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“SAMBA COM CHEIRO DE ARRASTÃO”

Primeira mulher a compor um samba da carioca Mocidade Independente de Padre Miguel, Sandra de Sá fala de sua relação com a homenageada do enredo, Elza Soares

por_ José Alsanne do_ Rio

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É com a frase que titula este texto que Sandra de Sá define o samba-enredo que compôs para a Mocidade Independente de Padre Miguel. Será uma homenagem a Elza Soares. E será, não menos importante, a primeira vez nos 64 anos de história da escola de samba carioca que uma mulher assina a canção-tema do desfile.

Como foi a experiência inédita de participar da disputa de um samba-enredo?

O que mais me marcou foi a disciplina. Com o samba-enredo, o que vale é a fidelidade ao tema. Pensa-se, inclusive, no intérprete da escola, em como ele canta. A disciplina que meus parceiros têm, para conhecer do que estão falando, é demais. Foi uma aula a cada encontro. Uma vez perguntei: “Por que vocês me convidaram?” Eu achei engraçado que um deles respondeu: “Porque Deus mandou”. E, realmente... pô, logo com (a homenagem a) Elza Soares!

Como é sua relação com Elza? Alguma música interpretada por ela a marcou?

Na minha infância, dizia-se dela que era uma “destruidoras de lares”, por conta da relação com o Garrincha. As pessoas não aceitavam o amor dos dois. Anos depois, conheci a Elza no Baixo Leblon, através do Cazuza. Era uma época em que a Elza não estava bem. Me aproximei dela a partir de então. “E assim nós vamos vivendo de amor” (trecho de “Se Acaso Você Chegasse”, de Felisberto Martins e Lupicínio Rodrigues) fala muito da vida dela. Da paixão de Elza. E o mais gostoso é tê-la perto agora, falar com ela de samba, vê-la amarradona... Ainda bem que eu não vou interpretar o samba na avenida. Eu só venho do lado. Não tenho noção do que vai ser. Mas vai ser bom demais. Esse samba tem cheiro de arrastão.

POLITIZAÇÃO SEM PRECEDENTES

Além das homenagens (como a Elza), os sambas-enredo das escolas de samba do grupo especial carioca este ano apostam fortemente na politização. “Messias de arma na mão”, “marajá em Bangu”, “respeita o meu axé”, “profetas da intolerância” e “nossa aldeia é sem partido, não tem bispo nem se curva a capitão” são alguns dos versos que aparecem nos temas de escolas variadas, da Mangueira à Portela, da Estácio de Sá à São Clemente. A canção tema desta última, aliás, tem entre seus compositores o humorista e associado da UBC Marcelo Adnet para o enredo “O Conto do Vigário”. “É uma emoção enorme, amo o carnaval”, ele vibrou.