Antologia Brasil, 1890-1930

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A fotografia pictorial

O que tem sido – O que é hoje A inconfundível característica das primeiras fotografias ― desde a daguerreotipia ― foi o excesso da nitidez, a deslumbrante riqueza das minúcias que, na paisagem, eram tão salientes nos primeiros como nos últimos planos e, no retrato, tanto no modelo como nos acessórios. Entretanto, passados os primeiros tempos, o que se afirmava qualidade foi julgado, com razão, grande defeito. É que o detalhe impedia a vista do todo: a árvore não deixava ver a floresta, o rendilhado da espuma, na crista das vagas, não permitia que se percebesse a forma das ondas e a massa do mar. Ou, no retrato os poros imperceptíveis numa pele sã, os fios da barba, dos bigodes e dos cabelos não deixavam que o olhar se inteirasse do modelado do rosto, ou do penteado e, ainda menos, que o retrato exprimisse o caráter do retratado. A obra fotográfica não era uma obra de arte. Mais se aparentava à secura árida de uma descrição científica. Não dava uma impressão pessoal, não transmitia um sentimento. Apenas analisava. E analisava friamente, sem pôr em destaque os pedaços característicos. Esta fase inicial da fotografia, logo após sua descoberta, é ainda hoje a fase inicial de todos os amadores quando começam a bater chapas. Alguns, sem ambições ou gosto artístico, não passam daí, porque, para ir mais longe é necessário não ser vaidoso, isto é, não julgar a própria obra o summum da arte fotográfica, e não ter preguiça, porque o gosto artístico desenvolve-se pela educação, o que exige trabalho persistente. Mas, mesmo nos primórdios da fotografia, um artista houve que não lhe aceitou o espírito analítico. É verdade que este artista era um

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