Antologia Brasil, 1890-1930

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Belas-artes

(continuação)

Na pintura é onde o terreno mais carece de amanho. Convenhamos, porém, em uma coisa: não falta talento aos artistas, e, por conseguinte, não lhes faltará concepção; mas faltam-lhes ― união e trabalho. Trabalho pertinaz e consciencioso, para terem a grande ciência da facilidade e certeza de execução; ― unidade fraternal de esforços ― para adquirirem força na propaganda que precisam encetar. Porque ― é necessário insistir neste ponto ― se os nossos pintores desejam melhorar a educação artística do povo; se querem, realmente, que as suas obras sejam bem aquilatadas, e se, como é natural, pela arte, pretendem conseguir bons e seguros meios de vida ― convençam-se disto: urge que sejam impertinentes, que façam falar de si, que se imponham, constantemente, ao gosto dos amadores. Não se iludam com o momento; não cuidem que os homens de bom gosto e de dinheiro lhes irão, agora, bater à porta, a pedir-lhes, por favor, que pintem uns quadros para eles colocarem nas suas salas de visitas ou nos seus gabinetes de trabalho. Ainda não estamos, infelizmente, nesse grau de adiantamento. Pelo contrário: os artistas é que têm de ir buscar os apreciadores, argentários ou não, e mostrar-lhes as suas telas, e despertar neles o desejo de as comprarem ― incutindo-lhes no espírito a noção moderna do belo, noção que por si mesma se irá desenvolvendo, lentamente, como o decorrer do tempo, à medida que novos trabalhos forem aparecendo, e diante dos quais essa noção se tenha de exercitar para formar uma opinião, mais ou menos intensa, mais ou menos verdadeira, consoante o temperamento de cada indivíduo, mas que, indubitavelmente, bastará para

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