Versus Magazine #18 Fevereiro/Março 2012

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“É cada vez mais difícil escolher rótulos para descrever a música que faço. A música de Alcest vem de um outro mundo.” viagens da alma, de experiências de pessoas que sentiram a morte e regressaram. Aliás, essa canção foi precisamente inspirada por essas experiências. Como sabem, o conceito de base da banda deriva de uma experiência esotérica que vive em criança. Esta banda permite-me exprimir essa experiência que tive, o que senti, recorrendo à música, em vez de falar sobre ela. O uso da língua francesa produz um efeito mágico neste álbum. Este efeito resulta de um esforço de composição da tua parte ou tem apenas a ver com as caraterísticas da tua língua materna? Tem algo a ver com a língua em si. Afinal, é a minha língua materna. Não me vejo a cantar em Inglês, até porque nem sequer tenho uma boa pronúncia.

Além disso, o Francês tem a vantagem de incluir muitas palavras para designar uma mesma realidade, o que nos dá mais opções, quando estamos a escrever as letras. Passei muito tempo a escrevê-las e andava sempre com um dicionário de sinónimos, para ir escolhendo as palavras e poder variar. Tu és um homem do sul. É possível relacionar a tua obra poética e musical com as tradições literárias da parte de França de onde és natural? Sim. Conheço bem alguns poetas franceses. Costumava ler muita poesia francesa, quando era mais novo. Gosto muito da obra de Baudelaire. O homem é um génio: a poesia dele parece muito, muito simples de perceber, mas bem depressa te apercebes de que, na realidade, é muito rica, esconde um pen-

samento muito profundo. É isso que faz a sua grandeza. Acontece o mesmo com Verlaine, que também é um excelente poeta francês, muito do meu agrado. E acerca do vídeo. Por que decidiste fazer um vídeo? E por que escolheste aquela canção em particular? Um amigo meu apresentou-me uma realizadora de cinema. Falámos sobre o conceito de base de Alcest e ela compreendeu logo do que se tratava. No caso desta canção, a ideia é que, contrariamente à natureza, que parece nunca mais acabar, nós – humanos – não somos eternos, estamos condenados a desaparecer. O local em que fizeram as filmagens é muito bonito. Fica no sul de França?


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