Antologia Brasil, 1890-1930

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mera adesão à arte acadêmica, ignora o universo urbano, as mudanças nas artes visuais em curso aqui mesmo. Essas decisões geram um esgotamento e desvalorização severa ante às novas gerações. Ainda assim, curiosamente, não serão taxados abertamente de passadistas. Talvez porque circulem em campo controlado, em que se partilham os mesmos valores, em jornais e periódicos: uma bolha de valores médios. A década de 1 920 tem certamente tensões de fundo na cultura local, que se expressam em momentos os mais diversos, até mesmo nesse universo das revistas ilustradas, que mesclam cobertura social e reportagens culturais variegadas. Em fevereiro de 1 924, uma revista carioca – FROU-FROU..., em sua nona edição, traz o artigo Bilhetes da Pauliceia, um comentário detalhado, acompanhado de charges, sobre o “pseudo futurismo paulista”. O autor, que assina simplesmente B. B. B., encerra assertivamente o extenso desabafo: Registramos a incoerência unicamente para declarar que não levamos a sério o "futurismo" desses senhores e para pedir-lhes, pela alma de Júpiter, o obséquio extremo de não mexerem mais nos nossos empoeirados figurões mitológicos. Cantem, em versos livres a beleza da gasolina, façam odes à virgindade da telegrafia, teçam madrigais à candura do "fox-trot", mas não se esqueçam das palavras sensatas daquele profundo psicólogo que foi La Bruyére, ao falar de Teofrasto: "Nous qui sommes si modernes seron anciens dans quelques siècles". E principalmente, (ah! muito principalmente!) não digam nunca mais que são futuristas.

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