Antologia Brasil, 1890-1930

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O local que nos abrigava, ― Galeria Cambiaso, naquele tempo o que é agora a galeria Jorge, ― dava indicação segura da nossa finalidade. Ainda possuo um ou dois trabalhos daquela época, que estão muito longe do que faço hoje. (E o que eu faço hoje está muito longe do que desejo fazer). Com três anos de vida morreu o clube. Continuei a trabalhar. Visitei diversas exposições do Photo Club de Paris. Travei conhecimento com mestre Puyo que, com Demachy, patroneava o novo processo Rawlins (óleo). Vi-o pigmentar e nunca esqueci seu ensinamento, que repito a certos amigos que ensaiam o bromóleo: avec la gélatine, il vaut. Tendo Demachy feito o bromóleo e óleo decalcados desejei experimentar, mas, à falta de prensa adequada, não ousei, apesar de ter visto belos trabalhos do dr. J. Del Vecchio executados à mão. Enfim, consegui uma prensa e, desde então, quase exclusivamente, só uso o bromóleo decalcado, porque o acho, o processo que permite mais profunda intervenção e dá à imagem uma contextura mais agradável semelhante, a da água-forte ou da água-tinta [água-lenta, no original]: tinta sobre superfície do papel comum de desenho ou aquarela. Enviei trabalhos a uma exposição europeia. Não foram aceitos. Não desanimei. Trabalhei mais. Ouvi conselhos de artistas. Voltei. E tive a alegria de receber o catálogo em que meu nome figurava. Concorri a outro salão e obtive o mesmo êxito. Depois, é raro o mês em que não me vem às mãos um convite da Europa, da América e até do Japão. Dentre eles, um houve que me desvaneceu, o da Camera Club, de Nova York, para seu II Salão, onde as obras eram aceitas sem julgamento, porque o artista que as assinava era fiador idôneo do valor do quadro. Lá figurei com o Viajante Solitário. Creiam, porem, que o meu desvanecimento não foi egoístico. Não. O meu orgulho provinha de ver que o convívio e os conselhos dos mestres que frequentavam o Photo Club Brasileiro não tinham sido infecundos. Muito aprendi conversando e estudando as obras de Thoréau e Flores, saudosos consócios falecidos, Del Vecchio, Bevilacqua, Wenning, Luiz Paulino, Paulino Netto, Wyszomirski, Nogueira Borges e tantos outros que encontrava e encontro quando, depois do trabalho diário, num simpático ambiente de calma e elevação, onde só tratamos de arte, passo uma hora saborosa e repousante.

Antologia Brasil, 1 890-1 930

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