Antologia Brasil, 1890-1930

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ganhando em importância e qualidade a escolha, já permitida pelo número de concorrentes e afluência de trabalhos. Quem, percorrendo a exposição de que nos vimos ocupando, não acharia que eram verdadeiras obras de arte o que ali se via? Pois então não é um esforço artístico o trabalho da imaginação para conceber, compor e executar algumas daquelas obras? Sem querermos, a nossa pena traiçoeira nos fez resvalar para a questão que atualmente mais se debate nos jornais da especialidade, e até estranhas a ela, da Europa. E que se diz lá? Que depois das exposições do Photo Club de Paris, do Cercle l'Effort de Bruxelas, da Photo Secession, a fotografia tinha entrado francamente para o rol das artes, conquistando até os pintores; que os modernos processos pigmentares, que o retoque introduzido por Demachy com o eraser, permitindo aquele[s] usar as tintas da aquarela e este fazer grandes simplificações, davam ao artista uma grande liberdade de movimentos para a execução dos seus trabalhos; aliada esta à liberdade de concepção que ele sempre teve, e que é absolutamente igual para todos, apareceram admirados e queridos, os magníficos trabalhos de Puyo, de Demachy, de Mlle. Lagarde, de Steichen, de Horsley-Hinton, Clarence White, Gertrude Käsebier, Alfred Stieglitz, Dubreuil, Le Bégue, R. Dührkoop, Guido Rey, E. Adelot e tantos outros. Há dois anos, porém, na Inglaterra, um grupo surgiu proclamando a reação contra os processos modernos; contra o retoque ousado que se fazia nas provas e nos clichês, raspando e suprimindo; contra a goma bicromatada que achava rebarbativa; o grupo novo queria uma volta aos processos antigos, os únicos que podiam conservar à fotografia o seu caráter essencial que é a precisão no detalhe, a minúcia excessiva, a nitidez absoluta e até o detestável tom fotográfico dos papéis citrato e albuminado. Foi um assombro na França; o Photo Club de Paris aconchegou-se ao seu jovem mestre, o grande Puyo, e ele falou; mostrou quais as regras da verdadeira estética que convêm ao fotógrafo; mostrou como este, para os seus trabalhos de arte, começa em um ponto oposto ao dos artistas que se baseiam nas artes do desenho: o desenhista vai da síntese para a análise, o fotógrafo da análise para a síntese; aquele traça

Terceira exposição, 1 907


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