Antologia Brasil, 1890-1930

Page 109

(e entre eles mestres como Schiel, Kühn e outros) concordam com o princípio: tenho até a convicção de que alguns, acostumados a obter efeitos cômodos com poucos golpes de pincel ou de borracha, serão animados a refletir pelas linhas seguintes, detestando no futuro a fraude da arte. O pintor trabalha mediante a cor; por isso a cor é sagrada para ele; é seu meio de expressão. O desenhista, que dispõe unicamente da linha, respeita-a; e o fotógrafo, que somente possui valores, isto é áreas mais escuras ou mais claras, não devia considerá-los intangíveis? Não: não pode haver dúvidas, que a condito sine qua non da fotografia consiste na reprodução justa dos valores e que, descuidando deles, a produção fotográfica descamba em um divertimento científico. Sobre este ponto temos todos a mesma opinião. A discordância começa só na questão dos meios: intervenção manual mais ou menos violenta à maneira do pintor, ou influência puramente fotográfica sobre o resultado, pela modificação de todos os processos desde a composição até a montagem? Antes de resolver esta questão é preciso saber se a fotografia por si só é capaz de dar os valores justos e verdadeiros. Os intervencionistas dizem que não. Não há, porém, a mínima dúvida, que o uso de chapas ortocromáticas (ou pancromáticas) com o filtro adequado, e, em caso de contrastes demasiados, o uso de duas chapas, copiando em goma ou óleo combinado, em muitos casos também em outros processos, fornece valores completamente satisfatórios para as mais severas pretensões. A gradação do claro e escuro pode ser reproduzida conforme à impressão da luz e das cores na retina. Portanto a fotografia é capaz de passar sem as andadeiras da pintura. Felizmente porque, no caso contrário, nunca se poderia elevar a arte. Muitas vezes alega-se que todas as artes costumam fazer empréstimos às artes-irmãs; omite-se, porém, que, nestes casos se trata somente de pequenos trabalhos de técnica, e nunca dos meios fundamentais da expressão, que são os valores na fotografia. Wagner, competente na estética, sabia bem como são perigosos estes empréstimos; diz ele: "Só naquele domínio, no qual uma certa espécie da arte é necessária e indispensável, ela é realmente o que ela é, pode e deve ser... O que está fora do alcance dela não pode ser tirado egoisticamente de uma outra; porém a outra o é em lugar dela". Houston Stewart

Antologia Brasil, 1 890-1 930

1 05


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.