Antologia Brasil, 1890-1930

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Belas-artes

Agora, que o Brasil entrou em uma fase de progresso notável, quer pela prontidão arrojada e enérgica com que desfraldou a bandeira promissora, precisamente no reduto onde a rotina ferrenha ainda dominava ― quer pela rapidez vertiginosa com que entrou a operar, avassalando tudo, transformando cada adorador sistemático do passado em um crente fervoroso do futuro; ― agora, que o Brasil parece, enfim, querer avançar a passos de gigante para a sua natural culminância de onde a formidável voz dos seus ricos pulmões se há de elevar no concerto de uma grande civilização; ― é justo, é inadiável que se procure animar e conceituar mais as belas-artes, pois, assim como esse progresso material está mostrando a formação da rija musculatura de um braço ― assim, também, neste momento, um acentuado desenvolvimento artístico mostrará que a força desse braço, sendo própria do automatismo de uma organização atlética, será, ao mesmo tempo, o possante instrumento das variadíssimas determinações de um cérebro respeitavelmente cultivado. *** Para se conseguir um fim tão nobre, tão elevado, que tanto deve atrair o bem entendido patriotismo ― basta, apenas, que os que se dedicam à arte compreendam que nesta auspiciosa ocasião não lhes é permitido descansar; corre-lhes o dever de entrar em luta, de trabalhar muito, de multiplicar os próprios esforços, para que a sua colaboração ativa e fecunda seja de tal natureza que empolgue uma boa parte da atenção com que o mundo civilizado está acompanhando os movimentos deste período palpitante de gestação social. Por certo, não é a falta de talento, nem a de fortes organizações artísticas, que obstará a que tanto se faça, a que tudo se chegue ― e isto já é muito. ***

Antologia Brasil, 1 890-1 930

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