Blue Design 10

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LOJA DE LUÍS BUCHINHO, PROJECTO DE ANTÓNIO CABRAL CAMPELLO

SEQUÊNCIA INACABADA Luís Buchinho escolheu a baixa portuense para abrir a sua primeira loja atelier. Um projecto despojado, sequência fluida, da autoria do arquitecto António Cabral Campello que, partindo da verdade da ruína, cria algo de luminosamente novo. FOTOGRAFIA RICARDO POLÓNIO

UM ESPAÇO NU E DESPIDO, para dar voz e corpo ao “vestir”. É assim a nova loja atelier de Luís Buchinho no Porto, na Rua José Falcão, um projecto do arquitecto António Cabral Campello que, sem prescindir de uma identidade forte, voluntariamente se silencia para dar protagonismo ao conteúdo. “Pretendia-se que a roupa fosse protagonista no espaço. Embora o trabalho do Luís Buchinho possua características muito fortes, os temas das colecções variam de uma forma imprevisível, pelo que era um requisito a decoração do espaço ser suficientemente neutra para não eclodir com o tema de cada colecção, ou melhor dito, deixar lugar para que fosse cada colecção a definir o tema do ambiente a criar na loja para cada estação,” explica António Cabral Campelo. “Reduzem-se ao mínimo os elementos decorativos, fica apenas a escala e a proporção do contentor e respectivo tratamento de superfícies, com cores baças e mortas para que a cor de cada colecção sobressaia. Num espaço com um desenvolvimento axial e acentuadamente vertical, vazio e nu, destaca-se a roupa nos varões, intencionalmente colocados a uma altura superior ao habitual (e não exactamente funcional) apenas para que a sua presença domine e preencha todo o espaço.”. O espaço estava em ruínas. Não existia chão, não existiam portas nem janelas, apenas o rasto das paredes, ainda com a pedra à vista, e o travejamento dos tectos, que por opção do arquitecto e do estilista se manteve intacto, na sua beleza imperfeita e inacabada.

parecer inacabada”, recorda Cabral Campello. “Um travejamento de madeira visível é algo a que as pessoas estão habituadas e que tem a conotação de estilo ‘rústico’ - já vi classificarem esta obra de ‘um estilo rústico sofisticado’. Para nós esta opção não tem nada que ver nem com rusticidade, nem com sofisticação. Do que mais gostamos naquele tecto foi de ainda lá se encontrarem os barrotes de suporte do tabique do tecto estucado que em

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das dificuldades que gera na integração de infra-estruturas e de, para muitos, a obra lhes

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“Aquele tecto fascinou-nos desde sempre e fizemos tudo para o manter aparente, apesar

tempos lá existiu e da textura que estes produzem na sua sobreposição ao travejamento”. 117


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