Antologia Brasil, 1890-1930

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Como se explicam os artistas: F. Guerra Duval

Cartas recebidas demonstram o interesse que o primeiro artigo desta série despertou. Nosso fim não é fazer reclame aos artistas (que desta não precisam) e sim mostrar aos amadores como um principiante se transforma em pictorialista levado pela inteligente ambição de melhorar seu trabalho e como o executa. O sr. F. Guerra Duval, que nos dá as notas de hoje, é um dos nossos artistas cujas obras são mais conhecidas, por isto que O CRUZEIRO e a ILLUSTRAÇÃO BRASILEIRA as têm reproduzido, e que tem sido convidado e admitido em várias exposições na Europa e nos Estados Unidos. Aos doze ou treze anos recebi de presente um aparelho fotográfico. Data daí minha iniciação, porque, não existindo naquela época a revelação e a impressão feitas por negociantes, aprendi com um fotógrafo alemão os rudimentos da arte, em sua parte técnica. E isto foi, sem dúvida, um grande benefício para meu progresso, como também, o foi o gênero do aparelho: câmara de excursão usando chapas, exigindo tripé e focalização no vidro despolido, obrigando-me, pois, desde o começo, a trabalhar e a refletir no que fazia. Hoje, a facilidade dos brownies e dos rollfilms, da focalização por escala, da revelação e impressão comerciais não exigem do amador nenhum esforço de onde o pouco interesse que ligam à fotografia, abandonando-a ao fim de pouco tempo. Durante anos, contentei-me com as fotografias em papel albuminado muito nítidas, muito limpas, simples réplicas dos negativos. E era natural que isto se desse. Criança, não a podia compreender de outra maneira. Fiz-me homem. Viajei e no deslumbramento do que descobria de inédito pelas velhas terras da Europa e do norte da África, quis aguardar a memória da minha

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