Revista Vitrine Cultural 17

Page 16

vitrinecultural | 16

Mentalidade

de curto prazo O técnico Mano Menezes completou um ano à frente da seleção brasileira. E já há milhares de torcedores pedindo a sua cabeça. A discussão, como tudo o que envolve o futebol, evidencia mais uma vez a cultura do curto prazo que caracteriza a ideologia nacional. Um técnico de futebol no Brasil vive de vitória, apenas. Poucos, como Luiz Felipe Scolari, Vanderlei Luxemburgo e o próprio Mano (dirigindo times), recebem o beneplácito da paciência das torcidas dos times que dirigem. Em treze partidas dirigindo o escrete nacional, Mano conseguiu nove vitórias, 2 empates e três derrotas – aqui o nó górdio de sua carreira na seleção. Contra França, Inglaterra e Alemanha, as únicas equipes no mesmo nível que enfrentou (somando-se o empate com a Holanda), o Brasil perdeu. E com as melhores estrelas disponíveis em campo. Da mesma forma que disputou a Copa América, primeiro torneio oficial do treinador, e ficou no caminho com Neymar, Ganso, Robinho, Júlio Cesar e companhia bela. Em qualquer grande país futebolista europeu isso não seria um bicho de sete cabeças. Mas no Brasil é, por conta de

uma mentalidade deturpada que a nação foi adquirindo ao longo das décadas de bom futebol arte praticado pelas plagas em todo o território nacional. As cinco copas do mundo conquistadas pela seleção (principalmente as de 1958 na Suécia, 1962 no Chile e 1970 no México) gerou na mente da maioria dos brasileiros a idéia de que o país é imbatível. Então, não se aceita outro resultado que não seja a vitória em qualquer circunstância. Se o Brasil ganha é mérito; se perde, perdeu para ele mesmo. Não se reconhecem os méritos dos adversários. Esse pensamento de curto prazo tem feito carreiras promissoras se evaporarem – o mesmo tipo de visão que agora quer extirpar Mano Menezes. E parte da imprensa acaba colocando lenha na fogueira. Não existe mais bobo no futebol, máxima já decantada há 15 anos, mas que só agora parece que a ficha está caindo para a torcida brasileira. Os dois empates com o Paraguai na última Copa América – e a conseqüente perda nos pênaltis – deixaram evidentes que as seleções médias cada vez mais

se nivelam com as de ponta. Faltam três anos para a Copa do Mundo no Brasil. Até lá, é bom que haja uma preparação adequada. Senão, a nação viverá um novo “Maracanazo”. Mas é preciso dar tempo ao técnico da seleção.


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.