Antologia Brasil, 1890-1930

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quadro, bastasse dispor tintas com pincéis e espátulas sobre uma tela, qualquer pinta-monos seria o rival de Velasquez ou Rafael, de Corot ou Turner. Quem pinta, para fazer uma obra de arte, precisa ser artista e possuir também a técnica especial à pintura. Mas a técnica, por mais perfeita que seja, sem o talento, nada vale. Com a fotografia dá-se o mesmo. Os meios de expressão da fotografia permitem fazer arte com ela, mas, para que tais meios sejam utilizados de modo a produzir uma obra de arte, é preciso que sejam manejados por um artista, que se guie pelos princípios comuns de todas as artes gráficas e disponha da técnica fotográfica com tal segurança que se não precise preocupar com a execução dos processos necessários ao efeito visado. Decorre do que acabamos de dizer que podemos estabelecer que a base da fotografia pictorial é a boa técnica. A estas questões aqui não me referirei. Tratam-nas, esgotando-as, obras especiais e os cursos práticos do P. C. B. Mediante estudo simples, ao alcance de todos, os principiantes, em pouco tempo, podem tornar-se artífices hábeis, mas se querem passar a artistas, isto é, se querem, em vez de copiar servilmente a natureza, fixar sua impressão pessoal, necessitam mais alguma cousa. Necessitam assimilar os princípios comuns a todas as artes gráficas. Necessitam também usar de maneira tão segura da técnica aprendida que a desoladora habilidade do aparelho fotográfico seja dominada. Porque a objetiva ― principalmente a custosa objetiva anastigmática ― registra indiferentemente tanto a minúcia que concorre para o efeito artístico como a que o anula pela vulgaridade ou pelo excesso analítico. E é preciso a escolha, essencial a uma obra de arte e que só pode ser feita pelo artista tiranicamente senhor da técnica fotográfica. Para esta escolha não há receitas como as há para fazer quitutes. Existem, todavia, princípios gerais e manipulações técnicas, mas o resultado final depende exclusivamente de quem os aplica, de seu talento, do mesmo modo que as regras de versificação bem aprendidas e bem aplicadas não fazem poeta um ente sem sensibilidade e sem imaginação.

Antologia Brasil, 1 890-1 930

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