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EMOÇÃO É DAR MAIS À FAMÍLIA Com um carro assim e o fim-de-semana à porta, só apetece viajar. No novo Seat Alhambra o espaço é totalmente versátil. Cabem as crianças, o cão, as malas e, desta vez, ainda levamos tudo para a festa da Maria. A família, encantada. Tecnologia da mais avançada, segurança garantida, portas de correr eléctricas e tecto de abrir panorâmico! Eu, feliz. Um motor potente, económico e com emissões de carbono reduzidas! Um automóvel surpreendente.

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editorial :: blue design

Perdidos e Achados GRANDE DESIGNER, ACHILLE CASTIGLIONI era também um grande coleccionador. Um grande coleccionador de coisas pequenas. Nunca lá estive, mas parece que no seu estúdio transformado em museu, em Milão, se acumulam objectos. Para além dos livros, dos protótipos, das maquetes, dos desenhos e dos próprios objectos que desenhou, muitas vezes em parceria com o seu irmão Pier Giacomo, há uma sala, inteirinha, reservada para os troféus quotidianos do maestro. Castiglioni, que projectava objectos fora de série, era um apaixonado por coisas comuns, de todos os dias. Tropeçava nelas, deixava-se encantar, recolhia-as, guardava-as como quem guarda tesouros e, finalmente, partilhava-as com os seus alunos, no Politecnico de Milão. Estes objectos – tesouras, alicates, porcas e parafusos, lâmpadas, garrafas, bancos perdidos, fechaduras e puxadores – eram usados como ferramentas pedagógicas, exemplos do design anónimo, que se não está na base de tudo, está na de muita coisa. Inseridos na corrente do quotidiano, estariam perdidos para sempre, não fosse este flâneur da cultura material deter-se neles e salvá-los do esquecimento, extraindo do comum o invulgar e tornando-os trouvés. Neste número, em que reunimos a nossa colecção particular do melhor do ano 2010, com a terceira edição dos Prémios Blue Design (que estreia nova categoria, pondo em relevo os projectos verdes que mais nos impressionaram) encontramos outros Castiglioni extraordinários. Como os coleccionadores anónimos, reunidos na edição especial da revista Colors, concebida e produzida pela equipa criativa da Fabrica. Ou como Joana Astolfi, autora da nossa capa, que pertinentemente acrescenta um “and collector” à sua preenchida lista de ocupações (“architect, designer, artist, curator”). Como descobrimos na entrevista, Astolfi é uma coleccionadora compulsiva. E criativa. Os objectos, que transforma ou acumula até à exaustão, são a sua perdição. Entre perdidos e achados, é a beleza das coisas extra-ordinárias que nos prende.

B L U E

D E S I G N

MADALENA GALAMBA mgalamba@blue.com.pt

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Concepção: Joana Astolfi Fotografia: Arlindo Camacho


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B L U E 6

DESIGN

SUMÁRIO

B L U E D E S I G N 16

D E S I G N

W W W. B LU E . C O M . P T

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10 B R A N D N E W D E S I G N As últimas novidades das primeiras marcas.

16 P E R F I L Retratos de Yves Behar e Maarten de Ceulaer.

22 SPECIAL GUEST: JOANA ASTOLFI A arquitecta mostra-nos a vida em zoom.

32 D E S I G N G U R U : P A T R I C I A U R Q U I O L A Os mais recentes projectos da superdesigner espanhola.

40 ESPECIAL: PRÉMIOS BLUE DESIGN 2010 Os eleitos do ano, em dez categorias mais uma.

64 F O C O : F O O D S C A P E S As paisagens gulosas dos alunos da ESAD.cr.

72 FOCO: GALERIA SECONDOME A inspiração da galeria de design romana.

78 PROJECTO DESIGN: ASTRID KROGH Design luminoso vindo da Dinamarca.

82 FOCO: ROCA WE ARE WATER Um projecto sustentável sobre a água.


No MoMA, a arquitectura que pode mudar o mundo.

A revista Colors lança uma edição de coleccionador.

108 C U L T O : M Ú S I C A Gostos não se discutem.

100 S P O T : H O T E L S E Z Z

114 S N E A K P R E V I E W

O paraíso azul cobalto de Christophe Pillet.

Levantamos o véu e descobrimos o design mais fresco.

110 E X P O S I Ç Õ E S A arte que vem.

111 L I V R O S Para folhear o design.

112 M O R A D A S Procure e encontre.

D E S I G N

88 EXPO: SMALL SCALE, BIG CHANGE

96 R E V I S T A : C O L O R S C O L L E C T O R

B L U E

Espaços privados e públicos que brilham.

IDEIAS

84 B R A N D N E W A R Q U I T E C T U R A

GUIA

ARQUITECTURA & INTERIORES

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BD-FICHA TÉCNICA 2010:BD-FICHA TÉCNICA 2010 12/10/10 10:43 AM Page 10

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BLUE MEDIA Rua Vera Lagoa, n º 12, 1649 - 012 Lisboa, Tel.: 217 203 340 | Fax geral: 217 203 349 | Contribuinte nº 508 420 237 DIRECTOR GERAL Paulo Ferreira | DIRECTORA Madalena Galamba, mgalamba@blue.com.pt DIRECTOR DE ARTE E PROJECTO GRÁFICO BLUE DESIGN Pedro Antunes, pantunes@blue.com.pt COLABORAM NESTA EDIÇÃO Ricardo Polónio (Fotógrafo) | Susana Alcântara (Arte) | Nuno Miguel Dias, ndias@blue.com.pt, Gui Abreu de Lima, glima@blue.com.pt (Textos) DIRECTOR COMERCIAL Paulo Ferreira, pferreira@blue.com.pt | DEPARTAMENTO DE MARKETING & PUBLICIDADE Maria Reis, mreis@blue.com.pt; Fax publicidade: 217 203 349 PRÉ-IMPRESSÃO Nuno Barbosa, nbarbosa@blue.com.pt | DISTRIBUIÇÃO Logista | IMPRESSÃO União Europeia DEPÓSITO LEGAL 257664/07; Registado no E.R.C. 125205 | PROPRIEDADE: MBC Lazer, S.A. { INTERDITA A REPRODUÇÃO DE TEXTOS E IMAGENS POR QUAISQUER MEIOS }

O seu comentário é fundamental para melhorarmos a blue Design a cada edição. Assim, criámos este e-mail para que nos possa apontar todos os defeitos que for encontrando na sua revista. Muito obrigado! qualidade@blue.com.pt


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INTRO

BRAND NEWS YVES BEHAR

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D E S I G N

MAARTEN DE CEULAER

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MESAS PHILLIPE I, DE SAM BARON PARA A CASAMANIA

Principescas UMA MINI COLECÇÃO DE “GUERIDON” ou pequenas mesas de apoio, Philippe I, desenhada por Sam Baron para a italiana Casamania, actualiza o espírito romântico do século XVIII, numa linguagem contemporânea. Nestas mesinhas, para usar em solitário ou aos pares, estão explícitas as referências

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D E S I G N

estilísticas do passado, mas também a atenção aos pormenores e a reinterpretação das técnicas de manufactura tradicionais. Em MDF e madeira, e com um tampo sobreposto de vidro ou espelhado, a irreverência das mesas está nos detalhes. Por exemplo: a aplicação do verniz mate que cobre quase toda a mesa, mas deixa uma parte descoberta, como se uma dama tivesse levantado as saias deixando ver os tornozelos. Requintada e elegante, Philippe I não prescinde, felizmente, do humor. www.casamania.it www.fluxograma.com 10


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www.fluxograma.com


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brand new :: design

BARDOT, DE JAIME HAYON PARA A BERNHARDT

B.B. AS CURVAS DE BRIGITTE BARDOT e a sua boca de morango, serviram de inspiração ao espanhol Jaime Hayon para desenhar este sofá compacto e sedutor para a Bernhardt. “Queria que fosse como um fruto, tenro ao toque, e que ao mesmo tempo combinasse a leveza e a força de uma bailarina”, afirmou o designer. Com os ângulos suavizados, e um aspecto sólido e generoso, o sofá Bardot é mais pequeno do que parece, sendo por isso perfeito para espaços mais reduzidos. Disponível em vermelho, verde lima e branco, é sedutor por natureza.

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www.hayonstudio.com

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design :: brand new

COX COOKIES AND CAKE

Dentadas Glam OS CUPCAKES são de tal maneira tendência que já começam a enjoar, mas em Londres, na Cox Cookies and Cake, reinventam-se. Depois de 20 anos a desenhar sapatos para os famosos, Patrick Cox estava pronto para a reforma quando decidiu abrir um negócio guloso com o mestre pasteleiro Eric Laniard. Juntou-se o útil ao agradável ou “a fome à vontade de comer”. Os bolinhos e bolachas são deliciosos por dentro (Laniard, uma estrela da televisão e autor de vários livros, é um reputado patissier) e glamourosos por fora.

a Warhol, e uma série de inspiração erótica. No Natal, os bolinhos vestem-se a rigor, com flocos de neve, bolinhas decorativas e espírito angelical provocador. www.coxcookiesandcake.com

B L U E

versões mais arrojadas: cupcakes de chocolate decorados com caveiras, uma homenagem

D E S I G N

Existem os clássicos (mas esqueçam o tédio cor-de-rosa, aqui a ideia é cor e purpurina) mas também

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design :: brandnew

ASPIRADOR AIR FORCE, PARA A ROWENTA

Prático e eficiente A POPULAR ROWENTA, há décadas a oferecer pequenos electrodomésticos de alta qualidade e inequívoca utilidade ao nosso dia-a-dia, lançou dois novos aspiradores que fazem a diferença. Os Air Force fogem ao tradicional formato porque são verticais e têm um design interessante, tanto do ponto de vista funcional, como em termos de arrumação. Sem fios e sem saco, de elevada potência, estão dotados com

uma escova turbo com função booster, para limpeza de tapetes e carpetes. Confortáveis de manusear e com qualidade assegurada, os Air Force apresentam-se em duas potências, dois preços e duas cores encantadoras. E é aí que está grande parte da sua graça.

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que garante uma aspiração mais eficiente em locais de difícil acesso, e que inclui

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a denominada escova Delta, um sistema patenteado e exclusivo da marca,

www.rowenta.pt 15


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design :: perfil

Yves Behar

O HOMEM-BOMBA Vira conceitos do avesso, muda o rumo dos acontecimentos e ganha prémios de prestígio. Gosta de tecnologia, privilegia a experiência humana e promove a sustentabilidade. É Yves Behar, um detonador de ideias. Texto: Gui Abreu de Lima


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QUANDO SE ACEDE à lista de clientes da Fuseproject e se espreita cada trabalho elaborado, não há como não ficar suspenso num sorriso deliciado. A empresa do designer suíço que encantou a América, é a própria cara de Yves Behar, que nesta edição perfilamos com agrado e carinho. Agrado, porque é um gosto falar de quem traz sensação e diferença ao mundo. Carinho, porque é um designer sensível às maleitas da acção dos Homens sobre o Planeta, ainda que a encomenda seja um sofisticado objecto para a gigante Samsung. E se a Coca-Cola acabou a contratá-lo para redireccionar a empresa em termos de sustentabilidade, muito está dito. Quando a pequena agência com apenas vinte colaboradores vê o seu trabalho reconhecido e premiado com galardões de prestígio e os CEO de multinacionais de peso se interessam pelas suas ideias e opiniões, há mesmo razões para as empresas olharem o design com olhos de ver, como defende Behar – uma ferramenta que muda o rumo, o sopro de um negócio, o resultado final. A ideia começa a fazer eco nas empresas e Yves Behar tem contribuído para essa mudança. O mais velho de três irmãos, filho de pai turco e mãe alemã, nasce em Lausanne, em 1967. Em pequeno, já o ímpeto se revelava. Inventava coisas. Aos 19 anos, pronto a entrar na universidade, preferiu seguir a uma pequena escola de artes e só adiante ingressa no Art Center College of Design, em Montreux, de onde segue ao congénere de Pasadena, nos E.U.A, para cursar design industrial. E da América já não sai, porque o trabalho surge no alfobre do Vale do Silício. Corre a década de noventa, a Frog Design, Inc. e a Lunar Design, que desenvolvem produtos para a Apple, a Hewlett Packard e a Silicon Graphics, recorrem a Yves.

A proeza de fundir estes conceitos na matéria, através do design, dá nas vistas. A Fuseproject surpreende, causa sensação, abre horizontes, marca a diferença. Usa a tecnologia, o bom senso e a arte, concebe objectos inteligentes da raiz à ponta dos cabelos, e faz jus à ideia de que o design deve privilegiar a experiência humana. Contendo todos os ingredientes: um olhar abrangente, humano e visionário. Quando um objecto provoca a inteligência, abana as emoções e serena preocupações, é a perfeição. E é o sucesso. E a credibilidade. E os prémios – mais do que a “Fuse”, só a Ideo. Mas comparar uma agência de 500 funcionários com a de Behar, que emprega 28 pessoas... Para lá do portefólio recheado de projectos e de conselhos revolucionários para grandes marcas, dentro e fora dos Estados Unidos, Behar presenteou-nos com uma exposição que ocupou por dois meses o Yerba

Design in the Age of Individuality – Hackers Modders, Fabbers and Tweakers. Vem falar de envolver as pessoas com os objectos. Incitar os consumidores a intervirem no design, convidar cada um de nós a participar nos processos criativos, a contribuir para que a produção em massa e a tecnologia se case com a imaginação e o faça você mesmo. Além do contributo do curador, uma série de designers foram chamados, as suas peças intervencionadas e o futuro dirá se o desafio proposto através desta mostra reinará. Para que os homens sintam novo entusiasmo. Pelos desejos do espírito, pela vontade da diferença, pela aventura sublime de imprimir no mundo material a unicidade da sua alma, a capacidade de mexer no que o rodeia. É essa a emoção e a mudança que Yves sugere. Sem renunciar à tecnologia e ao mais sofisticado progresso da Humanidade e

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delineada, a espelhar a sua natureza: humanista, naturalista e futurista.

Buena Center for the Arts, em São Francisco – TechnoCRAFT:

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Em 1999, uma empresa própria, a Fuseproject, com uma estratégia bem

www.fuseproject.com 17


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design :: perfil

Maarten De Ceulaer

DE MALA AVIADA Nasceu e formou-se na Bélgica, e com meia dúzia de malas, revelou-se ao mundo. Seguiu à Índia, onde faz trabalho voluntário e cumpre o seu design. O traço é puro, a mensagem forte, o apelo poético e a ideia clara. Texto: Gui Abreu de Lima


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A BEM DIZER, MAARTEN DE CEULAER nasceu outro dia. Nos frescos alvores dos anos oitenta. Fez os primeiros estudos de Design de Interiores na Sint-Lukas Hogeschool, em Bruxelas, seguiu o rasto encantado do design industrial e de mobiliário na Design Academy Eindhoven, cirandou pelos estúdios de Danny Venlet e de Alain Berteau, ainda na capital da Flandres, até voar à Índia, direitinho ao The Mud Office, o atelier de Vivek Radhakrishnan, em Bangalore. E embora pelas índias se mantenha, o novíssimo designer empreende com sede em Bruxelas e presença na web, o seu Maarten de Ceulaer Design Studio. Os trabalhos de Maarten começaram a ser vistos a partir de 2004, com mostras em Bruxelas e na Holanda, algumas promovidas no seio académico, mas é em Setembro de 2007, que chega a distinção mais Mas claro que outras luzes se acendem na criatividade de

pelo mundo, arrumam já a vida de muita gente e dão alma nova a muitos

Maarten. Literalmente. Com a série de candeeiros, visualmente

espaços. Nas cores da paz, do céu ou do oceano (branca, azul ou verde),

simples, mas cheios de predicados. Os Liquid Lights, a explorar

empilhadas ao gosto do freguês e vestidas para arrasar, constituem um

um conceito único e feliz: garrafas de vidro em formatos

armário modular de forte impacto visual, que depressa passou a produto

diferentes, lâmpadas feitas à mão e a água no engenho, através

exclusivo da italiana Casamania. Tão original, que mereceu

de corantes inofensivos (alimentares) e fáceis de adquirir,

continuidade, dando o mote à criação da Leather Collection, a deriva em

propõem-se a mudar totalmente a atmosfera de um espaço,

outras ornamentações para utilizações diferentes. Um móvel de gavetas –

ao tom do espírito; para jardins e varandas, o Nomad Light Fire;

Small Pile of Briefcases – a irresistível cómoda a cores estonteantes –

a alegrar cenários, o engenhoso Nomad Light Molecule;

Low Chest of Suitcases – e a quase bipolar secretária – The Desk of

e o versátil e portátil Nomad Totem, faz a festa onde bem

Briefcases – que parece vaguear entre o caos e a sensatez. A Leather

quisermos. Tudo criações luminosas, onde o designer desata

Collection foi já apresentada em vários festivais e eventos de design, em

os fios da inspiração e do estilo próprio – simples e forte,

galerias de arte e no Salone del Mobile, em Milão. O encanto da pele, no

a questionar o mundo e a responder-lhe através dos objectos.

caso reciclada, trabalhada por Ralph Baggaley, um grande artesão de

Objectos que se usem, que unam o pensamento à matéria, com

Bruxelas, exímio no detalhe, junta-se ao traço divertido e brincalhão de

estética, conforto e humor, como deseja Maarten de Ceulaer. e

de Ceulaer, dando-lhe o toque sofisticado e elegante de uma peça de luxo, com todo o charme das antigas malas de viagem, símbolos de vida. Na Casamania, o airoso e inteligente armário foi baptizado de Valises.

www.maartendeceulaer.com www.casamania.it www.fluxograma.com

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Designers Award. Ou seja, as malinhas nunca mais deixaram de viajar

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honrosa – o projecto A Pile of Suitcases vence o Dynamo Belgian Young

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ES

TÁ O A FUT CO U M RO EÇ AR …

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DESIGN

JOANA ASTOLFI PATRICIA URQUIOLA

SECONDOME ASTRID KROGH ROCA WE ARE WATER

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FOODSCAPES

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PRÉMIOS BLUE DESIGN 2010

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JOANA ASTOLFI:

A VIDA EM ZOOM Algumas vivem a “vie en rose”. Joana Astolfi prefere a vida em zoom. Um olhar irrequieto, que perscruta os objectos à lupa para deles retirar o seu melhor lado, ou a sua melhor história. Arquitecta, designer (?), curator, Astolfi parece a mulher dos mil ofícios. No fundo, descobrimos, as diferenças estão na escala. A permanência está na vontade de agitar. ENTREVISTA MADALENA GALAMBA


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Joana Astolfi não pode receber-nos no seu estúdio do LX Factory. Está atulhado de coisas (escreveríamos “tralha” mas não faria sentido), no rescaldo da segunda iniciativa convocada pela PuppenHaus, Water Closet, onde 14 artistas portugueses de diferentes áreas intervieram nas casas-de-banho públicas do LX, espaços de cruzamento entre o íntimo e o social. A PuppenHaus, para quem inexplicavelmente lhe tenha passado ao lado, é uma associação cultural que celebra a arte contemporânea nas suas diferentes manifestações, criada em 2007, por Joana Astolfi, Felipa Almeida e Christina Bravo. Mas já lá vamos. O chá, que tomamos na atmosfera muito casa-de-bonecas do Café na Fábrica, começa a arrefecer, e há muitas coisas para contar.


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A HISTÓRIA COMECA EM LISBOA, onde Joana Astolfi nasceu, em 1975. Filha de arquitecto, é pela arquitectura que se decide, depois de passar anos a “desenhar, pintar e a fazer esculturas”. Formou-se em arquitectura pela University of Wales, em 1998, fez estágios em Munique e no Porto, e mudou-se para Londres, em 1999, para trabalhar em remodelação de lofts. Na altura em que projectava a sua primeira casa, a Risso-Gill, em Cascais, Joana Astolfi cruza-se com a Fabrica (o seu portefólio é um dos que não escapam ao olho clínico do então director criativo do centro de pesquisa da Benetton, Jaime Hayon) e durante dois anos, em Treviso, desenvolve vários projectos multidisciplinares para o grupo. São anos intensíssimos, de frenética actividade criativa, e neles destaca-se a exposição Canova (2003), a maior retrospectiva do escultor neoclássico, cuja concepção e coordenação ficou a cargo de Astolfi, e que marcou um ponto de viragem no seu percurso. Em 2004, empurrada pela nostalgia, regressa definitivamente a Lisboa, onde colabora com a Experimentadesign e desenvolve projectos como freelancer em arquitectura, design e direcção criativa, como o projecto do showroom/atelier dos Storytailors, e o design da exposição Cem Anos da CUF. 2009 é um ano forte para Joana Astolfi. É nesta altura que monta oficialmente o Studio Astolfi, onde se dedica à sua actividade desdobrável, que engloba projectos em diferentes escalas, imaginamos que para Astolfi, todos “grandes”: arquitectura, design de interiores e expositivo, customização de móveis e objectos, criação de peças únicas de autor e presentes personalizados. A ideia é sempre transformar. Criar a partir do zero não lhe interessa. E assim, por palimpsesto, sobrepondo camadas e camadas de sentido, vai tecendo a sua própria história. Uma mesa-vitrine para guardar colecções, uma bengala para dois ou uns auscultadores-búzio são alguns dos projectos, encomendados ou autopropostos, que lança com êxito. É em 2009 que a PuppenHaus realiza a primeira exposição, a aclamada “A Beleza do Erro”, que reúne 30 obras especialmente encomendadas feitas por 30 artistas e designers nacionais e internacionais. Para 2011, prepara Things are Getting Worse, Please Send Chocolate: uma exposição para o tempo de crise, com 12 peças novas que partem do título de uma obra em miniatura que fez o ano passado. Com a PuppenHaus, estreará When a House is Not a Home, em que artistas trabalham o habitat, mas numa escala em miniatura. Será no primeiro semestre do ano, na nova casa das bonecas, a Plataforma Revólver. Mais um golinho no chá. Começamos a conversa, como duas meninas bem comportadas. Joana Astolfi fala com a mesma intensidade com que trabalha. Com a mesma curiosidade e agitação positiva. Com a mesma vontade de arriscar. Usa muitas palavras em inglês, mas é claro que é só a maneira mais rápida de fazer passar a sua mensagem. Como uma sucessão de clicks, como os que se seguem. No CV escreve “Vive a vida ao pormenor”. O que quer dizer com isso? Pode pormenorizar... No fundo, é olhar em zoom para tudo. As coisas que me inspiram normalmente não são os planos grandes. Quando entro num espaço, ou quando vou a um mercado (que é um sítio onde adoro ir, onde encontro muita inspiração) olho sempre para aquelas coisas que são os detalhes, e que saem fora do normal, que se destacam não só por serem diferentes mas por terem um click. Às vezes é o humor, às vezes é a combinação de materiais, às vezes é só uma imagem que eu vejo passar...


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“A beleza do erro” foi o primeiro projecto da PuppenHaus. Como aconteceu? Lancei o desafio à Felipa (Aires). Depois convidámos a Christina (Bravo), para fazer toda a parte de produção e logística. Há um equilíbrio, uma harmonia muito grande entre nós. E acho que isso é uma grande mais-valia da Puppenhaus. Fazer “A beleza do erro” foram dois anos de curatorship. Fizemos muita pesquisa, visitámos muitos estúdios de artistas. A Felipa, que tinha trabalhado em galerias, e escrito para revistas, tinha uma grande bagagem nesta área. Ela tem uma enciclopédia na cabeça. Todas as semanas tínhamos um almoço, que durava 3, 4 horas, onde discutíamos as coisas. Durante um ano pesquisámos, depois montámos. Lançamos um desafio a 30 artistas, 15 estrangeiros. Foi uma exposição muito ambiciosa. Foi duro. Até hoje, ainda é a “beleza do erro”. Deu muito trabalho, mas foi muito bom. Qual é o ponto de partida? É sempre o conceito, a história que eu vou contar. Depois vai-se traduzindo (seja uma peça, seja um espaço, seja uma capa de uma revista ou um conceito para um videoclip) em clicks. Esses pormenores, esses detalhes, são clicks. Um click, no fundo, é um conceito que se transmite num momento. Não me interessa a estética per se. Interessa-me quando transmite,quando conta uma história. Tenho um leque enorme de escalas na minha vida: trabalho casas, e depois faço até uma caixa de fósforos. O pormenor vai de um puxador de porta na casa até aos cenários de miniaturas que eu crio no meu trabalho diário, nas minhas commissions. Sempre gostou de casas de bonecas? Sim. Sempre. A minha brincadeira era sempre teatral. Criava o espaço, mas depois interessava-me saber como é que o espaço podia ser habitado, então ia metendo todos os objectos, ia organizando tudo, como se estivesse lá dentro a viver dentro do espaço. Lá está, interessavam-me os pormenores dentro do espaço. Nunca gostei de peluches nem nada. Muito Lego, e muitos objectos. Sempre tive essa mania de coleccionar. Sempre fui uma coleccionadora. Por exemplo, o mesmo objecto, mas cem vezes. A ideia de repetição. Por exemplo, o que coleccionava? Chaves. Borrachas, milhares. Lápis, milhares. Rádios. Já queria coleccionar cadeiras. Nunca coisas novas, sempre gostei de objectos que já tivessem uma história. Toda essa história de mass production não é nada a minha praia. Interessam-me muito mais peças de autor, peças

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D E S I G N

exclusivas, coisas personalizadas.

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E que sítios é que gosta de visitar para encontrar essas coisas? Uma retrosaria deve ser o paraíso... Sim. A Feira da Ladra é o meu atelier principal, vou todas as terças e sábados, conheço toda a gente, tenho “crédito” em vários sítios. Não posso ir com ninguém à Feira da Ladra, porque estou a fazer scan constante, estou a olhar para os objectos e a pensar onde é que aquilo pode ser usado, como posso transformar aquilo...Adoro a Baixa... esse tipo de lojas antigas, de carimbo, adoro. Adoro stationery. Depois há lojas que não têm nada a ver... por exemplo drogarias, têm sempre coisas especiais, mantas plásticas, funis, esponjas douradas, que depois podem ser alteradas para peças minhas. E quando parte à descoberta, não vai à procura de nada em concreto? Às vezes vou. Às vezes ligo, e digo 'Sr. Alberto, preciso de doze gavetas, todas diferentes, o mais antigo possível, mas naquela onda anos cinquenta... não me traga coisas barrocas...' Ou então: 'Vou precisar de seis chaves. Todas ferrugentas'. Traz tudo isso ao seu trabalho para depois fazer a sua própria reformulação, mas não é “fundamentalista”, não pára numa recriação de uma época. Claro. O ponto de partida é sempre um objecto de uma época. Mas depois o grande desafio é pegar no objecto e dar-lhe uma nova história. Ressuscitar o objecto. Isso é o que eu gosto mesmo de fazer e acho que vou cada vez mais nessa direcção. O meu ganha-pão continua a ser a arquitectura, mas eu comecei na arte... A arquitectura foi uma via, o meu pai é arquitecto, portanto, eu sempre estive muito ligada aos espaços, etc.. A arquitectura permitiu-me começar a pensar em três dimensões, e abriu-me muitas portas. Descobri a fotografia, o design gráfico, através da arquitectura. O que é que a marcou na Fabrica? Estive dois anos na Fabrica. Fui a primeira de Portugal a ir. O primeiro ano na Fabrica foi uma loucura, de intensidade criativa. Nunca tive um ano que me chupasse tanto a nível criativo. Mas eu estava a querer dar isso também. Estava a trabalhar em cinco ou seis projectos ao mesmo tempo. Tinha muitas responsabilidades naquele ano. O Jaime Hayon delegou muita coisa em mim (eu já estava no limite da idade, tinha 25 anos). Aquilo foi intensíssimo. Acabei uma relação e tudo. E há uma coisa: estamos no fim do mundo. Somos 60 criativos, considerados dos melhores do mundo, escolhidos a dedo, mas estamos num bunker debaixo da terra. Isso torna a coisa três vezes mais intensa. Crias laços muito fortes. Mas depois é muito descartável, é muito cíclico, porque os mesmos que chegam vão embora. Fazes muitas coisas. Como te sentes? Toda a gente me chama artista, mas é difícil realmente dizer o que é que eu sou. Sou arquitecta de formação, mas sinto-me cada vez mais a afastar da arquitectura, porque tem muita burocracia, muitas restrições, muito tempo perdido. Hoje em dia o meu maior desafio é trabalhar com objectos.


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B L U E

D E S I G N

design :: special guest

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B L U E

D E S I G N

design :: special guest

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As pessoas pedem-me que faça presentes. Por exemplo, para uma pessoa que gosta de mel, guarda-chuvas e livros antigos. Eu faço. Tenho um cliente que é coleccionador e pede-me que lhe desenhe objectos para guardar as colecções, e que lhe faça o layout das colecções. Fiz-lhe uma mesa-vitrine, e agora estou a trabalhar uma peça feita com pontas de charutos cortadas e anilhas. Esse tipo de trabalhos dá-me muito gozo. Adoro criar peças minhas, edições limitadas. Queria ir cada vez mais por este caminho, de objectos transformados, ressuscitados, manipulados. São as narrativas que lhe interessam? Interessam-me estes objectos pela história que contam, mas sobretudo porque são únicos, one-off. Tudo o que é personalizado, interessa-me. Aliás, isso já começou na arquitectura. Fiz muita reabilitação de espaços. Em arquitectura, prefiro mil vezes recuperar do que fazer casas de raiz. Adoro ter essa oportunidade de entrar, limpar a coisa toda, tirar o que não me interessa e depois trabalhar em cima disso. Mantendo as bases. Interessa-me entrar num espaço ou num objecto que tenha uma verdade própria e que eu possa trabalhar em cima desse carácter que já existe. Um projecto que adorasse fazer? A minha casa. Está em progresso nos meus sonhos. A minha casa vai reunir o meu mundo. Mas sem dúvida que a nível material, gostaria muito que fosse uma coisa ligada ao Bauhaus: madeira, betão e vidro. E depois, em cima disso, brinco. Também gostava de ter um filho. A transformação faz ainda mais sentido nos dias que correm? Insisto sempre na palavra transformar, ou recriar, muito mais do que começar do zero. Há muito pouco espaço para isso. Já não há nada a fazer. E é isso que procuro no meu trabalho. Reutilizar objectos, materiais, etc.. Não me considero designer. Não me interessa o design per se. Interessa-me sim transformar e manipular. e


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A SUPERDESIGNER

Exposição COSAS, Valencia, 2010


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2010 marca oficialmente a entrada de Patricia Urquiola no clube dos superdesigners. Com 40 novos lançamentos para 15 marcas, a espanhola esteve absolutamente imparável num ano pletórico para uma profissional naturalmente prolífera. Aliando raça e graça, Urquiola é mais do que uma referência no design contemporâneo. É a guru feminina do nosso tempo, e tudo em que toca é ouro. ENTREVISTA MADALENA GALAMBA IMAGENS CORTESIA STUDIO URQUIOLA


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A UMA SENHORA não se pergunta a idade, mas no caso de Patricia Urquiola não seria um embaraço. À beira de fazer 50 anos (nasceu em 1961, em Oviedo), a designer espanhola está nitidamente no auge. Atingiu um lugar ao qual muito poucos podem aspirar, e menos ainda conseguem chegar. 2010 foi um ano em grande, um ano cheio, em que Urquiola, como é costume, se desdobrou em projectos, todos diferentes — um hotel, várias cadeiras, os interiores de um carro, alguns sofás, uma exposição retrospectiva, uma mala — e todos levando a marca de uma imaginação e sensibilidade prodigiosas. De um talento enorme, capaz de tornar o experimentalismo prático, e de simplificar o que parece não ter solução. Desde 1989 a viver em Itália, Patricia Urquiola ganhou mais do que um sotaque. Embora não esqueça as suas raízes ibéricas (a exposição retrospectiva Cosas, organizada este ano na feira de Valencia, é bom exemplo de uma ligação muito forte à sua terra), é muito mais fácil identificá-la com a tradição do design italiano e quase automático escolhê-la como um dos grandes nomes da contemporaneidade italiana passando por alto o pormenor de não ter nascido ali. Mas não é só o facto de ser, apesar de tudo, uma espanhola em Itália que a coloca num plano diferente. É o facto de ser mulher, num mundo, como o do design, que continua a ser um terreno essencialmente masculino. Nas poucas

”2010 FOI UM ANO EM GRANDE, UM ANO CHEIO, EM QUE URQUIOLA

entrevistas que concede, Urquiola é relutante em admitir

se desdobrou em projectos,

hiperactiva como ela.

B L U E

D E S I G N

todos diferentes, e todos levando a marca

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que o facto de ser mulher signifique qualquer diferença. É uma questão de talento, não de género, parece querer dizer. Ainda assim, escapam-lhe as evidências, como há uns anos, quando numa conversa que tivemos, admitiu que ter um filho (acabava de ser mãe pela segunda vez), era bastante complicado para uma profissional

A HIPERACTIVIDADE não é aqui uma

de uma imaginação e sensibilidade

perturbação. É sinal de uma energia transbordante, que

prodigiosas.”

se nota na maneira acelerada como fala e na quantidade de projectos que lança, impecáveis, como se em cada um deles tivesse posto todo o tempo do mundo (e não uma fatia do seu tempo cronometrado), como se cada um deles fosse simultaneamente o primeiro e o último.


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B L U E

D E S I G N

design :: guru

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CLÁSSICO, CONTEMPORÂNEO À esquerda, em cima, colecção para a Molteni. Em baixo, projecto para a Art Basel. À direita, tapete Mangas, para a Gandia Blasco.

Patricia Urquiola formou-se em Arquitectura em Madrid. Era um curso mais canónico, respeitável e convencional, mais “próprio” para uma menina de boas famílias do norte de Espanha. Obviamente, a Arquitectura não chegava. Deu-lhe umas excelentes bases, mas não era tudo. Foi para Milão, para o Politécnico, onde fez a sua tese sob a orientação de Achille Castiglioni, uma figura que, naturalmente, a marcou muitíssimo. A partir daí, abraçou o design. Um encontro com Madalena de Padova levou-a a liderar o departamento de produto da DePadova, a partir de 1991, onde traballhou com outro maestro, Vico Magistretti. Mais tarde, produzir-se-ia novo encontro marcante, com Patrizia Moroso, para quem Patricia Urquiola projectou algumas das suas peças melhor conseguidas, numa aliança criativa fortíssima e provavelmente sem par dentro da indústria. Em 2001 a designer monta o seu próprio estúdio, a partir do qual desenvolve projectos para algumas das mais consagradas marcas italianas (e algumas espanholas, como a Gandía Blasco), como a Moroso, a B&B Italia, a Kartell, a Molteni, a Emu e muitíssimas outras. Se Urquiola parece geneticamente incansável, em 2010

Em Milão, apresentou vários produtos para a Moroso, novidades com um toque retro (como a cadeira Klara) ou variações de colecções de êxito (como os sofás Rift). Para a Kartell, redesenhou os arquétipos (Comback, uma cadeira de plástico) para a Molteni, mostrou como os clássicos nunca passam de moda, e para B&B Italia criou um sofá monolítico, Bend, que parece esculpido à mão. Bend reúne, num formato modular, alguns dos traços mais fortes do design de Urquiola: um apelo emocional e táctil, uma espécie de formosura entranhada mas extremamente prática e funcional.

”EM ‘COSAS’, ADIVINHAMOS A PAIXAO DA DESIGNER PELO CRAFT, o brilhantismo com que, repescando tradições, materiais e artesãos, não deixa que técnicas e saberes de sempre morram.”

B L U E

omnipresente a flutuar sobre o planeta design.

D E S I G N

bateu todos os recordes ao ponto de parecer uma deusa

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Pelo meio, ainda teve tempo de emprestar o seu talento a uma parceria entre a Kvadrat e a BMW, para vestir os interiores de um automóvel com os têxteis de vanguarda e de desenhar, para a Gandía Blasco, a sequela dos seus tapetes Mangas, em versão pufe. Em Espanha, Urquiola não resistiu a marcar a agenda com o seu lado menos convencional. Com a exposição Cosas foi directa ao assunto e fez o que muito poucos designers se atrevem a fazer, numa restrospectiva: mostrou os protótipos. Aliás, pendurou-os, como se nascessem de lianas, numa paisagem feita de texturas, materiais (como a madeira, os tecidos, a ráfia, as lãs), formas orgânicas e pormenores delicados. Em Cosas, onde suspeitamos que Urquiola mostrava o melhor de si, adivinhamos a paixão da designer pelo craft, o brilhantismo com que, repescando tradições, redescobrindo materiais e trabalhando com artesãos, não só não deixa que as técnicas e os saberes de sempre morram, mas actualiza-os, refresca-os, em formas inteiramente novas. PROVAVELMENTE será a mesma sensação sinfónica que se encontra no W Hotel Vieques, na ilha com o mesmo nome, ao largo de Puerto Rico. Ali, Urquiola concebeu um projecto de design de interiores onde colocou algumas das suas peças mais icónicas.

”ERA POSSÍVEL MOBILAR UMA CASA INTEIRA, todas as divisões incluídas e exteriores também, só com objectos desenhados por Patricia Urquiola. O mais certo seria não nos aborrecermos, já que cada coisa

B L U E

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tem a sua própria identidade.”

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E o que o impressiona é a maneira como, apesar das diferentes origens, experiências, momentos, tudo se articula de maneira tão harmoniosa, porque de facto fazem parte de uma mesma família. Como escreveu um jornalista da Wallpaper, era possível mobilar uma casa inteira, todas as divisões incluídas e os exteriores também (com móveis da Kettal, ou da Emu), só com objectos desenhados por Patricia Urquiola. O mais certo seria não nos aborrecermos, já que cada objecto, sendo testemunho de um talento invulgar para projectar, tem a sua própria identidade, resolve o seu próprio problema, desperta a sua particular emoção, e é sempre infinitamente maior do que um estilo. e www.patriciaurquiola.com


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SINFÓNICO O The W Hotel Vieques, em Puerto Rico, onde Urquiola

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D E S I G N

compôs uma sinfonia com os seus trabalhos.

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10 categorias, 50 finalistas, 10 vencedores. Mais um. Os prémios Blue Design estão de volta, este ano com uma novidade: a categoria "verde", que distingue as ideias e produtos mais sustentáveis do ano. Ao todo, são 55 razões para celebrar 2010. Produtos e pessoas, marcas e ideias com energia positiva e criativa.

As categorias CRIATIVO DO ANO : CRIATURA DO ANO: ESTREIA DO ANO: REGRESSO DO ANO : LUXO DO ANO : BÁSICO DO ANO MÁQUINA DO ANO : SPOT DO ANO : IDEIA BRILHANTE DO ANO : INSPIRAÇÃO DO ANO : IDEIA VERDE DO ANO

10 categorias, 50 finalistas, 10 vencedores


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CRIATIVO DO ANO

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DESIGN É INSPIRAÇÃO E INOVAÇÃO O melhor do ano em produtos, marcas, ideias e criativos que marcaram 2010

A FIGURA OU COLECTIVO QUE NOS ESMAGOU EM 2010

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Ronan & Erwan Bouroullec Parece que todos os anos o são, mas este foi sem dúvida o ano Bouroullec. Várias vezes finalistas, vencedores em mais de uma categoria, são finalmente o nosso criador do ano. “Always the bridesmaid, never the bride” até ao dia em que mais do que encher as nossas medidas, nos esmagam com doses iguais de sensibilidade e rigor. Para Ronan e Erwan, 2010 foi um ano de estreias (no mundo das casas de banho, com a versátil linha para a Axor, e à mesa, pela mão da Alessi, com Ovale), mas também de regressos (à Cité Radieuse de Le Corbusier, onde desenvolveram um projecto de remodelação efémera, e ao artesanato, através do vidro soprado, no candeeiro Lighthouse, uma co-edição Venini/Established & Sons). Pelo caminho, ainda tiveram tempo de testar materiais high-tech em formas irrepreensíveis (como o candeeiro Lampalumina, para a Bitossi) e de respirar fundo através da arte, com mais uma exposição na Kreo, Lianes, Roches et Conques, que retomava a natureza como inspiração. Incontestáveis príncipes do design francês, são agora reis e senhores do seu domínio: o design puro e simples. www.bouroullec.com


MIYAKE ISSEY

PATRICIA

SCHOLTEN

&

URQUIOLA

BAIJINGS

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{ FINALISTAS }

LUCA NICHETTO

SCHOLTEN & BAIJINGS

ISSEY MIYAKE

PATRICIA URQUIOLA

Em pouco tempo, Luca Nichetto passou de

Experimentais, tradicionais, ousados

O mestre japonês trocou as fabulosas

Esteve de tal maneira omnipresente que

ilustre desconhecido a grande esperança do

e delicados, Stefan Scholten e Carole

pregas por dobras ao estilo origami, mas

nos perguntamos se será humana. 2010 foi

design italiano. Aos 34 anos, o veneziano

Baijings conseguiram tingir o planeta

não perdeu um milímetro do seu génio.

o ano em que Patricia Urquiola entrou

personifica a renovação do design

design com as suas cores ao mesmo tempo

Aos 77 anos, lançou uma nova colecção

oficialmente no clube dos superdesigners.

transalpino. Não são só as aziende italianas,

eléctricas e suaves. Uma série de projectos

(um novo paradigma) com um nome

E entrou ao seu estilo, com passos firmes e

como a Casamania, a Foscarini e a

consistentes confirmaram-nos como um

misterioso mas que ecoa os passos que

confiantes. Na carteira, nada menos que 40

newcomer Skitsch, que se rendem ao

dos talentos a seguir no design holandês.

damos para desdobrar a roupa e fazê-la

novos projectos, para as suas editoras de

encanto de Nichetto, com um design directo

O projecto Paper Table e os gulosos

passar do plano às 3D. Depois de ser um

sempre, como a Moroso e a B&B Italia, mas

e evidente. Os britânicos da Established &

Vegetables marcaram um ano inspirado,

dos incontornáveis numa exposição sobre

também com novas colaborações.

Sons e os suecos da Offect também não lhe

onde a ilusão é celebrada com graça

moda nipónica na Barbican de Londres,

Os tapetes Mangas, o hotel W, em Puerto

resistem, editando, respectivamente, um

e espírito.

Miyake prepara-se para abrir mais uma loja

Rico, e a exposição monográfica Cosas,

candeeiro inspirado num cano (Pipe) e uma

www.scholtenbaijings.com

à medida da suas criações, desta vez

foram os momentos altos de um ano

cadeira DIY (Robo). Mas o hit do ano terá sido

desenhada por Tokujin Yoshioka.

poderoso para a espanhola.

a colecção Essence, onde combina com

www.isseymiyake.com

www.patriciaurquiola.com

mestria o vidro e a cerâmica, honrando as suas origens.

LUCA

NICHETTO

www.lucanichetto.com


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CRIATURA DO ANO

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DESIGN É INSPIRAÇÃO E INOVAÇÃO O melhor do ano em produtos, marcas, ideias e criativos que marcaram 2010

O ÍCONE (DE DESIGN OU ARQUITECTURA) DO ANO A QUEM DARÍAMOS UM ÓSCAR SEM PESTANEJAR

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VitraHaus Foi direitinha para uma das nossas capas (blue design 13B) e é fácil perceber porquê. A adesão à Vitrahaus, a casa da Vitra projectada pelos suiços Jacques Herzog e Pierre de Meuron, é instantânea e instintiva. Na realidade, o projecto dos Pritzker não é propriamente uma casa. É um showroom gigantesco para um gigante da indústria do mobiliário. Mas é um gigante dócil, quase pueril, que se aproxima gentilmente graças ao domínio da escala, “doméstica”, como fazem questão de esclarecer os arquitectos. Tornar-se-á um ícone. Por agora é apenas uma casa que respira e vibra, transparente e cheia de luz, um castelo de casas empilhadas, arquetipais e formosas, que não queremos, nem podemos, perder de vista. O aparente caos das casas que se projectam em diferentes direcções é apenas uma estratégia para mergulhar sobre a envolvente e abrir o edifício para o campo, à volta, e a cidade, mais distante. A Vitrahaus é certamente um dos ícones de 2010, tornou-se despreocupadamente mainstream, e é a nossa criatura do ano. www.vitra.com


SEMPÉ INGA

STEFAN

SCHOLTEN

&

DIEZ

BAIJINGS

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{ FINALISTAS }

CENTRO DE MONITORIZAÇÃO DAS FURNAS

VEGETABLES

RUCHE

EUGENE

São vegetais carnudos, que apetece cheirar

Uma base de madeira, assente em quatro

Depois da magia da cadeira Houdini,

Como o pátio rasgado que liga interior

e provar. São extraordinárias ilusões, que

pés fininhos, um quilt almofadado que

parecia impossível fazer melhor. Mas esta

e exterior, no coração da casa, a memória

um olhar atento desfaz para culminar num

estendemos mais ou menos como

sequela, Eugene, e o resto da família (o

e a identidade de um lugar estão no centro

sorriso. A série Vegetables, mais um

quisermos, e temos Ruche, o “sofá” que

sofá, a pequena lounge chair e o banco de

deste Centro. O arquitecto Manuel Aires

exercício de Scholten & Baijings à volta

Inga Sempé assina para a Ligne Roset. A

bar) mostram que Stefan Diez, o designer

Mateus projectou o Centro de Monitorização

da mesa, é uma das delícias do ano.

inspiração, explica a designer, está nos

responsável pelo projecto, consegue

e Interpretação da Lagoa das Furnas, nos

Com bainha e tudo.

bancos-baloiço dos jardins antigos. São

superar-se, sem sair da linha. O mesmo ar

Açores“, compreendendo o poder da

www.scholtenbaijings.com

esses ecos românticos ma non troppo que

minimal, o mesmo charme discreto da

natureza sobre o artifício” num contexto

aqui ressoam, e é no mix entre o passado e

artesania, a mesma segurança e leveza

invulgar. Volumes arquetipais, simples e

o presente, a rigidez e a flexibilidade, que

fazem desta colecção, produzida com

compactos, no basalto característico da

Ruche se torna tão actual.

savoir-faire pela alemã e15, um dos

região, remetem para a paisagem como

www.ingasempe.fr

pequenos prodígios do ano.

uma segunda natureza.

www.stefan-diez.com

AIRES

MATEUS

www.airesmateus.com


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ESTREIA DO ANO DESIGN É INSPIRAÇÃO E INOVAÇÃO O melhor do ano em produtos, marcas, ideias e criativos que marcaram 2010

A ENTRADA TRIUNFANTE EM PORTUGAL OU NO MUNDO

Rich, Brilliant, Willing Os novaiorquinos Rich, Brilliant, Willing (RWB), a nossa cintilante estreia do ano, já eram conhecidos do outro lado do Atlântico, mas só em 2010 desembarcaram definitivamente na Europa. Em Milão, com a Innermost, apresentaram a colecção Clinker (antiga Matryoshka), composta por mesas e candeeiros de

B L U E

D E S I G N

suspensão fabricados com um método usado na construção naval (tábuas sobrepostas). O lançamento de uma linha de luminárias com a editora de LA, Artecnica, confirma a sua capacidade de projectar para a indústria. O segredo do triunvirato (Theo Richardson, Charles Brill e Alex Williams) é a complementaridade de talentos e perspectivas. Começaram por fazer-se notar pelo uso imaginativo e descomplexado da cor, pela inovação através da recuperação e pela elasticidade do seu design (tão eficaz no packaging como nos espaços ou em produto). A icónica Clinker, o candeeiro Excel (inspirado num documento digital) e o novíssimo relógio Bias personificam, cada um à sua maneira, atitude original e o design sem preconceitos, fresco, e apetecível de RBW. 46

www.richbrilliantwilling.com


AXOR

MARTINO

GAMPER

BOUROULLEC

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GAM

FRATESI

{ FINALISTAS }

MARTINO GAMPER

AXOR BOUROULLEC

O homem das cem cadeiras começou por

Para a Axor, os irmãos Bouroullec

ser artista (estudou escultura com

desenharam um sistema de casas de banho

Michelangelo Pistoletto) e só então se

flexível e modular. Era a primeira vez que

voltou para o design de produto. Depois de

os designers franceses se afastavam do

ganhar visibilidade com o seu domínio

domínio do mobiliário, e o resultado foi

idiossincrático do craft, este ano deu

feliz. Um projecto que levou seis anos a

finalmente o salto para a produção

desenvolver e onde pela primeira vez os

industrial. Era uma estreia esperada e

produtos são pensados do ponto de vista do

correu bem. Em edição limitada ou em

utilizador (e não do canalizador). O lugar

série, Martino Gamper é perito em

das torneiras, por exemplo, não está

redesenhar os arquétipos, como fica claro

predefinido, e pode ser escolhido consoante

nas cadeiras Sessle (Established & Sons) e

as necessidades.

Vigna (Magis).

www.axor-design.com

www.gampermartino.com

MY SQUEEZE, ALESSI

GAM FRATESI

Redesenhar um objecto tão poderoso

A secretária Rewrite, de Stine Gam e Enrico

(e inútil!) quanto o emblemático

Fratesi, é provavelmente o objecto mais

espremedor Juicy Saliff, não era tarefa fácil,

mediático da dupla italo-dinamarquesa.

mas o novato Roland Kreiter não teve medo

Mas os trabalhos para a Swedese e a

e disparou. O projecto que apresentou ao

Casamania marcam um ano importante

concurso convocado pelo site mydeco.com

para os designers que parecem ter

foi mais do que um tiro no escuro: valeu-lhe

encontrado um palco para brilhar.

o primeiro prémio, a possibilidade de ver o

www.gamfratesi.com

seu espremedor manual vir a ser produzido pela Alessi e, très important, a benção de Starck em pessoa. Uma estreia auspiciosa.

ALESSI

www.alessi.com


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REGRESSO DO ANO

B L U E

D E S I G N

DESIGN É INSPIRAÇÃO E INOVAÇÃO O melhor do ano em produtos, marcas, ideias e criativos que marcaram 2010

PROTAGONISTA DE UM “COMEBACK” MEMORÁVEL EM 2010

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Do it Yourself Talvez seja um dos efeitos mais positivos da crise: o regresso em força do do-it-yourself (DIY). O mobiliário em kit, mais barato e acessível, já não é terreno exclusivo dos bastiões do design democrático. Mesmo o segmento mais exclusivo – e mais experimental – da indústria, apresenta projectos embalados em flatpack. Alguns exemplos: a colecção Down Side Up, apresentada pelos criativos da Fabrica, onde o

assemblage criativo segue os príncipios do faça-você-mesmo; a cadeira Pebble, de Benjamin Hubbert para a holandesa de Vorm, e Fruit Box, um projecto feito a partir de caixotes de madeira, para a label eco Essential Natural Practical. www.fabrica.it


C I T É

RIETVELD

RADIEUSE

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{ FINALISTAS }

CITE RADIEUSE

CADEIRA KLARA

CUPCAKES

RIETVELD

Fiel ao seu princípio, e aos seus princípios,

Para a Moroso, Patricia Urquiola desenhou

A febre dos Cupcakes pode não ser mais do

O designer e arquitecto holandês Gerrit

a Cité Radieuse projectada por Le Corbusier

a cadeira Klara, um revival inspirado que

que uma moda passageira, mas tem a sua

Rietveld nasceu em 1888 e morreu em

volta a vibrar graças às intervenções de

actualiza as cadeiras de palhinha com

graça. Depois de terem sido redescobertos

1964. 2010 não era marcado, em príncipio,

designers contemporâneos. Primeiro, foi a

souplesse e leveza. O design é clássico

por Sofia Coppola na sua Marie Antoinette

por nenhuma efeméride digna de celebrar.

vez de Jasper Morrison lhe tocar com o seu

e a mistura entre clareza funcional e

anacrónica, os bolinhos decorados que

Mas isso não foi um problema para a

condão. Este ano, os Bouroullec povoaram

ornamento funciona bem.

assumem a superfície, crescem como

Câmara de Utrecht (a cidade holandesa

o intacto apartamento 50 com as suas

www.moroso.it

cogumelos. Superfície por superfície,

com maior concentração de obras de

criações silenciosas para trazer de volta a

escolhemos as fabulosas criações da Cox

Rietveld por metro quadrado) e o Centraal

aura de Corbu.

Cookies and Cake.

Museum que, juntos, decidiram decretar

www.appt50lc.org

www.coxcooxiesandcake.com

2010 “o ano Rietveld”. A iniciativa foi um êxito, com uma exposição “Rietveld's Universe” que coloca a obra de Rietveld em diálogo com os seus contemporâneos (Mies e Le Corbusier, por exemplo) e trouxe-nos de volta um Rietveld muito mais radical e prolífico, do que a célebre Red Blue chair para iPhone sobre Rietveld que pode ser descarregada grátis em: http://itunes.com/apps/rietveld

KLARA

www.rietveldyear.com

CADEIRA

CUPCAKES

poderia fazer crer. Um bónus: uma app


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SPOT DO ANO DESIGN É INSPIRAÇÃO E INOVAÇÃO O melhor do ano em produtos, marcas, ideias e criativos que marcaram 2010

UM HOTEL, GALERIA, RESTAURANTE OU LOJA DE ONDE NÃO QUEREMOS SAIR

Pensão Favorita Imaculada. É esta a memória que temos da Pensão Favorita, no Porto, um projecto de recuperação do arquitecto Nuno Sottomayor com design de interiores de Sam Baron. Com apenas 7 quartos, o novo hotel da Miguel Bombarda é o nosso spot do ano, porque consegue, com simplicidade, estar perto da perfeição. Não há nada a mais nem nada a menos. Tudo tem peso e medida, e um impecável, mimoso, límpido, bom gosto. N’A Favorita, a atmosfera é caseira e cool. Mobiliário

vintage, peças contemporâneas, design e ilustração “da casa”, espaços arejados, brancos e generosos. Do chão ao tecto – o que é o mesmo que dizer dos mosaicos de Lúcio Zagalo, ao candeeiro de esferas que cai sobre a grande escada central – tudo encontra o seu lugar neste espaço português e cosmopolita, e romântico também. www.pensaofavorita.pt


HOTEL

BALANCING

SEZZ

BARN

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{ FINALISTAS }

BALANCING BARN

TOKYO BABY CAFE

HOTEL SEZZ SAINT TROPEZ

NEUE MONTE ROSA HUTTE

A ideia de Alain de Botton de proporcionar

Amigo das crianças, e dos pais também, o

A fasquia estava bem alta, mas a sequela

Uma pele espelhada, de alumínio, cobre a

felicidade às pessoas através da

Tokyo Baby Cafe, um projecto do atelier

do parisiense Hotel Sezz, na Côte d'Azur,

estrutura de madeira desta cabana

experiência directa da arquitectura já tem

japonês nendo, é um espaço pensado para

não desilude. O design de interiores ficou

moderna, no Monte Rosa, nos Alpes suíços.

um lugar para viver. Vários, aliás. Ainda que

os mais pequenos onde os pais se sentem

de novo a cargo de Christophe Pillet, que

É um projecto dos arquitectos Bearth &

temporariamente, podemos alugar por uns

bem. Coisa rara e agora vista. O mobiliário

soube integrar com mestria o seu design

Deplazes, e dos alunos finalistas de

dias uma das casas projectadas por

adopta escalas diferentes, para poder ser

rigoroso na paisagem mediterrânica e ao

Arquitectura do EHT Zurich. Espartana e

arquitectos contemporâneos em várias

ao gosto dos mais pequenos. Existem sofás

mesmo tempo prestar homenagem à aura

brilhante, o facto de ter preocupações de

paragens bucólicas de Inglaterra. A ideia é

gigantes para escalar, mas os interruptores

do lugar. A Riviera ressuscitada, de lenço

sustentabilidade (gera 90% da energia que

reunir o melhor de dois mundos: natureza e

estão “fora do alcance”. É algo remoto mas

na cabeça e plena de glamour (a paleta de

consome) reforça o seu lugar como um dos

arquitectura, como neste fabuloso

continua a ser um spot que nos inspira.

cores, por exemplo, respeita o tom dos

spots do ano.

Balancing Barn.

www.tokyobabycafe.com

anos cinquenta) mas inequivocamente

www.neuemonterosahuette.ch

www.living-architecture.co.uk

contemporânea.

CAFE BABY TOKYO

MONTE

ROSA

www.hotelsezz.com


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LUXO DO ANO

B L U E

D E S I G N

DESIGN É INSPIRAÇÃO E INOVAÇÃO O melhor do ano em produtos, marcas, ideias e criativos que marcaram 2010

IMPOSSÍVEL OU NÃO, O LUXO A QUE TODOS GOSTARÍAMOS DE NOS DAR

52

Les essentiels de Pâtisserie Juntar a designer Matali Crasset e o Chef Pierre Hermé num projecto guloso, já seria um luxo, mas na colecção que resultou deste encontro, Les Essentiels de Pâtisserie, é definitivamente a crème de la crème em matéria de cozinha. A Alessi juntou os dois autores numa colecção de utensílios pasteleiros para todos, desenhados a partir da experiência e da observação. Foi registando os gestos e rituais dos pasteleiros, que Crasset desenvolveu colheres, espátulas e taças, em combinações de aço inox, plástico e silicone. Mesmo para leigos da doçaria, mesmo nos objectos híbridos (que se inserem em mais de uma tipologia) a função de cada utensílio é evidente. E porque também no design se come com os olhos, a linha é atraente. www.matalicrasset.com


????

BANHEIRA

??????

OFURÓ

BD-PRÉMIOS2010.qxd:BD-PRÉMIOS2010.qxd 12/9/10 4:11 PM Page 53

{ FINALISTAS }

CONTAGIRI O florentino Giuliano Mazzuoli, antigo piloto de corridas, não perdeu o seu amor pela velocidade com estilo. Desenhou o relógio Contagiri, um tributo ao mundo do automobilismo e à simplicidade do bom design. Existem quatro versões do relógio (incluindo uma dedicada ao Alfa Romeo 8c) que imita o movimento de um conta rotações (acerta-se a hora através de um mecanismo pensado como uma caixa de mudanças).

BANHEIRA OFURO

CUT AND PASTE

Matteo Thun desenhou para a Rapsel Ofuro,

De vários desenhos feitos à mão foram

A Maison Martin Margiela pinta os sonhos

uma banheira de inspiração japonesa, feita

escolhidos sete, de onde saíram estas

cor de branco com uma intervenção na

de madeira siberiana. A beleza formal e o

peças ecléticas em modo assemblage,

suite L'Ile aux Oiseaux, no Les Sources

conforto visual estendem-se na estrutura

criadas pela designer Kiki van Eijk para a

Caudalie Hotel & Spa, o templo de

da banheira, generosa e convidativa. É a

galeria Secondome. O projecto chama-se

vinoterapia na campagne francesa.

personificação do luxo de hoje: simples e

Cut and Paste, e as curiosidades que dele

Se o “bucochic” parecia insuperável,

com muita qualidade.

surgem misturam referências, materiais e

imaginem agora.

www.matteothun.com

tipologias. Escadotes, relógios, rodas,

www.sources-caudalie.com

arames, pedaços de tecido e vidro, formam estas criaturas imaginárias, autónomas, que tipificam a improvisação do luxo.

OFURÓ BANHEIRA D E S I G N

SUITE AUX OISEAUX PAR CAUDALIE

B L U E

SUITE

AUX

OISEAUX

PAR

CAUDALIE

www.giulianomazzuoli.com

www.kikiworld.nl 53


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BÁSICO DO ANO

B L U E

D E S I G N

DESIGN É INSPIRAÇÃO E INOVAÇÃO O melhor do ano em produtos, marcas, ideias e criativos que marcaram 2010

O ESSENCIAL QUE DEVIA SER OBRIGATÓRIO

54

Sedia 1 Esta cadeira demorou 36 anos a ser posta em produção, mas mantém a irreverência e a frescura do primeiro dia. É a primeira das Autoprogettazione (1976) do maestro Enzo Mari, um projecto DIY, num material básico e acessível como a madeira, finalmente produzido pela Artek. Mari, o pensador, lembra-nos que o design é, acima de tudo, projecto. Até um projecto educativo. A provocação

seventies de Mari não podia ser mais actual e relevante. É o nosso básico do ano, e podia sê-lo por muitos anos mais. www.artek.fi


ESTD.

BY

RELÓGIO

SWATCH

ESTABLISHED

&

SONS

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{ FINALISTAS }

OVALE

ESTD. BY ESTABLISHED & SONS

PYGGY-BANK

RELÓGIO SWATCH

Com a Alessi, os Bouroullec aplicaram

Não sabemos se foi um efeito da crise ou,

Nendo, o colectivo de design japonês

Estiveram por todo o lado, a inundar de cor

alguns dos princípios que regem o seu

como querem fazer-nos acreditar, uma

liderado por Oki Sato teve um ano em

e beleza páginas de revistas, outdoors, e os

design – simplicidade, modéstia e liberdade

reposta a “novos hábitos de consumo”.

grande, com tempo para experimentar o

mais variados pulsos. A Swatch já era,

– para desenhar um serviço de mesa

O que é certo é que os campeões do design

travo do design art e tudo. Mas é um

desde os anos 1980, um ícone de estilo.

“elástico”: porque permite muitas

de autor industrializável com british accent

projecto “poupadinho” que nos apetece

Regressando às origens e apostando na

combinações e porque, pela sua

(e não só), a Established & Sons, acabaram

destacar como um dos básicos do ano.

identidade da cor, diferenciou-se com a

simplicidade, deixa muito (ou tudo) em

por se render aos encantos do design

Este Piggy Bank, um mealheiro porcino que

Core Collection, que se concentra no

aberto, tornando-se incrivelmente

anónimo. E lançaram a linha Estd., objectos

recupera as formas tradicionais (o nome

essencial. Os relógios monocromáticos

expressivo. Os elementos assimétricos,

acessíveis a preços acessíveis, sem

é uma homenagem à nomenclatura dos

nunca foram tão surpreendentes.

de cantos arredondados de Ovale (em

assinatura mas com bom design.

mealheiros medievais), reduzido ao

www.swatch.com

porcelana, vidro e metal) são ao mesmo

Bons básicos à venda na Net, na yoox.com.

essencial.

tempo toscos e industriais, rústicos e

www.establishedandons.com

www.nendo.jp

modernos. Também são incrivelmente apropriáveis pelo quotidiano. E um básico que não devia faltar em nenhuma mesa.

OVALE

PYGGY-BANK

www.bouroullec.com


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IDEIA BRILHANTE DO ANO

B L U E

D E S I G N

DESIGN É INSPIRAÇÃO E INOVAÇÃO O melhor do ano em produtos, marcas, ideias e criativos que marcaram 2010

UM OBJECTO OU IDEIA QUE FEZ TODA A DIFERENÇA OU BRILHOU MAIS FORTE EM 2010

56

Diwali A Louis Vuitton sempre foi perita em casar arte com comércio. Praticamente desde a fundação da maison, as suas montras ilustraram esse cruzamento inspirado, sendo muitas vezes equiparadas a telas de pintores. As colaborações com artistas são também uma constante, e este ano, a inspiração é particularmente exótica e luminosa: o Diwali, o Festival das Luzes indiano, que celebra a alegria enfeitando as ruas e casas com lanternas de papel. Foi pegando nesta tradição que o designer e artista Rajeed encenou para a Louis Vuitton uma festa global, com malas e baús com o monograma, em papel de folha de banana, a iluminarem as montras de Paris a Tóquio. www.louisvuitton.com


OON

CLEVERBAG,

YVES

CANDLEMAKER

BÉHAR

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OON CANDLEMAKER

LAMPALUMINA

Uma empresa 100% portuguesa que lança

A cerâmica é um dos materiais mais

ASTRID

um produto 100% inovador e 100%

versáteis e resistentes que existem. Por

ecológico. Não seriam precisas muito mais

isso, está na origem de muito boas

razões para escolher o Oon Candlemaker

surpresas. Como este candeeiro

TWINKLE,

KROGH

{ FINALISTAS }

como uma das ideias brilhantes do ano,

Lampalumina, feito num material cerâmico

mas esta máquina com um design muito

cruzado com alumina, utilizado em

bem conseguido ainda por cima serve para

engenharia aeronáutica. É uma criação

fazer velas! E a partir de um desperdício tão

luminosa dos Bouroullec, para a Bitossi.

indesejado, repelente e poluente como o

www.bitossiceramiche.it

óleo alimentar usado. A ideia de reciclar o óleo pestilento e transformá-lo em velas bonitas e bem cheirosas é luminosa. Quando se põe em prática através de um design atractivo e uma comunicação a condizer, sem pontas soltas, é brilhante.

CANDEEIRO

LAMPALUMINA

www.oonsolutions.com

TWINKLE

CLEVERBAG

A dinamarquesa Astrid Krogh trabalha com

Uma ideia simples, ecológica,

tubos de neón, LEDs e fibra óptica. Mas

desenvolvida para a Puma. A nova caixa

podia trabalhar com fios de lã. A ideia é

para os sapatos de ténis resulta na

criar objectos e instalações onde a luz é

poupança de 65% de cartão, água e

matéria e poesia. Como no relógio de

electricidade, logo, na redução das

parede Twinkle, o seu projecto mais

emissões de CO2. E a mais-valia é

seriável, apresentado este ano com fulgor

ganhar um saco com diversas utilidades.

em Milão.

www.fuseproject.com

www.astridkrogh.com


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MÁQUINA DO ANO DESIGN É INSPIRAÇÃO E INOVAÇÃO O melhor do ano em produtos, marcas, ideias e criativos que marcaram 2010

A MÁQUINA QUE MAIS NOS FASCINOU EM 2010

E-readers (iPad e Kindle) Entre o iPad e o Kindle, o nosso coração balança. Já não há maneira de lhes escaparmos, mesmo que acreditemos que o cheiro do papel e o susurro das páginas a serem folheadas é insubstituível. A revolução digital está aí e só os velhos do Restelo continuam a assobiar e a olhar para o lado. Ter a biblioteca toda, e os quiosques de jornais do mundo inteiro, num levíssimo rectângulo electrónico que podemos transportar para todo o lado e ler facilmente, segurando-o com uma só mão, já não é uma utopia. Querer desesperadamente um livro e tê-lo passados seis segundos também não. Num duelo ao sol entre os dois e-readers não sabemos quem venceria. O Kindle foi pioneiro, é mais pequeno, mais leve (cada vez mais: acaba de sair uma versão ainda mais fina e mais portátil), mais barato e, muito importante, foi desenhado somente para ler e-books e fá-lo muito bem (a página assemelha-se a uma página de livro, e o contraste foi melhorado na nova versão). O iPad, para além de ser a cores (o que é extraordinariamente importante para quem consome revistas) é basicamente um Apple, portanto, bonitinho. Se a isto acrescentarmos o facto de, ao contrário do Kindle que só tem acesso à Amazon, o iPad se ligar a três livrarias (para além da Amazon, o iTunes e a Nook da Barnes & Noble) a indecisão está lançada. Mas o e-reader, seja ele qual for, continua a ser a máquina do ano.

B L U E

D E S I G N

www.apple.com, www.amazon.com

58


DOLCE

AQUARIVA

GUSTO

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novo (é impossível não pensar naqueles

Saint Etienne, mas esta série de

Macs transparentes tão fin de siécle) mas

maquinetas para juntar a outras máquinas

ainda assim o telemóvel X Ray, desenhado

que temos lá em casa, desenhada por

por Tokujin Yoshioka para a japonesa KDDI,

Mathieu Lehanneur para a Schneider

é uma bela radiografia. E mais: tem toda a

Electric, promete. A ideia é reduzir a

tecnologia de um gadget de última geração.

pegada de carbono com estes

www.tokujin.com

DA

Há quem diga que não acrescenta nada de

ser apresentado na bienal de design de

X-RAY

X-RAY, KKDI

Ainda é apenas um protótipo que acaba de

TELEFONE

EFFICIENT HOME

KKDI

EFFICIENT

HOME

{ FINALISTAS }

receptores/transmissores, que “vigilam” o consumo eléctrico (através de sensores) quando colocados em electrodomésticos.

AQUARIVA

Empenhada em diferenciar-se da

O superdesigner australiano Marc Newson

concorrência, ao mesmo tempo que se

tem uma obsessão por meios de

deixa seduzir pelo lado glam da criação, a

transporte, para além de ser perito em

Nescafé Dolce Gusto decidiu desafiar dez

aerodinamizar os clássicos e refrescar o

criadores a “customizar” a sua máquina de

luxo. Tudo isto faz em Aquariva, um barco

café mais popular. As peças, de criadores

de luxo redesenhado para a Gagosian

como Rui Aguiar, White Tent, Alexandra

gallery e que, sendo um sonho, se vende

Moura e Gonçalo Campos, entre outros,

através da galeria. Uma edição limitada

foram reunidas numa exposição

de 22.

comissariada por Joana Astolfi. Assim

www.gagosian.com

reinventadas, as máquinas mostraram uma nova cara inesperada. www.dolce-gusto.com

B L U E

NESCAFE DOLCE GUSTO

D E S I G N

www.mathieulehanneur.com

59


BD-PRÉMIOS2010.qxd:BD-PRÉMIOS2010.qxd 12/9/10 4:14 PM Page 60

INSPIRAÇÃO DO ANO DESIGN É INSPIRAÇÃO E INOVAÇÃO O melhor do ano em produtos, marcas, ideias e criativos que marcaram 2010

UM LIVRO, EXPOSIÇÃO OU OBRA QUE NOS INSPIRA E SEM O QUAL 2010 NÃO TERIA FEITO SENTIDO

Foodscapes O food design é um dos terrenos mais apetitosos da disciplina e, sobretudo em Portugal,

B L U E

D E S I G N

pode ser estratégico. É por isso, e porque está bem feito, que escolhemos o projecto

60

Foodscapes, desenvolvido pelos alunos finalistas da ESAD – Caldas da Rainha, como a nossa inspiração do ano. Pode ser a semente para muito boas ideias (para já, há a possibilidade de inaugurar um mestrado em food design na Escola), e para começar é um projecto tão bem servido como um requintado menu degustation. Coordenadas por Renato Bispo e Fernando Brízio, estas paisagens alimentares têm alguns momentos deliciosos, como a lava de leite creme. www.esad.ipleiria.pt


GALERIA

APPLETON

GRAPHICS

SQUARE

SKETCHBOOK

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{ FINALISTAS }

WIEKI SOMMERS NA KREO

INTERFORMA MAKE IT REAL

GRAPHICS SKETCHBOOK

APPLETON SQUARE

Poéticas, frágeis, experimentais, as peças

A iniciativa da Interforma de lançar os

Quantas vezes não quisémos espreitar os

Um lugar aberto para a arte, o design, a

de Wieki Sommers, reunidas na exposição

primeiros Portfolio Days em Portugal,

diários visuais e cadernos de esquiços de

arquitectura e tudo o que existe entre eles,

Frozen in Time, na galerie Kreo, são uma

desafiando os jovens criativos a mostrarem

artistas e designers gráficos? Entre

a galeria Appleton Square teve um ano em

das nossas inspirações do ano. A designer

o que valem, apresentando os seus

rabiscos frenéticos, traços finos, colagens,

cheio em 2010, cumprindo o seu propósito

holandesa partiu de um fenómeno

portefólios em “discurso directo” aos

desenhos, ou pacientes aguarelas, é à

fundador: o de ser um palco para a cultura

meteorológico encontrado num recorte de

representantes da indústria, é tão

expressão mais intacta e livre do criativo

contemporânea, um espaço polivalente,

jornal para criar estas peças resgatadas

inspiradora para os talentos emergentes,

que temos acesso. Um laboratório de ideias

uma vocação multidisciplinar. Cruzamento

das memórias, tão próximas quanto

como para as empresas que os procuram.

para meter no bolso e transportar (como

de disciplinas, de tempos e modos, com

misteriosas. Mergulhados numa resina

Um impulso de criatividade que culminou,

um Moleskine) que agora podemos folhear,

artistas emergentes e inquestionáveis, na

líquida como se estivessem embebidos

para dois jovens designers, em estágios na

à procura de inspiração, no livro Graphic:

Appleton coube o Empty Cube (com Miguel

numa camada de gelo reveladora, estes

indústria. E uma maneira inteligente de

Inside the Sketchbooks of the World's

Palma, Ana Anacleto, Miguel Rios, Manuel

objectos ganham novos contornos, e

fazer a ponte entre a criação e a indústria.

Greatest Graphic Designers.

Mota e Pedro Gadanho), Miguel Vieira

aparecem-nos como uma paisagem

www.interformamakeitreal.com.pt

www.thamesandhudson.com

Baptista a solo (Drawer) e um projecto para

esplendorosa.

a igreja de Santa Isabel. A fechar o ano, as

www.galeriekreo.com

revelações de Cabrita Reis em Unveiled Revealed.

INTERFORMA

WIEKI

SOMMERS

www.appletonsquare.pt


BD-PRÉMIOS2010.qxd:BD-PRÉMIOS2010.qxd 12/9/10 4:15 PM Page 62

GREEN DO ANO (Ideias verdes)

B L U E

D E S I G N

DESIGN É INSPIRAÇÃO E INOVAÇÃO O melhor do ano em produtos, marcas, ideias e criativos que marcaram 2010

ESTREAMOS CATEGORIA CONSCIENTES DE QUE O FUTURO É HOJE

62

Chairless Foi uma valente pedrada no charco, e é difícil imaginar objecto mais singelo capaz de a produzir. Chairless, a não-cadeira de Alejandro Aravena, produzida pela Vitra e que agitou Milão este ano, pode até não ser fabricada em material reciclável, mas não precisa. É no espírito – inspirado no modo de vida dos índios Ayoreo, que usam um cinto para se sentar – que é verdadeiramente sustentável. Simplesmente porque nos lembra que provavelmente não precisamos de mais cadeiras. Mesmo. www.vitra.com


WE

ARE

RIETVELD

WATER

BD-PRÉMIOS2010.qxd:BD-PRÉMIOS2010.qxd 12/9/10 4:15 PM Page 63

{ FINALISTAS }

FUNDAÇÃO ROCA WE ARE WATER

111 NAVY CHAIR

DANESE WASTE NOT

A mensagem é clara: as cápsulas, há que

“A pessoa que amas é 72,8% água”. O nosso

A primeira Navy Chair foi fabricada em

Uma editora lendária como a Danese

reciclar as cápsulas. Também elas nos

planeta é azul, por causa dela. E é porque a

1944, feita de alumínio e pronta a ser usada

Milano agarra a onda verde com tenacidade

abrem as portas do Paraíso (ou não, se não

água é um bem precioso, e escasso, que a

pela Marinha norte-americana. Hoje, a

e inspiração através da linha Waste Not,

quisermos). Desde 2008 que a Nespresso

Roca lhe dedica uma iniciativa através da

Emeco, que produz estas cadeiras há várias

onde, como o nome indica, nada se perde,

tem a sua própria rede de recolha de

Fundação We are Water, que procura criar

décadas a partir de alumínio reciclado,

tudo se transforma. A partir dos restos de

cápsulas usadas, inicialmente apenas nas

uma nova cultura da água à escala

supera-se a si mesma. A 111 Navy Chair

produção, peças defeituosas e até

lojas e depois numa rede ampliada que

planetária. A empresa, líder mundial em

deve o seu nome às 111 garrafas de Coca-

descontinuadas, foram concebidos novos

pode ser consultada online em

espaços de banho, orgulha-se de

-Cola de plástico reciclado que estão na sua

objectos, que combinam clássicos e edições

ecolaboration.com. Este ano, não é só o

desenvolver, há mais de 50 anos, produtos

base. Mais um clássico que se actualiza.

mais recentes em criaturas invulgares com

alumínio (um material naturalmente

que levem a um consumo eficiente de água

A Coca-Cola, responsável pelo facto do Pai

um espírito regenerado.

presente no solo, que ao ser reciclado

e a questão da sustentabilidade também

Natal vestir de vermelho, também é verde

www.danesemilano.com

consome apenas 5% da energia necessária

está inscrita no processo de produção.

quando quer.

à sua extracção) que é reciclado. As borras

Recentemente, com o premiado produto

www.emeco.net

de café também são aproveitadas,

W+W, a Roca deu mais um passo verde, já

integradas num composto agrícola que

que água utilizada no lavatório é reutilizada

depois é usado como fertilizante, por

para encher a cisterna da retrete. Da escala

exemplo, em campos de arroz. A história

doméstica para a escala global, a Fundação

não termina aqui. Em Portugal, este

We Are Water já tem em curso vários

programa foi implantado pela Nespresso

projectos que visam implantar uma

numa herdade em Grândola. Depois de

utilização sustentável dos recursos hídricos

colhido, 7 toneladas desse arroz

do planeta e assegurar que a água chega a

(processado e controlado pela Saludães)

todas as pessoas.

será doado ao Banco Alimentar e

www.wearewater.org

DANESE

WASTE

NOT

NESPRESSO

distribuído pelo país. Até 2013, a Nespresso comprometeu-se a obter 80% do seu café em programas sustentáveis, triplicar a capacidade da marca de reciclar cápsulas e reduzir em 20% a pegada de carbono por

D E S I G N B L U E

www.nespresso.com

NESPRESSO

chávena.

63


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REBUÇADO DE FUNCHO

Fábio Fernandes O tradicional rebuçado de funcho da Madeira recomposto num chupa, que é uma árvore com copa de funcho e eucalipto e um ramo natural a servir de tronco. O projecto é uma reflexão sobre a desflorestação da cidade do Funchal.


BD-Foodscapes.qxd:BD-MAXIM.qxd 12/10/10 11:34 AM Page 65

[ FOODSCAPES ] PROJECTO DOS ALUNOS FINALISTAS DE DESIGN INDUSTRIAL, ESAD CALDAS DA RAINHA

PAISAGENS GULOSAS

A comida é cultura e as paisagens também. É natural que se cruzem num projecto como Foodscapes, onde os finalistas da ESAD Caldas da Rainha mostram, com distinção, que somos o que comemos. E o lugar de onde vimos. ENTREVISTA MADALENA GALAMBA IMAGENS ESAD.CR

FÁTIMA

Joneiber Saldanha Reproduções de Nossa Senhora de Fátima em chocolate branco para reflectir sobre a promiscuidade entre o consumo e a fé.


BD-Foodscapes.qxd:BD-MAXIM.qxd 12/10/10 11:34 AM Page 66

ÂMBAR DE REBUCADO

Jorge Carreira Os sabores silvestres são aprisionados num rebuçado, como se tivessem sido conservados em âmbar.

UMA AMORA APRISIONADA num rebuçado cor de âmbar, árvores de funcho que se derretem na boca, erupções vulcânicas deslizando num prato com a doçura do leite derramado e codornizes voadoras são alguns dos ingredientes portugueses do projecto Foodscapes, uma parceria entre a Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha (ESAD.CR) e a École Supérieure d'Art et Design de Reims (ESAD Reims). O projecto foi recentemente apresentado numa exposição conjunta das duas escolas durante a SIAL 2010, a mais importante feira de produtos alimentares do mundo, que teve lugar em Paris entre 17 e 21 de Outubro. “A relação entre a ESAD.CR e a ESAD Reims não começou agora”, explica o designer Renato Bispo, professor na escola portuguesa e um dos orientadores do projecto, juntamente com Fernando Brízio.

”A ESAD REIMS E UMA ESCOLA COM LARGA EXPERIÊNCIA NO ENSINO DO DESIGN CULINÁRIO,

B L U E

D E S I G N

e está a montar uma pós-graduação em food design em parceria com outras escolas da Europa”

“A ESAD Reims é uma escola com uma larga experiência no ensino do design culinário, e está a montar uma pós-graduação em food design em parceria com outras escolas da Europa, como o Politecnico de Milão e a própria ESAD.CR”. Foi por isso com naturalidade, e aguçado apetite, que professores e alunos da escola das Caldas encararam o desafio proposto pela escola francesa: desenvolver “paisagens alimentares” (foodscapes/ paysages alimentaires) onde os produtos reflectissem a identidade cultural e a memória de um lugar. “Quando olhamos uma paisagem, percepcionamos qualquer coisa para lá do que lá está (um tempo histórico, a vida das pessoas que a habitam)”, explica Renato Bispo. “O mesmo se passa com a comida. Propomos descobrir que tipo de mensagens culturais podem ser passadas através dos produtos alimentares.”

66


BD-Foodscapes.qxd:BD-MAXIM.qxd 12/10/10 11:34 AM Page 67

design :: foco

GELLY LAB

Adriana Neto Uma paisagem bacteriológica de gelatinas que afasta este alimento do contexto exclusivamente infantil.

FOOD FROM FOOD

Rui Lopes Alimentos que crescem a partir de alimentos (na imagem, agrião “semeado” no pão) numa

B L U E

D E S I G N

reflexão sobre o ciclo de vida dos alimentos.

67


BD-Foodscapes.qxd:BD-MAXIM.qxd 12/10/10 11:35 AM Page 68

LAVA LANDSCAPE

Sónia Rosa A paisagem vulcânica dos Açores inspira este prato de porcelana onde o leite-creme simula uma escoada de lava. É ao pousar o prato que o líquido escorre até cobrir o solo em frente às casas arquetipais.


BD-Foodscapes.qxd:BD-MAXIM.qxd 12/10/10 11:36 AM Page 69

CRUMBLING STONE

Raphael Morais Uma pedra parece desfazer-se quando a mergulhamos em azeite. A ilusão consegue-se com especiarias em pó, da mesma cor da pedra, previamente depositadas no prato.

O PROJECTO FOODSCAPES foi desenvolvido pelos alunos finalistas do curso de Design Industrial da ESAD.CR durante o segundo semestre do passado ano lectivo. Da totalidade de projectos, foram seleccionadas dez propostas para integrar a exposição internacional. Os orientadores pediram aos alunos, oriundos de vários pontos do país, que vasculhassem nas suas memórias culturais e referências, e procurassem exprimir a identidade cultural de um lugar (do seu lugar) no projecto de food design. Foram os alunos das ilhas, explica Bispo, que tiveram menos dificuldade em encontrar uma “forte referência identitária”. Provavelmente porque a própria morfologia insular os manteve mais abrigados do lado negro da globalização, a massificação a que este projecto procurava escapar. Para a exposição em Paris, foram construídas réplicas hiper-realistas dos projectos escolhidos. Era a única

fumegantes somos confrontados com resinas de poliuretanto e gel bougie. Mas isso é um pormenor. Todo o trabalho está feito, testado, é possível fazer-se (por exemplo, as ervas que crescem nos alimentos são uma ilusão: são transplantadas para os alimentos antes de serem comidas, e duram 30 minutos até murcharem) com comida a sério. Afinal, do ponto de vista do design,

”DO PONTO DE VISTA DO DESIGN, A COMIDA E UMA MATERIA-PRIMA COMO outra qualquer (provavelmente mais

a comida é uma matéria prima como outra qualquer

táctil, mais sensorial), mas não deixa

(provavelmente mais táctil, mais sensorial), mas não

de ser uma matéria-prima diferente,

deixa de ser uma matéria prima diferente, porque é efémera, porque é perecível, porque em última instância se desfaz dentro de quem interage com ela, isto é, a come. “O objectivo desta exposição não era desafiar gustativamente as pessoas, mas desafiá-las intelectualmente.

porque é efémera, porque é perecível”

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tentativa. Em vez de cremes aromáticos e sopas

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maneira de os mostrar, sem que perecessem na

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AZEITE AROMÁTICO

Joana Rita Cardoso Um ramo de cheiros é preso no fundo de uma garrafa de azeite, evocando as paisagens de onde provém o alimento.

A SIAL, apesar de ser a maior feira de produtos alimentares do mundo, é sobretudo comercial, não tem muita degustação. O que pretendíamos com este projecto era um pouco lançar uma pedrada no charco, e mostrar que a escola está interessada e tem competências para desenvolver projectos de food design.” OS PRIMEIROS FRUTOS já estão prontos para serem colhidos. Alguns projectos apresentados em Paris estão na calha para serem comercializados e a ESAD.CR já foi abordada por empresas nacionais para procurar soluções nesta área. “O food design não é propriamente uma área em que os designers invistam muito”, adianta Renato Bispo. “No entanto, em Portugal, há imenso potencial nesta área. Sentimos que em Portugal grande parte da indústria está deprimida, mas não nesta área, onde há capacidade de investimento, onde existem boas marcas e reconhecimento internacional. É evidente, quase obrigatório, que o design se vire para a indústria alimentar.” Na escola, a área do food design é trabalhada sobretudo na disciplina de projecto. “Os exercícios de food design acentuam o lado sensorial e efémero do produto. São didácticos. Isso pode ser aplicado também noutras áreas do design.” A ideia, no entanto, é abrir um mestrado em

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”DIFERENTES DOS FRANCESES, OS PROJECTOS PORTUGUESES parecem estar mais enraizados numa memória cultural voltada para o ‘natural’ ou mesmo o rural, e que acaba, ironicamente, por torná-los extremamente contemporâneos” 70

food design, que permita desenvolver uma área que em Portugal pode ser estratégica. Enquanto isso não acontece, os projectos apresentados em foodscapes vão deixando crescer água na boca. Muito diferentes das mais abstractas propostas francesas, os projectos portugueses no seu conjunto parecem estar mais enraizados numa memória cultural voltada para o “natural” ou mesmo o rural, e que acaba, ironicamente, por torná-los extremamente contemporâneos. De uma maneira ou de outra, estes projectos não são diferentes do resto das narrativas que o design ajuda a construir (ou desconstruir) e a contar. Algum dia, pode ser que sejam alimento para o corpo. Por enquanto, são sobretudo comida para o cérebro. Apetitosa.

e


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design :: foco

Com paus de espetada e palitos que depois de ir ao forno se retiram, encena-se o movimento das

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CODORNIZES ASSADAS

Joaquim Pracana Bastos

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codornizes, como se estivessem vivas.

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D E S I G N :: F O C O

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GALERIA SECONDOME, ROMA

DESIGN, DISSE ELA EM ITÁLIA, HÁ DESIGN A SUL DE MILÃO. Quem o assegura é Claudia Pignatale, a directora da galeria Secondome, que pôs Roma no mapa com a sua visão pessoalíssima e poética do design.

TEXTO MADALENA GALAMBA FOTOS CORTESIA SECONDOME


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design :: foco NA ROMANA GALERIA SECONDOME cabem

Pignatale começou por coleccionar objectos com o

as fantasias de Kiki van Eijk, os sinos transparentes

marido. Depois percebeu que não bastava coleccioná-

dos jovens criativos da Fabrica, a cerâmica colorida

-los. Queria mostrá-los e, melhor ainda, produzi-los, e

da argentina Silvia Zotta, a geometria primitiva

assim nasceu a Secondome, uma galeria e concept-store

do mobiliário de autor do estúdio nucleo e, virtualmente,

dedicada ao design, à arte, e a tudo o que existe entre

tudo o que uma imaginação prodigiosa e livre possa

eles. A Secondome abriu em 2007, um espaço

conceber e passar para três dimensões.

contemporâneo no centro histórico de Roma, não muito

O espaço é simples, versátil e propositadamente deixado

longe da Piazza Navona e, entretanto, mudou de

em aberto, como um “papel em branco” onde se pode

instalações. O espírito mantém-se. É uma visão pessoal,

desenhar cada exposição praticamente de raiz.

poética e plural do design. O design segundo ela

“Apesar de ser arquitecta, desde muito cedo que soube

(“secondo me” significa “na minha opinião”), para que

que queria trabalhar com design. O design é a minha

não restem dúvidas. Ainda assim, o mundo do design,

paixão. Os objectos são pequenos edifícios onde cada

da arte, e do design-art deu algumas voltas, mas

um pode encontrar o seu mundo”, explica Claudia

Pignatale não está muito preocupada com as diferenças:

Pignatale, a fundadora da galeria, uma empresária

“Às vezes o design e arte confudem-se, às vezes não.”.

de sucesso na casa dos 30, com um amor pelos objectos e uma missão: pôr Roma no mapa do design internacional.


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”PIGNATALE COMEÇOU POR COLECCIONAR OBJECTOS COM O MARIDO. Depois percebeu que não bastava coleccioná-los. Queria mostrá-los e, melhor ainda, produzi-los, e assim nasceu a Secondome, uma galeria e concept-store dedicada ao design, à arte,

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e a tudo o que existe entre eles.”

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design :: foco

”A DIFERENÇA ENTRE A INDÚSTRIA E AS GALERIAS pode muito bem passar pela natureza particular das relações que se estabelecem. Há um galerista, há um artista, ou um designer, e há sempre uma história de empatia e afinidade que é insubstituível. ”

ideia do design, a mesma atitude. Passado um mês estavamos a trabalhar na nossa primeira edição em vidro.” Depois, naturalmente, chegou a Fabrica. “O que me parece muito interessante na Fabrica é que os jovens designers chegam e passam lá um ano. Vêm directamente da escola, é a sua primeira experiência laboral, e há muita frescura, estão ainda fora do sistema.” FORA. É esse lado pouco inesperado, heterodoxo, fora do sistema que fascina Pignatale, uma forasteira em Roma, porque também ela veio de fora. A arquitecta nasceu em Taranto, uma pequena cidade no sul de O QUE IMPORTA, DEFINITIVAMENTE, é manter o seu ponto de vista, admirar as coisas belas, cultivar as relações com os designers com os quais se identifica, e que produz, editando objectos de design desde 2008, altura em que criou a Secondome Edizioni, que exporta para todo o mundo. “Conheci a Kiki van Eijk em Janeiro de 2009”, lembra Claudia Pignatale. “Gosto do trabalho dela, gosto do seu approach, pouco convencional e muito manual. Quando decidimos lançar a Secondome Limited Edition, normalmente não há um brief, o brief muda. A ideia é dar liberdade aos designers para fazerem o que lhes apetece.” É daí que vem Cut and Paste, a série de pirâmides em modo assemblage,

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ecléticas, anacrónicas, de van Eijk. A diferença entre a indústria e as galerias pode muito bem passar pela natureza particular das relações que se estabelecem. Há um galerista, há um artista, ou um designer, e há sempre uma história de empatia e afinidade que é insubstituível. “Conheci o Sam Baron, director criativo da Fabrica, porque ele veio fazer uma montra para a galeria. Percebi que tinhamos a mesma 76

Itália, na região de Puglia. No entanto, é uma romana no coração. É lá que está a sua família, a sua vida. Uma galeria altamente criativa e inovadora como a Secondome, responsável por alguns dos lançamentos mais espantosos do ano, é uma maneira muito salutar de contrariar a macrocefalia milanesa no campo do design. E pôr Roma no mapa, e nas bocas do mundo. Na Secondome passam-se muitas coisas. Existem clássicos italianos de Sottsass e De Luchi, mas também limited editions do brit design, via Established & Sons, e o mais fresco do design contemporâneo. A ideia da edição de design, consumada na Secondome Edizioni, esteve presente desde o início do projecto, e é a parte preferida do trabalho para Claudia Pignatale. Entre as novas peças lançadas este Outono, estão objectos de Kiki van Eijk, 5.5 designers, Sam Baron, Joost... e as peças de cerâmica criadas pelos jovens talentos da Fabrica, depois de um workshop de verão. Em todas elas, Claudia Pignatale procura o mesmo: poesia. e www.secondome.com


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P R O J E C T O

: :

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ASTRID

KROGH N E O N N AT U R A L Astrid Krogh tece tapetes com fios luminosos. Para a textile designer dinamarquesa, a luz é um bem escasso, que é preciso celebrar. Nas suas criações, inspira-se na natureza e na tecnologia em partes iguais.


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projecto :: design

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ASTRID KROGH, tornou-se conhecida pelas suas

instalações e wallneons, que cobrem fachadas (como

instalações lumínicas, de inspiração crafty, tornadas

Flora, em Kolding, Dinamarca), adornam edifícios

realidade graças às novas tecnologias. Esqueçam

modernos (como Incitament, uma grelha de neon

o neon (embora ela também o utilize). Krogh pega

aplicada nas lojas Gigantium) ou iluminam interiores

em LEDs e fibras ópticas e trabalha-os como

nórdicos (como o relógio Twinkle), mas não só (há

se fossem fios de lã.

obras suas na Holanda, Reino Unido e Estados Unidos).

A dinamarquesa de 42 anos estudou na Escola

O seu mais recente projecto, Morild, é a estrela de uma

de Design de Copenhaga, onde fez um master

exposição a solo na Galeria NB, em Viborg,

no departamento de têxtil e em design de produto.

na Dinamarca. Uma tapeçaria de luz feita com fibra

Um projecto experimental e sustentável,

óptica que atravessa uma parede de madeira perfurada.

Suntiles -um sistema de painéis solares que permite

Inspirada num fenómeno natural, as algas

gerar electricidade mas também armazenar o calor

fluorescentes que parecem acender-se e apagar-se

e distribui-lo pelas divisões da casa- foi um início

no mar, Morild nunca é a mesma. As cores e a

promissor, que em 2000 a levou a criar o seu próprio

intensidade da luz estão programadas para mudar

atelier de projectos de luz.

a ritmos diferentes, imitando o incessante movimento

Entrelaçando luzes, padrões e texturas, a designer cria

da natureza.


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design :: projecto

Estudou textile design mas acabou por

Trabalha em escalas muito diferentes,

fundar um atelier que faz projectos de luz.

de grandes edifícios a objectos para a casa.

Porque é que se sentiu atraída pela luz?

É muito diferente?

A luz para si é um material têxtil,

Não. O meu ponto de partida como textile designer, seja

que pode tecer?

um projecto exterior ou interior, grande ou pequeno,

A luz, especialmente a luz do dia, é essencial para

é descobrir o que é que torna aquele lugar especial,

o nosso bem-estar. E o facto de viver num país

ou como torná-lo especial. Se me pedirem uma

escandinavo, onde a luz escasseia, leva-nos a apreciar

intervenção num edifício antigo, provavelmente vou

a luz. Está na nossa natureza. Tento imitar as

pegar num aspecto da sua história e trazê-lo para

mudanças que se dão na luz natural ao longo do dia.

o contexto contemporâneo. Se for um edifício novo

A maneira como a luz joga com as sombras em

tentarei perceber a arquitectura e descobrir como

pequeníssimas mudanças criando efeitos que abrem

é que o meu trabalho pode relacionar-se com ela.

os nossos olhos. É claro que penso na luz como um material “têxtil”

O seu próximo projecto envolve o re-design

porque acredito que se pode tecer com a luz, criar

de mosaicos tradicionais...

graduações e torná-la mais ou menos intensa.

Sim, envolve luz e células solares, mas a base é o re-design de mosaicos tradicionais num conceito

Um dos seus projectos mais recentes,

moderno. Adoraria trabalhar com um artesão portu-

Morild, inspira-se num fenómeno natural.

guês que conheça técnicas antigas neste projecto! e

Isso acontece muito? A natureza inspira-me. Quando vemos a natureza

www.astridkrogh.com

ao microscópio percebemos que é geométrica e ordenada, ao passo que quando observamos os fenómenos naturais muitas vezes parecem-nos confusos e caóticos. Nas minhas instalações, trabalho com esta subtil ambiguidade, da expressão da variabilidade e da repetição. Mas por outro lado, as novas tecnologias e materiais também são muito inspiradores. Fascina-me a ideia de transformar

trabalho, que é uma coisa que está a passarse um pouco por todo o lado no design de hoje. Acha que vai continuar?

“E CLARO QUE PENSO NA LUZ COMO UM MATERIAL TÊXTIL

Sim, parece-me que funciona como um pêndulo

porque acredito que se pode tecer

no tempo. Às vezes está bem alto, outras vezes vem

com a luz, criar graduações e torná-la

para baixo. Os conhecimentos artesanais são o fundamento do design de hoje e ignorar este conhecimento seria como cortar o ramo onde nos sentamos. Concordo que para mim é muito importante ser capaz de passar das antigas técnicas artesanais às novas tecnologias, porque ambas me inspiram muito. Parece-me que quando usamos novos materiais em técnicas artesanais estamos

mais ou menos intensa.” D E S I G N

Combina artesanato e tecnologia no seu

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as tradições através dos materiais modernos.

a renovar a artesania. 81


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design :: projecto

ÁGUA BENTA Quando uma empresa de sucesso e líder no seu segmento se transcende para ajudar o Planeta, renova-se a esperança. A seca mata milhões de seres todos os dias. A Fundação We Are Water convoca as Nações a criar uma nova cultura da água. QUANDO A ROCA se lança num projecto sem esquecer de lhe somar eficiência máxima na utilização do recurso natural mais raro e precioso e nos garante que os processos de fabrico dos seus materiais cumprem as boas práticas ecológicas e os critérios de uma indústria sustentável, está a comunicar a sua preocupação, a criar consciência, a defender a Terra. Mas a realidade prova que esse contributo é pequeno perante a dimensão da catástrofe que assola milhões de pessoas em vários pontos do globo. A falta de água e a sua gestão desregrada, traduz-se em 1,6 a 2,5 milhões de mortes humanas por ano, na sua maioria crianças com menos de 5 anos. Presente em todos os continentes e ciente das sinergias que é capaz de criar, a Roca ergue uma nova bandeira no sentido de contribuir para a protecção das populações afectadas pela carência de água e para uma melhor utilização dos recursos hídricos no Planeta. Trata-se da Fundação We Are Water, uma organização que visa agir contra o maior flagelo social e ambiental do século. Da sensibilização para a necessidade de implantar uma nova cultura da água e angariação de fundos, às acções concretas no terreno, autónomas ou em parceria, a We Are Water está a cooperar em três áreas fundamentais: educativa, sanitária e de infra-estruturas. Como primeiro alerta, a Fundação convidou a reconhecida realizadora Isabel Coixet a filmar um dos maiores desastres ecológicos das últimos anos – o desaparecimento do Mar de Aral, o grande lago que irrigava o coração da Ásia Central, hoje mais parecido com um deserto. O documentário, “Aral. O Mar Perdido” estreou no Festival Internacional de Cinema de San Sebastian e correrá o mundo para o fazer reflectir sobre a dimensão desta tragédia. No âmbito das soluções práticas, a Fundação está já a colaborar em cinco projectos internacionais desenvolvidos por três ONG’s de Espanha. Na Nicarágua– recuperação do ciclo de águas em Bosawas – e no Peru – salvação do lago Titicaca – com a intervenção da “Educación Sin

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Fronteras”; no Chade – água para campos de refugiados – na Etiópia – construção de infra-

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estruturas hídricas – através da “Intermón Oxfam”; e na Índia, em Gajinkunta, a construção de uma reserva de água, em parceria com a “Fundación Vicente Ferrer”. Aberta a todos os que estejam dispostos a diminuir o sofrimento de milhões de pessoas e de crianças, divulgue e participe e www.wearewater.org.


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ARQUITECTURA

BRAND NEWS

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SMALL SCALE, BIG CHANGE

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BD16-BRAND NEWS:BD11-BRAND NEWS 12/13/10 12:40 PM Page 84

brand new :: arquitectura MÓDULOS AUTO-SUFICIENTES, DE CANNATA & FERNANDES PARA A CAPA

Suficiente+ EM 2003, o atelier Cannata & Fernandes, concebeu os Módulos Auto-suficientes para a CAPA, empresa de pré-fabricados. O projecto recebeu menções honrosas em Espanha e Itália e materializou-se no Parque Náutico da Aldeia do Mato, em Abrantes, sobre a Barragem de Castelo de Bode (segredosdealdeia.pt), em perfeita sintonia com a natureza e o fim a que se destinam. O design convida, os interiores acolhem e a paisagem em que se inserem desafia a viver dias felizes – trata-se de uma construção ecológica e sustentável, capaz de responder ao mais elevado conforto. Com recurso a materiais de recuperação de energia e possibilidade de aplicação de tecnologias de ponta, cumpre várias funções – habitação temporária, observatório ambiental, posto de vigia florestal, ou mesmo bar, quiosque ou ‘praça’ de comunicações. Leves e resistentes, fáceis de transportar, reúnem excelentes características de instalação em áreas que não permitam alterações profundas, como parques naturais, praias e locais de difíceis acessos a infra-estruturas. No que toca à água, dispõe de um depósito de 500 litros, dimensionado para um abastecimento de três dias, aquecida através de painel solar. Mais uma iniciativa nacional de arquitectura sustentável, galardoada e com provas à vista, para nosso orgulho. www.cannatafernandes.com


BD16-BRAND NEWS:BD11-BRAND NEWS 12/13/10 12:40 PM Page 85

arquitectura :: brand new

SANTA MARTA HOTEL, DE PROMONTÓRIO PARA A INSPIRA

Verde e Zen, inspiram A REABILITACÃO DE UM CONJUNTO de edifícios classificados na Rua de Santa Marta, em Lisboa, a cargo do Grupo Inspira, numa parceria entre o grupo Blandy e a Investoc, resultou num novo hotel com um conceito que marca a diferença – engaging your senses: live your experience in every dimension – é o convite. Contemporâneo, arrojado, criativo e com uma atmosfera zen, defende a filosofia de sustentabilidade e de valores que assentam numa cultura holística, no equilíbrio dos aspectos sociais, ambientais e espirituais. O projecto, da autoria do atelier Promontório, inclui 89 quartos e uma série de espaços com serviços bem definidos. Na brasserie mediterrânica, comida saudável e show cooking a encantar; no bar explora-se o eat&meet, um conceito inovador de partilha de conhecimento; no SPA, gerido pela RitualSPA, garante-se as melhores experiências de relaxamento e bem-estar, e no ginásio a actividade física dinamiza-se em ambiente contemporâneo. Com a certificação da Travelife Sustainability System, o hotel está vocacionado para um público ambientalmente consciente, que valoriza as tendências green, sem descurar a estética, o design e a elegância.

de objectos, das cores, dos materiais e texturas, e de incluir os seus cinco elementos: água, árvore, fogo, terra e metal. Um novo hotel em Lisboa, um velho edifício alfacinha acarinhado. www.inspirahotels.com

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transpire harmonia, conforto e equilíbrio. Cuidou-se da disposição

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Por isso, o Feng Shui foi chamado aos interiores, de forma a que o espaço

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brand new :: trend

EMERGING GHANA, DE BLAANC, JOÃO CAEIRO E FULVIO CAPURSO PARA OPEN SOURCE HOUSE

Vida perfeita SERÁ A ALMA DE COLONIZADORES QUE FOMOS, reminiscências de infância num inesquecível PALOP, a experiência da dupla de masculina de arquitectos que se emparceirou na obra ou o talento que esmiúça a geografia, o clima, a cultura e os desejos de um povo... pouco importa. Quatro mulheres, as arquitectas do atelier Blaanc, e o par João Caeiro e Fulvio Capurso, desenharam a Emerging Ghana, endereçaram-na ao destino e venceram o concurso internacional de arquitectura sustentável em África, promovido pela organização Enviu, innovators in sustainability, fundadora da Open Source House (os-house.org). O objectivo era conceber uma habitação para a classe média emergente da Cape Coast, no Gana, recorrendo a elementos sustentáveis,

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flexíveis e de baixo custo, respeitando oito princípios definidos pela OS-House.

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Perfeita. Na matéria-prima – terra pisada, madeira dahoma, bambu – o contexto local em evidência. No coração, o pátio, tradicional espaço unificador, tão vivido pelos Ashanti, o grupo étnico do Gana. Eficiência energética em pleno – uso de ventilação natural e da luz solar, aproveitamento de águas e tratamento de resíduos para compostagem. Na arquitectura, o sistema modular, facilita a montagem, o transporte e a reutilização. Ergue-se por etapas, ajusta-se às necessidades e possibilidades de cada família. Linda. Para se ver em 2011, lá onde se quer: na velha praça portuguesa do século XV, hoje habitada por tantas pessoas privadas de uma casa condigna. www.blaanc.com


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arquitectura :: brand new

HOTEL DA ESTRELA, DE TERESA NUNES DA PONTE PARA LÁGRIMAS HOTELS & EMOTIONS

Nova estrela DIFERENTE, NOVÍSSIMO, numa zona privilegiada de Lisboa, o Hotel da Estrela é o novo inquilino do velho Palácio dos Condes de Paraty, na Rua Saraiva de Carvalho, a Campo de Ourique. Com a chancela Lágrimas Hotels&Emotions, integra a rede de Small Luxury Hotels of the World e, além de hotel de charme, assume uma vertente formativa. Recebe os alunos da vizinha Escola de Hotelaria e Turismo de Lisboa, para praticarem com o staff do hotel, o modelo pedagógico estabelecido com o apoio da École Hôtelière de Lausanne. Logo, serviço de qualidade, garantido. Projectado por Teresa Nunes da Ponte, é na decoração de interiores que se revela insólito. Sob o tema “escola”, Miguel Câncio Martins, trouxe ao espaço o espírito das antigas escolas, um universo que a todos é familiar. As sólidas secretárias de madeira, os mapas de parede, as lousas e outros ícones das “old schools”, cruzam-se com o design contemporâneo e com peças de mobiliário moderno, como as camas Hästens, as melhores do mundo. São treze quartos e seis suites, parte deles com vista para a cidade e o Tejo, o restaurante “Cantina da Estrela”, um bar, salas de reuniões e auditório e o sempre apaziguador jardim. Lisboa recebe assim e agora com mais encanto.

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www.hoteldaestrela.com

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SMALL SCALE,

BIG CHANGE

ARQUITECTOS ANÓNIMOS É a antítese da ‘starchitecture’. A exposição Small Scale, Big Change, no MoMA de Nova Iorque até Janeiro, olha de perto para 11 projectos de arquitectura que fazem muito, com muito pouco. A modéstia nunca foi tão grande. A mudança nunca esteve tão perto. POR MADALENA GALAMBA

[ NEW ARCHITECTURES OF SOCIAL ENGAGEMENT, MOMA ]

arquitectura : expo


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Anna Heringer and Eike Roswag: METI – Handmade School, Rudrapur, Bangladesh, 2004–06

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©Kurt Horbst

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NÃO É TODOS OS DIAS que dentro das paredes

O OBJECTIVO DA EXPOSIÇÃO, comissariada por

de um museu se vêem projectos de arquitectura

Andres Lepik, curator de arquitectura do museu,

“anónimos”, porque o projecto – e as pessoas para quem

é mostrar como a arquitectura pode impulsionar

foi desenhado – é mais relevante para o assunto que

a mudança social e como os arquitectos são chamados

o arquitecto que o concebeu. Não darão aberturas de

a confrontar as desigualdades desenvolvendo

jornais, não encherão páginas de revistas, não atrairão

intervenções positivas que melhorem a vida das

às cidades peregrinos em massa para ver as novas

comunidades. Tudo – e este dado é muito importante –

catedrais. Não são one-offs, como a Catedral de Brasília

sem sacrificar a estética. A escolha dos 11 projectos

ou o Guggenheim de Bilbau. Mas aquilo que lhes falta

reflecte essa preocupação, mostrando que é possível

em singularidade (faz parte da sua natureza serem

conciliar o eficaz com o belo, e que a arquitectura

reprodutíveis, para poderem chegar a mais gente,

“social” não tem de ser fria e feia. Muito pelo contrário.

acompanhar a evolução da paisagem urbana, ajudar

São 11 projectos espalhados pelo mundo

mais pessoas) sobra-lhes em especificidade.

(dos desenvolvidos Estados Unidos às favelas brasileiras,

São projectos que respondem voluntariosa

passando pelo Líbano, Bangladesh, Burkina Faso,

e interventivamente ao contexto (social, económico,

Venezuela, França e África do Sul) que revelam toda

político, cultural) onde nascem e que em todo o

a nobreza da arquitectura “sem pedigree”, feita por

momento são concebidos atendendo à realidade local

arquitectos emergentes, mais preocupados em melhorar

(dos materiais ao clima, passando pelo modo de vida

a vida das pessoas que em marcá-la através de grandes

das comunidades). É isso que acontece em Small Scale,

gestos espectaculares. Small Scale, Big Change mostra

Big Change, a mostra do MoMA de Nova Iorque que

como pequenos projectos independentes podem fazer

reúne 11 projectos que fazem da arquitectura uma

toda a diferença e como a modéstia (que pensa em

ferramenta para combater as desigualdades sociais.

grande) é, definitivamente, uma grande virtude.


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Rural Studio, Auburn University: $20K House VIII (Dave’s House), Newbern, Alabama, 2009 © Rural Studio Auburn University

arquitectura expo © Timothy Hursley:para Rural Studio

Diébédo Francis Kéré: Escola Primária, Gando, Burkina Faso, 1999–2001 © Simeon Duchoud/ Aga Khan


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Urban Think Tank, Metro Cable, Caracas, Venezuela 2007-2010 ©Iwan Baan


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Frédéric Druot, Anne Lacaton and Jean Philippe Vassal: Transformation of Tour Bois-le- Prêtre, Paris, France, 2006–11 © Druot, Lacaton, Vassal Frédéric Druot, Anne Lacaton and Jean Philippe Vassal: Transformation of Tour Bois-le- Prêtre, Paris, France, 2006–11 © Druot, Lacaton, Vassal © Simeon Duchoud/ Aga Khan

É intervindo em projectos locais, muitas vezes herdeiros da arquitectura vernacular (mas não necessariamente), muitas vezes erguidos pelas próprias comunidades que os vão habitar, com materiais ao alcance das mãos que os erguem, facilmente construídos e copiados (reproduzidos), que estes arquitectos provocam a mudança, dando às pessoas meios poderosos para melhorar as condições sociais em que vivem. São projectos “radicalmente pragmáticos” que incluem escolas, centros comunitários, habitação social, e intervenções de infraestrutura onde o papel do arquitecto, a sua capacidade de acção e intervenção e a sua responsabilidade são reequacionados. Feitos para as comunidades e pelas comunidades, estes projectos são soluções reais que resolvem os problemas das pessoas. As que vivem numa favela segregada pelo mundo, numa aldeia de terra batida que precisa de uma escola ou numa paisagem perdida no meio da América.

DIEBEDO FRANCIS KERE: ESCOLA PRIMÁRIA, GANDO, BURKINA FASO, 1999–2001 Diébédo Francis Kéré nasceu em Gando, uma aldeia de 2500 habitantes no Burkina Faso. Ao contrário da maioria dos seus amigos, teve a oportunidade de estudar, e fora, na Alemanha, onde se formou em arquitectura. Quando a sua terra precisou de uma nova escola, Kéré aplicou os seus conhecimentos sobre métodos de construção ecológica e substituiu os materiais industriais (caros), como o betão e o aço, por sabedoria local. A escola foi construída pela comunidade com os tradicionais tijolos de lama da região. Um grande telhado, que protege as paredes da chuva e do calor, é espaçado do tecto

METI – HANDMADE SCHOOL, RUDRAPUR, BANGLADESH, 2004–06 A escola feita à mão em Rudrapur, no Bangladesh,

DOS 11 PROJECTOS REFLECTE UMA PREOCUPAÇÃO

é o resultado da investigação da jovem arquitecta Anna Heringer sobre o contexto social e económico da aldeia. Heringer fez a sua

estética, mostrando que é possível

tese de mestrado com este material, mas também uma escola que propõe uma abordagem inovadora dos métodos e materiais

conciliar o eficaz com o belo,

de construção tradicionais. A estrutura é sobretudo de terra, misturada com barro, areia e palha, para maior

e que a arquitectura ‘social’

durabilidade. Chão de terra e paredes de bambu, num edifício que se tornou um modelo de construção ecológica e socialmente sustentável.

não tem de ser fria e feia.”

D E S I G N

ANNA HERINGER AND EIKE ROSWAG:

”A ESCOLHA

B L U E

para facilitar a circulação do ar.

93


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FREDERIC DRUOT, ANNE LACATON, AND JEAN PHILIPPE VASSAL: TRANSFORMATION OF TOUR BOIS-LE- PRETRE, PARIS, FRANCE, 2006–11 O HLM dos subúrbios franceses revisitado e humanizado, graças à intervenção dos arquitectos Druot, Lacaton e Vassal. Em vez de demolir estes “monstros” alienantes, erguidos na segunda metade do século passado, os arquitectos propõem expandir os espaços habitados e aumentar a luz natural, através de novas estruturas exteriores (que quebram a monotonia e o anonimato da fachada) e módulos pré-fabricados para os interiores.

RURAL STUDIO, AUBURN UNIVERSITY: $20K HOUSE VIII (DAVE’S HOUSE), NEWBERN, ALABAMA, 2009 Fundada em 1993, a Rural Studio é uma escola satélite da Universidade de Auburn, no Alabama, cujo objectivo é educar o “cidadão arquitecto”, isto é, ensinar aos estudantes as responsabilidades éticas e sociais da profissão, tanto quanto os conhecimentos técnicos, e pô-los em prática. Por exemplo, com o projecto 20$K House, que representa a possibilidade de as populações desfavorecidas de Hale County (Alabama), muitas vezes a viver em roulottes por falta de recursos, possam ter uma casa (com um custo inferior a 20 mil dólares). Para este projecto foram desenvolvidas 9 casas, mas em 2009, chegou-se a um protótipo. A casa, assente sobre pilares e inspirada nas construções locais, é aberta no interior, com excepção de duas divisões: a casa de banho e o quarto. A primeira casa, construída para o local David Thorton (daí o nome Dave's House) é um

B L U E

D E S I G N

”E INTERVINDO EM

94

PROJECTOS LOCAIS, HERDEIROS DA ARQUITECTURA VERNACULAR

modelo reprodutível e tornou-se o paradigma do habitação rural de baixo custo.

URBAN THINK TANK, METRO CABLE, CARACAS, VENEZUELA 2007-2010 As montanhas que rodeiam o centro de Caracas, são há muito povoadas pela população migrante de origem rural, que improvisa “barrios” informais nas suas colinas e encostas. Estima-se que 60% dos 5 milhões de habitantes da capital

muitas vezes erguidos pelas próprias

venezuela vivam aí. Mas sem rede de transportes estes “barrios” estão isolados do centro. Uma fractura, duas cidades, que o

comunidades que os vão habitar, com

estúdio Urban Think Tank propôs suplantar, criando um sistema de teleférico (um intruso mínimo na malha improvisada, mas

materiais ao alcance das mãos, que estes

funcional) que une dois dos “barrios” à rede de metro da cidade. A proposta do Urban Think Tank partiu de um intenso trabalho

arquitectos provocam a mudança.”

de campo e workshops na comunidade.

e


BD16-SEPARADORES:BD-MAISON FLOTTANTE 12/10/10 12:46 PM Page 95

CULTO

COLORS COLLECTOR HOTEL SEZZ

LIVROS SNEAK PREVIEW

B L U E

EXPOSIÇÕES

D E S I G N

MÚSICA

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design :: projecto

COLORS COLLECTOR, EDIÇÃO ESPECIAL 20º ANIVERSÁRIO

(EXTRA)ORDINARY PEOPLE São histórias extraordinárias de pessoas comuns. Adoradores anónimos de coisas banais, unidos pela paixão pelos objectos e o fervor em coleccioná-los. Estetas, quixotescos, alucinados, vivem rodeados de domésticas e quotidianas “peças de museu”. Podemos conhecê-los no número especial da revista COLORS, que assinala o 20º aniversário da publicação do grupo Benetton. Uma edição de coleccionador, recheada de histórias de coleccionadores. Para guardar. TEXTO MADALENA GALAMBA

Ao leme do navio estava Sam Baron, o director criativo

tamanho real. É para estas diferenças de escala que

da Fabrica, que nem sequer é o responsável directo

temos de estar preparados quando folheamos o número

pelos projectos editoriais, mas que aqui abriu uma

79 da revista Colors, a conhecida publicação do grupo

excepção. “Queria que esta edição fosse 'memorável',

Benetton. Para estas diferenças de escala e para muito

até em termos de peso, que ficasse entre uma revista

mais, já que se trata de uma edição especial, para

e um livro, e que se transformasse num objecto para

coleccionadores e sobre coleccionadores, cheia

guardar”, explica Sam Baron. Por isso, em vez da

de histórias inacreditáveis. Deliciosamente “fora”,

tradicional capa com uma fotografia, optou-se pela

estranhamente familiares. O número especial, que

solenidade do preto, interrompida pelas letras gravadas

assinala o vigésimo aniversário da publicação, está

a ouro e prata que permitem a leitura das palavras

à venda a partir de 15 de Dezembro.

“Colors” e “Collector”. Mesmo antes de abrirmos

A equipa da Fabrica e a sua extensa rede de

a revista, está tudo dito: é uma collector's. Lá dentro,

colaboradores espalhados pelo mundo (escritores

a saga continua, papel brilhante de 150g para os

e fotógrafos e criativos em geral) não precisou de mais

retratos (narrados e fotografados) dos coleccionadores,

de quatro semanas para pôr de pé este número de 108

um papel mais fino para os textos críticos de

páginas. Começaram a circular e-mails com o pedido

enquadramento (a cargo de Pierre Doze, Cristina

de propostas e no tempo de um mês estava feito. Quatro

Morozzi, Hirokuni Kanki e Marco Romanelli), mais

semanas, foi o tempo que precisaram para seleccionar

a “bonus track” gráfica, uma série de postais recortáveis

as histórias, falar com os coleccionadores (alguns

com fotografias do inimitável Martin Parr à volta, claro

queriam aparecer outros receavam a exposição),

está, de “collectibles”. E os conteúdos? “A ideia era

fotografá-los in loco ou esperar que enviassem

pensar o design como uma chave ou um filtro para

exemplares das suas relíquias para que fossem

descobrir todas estas histórias incríveis”, continua Sam

fotografados no estúdio da Fabrica,

Baron. Por isso, podemos perder-nos entre árvores

reunir os textos, paginar...

miniatura, autocolantes de bananas, sacos de plástico, colheres e torradeiras.

B L U E

PAUZINHOS DE COCKTAIL e dinossauros em

D E S I G N

FOTOS COLORS

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design :: projecto

”E PERCEBEMOS QUE AQUELE PEDAÇO DE PÃO QUE UM outro coleccionador agarra é afinal o presságio da sua inclinação secreta:

B L U E

D E S I G N

colecciona torradeiras.”

98

A ÚNICA REGRA é que tinham de ser colecções

Na página da esquerda, um número quase solitário, negro

privadas, nunca antes exibidas ou mostradas num

sobre fundo branco. Na página da direita, um retrato do

contexto museológico. É o triunfo dos objectos, “super

coleccionador, com um objecto que, não fazendo parte da

normais ou super especiais”, baratos ou caros, low-tech

colecção, remete para ela. O número, como a imagem,

ou high-tech, invariavelmente venerados, estimados,

é um teaser, que nos prepara para o que vem a seguir.

por quem se dá ao trabalho de os procurar, guardar

Depois descobrimos que o número não é aleatório, mas

e organizar. Mas é sobretudo a celebração das histórias

contabiliza o número de objectos reunidos naquela

de quem os colecciona. São os tesouros nossos de cada

colecção (365 items, no caso da colecção de parafernália

dia, e os seus guardiões podem ter quinze anos (como

de aviões Concorde, de Nathan Shedroff). E percebemos

o rapaz que coleccionava aspiradores) ou várias décadas

que aquele pedaço de pão que um outro coleccionador

(como a velhota romana, de 82 anos, que se autointitula

agarra é afinal o presságio da sua inclinação secreta:

de “sereióloga” porque colecciona tudo o que se

colecciona torradeiras (e são lindas). Há dois ritmos de

relaciona com sereias), viver em Montreal, em Roma

leitura, duas tipologias: um mais rápido e imediato, ainda

ou no Porto (como o senhor das arvorezinhas).

que misterioso pelo que não está dito, outro mais profundo

Cada coleccionador conta a sua história. Através dos

e intenso, onde podemos mergulhar na história de cada

objectos que foi recolhendo e guardando, mas também

coleccionador. Na boa tradição Colors, os retratados têm

através da narração da sua relação com eles, com

diferentes origens, raças, credos e religiões. Vêm de pontos

os outros, com o mundo.

distantes do planeta só para nos mostrar que no fundo

Cada história (e são quase vinte) abre com um spread

somos todos incrivelmente parecidos.

enigmático, pensado para criar mistério.

Até no amor pelos objectos. E


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[ HOTEL SEZZ SAINT-TROPEZ ]

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UMA OUTRA

COSTA AZUL Se a Riviera Francesa podia ser ainda melhor? Claro que sim. Basta que, por entre a floresta de pinheiro manso, surja agora o hotel Sezz Saint-Tropez. Arquitectura e design com sentido. E direcção ao Mediterrâneo.

POR MADALENA GALAMBA IMAGENS MANUEL ZUBLENA


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design :: spot

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NÓS, OS PORTUGUESES, deveríamos ter um problema com o pinheiro manso. Não com o pinheiro manso em si, mas com o que cresce, com o mesmo aroma a resina, sombra dadivosa e chão coberto de caruma, noutro lugar que não Portugal. Principalmente, se esse lugar for o destino de uma viagem que façamos com o intuito de deixar para trás qualquer parecença que possa servir de mínima referência ao lugar de onde vimos. Destrói qualquer noção de exotismo. Serve esta lógica, propositada e exageradamente simplista, para que entendamos de que forma poderá uma referência paisagística ser, simultaneamente, consubstancializada e tornada singular pela arquitectura nela inserida. DEPOIS DO ÊXITO (OU ACLAMAÇÃO) do Hotel Sezz em Paris, inaugurado em 2005, uma nova colaboração entre o empreendedor Shahé Kalaidjian, o arquitecto Jean-Jacques Ory, o paisagista Christophe Ponceau e o designer Christophe Pillet, não poderia ter um resultado abaixo da fasquia do sensacional, o

“DEPOIS DO ÊXITO (OU ACLAMAÇÃO) DO HOTEL SEZZ EM PARIS,

provento esperado. E, mesmo para os mais descrentes,

inaugurado em 2005, uma nova

denominação Sezz como uma luva de pelica em mão

B L U E

D E S I G N

colaboração entre o empreendedor Shahé Kalaidjian, o arquitecto Jean-Jacques Ory, o paisagista Christophe Ponceau e o designer Christophe Pillet, não poderia ter um resultado abaixo da fasquia do sensacional.” 102

os que poderiam imaginar uma cópia quase exacta do estabelecimento homónimo na cidade das luzes ou, pelo menos, nele vagamente inspirado, eis que “surpreendente” é um epíteto que volta a assentar à fina. Se, em Paris, o Hotel Sezz reflecte a sedução da ambiência urbana que só a cidade das luzes pode conceder, este projecto retira da Côte d’Azur os seus maiores proveitos. Da leve brisa marítima (e aqui, não há como não retornarmos aos pinheiros mansos, majestosas sentinelas que sussurram silvos quando sopradas pelo vento) à luz que só existe no Mediterrâneo, do azul cobalto do mar aos campos de lavanda perfumando o ar.


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design :: spot

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Como uma pequena villa da Provença, a poucos minutos de praias cénicas, o Sezz Saint-Tropez é um complexo de edifícios de muito baixa estatura, para que possam sempre ser implícitos pelo arvoredo, e cujo arrojo criativo enaltece a paisagem. São 37 quartos, suites e villas espalhados em torno do coração do projecto, onde existe uma congregadora e enorme piscina, um lounge de ambiência contemporânea (onde sobressai o mobiliário desenhado por Christophe Pillet, como fazendo todo o sentido num lugar já de si perfeito) e o edifício principal, que alberga o Dom Pérignon Champagne bar, o restaurante Colette, com a cozinha a cargo do Chef Pierre Gagnaire e, por fim (o final aconselhado para uma estadia), o Spa Sezz by Payot. TODO O MOBILIÁRIO E OBJECTOS inseridos no Sezz Saint-Tropez são da autoria de Christophe Pillet, um caso sério da nova geração do design de mobiliário

suas cadeiras “Y” e “Sunset”, criações aclamadas no mundo inteiro, o design de Christophe Pillet caracteriza-se por criações onde as linhas suaves e fluidas dão origem a uma simplicidade visual que se insere neste contexto arquitectónico como o próprio projecto na paisagem: de forma perfeita. Uma paleta de cores que respeita os códigos dos anos 50, concede a estes interiores, de um revivalismo bem patente, muito mais glamour contemporâneo que qualquer outra opção retro que, aqui, tornaria tudo muito mais agressivo.

”UMA PALETA DE CORES QUE RESPEITA OS CÓDIGOS DOS ANOS 50, concede a estes interiores, de um revivalismo bem patente, muito mais

glamour contemporâneo que qualquer outra opção retro que, aqui, tornaria tudo muito mais agressivo. ”

D E S I G N

e norte americanas. Conhecido principalmente pelas

B L U E

contemporâneo francês, para várias marcas italianas

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Apontamentos como a iluminação Mazzega e Oluce, as casas de banho by Fantini e Boffi ou as cadeiras by Fantini, não passam despercebidos pelo simples facto de convidarem à demora em cada um dos espaços que, também eles, fluem. SAINT-TROPEZ, o encantador coração da Côte d’Azur, ou Riviera Francesa, não perdeu o encanto que a tornou famosa nos áureos anos do meio do século passado. O Hotel Sezz é, porém, um grito, uma palavra de ordem para que essa imagem idílica, de charmosas e sensuais figuras de lenços na cabeça, levemente agitados pela brisa que assoma no Citröen “boca de sapo” descapotável, não faça parte de um passado distante. Há nova vida no Mediterrâneo francês, para além da clássica marina onde os iates de estrelas de cinema fazem fila para entrar, muito por via desta segunda colaboração entre hoteleiro, arquitecto e designer. Situado em plena Route des Salins, que

B L U E

D E S I G N

respira glamour, o Sezz Saint-Tropez é feito de ar e luz.

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“O HOTEL SEZZ É, PORÉM, UM GRITO, UMA PALAVRA DE ORDEM para que essa

Uma linguagem muito própria, que já tinha sido

imagem idílica, de charmosas e sensuais

de forma perfeita, nesta floresta), é um morno convite

figuras de lenços na cabeça, levemente

para tudo o resto. Todos os quartos estão virados para

agitados pela brisa que assoma no Citröen

privativo. E há, também, como em Paris, The Personal

“boca de sapo” descapotável, não faça

Assistant Programme, para que esta seja uma

unânime desde o Sezz Paris, mas que aqui assume toda uma outra dimensão, onde o luxo veraneante se traduz em pequenos nadas, como o aroma a alfazema ou à salinidade do mar, que pode ser sentida a partir de cada quarto. A luxuriante floresta que envolve esta arquitectura (ou a corajosa arquitectura inserida,

a piscina central ou, melhor ainda, para um jardim

experiência verdadeiramente única.

parte de um passado distante. Há nova vida no Mediterrâneo francês.”

www.designhotels.com www.hotelsezz.com

e


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B L U E

D E S I G N

design :: spot

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projecto :: design

B L U E

D E S I G N

TRÊS VEZES ESCURO, POIS CLARO! "Gostos não se discutem? Isso é que era doce!" diz, intrépido, quem não deixa que lhe façam o ninho atrás da orelha, quanto mais no ouvido! TEXTO NUNO MIGUEL DIAS 108


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Design :: Música

COISA DE ADOLESCENTE, essa de ouvir,

Kaiser, Nona Marie Invie e Marshall LaCount foi

unicamente, aquilo que a sua tribo ou grupo de amigos

passada, suponho eu, a ensaiar piano, trompete,

propõe. É claro que não se pode negar o peso que

clarinete, banjo, acordeão, contrabaixo, violoncelo

os amigos, quando realmente o são, têm nas nossas

e mais alguns que surgem, como apontamentos

vidas. A música também. Ou não. Porque há uns anos,

(nem que sejam fabulosos pizzicatos), na até agora curta

quando já achava ter ouvido de tudo (hoje não me meto

discografia (a primeira experiência sob forma de um EP

nisso), recebi um "não gosto de música" bem

intitulado “Love You Bye”, o seu refinamento em forma

nas ventas, upper cut de insensibilidade tão doloroso

de disco de estreia, “Snow Magic”, o EP “Bright Bright

como corte de papel. Pautado ou não.

Bright” – que, por acaso, não figura na discografia

É claro que os gostos musicais comuns unem como

segundo o allmusic.com, mas eu tenho-o para

poucas coisas. Por outras palavras, mais propriamente,

comprovar — e o mais recente “Wild Go” que, se não

nas de quem escrevia para determinado músico

os lançar para a ribalta ou, pelo menos, os resgate para

português, "Não se pode amar quem não ama a mesma

fora das trevas, temo que o mundo esteja

canção", sendo que "canção" significa aqui "género

irremediavelmente perdido). Os DDD não têm direito

musical", mas foi, na altura, ao que parece, vital para

a passar nas rádios (muito menos nas portuguesas),

a rima. Independentemente disso, é uma frase assertiva.

nem sequer ainda nos presentearam com um concerto.

Mas não é preciso gostar de tudo o que aquele que

E isso é impedimento para que um amigo meu mos

amamos consome avidamente. Deve ser dado,

tivesse apresentado. Mas não é razão para que eu não

a ambos (amado e amante, portanto) a hipótese

os oiça. Aquilo é bom, ponto. E venha quem vier,

de desbravar páginas e páginas de internet em busca

que eu mostro a colecção de singles que adquiri só para

do que é do seu interesse. Ou mesmo do que poderá vir

poder esfregar na cara de quem vem com o sempre

a ser. É o que faço. Reinvindico, para mim, esse direito.

supostamente apaziguador “gostos não se discutem”! e

Tenho poucos mais. Até porque sou recibo verde. Se gosto de um estilo de música que encontro num qualquer site, do Youtube ao Vimeo, da Blogothéque ao They Shoot Good Music Don't They, gosto ainda mais de fazer um copy/paste do nome da banda e colar no allmusic.com. Depois, é consultar o see also ou similar artists. Tirando as vezes em que as decepções já eram esperadas, há boas surpresas. Foi o caso dos

os das fotografias da nossa mãe nos anos 80,

“MAS NÃO É PRECISO GOSTAR DE TUDO O QUE AQUELE QUE AMAMOS CONSOME AVIDAMENTE. Deve ser

que evitamos mostrar — e indumentária que parece ter

dado, a ambos (amado e amante,

é condição de que não quero padecer), serão denominados apenas por DDD. E o que são, afinal, os DDD? São um bando de nerds que, a julgar pela aparência (óculos à totó — não como os do David Fonseca, que já contam com uma legião de imitadores que trataram de os vulgarizar, mas como

vindo dos contentores originalmente destinados aos "pobrezinhos" de África), não saíram muito de casa

portanto) a hipótese de desbravar

em idade disso. Até porque, a dominar, cada um deles,

páginas e páginas de internet em busca

mais do que um instrumento daquela forma, não podiam. A adolescência dos três membros, Jonathan

do que é do seu interesse”

B L U E

óbvias (e se não forem, passo a esclarecer: a tendinite

D E S I G N

Dark Dark Dark que, daqui em diante, e por razões

109


BD16Livros.qxd:BD-EXPOS e LIVROS_5 12/13/10 10:50 AM Page 110

ADAM LINDEMANN

No site da editora folheiam-se cem páginas deste novíssimo lançamento da Taschen. A tentação da encomenda imediata é grande, porque Adam Lindemann, um apaixonado coleccionador de arte despertou para o design

D E S I G N B L U E

STEVEN HELLER E LITA TALARICO

O caderno de um desenhador guarda muitos segredos. E é um laboratório. Traços que registam ideias, apontamentos que contam histórias e a origem das suas

LOUIS VUITTON: 100 LEGENDARY TRUNKS PATRICK-LOUIS VUITTON, PIERRE LEONFORTE E ÉRIC PUJALET-PLAA

“Aqui estamos. Tinha de acontecer. Depois de construir tantos baús, incluindo alguns para transportar livros, aqui está o nosso primeiro livro sobre baús. Cem baús.”

criações. Por isso este livro em formato

São as primeiras palavras que se lêem

notebook ou vice-versa, é tão excitante.

no prefácio de Patrick-Louis Vuitton, deste

Da curiosidade partiu à descoberta, juntou

Além de nos colocar na posição de fiéis

livro excepcional que apresenta as mais belas

à mesma mesa 32 experts na área,

depositários de um trabalho íntimo,

criações da Maison pioneira na indústria

e conversaram sobre design e o mercado gerado

oferece-nos o exercício de entrar na esfera

do luxo, ilustrado com mais de oitocentas

pelo design. O resultado traduz-se num

cerebral dos artistas que aqui se expõem.

fotografias. O baú-cama, o baú clássico,

autêntico guia que enumera as melhores peças

Os autores Steven Heller e Lita Talarico

a caixa de chá, o estojo de higiene, o baú

vintage versus edições limitadas, aponta nomes

seleccionaram designers de renome

de circo, o baú de livros, a caixa de caviar,

que merecem atenção e que convém ter debaixo

para mostrar os bastidores dos seus processos

dos primeiros e tradicionais aos mais

de olho, seguindo obviamente o conhecimento

criativos, dando a conhecer de que forma

modernos formatos, numa edição de luxo,

profundo de todos aqueles que operam nesta

os iniciam e a que técnicas recorrem.

com manga de tela monograma, numa

área negocial: coleccionadores, concessionários,

Uns gostam de pintura, outros colhem

reinterpretação do padrão original de 1896,

especialistas e leiloeiros.

elementos e fazem colagens, há os que

com os autocolantes de hotel. Disponível,

Trezentas páginas, a nata do design de colecção,

se impõem usar sempre a mesma caneta,

em exclusivo, nas lojas Louis Vuitton. 140€

o gáudio para conhecedores e amadores

os que fantasiam as suas férias ou a rotina

curiosos mas apaixonados. 30€

diária sem abandonar o traço... um périplo

quando equipou a sua casa nova e encantou-se.

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GRAPHIC INSIDE THE SKETCHBOOKS OF THE WORLD'S GREAT GRAPHIC DESIGNERS

WWW.LOUISVUITTON.COM

COLLECTING DESIGN

WWW.THAMESANDHUDSON.COM

WWW.TASCHEN.COM

livros :: media

fascinante por ilustrações únicas. 30€


BD16Expos:BD12-EXPOS 12/13/10 10:57 AM Page 111

Expos ... E PROPOMOS ALGUMAS EXPOSIÇÕES QUE NÃO VAI QUERER PERDER.

C O O R D E N A D A S S O LTA S Indo a Londres até meados de Janeiro, é de passar pela Spring Projects para deitar o olho a The Crate Series, uma re-definição de funcionalidades, uma interessante reciclagem de peças, numa provocação do Studio Makkink & Bey, bem conhecido pelas intervenções no espaço público, no design de produto e em projectos de arquitectura. Só vendo. Para profissionais e amantes do design de interiores, é tempo de IMM Cologne, The International Furnishing Show. Ali se revelam tendências de futuro nos espaços da nossa vida, que junta a si o evento Living Kitchen e muitas outras iniciativas interessantes. Da Alemanha, da Europa e dos quatro cantos do mundo, todos trazem as suas propostas e novidades. Jean-Michel Basquiat faria 50 anos se estivesse entre nós. Por isso, o Musée d’Art Moderne de Paris lhe dedica uma retrospectiva sem precedentes em França. O artista do street art, que nos deixou trágica e precocemente em 1988, amigo de Warhol e ícone de uma geração, celebrizou o graffiti, que alcançou o status de obra de arte. Uma homenagem a não perder. Depois do Museu Grão Vasco, em Viseu, é a vez do Museu de Aveiro receber um conjunto de obras da Colecção da Caixa Geral de Depósitos, organizada em sete núcleos expositivos e intitulada Linguagem e Experiência. Vários autores numa mostra que “cruza diferentes possibilidades sobre a visibilidade engendrada pelo trabalho artístico enquanto experiência limite de um discurso sobre o mundo”, com curadoria de Pedro Lapa (culturgest.pt). No Hôtel de Ville de Paris a entrada é gratuita e o nome é sagrado: Andrée Putman, a grande senhora do design francês. Uma retrospectiva do trabalho de um talento ímpar, que deu alma e forma a projectos que fizeram história. Dos interiores do Concorde, à famosa casa-de-banho do Hotel Morgan’s, em Nova York, à invenção do conceito de hotel-boutique... simplesmente brilhante, obviamente obrigatória. Lisboa também se expõe ao vivo e a cores. Com a Lisbon Walker, os passeios são a pé, curtos e guiados. Os temas, vários e interessantes. Sugerimos dois: Arquitecturas de Lisboae Lisboa Subterrânea. O primeiro, corre três épocas que tornam a imagem da cidade ímpar, o segundo, desce aos túneis do metropolitano, uma autêntica galeria de arte pública, onde o azulejo expressa a alma de artistas nacionais e estrangeiros, em obras de rara beleza. Ligue e combine. THE CRATE SERIES, STUDIO MAKKINK & BEY, Spring Projects, Londres, até 16 de Janeiro, www.springprojects.co.uk

IMM COLOGNE, THE INTERNATIONAL FURNISHING SHOW, Koelnmesse (Centro de Exposições), Colónia, Alemanha, de 18 a 23 de Janeiro, www.imm-cologne.com

BASQUIAT, Musée d’Art Moderne, Paris, até 30 de Janeiro, www.mam.paris.fr

ANDREE PUTMAN, Hôtel de Ville, Rua de Lobau, 5, Paris, até 26 de Fevereiro, www.paris.fr

LISBON WALKER, PASSEIOS EM LISBOA Partida da Praça do Comércio, Tel.: 218.861.840 ou 963.575.635, www.lisbonwalker.com

B L U E

LINGUAGEM E EXPERIÊNCIA, OBRAS DA COLECÇÃO DA CAIXA GERAL DE DEPÓSITOS, Museu de Aveiro, de 11 de Dezembro a 13 de Fevereiro, Tel.: 234.423.297, www.ipmuseus.pt

D E S I G N

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lista :: contactos

Marcas PROCURE AS MARCAS QUE O INSPIRAM... ARTECNICA www.artecnicainc.cnet

COOL DE SAC www.cooldesac.pt

KARTELL www.kartell.it

PAOLA LENTI www.paolalenti.com

ATLANTIS www.vistaalegre.pt

DEDON www.dedon.de

KRUPS www.krups.pt

PEPE JEANS www.pepejeans.com

BACCARAT www.baccarat.fr

DKNY www.dkny.com

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BANG & OLUFSEN www.bang-olufsen.com

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GANDIA BLASCO www.gandiablasco.com IKEA www.ikea.pt

MIMIJUMI www.mimijumi.com MOLESKINE www.moleskine.com MOOOI www.moooi.com MOROSO www.moroso.it

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...E OS LUGARES ONDE AS PODE ENCONTRAR...

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ALTAMIRA Av. 5 de Outubro, 35, Lisboa. Tel: 213 154 794

ARTE ASSINADA Porta do mar, 3.11.09, loja 2, Tel: 218 948 047

CASA COMIGO Av. da Boavista, 2881, loja 1 Porto. Tel: 226 160 789

AFECTO (representante) Rua Eugénio de Castro, 248, sala 144 Porto. Tel: 226 003 727 afecto@iol.pt | www.afectodesign.com

ARTE CASA Rua Guerra Junqueiro, 472 Porto. Tel: 226 069 973

DIMENSÃO Av. da Igreja, 37A. 1700-233 Lisboa Tel. 217 977 604

BASTIDOR Rua do Passeio Alegre, 694 Porto. Tel: 226 197 620

Rua Gonçalo Cristóvão, 86 4000-264 Porto. Tel. 223 322 502 marketing@dimensao-net.com www.dimensao.pt

AREA Amoreiras Shopping Center, Centro Colombo, Cascais Shopping e Norte Shopping Tel: 217 315 350, 217 112 070, 214 606 290, 229 579 500

DOMO Largo de Santos, 1G. Lisboa Tel: 213 955 328. domo@domo.pt www.domo.pt FLUXOGRAMA Rua da Garagem, 3, Carnaxide Tel: 214 257 551 Rua da Constituição, 2238 Porto. Tel: 228 348 070 fluxograma@fluxograma.com www.fluxograma.com >>>


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E OS LUGARES ONDE AS PODE ENCONTRAR... >>> GALANTE Rua Rodrigo da Fonseca, 21C Lisboa. Tel: 213 512 440 galante@galante.pt | www.galante.pt GANDIA BLASCO Rua Dr. Melo Leote, 20. Porto Tel: 226 181 355 gbporto@gandiablasco.com www.gandiablasco.com HELDER GONÇALVES (representante) Largo do Co, 145. Penamaior Tel: 255 866 001. helder@spring.mail.pt JANELA DA MINHA CASA Rua Capitão Filipe de Sousa, 76 Caldas da Rainha. Tel: 262 836 404 janela@oninet.pt JOÃO FARIA Rua Dr. Francisco Sá Carneiro, Vila Frescainha. Barcelos. Tel: 253 802 210 IN A IN INTERIORES Rua João de Deus, 753. Porto Tel: 226 084 830. inain@inain.com www.inain.com

IN LOCO Av. Dom Carlos I, 212. Cascais Tel: 214 820 695 loja@inloco.pt | www.inloco.pt

MARISKA SNOEY (representante) Av. Almirante Pessanha 16 Lisboa. Tel: 213 429 004 mariska.snoey@gmail.com

IMAGO DECORAÇÃO Rua de S. João 8/10 A. Braga Tel: 253 269 136 Imago.falances@vizzavi.pt

MUNDANO Rua Miguel Bombarda, 462 4050-382 Porto, Tel.: 916 352 335

INTEMPORÂNEO Rua dos Netos, 18. Funchal Tel: 291 236 623 info@intemporaneo.com INTERNA EMPORIO CASA Rua Ivens, 94.1250-102 Lisboa Tel.: 213 979 605 A LINHA DA VIZINHA Av. Conselheiro Fernando de Sousa, 27 A. Lisboa Tel: 213 825 350 alinhadavizinha@mail.telepac.pt www.alinhadavizinha.com LXDESIGN Av. Ilha da Madeira, 41. Lisboa Tel. 213 013 131

NORD Av. Infante Dom Henrique, Armazém B, Loja 6. À Bica do Sapato, Lisboa Tel: 218 821 045. info@lojanord.com www.lojanord.com OFICINAS GERAIS (representante) Rua Joaquim Dias Salgueiro 180 A 4470-777 | Vila Nova da Telha Tel: 229 942 838 oficinas@oficinasgerais.pt PEDROSO & OSÓRIO Av. 24 de Julho 6 A, Lisboa Tel: 213 933 930 Rua das Condominhas, 25 R/C Tel: 226 178 998 www.pedrosoeosorio.com

POEIRA Rua da Impresa à Estrela, 21B. Lisboa Tel: 213 954 229. poeira@poeiraonline.com www.poeiraonline.com SANTOS DA CASA Av. D. Carlos I, 49-A. 1200-646 Lisboa Tel.: 213 952 536 SÁTIRA Dta. Das Campinas, 327. Porto Tel: 226 119 760. geral@satira.pt SESSACIONAL Rua dos Barbosas, 81. Braga Tel: 253 268 361. info@sessacional.com www.sessacional.com STOCK DESIGN Parque das Nações, Alameda dos Oceanos. Lote 2.11.01/A Lisboa. stockdesign@sapo.pt VISTA ALEGRE Rua Nova da Trindade, 1. Lisboa Tel: 213 430 148. www.vistaalegre.pt

Figuras YVES BEHAR fuseproject.com info@fuseproject.com

MAARTEN DE CEULAER maartendeceulaer.com mdeceulaer@gmail.com nilufar.com

PATRICIA URQUIOLA patriciaurquiola.com info@patriciaurquiola.com

B L U E

JOANA ASTOLFI joanaastolfi.com puppenhaus.pt dolls@puppenhaus.pt

D E S I G N

POR ORDEM ALFABETICA, O ELENCO DE DESIGNERS QUE PARTICIPAM NESTE NÚMERO

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SNEAK PREVIEW

Espreitamos pelo buraco da fechadura e mostramos-lhe o design que há-de vir. E que muito pouca gente viu.

THE COILLING COLLECTION, YAEL MER & SHAY ALKALAY- RAW EDGES

Suave Sólido 326 metros de feltro foram precisos para montar estas peças – cadeiras, bancos, tapetes, mesas – criadas pela dupla Yael Mer e Shay Alkalay (Raw-Edges) e expostas na Fat Galerie, em Paris. E não só. O segredo desta série – chamada The Coilling Collection, em alusão ao método em espiral usado para dar forma às peças – está no material: um híbrido, uma base de feltro parcialmente embebida em silicone. De um lado, mantém-se a suavidade da lã, do outro, o que é tocado pelo silicone, o material endurece e torna-se estrutura. São sete peças coloridas e vibrantes para descobrir em 2011, na blue Design. www.raw-edges.com

B L U E

D E S I G N

www.fatgalerie.com

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