Antologia Brasil, 1890-1930

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Esse interesse difuso, apontado ao início, que ocorre na imprensa regional é revelado quase sempre em notas, desde do limite inicial do recorte temporal em questão. Valorizam-se as novidades tecnológicas, como a fotografia colorida, o raio X, as teleobjetivas etc. De certo modo, todas estas referências podem ser entendidas como formas de ampliação das visões do real, conjunto em que ganham destaque ainda a fotografia astronômica, as aplicações em medicina, a fotografia de espíritos e emanações corpóreas as mais diversas. Enfim, novas virtualidades que tornam próximo o invisível, o microcóspico, o distante. Aspecto significativo que os ensaios aqui reunidos revelam é como o grande arco do pensamento crítico toma forma lentamente, fragmentariamente. A cultura como troca e transmissão de valores pode ser identificada em seus diferentes momentos. Suas referências internas e externas podem ser dimensionadas desde já em uma rápida leitura do índice onomástico ao final da antologia. Surgem inesperadamente, numa cultura que revela assim pretender sua transmissão entre gerações, a proposição das revistas especializadas (em especial, o persistente projeto editorial do Photo Club Brasileiro por quase uma década), o museu de “documentos fotográficos” aventado pelo Photo Club do Rio de Janeiro em meados da década de 1 900, e a necessidade, apontada por Guerra Duval, de estabelecer o ensino formal em escala ambiciosa, na década de 1 920, expressão final de uma questão que se impõe desde a virada do século. Ensino, memória, produção crítica e difusão da fotografia são campos que surgem certamente marcados pela contexto ao redor do fotoclubismo, que atua então como articulador intensivo de iniciativas culturais. Questões essas, que estão ausentes, digamos assim, no campo da fotografia profissional. Essas ações e proposições tiram proveito, em parte, da expansão dos locais e agentes do circuito de arte, ao qual pretendem se aproximar. Contudo, é preciso reconhecer, esse panorama fotográfico tem dinâmicas e agentes próprios, que ativamente buscam essa sinergia. Ao longo do arco temporal aqui tratado é possível identificar, através dos textos selecionados, essa expansão, a adoção de hábitos e práticas culturais, e a constituição de um público para esse circuito novo.

Fotografia e arte O período marca uma mudança radical, episódica de início, mas em seguida difusa e regular, na percepção da fotografia como objeto cultural complexo. Parte-se da sua proposição como expressão máxima das conquistas da ciência, com aplicações nos mais diversos setores, expandindo o conhecimento técnico, para a concepção de uma fotografia integrada às expressões artísticas.

Antologia Brasil, 1 890-1 930

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