auxiliem a inserção da indústria brasileira no mundo. Segundo as Propostas de integração externa da indústria, a agenda externa deve ser vista como parte integral do desenvolvimento econômico, pois contribui

para o aumento das exportações e investimentos e melhora a competitividade, por meio do acesso à tecnologia e à inovação de padrão internacional. Outro aspecto destacado no documento da Fiesp é a tendência de negociação de ‘mega-acordos’ comerciais, que tendem a tornar mais rígidas as normas vigentes no comércio internacional e, consequentemente, afetarão a indústria brasileira. Por isso, é necessário que o Brasil participe ativamente da formulação destas regras. “As principais nações estão em busca de novos acordos e isso irá alterar de forma significativa o cenário do comércio internacional. O Trans-pacific Partnership (TPP) e o Transatlantic Trade and Investment Partnership (TTIP) estão aí para comprovar essa movimentação”, alerta o diretor do Derex, Thomaz Zanotto. “Quando bem planejadas e negociadas, a abertura e integração econômica trazem mais investimentos, comércio, tecnologia e riqueza ao país. Permanecer à margem desse processo não pode ser uma opção para o Brasil.”

O volume de etanol produzido na primeira metade de julho alcançou 1,81 bilhão de litros - aumento de 1,68% sobre o mesmo período da safra passada. Deste volume, 1,01 bilhão de litros refere-se ao etanol hidratado e 797,71 milhões de litros ao etanol anidro. A produção acumulada somou 10,26 bilhões de litros desde o início da safra até 16 de julho, sendo 4,38 bilhões de litros de etanol anidro e 5,88 bilhões de litros de etanol hidratado. As vendas de etanol pelas unidades produtoras da região Centro-Sul somaram 988,57 milhões de litros na 10

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Foto: Divulgação Unica

Produção de etanol cresce 1,68% em relação ao ano anterior

primeira quinzena de julho, contra 1,09 bilhão de litros em igual período de 2013. Do volume comercializado, apenas 36,64 milhões de litros destinaram-se à exportação, enquanto 951,93 milhões de litros ao mercado doméstico – pequeno aumento de

0,91% comparativamente ao montante observado em igual quinzena do ano anterior. As vendas de etanol anidro ao mercado interno totalizaram 429,66 milhões de litros nos primeiros 15 dias de julho, alta de 10,11% em relação aos 390,21 milhões de litros comercializados em igual quinzena de 2013. Em relação ao etanol hidratado, o volume comercializado no mercado doméstico somou 522,28 milhões de litros na primeira metade do mês, ante 553,15 milhões de litros no mesmo período de 2013.


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A produção de petróleo nos campos operados pela Petrobras no pré-sal – nas bacias de Santos e de Campos – superou a marca dos 500 mil barris de petróleo por dia (bpd), atingindo 520 mil bpd no dia 24 de junho, o que configura novo recorde de produção diária. Desse volume, 78% (406 mil bpd) correspondem à parcela da Petrobras e o restante à contribuição das empresas parceiras da companhia nas diversas áreas de produção da camada pré-sal. A marca foi comemorada durante cerimônia realizada no dia 2 de julho, na sede da companhia, no Rio de Janeiro e nela estiveram presentes a presidente da República, Dilma Rousseff; a presidente da Petrobras, Graça Foster; o diretor de Exploração e Produção da Petrobras, José Formigli; o ministro de Minas e Energia, Edson Lobão; o governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, entre outras autoridades. Para alcançar o mesmo patamar de produção total, a empresa demandou 31 anos, de 1953 – ano de sua criação – até 1984. “Na Bacia de Campos levamos 21 anos para atingir esse volume de produção e, finalmente, no pré-sal, com tecnologia, conhecimento acumulado e pujança dos reservatórios, conseguimos essa realização em oito anos”, afirmou Formigli. Ele explicou que atualmente existem 25 poços em operação no pré-sal, sendo dez na Bacia de Santos (o que responde por 53% da produção, ou 274 mil barris por dia) e os outros 15 poços na Bacia de

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Foto: Stéferson Faria, Agência Petrobras

Pré-sal: 500 mil barris em oito anos

Campos (47% da produção, ou 246 mil barris por dia). Hoje, o pré-sal possui dez unidades de produção: nove plataformas de produção nas suas locações definitivas e uma plataforma itinerante fazendo Testes de Longa Duração (TLD). Quando comparada com as principais regiões petrolíferas do mundo, essa marca se mostra ainda mais importante. O Golfo do México levou 20 anos para atingir os 500 mil barris, e o Mar do Norte dez anos. Segundo Formigli, o pré-sal terá ainda 24 plataformas para entrar em operação até 2020. Pré-sal representa 22% da produção da Petrobras – No ano passado, o pré-sal representou 7% do total produzido pela companhia. Hoje representa entre 20% e 22%. “Quando olhamos para o futuro, vemos essa produção alcançar 52%, e em 2020, 53% dos nossos

4,2 milhões de barris de óleo, mais um milhão de barris de óleo equivalente”, afirmou Formigli. Produção no Brasil supera 2,7 milhões de boe em maio – A produção total de petróleo e gás natural no Brasil no mês de maio atingiu 2,721 milhões de barris de óleo equivalente (boe) por dia, sendo 2,189 milhões de barris diários de petróleo e 84,5 milhões de m3 de gás natural. O volume é superior ao de janeiro de 2012, quando a produção de petróleo e gás natural totalizou 2,678 milhões de boe/dia. A produção de gás natural também superou o recorde anterior, de 83,4 milhões de m3 por dia, alcançado em março de 2014. Em relação a maio de 2013 houve aumento de 9,8% na produção de petróleo e de 12,9% na de gás natural. Em comparação ao mês anterior o aumento foi de 2% para ambos.


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Cinco pontos de atenção para o setor de energia em 2014 Líderes globais de empresas discutiram na CEO’s Survey temas relevantes e que poderão ajudar a melhorar o desempenho do mercado energético O setor de Energia e Serviços de Utilidade Pública (Power & Utilities / P&U) passa por um período de intensa transformação, principalmente devido às implicações relacionadas à escassez de recursos e às alterações climáticas. Questões de gestão como investimento em inovação, capacidade tecnológica, pesquisa e desenvolvimento, aumento e retenção da base de clientes, além da construção de relacionamento de confiança com o mercado, são apontados como os alicerces que ajudam a alavancar o crescimento de qualquer setor em atividade. E tendem a ser ainda mais emblemáticos para a área de P&U, de acordo com os executivos consultados na 17th Annual Global CEO Survey. A PwC realizou 1.344 entrevistas em 68 países durante o último trimestre de 2013: 445 entrevistas na Ásia-Pacífico, 442 na Europa, 212 na América do Norte, 165 na América Latina, 45 na África e 35 no Oriente Médio. Para o recorte de energia, foram consideradas as respostas de cerca de 60 CEOs do setor, que indicaram os fatores determinantes para a sua evolução. 1. Os níveis de confiança estão subjugados – Os CEOs globais da indústria de P&U estão menos confiantes no crescimento de receita de seus negócios em relação aos seus pares consultados nas demais indústrias, tanto se tratando de suas próprias organizações, quanto do mercado. “O fato é que 47% das empresas do setor não esperam crescimento em suas receitas num horizonte de 12 meses”, afirma

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Guilherme Valle, sócio da PwC Brasil e líder Setor Elétrico e Serviços de Utilidade Pública. 2. Alterações climáticas e escassez de recursos – “O setor está passando por um período de intensa transformação, em parte impulsionada pelas implicações da escassez de recursos e por alterações climáticas”, explica Valle. Ele diz que o estudo endossa a afirmação: 76% dos CEOs do setor afirmaram que seu negócio passará por mudanças radicais ao longo dos próximos cinco anos. “Esse resultado é muito mais significativo se comparado com a amostra total”, diz. 3. Regulamentação – Regulação é outra fonte de mudança de impacto no setor e, para muitos CEOs, a questão ainda está longe de se apresentar de maneira clara e definitiva. Mais da metade dos CEOs dos globais de P&U estão extremamente preocupados com o excesso de regulamentação, que poderia retardar o crescimento. 4. Confiança dos clientes – O papel do cliente está mudando radicalmente enquanto players do setor privado competem com empresas estatais tradicionais. Ainda assim, surpreendentemente, poucos CEOs do setor de energia dizem estar preocupados com o fato de que mudanças no comportamento e nos gastos do consumidor poderiam desacelerar o crescimento de suas atividades. E, apesar do compromisso de operar suas atividades de forma sociorresponsável, somente 59% dos dirigentes concordam que medir e informar os seus impactos (não financeiros) contribuem para o seu sucesso a longo prazo. Apenas 35% dizem que os consumidores e clientes ganharam mais confiança em sua indústria, resultado abaixo da média em relação ao obser-

vado na amostra total. Será preciso fazer melhor – e isso pode significar adaptar suas estratégias para lidar com a transformação energética. A maioria (80%) dos executivos de energia concorda que as estratégias de crescimento e retenção de clientes terá que mudar, mas apenas 29% já têm este processo em andamento. Será preciso investir – o que eventualmente significa mudar de curso em transações e investimentos em tecnologia. “A grande maioria dos CEOs vê a necessidade de ação, mas relativamente poucos começaram o processo”, alerta Valle. 5. Tecnologia – Mais de 80% dos CEOs do setor entendem que os avanços tecnológicos vão transformar os seus negócios ao longo dos próximos cinco anos. Eles estão otimistas em relação à sua capacidade de lidar com a mudança tecnológica. Poucos enxergam com preocupação a velocidade com que atualmente lidam com o tema ‘preocupação’. Apesar disso, apenas 20% começaram a mudar seus processos de P&D e de capacidade de inovação. Uma minoria acredita que suas áreas de P&D, RH e seu departamento de TI estão preparados para executar as mudanças necessárias. “Com esse extrato da pesquisa, fica claro que existe uma dificuldade em começar essa mudança, mas os CEOs estão com essas questões nos seus planejamentos. Aqueles que as endereçarem sairão na frente”, diz o líder de energia da PwC. O network PwC é formado por organizações que atuam em 157 países e somam 184 mil profissionais capazes de prestar serviços em auditoria, consultoria tributária e societária e de negócios.


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EUA impulsionarão demanda por petróleo em 2015 O aumento do consumo de petróleo dos Estados Unidos deve reverter um declínio da demanda, observado nos últimos quatro anos em nações ricas, o que irá direcionar a recuperação econômica global em 2015. A avaliação consta no boletim mensal da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), divulgado no dia 10 de julho. Produção de países-membros da Opep e não-membros – junho/2012 a maio/2014 Produção de países-membros da Opep

mb/d (Opep) 32

Outros países produtores

mb/d (total) 92

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91

30

90

trializadas, pela primeira vez desde 2010. A tendência é sustentada pelo aumento da demanda de petróleo dos EUA, que vai crescer 180 mil barris por dia em 2015. Nos últimos anos, a Índia e a China têm sido os motores de crescimento desse mercado. Mas os dados da Opep mostram que a elevação do consumo entre os países-membros vai aumentar a um ritmo mais lento do que nos EUA, ou mesmo enfraquecer. Redução na produção Opep – A produção de petróleo de 12 países que compõem o grupo da Opep caiu 2,5% em 2013 em relação a 2012 e sua participação na produção total mundial

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Jul 13

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Maio 13

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Ago 12

29 28 Jun 12

O documento, que pela primeira vez aborda previsões para o ano que vem, mostra que os EUA estão buscando mais de seu próprio petróleo em meio a um grande aumento de produção. No relatório, o grupo destaca que o crescimento da demanda mundial pelo insumo vai avançar no próximo ano, em meio a um crescimento econômico robusto. O consumo global vai aumentar 1,21 milhão de barris por dia em 2015, em comparação com um aumento de 1,13 milhão de barris por dia em 2014. No que se refere a produtos, o crescimento do consumo será impulsionado principalmente pelo aumento do uso de óleo diesel e gasolina no setor de transportes, bem como, em menor medida, GLP e nafta para insumos petroquímicos. A previsão aponta também para o crescimento do PIB mundial, que segundo o grupo irá se elevar em 3,4% em 2015 – apesar das incertezas políticas. O relatório da Opep pode fornecer algum suporte aos preços do petróleo, que tiveram elevação de cerca de US$ 10 desde o início do ano. O crescimento levemente acelerado da demanda será em parte impulsionado pelas nações indus-

da commodity passou de 44,6% em 2012, para 43,4% no ano passado. Já a produção de petróleo mundial teve leve alta de 0,1% em 2013, enquanto a demanda cresceu 1,2%, com os maiores aumentos registrados na América do Norte, principalmente nos Estados Unidos, e nas economias emergentes. A Opep exportou 4,5 milhões de barris de petróleo por dia (bpd) em 2013, com a maior parte direcionada aos países da Ásia e Pacífico (3,1 milhões de barris por dia ou 68,5%). A Europa e a América do Norte receberam menores quantidades (600 mil bpd ou 14% e 200 mil bpd ou 5,2%, respectivamente).

FISP 20 14

tubro 08 a 10 de ou Visite-nos de stand 412/513 l, ipa nc pri a Paulo Ru grantes – São osições Imi Centro de Exp

Soluções Dräger para NR 30 –

Saúde e Segurança em

Plataformas de Petróleo

16

TN Petróleo 96

Dräger. Tecnologia para a Vida.


TN Petr贸leo 96

17


indicadores tn

Cresceram as vendas de aços planos em maio As vendas de aços planos apresentaram acréscimo de 3,1% em maio se comparadas a abril de 2014. Segundo o Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Produtos Siderúrgicos (Sindisider), o montante representa 368,5 mil toneladas. Na comparação com o mesmo período do ano passado (369,9 mil toneladas), houve queda de 0,4%. No acumulado do ano, as vendas registraram alta de 5,6% sobre janeiro e maio de 2013, com um volume total de 1897,2 mil toneladas. Os dados são apurados junto aos distribuidores associados ao Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda).

O número de compras realizadas em maio apresentou alta de 0,6% em relação ao mês anterior, computando 373,4 mil toneladas. Frente a maio do ano passado (413,9 mil toneladas), o índice recuou em 9,8%. Já na comparação entre janeiro e maio de 2014, as compras da rede associada contabilizaram queda de 4,2% em relação aos primeiros cinco meses de 2013, com um volume total de 1.833 mil toneladas. Importações e estoques – De acordo com o Sindisider, a importação de aço plano comum pelo mercado brasileiro encerrou o mês de maio

Produção da Petrobras de óleo, lgn e gás natural

DJ Oil & Gas (%)

Período de 12/2013 a 05/2014

19.05.2014

Produção de óleo e LGN (em mbpd) - Brasil Dezembro

Janeiro Fevereiro

Março

Abril

Maio

Bacia de Campos

1.497,6

1.449,5

1.426,3

1.442,8

1.474,0

1.492,2

Outras (offshore)

266,4

271,0

295,9

284,0

260,7

283,9

Total offshore

1.764,0

1.720,4

1.722,2

1.726,8

1.734,6

1.776,1

Total onshore

199,9

196,2

201,3

199,1

197,9

199,3

1.963,9

1.916,6

1.923,5

1.925,9

1.932,5

1.975,3

Abril

Maio

Total Brasil

Produção de GN sem liquefeito (em mm³/d)* - Brasil Dezembro

Janeiro Fevereiro

Março

Bacia de Campos

22.980,1

22.606,3 22.199,8 23.041,0 23.519,8 23.843,9

Outras (offshore)

24.378,4

23.302,8 25.238,9 24.939,4 24.025,7 24.917,6

Total offshore

47.358,5

45.909,1 47.438,8 47.980,4 47.545,5 48.761,5

Total onshore

15.949,9

16.607,9 16.646,0 16.379,8 16.457,9 16.669,9

Total Brasil

63.308,4

62.516,9 64.084,8 64.360,2 64.003,4 65.431,5

Dezembro

Janeiro Fevereiro

Março

Abril

Maio

100,6

112,5

115,3

126,9

128,9

121,0

Produção de GN sem liquefeito (em mm³/d) - Internacional Exterior

14.861,4

15.153,6

15.534,5

15.743,7 16.395,1 16.546,7

Produção total de óleo, LGN e de gás natural (em mboe/d) Brasil+Exterior

2.550,1

2.511,5

2.533,2

2.550,3 2.560,5 2.605,3

18

TN Petróleo 96

0.32 0.56 Variação no período: 7.92%

bovespa (%) 19.05.2014

23.07.2014

-1.15 -0.97 Variação no período: 6.38%

dólar comercial* 19.05.2014

23.07.2014

2,205 2,218 euro comercial* 19.05.2014

23.07.2014

3,02 2,98 Variação no período: -1.51%

(*) Inclui gás injetado. (**) Em 2003 inclui os dados da Petrobras Energia (ex-Pecom).

23.07.2014

Variação no período: 0.16%

Produção de óleo e LGN (em mbpd)** - Internacional Exterior

com alta de 52% em relação ao mês anterior, totalizando 224,7 mil toneladas. Quando comparada a maio de 2013, com 100,2 mil toneladas, houve um acréscimo de 124,3%. No acumulado do ano, as importações contabilizaram alta de 50,3% em relação ao mesmo período de 2013, com volume total de 803,4 mil toneladas. Os estoques de maio aumentaram 0,5% em seus volumes, atingindo 987 mil toneladas. Sobre maio do ano anterior (1061,4 mil toneladas), os estoques registraram queda de 7%. O giro de estoques permaneceu em 2,7 meses.

Fonte: Petrobras

*Valor de venda, em R$


CNI: PIB industrial fechará o ano com queda de 0,5% A economia brasileira crescerá apenas 1% neste ano. A modesta expansão será resultado do crescimento de 1,5% do setor de serviços, da alta de 2,3% da agropecuária e da queda de 0,5% da indústria. As projeções estão no Informe Conjuntural do segundo trimestre que a Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou no dia 24 de julho. No estudo, a CNI revisa para baixo as estimativas para o desempenho da economia divulgadas em março deste ano. “As causas da forte desaceleração são várias e decorrem mais do ambiente doméstico do que da economia mundial”, diz o estu-

do. Entre elas, está a inflação, que, na avaliação da CNI, deve fechar o ano em 6,6%, acima do limite máximo da meta de 6,5% fixada pelo Banco Central. O Informe Conjuntural destaca que a retração de 0,5% projetada para o PIB industrial será puxada pela queda de 1% na indústria de transformação e de 1,7% na indústria da construção. A indústria extrativa deve crescer 1,5% em relação a 2013. “Os indicadores recentes mostram que a indústria brasileira segue com dificuldade em intensificar o seu ritmo de operação”, informa o documento.

FRASES

“Nesse momento, o pré-sal responde por 22% da produção da Petrobras. Em 2018, será responsável por mais de 50% da produção.” Dilma Rousseff, presidente do Brasil, 02/07/2014 - TN Petróleo.

“Há 30 anos, no dia 28 de junho de 1984, nós, da Petrobras, fizemos 500 mil barris por dia de produção. E em 24 de junho de 2014, nós voltamos a fazer 500 mil barris por dia no pré-sal. É uma alegria tão

Período: 19.05.2014 a 23.07.2014 | ações ações ações ações

grande que a gente lembra dos

petrobras

primeiros 500 mil barris como

R$

R$

ON 16,83

19,01

PN

Variação no período: 12.49%

R$

R$

17,94 20,26 Variação no período: 12.24%

VALE R$

R$

R$

R$

ON 29,47 31,73 PNA 26,64 28,54 Variação no período: 4.38%

Variação no período: 3.59%

CPFL R$

R$

ON 12,88 13,01 PNA 14,79 Variação no período: 0.39%

R$

13,73

Variação no período: -9.67%

petróleo brent (US$) 19.05.2014

109.37

23.07.2014

108.03

Variação no período: -1.57%

petróleo WTI (US$) 19.05.2014

102.11

23.07.2014

103.12

Variação no período: 1.08%

em pré-sal na época.” Graça Foster, presidente da Petrobras, 02/07/2014 - TN Petróleo.

“Da forma como ficou acertado (o contrato com a Petrobras sobre o excedente da Cessão Onerosa) agora será possível

BRASKEM

R$

se fosse ontem. Não se falava

viabilizar gasodutos, sistemas de produção e um polo na área, que é perto de Libra. É um projeto de imensa magnitude.” Magda Chambriard, diretora-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), 26/06/2014 - Valor PRO.

“Nós só temos que arregaçar as mangas para aumentar a ambição tecnológica nas empresas que precisam investir mais e, principalmente, inovar mais.” Glauco Arbix, presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), 24/07/2014 - CNI.

TN Petróleo 96

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entrevista exclusiva

O Brasil continua atraente para os

investidores por Beatriz Cardoso

A possibilidade de dobrar os volumes de reservas, o comprometimento com operadoras do mundo inteiro que atuam no país, estabilidade política e o respeito aos contratos firmados no setor de óleo e gás são alguns dos fatores que mantêm o Brasil no foco das atenções dos investidores internacionais. “O nível de compromisso do país é alto, mas a capacidade de investimento é limitada”, alerta o sócio líder de Óleo e Gás da KPMG no Brasil, Manuel Fernandes.

“Mas não vejo o financiamento como um gargalo”, complementa o executivo em entrevista exclusiva à TN Petróleo. Ao fazer uma análise do setor brasileiro de óleo e gás frente às mudanças no cenário energético das Américas, principalmente em relação à reforma do marco regulatório de óleo e gás mexicano, ele afirma: “A indústria brasileira não perde para a do México.” TN Petróleo – Na avaliação de vocês, a indústria brasileira de óleo e gás continua sendo um grande atrativo para os investidores de óleo e gás? Manuel Fernandes – Sim. Sabemos que os Estados Unidos e o México têm ofertas que podem competir com o Brasil. Mas nosso país tem um sistema de exploração e produção conhecido e provado, regime político democrático, estabilidade e os contratos assumidos são respeitados. Além disso, o país tem um nível de compromisso já assumido com as grandes operadoras que operam aqui e com as novas que chegaram agora. O nível de compromisso do Brasil é alto, mas a capacidade de investimento é limitada. Quais os principais pontos positivos dessa indústria, para os investidores? Podemos citar a estabilidade política, respeito aos contratos, modelo provado. Além disso, aqui não há restrição do controle de capital como acontece na Argentina e Venezuela. Quais os principais impasses ou pontos negativos? O principal ponto negativo é que não temos previsibilidade na periodicidade dos leilões e no cronograma de licitação de novos campos. Outro ponto de atenção é que o custo da mão de obra não é competitivo quando comparado aos países asiáticos. Por último, a questão tributária, que é mais complexa aqui do que em outros países. Como vocês veem a evolução dessa indústria nos últimos cinco anos, depois da crise de 2008? A evolução da indústria tem sido positiva nos últimos anos, quando o Brasil conseguiu provar as reservas, sobretudo de 2008 a 2010 com o pré-sal, e foi incentivado e consolidado o desenvolvimento do conteúdo local. Em contrapartida, o país ficou cinco anos sem realizar novas licitações de campos, o que só voltou a acontecer no ano passado, possibilitando mais clareza para o futuro.

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TN Petróleo 96


Manuel Fernandes, sócio líder de Óleo e Gás da KPMG no Brasil

Fotos: Divulgação

O fator que mais impactou negativamente a indústria de óleo e gás foi a falta de previsibilidade de realização das rodadas de licitação, o que dificulta o planejamento financeiro das empresas.

O que mudou no setor de óleo e gás no Brasil nesse período e que se constitui em fator positivo? O principal ponto positivo foi o fato de em 2013 diversas empresas novas terem assumido a posição de operadoras. Qual o fator negativo que ocorreu nesse período? O fator que mais impactou negativamente foi a falta de previsibilidade de realização das rodadas de licitação, o que dificulta o planejamento financeiro das empresas.

Como têm sido as fusões e aquisições no setor de óleo e gás nesse período no Brasil? E na América Latina? A KPMG trimestralmente realiza uma pesquisa que traz informações sobre fusões e aquisições de diversos setores, incluindo, óleo e gás. Segundo o levantamento, a indústria foi uma das que mais realizou transações no ano passado, impactada, principalmente, pela realização de três leilões em 2013. Foram 38 operações somente em 2013 e 19 em 2012. Já no primeiro trimestre

de 2014 foi registrado um aumento de 125% se comparado ao mesmo período do ano passado. Durante os três primeiros meses deste ano foram concretizadas nove operações contra quatro em 2013. Não temos número sobre a América Latina. De que modo a reforma no setor de energia do México impacta a indústria brasileira de óleo e gás? O Brasil vai perder muito de seu atrativo por causa do México? A indústria brasileira não perde para a do México. Esse TN Petróleo 96

21


entrevista exclusiva país pode ser considerado como mais um player do setor e não uma ameaça efetiva. Pode ser também uma oportunidade opcional para a cadeia de fornecedores do Brasil que é grande e competente e que poderá atender à demanda da indústria de óleo e gás do México. Além disso, a reforma no setor e energia é muito recente e ainda vai demorar um tempo para que ela tenha algum impacto no Brasil. O shale gas nos Estados Unidos é apontado como outro fator que desviaria as atenções do Brasil, mesmo depois da queda das projeções, o que demonstra que houve superestimação? Se for comprovada de fato a capacidade americana, a matriz energética do Brasil pode sofrer algum impacto. Os EUA são um competidor forte e isso de alguma forma pode afetar o interesse do investidor no mercado pela questão da atratividade do retorno dos investimentos. Mas devemos lembrar que a exportação do shale gas está em debate nos EUA. Aqui no Brasil isso é um assunto que ainda está em discussão com

A Petrobras está no limite de seu endividamento e, portanto, recorre à engenharia financeira para viabilizar novos investimentos. Muitos fornecedores estão alavancados ao extremo, o que é preocupante para todo o sistema.

relação à questão ambiental, o tipo de tecnologia a ser utilizada, custo de logística, etc. Por isso, acredito que seja uma aposta para o futuro. O fato de não ocorrer um novo leilão esse ano prejudica o setor? Ou já há muitos projetos e recursos no mercado?

Precisava haver uma previsibilidade, uma rotina de leilões – por exemplo, todo ano ou de dois em dois anos. Isso é recomendável porque permite que as empresas possam se planejar melhor. Quais as dificuldades que vocês acreditam que pode haver no financiamento de um conjunto tão grande de empreendimentos? A liquidez do mercado. Dinheiro o mercado tem; os problemas são a dificuldade de alavancagem dos investidores e a capacidade dos players, que é questionável. Mas não vejo o financiamento como um gargalo. Qual a expectativa em relação à cessão onerosa, uma vez que a Petrobras tem de declarar comercialidade até o início de setembro? Novos projetos e mais investimentos? A cessão onerosa é para uma área de pré-sal, ao lado do campo de Lula, num modelo em que o Governo Federal tem direito à exploração de cinco bilhões de barris que serão cedidos à Petrobras. Novos projetos e novos investimentos serão a única resposta.

KPMG: expertise centenária A KPMG é uma rede formada por empresas que estão entre as principais prestadoras de serviços nas áreas de Audit, Tax e Advisory do mundo, com mais de 155 mil profissionais atuando em 155 países. No Brasil, a KPMG tem cerca de quatro mil profissionais distribuídos em escritórios em 23 cidades de 13 estados e o Distrito Federal. Além do Private Equity Brasil 2014, que consolida os dados da indústria brasileira de private equity, seed e venture capital, a rede brasileira participou também do relatório “Investigações internacionais: Você está preparado para os desafios?”, no qual são apresentados

22

TN Petróleo 96

estudos de casos e orientações para as empresas na condução de investigações internacionais, com base na experiência de mais de 60 executivos em todo o mundo que realizaram essa empreitada em suas organizações. As origens da KPMG remontam ao século passado e retrasado, tendo sido constituída por empresas de diferentes países que formam o nome da rede. O K vem da firma de contabilidade Klynveld Kraayenhof & Co, fundada por Piet Klynveld em 1917, em Amsterdã, Holanda. O P vem da britânica Peat & Co., criada por William Barclay Peat, em Londres, que mais tarde se fundiria com a norte-americana

Marwick, Mitchell & Co., estabelecida em 1897 por James Marwick, em Nova York (EUA), dando origem à Peat Marwick International. Mas é atribuído ao alemão, de origem prussiana, Reinhard Goerdeler, primeiro presidente da Federação Internacional de Contadores, o estabelecimento dos alicerces da atual rede. Ele deu o primeiro passo, em 1979, ao formar com a firma holandesa a Klynveld Main Goerdeler. Oito ano depois, em 1987, ele conduziu a fusão da Peat Marwick International e a Klynveld Main Goerdeler, constituindo então a KPMG, da qual foi um dos presidentes.


O Brasil continua atraente para os investidores Será que a Petrobras poderá recorrer a parceiros para agilizar a produção da cessão onerosa? Operações com parceiros são comuns no mercado de óleo e gás.

dobrar suas reservas (ou mais) até o final da década é um atenuante? Ela é a única com capacidade de reserva para isso. Se dobrar, o impacto será grande no Brasil e no mundo.

Será que ela devolverá as áreas que excederem os cinco bilhões de barris logo, ou elas vão fazer uso de todos os mecanismos do contrato para manter a área até terem realizado essa produção? Acredito que eles vão cumprir o contrato, sim. O que os investidores estrangeiros sinalizam: que podem aportar mais recursos para os projetos da Petrobras? Os investidores estão dispostos a investir com a Petrobras. Exemplos disso são a Total e a Shell.

A Petrobras está no limite de seu endividamento e, portanto, recorre à engenharia financeira para viabilizar novos investimentos. Muitos fornecedores estão alavancados ao extremo, o que é preocupante para todo o sistema.

O nível de endividamento da empresa é preocupante?

Ou o fato de ela ser a única petroleira no mundo com chances de

O que pode fazer com que a companhia volte a se recuperar para atingir os valores de 2009? Um dos requisitos é cumprir o cronograma de produção. Além disso, será preciso voltar ao nível de curva de produção anterior, acertar a previsibilidade de projetos de custos e prazos e cumprir o plano de negócios já estabelecidos. Enfim: vale a pena investir em ações da Petrobras? Acreditamos que no longo prazo, sim. Mas prefiro deixar para os investidores e os bancos responderem a essa pergunta...

Nesta edição.

TN Petróleo 96

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especial: indústria naval

navios A bandeira brasileira tem cada vez mais presença na frota naval e offshore do país e na navegação de longo curso, principalmente no setor de óleo e gás. Mais ainda: foi ‘hasteada’ na produção industrial do país, que em pouco mais de uma década registrou um aumento expressivo na participação do setor naval: saltou de exíguos 0,02% em 2000, para 0,25% em 2011, segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ou seja, a indústria naval cresceu mais de 12 vezes em pouco mais de uma década. E tem a expectativa de singrar novas rotas nos próximos anos, ainda que para chegar ao porto seguro do desenvolvimento sustentável ainda tenha de superar algumas ‘borrascas’. 24

TN Petróleo 96


zarpam na produção industrial brasileira

Fotos: Agência Petrobras

por Beatriz Cardoso

TN Petróleo 96

25


especial: indústria naval

P

ara se ter uma ideia do que representa a participação da indústria naval na produção industrial brasileira, vale tomar como exemplo o setor automotivo, que tem uma fatia de 10% – isso quer dizer que de cada cem produtos fabricados no país, dez são veículos automotivos (e pelo menos quatro são automóveis). Transpondo para o setor naval, valeria dizer que há 25% de navio em um de cada cem itens produzidos no país, graças às políticas públicas adotadas nos últimos anos (como a de conteúdo nacional). Dadas as proporções e valores do produto naval é um peso significativo. Mais do que isso, uma marca memorável, se considerarmos que o Brasil encerrou o século XX na berlinda do setor industrial naval, depois de ter sido um dos gigantes dessa indústria, na virada da década de 1970 para 1980. Graças à política de conteúdo nacional, mais de 20 anos de estagnação foram superados em menos de uma década, na avaliação do Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval). “Os países que hoje são líderes na construção naval e offshore levaram décadas para alcançar a posição que ocupam. Nossa indústria levou uma década para sair da estagnação para uma expressiva situação”, destaca Ariovaldo Rocha, presidente do Sinaval. “Hoje já somos reconhecidos como indústria naval relevante”, afirma o dirigente, na introdução do documento intitulado ‘Cenário trimestral’. Nele, o Sinaval pontua que a indústria naval brasileira está produzindo – para atender somente a demanda doméstica – navios petroleiros, porta-contêineres, sondas de perfuração, 26

TN Petróleo 96

Recursos do FMM

Desembolsos em 2013: R$ 4,9 bilhões. Desembolsos desde 2001: R$ 22,7 bilhões

Ano R$ bilhões 2001 ...............................................0,3 2002 ..............................................0,3 2003 ............................................. 0,6 2004 ..............................................0,7 2005 ..............................................0,5 2006 ............................................. 0,6 2007 ............................................... 1,1 2008 ...............................................1,3 2009 ..............................................2,3 2010 ...............................................2,6 2011 ................................................2,7 2012 ...............................................4,8 2013 ...............................................4,9 Total ....................................... 22,7 Fonte: FMM – CGU

Estimativa da Abeam (Associação Brasileira das Empresas de Apoio Marítimo) Frota em operação no Brasil: 450 navios; 211 de bandeira brasileira; 239 de bandeira internacional. Expansão até 2020: Mais 236 navios. O total da frota no Brasil aumentaria para 686 navios: 386 de bandeira internacional; 300 de bandeira brasileira.

Contratações da 6ª rodada do Prorefam

Em maio de 2014 a diretoria da Petrobras aprovou, as contratações de 23 navios de apoio marítimo do Programa de Renovação da Frota de Embarcações de Apoio Marítimo (Prorefam). Quantidade

plataformas de produção, navios de apoio marítimo. Dentro deste último quesito estão desde os AHTS (Anchor Handling Tug and Supply) e navios de suprimentos do tipo PSV (Platform Supply Vessel) às embarcações usadas na construção de dutos, como os PLSV (Laying Pipe Support Vessel) e os RSV (ROV Support Vessel), com veículos operados remotamente (ROV). Nessas embarcações, o índice de conteúdo local varia de 45% a 70% nos estaleiros, sendo de 62% em navios, conforme dados do Fundo de Marinha Mercante. E para lançar ao mar essa frota de bandeira brasileira, o país gerou emprego e renda: o setor naval, que empregava 1.900 pessoas em 2000, hoje tem 78 mil pessoas nos estaleiros e geram mais 300 mil empregos na rede de fornecedores de equipamentos e serviços. Ariovaldo Rocha prevê que, até meados de 2015, os empregos diretos alcançarão a marca de cem mil pessoas. Os maiores empregadores diretos estão localizados nos estados do Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. O documento do Sinaval destaca que há previsão de ampliação do transporte marítimo na costa brasileira e na malha fluvial, com ênfase no escoamento de grãos e minérios para os portos. Sem falar na demanda crescente por equipamentos (leia-se embarcações) para exploração e produção de petróleo e gás natural em águas profundas (offshore), e que deve se estender até a próxima década, uma vez que a projeção da Petrobras é chegar a 2020 com uma produção superior a 5 milhões de barris de óleo equivalente (petróleo e gás) por dia.

Operador

Navio

Asgaard

PSV

6

Starnav

PSV

6

Bram

PSV

3

Crescimento movido a óleo e gás

Wilson, Sons

PSV

2

CBO

PSV

2

CBO

AHTS

4

A perspectiva do Sinaval é que, somente este ano, a construção naval tenha um crescimento de 15% – o mais alto pico das expectativas da economia brasileira, que


Navios zarpam na produção industrial brasileira tem perspectivas de crescer mísero 1,5%. Pela carteira de encomendas, seis navios e três comboios hidroviários, todos de bandeira brasileira, vão integrar a frota da Transpetro até dezembro. Somados aos barcos de apoio, unidades de produção e outros tipos de embarcações que serão finalizadas até dezembro, a previsão é que 2014 registre um recorde de entregas de itens da carteira de encomendas da indústria naval brasileira. Carteira que, de acordo com a principal demandante, é apontada como a quarta maior do mundo, na categoria de navios em geral, e a terceira em número de petroleiros. Se a previsão do Sinaval for confirmada, sinalizará a manutenção do nível de crescimento médio registrado na primeira década de 2000, que foi de 19,5% ao ano, em função até do salto de produção que a sucateada indústria naval teve de dar em um período curto para atender a demanda local. “Esta retomada é basicamente consequência do desenvolvimento das encomendas da Petrobras e da produção offshore”, afirma o coordenador de Infraestrutura Econômica do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Carlos Campos Neto, autor do livro Soerguimento da indústria naval no Brasil – 2000-2013, em parceria com o técnico de Planejamento e Pesquisa do Ipea, Fabiano Pompermayer. Eles destacaram ainda que de 2012 e 2020, as encomendas do setor naval abrangem 22 plataformas de produção de petróleo e gás, 146 navios de apoio offshore, 29 sondas de perfuração, 26 petroleiros, 15 gaseiros, 38 navios de produtos, nove bunkers e cinco submarinos (um nuclear), entre outros itens, totalizando 404 embarcações.

Navios de apoio marítimo (21 navios entregues em 2013) Crew Boat “MARIMAR XX” PSV 4500 CBO PSV Siem Atlas OSRV Astro Tupy PSV Prion PSV Alcatraz PSV Tagaz Crew Boat BS Maresias PSV Starnav Perseus PSV Starnav Centaurus PSV Starnva Ursus PSV Starnav Regulus PSV Bram Bravo PSV Bram Bruce Kay PSV Bram Boa Vista PSV Bram Buccaner OSRV Mar Limpo III OSRV Mar Limpo IV

Armador: Marimar S/A Estaleiro Inace Arpoador Armador: CBO Estaleiro Aliança Armador: Siem Estaleiro Vard Niterói Armador: Astromarítima Estaleiro Eisa Armador: Wilson,Sons Estaleiro Wilson, Sons Armador: Wilson, Sons Estaleiro Wilson, Sons Armador: Wilson, Sons Estaleiro Wilson, Sons Armador: Wilson, Sons Estaleiro Arpoador Guarujá Armador: Starnav Estaleiro Detroit Armador: Starnav Estaleiro Detroit Armador: Starnav Estaleiro Detroit Armador: Starnav Estaleiro Detroit Armador: Bram Estaleiro Navship Armador: Bram Estaleiro Navship Armador: Bram Estaleiro Navship Armador: Bram Estaleiro Navship Armador: Bravante Estaleiro São Miguel Armador: Bravante Estaleiro São Miguel

Fonte: FMM

Frota de apoio marítimo Tipo

Bandeira internacional

Bandeira brasileira

Total

PSV

93

87

180

AHTS

80

19

99

PLSV

8

2

10

DSV / RSV

11

3

14

OSRV

23

15

38

MPSV

6

2

8

221

128

349

Total

Não inclui navios tipo LH (manuseio de linhas) e Crew (passageiros) TN Petróleo 96

27


especial: indústria naval

Esses números foram apresentados no painel ‘Investimentos em petróleo e o impacto da indústria naval’ do evento múltiplo de logística, energia, transporte e saneamento (L.E.T.S.) promovido pelas federações de indústrias dos estados de São Paulo (Fiesp) e Rio de Janeiro (Firjan), entre os dias 19 e 22 de maio, na capital paulista. Os autores do livro apontam que dos R$ 149,5 bilhões em investimentos previstos, a maior parte será consumida na produção de sondas de perfuração – R$ 54 bilhões (pela Sete Brasil, que tem parceria com a Petrobras, sendo que esta terá uma despesa operacional/Opex de R$ 10,8 bilhões/ano) – e plataformas (R$ 53,4 bilhões a serem desembolsados pela petroleira brasileira). A estatal fará uma contratação adicional de 15 plataformas até 2017, com o desembolso de mais R$ 36,75 bilhões, segundo os pesquisadores do Ipea, que desatacaram a necessidade de mais 12 a 15 plataformas, a partir de 2020, para a exploração do Campo de Libra. De acordo com o levantamento feito por Campos Neto e Pompermayer, este investimento extra na construção de 13 plataformas somaria mais R$ 31,85 bilhões. 28

TN Petróleo 96

Falta qualificação Para Carlos Padovezi, diretor do Centro de Engenharia Naval do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), que participou do mesmo painel no L.E.T.S., a preocupação é se os novos estaleiros ou os investidores que estão vindo para o país conseguirão sobreviver após o pico de demanda provocado pelas necessidades das plataformas que a Petrobras está construindo. “A impressão é que muitos destes estaleiros não terão condições de continuar em médio ou longo prazo”, diz o executivo do IPT. Para ele, o custo da mão de obra ainda deve continuar elevado até o Brasil recuperar o patamar de qualificação que alcançou na sua fase áurea, antes do sucateamento do setor. “Os estaleiros estão contratando gente, mas ainda tendo que capacitar o pessoal. Vamos passar por um período que ainda não valerá comparar a nossa produtividade com países que estão de modo permanente construindo navios e plataformas”, alertou. Padovezi destacou que é fundamental ter um sistema de fornecimento de peças e serviços eficien-

tes dentro do país, para atender a demanda do pré-sal. E, para isso, é necessário que a indústria tenha continuidade de demanda local e a perspectiva de atuar no mercado exportador. “O setor deve buscar maior competitividade respaldado no desenvolvimento tecnológico, qualificação de recursos humanos e gestão, além de investir em planejamento para reduzir os custos de produção”, afirmou Padovezi, lembrando que materiais, peças e equipamentos compõem 65% dos custos da indústria. A mão de obra responde por 20% e os 15% restantes se devem a custos complementares. “Para fazer um navio, por exemplo, o fabricante precisa de duas mil a três mil peças e cerca de 20 mil a 30 mil itens”, explicou o diretor do IPT.

Expansão da cadeia produtiva O setor de navipeças também cresceu, ainda que bem abaixo dos índices registrados pela indústria naval. De acordo com Pompermayer, as receitas dessa cadeia produtiva tiveram um crescimento médio anual de 6,1% entre 2000 e 2010. “Os estudos sinalizam um desempenho muito bom, mas ainda desconectado do crescimento da indústria naval”, afirma. Para consolidar esses números, os pesquisadores consultaram 734 empresas que integram o catálogo de navipeças da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (Abdi) e da Organização Nacional da Indústria do Petróleo (Onip). Deste total, 98 empresas (mais de 13% das empresas listadas) deram retorno. E positivo: para 75,6%, as perspectivas para os próximos anos são boas para o segmento. Tanto que 51,2% dos entrevistados afirmaram ter planos de investimentos para ampliar a capacidade operacional. Já em relação aos programas públicos de incentivo à inovação e investimentos, os resultados mostram que ainda há muito a evoluir:


54,4% alegaram desconhecer os benefícios e apenas 8,1% já utilizaram tais recursos. Mas a maioria (82,5%) concorda em um ponto: a carga tributária é o pior entrave ao desenvolvimento do setor, seguida da regulação trabalhista (60,6%). A Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) também vê os entraves tributários como uma ‘borrasca’ anunciada: ou seja, o vilão que ameaça a nau da produção naval no longo curso. De acordo com o presidente da Câmara Naval e Offshore da Abimaq, Marcelo Campos, o setor de construção naval brasileiro tem grande potencial, mas poderia se desenvolver melhor sem a pesada carga tributária nacional, que faz com que o volume de importações se sobreponha à produção local, desestimulando o mercado. “O Brasil tem a mais alta carga tributária do mundo. Torna-se muito difícil competir com o fabricante internacional, principalmente porque os estaleiros precisam comprar pelo menor preço possível”, reclama Campos. “O custo unitário dos produtos fabricados no país não é baixo e o resultado é a falta de investimentos nessa indústria uma vez que os fabricantes nacionais não têm garantia de demanda no médio e longo prazo”, frisa. Daí a importância de se investir tanto na capacitação como na consolidação de “uma agenda comum entre governo, indústria e estaleiros, de forma a direcionar políticas sustentáveis para o setor para beneficiar toda a cadeia produtiva, pós pedidos do pré-sal”, afirma Campos.

Prioridades na liberação de recursos Considerado um setor estratégico na atração de investimentos internacionais, a indústria naval tem papel importante na economia local, pela geração de emprego e renda, criação de inovação e tecnologia. O relatório do TN Petróleo 96

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especial: indústria naval

Geração de empregos

Os estaleiros brasileiros empregam diretamente 78 mil pessoas e geram mais 300 mil empregos na rede de fornecedores de equipamentos e serviços. Os estados do Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul lideram como os maiores empregadores. Estado/Localização

Empregados

Rio de Janeiro

Part. %

30.506

39,05

1.782

2,28

Espírito Santo

410

0,52

Total Sudeste

32.698

41,85

Santa Catarina

4.247

5,43

Rio Grande do Sul

19.954

25,54

Total Sul

24.201

30,97

7.923

10,14

Bahia

92

0,12

Ceará

702

0,90

38

0,05

8.755

11,21

580

0,74

Amazonas

11.902

15,23

Total Norte

12.482

15,97

Total geral

78.136

100,00

São Paulo

Pernambuco (Suape)

Sergipe Total Nordeste Pará (Belém)

Fonte: Sinaval

Sinaval lembra que, no panorama mundial, os países fortalecem o setor de construção naval mediante previsões e planejamento de expansão do transporte marítimo – segmento que deverá crescer das atuais 10 bilhões de toneladas para 19 bilhões de toneladas anuais, em 2030. Em um país de dimensões continentais e com enorme potencial hidroviário, projetar a expansão desse modal de transporte é natural. Mais ainda quando se leva em consideração o crescimento acelerado do setor offshore de indústria brasileira de óleo e gás, que depende não somente de unidades de produção como também de embarcações de apoio para todas as etapas da cadeia produtiva upstream. De acordo com a International Energy Agency (IEA, Agência Internacional de Energia), a demanda 30

TN Petróleo 96

por petróleo e seus derivados deve seguir forte até 2040, quando a previsão é de que a participação do hidrocarboneto na matriz de energia deverá cair de 81% para 75%. Diante desse cenário, a indústria brasileira de óleo e gás deverá reforçar os investimentos para manter e ampliar sua produção, ainda majoritariamente em águas profundas. Boa parte desses investimentos será alocada em projetos encomendados ao setor naval, que tem necessidades cada vez maiores de recursos financeiros para fazer frente à urgência e complexidade da demanda da indústria de óleo e gás. Alguns deles estão na lista de 118 projetos prioritários que vão receber apoio financeiro do Fundo de Marinha Mercante (FMM), publicada em junho pelo Ministério dos Transportes. De acordo com

a Resolução n. 132, um total de R$ 4,2 bilhões foi aprovado para projetos de 14 empresas. Desde 2001 até o ano passado, o FMM desembolsou um total de R$ 22,7 bilhões. No início dos anos 2000, os recursos variavam entre R$ 300 milhões (2001) e 600 milhões (2006). O grande salto se deu em 2007, quando totalizou R$ 1,1 bilhão, chegando a R$ 4,9 bilhões em 2013. Neste período de sete anos foram entregues o montante de 357 embarcações (77 no ano passado, dos quais 21 de apoio offshore) e concluídos nada menos que seis projetos em estaleiros (quase um por ano). Outras 157 embarcações e oito obras em estaleiros estão sendo financiadas pelo fundo. Segundo as regras do Fundo, até 90% do valor são passíveis de financiamento com recursos do FMM (com exceção das embarcações para o transporte de passageiros em que é possível o financiamento integral dos barcos, devido ao relevante interesse social). A definição do percentual de financiamento depende do conteúdo nacional de cada projeto e do tipo da embarcação, nos termos das regras previstas na Resolução n. 3.828/2009, do Conselho Monetário Nacional. As empresas têm até meados de junho de 2015 para efetivar a contratação dos projetos com os agentes financeiros, o que possibilitará o início do repasse dos recursos. Outro financiador do setor naval, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), mapeou os investimentos previstos nos diversos setores da economia brasileira, prevendo um total de R$ 4,07 trilhões no período de 2014 a 2017. Os maiores valores serão em petróleo e gás. Somente o campo de Libra, primeiro concedido em regime de partilha para consórcio que reúne Petrobras, Shell, Total e duas estatais chinesas, os investimentos estimados para esse período são de R$ 488 bilhões.


TN Petr贸leo 96

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especial: indústria naval

Indústria naval fluminense: R$ 10 bilhões em investimentos Os números do setor naval fluminense, que hoje emprega 30 mil pessoas – cerca de 40% do total dos que estão trabalhando em estaleiros espalhados pelo país – foram apresentados no III Balanço do Setor Naval e Offshore do Rio de Janeiro, que reuniu mais de 300 participantes, entre empresários, trabalhadores e autoridades.

32

TN Petróleo 96

Foto: Divulgação

R

ealizado em junho pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) e Fórum de Trabalhadores do setor, o evento abriu espaço para os principais agentes do setor discutirem projetos e desafios da indústria naval fluminense, que recebeu investimentos da ordem de R$ 10 bilhões nos últimos anos. “A indústria naval brasileira teve um processo de recuperação excelente, desde 2003, quando a Petrobras voltou a encomendar navios e plataformas nacionais. Saímos de sete mil empregos no Brasil (quatro mil no Rio) para 78 mil empregos. Mas está na hora de dar um passo adiante”, afirmou Julio Bueno, secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico, Energia, Indústria e Serviços. Ao falar sobre políticas públicas voltadas para a cadeia de petróleo e gás, o secretário afirmou: “É hora de as empresas nacionais do setor se voltarem para o mercado internacional e buscarem competitividade em nível mundial.” E defendeu uma “nova visão” da política de conteúdo nacional hoje em vigor, que prevê a contratação local de equipamentos e máquinas para o setor de petróleo. “Precisamos garantir a continuidade

Parque Tecnológico da Ilha do Fundão

das encomendas nos estaleiros e junto a fornecedores nacionais, mas é preciso que esse segmento seja inserido no contexto internacional”, pontuou. O primeiro passo seria a maior previsibilidade das encomendas futuras da Petrobras nos próximos anos, para que a indústria nacional possa se preparar para atender nos prazos e qualidade exigidos.

Expansão industrial e tecnológica Bueno observou que a IEA prevê investimentos de cerca de US$ 1,2 trilhão no Brasil nos próximos 20 anos – uma média de US$ 55 bilhões por ano entre 2015 e 2035. Recursos principalmente para a exploração e produção de áreas offshore e onshore, em todo o país.“É

um montante formidável, mas estão sendo consideradas apenas as áreas já concedidas. O volume pode ser muito maior, se se levam em conta outras áreas que ainda serão leiloadas pela ANP. Mais que isso, precisamos avançar na identificação de novas áreas potenciais”, pontuou. E salientou que o Brasil tem hoje apenas 1,5 milhão de km2 de bacias sedimentares mapeados, de um total de 7,5 milhões de km2. Julio Bueno destacou que o estado do Rio de Janeiro – o qual em seus cálculos deverá abocanhar cerca 80% dos investimentos previstos – está se preparando para essa expansão, apontando três frentes de ações do governo estadual. A primeira foi a consolidação do estado como um polo de centros


Foto: Divulgação

Foto: Divulgação

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de pesquisa e desenvolvimento do mundo, com o Parque Tecnológico da Ilha do Fundão. A área da Universidade Federal do Rio de Janeiro vai abrigar pelo menos 15 grandes centros de empresas como a BG, Halliburton, Schlumberger, FMC e Baker Hughes, em torno do Cenpes, da Petrobras, que recebe investimentos de US$ 1 bilhão por ano. A segunda iniciativa foi a criação do cluster de subsea, que busca atrair para o estado empresas que forneçam soluções e equipamentos submarinos para o setor de exploração de petróleo e gás natural. “Temos hoje 85 empresas nesse segmento, mas há muito espaço para novas fabricantes mundiais, levando em consideração que a IEA estima que o Brasil vá concentrar 44% dos equipamentos sub-

Foto: Divulgação

Navios zarpam na produção industrial brasileira

sea no mundo até 2020”, destacou Julio Bueno. Por último, ele destacou os resultados da política industrial voltada para o setor, outra ação adotada pelo governo fluminense,

que já atraiu mais de US$ 1 bilhão em investimentos nos últimos anos. Empresas globais, como Technip e NOV, ambas instaladas no Porto do Açu, já começaram a operar em fase de testes.

TN Petróleo 96

33


especial: indústria naval

Nas águas do Promef Programa de Modernização e Expansão da Frota da Transpetro fez a indústria naval içar âncora e sair do sucatemaento.

Q

uando foi lançado, há 10 anos, o Promef, Programa de Modernização e Expansão da Frota da Transpetro, buscava atender dois aspectos: a renovação de uma frota estratégica para uma petroleira que extrai a maior parte de sua produção do mar, em águas profundas, e uma política industrial de incentivo aos estaleiros locais que se encontravam às moscas, com o objetivo de gerar renda e emprego em larga escala. O primeiro Promef previa 23 embarcações, e o segundo, mais 26. A reconstrução da indústria naval, em simultâneo com as primeiras encomendas, foi um processo difícil. Tanto que o primeiro navio do programa só foi lançado ao mar uma década depois: em novembro de

2011 é entregue à Transpetro o navio de produtos claros (derivados), Celso Furtado, construído pelo estaleiro Mauá (RJ), com 70% de índice de nacionalização. Nos dois anos seguintes, seriam entregues dois Suezmax para trans-

porte de óleo cru, e dois de produtos. No primeiro semestre deste ano, mais duas embarcações começaram a operar, entre elas o terceiro Suezmax, o Dragão do Mar. O primeiro Suezmax do Promef a entrar em operação, o João Cân-

Navios petroleiros

Promef - Programa de Modernização e Expansão da Frota da Transpetro Sete navios entregues à Transpetro até abril de 2014: nov/2011, Celso Furtado (Mauá); maio/2012, João Cândido (EAS); julho/2012, Sérgio Buarque de Holanda (Mauá); jan/2013, Rômulo Almeida (Mauá); maio/2013, Zumbi dos Palmares (EAS); jan/2014, José de Alencar (Mauá); abril/2014 (EAS)

Promef - Entregas de navios previstas até o final do programa Estaleiros/Navios 7 Suezmax EAS (PE)

2014

2015

2016

3

2

2

2017

2018

4 Suezmax DP 5 Aframax

2

2

2019

2020

3

1

1

3 Aframax DP Mauá (RJ)

8 navios de produtos

2

4 Panamax

3

1

VARD Promar (PE)

8 gaseiros

2

3

Estaleiro a definir

3 navios para bunker

Total Fonte: Petrobras (datas sujeitas a alteração) 34

3

TN Petróleo 96

8

8

3

3

3 8

5

2

1

2

5

6


Navios zarpam na produção industrial brasileira

dido – primeiro construído no Nordeste (EAS/Estaleiro Atlântico Sul), em julho deste ano realizou sua primeira viagem internacional transportando 1 milhão de barris de petróleo do Campo de Lula, no pré-sal da Bacia de Santos, para terminais petrolíferos no Chile. Com a retomada da curva de aprendizagem e qualificação intensiva de mão de obra, a indústria prevê entregar os outros 42 navios até o final da década. O que significaria uma média de seis navios ao ano. Maior é a demanda por navios de apoio marítimo, necessários em todas as operações, desde a perfuração exploratória até o próprio escoamento de petróleo das unidades de produção offshore (as plataformas). Hoje, os navios de bandeira estrangeira lideram nos segmentos de maior valor de diárias: PSV, AHTS, PLSV e RSV.

De acordo com a Associação Brasileira das Empresas de Apoio Marítimo (Abeam), a frota em operação no Brasil, incluindo navios de manuseio de linhas e transporte de passageiros, totaliza 450 navios – 211 de bandeira brasileira e 239, internacional. A despeito de todo o esforço naval, esse desequilíbrio vai continuar. Até 2020, estão previstos mais 236 navios, elevando a frota a

um número total de 686 barcos de apoio, dos quais menos da metade (300) de bandeira brasileira. Para atender essa demanda foi criado no mesmo ano (1999), o Programa de Renovação da Frota de Apoio Marítimo (Prorefam) que até hoje contratou 87 embarcações: 63 estão em construção e 26 estão em operação. A meta é contratar mais 57 navios nas próximas rodadas do programa.

A base de apoio logístico offshore do Grupo Chouest (Brasil Port) encontra-se em construção no Porto do Açu e, ao final de todas as etapas de construção, poderá executar até 14 atracações simultâneas. Estima-se que a primeira etapa do projeto já estará entregue e operacional em março de 2015.

TN Petróleo 96

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especial: indústria naval

Produção offshore

mobiliza estaleiros

As metas de produção da Petrobras têm mobilizado toda a cadeia fornecedora, principalmente os estaleiros que constroem e integram módulos de plataformas.

H

oje, a indústria naval brasileira tem uma das maiores carteiras de encomendas de plataformas de produção do mundo. Das nove plataformas recebidas pela Petrobras nos últimos 15 meses, seis foram total ou parcialmente construídas no Brasil. Das outras 14 plataformas em construção no país, apenas duas delas têm casco convertido no exterior. E mais 22 plataformas estão previstas pela Petrobras. O diretor de Exploração e Produção da Petrobras, José Formigli, reafirmou recentemente que o pré-sal, que já produz mais de meio milhão de barris dia, demandará 72 plataformas (incluindo as áreas da cessão onerosa). Estão em construção: • 10 plataformas no Estaleiro Rio Grande (ERG-Ecovix), em Rio Grande (RS); • 1 plataforma no Estaleiro Brasa, em Niterói (RJ), integração de módulos;

• 1 plataforma no Estaleiro BrasFels, Angra dos Reis (RJ), integração de módulos; • 4 plataformas no Estaleiro Inhaúma, no Rio de Janeiro (RJ). Parte da demanda será atendida por estaleiros locais, e outra, por empresas internacionais, através de contratos de afretamentos com gestoras de ativos e integradoras de sistemas que já são parceiras da Petrobras. Sondas também entrarão na carteira de encomendas: são 29 as unidades contratadas pela Sete Brasil, com investimentos estimados em US$

Nem tudo é calmaria Em meio a tantas perspectivas positivas, surgem alguns redemoinhos no mercado. Vários estaleiros enfrentam dificuldades, devido, também, à falta de planejamento. É o caso do Estaleiro Ilha S/A (Eisa), que a despeito de deter uma das maiores carteiras, com 26 contratos que somariam US$ 1,6 bilhão, teve problemas de produtividade por não ter investido firme para atender a demanda. 36

TN Petróleo 96

Segundo Josuan Moraes Junior, presidente do Eisa, o estaleiro não investiu porque o agente financeiro do FMM demorou a aprovar o empréstimo para o estaleiro se modernizar. No entanto, o jornal O Valor apurou que o Eisa obteve, em outubro de 2012, “prioridade” do FMM de R$ 208 milhões. Contudo, a autorização

25,5 bilhões, tendo o BNDES como um dos principais financiadores. As sondas vão operar alugadas para a Petrobras em contratos de longo prazo. Com isso, foi dado o mote para uma especialização de empresas, que estão se qualificando para construir sondas, com alta tecnologia agregada. Surgiram dois novos estaleiros – Jurong Aracruz (ES) e Enseada (BA) –, que vão atender a Sete Brasil juntamente com três já existentes: Estaleiro Atlântico Sul (PE), Rio Grande Estaleiros (RS) e BrasFels (RJ). foi cancelada em outubro do ano passado quando o estaleiro não conseguiu aprovação do empréstimo junto à Caixa. O empresário Germán Efromovich e os administradores tentam encontrar uma saída para a grave crise do estaleiro, que ficou mais de um mês paralisado. Efromovich, que controla o Eisa por meio do Synergy Group, estaria buscando compradores para o estaleiro. Mas a venda neste momento é difícil.


Precisa executar trabalhos em locais de difícil acesso?

Plataformas de petróleo Plataformas

Estaleiros 2013 (Entregues)

P-55 – SS

EAS (PE) – Casco. QGI (RS) – Módulos. Totalmente construída no Brasil

P-58 – FPSO

QGI (RS) – Integração de módulos

P-61 – TLWP

BrasFELS (RJ) – Primeira plataforma do tipo TLWP (Tension Leg Wellhead Platform) construída no Brasil. Deck mating realizado em 13/05/2013

P-62 – FPSO

EAS (PE) – Integração de módulos

P-63 – FPSO

QUIP (RS) – Integração de módulos

Cidade de Paraty – FPSO

BrasFELS (RJ) – Integração de módulos

conte com a exclusividade da Mecan. Plataforma Cherne 1 - Bacia de Campos/ RJ

2014 (Previsão) Cidade de Mangaratiba – FPSO

BrasFELS (RJ) – Integração de módulos

Cidade de Ilhabela – FPSO

Estaleiro Brasa (RJ) – Integração de módulos

Cascos de plataformas FPSO em construção Oito cascos: P-66; P-67; P-68; P-69; P-70; P-71; P-72; P-73.

Estaleiro Rio Grande – ERG 1 (RS)

Quatro cascos: P-74; P-75; P-76; P-77;

Estaleiro Inhaúma (RJ)

Fonte: Sinaval

Integração de módulos para FPSOs TOMÉ – FERROSTAAL (RS): Módulos para seis plataformas FPSO “replicantes” em construção do ERG, em Rio Grande (RS). EBR – TOYO (RS): Módulos para o FPSO P-74 (casco no Estaleiro Inhaúma – RJ). TECHNIP – TECHINT (PR): Módulos para o FPSO P-76 – (casco no Estaleiro Inhaúma – RJ) ESTALEIRO BRASA (RJ): Módulos para dois FPSOs construídos na Ásia para a SBM-Queiroz Galvão Óleo e Gás. MENDES JÚNIOR - OSX (RJ): Fabricação e integração de oito módulos para FPSO para o consórcio Petrobras, BG Group, e Petrogal para produção em campo do pré-sal.

Sondas de perfuração (entregas previstas) Estaleiros

2016

2017

2018

ERG (RS) 3 navios-sonda

Cassino

Curumim

Salinas

BrasFELS (RJ) 6 semissub

Urca

Frade Bracuhi

Portogalo

Mangaratiba Botinas

Leblon Leme

Marambaia

Boipeba

Itapema Interlagos

Comandatuba

Itaúnas Siri

Sahy

EAS (PE) Copacabana Ipanema 6 navios-sonda Grumari Enseada (BA) 6 navios-sonda

Ondina

Pituba

Jurong (ES) 7 navios-sonda

Arpoador Guarapari

Camburi Itaoca

Fonte: Sinaval

2019

A Mecan é a única empresa no Brasil a oferecer o Sistema de Acesso Suspenso Mecan QuikDeck, desenvolvido especialmente para o uso em locais restritos. Fácil de montar e adaptável aos mais diversos tamanhos e formatos, o sistema foi projetado para otimizar os seus custos de mão de obra. Entre em contato com a Mecan e saiba mais.

2020

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especial: indústria naval

Porto do Açu

será um grande polo naval

“Os fornecedores de equipamentos para a indústria de O&G reconhecem as vantagens competitivas que o Porto do Açu oferece como plataforma para os seus negócios”, afirma a diretora de Operações da Prumo, Cristiane Marsillac, em rápida entrevista à TN Petróleo. TN Petróleo – O Porto do Açu é um complexo logístico e industrial, que também abriga players do setor naval, como a Wärtsilä e, agora, a Edison Chouest, com seu estaleiro de reparos. Vocês acreditam que podem atrair para a região outros players do setor naval? Cristiane Marsillac – Com certeza. O Porto do Açu possui as melhores condições para instalação de bases offshore no país por sua localização estratégica, próximo à Bacia de Campos, área de cais disponível dentro do Canal do Terminal 2 e calado de até 14,5 m. Também temos área disponível no entorno, o que facilita a instalação imediata de uma cadeia de fornecedores. Que tipos de empresa terão vantagem ao se instalar no complexo? No Porto poderão ser instaladas bases para movimentação e tratamento do petróleo, base de apoio para as operações offshore 38

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Com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES) e uma direção que não quer perder tempo, a Prumo acelera a implantação do Porto do Açu, que até o final da década deverá se consagrar como um complexo naval sem precedentes no país.

de E&P e polo metalmecânico dedicado à indústria de óleo e gás, entre outras coisas. Há espaço para estaleiros de grande porte? Ou apenas para fornecedores de equipamentos? Algum investidor manifestou interesse em fazer um empreendimento naval no local? Estamos mantendo conversas com diversos potenciais clientes desta indústria, mas, neste momento, não podemos comentá-las. Além disso, há espaço para um estaleiro de reparo para embarca-

ções de grande porte, projeto que está em desenvolvimento. Quais empresas da cadeia naval estão instaladas ou em instalação no local? Atualmente, as empresas do setor naval que estão se instalando no porto são: National Oilwell Varco (NOV), fornecedora de componentes mecânicos para sondas de perfuração terrestres e marítimas; a Technip Brasil, que está construindo uma unidade de produção de tubos flexíveis, com área para armazenagem e teste de material; a Wärtsilä, que vai produzir e montar grupos geradores e propulsores azimutal (será a primeira unidade industrial brasileira, após décadas de atuação no Brasil); a InterMoor, do Grupo Acteon, que fornecerá apoio logístico e serviços especializados à indústria de óleo e gás; a Edison Chouest Offshore (ECO), que implantará uma base de apoio logístico offshore e estaleiro de reparos navais, com capacidade para receber até 18 embarcações da empresa ou de parceiros. Temos ainda a GE, que está criando uma unidade no polo metalmecânico, e a Vallourec, fornecedora de soluções tubulares Premium, que vai instalar lá uma base logística,


Navios zarpam na produção industrial brasileira

A NFX, joint venture, formada pela Prumo e a BP, também terá uma base no Porto do Açu. Qual o objetivo? Será uma base para importar, exportar, vender, armazenar, misturar, distribuir e/ou comercializar combustíveis marítimos, sob a marca da BP Marine. Este centro de abastecimento deverá atender às demandas de navios dos mais variados portes e atividades, como PSVs (Platform Supply Vessels) e navios de cabotagem e de longo curso, por combustíveis como diesel marítimo (MGO/Marine Gas Oil) e bunker (IFO/Intermediate Fuel Oil).

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para armazenagem e fornecimento ‘just in time’ de tubos e serviços especializados.

Maior contrato de crédito do BNDES é com a Prumo Empresa responsável pelo complexo do Super Porto do Açu obteve R$ 1,8 bilhão. No topo do ranking dos maiores empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), divulgado no balanço da instituição, está a Prumo Logística, que conduz obras de implantação do porto de Açu, no município de São João da Barra (RJ), norte fluminense. Criado pela LLX de Eike Batista, o complexo passou a ser controlado pelo grupo americano EIG (com 52% do capital), enquanto que o milionário brasileiro ficou com uma fatia de 11,6% da companhia. O empreendimento será dedicado à movimentação

de cargas gerais (carvão mineral, produtos siderúrgicos, granito e contêineres) e a serviços de logística para o setor de óleo e gás na Bacia de Campos. Dos R$ 1,8 bilhão contratados em fevereiro, metade é dívida nova e os outros R$ 900 milhões serão usados na renegociação de empréstimo detido anteriormente por um banco privado. No total, a Prumo contratou R$ 2,3 bilhões de empréstimo-ponte com o BNDES, com garantia dos bancos Bradesco e Santander. O empréstimo reflete a política do BNDES (leia-se Governo) de dar prioridade à infraes-

trutura, ainda que já haja avaliações de que o volume de financiamento dos investimentos no setor constitui um desafio nos próximos anos. Segundo a Prumo, que também emitiu R$ 750 milhões em debêntures, distribuídas pela Caixa Econômica Federal (CEF), e tem R$ 2 bilhões de capital próprio (chamado de “equity”) para seguir adiante com o projeto, o montante de empréstimos se justifica pelo porto ser, segundo a empresa, “um dos maiores empreendimentos de infraestrutura em execução no país atualmente”.

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eventos

Fotos: Divulgação

WPC 2014

Petrobras é destaque no World Petroleum Congress (WPC)

A Petrobras foi destaque da 21ª edição do World Petroleum Conference (WPC), realizada de 15 a 19 de junho, em Moscou, na Rússia. O evento reuniu cinco mil delegados, incluindo 30 ministros de Estado e 400 presidentes de empresas de mais de 80 países.

E

ntre os temas do congresso neste ano, o papel da indústria do petróleo como propulsora de desenvolvimento econômico, as novas fronteiras do gás e a sustentabilidade financeira do setor. “A Rússia desempenha um dos papéis mais importantes, se não o mais importante, no setor mundial da energia, pelo nível de extração de petróleo e gás e pelo número de

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reservas prospectadas”, explicou a escolha daquele país como sede do evento o presidente do Conselho Mundial de Petróleo, Renato Bertani, diretor executivo da Barra Energia Petróleo e Gás, eleito presidente do Conselho Mundial de Petróleo para o triênio 2011-2014. Esta foi a primeira vez que um representante do hemisfério Sul foi eleito para essa importante posição no WPC.

O assessor da presidente da Petrobras para Conteúdo Local e coordenador executivo do Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural (Prominp), Paulo Alonso, presidiu o fórum ‘Ensuring the security of supply of equipment, materials and local content infrastructure’ [Garantindo a segurança do fornecimento de equipamentos, materiais e infraestrutura de conteúdo


local]. Ele traçou um panorama das políticas de conteúdo local no mundo e lembrou que o assunto tem ganhado relevância global nos últimos dez anos, ressaltando, no entanto, que essas políticas não devem ser protecionistas, mas de incentivo. “Não há dúvida de que o objetivo principal de uma política de conteúdo local eficaz é promover a participação da indústria nacional nos projetos de petróleo e gás em base sustentável e competitiva”, disse. “Políticas governamentais devem ser encorajadoras, não de proteção”, defendeu Alonso, para quem o poder de compra de uma grande companhia nacional de petróleo, a exemplo da Petrobras, é um poderoso instrumento para o desenvolvimento local, de fabricantes e de prestadores de serviços. O executivo destacou ainda o papel das instituições de ensino, especialmente em países nos quais a falta de pessoas qualificadas pode ser um problema. “Um plano amplo deve ser concebido para criar uma massa crítica de engenheiros, administradores e técnicos para alimentar a indústria de petróleo e gás em uma base sustentável”, argumentou, citando os resultados do Prominp, que desde 2006 qualificou mais de 95 mil profissionais para trabalhar na indústria do petróleo no Brasil, de

soldadores, mecânicos, eletricistas, administradores até técnicos de automação e controle, e engenheiros. A gerente executiva da Petrobras para a área de Libra, Anelise Lara, participou da sessão especial ‘The next wave of upstream innovation’ [A próxima onda de inovação na exploração e produção de petróleo]. A sessão teve como principal objetivo discutir inovações tecnológicas para explorar e produzir petróleo e gás natural em fronteiras cada vez mais desafiadoras. A engenheira usou a descoberta do pré-sal brasileiro para falar de inovação no segmento upstream, destacando que as tecnologias usadas desde o imageamento dos reservatórios até a concepção das unidades de produção foram fundamentais para o sucesso dos projetos. Segundo ela, o conjunto de inovações desenvolvidas para o pré-sal contribuiu para elevar em dez vezes a produção nos últimos quatro anos e para redução dos custos dos projetos na região. “Tivemos grande redução de custos na perfuração e completação dos poços, por exemplo. E esse é um grande ganho, porque a área de poços recebe quase 50% do investimento total dos projetos”, disse. “ Se compararmos com o início da fase exploratória, conseguimos reduzir entre 40% e 50% o tempo de

perfuração e completação no présal”, comemorou. A executiva falou também de sistemas de ponta que estão sendo utilizados no Brasil, a exemplo do processo WAG (Injeção Alternada de Água e Gás), ainda em fase piloto no campo de Lula, no pré-sal da Bacia de Santos. Outro destaque do evento foi a apresentação da gerente geral da área de Geologia Aplicada à Exploração da Petrobras, Sylvia Anjos, que apresentou a palestra ‘Women in the petroleum industry. A view from Petrobras/Brazil’ [Mulheres na indústria do petróleo. Uma visão da Petrobras/ Brasil]. Ela mostrou o crescimento do número de geocientistas ao longo da história da Petrobras – que hoje chega a perto de dois mil profissionais – e do crescente percentual de mulheres ao longo desse período, inclusive em cargos gerenciais, lembrando que o maior cargo da empresa é hoje ocupado por uma mulher, Maria das Graças Silva Foster. Fundado em 1933, o WPC é a maior entidade mundial do setor de petróleo. O Brasil tem uma trajetória de sucesso e crescimento junto à entidade desde 2002, quando sediou, no Rio, a 17ª edição do Congresso Mundial de Petróleo, organizada pelo IBP e considerada um dos maiores sucessos do evento.

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eventos

Great UK

Reino Unido anuncia parceria com ANP

“O objetivo é apoiar a ANP no desenvolvimento de uma regulação para exploração segura e sustentável de gás não convencional (gás de xisto) no Brasil”, explicou Woods, ao fazer o anúncio durante o evento realizado no dia 26 de junho, no Parque da Bola, no Rio de Janeiro. O encontro, que teve como tema central as novas tecnologias na área de petróleo e gás, reuniu empresários do setor, representantes da ANP, Petrobras e das três maiores operadoras britânicas presentes no Brasil: Shell, BP e BG. O programa de energia abordou ainda temas como Eficiência Energética: ganhos locais, impacto global e Biocombustíveis – mercados sustentáveis e perspectivas futuras. “Essa parceria visa promover a trocar experiências na área de regulação entre os dois países, unindo acadêmicos, empresários, especialistas na área de regulação. Nós, no Reino Unido, estamos passando mais ou menos a mesma etapa, na área de exploração e no desenvolvimento do gás não convencional. Então, temos experiências que, acreditamos, possam ser relevantes para a ANP”, disse o cônsul. O projeto apresentará soluções para viabilizar a exploração de gás não convencional no Brasil, assim como iniciativas para minimizar os impactos ambientais da extração de gás. 42

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Foto: Pedro Monteiro

Durante o seminário de energia do Great Britain House, calendário de cerca de 20 eventos de negócios, esportes e cultura realizados pela embaixada britânica durante a Copa do Mundo no Brasil, o cônsul-geral adjunto do Rio de Janeiro, Matt Woods, anunciou a parceria do Reino Unido com a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

“A demanda por energia no Brasil tem previsão de dobrar até 2020 e o Reino Unido pode ser um parceiro importante neste desafio”, observou o embaixador britânico Alex Ellis, lembrando que mais de 120 empresas britânicas já atuam no Brasil no setor de petróleo e gás. O seminário contou com a presença de Tathiany Moreira (superintendente-adjunta de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico da ANP) e representantes de quatro petroleiras: Luiz Augusto Petrus Levy, gerente-geral de Pesquisa e Desenvolvimento em Engenharia da Produção do Centro de Pesquisas Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes), da Petrobras; Marcelo Mofatti, gerente de Desenvolvimento de Mercado e Fornecedores da Shell; Richard Moore, gerente de Tecnologia do Grupo BG; Guillermo Quintero, presidente da BP Energy do Brasil. Paul Watson, diretor de Desenvolvimento de Negócios para o Reino Unido e Europa da Ocean Power Technologies – um exemplo de sucesso entre empresas de pequeno e médio porte britânicas com alta

tecnologia para a aplicação no setor de óleo e gás –, apresentou inovações em geração de energia do mar. Após as apresentações das empresas, foi realizado um debate entre os participantes. Para Tathiany Moreira, a experiência do Reino Unido vai ajudar o Brasil. “Estamos em uma etapa ainda muito incipiente do gás não convencional”, disse. De acordo com Luiz Augusto Petrus Levy, a Petrobras tem previsão de investir nesse setor. “Uma parceria com o Reino Unido, que tem experiência nisso, é interessante”, afirmou. Presente em mais de 60 países, a campanha Great tem como objetivo divulgar o que o Reino Unido tem de melhor, atraindo oportunidades nas áreas de negócios, educação e turismo. O programa está apoiado em diferentes pilares que destacam as áreas de expertise britânica como: tecnologia, inovação, cultura, legado esportivo, música, sustentabilidade, criatividade e empreendedorismo.


Rio Conferences

Rio se reafirma como capital nacional do petróleo

“Este cenário de reservas e produção permite oferecer inúmeras oportunidades e vantagens competitivas para investidores, não apenas nas áreas de exploração e produção, mas também na cadeia de valor em setores como subsea e indústria naval”, lembrou o presidente da Rio Negócios, agência de atração e facilitação de novos investimentos do Rio, Marcelo Haddad. “A Rio Conferences foi uma ótima chance para tentar entender onde estão as oportunidades e que tipo de relacionamento é preciso buscar no mercado”, complementa. O evento reuniu, no dia 3 de julho, no Museu de Arte do Rio (MAR) os principais executivos do setor para debater temas como as fronteiras da automação industrial, os desafios da engenharia, da indústria naval e a consolidação do cluster subsea no Rio de Janeiro. Ao todo, foram cinco conferências setoriais, de temas relevantes para a economia do Rio (Saúde; Tecnologia; Infraestrutura; Audiovisual e Óleo e Gás), que trouxe-

Foto: Renata Mello

O Brasil é forte candidato a suprir a demanda global por petróleo nos próximos anos. Respondendo por 83% da produção nacional do insumo, o Rio permanecerá sendo ‘a capital nacional do petróleo’. Essa visão foi consenso entre os participantes do seminário de Óleo & Gás da Rio Conferences, evento promovido pela Rio Negócios para atrair novos investimentos para a cidade.

ram para a linha de frente empresas com operações globais, líderes empresariais brasileiros e estrangeiros, agentes financiadores e poder público. “São os setores em que temos mais competitividade que outras praças”, definiu Haddad. A Global Investment Summit encerrou a série de eventos com debates sobre tendências internacionais e o papel do Brasil no cenário global. “Nesses encontros, o Rio mostrou seu potencial para atrair investimentos transfor-

madores”, afirmou o prefeito do Rio, Eduardo Paes, durante o encerramento da Rio Conferences, destacando o papel da Rio Negócios e sua importância como agente para viabilizar novos empreendimentos. O evento contou com 2.200 participantes, de 30 países, incluindo 500 empresas e 95 palestrantes. Sua realização teve resultados tão positivos que a Rio Negócios já planeja um novo encontro para promoção de investimentos durante as Olimpíadas de 2016.

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eventos

Seminário Indústria Naval e Offshore no Brasil: Desafios e Soluções

Alemães buscam maior inserção na indústria de O&G no Brasil Com forte participação nos setores automotivo e de energia elétrica no Brasil, a Alemanha quer ampliar sua atuação na cadeia produtiva de óleo e gás. Com esse objetivo, a Câmara Brasil-Alemanha (AHK) realizou o Seminário Indústria Naval e Offshore no Brasil: Desafios e soluções, no dia 2 de junho, na sede da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), no Centro do Rio de Janeiro.

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Fotos: Divulgação

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seminário marcou o lançamento oficial da iniciativa Rio Oil & Gas Forum, capitaneada pela própria Câmara Brasil-Alemanha, que tem como principal objetivo oferecer para empresas interessadas uma plataforma de troca de informações e experiências, bem como fomento de networking com importantes fornecedores e instituições, brasileiras e alemãs, dos setores O&G e Naval. Participaram do evento o subchefe da Divisão para a América Latina do Ministério de Economia e Energia daquele país, Dirk Berg; o cônsul-geral da Alemanha no Rio de Janeiro, Harald Klein; o diretor da Marine and Offshore Equipment Ind. (VDMA), Hauke Schlegel, o representante da Germany Trade and Invest (GTAI), Oliver Döhne, e o gerente geral e representante da Wintershall do Brasil, Gerhard Haase, coordenador do fórum da AHK na Rio Oil & Gas. O seminário contou ainda com a participação de Luis Fernando Mendonça, da Organização Nacional da Indústria do Petróleo (Onip), Ronaldo Martins, gerente

de desenvolvimento de mercado da Petrobras, e Franco Papini, vice-presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval). Tecnologia alemã no PIB brasileiro – Na abertura do evento, o cônsul-geral Harald Klein

falou sobre as mudanças que vêm acontecendo no Rio de Janeiro nos últimos dez anos, que reposicionam a imagem da cidade não apenas como um local de turismo e entretenimento, mas também como polo empresarial. E citou as diversas feiras e conferências internacionais realizadas na cidade, assim como a instalação de centros de pesquisas, que reforçam a posição do Rio como o principal centro de negócios do setor de óleo e gás.


“Todas essas mudanças abrem espaço para novos negócios e oportunidades para as pequenas e médias empresas do Brasil e da Alemanha”, observou o cônsul, enfatizando o desejo da Alemanha de oferecer suporte ao Brasil nestes setores em função do seu knowhow tecnológico. “Grandes projetos de investimento no futuro são um enorme desafio para o Brasil e uma boa oportunidade de negócio para empresas alemãs”, complementou Dirk Berg, do ministério de Economia e Energia da Alemanha, afirmando que Brasil está no foco do mundo, principalmente no setor offshore e de óleo & gás. “Com seu know-how em máquinas e equipamentos, tecnologia em usinas e em energias renováveis, as ​​empresas alemãs estão prontas para fornecer produtos e serviços com qualidade e inovação”, destacou Berg. “O Brasil é o mais importante parceiro comercial da Alemanha na América Latina, pois concentra a maior quantidade de companhias germânicas fora da Alemanha. O investimento alemão responde por 10% do PIB industrial brasileiro e ainda há muito espaço para crescer, especialmente na área de tecnologia”, concluiu. Todos foram unânimes em ressaltar a importância da participação alemã na indústria offshore e naval brasileira, assim como já acontece em outros setores. Ronaldo Martins, da Petrobras, destacou que as empresas alemãs podem contribuir bastante nos segmentos

de válvulas e conexões de precisão e sistemas de navegação. Desafios locais – O diretor da Marine and Offshore Equipment (VDMA), Hauke Schlegel, abriu o segundo painel apontando os principais desafios que as empresas alemãs esperam encontrar no mercado brasileiro. Dispor de informações confiáveis de mercado sobre o desenvolvimento real da construção naval brasileira e do mercado offshore, assim como sobre os requisitos de conteúdo local é um deles. “A informação é necessária para a tomada de decisão da empresa sobre o investimento e envolvimento neste mercado.” Outro desafio é a política de conteúdo local do Brasil. “Para as empresas de pequeno e médio porte é uma medida de protecionismo muitas vezes questionada na visão dos fornecedores internacionais e os clientes”, pontuou. “Também é difícil encontrar o parceiro certo para vendas, serviços e (se possível) para produção local de alta tecnologia em nível mundial – com respeito à qualidade, bem como os custos de produção”, finalizou.

Encerrando o segundo painel, os representantes das oito empresas alemãs apresentaram um portfólio de produtos e serviços voltados para a construção naval e offshore como: ancoragem, sistemas de lastro e iluminação. E também seus objetivos e desafios a enfrentar no mercado brasileiro. Participaram do evento Volker Domagala, da Duisburger Kettenfabrik, Michael von Baur, da Hoppe Marine, Luciana Queiroz, do KfW Ipex Bank, Thomas Peters, da Peters&Bey, Hans-Joachim von Wartenberg, da Rittal, Bernd Alfred Bromberg, da SSM, Stefan Schmersal, da Steute Schaltgeräte, Alexander Bauer, daWiska. Na avaliação de Hanno Erwes, CEO da Câmara, o cenário é promissor: “A meu ver, estamos conseguindo atrair cada vez mais o interesse da Alemanha para as oportunidades do segmento de óleo & gás e indústria naval, pois a Alemanha possui enorme potencial e tradição no setor de navipeças.”

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perfil profissional

O conteúdo nacional

humano

Integrante da primeira turma de ‘observadores geofísicos‘ da Petrobras, na década de 1960, Simplício Freitas não apenas acompanhou de perto a transição da mão de obra estrangeira da estatal para a nacional, como vivenciou a evolução tecnológica que tornou a petroleira líder em exploração de águas ultraprofundas. “Sou o conteúdo nacional de outrora!”, brinca Simplício, que estagiou com equipes norte-americanas na Bahia, Maranhão e Amazonas. Mais do que isso, um representante do capital humano formado dentro da Petrobras, uma vez que foi depois de entrar na estatal que ele decidiu cursar Economia. A experiência na petroleira levou-o também a, mais tarde, fazer mestrado em Ciências, Engenharia e Sistemas de Computação pela Coppe, da Universidade por Karolyna Gomes Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Fotos: Banco de Imagens TN Petróleo

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nicialmente responsável pela aquisição de dados sísmicos nas equipes, ele aprendeu a definir quais informações deveriam ou não ser readquiridas, e também a traçar novos rumos em seu percurso profissional, que hoje soma mais de 50 anos de atividades na geofísica, tendo comandado a gerência geral do Centro de Processamento de Dados de E&P da Petrobras, no Rio de Janeiro. A experiência de três décadas fez deste piauiense criado em Fortaleza mão de obra cobiçada no exterior. Tanto que, quando se aposentou, em 1990, continuou na lida, ficando sete anos em Houston (EUA), pela norte-americana Western Geophysical, que posteriormente se uniu à francesa Schlumberger. “Quando decidi fazer o concurso da Petrobras, a empresa era nova, e todos achavam uma maravilha”, conta Simplício Freitas, que não sabia ao certo o que era essa profissão de petroleiro, que escolhera aos 18 anos. O que chamou sua atenção foi a possibilidade de realizar um curso na Escola Técnica Nacional do Rio de Janeiro. “Estudávamos em tempo integral, oito horas por dia. Quando iniciamos o curso, eu e meus colegas pensávamos que iríamos passear e coisa e tal. Mas no final das contas não tínhamos tempo, pois levávamos trabalho para casa. Já naquela época a Petrobras era muito rígida, e segue assim até os dias de hoje. Só quem alcançasse a média... pelo que me lembro era a nota 7, seguia no curso”, recorda o geofísico. Tanto que, de uma turma de 30 alunos, apenas 16 se formaram. O curso oferecido tinha várias matérias programadas, entre elas sísmica – ou geofísica –, e isso possibilitou o desenvolvimento da habilidade dos estudantes visualizarem resultados e definirem diagnósticos. Ele lembra que na década de 1960, os equipamentos, hoje obsoletos, eram feitos com válvulas, exigindo manutenção constante e, consequentemente, conhecimentos de eletrônica e eletricidade. “O observador geofí-

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sico era a pessoa que operava esses instrumentos, na época o que havia de melhor no mundo. A Petrobras sempre utilizou tecnologia de ponta. Eu era o operador dos instrumentos e indicava se os resultados eram satisfatórios”, esclarece Simplício. Atualmente, o aparato tecnológico digital da petroleira permite captar imagens e coletar milhões de dados em camadas profundas do solo, como as localizadas abaixo da camada de sal (que podem ter até 2 km de espessura), a 7.000 m abaixo do nível do mar. “A geologia sabe que em alguns lugares existe grande possibilidade de haver petróleo. Então nós vamos tentar ‘ver ’ esses lugares, por meio das imagens captadas nas sísmicas 2D, 3D e 4D. Não dá para ser uma única imagem: são avaliadas centenas delas antes de uma equipe decidir furar um poço. É como uma tomografia. Hoje, a tecnologia é equivalente a uma ‘tomografia da terra’”, compara, para dar um exemplo.

Local de nascimento: Piauí Idade: 72 Hobby: Alguns. Entre eles ler, dançar tango, vinhos e desfrutar uma boa mesa Música: Muitas. Tenho cinco mil no iPod e coloco em aleatório. Clássica e popular. Livro: Muitos. Quase todos os clássicos. Reli Os Sertões. Atualmente estou lendo Histórias da vida privada. Dos autores mais recentes gosto do Eduardo Giannetti. Filme: São tantos. Lembro que assisti Girassóis da Rússia e Dr. Jivago mais de uma vez. Melhor lugar para descansar: Minha casa. Lendo e bebericando vinho. Casado: Uma vez só. Desde 1969. Filhos: Também um só. Dois netos!

Conteúdo nacional Sua fluência em inglês (desde os 14 anos) abriu grandes possibilidades na petroleira. Assim, acabou estagiando em equipes compostas por norte-americanos que, posteriormente, seriam substituídos pela mão de obra nacional. “O norte-americano sabia que eu estava ali para substituí-lo. Eu sou um conteúdo nacional de outrora!”, brinca. Durante sete anos atuou em missões onshore com grupos que realizaram levantamentos de dados geofísicos na Bahia, Maranhão e Amazonas. “Em 1961 fui para a Bahia. No final de 1962 fui designado para Barreirinhas e, a seguir, para a bacia do Amazonas. Acabei adoecendo de malária duas vezes. Lembro que saí do hospital com menos 22 quilos e fui beber umas cervejas. Na verdade, eu já devia estar morto”, ri

o geofísico, recordando que quase todos do grupo tiveram a doença. “Vi companheiros morrerem. A malária é infernal.” Simplício não só venceria sua batalha contra a doença, que ainda hoje aflige a região amazônica, mas viveria uma conquista pessoal inédita ao se tornar o primeiro observador sísmico brasileiro da equipe – cargo sempre ocupado por norte-americanos até então.

Primeiras experiências na costa Os levantamentos de dados sísmicos eram concentrados, na época, em terra firme, pois a tecnologia estava dando seus primeiros passos. Mas a aventura americana de explorar a região costeira acabou ganhando espaço também no Brasil. Tanto que logo no início de sua carreira, em

1961, Simplício zarpou para uma experiência no mar, no navio sísmico Texin. A embarcação havia recebido autorização especial para realizar levantamentos de dados na costa brasileira. A viagem, que o levou a Sergipe, Alagoas e Bahia, passando ainda pela foz do rio São Francisco, durou cerca de dois meses. “Era algo ainda muito incipiente, mas como já estava sendo feito nos Estados Unidos, a Petrobras decidiu tentar também”, recorda. Simplício integrou o grupo por ser o observador geofísico com melhor fluência em inglês. “Apenas duas pessoas falavam português no navio: o prático e eu. O objetivo dessa missão era levantar dados na costa, já que nesses estados já havia descobertas de petróleo onshore.” Bom observador, Simplício se destacava a cada novo desafio assumido. Em 1967, ele retornou ao Rio de Janeiro para estagiar no Centro de Processamento de Dados Sísmicos (CPD), ainda operado pelos norte-americanos. “Esse centro, com tecnologia analógica, ficava localizado na Avenida Rio Branco, 10, lembra ele. Cerca de um ano depois, surgiram os equipamentos digitais no mercado. “A companhia, obviamente, adquiriu um. Dr. Wagner Freire, Paulo Novaes, eu e alguns outros poucos fizemos essa transição”, explica, observando que a empresa sempre primou em buscar o que havia de melhor no mercado, enviando, muitas vezes, técnicos ao exterior. Ele lembra que as primeiras descobertas de petróleo no Brasil foram no final da década de 1930 e os primeiros computadores chegaram no final da década de 1950. Mesmo antes do advento do registro digital, os dados, então analógicos, já eram processados em um CPD no Rio de Janeiro contratado pela Petrobras. A mudança para os registros digitais, em 1968, foi imediatamente TN Petróleo 96

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perfil profissional

seguida pela instalação de um CPD para dados digitais na companhia – na época utilizando tecnologia da empresa americana Western Geophysical. “Explorar petróleo exige alta tecnologia. A sísmica offshore é, em todo o mundo, uma das aplicações que mais utilizam supercomputação”, observa o geofísico. Atualmente, a Petrobras possui sete CPDs especializados em sísmica. O principal deles está localizado no Rio de Janeiro, e os outros seis em Manaus (AM), Natal (RN), Aracaju (SE), Salvador (BA), Vitória (ES), Macaé (RJ).

recorda ele, dizendo que também tentou fazer um curso de Psicologia, porém sua esposa frustrou este plano. Na Petrobras, Simplício seguiu carreira. De analista, passou a ser chefe do setor de suporte, e, em 1985, assumiu a gerência do CPD – cargo que ocupou por cinco anos. “Resolvi me aposentar no final de 1990. Já estava com quase 50, e as regras da época me permitiram isso. Naquele ano a Petrobras lançou um Plano de Demissão Voluntária (PDV). Decidi me arriscar em outros caminhos”, revela o geofísico.

Vida renovada

Experiência internacional

Os anos 1960 seriam marcantes para Simplício. No final da década, ele conheceu aquela que viria a ser sua esposa Ana Maria, com quem é casado há 45 anos e tem um filho. “Quando fui sorteado no consórcio de um carro, decidi me tornar sócio do clube Olímpico, em Copacabana. Frequentava os bailes, dançava tango, bolero... Um belo dia conheci uma mineirinha de Além–Paraíba que estava no Rio para fazer um tratamento dentário. Começamos a namorar. Você não imagina o protocolo que tínhamos que seguir...”, conta sorrindo. Feliz em sua profissão e no amor, Simplício Freitas seguiu explorando suas habilidades. Em 1970 se formou em Economia, pela Faculdade Candido Mendes. Antes disso já programava computadores, o que o levou para a Coppe-UFRJ, onde fez mestrado em Engenharia e Sistemas de Computação. “Iniciei uma nova carreira na Petrobras, a de Analista de Processamentos de Dados.” E não parou por aí. Na década de 1980, ele foi professor na Sociedade de Ensino Superior e Assessoria Técnica (Sesat), atividade à que se dedicou por cerca de seis anos. “Mamãe costumava dizer que eu era hiperativo”,

Sempre cheio de energia, Simplício Freitas não encerraria sua carreira ao se aposentar. Depois de escrever um artigo sobre desempenho de programas de computador, para a revista norte-americana IBM Systems Journal, recebeu convites para atuar fora do país. Em 1991 daria um novo passo em sua carreira: mudou-se com a família para Houston, Texas, e lá ficou por sete anos, trabalhando para a Western Geophysical (mais tarde comprada pela Schlumberger). “Atuei na área de supercomputação ligada à então incipiente técnica de migração para objetivos abaixo da camada de sal no Golfo do México. A atividade estava diretamente em conexão com a área de pesquisa da empresa”, explica. A experiência possibilitou tanto o contato com a internet, no início daquela década, quanto presenciar uma revolução na exploração de petróleo na região. “Participei de muitas reuniões com consórcios de pesquisa da Western com Universidades americanas, para o desenvolvimento de novas metodologias de processamento de sísmica.” Em 1998, Simplício Freitas retorna ao Brasil, após sua sogra apresentar problemas de saúde.

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“Voltamos (ele e a família) para acompanhá-la por algum tempo até podermos retornar aos Estados Unidos. Minha sogra sobreviveu por mais 20 anos, e eu acabei não retornando para o exterior como previsto.” Prosseguindo os trabalhos com a Western, mas no Brasil, Simplício montou e inaugurou o primeiro Centro de Processamento de Dados Sísmicos no país para prestação de serviços para as empresas, após a abertura do mercado. O empreendimento era localizado na Praia de Botafogo, e composto por geofísicos e geólogos nacionais e do exterior. A empresa passou a oferecer serviços para as companhias que estavam se instalando no país. Em 2001 a empresa firmou uma joint venture com a Schlumberger, e passou a se chamar WesternGeco/Schlumberger. “Trabalhei ali até 2008. Depois disso passei a ser consultor. Ainda deu tempo de participar como coordenador do Grupo Temático de Processamento de Alto Desempenho no Livro Verde de Informação no Brasil, projeto do Ministério da Ciência e Tecnologia.” O documento tenta cobrir, de forma articulada e abrangente, todos os aspectos considerados relevantes para a Sociedade da Informação no Brasil, de P&D a aplicações, do setor governamental ao setor privado. Com mais de 50 anos de atividades na Geofísica, Simplício Freitas ainda está na ativa. Até agosto de 2015 ele ocupa o cargo de secretário-geral da Sociedade Brasileira de Geofísica no Brasil (SBGf). “Ainda tenho muita estrada pela frente. Sei que posso ajudar empresas em negociações com entidades governamentais, agências reguladoras, além de auditoria e consultoria no campo técnico, em contratos e de gestão. Conheço todas as etapas dos negócios de exploração, em especial sísmica”, conclui.


Ano 4 • nº 34 • julho de 2014 • www.tnsustentavel.com.br

Eficiência Energética • Comercialização de Energia • Legislação Ambiental • Reciclagem Editorial

Sustentabilidade moral Muito se fala hoje em sustentabilidade. Debate-se o que é e como ser, como ter e como fazer. Um dos nossos desafios desde o início desse caderno foi e continua sendo não trazer ou discutir conceitos, muitos deles já desgastados inclusive por uma total falta de sentido e contexto. Mas, ao invés disso, trazer exemplos que pudessem nos levar primeiro à reflexão e depois, sim, à ação. Na matéria principal trouxemos uma excelente oportunidade para esse exercício, mostrando como a comunicação pode ajudar as empresas a melhorar a forma como vêm se relacionando com os seus mais diversos públicos. O mau uso da comunicação e suas ferramentas alimenta em parte esse apagão moral que estamos vivendo e gerando um prejuízo enorme para os negócios e para a sociedade. Conveniente para uns e prejudicial para quem paga a conta no final. Empresas e marcas são e serão sempre sustentadas pela verdade sobre seus produtos e serviços e principalmente pelos benefícios que prestam aos consumidores e a sociedade motivo pelo qual entendemos que todos eles foram criados. Boa leitura, bom aprendizado e bons negócios! Lia Medeiros, diretora do Núcleo de Sustentabilidade da TN Petróleo

Sumário

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Uma nova comunicação corporativa: o desafio das marcas

Capacidade instalada de usinas eólicas ultrapassa 3GW

Braskem e GE fecham parceria

Debate

Eólica

Parceria

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suplemento especial

Debate

Uma nova comunicação corporativa:

o desafio das marcas As mudanças na comunicação e no comportamento das pessoas — hoje mais exigentes e mais conscientes — criaram para as empresas a necessidade de encontrar novas formas de se relacionar com seus públicos. por Mehane Albuquerque

Se em um passado recente as marcas se dirigiam aos consumidores seguindo a lógica da comunicação de massa, agora, em plena era das redes sociais e da mídia viral, elas devem “dialogar” com os públicos, ou seja, com uma gama de diferentes atores. As empresas, por sua vez, encaram o desafio de “regenerar” a comunicação corporativa e criar uma relação de credibilidade. Mas, o que precisam fazer, afinal, para acompanhar as mudanças e gerar confiança? Como a comunicação pode tornar as marcas mais sustentáveis? Essas e outras perguntas foram temas de debate em um evento sobre marcas sustentáveis realizado em abril, no Rio — o Sustainable Brands 2014. “Nós nos relacionamos com as marcas quase como se estivéssemos nos relacionando com outras pessoas. Entender isso é a chave para uma comunicação efetiva”, observou o mediador da sessão, Alejandro Piñedo, Managing Partner da Alma Mater e ex-diretor da Interbrand Brasil. “Antes, as empresas jogavam boliche com o público: uma única bola para derrubar vários pinos 50

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de uma vez. Hoje, elas precisam jogar frescobol: batendo a bola, olho no olho, numa relação bem mais íntima.” A metáfora foi lançada por Sharon Hess, líder de engajamento interno e branding da Edelman Significa. Além de Sharon, Elisa Prado (diretora de comunicação da Tetra Pak) e Carolina Romano (diretora de conteúdo e estratégia do portal As Boas Novas), participaram da discussão, que pontuou os desafios do discurso corporativo em um mundo sem fronteiras entre o digital e o real. Ceticismo público – Para Sharon Hess, a comunicação corporativa contempla um cenário complexo, marcado pela multiplicidade de atores e pelo que ela chama de “ceticismo do público”. “Nossas pesquisas mostram que, para que uma informação seja considerada relevante, as pessoas precisam recebê-la vinda de três a cinco fontes diferentes. Então, para criar uma narrativa relevante, é preciso estar em diversos canais ao mesmo tempo”, diz. O público, segundo Sharon, espera que as marcas estejam abertas para compartilhar informação e dialogar. E também espera que a comunicação das empresas seja feita de forma contínua e coerente. “A empresa que só se dirige ao público em momentos de crise,

ou que deixa de cumprir promessas feitas anteriormente, põe sua credibilidade em jogo. O canal tem que ser contínuo.” Seguindo a mesma linha de pensamento, Elisa Prado afirmou que hoje não é mais possível a uma empresa controlar totalmente sua imagem pública. “Agora o processo é de fora para dentro: a opinião que o público tem sobre a marca importa tanto quanto a ‘verdade’ oficial que a empresa tenta divulgar”, opina ela. “Ninguém mais dá bola para essa versão oficial. Se a empresa não atua de acordo com seus valores, independente do que tenta divulgar na mídia, a marca vai perder credibilidade.” Segundo Elisa, 80% das pessoas checam as marcas, seja com amigos ou pela internet. Sharon Hess vai mais longe quando afirma, citando o pensador espanhol Manuel Castells, que vivemos um momento inédito na história, em que todos se comunicam com todos, e transparência, nesse caso, é fundamental. “O que se comunica é muito importante, mas o que não se comunica às vezes é mais importante ainda”, observa Sharon. “A comunicação é o caminho para conquistar a confiança do público”, complementa.


“Mas por que regenerar a comunicação?”, pergunta. “Como fazer a marca gerar percepções positivas sobre sua identidade?” As respostas são muitas. Primeiro, é necessário dar conta da complexidade deste novo cenário, em que “todos falam com todos”. Segundo, as marcas precisam trazer relevância — valores, propostas, crenças e promessas relevantes para o público com quem ela quer conversar — e influenciar positivamente. “As marcas precisam ouvir mais do que falar. E ouvir com inteligência”, sugere. A conectividade é outro fator a ser considerado, segundo Sharon, pois “o que a empresa não comunica, alguém irá comunicar em seu lugar”, garante. “Credibilidade requer uma comunicação contínua e clara, as promessas precisam ser cumpridas, pois o cidadão — que há muito tempo deixou de ser apenas ‘consumidor’— cobra e é cético. A marca precisa se mostrar com clareza: sua essência, seu propósito, sua razão de existir. Sua identidade está expressa nas atitudes, causas, promessas cumpridas, engajamento, relevância, compromisso, coerência e verdade”, diz ela. Life Style Branding – Na opinião de Carolina Romano, diretora de conteúdo e estratégia do portal As Boas Novas, reconstruir uma reputação é muito mais difícil do que construir. Para ela, a “regeneração” pela qual a comunicação corporativa precisa passar está diretamente relacionada com o conceito de Life Style Branding. Ou seja, o discurso das marcas ganha em efetividade quando convida a pessoa a operar mudanças positivas em si mesma ou em seu ambiente.

Os CEOs, os do topo da hierarquia das empresas estão mais treinados para falar, do que para ouvir. Por outro lado, os cidadãos hoje acreditam mais no depoimento de pessoas comuns, no relato de um funcionário, do que nas palavras do CEO de uma grande empresa. Isso precisa ser levado em conta em um mundo conectado Carolina Romano, diretora de conteúdo e estratégia do portal As Boas Novas

“É um diálogo menos didático. Vemos que há um mercado enorme e crescente em iniciativas que estimulam a qualidade de vida”, conta. O conceito de Life Style Branding, segundo ela, é antigo e antes restrito ao mercado do esporte e do luxo, que incorporavam um modo de vida à marca. Aplicando o conceito a outras esferas, pode-se dizer que a sustentabilidade, nesse contexto, é um “life style”. “Antes, dizia-se que existem um mundo muito melhor, porém, caríssimo. Hoje dizemos que existe um mundo muito melhor, e ele é possível. O estilo de vida desejável está longe do ‘ter é mais do que ser’. Os cidadãos agora aspiram

coisas que vão além do ter, do luxo”, afirma Carolina. Ela conta que existem pontos importantes da comunicação baseada no Life Style Branding. Atitudes proativas, que chama de “ir além”, em primeiro lugar. E cita o caso da marca Unreal Candy, que revolucionou o mercado de doces nos Estados Unidos ao incorporar a ideia de que doces não necessariamente precisam ser vilões da alimentação, e podem fazer bem quando preparados sem açúcar e com ingredientes naturais e saudáveis. Outro ponto importante que destaca são os benefícios gerados. As marcas, de acordo com Carolina, podem incentivar movimentos sociais. É o caso Girl Rising, uma ação internacional de educação para mulheres de baixa renda em todo o mundo, que tem apoio de várias empresas e instituições. “Novas métricas também precisam ser pensadas. E transparência é a palavra de ordem. Relatórios de sustentabilidade que mentem estão com os dias contados”, garante a diretora de conteúdo e estratégia do portal As Boas Novas. “Os CEOs, os do topo da hierarquia das empresas estão mais treinados para falar do que para ouvir. Por outro lado, os cidadãos hoje acreditam mais no depoimento de pessoas comuns, no relato de um funcionário, do que nas palavras do CEO de uma grande empresa. Isso precisa ser levado em conta em um mundo conectado”, opina Carolina, para quem a qualidade de vida e a felicidade são fatores que não podem ser mais desprezados. “A gente veste a camisa da empresa, se ficar bonita na gente”, diz, resumindo o espírito que deve permear as novas relações entre as marcas e seus públicos, daqui para a frente. TN Petróleo 96

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capacidade instalada para a geração de energia eólica no Brasil cresceu 52,2%, ou 1.138 MW, no acumulado de 2014. Os dados constam no último Boletim das Usinas Eólicas, divulgado mensalmente pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). Somente entre março e abril desse ano o acréscimo foi de 20,3%, ou 561 MW, o que levou a capacidade do conjunto de usinas da fonte a 3.319 MW. O documento mostra que em abril 18 novos empreendimentos eólicos entraram em operação, todos no Nordeste. Com isso, o país passou a somar 130 usinas em funcionamento, um complexo que gerou 734 MW médios em energia elétrica no mês. O volume é 53% superior ao registrado em abril do ano passado e corresponde a um fator de capacidade médio de 22%, o que coloca o Brasil em patamar equivalente ao de países com grande capacidade instalada para a geração dos ventos, como a China (18%) e a Alemanha (19%). O crescimento em abril foi motivado, sobretudo, pela entrada de usinas do 2° Leilão de Energia de Reserva (LER) e de usinas com entrega no Ambiente de Contratação Livre (ACL). Além disso, foi registrado aumento de capacidade em operação comercial de usinas existentes e entrada de novas usinas do 2°Leilão de Fontes Alternativas e do 12° Leilão de Energia Nova. Da média total gerada no período, 137,3 MW médios (ou 19%) são provenientes de 27 usinas

Foto: Depositphotos

Capacidade instalada de usinas eólicas ultrapassa 3GW

com atuação exclusiva no mercado livre de energia. O crescimento da geração nesse ambiente, em relação ao montante de energia alocado em abril de 2013 (70,9 MW médios), foi de 95%, enquanto a capacidade instalada teve aumento de 87% em abril de 2014 frente a abril de 2013. Já a geração das usinas eólicas contratadas pelo Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa) em abril de 2014 foi de 190 MW médios, o que representa 26% do total da geração eólica do país. Na comparação com abril de 2013, houve redução de 4,4% no montante gerado por esses parques. Destaques – O boletim da CCEE revela que os estados com maior participação na geração média de energia eólica nos últimos 13 meses são: Ceará (236 MW médios, ou 32% do total do país), Rio Grande do Norte (157 MW

médios, 21%), Rio Grande do Sul (149 MW médios, 20%), Bahia (98 MW médios, 13%) e Santa Catarina (54 MW médios, 7%). Juntas, essas localidades totalizaram 94% do total gerado pela fonte no Brasil dentro do período. Submercados – Em abril de 2014, com a entrada das novas usinas, o Nordeste atingiu a marca de 96 parques e 2.460 MW em capacidade, ou 74,1% da potência instalada – um salto de 69,6% em relação a dezembro de 2013. A região concentra a maior participação na geração eólica do país, com 69,9% do total. No Sul, foi registrada capacidade de 832 MW (25% do total), com crescimento de 18,4% em relação ao final do ano passado, enquanto que o submercado Sudeste apresentou uma única usina, com capacidade de 28 MW, sem acréscimo de potência ao longo do período.

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Braskem e GE fecham parceria

Foto: Divulgação

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a busca contínua por inovação e melhoria de processos, a Braskem fechou uma parceria com a GE Water & Process Technologies para atualizar seus processos hídricos nas instalações da unidade localizada em Mauá (SP). Por meio do projeto, a petroquímica contará com uma frota móvel, dentro de um contêiner, para o desenvolvimento e utilização de novo sistema de tratamento de água em sua unidade de polipropileno. Por meio da tecnologia de osmose reversa, a qual possibilita a produção de água com baixa concentração de sais dissolvidos, o polimento da água desmineralizada ocorrerá de forma mais segura, rápida e confiável. “Trabalhar de forma sustentável foi uma decisão que tomamos há mais de dez anos e faz parte do centro da missão estratégica da Braskem. A parceria com a GE na aplicação do skid de osmose reversa trará grandes benefícios à Braskem, uma vez que o sistema

antigo demandava trabalho operacional e utilização de soda cáustica e ácido clorídrico. Agora, será possível otimizar processos e reduzir o consumo de produtos químicos”, afirma o gerente industrial da unidade de polipropileno da Braskem, Pedro Boscolo. Parceira da petroquímica há mais de dez anos, a GE Water & Process Technologies também realiza o tratamento das torres de

resfriamento e sistemas fechados de água da Braskem. “A GE Mobile Water garante uma produção sem paradas ou atrasos em operações fabris de diversos segmentos, de forma a evitar prejuízos financeiros e atender às demandas mais urgentes em osmose reversa e tratamento móvel de água”, complementa Massimiliano Santavicca, diretor Comercial da GE Water para a América Latina.

Resíduos sólidos geram negócios lucrativos para cooperativas

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mercado internacional está de olho nos resíduos produzidos pelas cooperativas brasileiras. Um exemplo de sucesso está no setor eletrônico. A Coopermiti – Cooperativa de Trabalho, Produção e Reciclagem de Resíduos Sólidos Eletroeletrônicos – desenvolveu um projeto específico para atender um cliente do Japão com a exportação de placas lógicas. Segundo a coordenadora de marketing da cooperativa, Cintia de Cassia Ferreira Pereira, são exportadas cerca de 3 toneladas por mês de placas lógicas para o Japão. “Não temos tecnologia no país para retirar os materiais nobres e raros desse produto”, esclarece.

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A demanda por esse material deve crescer nos próximos anos devido ao aumento do uso de computadores pela população. “Temos capacidade para processar 100 toneladas por mês de resíduo eletrônico em um turno”, afirma. Desde 2012, a parceria com a empresa japonesa incluiu ainda a capacitação dos cooperados. A Federação Paulista de Cooperativas de Reciclagem (Fepacoore) também busca clientes interessados em vários materiais reciclados. Jair do Amaral, diretor presidente da instituição, explica que a instituição desenvolveu estudos para avaliar o volume mensal de resíduos das cooperativas com potencial para

exportação. “Identificamos quais os materiais com melhores condições para exportação”, explica. Segundo ele, entre 20 e 30 cooperativas têm condições de exportar cerca de 10 toneladas por mês de material reciclável. O diretor evitou apontar quais resíduos deverão ser exportados até concluir as negociações com as empresas interessadas. “É um projeto que deve ser concluído no segundo semestre”, explica. Amaral afirma que é grande a demanda por diversos resíduos nos mercados europeu, americano e chinês. “O mercado externo pode pagar melhor por esses resíduos e assim podemos melhorar o rendimento dos cooperados”, conclui.


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suplemento especial

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Siemens está produzindo a maior turbina já fabricada no Brasil para o setor sucroalcooleiro. O equipamento é o primeiro projeto de turbina a vapor para o setor de açúcar e etanol, terá 73,4 MW de potência, e fará parte da expansão de uma das principais plantas da Usina Delta, em Minas Gerais, que terá capacidade de geração total de 376.503 MWh/ano – quantidade suficiente para abastecer mais de 200 mil residências por ano. A SST600 está em fase de produção no complexo industrial de Jundiaí (SP) e deve entrar em operação no fim de 2015. O projeto visa a otimização da usina de açúcar e álcool a fim de maximizar a geração de energia durante os períodos de safra e entressafra, por meio da implementação do ciclo

Foto: Divulgação

Siemens fabrica primeira turbina a vapor para setor sucroalcooleiro

regenerativo. Esta solução influencia positivamente no rendimento da operação, contribuindo para a geração adicional de energia. Assim, a Delta terá capacidade para suprir a necessidade de consumo interno, e comercializar os excedentes para o Sistema Integrado Nacional (SIN).

“Participar de projetos de expansão como o da Usina Delta reforça a capacitação da Siemens em oferecer soluções aos nossos clientes e, cada vez mais, reafirma nossa posição como um dos principais fornecedores e prestadores de serviços no mercado de energia a vapor no mundo”, afirma o engenheiro de vendas da Siemens no Brasil, Lucas Tadeo Monteiro. Neste contrato, a Siemens já prestou assessoria à usina, no balanço de vapor e energia, garantindo confiabilidade e desempenho do equipamento. A primeira turbina a vapor do setor, que dispensa uso do redutor de velocidade, apresentará, também, uma inovação na forma de instalação outdoor (ao tempo), reduzindo em muito os gastos com obras civis.

Inédito: Empresa brasileira de consultoria concorre a prêmio internacional

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Prêmio Internacional Constantinus tem origem austríaca e é uma iniciativa do Conselho Internacional dos Institutos de Consultoria de Gestão (ICMCI). O evento tem grande relevância no meio e se tornou uma referência de qualidade para as empresas especializadas em consultoria. Este ano, pela primeira vez, o Instituto Brasileiro dos Consultores de Organização (IBCO) será representado durante a cerimônia na Coreia do Sul. A empresa selecionada para cumprir esse papel é a PM Analysis. Com mais de 15 anos de experiência no mercado, a PM Analysis presta assessoria e treinamento nas áreas de gestão da qualidade, saúde e segurança, meio ambiente e responsabilidade social. Nos últimos anos expandiu a sua atuação em vários países, dentre eles: Austrália, Canadá, Moçambique, Omã e Peru. Para concorrer ao Prêmio Internacional Constantinus, a empresa apresentou um projeto sobre a gestão de

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risco ambiental que foi desenvolvido com um de seus clientes. O Consultor de Gestão Certificado (CMC) e diretor da PM Analysis, Flávio Oliveira, revela que fez uma avaliação dos trabalhos consagrados nos anos anteriores e é possível competir em igualdade com os outros países. “Temos know-how e vasta experiência em trabalhos internacionais. Sentimo-nos orgulhosos deste pioneirismo, de poder representar o país e participar de um evento tão importante como esse, que reúne diversas empresas em um mesmo ambiente. Além disso, é uma oportunidade de termos o reconhecimento internacional dos nossos projetos”, diz. Oliveira ainda ressalta que o Brasil nunca esteve tão evidente para o mundo, devido aos grandes

eventos esportivos que sediará nos próximos dois anos. “O ambiente de negócios brasileiro também passa por uma perceptível internacionalização, em virtude do grande fluxo de investimento estrangeiro e pela expansão das companhias brasileiras. Isso contribui para as empresas de consultoria, especialmente aquelas de tamanho pequeno ou médio, aumentando a capacidade técnica e o intercâmbio com outros mercados.” O júri será composto por especialistas internacionais na área de consultoria de gestão. Conforme os critérios estabelecidos, os principais aspectos que serão julgados são: desempenho comercial, desenvolvimento de melhorias na empresa, eficiência, qualidade de serviços de consultoria e os efeitos sobre a economia regional e nacional. A cerimônia de premiação acontecerá durante o Congresso do ICMCI em Seul, na Coreia do Sul. A solenidade está agendada para o final de setembro de 2014


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gigante chinesa BYD Company Limited – especializada em baterias, veículos híbridos e elétricos e novas energias – anunciou que investirá R$ 200 milhões na sua primeira unidade produtiva na América Latina. A fábrica ficará localizada no município de Campinas, interior de São Paulo, e também abrigará um Centro de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) de produtos. O projeto, que conta com o apoio da Investe São Paulo, agência do Governo do Estado responsável pela atração de empresas, foi anunciado durante o evento de assinatura de protocolo de intenções entre a BYD e a prefeitura de Campinas, realizado no dia 14 de julho. “Em fevereiro deste ano visitei a empresa na China e pude verificar a tecnologia de ponta ali aplicada e a qualidade dos produtos. A chegada da BYD a Campinas reforça o papel de São Paulo de estar sempre na vanguarda de novas tecnologias”, destaca o presidente da Investe São Paulo, Luciano Almeida. Após a instalação de escritório em São Paulo e bem-sucedidos

Foto: Divulgação

Chinesa BYD instalará fábrica e centro de pesquisas em Campinas

testes em muitas cidades brasileiras com ônibus elétricos, Campinas foi a cidade escolhida pela BYD para iniciar o seu projeto de expansão no mercado brasileiro e no Mercosul. A unidade contará com 450 postos de trabalho, será responsável pela montagem de ônibus elétricos, de baterias de fosfato de ferro, e abrigará a montagem de painéis solares. O Centro de P&D da empresa no Brasil será focado em estudos e tecnologias para

veículos elétricos, baterias, smart grid, energia solar e iluminação. Serão 32 mil m2 de área, sendo 20 mil m2 de área construída. “A planta industrial terá capacidade de produção de 500 a mil unidades de ônibus e baterias quando alcançar sua plena operação”, revela o presidente da BYD Brasil, Tyler Li. “Temos ainda interesse da empresa em fabricar células de baterias e chassis para ônibus elétricos no Brasil em futuro próximo.” De acordo com o presidente mundial da empresa, Wang Chuanfu, a BYD decidiu se instalar em Campinas ao perceber que a cidade era líder em inovação e desenvolvimento de tecnologias limpas. Considerada uma das empresas mais inovadoras do mundo, a BYD vai trazer a tecnologia de baterias de ferro e dos ônibus elétricos ao Brasil. A empresa sonha também com o desenvolvimento da energia solar para gerar energia limpa e barata, e também soluções fora da rede (off grid – a BYD dispõe de sistemas de geração descentralizada com painéis solares, baterias de ferro e iluminação LED).

BNDES e KfW assinam acordo para apoiar eólicas O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o banco alemão KfW assinaram no dia 21 de julho, em Berlim, um contrato de empréstimo no valor de US$ 335 milhões. Os recursos, captados pelo banco brasileiro, serão utilizados no financiamento de projetos de usinas eólicas a serem implantadas no Brasil, por empresas brasileiras. A operação é a maior já feita pelo Banco de Desenvolvimento Alemão no Brasil. O contrato foi assinado pelo presidente do BNDES, Luciano Coutinho, e por Norbert Kloppenburg, membro do Conselho de Administração do KfW.

O empréstimo contribuirá para atender à demanda crescente no Brasil por financiamentos de projetos destinados à geração de energia a partir de fontes alternativas, auxiliando na diversificação da matriz energética brasileira. O programa inclui contrapartida em igual valor e deve atender à demanda por energia de cerca de 3 milhões de consumidores brasileiros. Com essa operação, BNDES e KfW dão continuidade à série de recentes cooperações financeiras que têm como objetivo a mitigação das alterações climáticas através do

apoio a projetos de energias renováveis. A primeira operação para apoio a usinas eólicas, nos mesmos moldes da recém-contratada, foi celebrada em 2009. O contrato, de US$ 136 milhões, forneceu recursos utilizados no apoio a quatro projetos, com capacidade instalada total de 119,65 MW e investimentos da ordem de R$ 685 milhões. A última captação de recursos do BNDES junto ao banco alemão havia sido realizada em 2010, no valor de US$ 68,4 milhões, e teve como objetivo o apoio a projetos de implantação de pequenas centrais hidrelétricas no Brasil. TN Petróleo 96

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pessoas

O presidente da Tuper – quarta maior processadora de aço do país –, Frank Bollmann, foi condecorado com a mais alta comenda do setor industrial no Brasil, a Ordem do Mérito Industrial, concedida pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), durante o encerramento da Jornada Inovação e Competitividade da Indústria Catarinense, realizado no dia 27 de junho, na sede da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc), em Florianópolis (SC). Em 2007, Bollmann já tinha conquistado reconhecimento por sua atuação empresarial. Na época, o industrial foi o primeiro empresário do Planalto Norte a receber a Ordem do Mérito Industrial de Santa Catarina, concedida pela Fiesc. Formado em Engenharia Mecânica, Bollmann seguiu os passos do pai, Ornith Bollmann, no empreendedorismo, e começou cedo a se dedicar aos negócios. Ainda jovem, participou do surgimento da Metalúrgica Sicap, fabricante de escapamentos. A empresa ganhou força e em 2008 adquiriu a concorrente Vanzin, de Xanxerê, fato esse que consolidou sua liderança nacional no mercado de reposição. Essa foi a primeira unidade de negócios do complexo industrial da Tuper, que sob a liderança de Frank Bollmann é hoje uma das mais relevantes empresas brasilei-

Foto: Divulgação

Frank Bollmann recebe Ordem do Mérito Industrial da CNI

ras no segmento de aço. Em 2013, faturou R$ 1,565 bilhão. Aliando realismo e visão de futuro, o empresário tem conduzido os negócios com competência, tornando a empresa uma referência em Santa Catarina e no Brasil. Como empreendedor, Frank Bollmann também atua na geração de energia: há cinco anos inaugurou a primeira Usina de Energia para a geração de 2,4 MW – recentemente entrou em operação a segunda unidade, com potencial para gerar 0,4 MW. Outro empreendimento é o Complexo Hidrelétrico Rio Vermelho/Rio Natal, englobando a construção de sete Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs). Juntas, as PCHs irão gerar 26,8 MW, o

suficiente para abastecer 30 mil unidades consumidoras – o equivalente a uma cidade de 120 mil habitantes. A meta do empreendedor Frank Bollmann é que em julho de 2015 a primeira PCH já possa gerar energia. Além dos negócios, o empresário também marca presença no meio político, social e comunitário. A trajetória na vida pública ficou registrada por sua atuação como prefeito de São Bento do Sul no período de 1992 a 1996. Contribuiu decisivamente com a Associação Empresarial de São Bento do Sul, sendo presidente na gestão 1991/1992, e com o Clube de Dirigentes Industriais. Participou da Fetep (Fundação de Ensino, Tecnologia e Pesquisa), onde integrou o Conselho Curador, e foi presidente da Sociesbs/Escola Técnica Tupy de São Bento do Sul por dois mandatos. É o atual presidente da Promosul/Fundação Promotora de Eventos e foi fundador e primeiro presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e Material Elétrico de São Bento do Sul, em março de 1991. Presidiu a entidade também no triênio 2009-2012, sendo o atual presidente, contemplando o triênio 2012-2015, além de já ter sido presidente da Amunesc (Associação de Municípios do Nordeste de Santa Catarina).

Thomas Reineke assume o cargo de vice-presidente de Recursos Humanos da Basf SA, em São Paulo. Ele sucede a Wagner Brunini, que se aposentou após 29 anos na empresa. Reineke ocupava o cargo de gerente de Departamento de Recursos Humanos para Tintas, Químicos para Construção e Produtos de Performance, em São Bernardo do Campo (SP). O executivo tem doutorado em Direito pela Universidade de Freiburg, na Alemanha, e trabalha na 58

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Foto: Amanaje.Fotografia

RH da Basf tem novo vice-presidente para a América do Sul

Basf há dez anos. Após cinco anos no departamento de Direito Trabalhista na sede da empresa em Ludwi-

gshafen, na Alemanha, ele veio para a Basf SA como gerente de Recursos Humanos, em 2009. As vendas da Basf na América do Sul totalizaram, aproximadamente, 4,2 bilhões de libras em 2013. Esse resultado abrange os negócios realizados pelas empresas do grupo na região, incluindo a Wintershall, sediada na Argentina, voltada para a produção de petróleo e gás. Na região, a Basf contava com mais de seis mil colaboradores até o final do ano passado.


Pela primeira vez uma engenheira brasileira vai receber o prêmio máximo da Sociedade dos Engenheiros do Petróleo (Society of Petroleum Engineers/SPE). A presidente da Petrobras, Graça Foster, foi a escolhida para ser homenageada com o Distinguished Lifetime Achievement Award 2014, concedido a profissionais que deram uma contribuição excepcional para a indústria mundial de petróleo e gás. O prêmio será entregue durante o encontro anual da organização, SPE Annual Technical Conference and Exhibition 2014, no dia 28 de outubro, em Amsterdã, Holanda. Este prêmio, o de maior destaque dentre outros a serem entregues no encontro, visa a homenagear o profissional do ano pelo conjunto de contribuições e reconhecer a dedicação excepcional de tempo, esforço, propostas

Foto: Agência Petrobras

SPE homenageia Graça Foster

e ações em prol da indústria de petróleo e gás. Maria das Graças Silva Foster é graduada em Engenharia Química pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Está há 33 anos no quadro de profissionais de carreira da companhia. Desde 13 de fevereiro de 2012, exerce as funções de pre-

sidente da Petrobras, acumulando também, desde 23 de julho daquele mesmo ano, a função de diretora da Área Internacional. Foi diretora da Área de Negócio de Gás e Energia da Petrobras, no período de setembro de 2007 a fevereiro de 2012. De maio de 2006 a setembro de 2007, exerceu a função de presidente da Petrobras Distribuidora, tendo acumulado com a função de diretora Financeira da empresa. Ao longo de sua carreira técnica atuou nas atividades de engenharia de poços de petróleo. A SPE é a maior organização profissional do mundo voltada para o segmento de Exploração & Produção da indústria de petróleo e gás, com cerca de 123 mil membros de 135 países. Fundada em 1957, a Sociedade de Engenheiros de Petróleo possui 190 seções pelo mundo e três no Brasil: Seção Brasil, Seção Macaé e Seção Bahia.

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pessoas

Aos 24 anos, Jean Guilherme Konell trilhou uma trajetória rápida de crescimento dentro da Raumak, empresa especializada em acondicionamento e movimentação de produtos, assumindo a vice-presidência da Raumak North America, primeira filial da empresa no exterior, que investiu U$ 1 milhão em operações na sede em Atlanta (EUA). Formado em Tecnologia Mecânica, Jean começou na empresa atuando na área de montagem de máquinas e, graças aos seus conhecimentos em desenho, logo estava atuando no departamento de engenharia. Passados cinco anos, ele acabou migrando da área técnica para a comercial e as exportações foram ganhando volume, abrangendo, hoje, mais de 35 países – numa carteira de clientes que inclui multinacionais dos segmentos de alimentação, farmacêutico, cosmético e químico. “Meus últimos dois anos trabalhando em exportação segura-

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Foto: Divulgação

Raumak North America tem nova vice-presidência

mente foram nos que mais cresci profissional e pessoalmente, pois tive contato com cerca de 15 diferentes países e culturas”, conta Jean, sobre sua atuação na Raumak Export. “Agora, o novo desafio é estar à frente da abertura da operação e da consolidação da marca Raumak na América do Norte”, completa, ressaltando que o mercado norte-americano é

o maior do mundo, dentro deste segmento. Natural de Jaraguá do Sul (SC), sede da Raumak, Jean ressalta que a empresa lhe concedeu o devido tempo para se preparar para o desafio de ir morar no exterior e assumir a responsabilidade à frente da Raumak North America, executando o objetivo de tornar este mercado uma referência no exterior para a empresa, que já atende clientes norte-americanos desde 2003. Ao analisar os motivos que levaram à sua rápida ascensão dentro da Raumak, o jovem executivo aponta o senso de oportunidade, aliado ao “preparo profissional, a humildade e a vontade de fazer acontecer no novo desafio”, explica. Também contou a favor de Jean o prazer pessoal que ele tem em socializar com pessoas de diferentes culturas, característica que se reflete profissionalmente em uma motivação genuína para dialogar e fazer negócios.


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produtos e serviços

PGS

Uma nova tecnologia está sendo elaborada para inovar a forma de aquisição de dados sísmicos marinhos, e gerar melhorias significativas no imageamento da subsuperfície. A BG Brasil, o Senai Cimatec (Centro Integrado de Manufatura e Tecnologia) da Bahia e a norueguesa Petroleum Geo-Services assinaram um acordo de cooperação tecnológica para, juntos, desenvolverem o projeto Surdo. A intenção é produzir um equipamento capaz de gerar ondas acústicas no ambiente marinho de maneira inovadora. A tecnologia, que leva o nome do tambor de percussão que gera um som bastante grave, vai gerar dados complementares para a metodologia de Inversão de Onda Completa (Full Waveform Inversion, em inglês), que está sendo aprimorada com o uso de um supercomputador – outro projeto em desenvolvimento pela BG Brasil e o Senai Cimatec, junto a um grupo de parceiros. “O Surdo poderá revolucionar a aquisição e processamento de dados sísmicos, o que resultaria em uma melhoria significativa no imageamento da subsuperfície. Desta forma, esperamos observar uma redução dos riscos exploratórios, e uma melhor caracterização de reservatórios em produção”, afirma o CEO da BG América do Sul, Nelson Silva. O executivo explica que, com uma banda de frequências mais abrangente é possível obter informações verticais e espaciais mais confiáveis, o que influencia de modo drástico o resultado das interpretações e análises qua-

Foto: Divulgação PGS

Sísmica ganha parceria de peso

litativas e quantitativas – como o entendimento da compartimentalização do reservatório e a predição de fluidos. Uma maior confiança na fase de caracterização dos reservatórios poderá gerar um aperfeiçoamento do plano de produção destes, o que tende a aumentar e otimizar a produtividade dos campos. “As técnicas de aquisição sísmicas utilizadas atualmente são limitadas quanto à frequência das ondas sonoras, o que restringe a resolução final das imagens sísmicas”, complementa. O projeto será desenvolvido em Salvador (BA), nas instalações do Senai Cimatec, a um custo total de R$ 26 milhões – incluindo o financiamento adicional do projeto piloto da Empresa Brasileira para Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii). A BG Brasil contribuirá com R$ 8 milhões.

O desenvolvimento do projeto se dará em três etapas: a primeira será o desenho e construção de um protótipo do equipamento em escala reduzida, para teste do conceito; a segunda, desenvolvimento do protótipo em escala real e testes preliminares; e a terceira, a realização de testes de campo no Brasil, que acontecerá caso as duas primeiras etapas sejam bem-sucedidas. A expectativa é de que, no futuro, o equipamento possa ser manufaturado e comercializado no país. “Os desafios técnicos e operacionais do Surdo vão ao encontro da proposta de inovação colocada pela Embrapii, aproximando a academia da indústria. O Senai acredita neste modelo novo de financiamento em P&D e irá realizar os esforços necessários para o sucesso deste projeto junto com o BG Group e a PGS”, pondera o diretor Regional do Senai-BA, Leone Peter Correia da Silva Andrade.

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Apply Sørco

O fluxo de informações é vital para a eficiência e segurança operacional de grandes empreendimentos. Atenta às novas tecnologias, a Apply Sørco, empresa norueguesa de engenharia multidisciplinar e empreiteira do setor de petróleo e gás, implementou o IFS Applications™, software de gestão empresarial da companhia global IFS. Entre os benefícios estão a melhoria da qualidade de dados, projeto mais eficiente, gestão de recursos e riscos, bem como a complexidade reduzida no ambiente de TI da empresa. Segundo a Apply Sørco, a implementação aconteceu dentro do prazo de 13 meses e o IFS Applications está funcionando para cerca de 900 usuários, com projetos sendo gerenciados em nível mundial. A solução IFS substituiu grande número de sistemas legados independentes para oferecer controle integrado e em tempo real de processos, tais como engenharia, construção, gerenciamento de projetos, cadeia de suprimentos, HSEQ (Health, Safety, Environment and Quality Affairs), Finanças e RH. “Essa é uma iniciativa estratégica para garantir a execução de projetos mais eficientes através da nossa cadeia de valores. Crescemos substancialmente nos últimos anos, o que significa que

Foto: Cortesia Statoil

Software de gestão IFS Applications

estamos gerenciando projetos cada vez maiores e mais complexos”, afirma o vice-presidente sênior da Apply Sørco, Tove Tyberø, que assegura que a tecnologia permitirá manter o crescimento, além de sustentar a entrega de projetos no prazo, com qualidade e eficiência. “Acumulamos robusta experiência a cada novo projeto implementado na indústria de petróleo e gás, e isso se reflete em nossa agilidade de

implantação e na solução IFS em si. Estamos certos de que a Apply Sørco continuará a se beneficiar da agilidade e escalabilidade do IFS Applications e esperamos poder dar continuidade a esta colaboração”, disse o CEO da IFS Escandinávia, Glenn Arnesen.

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produtos e serviços

Ametek

A Ametek Test & Calibration Instruments, unidade da Ametek, Inc. – uma mas maiores produtoras globais de instrumentos eletrônicos e aparelhos eletromecânicos, com US$ 3,6 bilhões em vendas anuais – lançou no mercado o calibrador Jofra ASC-400. A tecnologia tem multifunção e é portátil, com aplicação para os setores de óleo e gás, geração de energia, metalurgia, hidráulica, entre outros. O instrumento atende às necessidades de calibração de sensores e transmissores modernos para várias funções de controle de processo, engenharia de sistemas e manutenção. O equipamento permite o controle de todas as funções a partir da tela principal, o que oferece maior facilidade de utilização. Sua interface intuitiva permite que os técnicos utilizem até 11 funções diferentes

Foto: Divulgação

Novo calibrador para o setor de óleo e gás

sem consultar a documentação. A tela tem todas as cores e contraste elevado, e o teclado numérico é completo. A precisão é de laboratório para calibração em campo, monitoramento de processo e funções de manutenção. É compacto o suficiente para ser guardado em uma caixa de ferramentas e pode ser operado com apenas uma das mãos. Entre suas capacidades está a captação de sinais de mA, V, transmissores pulsantes, pressão

e temperatura com indicação simultânea do aparelho testado. O calibrador realiza com facilidade funções que poupam tempo, como teste de chaveamento automático, teste de vazamento, ampliação e cálculo de erro percentual em linha. Conduz simulação RTD com rapidez, trabalha com transmissores pulsantes e PLC, podendo ser utilizado como termômetro de alta precisão. Quando combinado com os novos módulos de pressão da Série CPF da Ametek Crystal Engineering, o ASC-400 torna-se um genuíno calibrador de pressão; alcança precisões de até 0,025% de leitura sem influência de temperaturas na faixa de -10°C a 50°C. O ASC-400 também oferece entrada e saída simultâneas, o que possibilita a calibração e o ajuste de um transmissor sem equipamentos adicionais.

EagleBurgmann

A EagleBurgmann, empresa especializada em soluções de vedação para equipamentos rotativos, trouxe para o mercado sul-americano o BP Sea, um selo com design inovador que protege rolamentos e mantém a lubrificação do mancal. A tecnologia pode ser usada em aplicações comuns, como bombas centrífugas, turbinas a vapor, motores, multiplicadores (redutores), misturadores, ventiladores e sopradores. O BP Seal possui duas câmaras verticais internas, alinhadas, que

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Foto: Divulgação

EagleBurgmann lança novo selo mecânico

garantem proteção mais efetiva ao mancal. E, segundo o diretor-geral da companhia na América do Sul, Benito De Domenico Jr., uma das

suas principais inovações tecnológicas é o fato de este selo eliminar o problema da obstrução dos O’rings dinâmicos (anéis de vedação) por meio de um processo de selagem que ocorre sem contato com os dois O’rings estáticos internos. Outro diferencial do BP Seal é a capacidade de direcionar e expulsar um alto volume de contaminantes de forma mais eficiente, prolongando, assim, a vida útil do mancal. “O produto conta com o Retorno Angular de Óleo, um fator que auxilia nas atividades dos mancais e facilita o trabalho ao oferecer mais capacidade volumétrica de fluxo de retorno sem deixar vazar o óleo”, completa De Domenico.


GE

A GE Oil & Gas lançou no mercado a nova geração de blowout preventer (BOP) submarino que suportará 20 kpsi de pressão. O BOP é uma peça essencial para os equipamentos de perfuração e intervenção submarina – é uma válvula de segurança de 60 m de altura que pesa várias toneladas, projetada para conter a pressão em poços de petróleo e gás durante as operações de perfuração e intervenções. Os BOPs submarinos da GE estavam classificados para 15 kpsi, criando assim uma demanda da indústria por uma nova geração do equipamento com a capacidade de acessar os reservatórios mais desafiadores. A empresa recebeu o primeiro pedido das empresas de perfuração Maersk Drilling e BP como parte do programa 20K™ Rigs, que visa desenvolver tecnologias de nova geração de perfuração que serão essenciais para suportar a próxima fronteira para a exploração de petróleo e gás em águas profundas. O BOP será instalado em Copenhague, na Dinamarca, e entrará em operação em 2018. A ordem de pedido de BOP 20 kpsi foi a primeira no mundo e o equipamento será uma peça fundamental para auxiliar de forma segura na exploração de águas ultraprofundas antes nunca exploradas. “O novo BOP permitirá às empresas de perfu-

Foto: Divulgação

GE lança BOP com 20 kpsi de pressão

ração atuar em águas profundas que atualmente são inacessíveis com os sistemas convencionais de 15 kpsi”, disse o presidente e CEO de Drilling & Surface da GE Oil & Gas, Andrew Way. Ele explica que o novo sistema utiliza as mais recentes soluções de software de comunicação que possibilitam o monitoramento em tempo real do status e desempenho do equipamento, oferecendo, assim, novos graus de confiabilidade. Inovação – Os BOPs 20 kpsi serão fabricados na GE Oil & Gas Drilling Systems em Houston (EUA), com o apoio técnico dos centros de excelência espalhados por todo o mundo.

Esse projeto combina anos de experiência com uma série de novas tecnologias de Internet Industrial. As principais características do novo sistema BOP 20 kpsi incluem: • O GE Ram e o Annular BOPs atualizados foram projetados para demandas específicas para conter a alta pressão dos reservatórios. • O sistema de controle GE SeaONYX™ BOP foi projetado para maximizar o tempo de operação do sistema. • O software SeaLytics™ BOP Advisor foi projetado para fornecer dados de desempenho em tempo real de maneira a reduzir significativamente os requisitos de manutenção não programadas dos equipamentos.

PIG ESPUMA Instrumentos versáteis para manutenção e limpeza de tubulações em usinas de óleo e gás. Disponível em poliuretano de baixa, média e alta densidade.

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produtos e serviços

Huawei

A Huawei, empresa especializada em soluções de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC), assinou esta semana dois acordos de cooperação com órgãos governamentais no Brasil. Os documentos foram assinados na presença da presidenta Dilma Rousseff e do presidente chinês, Xi Jinping, durante sua visita ao Brasil. Uma das parcerias, firmada com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), é referente a uma cooperação para promover a tecnologia de Computação em Nuvem no país, assim como aplicativos baseados nesta tecnologia para serviços eletrônicos como, por exemplo, saúde e educação. O acordo foi firmado pelo ministro do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Clélio Campolina Diniz, e o presidente da Huawei Região Sul da América do Sul, Li Ke. O segundo acordo foi uma assinatura de cooperação técnica e estratégica com o Governo do Estado do Rio Grande do Sul para a área de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). A cooperação inclui a criação de plataformas para gestão eficiente de cidades e serviços governamentais, como, por exemplo, saúde, transporte e energia. Entre os parceiros estão a Companhia de Processamento de Dados do Estado do Rio Grande do Sul (Procergs) e o Banco de Desenvolvimento do Rio Grande do Sul (Badesul). O objetivo é que as instituições estaduais e a Huawei trabalhem em conjunto nos projetos digitais desenvolvidos pelo Governo: Programa Cidades Digitais, Programa de Computação em Nuvem e Comunicações Unificadas. Nessas iniciativas, a Procergs 66

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Foto: Clauber Caetano

Chinesa Huawei assina acordo na área de ciência e tecnologia com o Brasil

e o Badesul, em conjunto com a Huawei, implantarão um modelo de infraestrutura para computação em nuvem para viabilizar serviços digitais. Este acordo foi firmado pelo governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, e Li Ke, presidente da Huawei Região Sul da América do Sul. “A Huawei está presente no Brasil há mais de 15 anos e procura oferecer tecnologias e soluções inovadoras continuamente. A empresa continuará investindo no Brasil como um parceiro confiável de tecnologia tanto para o governo quanto para as empresas”, diz Li Ke. Em junho desse ano, a Huawei inaugurou o primeiro Centro de Dados Compartilhados (CDC) no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/ MCTI), em Manaus (AM). Centro Conjunto de Inovação no Tecnopuc – O Parque Científico e Tecnológico da PUCRS (Tecnopuc) receberá a primeira empresa chinesa para instalação na unida-

de de Porto Alegre. A Huawei, que controla mais de 15 subsidiárias do setor de telecomunicações, terá no Tecnopuc um Centro Conjunto de Inovação em parceria com o governo do Estado. O objetivo é desenvolver estudos e pesquisas envolvendo as Faculdades de Engenharia e de Informática da PUCRS, sob a coordenação do Instituto de Eletrônica e Telecomunicações (IETelecom) da Universidade. As negociações da empresa com o Tecnopuc já projetam expansão para a unidade do Parque em Viamão. Para o presidente da Procergs, Carslon Aquistapasse, a Huawei reconheceu a vocação gaúcha na área de Tecnologia de Informação. “A parceria com a PUCRS é fundamental neste sentido, pois gera profissionais qualificados e que poderão interagir com as pesquisas propostas. Além disso, o Tecnopuc é reconhecidamente um dos melhores Parques do país, reforçando a aposta da empresa no Estado”, considera.


Sunnyvale

Óleo & gás puxa crescimento do setor de codificação permanente Na carona do crescimento do mercado de óleo & gás, um dos segmentos que tem apresentado incremento de demanda no Brasil é o de marcação permanente de peças como, por exemplo, as que compõem estruturas de plataformas offshore e tubulações. A codificação por micropuncionamento garante a durabilidade das marcações feitas em peças que serão expostas a ambientes hostis e altamente corrosivos. No Brasil, a expectativa da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) é que o segmento de gás natural receba investimentos para abastecimento de usinas térmicas, setor visto como uma alternativa bastante palpável para evitar novas crises no segmento energético. Fora do país, o consumo de gás natural já cresce mais que o consumo de óleo. “Estamos vendo uma tendência mundial e aqui no Brasil não é diferente. Representamos a SIC Marking, fabricante francesa de codificadoras por micropuncionamento, e temos recebido informativos para que se direcione atenção extra para este setor, principalmente em mercados emergentes como o nosso”, explica o diretor comercial da Sunnyvale, Kleber Miranda.

Foto: Divulgação

Codificação permanente auxilia na identificação de peças e estruturas que estão em ambientes hostis e altamente corrosivos, uma das principais peculiaridades do segmento de óleo & gás.

A Sunnyvale acaba de ser informada dos investimentos da SIC Marking em solo francês, com a construção de nova planta fabril em Lyon, que terá 3.000 m de área construída em terreno de 10 mil m2. “A expansão por lá é um aviso das perspectivas de crescimento sustentável. E ao nos passar as informações sobre a nova fábrica já nos sinalizam que o setor de óleo & gás é um dos que mais espaço oferecem para nossas aplicações”, conclui Kleber. Codificadoras – As codificadoras da SIC Marking atendem a

diversos tipos de necessidades na marcação. É possível ter codificadoras de bancada, para marcar peças menores, até codificadoras portáteis, que ajudam na marcação de peças maiores. Para o segmento de óleo & gás, que traz peculiaridades de peças maiores ou a necessidade de levar o equipamento até determinada estrutura fixa, as codificadoras portáteis, como as da linha Deep, são as mais indicadas. Marcam desde plástico até aço com profundidade de até 0,8 mm e possibilitam codificação de informações como datas, números seriais, códigos Datamatrix (2D) e logotipos, entre outros. Empresas como Varco, Queiroz Galvão e fornecedoras da Petrobrás já utilizam este equipamento.

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meio ambiente

Produção de combustível a partir da

pirólise de pneus

A conversão de resíduos para gerar combustível é uma promissora alternativa aos derivados do petróleo em um mercado em expansão

O

Ronaldo Gonçalves do Santos integra o corpo docente do Departamento de Engenharia Química da Faculdade de Engenharia Industrial (FEI). Graduado em Engenharia Química pela Universidade Federal da Bahia (2000), tem mestrado (2003) e doutorado (2007) em Engenharia Química pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e pós-doutorado na Norwegian University of Science and Technology (NOR). Foi pesquisador visitante da Universidad de Los Andes (Mérida, Venezuela) e do Centro de Estudo do Petróleo da Unicamp (2009 - 2013).

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progressivo aumento na demanda mundial por combustíveis, impulsionado pelo desenvolvimento econômico e pela elevação populacional registrados nas últimas décadas, tem sido suprido essencialmente por recursos não renováveis oriundos da destilação do petróleo (Suslick et al., 2003). O processo de obtenção desses recursos tem forte impacto sobre o meio ambiente, promovendo recorrentemente danos ambientais e grande esforço tem sido dedicado à produção de combustíveis a partir de outras fontes e processos. O uso de fontes alternativas de energia tem sido uma opção para a redução da utilização de combustíveis fósseis. Uma forma de obtenção de combustíveis alternativos é a conversão de resíduos. Os materiais mais utilizados para a produção de combustíveis são subprodutos industriais ou resíduos da biomassa, dentre os quais sobressaem o bagaço de cana-de-açúcar, fibra de coco, sabugo de milho e resíduos de algodão (Rocha et al., 2004). Em alguns países em desenvolvimento, a biomassa é responsável por cerca de um terço da energia consumida (Rosillo-Calle et al., 2000). A vasta disponibilidade de pneus inservíveis, devido ao aumento do número de veículos automotivos em circulação, tem impulsionado o uso de resíduos de pneus como fonte alternativa de energia. Na década de 1990, o resíduo anual de pneus foi estimado em 1,5.106 toneladas na Comunidade Europeia, 2,5.106 toneladas na América do Norte e 0,5.106 toneladas no Japão (Williams et al., 1990). Apenas nos EUA, estimou-se em 2-3 bilhões o número de pneus aguardando disposição final (Wójtowicz e Serio, 1986). Em 2005, foram inseridos no mercado brasileiro 35 milhões de pneus novos destinados ao consumo interno (Anip, 2005). Os resíduos de pneus representam um sério problema ambiental, uma vez que servem de criadouro para mosquitos e roedores e apresentam grandes riscos de incêndio e de danos à saúde humana (Wójtowicz e Serio, 1986). Diante desse cenário, a disposição final de pneus após o seu uso tem se tornado cada vez mais urgente, uma vez que eles são de difícil deterioração, poluindo diversos sistemas e causando danos à fauna e à flora. Os diferentes métodos de reaproveitamento de resíduos de pneus – como recauchutagem, recuperação, incineração e moagem – têm mostrado limitações em suas aplicações (Murugan et al., 2009). Além disso, tais resíduos são praticamente imunes a tratamentos químicos e biológicos. Desta forma, a pirólise de resíduos de pneu tem sido


Foto: Free Images

apontada como uma promissora via para a remoção de pneus inservíveis do meio ambiente (Murugan et al., 2009; IIkiliç e Aydin, 2011). Além de eliminar resíduos de pneus, a aplicação do processo de pirólise resulta na produção de combustível com potencial para emprego na geração de energia na indústria e em motores automotivos, servindo, assim, de alternativa ao uso de combustíveis derivados da destilação do petróleo. O processo de pirólise baseia-se na degradação térmica de moléculas complexas em moléculas mais simples por meio de uso de calor. Trata-se de um processo de oxirredução, no qual parte do material é reduzida a carbono e a outra parte é oxidada e hidrolisada dando origem a uma mistura de compostos, tais como fenóis, carboidratos, álcoois, aldeídos, cetonas e ácidos carboxílicos (Rocha et al., 2004). Além dos benefícios ambientais e de sustentabilidade, a pirólise deve contribuir economicamente, gerando combustíveis mais baratos, se um processo em larga escala for implantado.

A obtenção de óleo de pirólise oriundo do processamento de pneus inservíveis tem sido abordada em vários trabalhos (Roy et al., 1990; Murugan et al., 2009; IIkiliç e Aydin, 2011). Resultados destes trabalhos mostram que a pirólise de pneus inservíveis produz significativas quantidades de hidrocarbonetos líquidos, de sólidos e de gases. Os gases são essencialmente formados por hidrogênio, monóxido de carbono, dióxido de carbono, metano, etano e butadieno. O condensado da pirólise tem propriedades físicas e químicas similares ao diesel, incluindo a emissão de monóxido de carbono e hidrocarbonetos, quando em combustão. Embora os resultados da literatura apontem para o uso do condensado da pirólise como combustível líquido em fornos, fundições e caldeiras, devido principalmente ao seu alto valor calorífico, baixa produção de cinzas e baixo conteúdo de enxofre, o seu emprego em máquinas de combustão interna necessita de estudos adicionais, uma vez que este óleo tende a apresentar baixo número de cetano e alta viscosidade cinemática.

Referências Anip (2005) Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos. Disponível na internet via: WWW. URL: http://www.anip.com.br. lkılıç, C.; Aydın, H. Fuel production from waste vehicle tires by catalytic pyrolysis and its application in a diesel engine. Fuel Processing Technology. 92, 1129-1135, 2011. Murugan, S.; Ramaswamya, M.C,; Nagarajan, G. Assessment of pyrolysis oil as an energy source for diesel engines. Fuel processing technology, 90, 67-74, 2009. Fulmer, M.E., Ogde,,J.M. and Williams, R.H. Cogeneration Applications of Biomass Gasifier/Gas Turbine Technologies in the Cane Sugar and Alcohol Industries. CEES/Princeton University, Princeton. 1990 Rocha, J.D.; Mesa Perez, J.M.; Cortez, L.A.B. Aspectos teóricos e práticos do processo de pirólise de biomassa. Energia na indústria de açúcar e álcool. Unifei, Itajubá, 12-16 de julho de 2004. Rosillo-Calle, F.; Bajay, S. V.; Rothman, H. Uso da biomassa para produção de energia na indústria brasileira. São Paulo: Unicamp, 2000. Roy, C.; Labrecque, B.; De Caumia, B. Recycling of scrap tyres to oil and carbon black by vacuum pyrolysis. Resources, Conservation and Recycling. 4, 203-213, 1990. Suslick, S.B., Schiozer, D.J., Nepomuceno, F. & Furtado, R. Forecasting the Development of Heavy-Oil Reserves In Ultra-Deep Waters Using Technological Risk Models. SPE Hydrocarbon Economics and Evaluation Symposium, 5-8 April, Dallas, Texas, USA (2003). Wójtowicz, M.A.; Serio, M.A. Pyrolysis of scrap tires: Can it be profitable. ChemTech, 1996, 48-53.

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gestão

Grandes projetos de

gerenciamento em petróleo e gás

Roma não foi construída em um dia. A cidade cresceu por meio de uma série de projetos que seguiram cronogramas e orçamentos. Considere, por exemplo, o Coliseu: um exército de trabalhadores levou menos de dez anos (e, isso, em 80 dC) para construí-lo com 100.000 m3 de mármore travertino.

José Sá é sócio da Bain & Company .

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Para conseguir isso, os líderes do projeto basearam-se em conceitos já testados de engenharia e inovações organizacionais. Eles dividiram o anfiteatro em setores, atribuindo a cada um deles um empreiteiro diferente. Equipes de engenheiros civis supervisionaram o trabalho e compartilharam as melhores práticas tendo como base um projeto simples. Eles tinham sob sua responsabilidade os custos e os prazos. Atualmente, grandes projetos no setor de petróleo e gás enfrentam desafios igualmente assustadores. Com a competitividade crescendo e a produção de petróleo e gás se movendo para regiões de fronteiras e áreas de recursos não convencionais, os projetos são maiores e mais complexos do que antes. Os prazos e orçamentos são apertados, a segurança é primordial e cada projeto precisa levar em consideração os impactos ambientais e para a sociedade. Nossa experiência com projetos em petróleo e gás sugere que, embora as melhores práticas e talentos sejam essenciais, eles não são suficientes para alcançar o sucesso. Os gestores de projetos exitosos seguem um amplo conjunto de regras comuns e referências que orientam suas decisões. Essas regras incluem diferentes fases do projeto – checkpoints são essenciais para que os gerentes decidam se o projeto deve ir ou não para a próxima etapa. As empresas líderes revisam continuamente os checkpoints, baseando-se nas condições de mercado. Eles preveem as necessidades dos diferentes públicos ainda nas fases iniciais como, por exemplo, assegurando-se de que todos os requisitos regionais sejam cumpridos ou trabalhando-se para reduzir custos que podem se tornar astronômicos nas fases mais adiantadas do projeto. Os líderes fazem com que sua equipe também seja responsável pelas decisões e progressos. Analisamos um vasto número de projetos para saber a razão pela qual eles acabam atrasando ou passando do orçamento. E encontramos o motivo: “não tomar boas decisões com as pessoas certas faz com que o projeto não aconteça”. Às vezes, o projeto não teve apoio técnico suficiente logo na fase inicial ou eles não consideravam os diversos públicos que seriam impactados pela obra. Em outros casos, os incentivos dos tomadores de


Foto: Stéferson Faria, Agência Petrobras

decisão não estavam alinhados com os objetivos do projeto. Um interesse compartilhado em relação ao sucesso do projeto e papéis bem estabelecidos para todos que participam dele asseguram que o processo esteja no caminho correto. Descobrimos também que os projetos são mais propensos a ter sucesso quando os especialistas funcionais têm um comitê consultivo em vez de uma função de decisão. Em empresas líderes, o fortalecimento das equipes de projeto consiste em incorporar as melhores pessoas, definição de processos e garantia do controle das atividades gerenciais e técnicas. Por sua vez, as equipes de projeto são responsáveis ​​pelas decisões que entregam os objetivos do projeto. Os líderes também reveem continuamente o projeto para monitorar riscos e ter a certeza de que há acréscimo de valor. Uma maneira de fazer isso é elencar os gestores sêniores que não participam do time de projeto para ter um “olhar frio” na revisão do projeto, custos e andamento. Eles podem oferecer uma clara visão do progresso do projeto e ajudar a priorizar recursos alinhados com os objetivos da empresa. Uma boa estrutura é essencial, mas não é o suficiente para satisfazer as demandas de grandes projetos em petróleo e gás. As empresas precisam melhorar continuamente as suas capacidades para o desenvolvimento de grandes projetos. Quatro capacidades são essenciais: Regras de conteúdo local - Os proprietários de projetos precisam entender claramente os requisitos de fonte de alguns bens e serviços do país anfitrião, e levar em conta os riscos relevantes. Quando os serviços não estão disponíveis a partir de fontes locais, os projetos precisam ser planejados para ações de contingências ou correm o risco de atrasar um projeto e finalizá-lo acima do orçamento. Engenharia - Simplicidade no design pode garantir soluções eficientes e competitivas; excesso de engenharia cria uma complexidade desnecessária. Em um projeto que trabalhamos, engenheiros revisaram 71 ações de engenharia complexas, desde máquinas rotativas até o layout de tubos, para encontrar simplificações que salvaram entre 1% e 2,5% dos custos. As companhias de petróleo e gás também estão acumulando suas capacidades internas de engenharia para gerir melhor seus contratados. Compras - Algumas empresas estão tentando concentrar até metade do seu orçamento nos seus 40 principais fornecedores, embora há alguns anos fosse requerido mais de 250 empresas para chegar

nesse patamar. Como um todo, isso poderia representar até 5% de eficiência em custos. Melhores ferramentas também ajudam: uma empresa redefiniu o seu contrato de divisão de trabalho que lhe permite agrupar contratados e economizar 13% em bens e serviços. Risco e oportunidade – gerenciar risco e oportunidade é um processo contínuo que requer atenção das empresas não apenas em relação aos riscos mais comuns, mas também para adquirir experiência na mitigação de eventos inesperados. Na indústria de petróleo e gás, nunca foi mais importante gerir saúde, segurança e riscos ambientais, dada a crescente complexidade de operações e a pressão de órgãos reguladores e acionistas. Identificação e análise de riscos é um processo contínuo ao longo do ciclo de vida do projeto e da carteira de projetos, tendo uma perspectiva sistêmica de todo o projeto, suas fases e riscos relevantes. Engenheiros e construtores da indústria de petróleo e gás enfrentam desafios assustadores e sem precedentes à medida que projetam e constroem a infraestrutura para extrair e processar os recursos que irão alimentar a economia global ao longo das próximas décadas. Poucos projetos em fase de planejamento resistirão ao teste do tempo como o Coliseu. Mas isso não diminui sua importância ou sugere que deve ser feito com menos rigor. Como a indústria de petróleo e gás entra em uma nova geração de grandes projetos, os gerentes de projeto precisarão lidar com quadros de referência consistentes que orientem suas decisões e demandem o talento mais eficiente que eles podem encontrar, a fim de se manter competitivo. TN Petróleo 96

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feiras e congressos indicadores tn

Agosto

12 a 14 - Brasil 11ª Navalshore Local: Rio de Janeiro Tel.: +55 (11) 4878 5990 Email: info@marintecsa.com.br www.marintecsa.com.br

26 e 27 - Argentina Shale Gas World Local: Buenos Aires, Argentina Tel.: +44 (0)207 092 1231 Email: enquiry.uk@terrapinn.com www.terrapinn.com

25 a 28 - Noruega ONS 2014 Local: Stavanger, Noruega Tel.: +47 51 59 81 60 Email: service@ons.no www.ons.no

Setembro

15 a 18 - Rio de Janeiro Rio Oil & Gas Local: Rio de Janeiro, RJ Tel.: + 55 21 2112-9000 Email: eventos@ibp.org.br www.ibp.org.br

17 a 19 - Dinamarca IGRC 2014 Local: Copenhague, Dinamarca Tel.: +45 20401405 E-mail: pih@igrc2014.com www.igrc2014.com

30/09 a 02/10 - Canadá IPE/IPC – International Pipeline Conference Local: Calgary, Canadá Tel.: +1 (403) 209-3555 E-mail: info@dmginfo.com www.internationalpipelineconference.com

24 a 26 - Arábia Saudita Saoge 2014 Local: Dammam, Arábia Saudita +39 06 30883030 exhibition@saoge.org www.saoge.org

Outubro

1 e 2 - Trinidad & Tobago Energy Caribbean Conference Local: Trinidad & Tobago Tel.: +44 (0) 20 7017 5518 Email: energycustserv@informa www.ibcenergy.com

14 e 15 - EUA Deep Offshore Technology International Local: Houston, TX Tel.: 713 5706 576 Email: tangell@offsnet.com www.interventiongom.offsnetevents.com

14 a 16 - Escócia Deep Offshore Technology International Local: Aberdeen, Escócia Tel.: +1 918 831 9161 Email: registration@pennwell.com www.deepoffshoretechnology.com

28 a 30 - EUA Oil & Gas Pipeline Local: Houston, TX Tel.: +1 918 831 9523 Email: registration@pennwell.com www.oilandgaspipelineevent.com

Novembro

10 a 13 - Emirados Árabes Adipec 2014 Local: Abu Dhabi, Emirados Árabes Tel.: +971 2 6970 527 Email: jeanphilippe@dmgeventsme.com www.adipec.com

Para divulgação de cursos e/ou eventos, entre em contato com a redação. Tel.: 21 3221-7500 ou webmaster-tn@tnpetroleo.com.br

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fino gosto

Rio Minho: mais de um século de tradição

À frente do mais longevo restaurante da cidade – o Rio Minho, que completou 130 anos –, o espanhol Ramón Dominguez, seu quarto proprietário, emocionado, solta a frase com muita convicção e certeza: “Isto aqui é minha vida. É aqui que me sinto bem.” por Orlando Santos

O

Rio Minho (desde 1884)

Rua do Ouvidor, 10 – Centro – RJ Tel.: 2509-2338 De segunda à sexta, das 11h às 16h 74

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O restaurante está no mesmo lugar – Rua do Ouvidor, 10 – e há mais de três décadas tem a orientação gastronômica e empresarial feita por essa figura bonachona e alegre. Desde 2010, Ramón vem contando com a ajuda da filha Cristina para tocar o barco, a mais antiga referência gastronômica da cidade. Decorado com azulejos portugueses, exibindo um grande quadro do rio que lhe empresta o nome, a casa, tombada pelo patrimônio histórico, é o berço de um dos mais tradicionais pratos da culinária carioca e brasileira: a sopa Leão Veloso. Considerado um dos guardiões da tradição culinária carioca, Ramón não se cansa de lembrar que a casa era frequentada por personalidades como José Maria da Silva Paranhos Junior (1845-1912), o Barão do Rio Branco, o diplomata e filólogo Antonio Houaiss (1915-1999) e, claro, pelo embaixador Pedro Leão Veloso Neto (1887-1947), o criador da sopa que leva o seu nome. Esta, como lembrou o pesquisador Fabiano Dalla Bona, em Fama à mesa, é uma adaptação do embaixador gastrônomo de um clássico da culinária francesa, a bouillabaisse, tradicional da cidade de Marselha.


Fotos: TN Petróleo

Sopa leão veloso (foto principal) Ingredientes (4 porções) Caldo de peixe: 1 1/2 kg de cabeça de cherne; 2 cebolas ramo de aipo; 3 ramos de salsa; 3 ramos de cebolinha; 1 alho-poró; 4 ramos de manjericão; 1 ramo (pequeno) de alecrim; 5 ramos de coentro; 4 litros de água Caldo de camarão e mexilhão: 200 g de camarões do tipo UM (médio) (cerca de 7 unidades); 50 g de mexilhões; 1/2 litro de água Sal a gosto Polvo e lula: 300 g de polvo; 300 g de lulas; 1/2 litro de água; sal a gosto Refogado: 2 colheres (sopa) de azeite de oliva extravirgem; 2 colheres (sopa) de óleo de milho; 1 cebola bem picada; 1/2 cabeça de alho (cerca de 6 dentes); 2 tomates; 2 folhas de louro; 1 cálice de vinho tinto. Finalização: noz-moscada a gosto; 1 colher (sobremesa) de colorau; 1 colher (sobremesa) de creme de arroz; folhas de hortelã a gosto Utensílios: 4 panelas (sendo uma de 5 litros); coador grande; 1 frigideira; 1 panela de barro grande

Frutos do mar grelhado

Da cidade francesa, a bouillabaisse desembarcou na Cidade Maravilhosa e foi abrasileirada, eliminando-se o açafrão e acrescentando-se o sabor dos peixes locais. O toque particular, segundo Ramón, é dado pela cabeça dos peixes, além de pedaços de cherne, mexilhões e camarões. Um detalhe importante: para que a sopa fique perfeita, ele vai ao encontro de todos os seus fornecedores, logo nas primeiras horas da manhã, para escolher os mais frescos e suculentos mariscos. E diz que algumas vezes até rejeita produtos, tal o nível de sua exigência. E é com a cabeça do cherne e temperos como manjericão, alecrim, aipo, alho-poró e coentro, que prepara o caldo, grande trunfo da Leão Velloso. Para completar a iguaria, polvo, lula, camarões e mexilhões. São cinco horas de preparo para servi-la diariamente, e para fazer a alegria dos seus fiéis e honrados comensais, além dos novos fregueses da casa. Encravado na Praça XV, num lugar histórico, o Rio Minho anda sofrendo com as obras da demolição do viaduto da Perimetral. Mas Ramón, otimista como é, acredita que daqui a dois anos, no máximo, tudo vai ficar uma maravilha. E mais: as pessoas vão poder olhar o mar a partir do anexo que ele criou ao lado do restaurante principal, e que carinhosamente apelidou de ‘point do Rio Minho’. Vida longa para o Rio Minho!

PREPARO Caldo de peixe: Em uma panela, coloque a cabeça do cherne junto com cebola, aipo, salsa, cebolinha, alho-poró, manjericão, alecrim, coentro e água, e cozinhe por 30 minutos. Retire a cabeça do peixe inteira, desfie a carne e reserve em uma tigela. Depois, passe o caldo de cozimento por uma peneira, descartando as partes sólidas e reservando o líquido. Caldo de camarão e mexilhão: Em outra panela, cozinhe os camarões e os mexilhões em água por 10 minutos. Adicione sal a gosto e depois coe, separando a água do cozimento dos camarões e mexilhões e reservando o caldo e os frutos do mar separadamente. Polvo e lula: Em uma terceira panela, cozinhe o polvo e as lulas na água por 30 minutos. Adicione sal a gosto e retire os frutos do mar, cortando o polvo em pedaços e a lula em rodelas e reservando-os. Refogado: Em uma frigideira, coloque azeite de oliva e óleo de milho, esquentando bem. Acrescente a cebola, os dentes de alho, os tomates, as folhas de louro e o vinho tinto. Deixe ferver por 15 minutos, coe e reserve todos os ingredientes sólidos do refogado. Finalização: Em uma panela grande, de aproximadamente cinco litros, coloque 1/2 litro do caldo de peixe com 1/2 litro do caldo de camarão e mexilhão, acrescente o refogado e deixe ferver por 15 minutos, mexendo bem. Adicione a noz-moscada e o colorau, deixe ferver por mais 15 minutos e coe. Volte com o líquido para o fogo e acrescente o creme de arroz — que fará engrossar o caldo —, mexa bem e deixe ferver por mais 15 minutos. Então, acrescente os frutos do mar reservados: polvo em pedaços, lulas em fatias, camarões, mexilhões e a carne da cabeça do cherne desfiada. Misture tudo, transfira para uma panela de barro, corrija o sal e ferva até borbulhar. Ao servir, acrescente folhas de hortelã.

Mineiro de botas (sobremesa) Ingredientes 1 colher de sopa de manteiga; 100 g de queijo prato; 2 ovos; 1 banana prata; 1 xícara de açúcar preparo Coloque a manteiga na frigideira e deixe esquentar. Corte o queijo em pedaços bem pequenos e jogue na frigideira junto com a manteiga derretida. Bata os ovos, amasse a banana e misture. Quando o queijo estiver bem derretido, adicione os ovos batidos e a banana amassada. Mexa até formar uma massa consistente sem deixar grudar na frigideira. Coloque numa travessa e molde em formato de “pão francês”. Cubra com açúcar e/ou canela (a gosto) e queime com um ferro bem quente. Se preferir, sirva acompanhado de uma bola de sorvete de creme. TN Petróleo 96

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Fotos: TN Petróleo

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MNBA expõe 65 obras que sintetizam o legado do artista brasileiro

Portinari O para ver e admirar

Quando comemorou, no início de 2014, seus 77 anos, o Museu Nacional de Belas Artes recebeu um valioso presente: 222 obras do pintor brasileiro Candido Portinari, doadas pela Finep – Inovação e Pesquisa, uma das principais agências de financiamento de P&D do país.

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por Orlando Santos

O presente está sendo compartilhado desde o dia 1º de julho pelo museu, que apresenta ao público, pela primeira vez, um conjunto de 65 obras restauradas do pintor. A síntese dessa produção artística pode ser vista até novembro, no MNBA, que tornou-se o museu brasileiro com maior número de obras do pintor, somando 243 peças no total, entre pinturas, desenhos, gravuras, pequenos esboços e gigantescos murais. A exposição está montada em núcleos temáticos: retratos, social, religioso e ilustração, como os trabalhos para os livros de Machado de Assis (O alienista e Memórias póstumas de Brás Cubas, por exemplo). Para a diretora da instituição, Monica Xexéo, a mostra oferece à sociedade um conjunto de obras ainda não vistas pelo grande público. Candido Portinari doação Finep exibe os estudos/desenhos para murais da igreja de São Francisco de Assis, situada na Pampulha, em Belo Horizonte (MG), projetada por Oscar Niemeyer. Os trabalhos para os ciclos econômicos dos painéis do Palácio Gustavo Capanema, no Rio Janeiro, e para jogos infantis, também integram a exposição, assim como as matrizes de gravuras de personagens históricos, como o inconfidente Tiradentes. A parceria da Finep com o Projeto Portinari vem de longa data. A agência forneceu recursos para a realização da pesquisa completa do legado do pintor,


que conta com mais de cinco mil obras, espalhadas pelo mundo inteiro. O projeto cedeu 222 obras de Portinari à autarquia, que formalizou a doação ao Museu de Belas Artes. “A Finep estava em busca do lugar certo para expor estas obras. Chegamos ao MNBA e sabemos o quanto esta doação será importante para a cultura brasileira”, afirmou o presidente da Finep, Glauco Arbix. A exposição inclui trabalhos de Portinari que já pertenciam ao acervo do MNBA, como as obras fundamentais ­Café, retrato de Olegário Mariano, além da monumental tela Primeira missa no Brasil, pintada em 1948, no Uruguai, e doada em janeiro de 2013 pelo Ministério da Cultura. O artista – Candido Portinari nasceu em 30 de dezembro de 1903, na pequena cidade de Brodowski, no interior do estado de São Paulo. Aos 15 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro, decidido a aprimorar seus dons na Escola Nacional de Belas Artes, onde começou a se destacar e a chamar a atenção tanto de professores quanto da própria imprensa. À custa de muita obstinação e talento, tornou-se um dos mais famosos pintores das Américas. Com sua morte prematura aos 58 anos, provocada por intoxicação pelas tintas utilizadas nos quadros, Portinari deixou um extraordinário legado: mais de cinco mil obras, entre murais, afrescos, pinturas, desenhos e gravuras que representam uma ampla síntese crítica de todos os aspectos da vida brasileira de seu tempo. O MNBA hoje – Depois de um período em que teve sérios problemas estruturais que ameaçavam suas valiosas coleções, o MNBA está hoje plenamente recuperado e com equipamentos atualizados, sendo considerado o mais

importante museu de arte brasileira do século XIX, um dos afamados internacionalmente e dos maiores em seu gênero em toda a América do Sul. Possui mais de 6.733,84 m² de área de exposição, com 1.797,32 m² de reservas técnicas. Além dos espaços de exposição e setores administrativos, o museu possui um Departamento de Conservação e Restauração, com laboratórios para trabalhos de pintura e papel, as Reservas Técnicas e a Oficina de Molduras e Gesso. Acervo – O acervo do MNBA teve início com o conjunto de obras de arte trazidas por Dom João VI, em 1808, e foi sendo ampliado ao longo do século XIX e início do século XX, com a incorporação do acervo da Escola Nacional e outras aquisições, e hoje conta com cerca de 15 mil peças, entre pinturas, esculturas, desenhos e gravuras de artistas brasileiros e estrangeiros, além de uma coleção de arte decorativa, mobiliário, arte popular e um conjunto de peças de arte africana.

Mostra Portinari doação Finep Exposição: de 1º de julho a novembro de 2014 Visitação: terça/sexta de 10h às 18h; sábado, domingo e feriado de 12h às 17h Local: Museu Nacional de Belas Artes Endereço: Avenida Rio Branco, 199 – Centro – RJ Informações: (21) 3299-0600 Entrada franca TN Petróleo 96

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Pintura – Destaca-se o grande acervo de arte brasileira, o mais importante do país, que permite a reconstituição, com grande variedade de exemplares de primeira linha de toda a trajetória da pintura brasileira desde o início do século XIX até os dias de hoje. O acervo foi formado primeiramente com peças dos integrantes da Missão Francesa (Nicolas-Antoine Taunay, Félix Taunay, Jean-Baptiste Debret), com a obra dos estrangeiros que participaram do círculo da Academia Imperial (Nicola Facchinetti, François-René Moreaux, Abraham-Louis Buvelot, Giovanni Battista Castagneto, Johann Georg Grimm etc). Também tem obras de brasileiros, professores ou alunos da Academia Imperial, como Victor Meirelles, Agostinho José da Mota, Pedro Américo, Almeida Júnior, Henrique Bernardelli, Rodolfo Amoedo, Pedro Weingärtner, Zeferino da Costa, Belmiro de Almeida, Antônio Parreiras, Décio Villares, Galdino Guttman Bicho, Arthur Timótheo da Costa e Eliseu Visconti. Dentre os artistas modernos destacam-se Candido Portinari, Carlos Oswald, Djanira, Tarsila do Amaral, Di Cavancanti, Vicente do Rego Monteiro, Antônio Bandeira, Guignard, Cícero Dias, Lasar Segall, José Pancetti. Os períodos colonial e modernista estão representados com menor número de peças. Entre as obras mais conhecidas do público estão: Café (Portinari), Gioventù (Eliseu Visconti), Batalha do Avaí (Pedro Américo) e A primeira missa no Brasil (Victor Meirelles). A seção de pintura estrangeira teve seu início com o acervo deixado por Dom João VI, quando retornou a Portugal e com a coleção de cerca de 50 telas adquiridas por Joachim Lebreton, na França, e trazidas em sua transferência para o Brasil em 1816. 78

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Dom Pedro II, notório amante das artes, contribuiu com diversas aquisições, e alguns outros mecenas doaram expressivos conjuntos, como o do conde de Figueiredo, da baronesa de São Joaquim, do embaixador Salvador de Mendonça, e os de Luis Resende e Luiz Fernandes. Esta seção se concentra na arte europeia do século XIII ao XIX, com um importante núcleo de obras barrocas italianas de autores como Baciccia, Il Grechetto, Giovanni Lanfranco, Jacopo da Ponte, Francesco Cozza, Tiepolo, Francesco Guardi, Francesco Albani, 20 obras de Eugène Boudin, e oito telas de Frans Post. Escultura – A coleção de escultura também teve origem no legado da Academia Imperial e da Escola Nacional, que incluía uma série de cópias de estátuas célebres da antiguidade e outras produzidas por professores e alunos. Enquanto diretor da Escola Nacional, Rodolfo Bernardelli adquiriu várias peças e reuniu outras dispersas por órgãos do governo, e Henrique Bernardelli mais tarde doou um conjunto de 250 peças criadas por seu irmão, que hoje constituem o cerne da coleção de escultura brasileira. Ao longo do século XX outras doações e aquisições vieram a ampliar este departamento. Dos autores mais expressivos neste conjunto estão, além do próprio Bernardelli, Victor Brecheret, Amílcar de Castro e Waltércio Caldas, dentre outros. Além dos estrangeiros, ligados ou não ao Brasil, como Zéphyrin Ferrez, Auguste Rodin, e Franz Weissmann. A chegada das 222 peças de Candido Portinari doadas pela Finep aumentou ainda mais o acervo valioso de um museu que tem sido visita obrigatória de turistas nacionais e estrangeiros em busca da melhor e mais vigorosa arte produzida nas Américas.


de Marilda Rosado de Sá Ribeiro, sócia fundadora de Marilda Rosado Advogados Associados (MRA).

opinião

Breve análise da

Resolução ANP n. 32/2014 A recente regulamentação para os produtores independentes no Brasil

N

o dia 6 de junho, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) publicou no Diário Oficial da União a Resolução n. 32, aprovada um dia antes, que define os critérios para o enquadramento das empresas petrolíferas na categoria de sociedades empresárias de pequeno ou médio porte. Como é sabido, esta norma nasceu a partir da previsão contida na Resolução CNPE n. 1, de 7 de fevereiro de 2013, e cujo principal objetivo é o incremento das atividades de exploração, desenvolvimento e produção de óleo e gás pelas empresas de pequeno e médio porte, bem como a efetiva atuação das referidas empresas nas atividades de E&P em regiões do Brasil nas quais elas ainda são pouco desenvolvidas. A Nota Técnica n. 027/2014/SDP serviu de base para a classificação das pequenas e médias empresas: leva-se em conta não apenas o número de barris de óleo produzidos por dia pelas empresas, como também a classificação dessas sociedades empresárias perante a Agência enquanto Operador B, C, ou D. A Agência, portanto, preocupou-se em aperfeiçoar o marco regulatório aplicável aos chamados produtores independentes, isto é, sociedades empresárias petrolíferas que não atuam ‘do poço ao posto’ e que, ao mesmo tempo, não tenham possibilidade de atuar globalmente. A nova resolução da ANP parece indicar a inspiração em experiências do exterior, usando como referência a exploração e produção de óleo e gás por produtores independentes em países como Estados Unidos, Canadá e Austrália. Efetivamente, tais países podem contribuir nos estudos comparativos da ANP: os Estados Unidos figuram como o maior produtor em campos marginais do mundo e tal segmento é de extrema relevância para a produção total do país. No Canadá, segundo informações da Canadian Association of Petroleum Produ-

cers (CAPP), 90% da produção de óleo bruto e de gás natural são resultado da atividade de empresas independentes, que movimentam cerca de 110 bilhões de dólares canadenses ao ano. Antes de traçarmos considerações específicas acerca da nova Resolução, é pertinente a análise do tema à luz do tratamento dispensado às pequenas e médias empresas no Direito Brasileiro. Há décadas se percebe a insuficiência das leis comerciais e fiscais sobre o assunto. O arcabouço legislativo era insuficiente para encorajar tais empresas e dar a elas condições de se manterem no mercado. A legislação atual, marcada pela Lei Complementar n. 123/2006 (Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte) conceituou micro e pequenas empresas com base no critério, bastante genérico e simplista, da receita bruta, nos moldes do seu art. 3º, respeitados os critérios subjetivos, previstos nos incisos do parágrafo 4º. Apenas a título exemplificativo, cite-se que, dentre outras vedações, o critério previsto nos incisos do parágrafo 4º estabelece que não terá tratamento diferenciado a pessoa jurídica que seja filial, sucursal, agência ou representação, no país, de pessoa jurídica com sede no exterior. Percebe-se, entretanto, que o critério da receita bruta, estabelecido no art. 3º, não chega a representar a realidade das empresas de petróleo e gás, pois a indústria, via de regra, requer um maior aporte de investimentos e patrimônio mais elevado. Some-se a isso o fato de que o retorno dos investimentos petrolíferos só ocorre, no mínimo, uma década após o início das operações. Daí a necessidade de uma mais adequada regulamentação por parte da ANP que atenda às especificidades desses produtores. Reconhece-se, porém, que a lei complementar n. 123/2006 estabeleceu avanços ao prever que as microTN Petróleo 96

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opinião empresas e empresas de pequeno porte serão favorecidas em caso de empate ficto (simulado) nos certames licitatórios com grandes empresas, com a clara finalidade de combate ao monopólio. Transpondo a questão para o âmbito da ANP, identificamos que a nova Resolução utiliza-se da combinação de dois critérios para definir uma empresa petrolífera como pequena ou média: 1) produção e 2) qualificação da sociedade empresária. A ANP faz uso, ademais, de um requisito adicional: a exigência de já estar figurando como Parte em um Contrato de Concessão. A Resolução da ANP determina que a produção dessas empresas é medida em boe (barril de óleo equivalente), e considera para o cálculo a média diária do ano anterior, contabilizando tanto a produção da empresa e de seu grupo societário no Brasil quanto no exterior. No caso da qualificação, refere-se àquela que a empresa precisa cumprir para participar dos leilões da ANP, considerando, portanto, as capacidades técnica, financeira e econômica da sociedade empresária. No que se refere ao Contrato de Concessão, este deve ter sido celebrado com a ANP e a empresa em questão deve atuar como operadora em sua execução. A Resolução determina que empresas pequenas deverão produzir até 1.000 boe/dia e possuir qualificação C ou D. Empresas médias, por sua vez, deverão produzir entre 1.000 e 9.999 boe/dia e possuir qualificação B ou C. Tais determinações são passíveis de críticas, na medida em que apresentam obstáculos para a en-

Anunciantes da edição Aerodinâmica – pág. 23 Brasil Onshore 2014 – pág. 73 Costa Porto – pág.8 Dk-Lok – pág. 39 Draeger – pág. 16 Edson Shouest – pág. 35 Enseada Indústria Naval – pág. 5 Fischer – pág. 45 Global Star – pág. 63 HP – pág.15 Icaterm – pág. 43 IGRCompenhagen 2014 – pág. 53 Intertek – pág. 41 Italbronze – 4ª capa Jereh – pág. 9 Kongsberg – pág. 1

Marintec 2014 – pág. 31 Mecan – pág. 37 Mexico Upstream 2014 – pág. 60 Mokveld – pág. 13 Poli PMI – pág. 65 Presserv – pág. 23 Rio Oil & Gas 2014 – 2ª capa Rexnord – pág. 29 Ropan – pág. 67 SENAI Faculdade – pág.33 Sobena – pág. 55 United – pág. 17 UTC Engenharia – pág. 11 Vac-Call – pág. 6 3° World Shale Oil & Gas 2014 – pág. 59

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trada de novas empresas no mercado brasileiro. Ao colocar como requisito a participação prévia em um Contrato de Concessão, a ANP impede que novas sociedades empresárias de pequeno e/ou médio porte que ainda não possuem Contrato de Concessão firmado com o Governo Brasileiro se beneficiem de políticas de fomento à atuação dessa categoria de players do mercado. Há que se considerar, portanto, que a mera definição fornecida pela ANP resolve em parte as principais preocupações dos já definidos produtores independentes. Questões como o preço do barril do petróleo, o custo operacional das áreas em que atuam, bem como um ambiente regulatório favorável poderão influenciar consideravelmente a tomada de decisão desses empresários quando da participação em futuros leilões voltados para campos inativos com acumulações marginais e/ou campos maduros. Acreditamos que a Resolução da ANP é o primeiro passo para tornar possível a dinamização do mercado onshore de produtores independentes. Há ainda um longo percurso em busca do consenso técnico, econômico e regulatório – a permitir acesso às áreas e a ambiências atrativas e de segurança jurídica para esses operadores. Colaboraram para a redação final deste artigo Emília Castro, advogada do MRA, mestre em Direito Internacional (Uerj) e professora de Direito Internacional Privado (Uerj), bem como Bernardo Tenório e José Eduardo Siqueira, estagiários do MRA

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