Antologia Brasil, 1890-1930

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Viagens maravilhosas do Dr. Alpha ao mundo dos planetas No mundo de Marte - Cap. XV Então, cheio de indignação, pedi ao soberano que me concedesse a palavra. Obtida a licença, falei com veemência, defendendo-me das suposições irrisórias do acadêmico. Demonstrei a possibilidade das minhas viagens, descrevi rapidamente o estado das cousas na face da Terra e, finalmente, acabei por convencer a assembleia que, empolgada pelas minhas palavras vibrantes, me aplaudiu delirantemente. Desde esse dia tornei-me o assunto de todos os comentários e como a vida em Loris é cara, e eu não tinha moeda corrente do país para as minhas despesas, resolvi fazer algumas conferências em público sobre assuntos terrestres, que me renderam o suficiente. Agora passo a contar uma série de aventuras que me sucederam durante minha estadia no planeta. Um dia, em que visitava as lojas da cidade, entrei em uma importante casa de aparelhos de óptica e perguntei se ali vendiam máquinas fotográficas. O caixeiro me informou que no planeta não havia tal aparelho e nunca ouvira falar de tal cousas: em Marte não conheciam a fotografia. Projetei maravilhar os marcianos com a célebre arte de Daguerre. Encomendei na mesma casa uma lente de objetiva, pedi ao marceneiro imperial que me fizesse uma caixa de madeira com fole de pelica, enfim fiz a aquisição de tudo que era necessário para a constituição de uma máquina fotográfica. Enquanto isso ia preparando no gabinete de química do observatório as placas sensíveis e as demais drogas necessárias para as operações. Quando pronto o aparelho, pedi licença ao imperador para lhe oferecer uma surpresa... E tirei um belo retrato do soberano, que não pode ocultar a sua admiração quando viu representada a sua imagem com tão surpreendente exatidão. Isso granjeou-me renome brilhante e

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