Pontapé inicial para o futebol no Brasil - O bate-bolão e os esportes no Colégio São Luís: 1880-2014

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Paulo Cezar Alves Goulart

PONTAPÉ INICIAL para o futebol no Brasil

O bate-bolão e os esportes no Colégio São Luís: 1880-2014




Formação de alunos do Colégio São Luís, em 1897, tendo ao centro, sob os pés de um aluno, uma bola para jogar futebol. De tamanho maior que a convencional, é testemunho da ausência, na época, de padrão de medidas na confecção de bola para se praticar o esporte. Acervo Colégio São Luís.


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2 PONTAPÉ INICIAL PARA O FUTEBOL NO BRASIL O bate-bolão e os esportes no Colégio São Luís: 1880-2014

COLÉGIO SÃO LUÍS DIREÇÃO GERAL Pe. Eduardo Henriques, SJ DIREÇÃO Benedita de Lourdes Massaro Jairo Nogueira Cardoso Luiz Antonio Nunes Palermo Coordenação geral Antonio Eduardo Serzedello De Paula (Tuna Serzedello) Equipe de apoio do Colégio São Luís Gladis Maria Schmidt Gilberto Lopes Teixeira Luana Pedrotti André Cantarino Márcia Guerra Pilar Baptista Fernanda Teixeira Rita Teixeira Paula Viotti Bastos Fabio Oliani Coordenação editorial A9 Editora Ltda

Tratamento de imagens Vitório Andrade Lifante Diagramação Pedro Caetano de Paula e Goulart Sabine Villafranca Uhlig Revisão de texto Cleusa Conte Machado Colaboradores Ana Maria de A. Camargo Carla Galdeano – Pateo do Collegio Dalvo Jensen Jr. Geraldo Luiz de Castro (Irmão Castro) – Cúria Provincial BRC Luis Antonio Fleury Guedes Maria Cristina Monteiro Tasca – Biblioteca do Museu Republicano “Convenção de Itu” Rosângela Oka Fazolli – Biblioteca Padre Armando Cardoso Pré-impressão e impressão Edições Loyola

Pesquisa e texto final Paulo Cezar Alves Goulart Texto Paulo Cezar Alves Goulart Rachel Soares Assistente editorial e de pesquisa Marisa de Paula Souza Apoio à pesquisa Eden Luiz Pires Larissa da Paz Hahn Sandra Castelano Design gráfico / Pesquisa iconográfica Pedro Caetano de Paula e Goulart

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) goulart, Paulo Cezar Alves Pontapé inicial para o futebol no Brasil : o bate-bolão e os esportes no Colégio São Luís : 1880-2014 / Paulo Cezar Alves goulart. -1. ed. -- Vargem grande Paulista, SP : A9 Editora, 2014.

Colégio São Luís – Jesuítas Rua Haddock Lobo, 400 – Cerqueira César 01414-902 – São Paulo, SP Tel: 11 3138.9600 www.saoluis.org

A9 Editora Ltda.-ME Estrada Volta Redonda, 253-Sala – Recanto Verde 06730-000 – Vargem G Paulista, SP Tel: 11 4158.6184 / 4159.7944

Bibliografia ISBN 978-85-64712-089 1. Colégio São Luiz - História 2. Educação São Paulo (SP) - História 3. Esportes 4. Esportes Brasil 5. Esportes escolares 6. Esportes na escola 7. Jesuítas - Brasil - História I. Título. 14-03104

CDD-370.98161 Índices para catálogo sistemático: 1. Colégio São Luis : São Paulo : Cidade : Educação : História 370.98161


Paulo Cezar Alves Goulart

PONTAPÉ INICIAL para o futebol no Brasil

O bate-bolão e os esportes no Colégio São Luís: 1880-2014

1a edição Vargem grande Paulista - SP A9 Editora 2014


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Sumário


Apresentação FUTEBOL Os jesuítas e a educação Esportes: o século XIX e os jesuítas Colégio São Luís de Itu Da China para o Brasil Esportes no Colégio Uma verdadeira ciência dos jogos de colégio Os alunos conhecem novos jogos Uma bola, um pátio e os chutes: nasce o bate-bolão Seria então futebol...? Eu vi Les jeux des colléges e o bate-bolão E surgem as equipes Um novo reitor Um conhecedor do futebol Do divertimento ao jogo Vila de Santa Maria Campeão de futebol De Itu para o País Volta à cidade natal Ex-alunos do Colégio São Luís e a difusão do futebol ESPORTES Uma folga para os exercícios do corpo Organizando as atividades esportivas Festividades de fim de ano Alunos cronistas e repórteres Multiplicação dos 30 ou... fome de bola O futebol foi parar na televisão Modernizando os espaços para esportes Disciplina Palmer e ginásio coberto Meninas entram em campo Novas oportunidades para competir e Jogos Interamizade Tênis, chuteiras, sapatilhas A grande copa da vida O eterno retorno De lá para cá, de cá para lá Casa da Cultura e dos Esportes Conclusão Apêndices Referências bibliográficas

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5 6 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 46 48 50 54 56 60 64 68 72 76 80 84 88 92 96 100 104 108 110 114 118 124


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Apresentação

Marca d’água do emblema original do Colégio São Luís


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O estímulo à prática de exercícios físicos como forma de contribuir para o saudável desenvolvimento do corpo e da mente já atravessou décadas, séculos e histórias. É um conhecimento que tem acompanhado a trajetória da humanidade. Pode parecer algo novo, especialmente neste ano de 2014, quando as atenções estão voltadas para a Copa do Mundo de futebol, realizada em campos brasileiros. Mas é uma sabedoria forjada ao longo dos séculos. O conceito de futebol é bem mais antigo que as conhecidas práticas esportivas atuais e esteve relacionado também à própria evolução da educação. Os primeiros jesuítas que em terras do pau-brasil desembarcaram trouxeram uma proposta pedagógica e que teve desdobramentos especialmente com o trabalho de José de Anchieta, em São Paulo, recentemente canonizado pelo papa Francisco I. A semente foi plantada e frutificou no trabalho educacional realizado pelos padres da Companhia de Jesus. Nos distantes anos de 1880, com o Colégio São Luís já ampliado e reformado, o projeto pedagógico realizado pelos jesuítas já considerava a educação física, os jogos e a prática esportiva como necessários e imprescindíveis para a qualidade do aprendizado intelectual. Os saudáveis exercícios no recreio, os torneios e competições sempre foram vistos como forma de preparar corpo e mente para os desafios pessoais, espirituais e profissionais da vida adulta. Assim, história e atualidade se completam ao longo das páginas desta publicação, que leva o leitor a embarcar nos navios que trouxeram os jesuítas, em meados do século XIX, com destino ao imenso território brasileiro. A viagem por suas páginas, recheadas de citações de educadores e especialistas da área, percorre caminhos trilhados pelo fundador da Companhia de Jesus, Inácio de Loyola, em sua atuação pedagógica em que a transmissão de conhecimentos esteve associada às atividades físicas, praticadas por mestres e alunos. O resgate da história do Colégio São Luís, ao demonstrar o quanto os jesuítas tinham a visão voltada para as necessidades do corpo e da mente, também estabelece uma intensa conexão com os primórdios do futebol no Brasil. Afinal, foi nos recreios do Colégio de Itu, transformados gradualmente em campos de futebol, a partir de 1880, que as primeiras bolas de capotão começaram a rolar, naquilo que chamavam de “bate-bolão”, bem antes de esse se transformar no esporte mais difundido no País. E nessa história um nome se sobressai: o do padre José Maria Mantero. Incansável na busca pela excelência na qualidade pedagógica, o jesuíta


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construiu e ampliou salas de aula, laboratórios, bibliotecas e, como não poderia deixar de ser, planejou e criou locais destinados aos recreios e às práticas esportivas. Os alunos eram estimulados a se exercitarem em jogos recreativos, exercícios militares e ginásticos, em modalidades capazes de revigorar e reforçar a virilidade masculina, já que nesse período não eram aceitas matrículas de meninas. Em viagens ao exterior, os padres jesuítas traziam dos colégios europeus novidades quanto às práticas pedagógicas e físicas desenvolvidas além-mar. E foi em uma dessas viagens, entre 1879 e 1880, em meio à bagagem dos padres, que duas bolas de capotão desembarcaram no Brasil. Batidas inicialmente contra os muros da escola e depois chutadas entre os alunos, começaram a ganhar adeptos e, desde então, não pararam de rolar nos pátios do Colégio. A publicação acompanha o surgimento e a evolução da prática esportiva e do futebol no Colégio São Luís, sempre ligados ao desenvolvimento do trabalho pedagógico. Aqui estão as práticas básicas do esporte, suas primeiras regras, os times, a evolução dos campos, os campeonatos, a construção de quadras e ginásio, as animadas partidas durante o recreio e aquelas em históricas competições com outros colégios de São Paulo, de outras cidades e países. O futebol, jogado com paixão e entusiasmo no Colégio São Luís, nunca teve como meta a formação de atletas, apesar de seus mestres terem observado o surgimento de grandes nomes ligados ao esporte cujo interesse foi despertado em seus campos e quadras. O objetivo sempre foi o de formar cidadãos completos, que soubessem entender a profundidade da palavra companheirismo, que fossem capazes de superar desafios e entender que vencer e perder faz parte da vida. O desenvolvimento do Colégio São Luís, suas transformações ao longo do tempo, a entrada das meninas, primeiro nas salas de aula e, depois, nos campos e quadras, aceitas também nas disputas de futebol – tudo está aqui está descrito, acompanhando o movimento crescente em sintonia com as transformações na sociedade. Repleta de entusiasmo, a publicação transmite a vida que sempre pulsou e continua a pulsar nos corredores e quadras, e no intenso convívio com alunos de outros colégios da cidade e do mundo. Fruto de cuidadosa pesquisa nos arquivos do Colégio, a publicação percorreu os quase 150 anos de história através de registros contidos em publicações primorosamente preservadas. Da publicação Solemne Distribuição de Premios, editada a partir de 1868, por ocasião dos eventos comemorativos de final de ano letivo de 1867; ao O Collegio, do início da década de 1910; à Revista São Luís, a partir de 1946; à atual Pilotis – aí estão registradas as histórias das festividades e


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medalhas, de bolas disputadas em quadras e campos de terra. O Colégio São Luís, com seu conceito pedagógico colocado em prática há um século e meio, possibilitou o surgimento de talentos nas mais diferentes áreas do conhecimento. Seus mestres nunca mediram esforços para estimular os jovens na busca do conhecimento e do saber. Em todas as publicações do Colégio, os repórteres da época eram os próprios alunos, que descreviam, registrando em deliciosas crônicas, o comportamento dos jogadores, dos treinadores, do público, a situação das quadras e campos e sua evolução ao longo dos anos. As emoções e dribles, relatados de forma inspirada pelos alunos, eram saborosas crônicas esportivas. Nas publicações do Colégio estão presentes os melhores momentos não só dos jogos de futebol, mas de inúmeras outras modalidades esportivas, como o basquete, o tênis, a natação, o futsal, além das atividades culturais, como a música, o balé, a literatura. As seleções de alunos das mais diferentes modalidades esportivas percorreram o mundo e somaram conhecimentos. Saíram das salas de aula, foram para além dos muros escolares, e, assim, aprenderam a valorizar as oportunidades que a vida apresenta a cada um nos mais diferentes momentos. O amor ao Colégio é visível: mesmo depois de formados, graduados e pósgraduados em universidades, pais e mães de famílias, profissionais das mais diferentes áreas, alguns já com filhos matriculados também no São Luís, dividem, agora como ex-alunos, as experiências dos tempos juvenis. É o esporte somando conhecimento ao prazer de viver e unindo sempre. A semente plantada, prestes a completar 150 anos, continua germinando, surpreendendo e empolgando. E a próxima etapa já está a caminho. A agenda do Colégio São Luís contempla a futura inauguração da Casa da Cultura e dos Esportes, cujas obras foram iniciadas em 2012. É a busca pelo máximo aproveitamento dos alunos no ambiente escolar, pela formação de cidadãos capazes de contribuir para a constante evolução da humanidade. A semente plantada pelos padres jesuítas há mais de século e meio guarda seus mistérios e sabedoria, lança desafios e novas sementes para brotarem pelo universo afora.



Futebol Foi mantida a grafia original de títulos de publicações bem como de palavras e expressões de época.




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Os jesuítas e a educação F undador e principal líder da Companhia de Jesus, Íñigo López de Loyola (Inácio de Loyola) tornou-se responsável por um movimento que iria constituir singular manifestação na trajetória da Igreja Católica. De família nobre, aos 30 anos vê-se em meio a uma grande transformação pessoal que o levaria a ser protagonista de uma vertente católica cuja contribuição se estenderia à educação. ÍÑIgO LóPEZ DE LOYOLA HAVIA SE FERIDO gravemente em um combate contra os franceses em defesa da fortaleza de Pamplona, em 1521. Para Íñigo – de família nobre, nascido em 1491 no atual município basco de Azpeitia, então Loyola, e falecido em 1556 –, esse fato tornou-se primordial para uma decisão que iria modificar não somente sua vida como também a história mundial. Em decorrência da leitura de textos religiosos (Flos Sanctorum) durante o período de sua recuperação, Íñigo decidiu dedicar-se à religião, daí elaborando os Exercícios Espirituais – marco essencial de sua filosofia que dá origem a um trabalho religioso que teria continuidade na Universidade de Paris. Em 15 de agosto de 1534, com a liderança de Íñigo López de Loyola, um grupo de jovens funda a Companhia de Jesus (Societas Iesu, S. J.) – em um período em que a Reforma Protestante (1517) e a Contrarreforma da Igreja Católica (iniciada em Trento, 1545) davam o tom das mudanças no cenário religioso da Europa. A Companhia de Jesus opunha-se à expansão protestante. Originalmente, tinham como propósito o acompanhamento hospitalar e missionário. A formação dos noviços – que viria a incluir filosofia, retórica, astronomia, matemática, física, direito –


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originou um primoroso trabalho pedagógico que acabou por atender a demandas não religiosas por meio da criação de colégios através dos quais se passou a realizar um trabalho de catequese. Íñigo López, já Inácio de Loyola, primeiro superior-geral da ordem, foi o responsável pela elaboração das constituições jesuítas, adotadas em 1554. Dois anos antes, 1552, foi elaborada a primeira versão do Ratio Studiorum, documento que visava estabelecer um plano educacional da Companhia de Jesus através da padronização da organização e do funcionamento dos colégios jesuítas espalhados pelos continentes e, ao mesmo tempo, servir de base para a expansão missionária da Companhia. Em 1599 é elaborada a versão final do Ratio Studiorum, com 466 regras, entre as quais: disciplinas, orientações pedagógicas (memorização, exercício, emulação), metodologias de trabalho com alunos (repetições, disputas, desafios, declamações, sabatinas), avaliações (exames escritos e orais), relações com os pais de alunos, férias, prêmios, etc. Pouco tempo é necessário para a Companhia apresentar um vigoroso crescimento. Somente em Portugal, seriam fundados trinta estabelecimentos de ensino nas principais cidades lusitanas, ao longo de cerca de dois séculos de atividade. No Brasil, o primeiro grupo de jesuítas chega a Salvador (BA) em 1549. Sob a liderança do padre Manuel da Nóbrega, fundam a Província do Brasil da Companhia de Jesus. Meio século depois, com a afluência de novos jesuítas, a Companhia está presente ao longo do litoral e dos sertões, onde índios e mamelucos passavam por um processo básico de aprendizagem – ler, escrever e contar – visando à catequese. A instrução dos descendentes portugueses pelos jesuítas fazia parte da formação da elite.

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Gravura de Inácio de Loyola. Arquivo de imagens digitais do Pateo do Collegio.

Cinco anos após sua chegada ao Brasil, José Manuel da Nóbrega juntamente com José de Anchieta – que havia chegado ao Brasil em 1553, com Duarte da Costa, segundo governador-geral – e outros padres jesuítas fundam o Colégio de São Paulo de Piratininga. Para manterem sua missão e instituições, os jesuítas no Brasil não contavam com o suporte financeiro da Coroa. Assim, foi necessário investir em soluções para a obtenção de recursos. Entre as principais atividades produtivas, com trabalho escravo, que permitiam gerar receita, estavam os engenhos e a pecuária (glebas de terras foram cedidas aos jesuítas) – além da criação das Missões (empresas agroextrativistas). E também os colégios particulares. Se, de um lado, havia restrições à ação da Companhia (em função da postura dos jesuítas em relação a índios e escravos), de outro, sua presença estava associada a um papel de desbravamento e de povoação de regiões do território brasileiro, além da formação de uma rede de instituições de ensino que reuniam seminários e colégios no mesmo espaço. Durante o período colonial, a Companhia de Jesus fundou 17 colégios, entre escolas e casas de instrução. A atuação da Companhia de Jesus, vista com restrições em Portugal, é interrompida quando, em 1759, o marquês de Pombal extingue na metrópole e colônias as escolas jesuítas. Somente em 1814 se dá a Restauração da Companhia de Jesus. E, no Brasil, sua atividade é restabelecida em 1842, quando os jesuítas instalam, em Desterro (atual Florianópolis, SC), o primeiro colégio jesuíta no Brasil pósrestauração.


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Esportes: o século XIX e os jesuítas E NTRE AS SIgNIFICATIVAS MUDANçAS NO âMBITO DAS IDEIAS qUE permearam o século XIX, uma – formada por várias correntes de pensamento e iniciativas – estava relacionada a uma nova visão do corpo humano. Havia, desde o início desse século, uma mudança de comportamento se delineando na sociedade europeia, com a circulação de ideias associadas à valorização da preparação e do desenvolvimento físico das pessoas. Novos conceitos iam se tornando visíveis nos distintos ambientes sociais – incluindo-se aí as escolas –, nos exercícios e suas funções. Estimulava-se, por diversos meios, o fortalecimento do corpo humano, tendo como propósito distintas situações: as atividades produtivas manuais (com a intensificação do trabalho fabril), as exigências afetas à segurança nacional (preparação para batalhas e guerras) e mesmo para uma adequada formação escolar. “Em meados do século XIX, construiu-se o ideário de que a máquina humana necessitava ser forjada” (Salun, 2007, p. 30) – em que o corpo deveria ser submetido a exercícios diversos a fim de atender às necessidades de produção ou de novos postulados pedagógicos em que se associava a importância de um corpo saudável e vigoroso para a formação de crianças e jovens. A gênese da educação física e da ginástica moderna pode ser compreendida nesse contexto de início de século XIX. A ginástica passou a ter um escopo científico, decorrente das distintas linhas de pensamento sobre exercícios físicos então existentes na Europa. Surgem, daí, métodos e escolas de ginástica. Os princípios formulados passam a ser gradualmente aceitos e incorporados enquanto modelos de educação corporal, vindo a integrar também o currículo escolar (Oliveira e Lourdes, 2004). Entre os pensadores desses novos modelos está Thomas Arnold (1795-1842), educador inglês considerado o pai da pedagogia do esporte que se tornou responsável por introduzir modificações essenciais no sistema educacional na grã-Bretanha. A prática de esportes ao ar livre juntamente com a idealização das bases do rugby e do “jogo de dribles”, cujo desenvolvimento levaria ao futebol, são importantes legados de Arnold, o qual se tornou referência para o aprimoramento moral, intelectual e físico nas escolas, e base para o esporte moderno (Ferreira Junior, 2013). As ideias se permeavam, promovendo uma sinergia e multiplicidade de ações. Nesse ambiente, os jesuítas alinhavam-se a esses novos tempos. Madureira (1927, p. 613-614), antigo aluno do Colégio São Luís, lembra que “na educação physica dos alumnos [...] não se esqueceu a Companhia de recommendar o bom


tratamento do corpo em benefício do espírito” . A mudança mais significativa, responsável por uma reorientação nos colégios jesuítas ocorre em 1817, conforme anais do Colégio da comuna de Saint Acheul: “A experiência demonstrou que, nos Internatos onde há numerosos alumnos, os jogos, favorecendo os exercícios corporaes, são tão úteis ao corpo quanto ao espírito. Por isso, desde o começo do anno de 1817, procuraram os educadores Jesuitas recommendar a practica dos jogos” (Madureira, 1927, p. 626). A disseminação desses postulados por outros colégios e o estímulo aos exercícios corporais fizeram com que os jogos durante os recreios passassem a ser incentivados, orientados e gradualmente obrigatórios. No percurso que se inicia com essa recomendação (1817) e que ganha especial visibilidade com a edição, em 1875, do livro Les jeux de collége (Nadaillac & Rousseau, 1875) – manual que compilava modalidades esportivas e jogos dos colégios jesuítas –, constata-se uma aceitação e um aprofundamento da ideia, da importância das atividades físicas. Sim, os esportes estariam inexoravelmente presentes na formação integral dos jovens estudantes dos colégios jesuítas. Foi nesse ambiente paulatinamente favorável à institucionalização da prática de jogos e esportes que os colégios jesuítas no Brasil do século XIX passaram a acolher esse ideário e promover diferentes modalidades entre seus alunos. E uma em especial: o futebol. Enquanto os jesuítas promoviam uma efetiva inserção dos esportes em seu meio escolar, distintos países passavam a conviver, em diferentes tempos, com novidades na área esportiva: na inglaterra é fundado, em 1857, o primeiro clube de futebol do mundo; em 1863, é criada em Londres a Football association, primeira associação de futebol do mundo; o primeiro jogo de beisebol é disputado em 1846; o rugby – cujas origens modernas remontam à primeira metade do século XiX – cria sua Rugby Football union em 1871, formada por 21 clubes.

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15 “Pe. Faria, benemérito ex-prefeito do colégio numa demonstração de equilíbrio” (legenda original). Revista São Luís, ano XV, set./1961, n. 7, p. 25. Acervo Colégio São Luís.


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Colégio São Luís de Itu

A PóS

EXPERIÊNCIAS EDUCACIONAIS NO período colonial, interrompidas com a expulsão dos jesuítas pelo Marquês de Pombal, em 1759, e sua restauração, em 1814, a atividade educacional dos jesuítas no Brasil é retomada, em 1842, em Santa Catarina. Itu, então a mais rica vila da província paulista, decorrência do cultivo do algodão e da cana-deaçúcar, substituídos, posteriormente, pelo café, tornou-se o local escolhido pelos jesuítas para a fundação de seu colégio. A ideia de um colégio em Itu nasceu a bordo de um navio, em uma viagem que, saindo da França, tinha como destino o Brasil. A viagem tinha um propósito: fundar um colégio jesuíta na cidade de Desterro (Florianópolis, SC). Para isso, saíram, do porto de Bordeaux em 25 de agosto de 1863, o padre Antelmo goud, então retornando à cidade de Itu, e também os jesuítas Jacques Razzini e Emídio Pardocchi. Estes dois tinham a missão de fundar o colégio.

Durante a viagem, o padre Antelmo goud, capelão das Irmãs de São José de Chambéry estabelecidas em Itu desde 1857, faz uma proposta a Jacques Razzini: abrir em Itu um segundo colégio jesuíta, para meninos – ideia que teve sua concordância, em função, inclusive, de as famílias ituanas serem “mais propensas a enviar seus filhos à escola” (greve, 1942, p. 33). Depois de cumprirem o trajeto originalmente estabelecido, os dois jesuítas retornam de Santa Catarina em direção a Santos. Daí para São Paulo e, em seguida, para Itu. Era o começo de uma nova etapa no trabalho pedagógico dos jesuítas no Brasil (Almeida, 2005). Mas, nessa etapa, o projeto do novo colégio esbarrou na organização do corpo docente: somente jesuítas estrangeiros. Após gestões especialmente junto ao inspetor provincial da Instrução Pública, o qual negava a licença, vão à Corte, obtendo aí a autorização para funcionamento. O início das aulas


se dá em 12 de maio de 1867, no Convento de São Francisco, cedido gratuitamente por três anos para o Colégio. Dos 18 primeiros alunos, não demorou para que o espaço se tornasse pequeno. A Companhia de Jesus recebe do padre José Galvão uma chácara e um sobrado para a construção de novo edifício. Dia 19 de fevereiro de 1872 o Colégio abre suas portas para reinício das aulas (Almeida, 2005). Em Itu, dois eventos importantes ocorrem no período: inauguração da estrada de ferro, em 1873, o que veio facilitar as viagens dos padres e a vinda de novos alunos, além de servir ao escoamento da produção do café, e a visita do imperador D. Pedro II, no dia 24 de agosto de 1875, às instalações do Colégio São Luís. Aprovou o que viu. “É um bom colégio” – comentou o imperador em conversa com um senador sobre o São Luís, em 1880. Em 1886, em função dos conflitos entre o Império e a Igreja, em nova visita à cidade, não retornou ao Colégio.

marcada por eventos bélicos – como a Guerra da Secessão, nos Eua, entre 1861 e 1865, e a Guerra do Paraguai, entre 1864 e 1870 –, a década 1860-70 é também um período de rupturas, como a abolição da Escravatura nos Eua, em 1865, e o lançamento, no Brasil, do manifesto Republicano. Em 1866, nobel inventa a dinamite. na década seguinte, no cenário nacional, a questão primordial da escravidão ecoava em eventos como a promulgação da Lei do ventre Livre, em 1871; e a fundação do Partido Republicano, em 1872. Os primeiros imigrantes italianos chegam em São Paulo em 1874.

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17 Desenho da fachada do Colégio São Luís em Itu, 1871. Acervo Colégio São Luís.


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Padre José M. Mantero. S.d. Acervo Colégio São Luís.


N ASCIDO EM 18 DE MAIO DE 1839, EM Ceriana, Liguria (Itália), aos 16 anos José Maria Mantero abraçou a Companhia de Jesus. Era 29 de maio de 1855. Certa ocasião pediu que fosse enviado à Missão da China, mas não obteve autorização. Fez novo pedido ao M. R. P. Beck, que, para condescender ao fervoroso religioso, respondeu a ele: “sua China seria o Brasil” (Ferreira, 1937). É enviado a Pernambuco em 1872, onde permanece até o ano seguinte, quando, em 1o de fevereiro, transfere-se para o Colégio São Luís de Itu, sucedendo ao ministro padre Vigna. Em 1877 tornase o novo reitor, no lugar do padre Aureli. Inicia-se, então, um período de prosperidade para o Colégio (greve, 1942, p. 57-58). O resultado de sua gestão pode ser avaliado pela visível expansão no número de alunos matriculados: A 1877 1878 1879 1880 1881

A 97 119 186 200 317

A 1882 1885 1888 1891

A 360 427 633 540

Dois anos após assumir a Reitoria do Colégio, o padre Mantero realiza importantes obras visando acolher mais adequadamente os novos alunos. São feitas, em 1879, ampliações e construções destinadas a salas de aulas, laboratórios, refeitório, salão de atos, salão de festas, dormitórios e torre do observatório astronômico. Pátios e jardins recebem melhorias. E, além desses novos espaços e instalações, aumenta

o esplendor das anuais festas do Colégio São Luís, minuciosamente descritas pelos jornais (Souza, 2008). A certeza da qualidade do trabalho pedagógico realizado no São Luís durante os dezesseis anos em que esteve como reitor fez o padre Mantero referirse ao Colégio como “Officina do Progresso”(Collegio S. Luiz, 1917, p. 21). Após esse período de expansão crescente, assume o novo reitor do Colégio São Luís, em 3 de maio de 1893, ano em que o padre Mantero se torna superior dos Padres Jesuítas da Província Romana no Brasil, cargo que ocupou até o seu falecimento (Ferreira, 1937). Durante os anos em que promoveu importantes e necessárias mudanças, o padre Mantero esteve também atento às atividades físicas praticadas no Colégio São Luís. Não somente introduzindo novos jogos e esportes, mas também realizando uma atualização pedagógica, através de visitas a colégios na Europa, de onde traria novidades para o recreio dos alunos. Entre elas, a diversidade de modalidades e a obrigatoriedade de todo aluno praticar algum esporte ou jogo. No mesmo ano em que o padre Mantero chega à cidade, 1873, ocorre a fundação do Partido Republicano Paulista, na Convenção de Itu. Dois anos depois, alinhado aos ideais republicanos, é fundado o jornal A Província de São Paulo (futuro O Estado de S. Paulo). Enquanto isso, o imperador D. Pedro II é presenteado com o primeiro telefone no Brasil, instalado, em 1877, no Palácio da Quinta da Boa Vista.

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Da China para o Brasil

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Esportes no Colégio

O CARáTER OBRIgATóRIO DA PRáTICA DE esporte ou jogo desperta alguns questionamentos: “Nos Internatos, constitúe uma das partes mais importantes do horário a que se destina ao emprego do tempo nos recreios. Todos estão de accôrdo em apregoar a necessidade e utilidade das diversões e jogos de movimento. Mas, até que ponto póde a auctoridade impor a obrigação das diversões ou jogos; como conciliar essa obrigação com a natural liberdade de que deve gozar a mocidade nas suas distracções?” (Madureira, 1927, p. 625). O questionamento de José Manuel de Madureira tem fundamento. Até 1879 os jogos e exercícios praticados durante os recreios do Colégio São Luís de Itu eram facultativos. No intervalo entre esse ano e 1880, quando ainda aluno do Colégio, Madureira presenciou a transformação: a prática de jogos e exercícios passou a ser obrigatória para as três divisões de alunos – maiores, médios e menores. Essa mudança – “que os jogos e exercícios nos recreios seriam, d’aquella épocha em deante, obrigatórios a todos” (Madureira, 1927, p. 626) – somente foi possível após os padres terem habituado os alunos aos jogos e realizado consultas e cuidadosa reflexão sobre a questão. Exceto aos moços da Corte – habituados a delicados jogos de prendas nos salões e pouco afetos a atividades que poderiam sujar suas roupas ou causar desconforto corporal –, a “[...] todos os outros não causou nem podia causar surpreza ou desagrado


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21 o que já se fazia com prazer, antes d’essa obrigação, graças á habilidade, á animação, á actividade com que os Padres Prefeitos souberam suavizar aquella determinação de tão alto valor educativo, physico e moral” (Madureira, 1927, p. 626).

A obrigatoriedade dos exercícios corporais, dos jogos recreativos e de movimento, a partir de 1880, destinava-se a fazer com que se revigorasse, virilizasse e aguerrisse o corpo. Nesse período, no Colégio São Luís de Itu, estavam incluídos, ao lado de jogos recreativos, os exercícios militares e ginásticos. Ainda que obrigatória, a adesão dos alunos foi também favorecida pela participação ativa dos padres nos exercícios e nos divertimentos do recreio, o que facilitava a aproximação e o companheirismo. Esse dinamismo de mudanças estava inserido em um contexto que havia se iniciado com a reformulação arquitetônica do Colégio, em 1879, e teria continuidade, nesse mesmo ano, com viagens que padres jesuítas realizariam ao exterior, entre os quais o padre Mantero, no período de 1879 a 1881. O objetivo dessas comitivas era o de se atualizarem e adequarem às atividades pedagógicas, especialmente as relacionadas aos jogos e educação física, ao que estava sendo praticado pelos jesuítas em colégios europeus.

Aula de ginástica dos alunos do Colégio. Postal Collegio S. Luiz – Itu, Estado de S. Paulo, Brazil. 1903. Acervo Colégio São Luís.


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22 Harrow School Footer Field, aquarela a partir de um desenho de Walter Cox, 1887. Por Thomas M. Hemy


O S OLHOS ATENTOS DOS JESUÍTAS DE ITU acompanhavam a movimentação dos alunos nos pátios durante os recreios do Colégio de Vannes, na França, e da Harrow School, na Inglaterra. Era ali – juntamente com as informações obtidas com reitores, prefeitos e educadores desses colégios –, bem como em outros colégios, que estava a fonte para a renovação dos jogos e das atividades esportivas ao ar livre a serem implantadas no Colégio São Luís de Itu. E assim puderam presenciar, entre outras modalidades que ainda desconheciam, uma, denominada football, cuja instituição organizadora, a Football Association (Apêndice 1), havia sido fundada em 1863, na Inglaterra. Em Vannes, França, encontraram um entusiasta reitor, padre Pillon, que defendia a prática do futebol no interior dos estabelecimentos de ensino, o qual já vinha sendo praticado em seu colégio. Lá também conheceram o padre Du Lac – que viria a ser o autor do livro Foot ball and cricket, publicado em Paris, em 1888 –, um incentivador do futebol nas escolas. O padre considerava que o esporte proporcionava condições para que jovens saudáveis, com boa formação moral, fossem forjados no ambiente escolar. Do padre Du Lac receberam também a sugestão de conhecerem o futebol praticado na Harrow School, Inglaterra. A Alemanha foi o próximo país onde visitaram escolas nas quais, paralelamente à ginástica alemã, os educadores utilizavam-se do futebol. Em vários núcleos escolares da Europa, os jesuítas foram os responsáveis pela introdução do futebol – como o Colégio Jesuíta de Utrecht, a partir do qual, em 1880, o futebol irradiou-se pela Holanda (Santos Neto, 2002, p. 17-18). Esse desenvolvimento do futebol, de jogos e de outras práticas esportivas em colégios europeus,

especialmente os jesuítas desde 1817, constituiu um tema que mereceu cuidadosa e constante investigação, tornando-se objeto especial de estudo. Madureira (1927, p. 630) realça o papel das gerações de prefeitos dos colégios cuja dedicação ao tema constituiu uma “verdadeira sciencia dos jogos de Collegio”. É desse percurso realizado em diversos colégios de países europeus que os jesuítas de Itu trazem, em sua bagagem, uma experiência para aqui ser aplicada, além de algumas preciosidades. Entre elas, estavam duas bolas de capotão. Indicador da atualidade dos conceitos e das demandas da educação jesuíta no Brasil está presente no fato de que Rui Barbosa, por solicitação do imperador D. Pedro II, elabora um parecer, em 1882, sobre a reforma no ensino da instrução pública. Dentre inúmeras proposições, o então deputado cita várias relacionadas à prática da educação física nas escolas. Algo para o qual os jesuítas estavam em busca de soluções desde 1879 (Apêndice 2). A partir de 1880, inicia-se um movimento migratório de europeus em direção às Américas. Mais intensamente entre 1886 e 1914, cerca de 3 milhões de estrangeiros vieram na expectativa de “fazer a América”.

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Uma verdadeira ciência dos jogos de colégio

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Os alunos conhecem os novos jogos

D ENTRO

DESSE qUADRO DE RENOVAçÃO DE POSTULADOS relacionados à educação física e jogos recreativos, além de uma atualização dos parâmetros pedagógicos, que motivos teriam os padres jesuítas para visitarem os colégios da Europa? Uma das respostas é a percepção de que a natureza das crianças e dos jovens exigia uma renovação das opções, especialmente em um momento em que praticar alguma atividade física estava por se tornar obrigatório. “Obrigados a tudo providenciar em relação ao emprego educativo do tempo durante os recreios, procuraram os Padres Jesuítas e, especialmente, os Prefeitos, investigar os meios conducentes a esse desideratum (‘obrigação de jogar nos recreios’), encontrando a chave do segredo na immensa variedade dos jogos. Em continuo contacto com os alumnos, companheiros em seus jogos, e, por isso, conhecedores e perscrutadores exímios da psychologia da creança, sabiam perfeitamente que a mocidade, em geral volúvel, até mesmo nos divertimentos, como, aliás, em todas as cousas, aborrece hoje o que hontem muito a interessava” (Madureira, 1927, p. 629-630).


Com a experiência e a atualização que a viagem proporcionou, o reitor padre Mantero definiu uma série de jogos e esportes a serem implantados no Colégio a partir de 1880 (Apêndice 3) – alguns deles provavelmente descritos no livro Les jeux de collége, de Nadaillac e Rousseau. Durante a década de 1880, modalidades diversas passaram a integrar as atividades corporais dos alunos do Colégio: exercícios militares, ginástica alemã, lançamento de disco e dardo, malha, salto em altura e distância, corrida com obstáculos, barra francesa, entre outros. Esse variado conjunto visava a oferecer aos alunos opções de modo a que eles praticassem aquelas com as quais melhor se adequassem. O ensino dessas modalidades tinha a participação direta dos padres jesuítas que, oriundos dos países europeus, e dotados de conhecimentos essenciais de cultura física, já teriam também praticado as modalidades durante os recreios do seminário (Ferraz, 1969, p. 151). Entre as novidades estava uma praticada com um artigo desconhecido dos alunos e que havia sido trazida pelos jesuítas: a bola inglesa, denominada originalmente de ballon anglais. Ou, mais simplesmente, bola de futebol.

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25 Alunos no pátio do SS Gonçalo, com atividades recreativas e/ou de educação física. Collegio S. Luiz – Itu, Estado de S. Paulo, Brazil. 1903. Biblioteca do Museu Republicano “Convenção de Itu”.


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Uma bola, um pátio e os chutes: nasce o bate-bolão U M DIA  POSSIVELMENTE EM 1880 , EM meio às tantas novas atividades esportivas e de jogos, foi apresentado aos alunos do Colégio o novo artefato para seus momentos de recreio: le ballon anglais, ou a bola inglesa – conforme era designada pelos jesuítas –, que viria a ser conhecida como bola de futebol. Era um artigo relativamente simples: uma câmara de ar revestida por uma proteção de couro para darlhe resistência ao impacto dos chutes e do desgaste do contato com o chão e outras superfícies. Foi esse artefato que os alunos viram. E o que era exatamente isso? Como se usava isso para brincar ou jogar? Como esse tipo de bola e a respectiva prática ainda não eram presumivelmente conhecidos no Brasil, a novidade era total: afinal, que tipo de divertimento le ballon poderia proporcionar? Ainda que as características dos jogos tivessem sido observadas in loco em colégios europeus pelos próprios padres jesuítas e descritas no livro Les jeux de collége, que servia de orientação aos prefeitos para a prática de esportes e jogos, o que foi efetivamente transmitido aos alunos? Nesse sentido – de os padres jesuítas disporem de um publicação que os orientasse nas regras dos jogos –, Madureira, que já havia destacado a importância do livro Les jeux de collége, publicação destinada aos prefeitos dos colégios jesuítas, menciona também um outro documento fundamental, elaborado especificamente pelo Colégio: “Tivemos oportunidade de ver esse livro [Manual da Corporação] nas mãos dos Padres Prefeitos do Collegio de São Luiz em Ytu, os quaes, de comum accordo, adoptaram todas as especies de jogos, inclusive o foot-ball desde 1880” (Madureira, 1927, p. 630).

As primeiras instruções passadas aos alunos eram bem simples: dar chutes na bola, chutar a bola em direção à parede e muretas do pátio destinado ao recreio. Assim nascia mais um divertimento para os horários de recreio, que passou a ser denominado bate-bolão. Esse modo de brincar com a bola – o bate-bolão – tem sua origem associada ao futebol praticado por estudantes na Inglaterra: “[...] um sacerdote do corpo docente [do Colégio São Luís] o teria introduzido batendo o balão [ballon] de encontro ao muro do colégio, à maneira dos estudantes de Eton, tradicional colégio britânico, onde, à falta de um campo apropriado, os acadêmicos se compraziam em bater a bola de encontro ao paredão da escola” (Várzea, 1942 apud Marinho, 1956, p. 43). Com a denominação de “bate-balão”, Hildebrando Pontes (1972, p. 35), em seu livro História do Futebol em Uberaba, assim descreve o jogo, no início do século XX: “[...] iniciava-se atirando o ‘instrutor’ a bola para cima. Neste instante todos corriam na direção em que ela baixava, dando os jogadores, como é natural, vigorosos encontrões uns contra os outros; a todos parecia do melhor efeito que a esfera fosse ‘chutada’ muito alto. Por isso, se percebia de longe o movimento desse jogo pelo constante bailar da esfera a grande altura no espaço”.


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Ainda não havia times (formação de equipes com 11 jogadores uniformizados), nem delimitação e demarcação de campo, traves e nem um conjunto de regras – conforme estabelecia a denominada Football Association. Assim, o bate-bolão, durante alguns anos, até 1887, foi praticado por alunos do Colégio São Luís – entre eles, o futuro presidente de São Paulo, Altino Arantes –, incentivados pela participação dos padres (Ferraz, 1969, p. 143). Centro das atenções e dos chutes, as bolas de futeboI inevitavelmente se desgastavam com o uso. Para a reposição das câmaras de ar, recorria-se às encomendas feitas em países europeus. Em certo momento da década, enquanto não chegavam as remessas, as bexigas de bois substituíram as câmaras de ar importadas, com resultados satisfatórios (Madureira, 1927, p. 630). Ao longo de quase toda a década de 1880, os exercícios com a bola resumiam-se ao bate-bolão, ainda que, associados a poucas variações do chutar a bola, pudessem constituir um preparo para o futebol. Tratava-se de um “futebol de caráter pedagógico, para o desenvolvimento físico, sem a preocupação de competição para as assistências, sob o controle de entidades dirigentes” (Ferraz, 1969, p. 151). Então, o que afinal eles estavam jogando?

Aluno observa a bola no alto, no Pátio dos SS Anjos. Collegio S. Luiz – Itu, Estado de S. Paulo, Brazil. 1903. Biblioteca do Museu Republicano “Convenção de Itu”.

nesse intervalo de quase uma década de bate-bolão, o Brasil começava a ler um dos mais célebres romances de machado de assis: Memórias Póstumas de Brás Cubas (1880). Campos dos Goytacazes (RJ), em 1883, torna-se a primeira cidade latino-americana a receber iluminação pública. a Conferência de Berlim, realizada entre 1884 e 1885, estabeleceu a divisão da África entre os países europeus.


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Seria entĂŁo futebol...?


A o trazerem as bolas de capotão e instruírem os alunos do

colégio são luís sobre a forma como deveriam praticar o esporte – desde 1880 até 1887, apenas um tipo de entretenimento –, os jesuítas estavam imbuídos do propósito de oferecer uma opção adicional para os horários dos recreios e uma novidade em meio aos divertimentos já conhecidos tanto por eles como pelos alunos. a brincadeira, cujo objetivo era fazer com que os alunos realizassem movimentos destinados a chutar a bola, era uma forma de convívio inicial daqueles jovens com elementos imprescindíveis ao futebol que os jesuítas viram ser praticado em colégios jesuítas europeus: uma bola feita especificamente para esse esporte, uso obrigatório dos pés para chutar a bola (não se podia usar as mãos) e existência de um local para onde deveriam direcionar seus chutes – a parede ou as muretas da escola. não tinham os jesuítas, no início da década de 1880, o objetivo de fazer com que seus alunos praticassem o futebol de acordo com todas as regras já existentes. o bate-bolão era apenas um meio de os alunos serem apresentados ao esporte, naquele momento, através de alguns de seus procedimentos básicos. o que acontecia nos pátios do colégio com le ballon anglais tinha algo a ver, inexoravelmente, com o futebol, e somente com o futebol. nenhum outro esporte utilizava aquele tipo de bola, objeto de chute exclusivamente com os pés e tendo como fim acertar determinada área da parede ou mureta. ou, conforme as palavras de dejard martins, “os padres Jesuítas foram adeptos dessa prática [o football] e não de uma outra modalidade de ‘jogo de bola’ no brasil...” (martins, 1989, p. 138-139, apud Vaz, 2000). pode-se considerar diferentes modos de se referir a essa modalidade ou componentes do “jogo de bola” praticado pelos alunos: ensaios pré-futebolísticos, práticas associadas ao futebol através de elementos integrantes da Football association, etc. o certo é que aquele jogo de movimento com a bola de capotão era uma prática absolutamente lincada com o futebol, e somente com o futebol, por meio de algumas regras e procedimentos (bola, chute, parede – o destino final do chute na bola) singulares e indissociados de um único esporte que então e assim se praticava: o futebol. e as mudanças que viriam nos anos seguintes, dentro do colégio, demonstrariam que aquilo – o bate-bolão – era um exercício destinado a constituir um treino para um fim bem definido: jogar futebol. Com a borracha ganhando expressão no mercado internacional, o Brasil passa a ser um grande produtor e exportador a partir de 1882. Três anos depois, em 1885, a Lei dos Sexagenários confere liberdade aos escravos com mais de 65 anos.

Pátio dos SS Anjos durante o recreio. Collegio S. Luiz – Itu, Estado de S. Paulo, Brazil. 1903. Biblioteca do Museu Republicano “Convenção de Itu”.

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Eu vi

D os olhos obserVadores dos padres Jesuítas aos artiGos trazidos da europa e utilizados no colégio (bola de capotão, o livro Les jeux de collége), o futebol foi gerando indícios de sua gradual inserção no cotidiano dos recreios dos alunos do são luís em itu. tornando-se a prática dos jogos e esportes obrigatória, um certo número de alunos voltou-se para o bate-bolão. corriam nos pátios dos recreios com o propósito de realizar aqueles movimentos básicos: chutes, chutes na bola em direção às paredes do colégio ou muretas do pátio. momento de exercício, diversão e liberdade, alguns alunos talvez arriscassem certos movimentos – na habilidade e no vigor do corpo e das pernas com a bola de capotão – que revelariam o jogo ali latente. haveria dribles, domínio da bola, passes? e o desfrute desse divertimento era tanto dos padres jesuítas – que viam os alunos se dedicarem (com maior ou menor desembaraço) –, quanto daqueles que se lançavam à prática do esporte e ainda dos que observavam, com maior ou menor interesse, os chutes, o movimento realizado das bolas de capotão, as possivelmente inevitáveis trombadas. entre esses estava o futuro padre José manuel de madureira. nascido em sorocaba em 12 de julho de 1865, aos 13 anos matriculou-se no colégio são luís, no ano de 1878, fazendo o curso i. entre 1879 e 1881, fez os cursos ii a iV. em 14 de dezembro de 1881, viaja para a europa (asia, 1966, p. 36). nos anos 1879 e 1880, aos 14-15 anos, José manuel de madureira acompanhou com os próprios olhos, pois esteve ali presente, essas movimentações pelo pátio, esses primórdios do que viria a ser o futebol. testemunha ocular que registrou o fato, tornando-se memória dos primeiros chutes dos alunos no colégio, ele mesmo comenta: “o jogo de foot-ball, com o nome de ballon, já era usado nos recreios do collegio de s. luiz de Ytú, desde 1880, como podemos attestar de visu, e, além deste, muitos outros jogos, pois foram ensinados pelo p. prefeito, possuidor de um exemplar do citado livro ‘les jeux de collége’” (madureira, 1927). Les jeux de collége parece, assim, ter se constituído uma das peças-chave da ação dos jesuítas no âmbito da educação física do colégio são luís de itu. ação que ficou registrada no Manual da Corporação, “manuscrito de 1880 que já descrevia a prática do futebol no colégio são luís de itu” (santos neto, 2002, p. 111).


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31 O bate-bolão e o inevitável chute para o alto: meninos acompanham o movimento da bola em pleno ar, já em altura próxima à copa da árvore. Acervo Colégio São Luís.


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Les jeux de collége e o bate-bolão A o Folhear LES JEUX dE COLLégE, o leitor – provavelmente reitor, prefeito ou professor/ supervisor de um colégio jesuíta – percebe claramente sua função: registrar uma ampla diversidade de esportes e jogos passíveis de serem praticados dentro dos colégios. englobando “Grandes recreações” e “pequenas recreações”, o livro reúne mais de 80 modalidades. em cada página, a descrição de uma modalidade, para a qual os autores alertam: “a folha da frente, apresentando a regra do jogo, pode ser afixada em público, e se tornar um meio fácil de resolver prontamente as contestações dos jogadores. o verso, destinado ao supervisor, lhe oferece certas indicações que poderão ser, esperamos, de alguma utilidade” (nadaillac & rousseau, 1875, p. V-Vi). o livro, resultado da compilação de outros livros sobre jogos na época e da experiência daqueles que lidavam com jogos para alunos, teve sua primeira edição em 1875, com sucessivas atualizações e ampliações até o início do século XX. além de auxiliar na escolha das modalidades a serem aplicadas no colégio, tornava-se um meio de incentivar a uniformização das instruções e do modo de se praticar atividades físicas nos diferentes colégios jesuítas. com o nome de “ballon au camp” ou, em tradução literal, “bola ao campo”, o jogo é o primeiro a ser descrito no livro. sua importância é enfaticamente assumida pelos próprios padres: “esse jogo [ballon au camp] é o mais bonito e o mais interessante de todos” (nadaillac & rousseau, 1875, p. 2). o modo de se jogar ballon au camp era, presumivelmente, similar entre alunos de colégios jesuítas europeus e dos demais continentes, inclusive

américa do sul – e, por extensão, do brasil. sua descrição, os procedimentos e as regras revelam o quanto o futebol já estava visivelmente configurado no ballon au camp, com vários elementos contemporâneos e essenciais já presentes. da descrição constavam: – prática com bola de futebol (específica para esse jogo); – formação de duas equipes; – existência do gol (não necessariamente com traves, o que seria uma solução posterior); – grande área (ou algo similar); – pontuação (placar) definida pelo número de gols marcados (“colocar a bola [três vezes seguidas] no campo adversário”); – troca de lados; – jogo praticado somente com os pés; – aplicação da falta (para quem usasse as mãos no jogo); – arremesso lateral (somente nessa circunstância se usava as mãos). complementarmente, a descrição de ballon au camp enseja a compreensão de que a palavra camp possa ser entendida como “gol”. no livro, camp é descrita como: – parte das paredes do pátio, entre as janelas (talvez uma das mais remotas soluções utilizadas para definir uma área de gol, onde se marcava o gol); ou – uma área demarcada (com carvão) no solo com linhas visíveis. ambas as descrições referem-se aos locais em que, ao atingir essas áreas (a parede, entre as janelas; ou dentro de uma área demarcada no solo) com a bola ou ao “colocar a bola no campo adversário”, o time faria um gol, ainda que esse termo não existisse.


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essas áreas (na parede ou no solo) corresponderiam ao que viria a ser o gol: área a ser protegida pelos times e visada pelos adversários, e finalidade última do jogo. pode-se assim supor que ballon au camp significasse algo como bola ao gol. nesse sentido, o bate-bolão (ou mesmo batebalão – possível corruptela de ballon) seria uma atividade em que se exercitava o chute em direção àquilo, um alvo, que representava o gol: em itu, a parede ou a mureta do pátio do colégio são luís.

chega-se, assim, ao sentido simbólico do batebolão: chutar em direção ao gol. ou, se tivesse outra denominação: chute ao gol, alinhando-se com o presumido bola ao gol, na interpretação livre de ballon au camp.

Frontispício do livro Les Jeux de Collége, 1875. Acervo Colégio São Luís.


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E surgem as equipes

C aminhamos para o final da década de 1880. E dois fatos fundamentais para a história do Brasil estavam por acontecer: em 1888, a princesa Isabel assina a Lei Áurea, extinguindo a escravidão no País; e no ano seguinte, 15 de novembro de 1889, dá-se a Proclamação da República. Questões que em breve se tornariam conteúdos indispensáveis nos livros escolares de história do País. O Colégio São Luís interrompeu suas atividades em 1888 em função de uma epidemia de varíola, quando vinte alunos foram contagiados e três jesuítas faleceram. Em 1892, foi a vez da febre amarela. O governo determinou a suspensão das aulas.

o bate-bolão tinha como obJetiVo principal constituir um divertimento para os alunos na hora do recreio. isso até 1887, quando dois acréscimos tornam o jogo um pouco mais definido, já caracterizando uma disputa – algo que não havia ocorrido até então. duas marcações, sob a forma de retângulo, são feitas em paredes opostas do pátio do colégio. essas marcações destinavam-se a servir de “gol”, meta principal, a partir daí, dos chutes dos alunos, constituindo alvo específico a ser atingido pela bola. os alunos formaram duas equipes, uma com camisas verdes, outra com vermelhas: estavam caracterizados e definidos os adversários, que deveriam jogar entre si. a partir desses dois elementos – delimitação do gol e jogos de camisa de cores diferenciadas –, o jogo ganha especificidade, passando a incorporar um objetivo claro e mensurável: o aluno deveria fazer a bola atingir o interior da área definida pelas marcas da parede do time adversário (santos neto, 2002, p. 21-22). ainda que não tivesse uma designação, o aluno que conseguisse atingir o interior da área teria feito... um gol?


com essas novas características, o futebol no colégio deixou de ser apenas uma brincadeira de chutar bolas contra paredes e passou a ser praticado com mais dinamismo, aproximando-se cada vez mais do modo como seria praticado o futebol. até 1893, os jogos ocorriam somente nos pátios do colégio, os quais em 1903 eram: – pateo do ss coração; – pateo da immaculada conceição; – pateo dos ss anjos; – pateo de s. estanislao. (Collegio S. Luiz – Itu, Estado de S. Paulo, Brazil 1903) nesses pátios, muitos jogos aconteceram, desde o bate-bolão até equipes que disputavam entre si, chutando a bola em direção às marcações na parede. sete anos depois dessas mudanças, o novo reitor, padre luís Yabar, iria tornar-se o responsável por introduzir regras que dariam feição definitiva ao futebol no colégio são luís.

É quase tudo verdade... Só a bola de futebol foi acrescentada. A foto original está na página 28. Mas durante quase quatro décadas a prática foi recorrente nos recreios do Colégio São Luís.

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35 É quase tudo verdade... Exceto a bola de futebol. Mas essa cena fez parte constante do cotidiano nos recreios do Colégio a partir de 1880.


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Um novo reitor


A

GRANDE TRANSFORMAçÃO NA PRÁTICA DESSES ENSAIOS PRÉfutebolísticos viria com o padre Luís Yabar, quando assumiu o cargo de reitor do Colégio São Luís, em 3 de maio de 1893. Nascido no Peru em 1857, fez seus estudos em Roma (Itália), no Colégio Pio Latino-Americano. Após doutorar-se em filosofia, na universidade Gregoriana, deixou o Colégio em 29 de novembro de 1877, ingressando na Companhia de Jesus em 7 de dezembro de 1877. Em 1880, dia 27 de novembro, chegou ao Colégio de Itu, para o magistério e prefeitura, permanecendo até 1884 como prefeito da Divisão dos Médios. Nesse ano retorna a Roma para curso de teologia e torna-se sacerdote em 1888. Em 1890 volta para Itu para ser o prefeito dos maiores. Pessoa que, com sua visão, sensibilidade e iniciativa, foi construindo um círculo de respeito entre jesuítas, alunos, pais e membros dos colégios por onde passou, o padre Luís Yabar foi nomeado, em 18 de fevereiro de 1892, reitor do Colégio Anchieta, em Nova Friburgo (RJ), tendo aí permanecido por um ano. Retorna a Itu em 2 de maio 1893, assumindo o cargo de reitor. No ano de 1898 assume a direção espiritual do Colégio Anchieta, até 1o de fevereiro de 1902, quando retorna à Reitoria. Evidenciam-se em sua gestão a construção do novo prédio do Colégio, concluído em 1910, e a vinda de estudantes de várias partes do País (Asia, 1953, p. 30-31). Entre as personalidades que destacaram o papel do padre Luís Yabar, está o educador Fernando de Azevedo. Em sua obra Figuras do meu convívio, lembra daqueles (entre os quais Luís Yabar) que “tudo fizeram para preparar, desenvolver e completar o tipo perfeito do ‘homem culto’ e do ‘homem de bem’, na mais ampla e mais legítima acepção desses vocábulos” (Azevedo apud Estrada, 2008). Ou ainda, conforme palavras proferidas por Américo Jacobina Lacombe (1953, p. XVII), diretor da Casa de Rui Barbosa, na sessão solene realizada no Colégio Anchieta, em Nova Friburgo, a 19 de julho de 1953, em comemoração ao cinquentenário do discurso de Rui Barbosa naquela Casa: “[...] prestemos nossa homenagem [...] aos padres da Companhia de Jesus, naquele momento [1903] dignamente representados pela grande figura de sacerdote que foi o Pe. Luís Yabar, que ainda conservo na memória percorrendo estes corredores, cercado de respeito e veneração de todos que dele se aproximavam”. Figura de relevância dentro e fora do círculo jesuíta, padre Luís Yabar – respeitado e venerado professor, prefeito, diretor e reitor – retorna a Itu, em 1893, na condição de reitor. Significou para o Colégio São Luís um momento muito especial na questão de esportes e jogos: com ele, o antigo bate-bolão, já alterado em alguns aspectos em 1887, transforma-se em futebol.

Alunos em formação no pátio do Colégio, década de 1890. Um dos alunos ergue uma bola de futebol, como se fosse um troféu. Acervo Colégio São Luís.

a década de 1890 no Brasil é de tempos intensos quando manifestações se espalham pelo País: Revoltas da armada; início da Revolução Federalista (RS), em 1893; início da formação do arraial de Canudos, por antônio Conselheiro (1893) – fatos já sob a égide da primeira Constituição republicana do Brasil (1891). no contraponto desse clima, Ernesto nazareth compõe “Brejeiro”, em 1893, uma das mais antigas músicas populares a alcançar sucesso nacional e internacional; em 1891 chega, através do Porto de Santos, o primeiro automóvel no País, encomendado por Santos dumont.

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Um conhecedor do futebol

L oGo no ano seGuinte À assunÇão À reitoria, padre luís Yabar

investe em novas modificações no esporte já praticado no colégio. como consta que no ano de 1886 (e talvez nos anos seguintes) o futebol (batebolão?) era praticado no colégio anchieta, de nova Friburgo (rJ), e como o padre luís Yabar esteve em trânsito entre os colégios de itu e nova Friburgo entre 1887 e 1893, pode ter testemunhado brincadeiras e jogos associados ao futebol. assim, tendo em conta as formas de entretenimento com a bola de futebol que já aconteciam nos recreios dos colégios (itu e nova Friburgo), a acolhida dos jesuítas ao esporte no âmbito pedagógico, o interesse e o conhecimento do tema, além de ser um entusiasta do trabalho de Thomas arnold, o padre luís Yabar motivou-se a implementar mudanças de maior impacto. se ele provavelmente acompanhou as brincadeiras com bola de futebol no recreio do próprio colégio e se ele já dispunha de informação decorrente da proximidade da educação jesuíta com os esportes, de onde teria vindo o conhecimento específico sobre o futebol? o padre luís Yabar conhecia a história do futebol bem como suas regras. essas informações, teria obtido através da observação da prática e do acompanhamento do trabalho realizado por educadores em sua provável passagem pelo colégio pio latino-americano e outros colégios europeus, entre 1877 e 1880, período de seus estudos na itália e na França, antes de vir para o brasil. cercado, assim, de influências e entusiasmo advindos tanto de presumida observação in loco nos colégios – europeus e brasileiros – e com conhecimento do trabalho que Thomas arnold vinha realizando, o padre luís Yabar pôde transformar essa experiência em prática efetiva. e em 1894 muda a cena do bate-bolão no colégio são luís de itu. por certo a torcida se animou mais ainda...


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39 Postal Collegio S. Luiz – Itu, Estado de S. Paulo, Brazil. Vista geral do colégio, 1903. Acervo Colégio São Luís.


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Do divertimento ao jogo

S E nO COLégIO aS aTIvIdadES ESPORTIvaS mostravam um caminho promissor, fora dali – no Brasil e no mundo – a década foi especialmente pródiga. a primeira equipe de basquete no Brasil, esporte criado em 1891 no Canadá, é formada em 1896, do Mackenzie College. O rugby – cujas origens remontam à primeira metade do século XIX na Inglaterra – tem sua mais antiga referência no Brasil em 1875. Mais concretamente, o São Paulo athletic Club (SPaC) tem no rugby, desde sua fundação, em 1888, um dos esportes praticados entre seus associados. ainda desse ano é a primeira partida da modalidade no Brasil. O remo teve expansão com o surgimento de clubes de regatas: Botafogo (1894), Flamengo (1895), vasco da gama (1898). Os primeiros Jogos Olímpicos da era moderna são realizados em 1896 na grécia. Pouco antes, em 1894, entre Paris e Rouen, na França, presencia-se a primeira corrida de automóveis do mundo. no ano seguinte, 1895, é criado o voleibol. um ano antes de charles miller realizar aquele que é considerado o primeiro jogo oficial de futebol de que se tem registro no brasil, 1895, o padre luís Yabar implantaria novidades que modificariam radicalmente aqueles exercícios pré-futebolísticos, fazendo sua efetiva passagem para o futebol. ou, mais especificamente, reconfigurando o bate-bolão na modalidade de onde fora extraído: o futebol. a começar pelas novas regras que passaram a orientar o esporte (almeida, 2005). duas mudanças fundamentais foram introduzidas. os pátios do colégio, até então utilizados para a prática do bate-bolão, haviam sido construídos atendendo a necessidades do projeto do colégio e não a especificações do futebol. assim,

suas dimensões eram afetas ao projeto arquitetônicopedagógico, que não levavam em conta e nem correspondiam às dimensões do campo em que eram disputados os jogos do futebol. o padre luís Yabar, desejando aproximar-se das regras do futebol, passou a conferir maior exatidão às dimensões e demarcações do campo. até então, as bolas serviam para os chutes dos estudantes em direção às marcações que eram feitas nas paredes e muros dos pátios. acostumados a essas marcações como destino dos seus chutes, os alunos muito provavelmente se surpreenderam e vibraram com a substituição da marcação nas paredes e muretas por traves de madeira, delimitando o espaço destinado ao gol, algo até então desconhecido do colégio. como consequência, o antigo divertimento ballon, passando por essa metamorfose, foi se aprimorando, passando a ter maior rigor, no âmbito das regras, e assim se apresentando como um esporte mais definido: as dimensões e a demarcação do campo onde se jogava, o espaço preciso onde a bola era para ser chutada, que era definido pelas traves, além de onze jogadores de cada lado caracterizando as equipes adversárias. divertimento, exercício físico ou esporte – agora, o jogo de bola efetivamente estava delineando uma modalidade precisa: era futebol aquilo que estavam jogando. mas não apenas isso. além dessas questões de caráter técnico (aplicação de regras, delimitação e demarcação dos campos e traves, etc.), o que estava em jogo era também uma questão de outra natureza. a prática do futebol no colégio nos moldes da Football association prejudicava, de alguma forma, a formação do estudante? era o que se supunha


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quando foi introduzido o bate-bolão. não – na visão do padre luís Yabar. e tanto que ele não estaria sozinho nisso. outros colégios jesuítas e maristas praticavam o futebol nesse período. assim, a revisão dessa visão quanto aos benefícios do esporte teria também contribuído para a introdução do futebol nos moldes em que já era praticado. enquanto no início da década de 1880 o padre José mantero incentivou apenas alguns aspectos do futebol (bola, chute, parede servindo de gol, etc.) – pois considerava que uma potencial competitividade intrínseca ao jogo e outras situações seriam então inadequadas à formação dos estudantes –, pode-se inferir que o padre luís Yabar (e mesmo outros colégios jesuítas) já visse o esporte como atividade apropriada aos alunos, em função de conciliar necessidades de exercício corporal e disciplina. ou seja, nessa atualização da concepção, o futebol já não traria prejuízo à formação do jovem, pelo contrário, traria benefícios. a percepção da inserção do futebol no ambiente escolar havia mudado. e nesse novo cenário foram surgindo as primeiras equipes.

O gol, à esquerda, feito de madeira, a partir de meados da década de 1890, tornou-se um elemento a mais a caracterizar o futebol no Colégio São Luís. Acervo Colégio São Luís.


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Vila de Santa Maria

S e os pÁtios de recreio do colÉGio são luís não se enQuadraVam e – especialmente em função das dimensões exigidas para um campo – não tinham como se ajustar aos requisitos que o futebol exigia, como solucionar a necessidade de adequação às dimensões no terreno para o jogo ser realizado conforme as regras da modalidade? a solução estava bem perto. na realidade, encontrava-se anexa à área onde o colégio são luís estava implantado. uma grande e bela área denominada Vila de santa maria parece ter sido a solução: “uma belíssima e vasta área com o belo nome de Villa s. maria. [...] Villa s. maria foi comprada em 1893; é um terreno contíguo ao colégio, com muitas árvores frutíferas, banana, manga, goiaba, etc., com jardim e vinhedo. É aprazível para passeio e recreação dos nossos alunos”. essa breve descrição da Villa de santa maria, registrada em Lettere Edificanti dei Padri – della Compagnia di gesù – della Provincia Romana , no ano de 1899, inclui a função de “recreação” aos alunos, até então realizada somente nos pátios do colégio. exuberantes mangueiras se espalhavam pelo terreno. madureira (1927) refere-se à “casa de campo – Villa maria” como local “para recreios extraordinários”. logo após a aquisição da Vila, em 1893, o futebol que então passaria a ocorrer no colégio são luís encontrava melhores condições de realização nessa nova área: ali poderia ser demarcado o campo, nas dimensões corretas, com a vantagem de estar nas proximidades do colégio. esse era um fator também relevante, já que os estudantes dispunham, predominantemente, apenas do tempo dos recreios para os jogos. com o novo espaço para jogarem futebol, os jesuítas ensejaram formas complementares de estímulo às equipes, aos estudantes. e tudo indicava que isso daria resultado. Com a aquisição da Fazenda Taipas e Tranqueiras, em 1894, próxima à estação de Itaici, os alunos que permaneciam no Colégio tinham uma opção para suas férias. no extremo oposto dessa situação em Itaici, o Brasil tomava conhecimento, através do trabalho jornalístico de Euclides da Cunha, da guerra de Canudos, entre 1896 e 1897. de um lado, o Exército Brasileiro; de outro, um movimento popular sociorreligioso sob a liderança de antônio Conselheiro. Em 1902, é publicado Os Sertões.


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Vila de Santa Maria, local dos primeiros campos para futebol do Colégio. Coleção de Postais do Colégio S. Luiz. 1914. Acervo Colégio São Luiz.


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Campeão de futebol

T udo pronto para o JoGo: noVo campo, delimitado, novas regras, traves de madeira – traduzindo o novo estímulo trazido pelo padre luís Yabar. e os times? também nesse novo espírito conferido ao esporte, foram escolhidos os alunos que iriam dar início à nova fase da modalidade no colégio são luís. possivelmente selecionados entre os maiores, os alunos foram agrupados, inicialmente, em quatro equipes já com 11 jogadores cada. símbolo de identificação de cada equipe, a cor das camisas era o elemento que distinguia a formação dos times: branco, preto, verde e encarnado. ainda que dentro de um ambiente de companheirismo, enfrentavamse como adversários então uniformizados. seria o momento dos primeiros campeonatos do colégio. outros iriam se seguir, de modo mais estruturado e mais constante no calendário das atividades praticadas no recreio do colégio. além da estimulante novidade, que teria contagiado a muitos, os jesuítas idealizaram uma maneira de incentivar ainda mais os participantes, de modo a cada aluno sentir-se mais estimulado a mostrar suas qualidades no esporte. assim, entre 1894 e 1895, instituíram o título de campeão de futebol, de caráter simbólico, para o aluno que, ao final de todas as partidas realizadas, fosse considerado aquele que mais se destacou. entre os alunos participantes desses jogos, o primeiro a ter esse reconhecimento foi arthur ravache, no ano de 1895. o “campeão de futebol” mostraria, pouco tempo depois, que o título não havia sido mera casualidade. ravache viria a ter importante participação no emergente meio futebolístico paulistano.

essa linha de continuidade na prática do futebol entre o colégio são luís e o novo esporte que se praticava na cidade de são paulo é precioso indicador daquilo que o colégio lhe proporcionou na sua formação como jogador da modalidade. e a partir desse momento se iniciava uma outra etapa da história dos esportes no colégio são luís e o futebol no brasil.


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45 Alunos da Divisão dos Maiores, em 1897, em um dos registros fotográficos mais antigos a documentar a presença de uma bola, de tamanho pouco maior que o padrão, para se jogar futebol no Colégio. Acervo Colégio São Luís


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De Itu para o PaĂ­s


O Futebol Que comeÇou a ser JoGado

no colégio são luís de itu, em 1894, pode ser considerado um momento de inflexão no trajeto que vai dos primeiros chutes do bate-bolão ao surgimento das pioneiras formas de organização do futebol – clubes, ligas de futebol, campeonatos. os exercícios pré-futebolísticos que aconteceram na década de 1880 no colégio e mesmo o futebol na Vila de santa maria estavam circunscritos ao espaço e às funções dos pátios e do campo na chácara.

eram recreios e jogos estudantis alicerçados na função pedagógica que ocorriam dentro da grade de horários determinada pelos padres jesuítas e do colégio, sem estímulo à competitividade ou rivalidade entre as equipes. os únicos documentos em que o esporte poderia estar registrado eram os diários da Casa e/ou Manual da Corporação, livros administrativos do são luís, já que não havia o propósito de divulgar, para fora do colégio, por quaisquer meios de comunicação, o futebol que ali se jogava. essa cautela em manter discrição levava, inclusive, a não incluir os esportes no programa de divulgação do colégio. apesar do que haviam conseguido instituir no meio escolar – desde as bolas de capotão, trazidas da europa, à implantação de campo de futebol (traves, dimensionamento e demarcação), formação de equipes com 11 jogadores e instituição de prêmios aos melhores jogadores –, o objetivo principal não visava a um esporte competitivo. somente após a conclusão de seus estudos no colégio, os alunos que retornariam às suas cidades natais começariam a participar de outros círculos de relacionamento em que o futebol estava inserido em alguma forma de competição – entre amistosos, torneios e campeonatos. É esse deslocamento e as novas perspectivas de atuação que tornam vários ex-alunos responsáveis pela disseminação ou fortalecimento de ideias relativas ao futebol, alinhados à dinâmica que já ocorria na europa, especialmente na inglaterra, onde alunos também difundiam a prática. e, além dos alunos, a divulgação do futebol internamente entre os próprios jesuítas – e prefeitos e reitores dos colégios – deve ter se constituído em prática de disseminação do esporte: “sem dúvida, essa atividade recreativa deve ter-se espalhado por outros educandários dirigidos por essa ordem religiosa” (martins, 1989, p. 141).

Alunos e padre jesuítas em visita a Itaici. Alguns estão empunhando bastões, raquetes de tênis, tabuleiros. Outros, em maior quantidade, bolas de futebol. Confira: são 6? Acervo Colégio São Luís.

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Volta Ă cidade natal


Ao

concluírem seus estudos no colégio são luís, os alunos encerravam importante etapa em sua formação escolar e mesmo de vida. movimento natural dos alunos que se formavam, o retorno às cidades de origem era a prática mais constante. o grupo dos maiores – que formavam o último ano de aprendizagem no colégio – tinha como horizonte a instrução secundária ou mesmo o ensino superior. nesse processo de formação escolar, geralmente retornavam, ainda que temporariamente, às casas dos pais ou responsáveis, seja nas cidades ou fazendas. além da experiência vivida alguns anos como internos ou externos, os jovens levavam sonhos, dúvidas, competências e habilidades que desenvolveram e novos horizontes para suas vidas. e aqueles mais entusiasmados com o futebol que aprenderam no colégio? além de uma certa habilidade, imaginavam dar algum tipo de continuidade ao que aprenderam? a chegada aos seus locais de origem e as

oportunidades que passaram a vivenciar mostraram que, para quem havia se identificado com o futebol, a nova circunstância poderia ser um momento propício para iniciativas mais ousadas. assim, algumas cidades como são paulo e sorocaba (sp), uberaba (mG) e salvador (ba), além de várias outras do interior do estado de são paulo, viram aqueles estudantes se transformarem em protagonistas do período inicial da disseminação do futebol – entre fins do século XiX e início do XX. na década de 1890, as ferrovias constituíam o principal meio de interligação entre as cidades brasileiras. apesar de a primeira linha ter sido inaugurada em 1854, obra de Irineu Evangelista de Souza (futuro visconde de Mauá), somente após a República a malha ferroviária ganharia efetivo fortalecimento, com a assunção pelo governo da implantação de várias linhas, incrementando a ligação entre as diferentes regiões do Brasil.

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49 Alunos e padres jesuítas em Itaici, cerca de 1900. Acervo Colégio São Luís.


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Ex-alunos do Colégio São Luís e a difusão do futebol

Concluído o período de estudos no Colégio, ex-alunos voltam para suas casas, seus estados. Alguns se tornam disseminadores do futebol que aprenderam no São Luís, ajudando a fundar equipes e difundir o esporte.


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A diFusão do Futebol Que passou a ser praticado no colÉGio são luís, tendo como núcleo central a cidade de itu, a partir do movimento dos exalunos que se deslocaram em direção às suas cidades de origem, está diretamente relacionada à atração exercida pelo colégio, que trouxe, desde distantes cidades de diferentes estados às mais próximas, alunos para lá estudarem. São Paulo: capital e interior para a cidade de são paulo, possivelmente o mais importante núcleo fornecedor de alunos para o colégio, retornaram alguns daqueles ex-alunos que manteriam o interesse pelo futebol, seja participando da criação de clubes ou integrando equipes em formação ou já formadas. depois de saírem do colégio, não demorou muito para alguns ex-alunos se voltarem à dinâmica que o futebol emergente estava causando: promover a formação de clubes ou integrar equipes recém-formadas. além de participarem da fundação da associação atlética mackenzie, em 1898, carlos da silveira, José e Vicente de almeida sampaio divulgaram o futebol por cidades do interior do estado de são paulo. esses e outros ex-alunos, alinhados com o propósito de divulgação do esporte especialmente entre pequenos proprietários e nas fábricas, voltaram-se para um trabalho que percorria diferentes empresas e cidades. proprietários de pequenos estabelecimentos e operários imigrantes – destacando-se os alemães e italianos – tornaram-se o público preferencial da atenção de otho behmer e João de almeida na divulgação e promoção que ambos passaram a fazer do futebol na cidade de são paulo, aproximadamente no ano de 1898 (santos neto, 2002, p. 24). idêntico procedimento teve silva moraes, tornando-se divulgador do futebol, ainda no final do século XiX, em fábricas estabelecidas na capital paulista. também em sorocaba promoveu o futebol nas fábricas. arthur ravache, ex-aluno do colégio são luís de itu, foi um dos protagonistas dos primórdios de uma das pioneiras equipes de futebol na cidade de são paulo: o sport club Germânia. a história do Germânia retrocede à chegada, a são paulo, em 1897, do alemão hans nobiling– um entusiasta do futebol em sua terra natal (before the “d”!..., 2012). nascido em 1877, em hamburgo, alemanha, assim que chegou, trazendo uma bola e apetrechos, além de exemplar dos estatutos do s. c. Germânia, da alemanha, organizou uma equipe de futebol de comerciários amigos, informalmente denominada “team do hans nobiling”. no dia 19 de agosto de 1899, várias pessoas, lideradas por antônio campos,


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juntaram-se para formar um time de futebol. Hans Nobiling propôs o nome Germânia, em homenagem ao clube de Hamburgo. Como as pessoas presentes – que, inclusive, se reuniam na Mooca, bairro que acolhia imigrantes de vários países – eram oriundas de diversas nacionalidades, o nome escolhido, por 15 votos a 5, foi Sport Club Internacional, o qual viria a ter papel primordial na implantação do Campeonato Paulista de Futebol. Voto vencido na questão do nome do time, Nobiling e os irmãos Wahnschaffe retiraram-se, então, com o propósito de fundar seu próprio clube. Assim, dia 7 de setembro de 1899, juntamente com outros sócios, fundam o Sport Club Germânia (futuro Esporte Clube Pinheiros), cujo futebol era praticado na chácara Witte. Mackenzie No início de 1900 já eram sócios do Germânia: Arthur Ravache, Guilherme Kawall, Max Engelhardt, Arthur Kirschner, Max Schaedlich e C. O. W. Klaussner (Centro Pró-Memória Hans Nobiling, email de 5/8/2013). Arthur Ravache, além de sua presença nos primórdios do Sport Club Germânia, foi “um dos pioneiros na organização do futebol paulista e brasileiro” (Santos Neto, 2002, p. 24). Esteve presente, juntamente com Hans Nobiling, na reunião de 14 dezembro de 1901, que fundou a Liga Paulista de Futebol, passando a fazer parte da primeira diretoria. Em 1902 iniciava-se o primeiro campeonato paulista (De Vaney, 1956). Entre 1900 e 1906, Arthur Ravache fez parte das diretorias do Sport Club Germânia, tendo sido também representante do clube na Liga Paulista de Futebol. Complementarmente ao futebol, também participou, e destacou-se, nas competições de atletismo (site do EC Pinheiros) Uberaba Os uberabenses César de Oliveira e Apulcro Brasil, após concluírem seus estudos no Colégio São Luís de Itu, retornando em 1904 à cidade natal, “trouxeram as primeiras noções, ainda muito vagas, do futebol, instruindo os alunos do Ginásio Diocesano, dos Irmãos Maristas, os quais também já ‘batiam o balão’ desde 1903” (Pontes, 1972, p. 33). Dois anos depois, janeiro de 1906, Apulcro Brasil e César de Oliveira, juntamente com Gabriel Totti, que trouxera de São Paulo duas bolas, agulha e bomba, bem como exemplar do Guia de Futebol, além de outros uberabenses, formaram o


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primeiro time do município, denominando-o Clube de Futebol, de breve existência, já que não havia adversários: “Com a organização desse time, o jogo deixou de ser o bate-balão para tomar uma forma aproximada à da sua verdadeira natureza. Este novo aspecto imprimira-se por aqueles ex-alunos do Colégio S. Luís” (Pontes, 1972, p.36). Salvador No início do século XX, Mário César Gonzaga retorna para Salvador, após seus estudos no Colégio São Luís, entre 1894 e 1899. Ali, mais especificamente na Faculdade de Medicina da Bahia, teve receptividade dos universitários para a nova modalidade – o futebol, utilizado provavelmente como exercício integrante da educação física. Tornou-se, ao lado de José Ferreira Júnior, um dos pioneiros no futebol na Bahia (Santos Neto, 2002, p. 24; Santos, 2012, p. 1).

O futebol irradiava-se pelo Brasil a partir de fins do século XIX – campos, times, jogos, torneios e campeonatos iam se sucedendo, nos diversos estados e cidades. E os ex-alunos do Colégio São Luís de Itu, com o que aprenderam no tempo de escola, fizeram parte desse movimento inicial e de irreversível expansão. E foi lá, no campo da Vila de Santa Maria e nos pátios do Colégio, onde exalunos começaram a jogar e viram nascer uma escola de futebol. E essa história, que no Colégio São Luís de Itu começou a partir de 1880, forma um precioso e insubstituível conjunto de fatos e documentos a registrar a gradual evolução de um esporte que teve início através de chutes na parede e nas muretas do pátio e se transformaria em uma das raízes de uma paixão nacional. Tudo, e em todos os momentos, inexoravelmente vinculado a um único esporte: o futebol.


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Esportes Todas as fotos reproduzidas em Esportes integram o acervo do Colégio São Luís


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Uma folga para os exercícios do corpo AS

ATIVIdAdES FíSICAS dESENVOLVIdAS no Colégio São Luís de Itu estavam diretamente relacionadas a princípios estabelecidos desde os primórdios da educação jesuíta: “Bem sabia o philosopho que onde não folga o corpo e não se distrahe o espírito reinam o aborrecimento, o enfado, o desanimo, a preguiça e outras condições favoráveis ao relaxamento e prejudiciaes á moralidade. [...] Na edade em que tudo desperta, fermenta e fervilha, é necessário que, ao lado das occupações intellectuaes, haja uma folga para os exercícios do corpo, onde as energias naturaes racionalmente encontrem um derivativo ou uma diversão” (Madureira, 1927, p. 624). “Reconheceu esta necessidade o Sancto Fundador, prescrevendo na III P. das Constituições (cap. II, F) que as occupações mentaes fossem interrompidas por exercícios corporaes, até mesmo entre os religiosos, e muito mais tractando-se de creanças” (Madureira, 1927, p. 625). É com esse propósito que “exercícios do corpo” são implantados e disseminados no Colégio desde sua fundação. E, se o futebol iria ter destaque crescente entre as práticas esportivas realizadas no São Luís a partir de sua inserção nos recreios do Colégio, as demais atividades de educação física, os jogos e competições completavam o múltiplo cenário de opções para escolha dos alunos: ginástica, corrida com obstáculos, salto em altura e distância,

lançamento de disco e dardo, esgrima, além de exercícios militares e tantos outros mais. Eram práticas que iam das mais simples às mais vigorosas. “São proibidos os jogos perigosos, mas os Padres não se opõem a jogos de certa violência e que exigem demonstrações de coragem, desde que se realizem os exercicios sob a immediata vigilância dos Prefeitos. Fortes encontrões, algum desastre eventual e até mesmo a fractura ou luxação de um braço (cousa que póde acontecer ás crianças nas próprias famílias, sobre os olhos dos paes) não impediram se effectuassem nos Collegios as proezas da patinação, as guerras com pernas de páu ou com escudos, as corridas vertiginosas da barra á bandeira, inclusive as luctas violentas do foot-ball, que, desde os remotos tempos eram travadas nos pateos de nossos collegios e se chamavam, mais modestamente, ‘partidas de bola ou de ballon’” (Madureira, 1927, p. 627). Para além de suas funções corporais e pedagógicas, essas modalidades, a partir do final do século XIX, passaram a constituir objeto de reconhecimento. Não bastava oferecer opções aos alunos, era preciso incentivá-los também através de premiação. “[...] Além disso, o P. Reitor e os Prefeitos estabeleceram premios e medalhas de campeonatos nos vários jogos. [...] Para enthusiasmar os exercícios gymnasticos e activar o


movimento nos recreios, Prefeitos tomam nessas parte activa, brincando e se companheiros dos (Madureira, 1927, p. 634).

os Padres diversões tornandoalumnos”

É também o caso da esgrima. Esporte praticado no Colégio desde o século XIX em Itu, foi incluído entre as designadas Aulas Livres (Figura e Ornato, Esgrima, etc.), cujos melhores praticantes seriam distinguidos com medalhas, ao lado dos demais premiados nas disciplinas tradicionais. Na Solemne distribuição de Premios de 18 de dezembro de 1898, Constancio Cintra e Carlos Antony foram distinguidos na categoria Emeritos, a mais destacada na Esgrima. Outros receberam também distinções nas categorias: Iguaes no mérito sorteiam o premio; Proximos ao premio; dignos de menção honrosa; dignos de menção. Por volta da passagem do século XIX para o XX, algumas das atividades esportivas e de educação física são documentadas fotograficamente. As fotografias passam também a ser reproduzidas nas publicações do São Luís. A mais antiga de que se

tem conhecimento, publicação de caráter informativo sobre questões da instituição, é O Collegio. Primeiro periódico dos alunos do Colégio São Luís, publicado quinzenalmente a partir de 1910, constitui também o documento a partir do qual os esportes passam a ser registrados e veiculados regularmente. Em edição de 1914, o esporte está presente através de fotografia de aula de esgrima e da matéria “Foot-ball”, na seção Nas Rodas Sportivas. Foi num domingo, dia 15 de novembro, que se registrou a vitória dos Grandes sobre os Médios por 3 x 0. Cada jogador mereceu sucinta descrição do desempenho no jogo. Entre eles, estava Renato de Toledo, número 202, o back-left da equipe: “Com justa razão considerado talvez a primeira defesa do collegio, é um player agil e denodado. Com admiravel precisão intercepta os mais bem combinados passes, e oppõe um dique aos shoots fortes com belíssimas rebatidas”. Além do futebol, preferido dos alunos, o panorama dos exercícios físicos nas duas primeiras

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57 Aula de esgrima, provável único registro do esporte no Colégio São Luís. O Collegio, maio de 1913. Acervo Colégio São Luís.


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décadas do século XX contemplava inúmeros jogos, assim descritos por Madureira: “[...] Os jogos certos preferidos entre os mais fortes são o bette grande e pequeno, o quadrado e a barra franceza com prisioneiros, e, entre os mais fracos, as malhas, o croquet, bilros, etc. [...] Nos jogos communs, mais grandiosos e reservados aos recreios mais prolongados da tarde [...]. A esta categoria de exercicios pertencem a guerra com escudos, o caçador, a barra de uma ou duas bandeiras, a grande barra geral com prisioneiros, a bola ao campo, a Mére Garruche, as grandes corridas geraes, o foot-ball, etc. [...] Os jogos livres se realizam em certos recreios [...] quando há falta sensível de jogadores [...]. Apparecem então os carrinhos, o diábolo, o bilboquet, a bicycleta [...] apostas de corrida, dando saltos de altura, extensão, ou passo de gigante, etc.! [...] Nos jogos solemnes, verdadeira eschola de virilidade physica. [...] Finalmente, se realizam, em certas festas, os chamados jogos extraordinários, nos quaes os exercícios athleticos e desportivos – taes como pareos de corridas simples e com obstáculos, saltos livres e com varas, lançamento de dardos e discos, partidas de foot-ball e de basketball – são intercallados por diversões cômicas” (Madureira, 1927, p. 630).

Com a mudança para a Avenida Paulista, em 1918, a prática dos esportes ganha, em pouco tempo, um novo e importante aliado. São as organizações que surgem na década de 1920, as primeiras constituídas dentro do próprio Colégio, que vão estruturar e dinamizar a realização de jogos e competições.

Durante as duas primeiras décadas do século XX, fatos tecnológicos desenham novos rumos no âmbito mundial: Santos Dumont, com êxito, realiza o primeiro voo do 14 Bis; automóveis passam a ser fabricados, a partir de 1908, em linhas de montagem. Em 1912, naufraga o Titanic. Nos esportes, as Olimpíadas são retomadas regularmente a partir de 1900; o primeiro jogo oficial da seleção brasileira ocorre em 1914. Nesse ano, estendendo-se até 1918, inicia-se a Primeira Guerra Mundial. E a Revolução Russa, em 1917. No Brasil, desde 1906, instala-se a política café com leite entre São Paulo e Minas Gerais.


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Pátio do Colégio, em Itu, 1914. Equipe de futebol.


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Organizando as atividades esportivas “O primeiro tempo constava de 30 minutos / o descanso de 5 minutos / o segundo tempo de 30 minutos / Todo jogador deve se apresentar em campo devidamente fardado”.

E RA O DIA 15 DE MAIO DE 1925. DATA EM QuE começaram a ser decididas as primeiras deliberações do recém-constituído Club Athletico Colégio São Luís – CACSL. Muito da forma como viriam a ser praticados os diferentes esportes seria fixado a partir das inúmeras reuniões dessa entidade, criada para organizar campeonatos e estabelecer regras. O CACSL deu os primeiros passos para que tivessem início as saudáveis competições, não só internas, entre times do Colégio, mas também externas, com disputas que envolviam estudantes de outros estabelecimentos de ensino. A prática do futebol empolgava os jovens e a comunidade do São Luís. um dos marcos desse ano foi o dia 26 de abril, com a grandiosa festa esportiva para comemorar a data da padroeira da Congregação Mariana Nossa Senhora do Bom Conselho. Conforme registros da época, a festa contou com a adesão de outras associações, entre elas, a Congregação de São Gonçalo, os colégios São Bento e Arquidiocesano. O sucesso dos eventos esportivos levou a diretoria do CACSL a aprovar, em reunião do dia 1o de maio, a implantação de novas modalidades, como os jogos de tênis e pingue-pongue.


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61 Pausa no pingue-pongue para foto, 1921. Integrantes da Liga Esportiva São Luiz. Solemne Distribuição de Premios, 1927. Disputa acirrada perto do gol. Formação tradicional nas aulas de ginástica, 1924.


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Jogando tênis de calças, 1929. Puxando para cá, puxando para lá, 1923. Futebol: o preferido dos pátios do São Luís, 1929.

Muito estava por ser criado e aprimorado. Nas sessões do clube eram definidas aquelas que seriam as primeiras tabelas de jogos, com combinações das partidas amistosas propostas pelo Colégio São Luís aos adversários, como pelos demais colégios ao São Luís. A decisão mais aguardada, no entanto, era a escalação dos jogadores que defenderiam as cores do Colégio. Na sessão do dia 27 de maio do mesmo ano, o CACSL se transformou na Associação Athletica Colégio São Luís, formada por alunos da divisão dos maiores. Na pauta de discussões havia desde a escolha dos representantes, que pediriam permissão ao reverendo padre reitor para a realização de jogos amistosos com clubes de outros colégios, como a adaptação do campo e do gol para as futuras partidas. diante de situações vividas em campo pelos jovens jogadores, novas regras surgiam e eram

aplicadas nas disputas seguintes. Uma delas foi o aumento para 10 minutos do tempo de intervalo entre cada partida; outra, a definição de que cada equipe contaria com um número de 8 jogadores. O bom desempenho do time dava visibilidade aos jogadores e, ao mesmo tempo, apontava para novas conquistas. Na ata de 7 de maio de 1926 consta que a Liga de Amadores de Futebol – organização criada em 1926 a partir de uma cisão com a Associação Paulista de Esportes Atléticos (Apea) – convidou o Colégio São Luís para entrar no campeonato colegial e universitário. Nesse mesmo mês, na sessão do dia 18, em uma das decisões consta que os jogadores do time dos médios deveriam “formar um team com 8 jogadores e 1 reserva para concorrer à divisão dos maiores”. E mais: que a escalação para os jogos externos seria feita pelo diretor esportivo da Associação. Antes do final desse ano, em 17 de novembro,


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os ex-alunos dos Padres da Companhia de Jesus fundaram uma associação com o intuito de se manterem ligados às instituições onde haviam estudado. Surgia a Asia, abreviatura do latim Antiqui Societatis Iesu Alumni – Associação dos Antigos Alunos dos Padres Jesuítas, para garantir “a frequente convivência, a antiga amizade dos tempos colegiais e, ao mesmo passo, para vivificar no espírito as lembranças e lições dos velhos mestres”. O ano seguinte, 1927, começa com grande expectativa ante aqueles que seriam selecionados para integrarem a Liga de Amadores de Futebol. Em meio ao entusiasmo geral foi criada a Liga Esportiva São Luís, cujas cores oficiais eram o azul e o branco. O alicerce estava lançado, com regras e organização, para uma sólida formação dos jovens. Havia limites e também descontração, alegria e muitos prêmios em diferentes momentos do

Colégio, como nas festas esportivas e nas aguardadas premiações de fim de ano. Enquanto no São Luís mudanças estavam em curso, a década de 1920 registrava importantes acontecimentos no Brasil: em 1922, a Semana de Arte Moderna; nesse mesmo ano, durante as comemorações do Centenário da Independência, realiza-se a primeira transmissão de rádio no Brasil. A Coluna Prestes é criada em 1924, e Macunaíma, de Mário de Andrade, é lançado em 1928, ano em que, também, Alexander Fleming descobre a penicilina. A década se encerra com a Crise Mundial de 1929.


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Festividades de fim de ano N A HISTóRIA dOS ESPORTES dO SãO LUíS HÁ

um espaço especial para campeonatos e festas comemorativas do Colégio. O clima de entusiasmo e alegria reinava nas solenidades de final do ano. Esses eventos iriam se constituir em uma das mais fortes tradições do Colégio, mantendo-se até os dias atuais. Festividades que sinalizavam para o final do ano letivo, e a certeza de que tudo recomeçaria em breve com as novidades que cada série escolar seguinte traria. Nas atividades esportivas, quem organizava essas festas era a Liga Esportiva São Luís. Os eventos, marcados por intensa programação e distribuição de medalhas, deixaram memoráveis lembranças, como o festival de 27 de novembro de 1927, além de tantas outras festividades registradas na publicação Solemne das décadas de 20, 30 e 40. Se as festividades, esportivas e escolares, davam um tom das conquistas internas do Colégio, no ambiente externo, brasileiro e mundial, também havia conquistas – como o sufrágio eleitoral feminino, em 1932; e o lançamento de Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda, em 1936 –, mas em um horizonte de dificuldades: Revolução Constitucionalista, em 1932,

que culminaria com a ditadura de Getúlio Vargas, o Estado Novo, entre 1937 e 1945. A Guerra Civil Espanhola inicia-se em 1936 e, quando se encerra, em 1939, tem início a Segunda Guerra Mundial. No Colégio São Luís os destaques da década de 30 são: a construção do novo edifício do Colégio São Luís, no ano de 1932; e as grandes festividades de encerramento das atividades esportivas, denominadas Olimpíadas Aloysianas, em 15 de novembro de 1935. A empolgação pode ser percebida pelo relato na Solemne desse ano: “O anno esportivo com seus animados e disputadíssimos campeonatos de FootBall, Tennis e Ping-pong, teve condigno encerramento na grandiosa festa do dia 15 de Novembro. Foi cognominada de Olimpíadas Aloysianas! Para merecer tal distinção não lhe faltou de facto o esplendor e a exhibição de optimos e futurosos athletas [...]”. O desfile desse ano, com 122 ginastas e 28 ciclistas, foi registrado por inúmeras máquinas


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65 Jogos Olímpicos: cada um aguardando sua vez, 1941. Os melhores, no podium. Montagem de fotos alusivas aos Jogos Olympicos de 1935. Solemne Distribuição de Premios, 1935.


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fotográficas e câmeras cinematográficas, que também acompanharam as competições de atletismo, como corrida rasa, corrida de bicicleta, salto em distância, arremesso de peso, revezamento, arremesso de disco, corrida de obstáculo, salto em altura e cabo de guerra. A importância dos eventos pode ser mensurada pela cobertura dos grandes jornais da época, como O Estado de S. Paulo, O Correio de S. Paulo, Folha da Manhã e Gazeta Esportiva. A imprensa noticiava com louvor os alunos e equipes vencedoras, a distribuição de medalhas para as diferentes modalidades e o trabalho educacional dos padres jesuítas. Nos anais do jornal O Correio de S. Paulo há a seguinte notícia do ano de 1936:

“[...] Apesar de seu caracter de festa collegial, a Olympíada do Collegio São Luiz foi, na realidade, uma vigorosa demonstração das possibilidades esportivas da nossa juventude estudiosa”. A saudação do athleta Flodualdo R. de Barros demonstra o espírito das solenidades: “[...]um pensamento nos guia nessas competições Olímpicas: disciplinar nossas energias e criar em nossos peitos o hábito de vencedores!”. Já a Gazeta Esportiva de 15 de novembro de 1937


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traz em suas páginas: “Como se faz todos os annos, o Collegio São Luiz encerrou sabado as suas actividades [...] com uma bella e interessante festa esportiva [...]. E não resta dúvida que os diretores do Collegio da Avenida Paulista, dão aos seus alumnos a verdadeira educação, e que bem satisfaz o tão conhecido mens sana in corpore sano”. Durante a Festa Esportiva Comemorativa do IV Centenário da Companhia de Jesus, em 1940, foi apresentado o Batalhão Escolar, organizado em obediência às determinações do governo da República, presidido por Getúlio Vargas. Nesse período os alunos eram treinados com rigor e disciplina por tenentes, sargentos e professores, e divididos em companhias e pelotões. O Batalhão Escolar participou do desfile da Parada da Juventude, dia 6 de novembro, em comemoração ao 3o aniversário do Estado Novo. Intensifica-se a militarização em um cenário de eventos de impacto mundial, como a Segunda Guerra Mundial, acentuando-se para o Brasil a partir de 1942, quando o País declara guerra aos países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). Nesse contexto, em 1945 foi criada a Organização das Nações Unidas (ONU). Em 1948, três outros fatos importantes: a criação do Estado de Israel; o início do Apartheid (regime de segregação racial), na África do Sul; na Índia, Mahatma Gandhi é assassinado. Já no Brasil, em 1943, Getúlio Vargas anuncia a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho); é inaugurado, em 1947, o Masp – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand.

Nessa década de importantes transformações, a sociedade local valorizava a prática esportiva de tal maneira, que, no ano de 1941, a equipe de futebol do Colégio São Luís disputou uma partida contra os alunos do Colégio Arquidiocesano no então maior estádio do País, o Pacaembu – inaugurado um ano antes. Deu empate: 1 x 1. Os talentos surgiam não só nos campos. Também no ambiente jornalístico pode-se observar um vigor nas reportagens e crônicas escritas pelos estudantes. Festa Esportiva, 1941. Apresentação dos ciclistas,1947. Equipe em evento esportivo do Colégio São Luís, 1936. Luta de travesseiros, 1941.


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Alunos cronistas e repórteres E NQuANTO

OS JORNAIS DA GRANDE imprensa já ensaiavam seções esportivas, os alunos do Colégio São Luís, ao registrarem os campeonatos e jogos estudantis, também estreavam na redação com entusiásticos comentários recheados de humor e paixão pelo esporte, publicados na Revista São Luís. Vale a pena reler uma dessas notas: “Não podíamos no último artigo deste ano sobre as atividades esportivas, no que concerne à parte futebolística, deixar de analisar a conduta de cada componente do selecionado Grêmio São Luís. Sim, pois após as 16 vitórias consecutivas que alcançaram, seria uma injustiça deixarmos de fazer um capítulo dedicado a estes bravos colegas. Nestas 16 pelejas todos demonstraram fibra, coragem, amor enfim pelas cores que defendiam, ou seja, as do Colégio São Luís” (Revista São Luís, dezembro de 1948). Entre uma notícia e outra, há referências quanto às idades dos jogadores: turma dos menores, de 10 a 12 anos; dos médios, de 12 a 15; e dos maiores, de 16 a 17. Em crônica esportiva dos menores, publicada na Solemne de 1944, o aluno escreve:

“[...] pensamos também em estrear uma bandeira, símbolo dos nossos mandamentos de estudante cristão. E assim, sobre a cruz vermelha-preto e branco traçada em fundo branco, salientava-se o escudo da trilogia dos nossos ideais: Deus, Pátria e Estudos”. O patriotismo era realçado, na época, de modo bem distinto do que se observa hoje em dia, em função da Segunda Guerra mundial, no período de 1939 a 1945. O envolvimento com os ideais dos países aliados pode ser atestado no ano seguinte, em 1946, quando o reitor do Colégio São Luís foi homenageado pelo governo federal pelos serviços prestados às Forças Expedicionárias Brasileiras, que lutaram na Itália. Nesse mesmo ano, os alunos redigiam crônicas entusiasmadas. Em uma delas, Carlos Toledo registra: “Se marcam um gol a alegria é geral... e a torcida por muito tempo continua... mais um... mais um” (Solemne Distribuição de Premios, 1946). E méntore Pomelli: “[ ...] eu pensava que o colégio dos padres era cheio de castigos e tinha medo... mas agora para mim não


há outro colégio melhor” (Solemne Distribuição de Premios, 1946). Os relatos demonstram que os alunos viviam a prática esportiva e o dia a dia escolar com entusiasmo e criatividade. E o espírito de competitividade não estava presente somente nas atividades esportivas, mas também nas salas de aula. As notas alcançadas pelos alunos influenciavam na contagem de pontos em concursos de equipe de cada uma das divisões. No ano de 1947 aconteceu um fato curioso. Houve uma leve diminuição no número de adeptos do futebol em favor não só do vôlei e do pingue-pongue, mas também dos livros. O Colégio procurou maneiras de incentivar os alunos para que voltassem a praticar mais esportes e investiu em equipamentos. A crônica esportiva dos submenores da Solemne de 1947 faz assim referência ao novo “[...] plackard marcador de gols ultramoderno, nem o Estádio do Pacaembu possui igual e as novas redes facilitam a visualização dos gols”. um dos temas centrais dos relatos, entretanto, era a arbitragem. Já naquela época os juízes sofriam com as torcidas e com os comentários dos jovens repórteres, como esse: “[...] duas lamentáveis falhas do

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69 Salto com vara. Salta em distância. Corrida de saco. Arremesso de peso. Equipe de futebol, 1950. Equipe de tênis.


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juiz decretaram a derrota do Acre” (Revista São Luís, abril de 1947). E outras, “[...] mas o juiz, que parecia dormir, nada registrou”. A atuação dos jogadores, os lances, as falhas e reclamações eram descritos com detalhes. Como no jogo entre a equipe dos maiores e o Caetano de Campos, assim comentado na Revista São Luís de outubro de 1948: “Toda equipe atuou muito bem, mas temos que reparar falhas e destacar nomes”. Nessa mesma edição, alguns jogadores do Grêmio São Luís são comparados a nomes consagrados, como Domingos da Guia, um dos melhores jogadores de todos os tempos. O jogador Edgar é assim descrito: “[...] calmo como um Da Guia, formou com Fabio e Vidigal um trio que assombrou”. Entre as crônicas, uma, que, de certa forma, percorreu subliminarmente a produção jornalística estudantil, refere-se à expansão dos esportes. Originalmente circunscritos a horários específicos e local único, gradualmente passam a ser praticados em diferentes horários e locais. “Um fenômeno da quarta série”. Revista São Luís, agosto de 1948. “Controlando”. Revista São Luís, agosto de 1947. “Estava olhando, foi olhado”. Solemne Distribuição de Premios, 1949. “Marcando o placard”. Solemne Distribuição de Premios, 1952. Equipe de 1944. Charges publicadas na Revista São Luís, década de 1940.


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Multiplicação dos 30 ou... fome de bola O S RECREIOS, DESDE O SéCuLO XIX, ERAm mOmENTOS muITO ESPECIAIS

e desafiadores. Eram ocasiões em que todo o dinamismo corporal dos alunos era posto à prova através das atividades de educação física, jogos e esportes. Além, é claro, do fôlego dos jesuítas em participar ativamente dessas práticas de disciplina, fortalecimento físico e entretenimento. Eram 30 minutos mágicos em que a euforia, os desafios inerentes a cada modalidade e a resistência de cada aluno na modalidade escolhida ecoavam nos pátios do Colégio São Luís e quebravam a quietude das horas de aulas em classe. Ou melhor: eram dois ou três períodos de 30 minutos, de manhã e à tarde. Com as festividades da Solemne Distribuição de Premios no encerramento das atividades, os alunos passariam a ganhar, ainda no século XIX, um momento especial para mostrarem suas habilidades. Nas solenidades de encerramento do ano letivo de 1914, o programa começava ao meio-dia com o Ensaio de Gymnastica. No início do século, também as viagens a Itaici eram uma oportunidade extra para praticar esportes. E, nas fotos que documentavam essas viagens, alguns alunos posavam com a inseparável bola de futebol. Já na Avenida Paulista, em São Paulo, os campeonatos internos de futebol invadiram os domingos do Colégio. O vigor esportivo dos estudantes passou a ganhar outros campos e ser testado nas competições externas, nos jogos entre colégios. mas era preciso mais espaço. As viagens intermunicipais levando as equipes a outras cidades do estado acrescentaram às animadas disputas um componente forte de socialização e de experiência em outros meios culturais. Ao lado dessa multiplicação de oportunidades para a prática de esportes – seja no próprio Colégio, seja fora de seus campos –, os ciclos da escola, como o encerramento do ano ou o início das aulas, eram ocasiões que traduziam a importância dos esportes para os alunos. As emoções do início do ano letivo não estavam reservadas apenas aos calorosos reencontros entre alunos e professores. Era a própria estrutura física do Colégio que despertava de sua temporária dormência. Pelo menos, é assim que um estudante descreve: “Depois de um longo período de descanso, o pátio, os corredores e os campos de futebol voltaram a animar-se. Principalmente, os campos de futebol. Todos estavam sequiosos de bola. Eram capazes de comer a bola, como se diz na gíria futebolística” (Revista São Luís, junho de 1956).


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Hora do recreio: brincadeiras, jogos, conversas. Equipe de alunos e professores. Grande momento: equipe do Colégio São Luís no Estádio do Pacaembu, em 1941.


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Impregnados de renovadas energias, os jovens voltavam a preencher os espaços vazios e a contagiar de alegria cada minuto de aula e jogo. O aluno José Carlos Arruda Alves traduz a emoção das partidas aos domingos: “As duas equipes, ao entrarem em campo, foram ruidosamente aplaudidas pela torcida. O cronista não ouviu nenhuma vaia, mas, naturalmente, deve ter havido algumas. De lado a lado. Fruto, é claro, do entusiasmo e do amor pelas suas cores” (Revista São Luís, junho de 1955). Ao lado desse entusiasmo, havia também uma disciplina que estabelecia condições para se poder participar dos jogos. Nos anos 50 e 60 as regras eram claras. Os alunos que faltassem aos jogos de domingo seriam suspensos dos jogos semanais. Não poderia haver pior punição. E havia também a obrigatoriedade da missa: “Na hora do recreio e depois do almoço a bola corria solta no campão do colégio, que tinha inclusive um marcador de resultados. Os campeonatos internos eram disputadíssimos e no domingo as


seleções jogavam contra os outros colégios, logo depois da missa, que era obrigatória” (e-mail do ex-aluno Geraldo Leal de Moraes). E a histórica participação dos jesuítas no estímulo dos alunos pelos esportes fazia com que se procurasse descobrir novos horários para as práticas: “Desde os primeiros dias de aula, o nosso Padre Prefeito, o Pe. Walter demonstrou grande interesse pelo nosso divertimento preferido, o futebol. Assim sendo, no fim das aulas, sempre que podia, dava treinos bem organizados que nos deixavam em condições de jogar contra outros colégios” (Revista São Luís, março-abril de 1956). Apesar dessa expansão em busca de mais tempo para o esporte, o recreio continuava a ser o celeiro de craques e outros nem tanto. E nele se acotovelavam treinos, jogos, competições e até campeonato semanal a ocupar intensamente seu exíguo tempo. Na rotina de um cruzado, o sábado incluía, além das atividades religiosas, também as esportivas: “Depois temos os nossos jogos. Que

formigueiro de gente que gosta de jogar futebol, alguns poucos preferem o ping-pong e outros o bilhar e futebol de mesa” (Revista São Luís, março de 1958). Mas o esporte não acontecia somente nos campos, quadras e pistas. Estava também no ar. Depois da missa de domingo, começava o programa radiofônico Resenha Esportiva, reforçando ainda mais a presença do esporte no São Luís. Esportes que, desde 1910 e para além das disputas em piso de terra, já eram registrados nas páginas da revista O Collégio. Mais horas, mais dias, mais lugares, mais competições. E aquilo que nasceu em meros 30 minutos em um pátio, no século XIX, espalhava-se pelas mais diversas situações, marcando vibrante presença na vida escolar de cada aloisiano. Multiplicaram-se, assim, os 30 minutos em várias frentes, revelando a forte ligação dos alunos e da educação jesuíta com a atividade física no ambiente escolar. E se ampliariam ainda mais em competições interestaduais ou transmitidas, de forma pioneira, pela então nascente televisão brasileira.

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75 Partida de tênis: no lugar da rede, uma estrutura de madeira, 1941. Pingue-pongue: bom de jogar e de assistir, 1929. Submenores, 1945. Disputando corrida.


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O futebol foi parar na televisão E LE ESTÁ LÁ, imPOnEnTE E dE CaRa nOva

para o mundial de 2014. Com uma história que soma mais de 60 anos, o maracanã foi erguido para o Brasil sediar a Copa do mundo de Futebol de 1950, suspensa por 12 anos devido à Segunda Guerra mundial. Considerado o maior estádio da época, anunciava o surgimento de uma nova fase para o Brasil que, nesse mesmo ano, veria, através da Tv Tupi, as primeiras transmissões da emissora pioneira de Tv. O País vê a Petrobras ser criada, em 1953, por Getúlio vargas. Juscelino Kubitschek é eleito, em 1955, presidente do Brasil. no ano seguinte, a indústria automobilística instala-se no País. Em meio a essa modernização, o futebol brasileiro conquista o Campeonato mundial de 1958. O desenvolvimento científico e tecnológico permite saltos significativos: astrônomos anunciam o Big Bang, gigantesca explosão cósmica que teria dado origem ao universo o qual passa a ser objeto de investigação, em 1957, com o lançamento do primeiro satélite da união Soviética; em outra escala, a indústria japonesa Sony lança o primeiro rádio portátil transistorizado em 1955. João XXiii é escolhido, em 1958, o novo papa da igreja Católica. no ano seguinte, Fidel Castro tornase presidente de Cuba, onde é implantado o sistema socialista. Era um mundo se reorganizando. E a bola, que já rolava solta nos pés dos alunos do Colégio São Luís desde o século XIX, ganhou novo destaque, tanto em termos de torneios como de organização. E são os próprios alunos que continuam contando os emocionantes desenlaces em suas inspiradas crônicas. Ali eles relatam que, ao criarem os grêmios esportivos dos submenores, menores, médios e maiores, passam a participar de forma mais intensa nas decisões sobre os campeonatos.

Vinheta publicada na Revista São Luís, 1955. Uma das primeiras fotos coloridas a ser publicada na Solemne Distribuição de Premios 1954: “A valorosa seleção dos MÉDIOS de 1954”.


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As saudáveis competições contavam com a presença de estudantes das diferentes séries, inclusive dos cursos técnico e científico, do período noturno e dos ex-alunos. O envolvimento com o esporte está bem descrito na crônica “mistério”, de 1950, em que o garoto conta com humor a angústia ante seu erro fatal. “Errei, seu Padre, o penalty de empate!!!” (Revista São Luís, junho de 1950). Ao reler os registros assinados pelos alunos, fica nítido que a prática esportiva propiciava bem mais do que saudáveis exercícios físicos. Era uma oportunidade de socialização, integração e conhecimento. Só quem acompanhou os garotos em viagem para a então capital do País, Rio de Janeiro, no ano de 1953, para participarem das partidas em comemoração ao jubileu áureo do Colégio Santo Inácio, também da rede jesuíta de educação, pode mensurar a emoção vivida naquele momento. Com muita empolgação, o aluno e cronista marcelo Figueiredo de Sá Gouveia traduz em palavras:

“Queremos consignar aqui o nosso muito obrigado aos R.P. Reitores do Colégio São Luís e Santo Inácio, que proporcionaram logo no início do 2o semestre tão agradável excursão à Capital da República[...]. Fazemos votos para que o Santo Inácio ainda este ano possa também comparecer ao nosso gramado para disputarmos com o mesmo ardor a conquista de novos troféus” (Revista São Luís, setembrooutubro de 1953). Novo enfrentamento voltou a acontecer em anos posteriores. Em partida realizada no dia 20 de abril de 1958 contra o mesmo Colégio Santo Inácio, do Rio de Janeiro, goleada do São Luís: 8 x 0. Novidades não faltavam. Ainda no ano de 1953 é citada pela primeira vez a realização do mai-med, competição esportiva entre terceira e quarta séries, com jogos de vôlei, pingue-pongue, futebol, bola ao cesto e futebol de salão. No ano seguinte acontece o 2o mai-med, passando assim a integrar o calendário


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78 Colégio São Luís no Campeonato da TV Record. Revista São Luís, outubro de 1956. Subindo pela escada e descendo por barras verticais, alunos demonstram suas habilidades. Professores e alunos, 1959. No meio da assistência, as medalhas para os ganhadores, 1958. Orientação antes de começar a disputa, 1958. Seleção que venceu o Colégio Santo Inácio do Rio de Janeiro. Revista São Luís, março-abril de 1956.

esportivo do Colégio. E o que dizer do Campeonato de Torcedores? Nas palavras de munir Cury, ele acontecia para “[...] manter o interesse de toda divisão pelos resultados dos diversos campeonatos” (Revista São Luís, dezembro de 1948). O entusiasmo foi geral no mês de setembro de 1955, quando os alunos participaram do Torneio da TV Record, patrocinado pelo refrigerante 7uP. Emissora fundada em 1953 por Paulo machado de Carvalho e símbolo de modernidade em comunicações, a TV Record foi pioneira na organização e transmissão de torneios colegiais. Em um dos jogos, o São Luís bateu o Paes Leme por 3 a 1. A vitória foi noticiada pelo jornal Gazeta Esportiva. O resultado da partida seguinte, contra o Rio Branco, no dia 16 de outubro, deve ter sido favorável ao Colégio jesuíta, já que no campeonato de 1956, quando o São Luís bateu por 4 a 3 o Álvares Penteado, uma crônica assinada pelo jogador Carvalhal, informava: “Esta partida nos lembra o nosso esquadrão do ano passado quando nos

sagramos campeões colegiais. Colega amigo, precisamos de sua ajuda, para conseguir o bicampeonato” (Revista São Luís, março-abril de 1956). O ex-aluno Geraldo Leal de moraes lembra: “Naquela época, em que começava a televisão, muitos dos jogos eram televisionados pela Record com patrocínio da 7uP” (e-mail de 25.9.2013). E completa: “Com certeza, foi a melhor época da minha vida e ela se reflete até hoje no que sou”. memórias que traduzem a importância do período escolar na formação, e, no futuro, de cada aluno e revelam aspectos da dinâmica que o Colégio São Luís engendrou para atender às necessidades de seu próprio crescimento, de sua modernização.


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Modernizando os espaços para esportes E RA O tEMPO DOS BONDES. E O EX-ALuNO

Geraldo Leal de Moraes estava lá: “Eu ia de bonde do jardim Paulistano e tínhamos um guarda civil, sr. Alexandre, que ajudava na entrada da Av. Paulista. Parecia um inglês” (e-mail de 25.9.2013).

Mas o ritmo começava a mudar na passagem dos anos 50 para os 60. A exigência de modernidade atingia os diferentes setores. Foi justamente nessa época, meados da década de 1950, que o Colégio São Luís inaugurou a nova quadra de vôlei e basquete, embrião do que seria o futuro Ginásio de Esportes, cuja construção se iniciou em 1964, ficando concluída em 1967, para comemorar o centenário do Colégio e possivelmente o primeiro passo para a Casa da Cultura e dos Esportes do Colégio São Luís. No final dos anos 50 aconteceram as acirradas disputas do Quadrangular Centenário, em comemoração aos 100 anos do Colégio Arquidiocesano. Entre as partidas, memorável a vitória do São Luís por 3 a 1 contra o Colégio São Bento. Os alunos não se destacavam apenas no futebol. Carlos Milani, do 3o científico, foi um dos exemplos: venceu a prova dos 1.000 metros rasos e do revezamento no Campeonato Paulista de Aspirantes. As vitórias empolgavam os jovens, como aquela que aconteceu em abril de 1958, quando os alunos do científico venceram por 6 a 4 a equipe de professores. E os familiares, satisfeitos com os métodos adotados pelos jesuítas, participavam ativamente da vida estudantil. Inúmeras obras que resultaram em melhorias para a prática esportiva, como o novo placar acústico e a iluminação dos pátios e campos, contaram com a colaboração daquela que os estudantes nomeavam em suas crônicas como a


generosidade paulista. É com muito humor que os alunos contam a felicidade que sentiram ao verem “[...] nossos bravos empregados e os Padres Brandão e Solha carregando nos braços os postes ao som de... um... dois...três, força.” (Revista São Luís, junho-julho de 1958). Os modernos refletores, com belo acabamento, vidro resistente e espelho interno, puderam ser acesos com a ajuda de vários colaboradores, como o dr. Menin, presidente da Associação de Pais e Alunos; o dr. Carlos Augusto Monteiro da Silva, ex-aluno, que enviou inúmeros e imprescindíveis componentes; entre outros participantes. No final de uma nota no informativo, o Colégio São Luís avisa aos alunos: “[...] desta vez, os professores bem mais e melhor iluminados vencerão!” (Revista São Luís, junho-julho de 1958). Quadras novas e iluminação. Estava tudo completo? Não, faltava algo, um placar para, como informa a Revista São Luís,

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81 Charge “Tiro certeiro”. Revista São Luís, abril de 1959. “Homenagem aos valorosos defensores do futebol colegial”. Revista São Luís, março de 1960. Correndo atrás da bola, 1960. Pingue-pongue, bate-papo. Cesta! 1960.


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“[...] ilustrar as nossas partidas domingueiras, para tipografar imediatamente todos os gols inteligentemente construídos pelas arrancadas vigorosas de nossas linhas” (Revista São Luís, agosto de 1958). Foi preciso novamente a generosidade paulista entrar em campo. Os jogos entre professores e alunos com entrada paga contaram com estádio lotado e boa arrecadação. O professor engenheiro Vasco B. da Costa foi incansável. Depois, veio a comemoração: “Não é bonito ler aquele rol de oito a dois com que a seleção colegial esmagou o Inter do Dante Allighieri?” (Revista São Luís, agosto de 1958).

“A primeira série festeja os 16 x 1”. Revista São Luís, maio de 1959. O velho placar (Revista São Luís, agosto de 1958), e o novo. Com os campos iluminados, começam os jogos noturnos, 1959. Disputa de bola.

Outros esportes também receberiam equipamentos, como os novos galpões para o pingue-pongue. Na Festa Olímpica de 1959 as competições de corrida de bicicletas, provas dos 50 metros, cabo de guerra, salto em altura, handebol, salto em extensão e prova de velocidade empolgaram o público. Mas era o futebol que alimentava as brincadeiras entre os alunos. Como aquela em que a 2a série perdeu de 16 a 1 para a 1a série. Nas explicações sobre a derrota, os maiores citam a caridade diante dos pequenos. As comparações com os jogadores profissionais eram inevitáveis. A vitória do São Luís por 4 a 1 sobre o Colégio Pasteur levou o aluno Arynelson, 1o científico, a escrever em sua crônica que nessa partida: “o jogador Marco fez um gol tipo Pelé, virando da entrada da área para o véu do arqueiro Pasteuriano” (Revista São Luís, maio de 1959).


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“Grupo de alunos da primeira série com o seu vigilante, sr. Palmer”. Anuário São Luís 1970. “Professores – Timão 1971”. Anuário São Luís 1971.


UM

JOVEM TALENTO COMEçAVA O SEu reinado. Era o ano de 1960, e Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, já era um ícone no futebol. Em entrevista publicada na Revista São Luís, o pai dele, Dondinho, revela: “O apelido Pelé é abreviatura de rei das peladas, que o tornou conhecido em Bauru, cidade onde morava na época” (Revista São Luís, agosto de 1961). A entrevista era uma entre tantas outras expectativas dos alunos, como a viagem para Santos, descrita por Fernando Gomes Schermann, da 3a série, para peleja contra o Colégio Santista, dos Irmãos Maristas. Ele escreve: “Domingo, dia 7 de maio, 16 alunos da terceira série, entre eles a primeira seleção deixava a capital às 6h. Íamos animados a jogar e a vencer [...] a sorte porém não nos sorriu, mais uma vez, pois o resultado foi favorável aos santistas” (Revista São Luís, junho de 1961). A década estava apenas começando quando, um ano antes, em 1960, aconteceu o I Campeonato Intercolégios Católicos da Capital, promovido pelo Arquidiocesano. O resultado foi animador para o São Luís: venceu o Arquidiocesano por 9 a 2, sagrando-se vice-campeão no futebol. E mais vice: no basquete e no voleibol (Revista São Luís, novembro de 1960). O sucesso permeava diferentes modalidades. O aluno Edson Ramadas Cleto, da 1a série, foi classificado em 2o lugar no X Campeonato Nacional Infanto-juvenil de Tênis. E Paulo de Lima, do 3o científico, integrou a Seleção Paulista de Basquete,

campeã brasileira juvenil de 1961 (Revista São Luís, setembro de 1960). Nesse período, várias modalidades esportivas eram praticadas, mas se destacavam o futebol de campo, o de salão, o basquete, o vôlei – jogos de quadra que permitiam aos alunos a disputa com outros colégios, fora do São Luís – e o pingue-pongue. O Brasil conquistava o bicampeonato mundial de futebol, em 1962. O País passou a conviver com a ditadura nos anos que se seguiram ao golpe militar de 1964. Nesse período, esse evento se refletia no Colégio São Luís, de certo modo, em uma ótica de disciplina rigorosa na prática das modalidades, especialmente o futebol. Nesse cenário, o nome de um professor é lembrado com carinho até hoje: Waldete Baptista Alexandrino, conhecido como Palmer, antigo auxiliar técnico do Corinthians. Durão e disciplinador, trouxe novo impulso e orientação técnica ao futebol. Revolucionou a prática do futebol no Colégio: treinou alunos, selecionou integrantes das equipes e, ainda, foi árbitro das partidas no horário do recreio e aos sábados. Em frente às portas do ginásio, apitava o fim do recreio e acenava para os alunos subirem... A vinda de Palmer para o Colégio, um dos primeiros profissionais especializados a ser contratado para orientar a prática do futebol, era reflexo do investimento no esporte mais popular do São Luís. Conforme declaração do professor Luís Antonio Fleury Guedes, atual assessor de Esportes do São Luís, “o senhor Palmer viveu a vida do colégio por muitos anos, até o dia de seu falecimento em 1977”. E qual o motivo para ser chamado de “Palmer”? Ele ganhou o apelido “[...] nos tempos de colégio devido ao nome do paletó que usava: Palm Beach”

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Disciplina Palmer e ginásio coberto

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“O postal do São Luís”. Anuário São Luís 1972. “Judô São Luís”. Anuário São Luís 1969. Futebol dos alunos do 1o Colegial, 1971. Ilustração da então futura sede do Colégio São Luís. Anuário São Luís 1968.

(http://100xcorinthians.blogspot.com. br/2011/03/grandes-idolos-palmer.html) O fato mais marcante no período foi, sem dúvida, a inauguração do Ginásio de Esportes. Com projeto aprovado em 27 de outubro de 1964, foi inaugurado em 13 de maio de 1967, integrando as comemorações do Centenário do Colégio São Luís. Foram dois dias de festividades. O professor Gilberto Lopes Teixeira, coordenador do Centro de Memória do Colégio, comenta que, pelos registros da época, o ginásio não estava totalmente concluído: faltava a colocação dos tacos. Mas isso não impediu uma festa inesquecível. Entre as novas modalidades que passaram a fazer parte dos esportes oferecidos aos alunos estava o judô. Por fotos publicadas em anuário do Colégio, pode-se inferir que o judô já era praticado no São Luís desde, pelo menos, 1968. Em meados dos anos 60 o Colégio vivia intensamente uma reforma que traria mudanças significativas para alunos e toda a comunidade escolar: a inauguração da piscina e do prédio da rua Bela Cintra – no qual hoje se encontra o Ensino Fundamental e o Médio. A então moderna piscina “[...] está localizada dentro de um completo conjunto poliesportivo, com as seguintes características: 25m de comprimento, por 12,5m de largura. É toda revestida de azulejos e iluminada internamente [e] está suspensa sobre quatro pilares” (Revista São Luís, São Luís 70, 1968). O primeiro salto nas águas da piscina coube à campeã olímpica brasileira e sul-americana de 1947, Maria Angelica Dal Secco, mãe de dois alunos do

São Luís. “Que nas águas dessa piscina se aperfeiçoe nosso corpo, como, nas águas do batismo, se fortificou nosso espírito”, escreveu o aluno Ruy Sérgio Rebello Pinho, do 3o clássico (Revista São Luís, São Luís 70, 1968). Entre as várias competições, destacavam-se os jogos cujos adversários clássicos no futebol, como Mackenzie, Dante Alighieri e Colégio São Bento, eram motivo ora de vitórias tomadas como grandes conquistas, especialmente no campo adversário, ora de derrotas quase trágicas, quando o São Luís tinha mando de campo. Porém, constantemente nas revistas do Colégio, cada integrante da equipe merecia uma citação de destaque nas matérias sobre os jogos. Em sintonia com as questões de seu tempo, em outubro de 1963 os jogos extras “[...] foram realizados quase todos de dia devido ao racionamento de energia elétrica” (Revista São Luís, Suplemento de 1963). Durante um século de existência, todos os esportes do Colégio eram praticados exclusivamente pelos meninos. Afinal, o Colégio manteve-se exclusivo para eles desde 1867. Porém, no início dos anos 70, em importante momento de alinhamento com transformações sociais em diferentes pontos do planeta, o São Luís renovava-se, adaptando-se a uma nova realidade: passava a receber meninas.


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Meninas entram em campo

T RICAMPEãO: O BRASIL CONQuIStA A COPA

do Mundo de 1970 no México, que serviu não só para enaltecer as qualidades e a arte do futebol brasileiro, mas também para valorizar as práticas esportivas. O professor Guedes comenta: “A vitória foi decisiva para o reconhecimento da educação física. Houve um verdadeiro boom com a abertura de inúmeras faculdades, antes raridade no País”. Enquanto decisões no âmbito federal reorganizavam as perspectivas para a educação física no País, no Colégio São Luís, durante os anos 1970, a construção do prédio da rua Bela Cintra interferiu no dia a dia da comunidade. Relata o prof. Gilberto Lopes teixeira que “no entanto, a parte privilegiada da prática dos esportes, que era o areão (um amplo espaço aberto destinado aos esportes – especialmente ao futebol), não foi interditada, e continuou sendo utilizada para a prática esportiva, além do ginásio

com suas quadras, que também estava disponível”, Por esse período, o São Luís preparava outra revolução: a entrada das meninas a partir de 1972 e as inúmeras mudanças para adaptar o Colégio. Houve necessidade, por exemplo, de reformar e separar os banheiros. O processo foi lento – no primeiro ano, dos 1.678 alunos matriculados, 85 eram garotas – mas definitivo para inserir o Colégio em outro patamar de sua história. De certo modo, essa mudança estava em sintonia com uma época de questionamentos da juventude e de vários setores da sociedade sobre temas sociais e políticos do País. A professora Rita de Cássia teixeira conta que para as alunas a educação física era ministrada uma vez na semana. tinha como única atividade a calistenia, com uma série de exercícios físicos. “A equipe feminina que pela primeira vez representou o colégio em uma competição foi a do basquete, somente em 1979, sob o comando da professora Regina Maria Aguiar.


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Grupo das primeiras meninas a entrar no Colégio, em 1972. Capa da Revista São Luís, 1972.


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Durante 26 anos sagrou-se campeã em quase todos os campeonatos, incentivando assim que as demais modalidades femininas iniciassem seu percurso”. Para alunas e alunos, nos campos e quadras do Colégio, o alinhamento e a empolgação com os esportes eram visíveis, como descreveu, em 1978, o aluno Milton Paulo de Carvalho Filho: “A prática do esporte no São Luís começa cedo. No momento da matrícula você já se sente motivado a ser um grande esportista. Muitas modalidades o atraem: os jogos Olímpicos (competição interna); as disputas, em várias modalidades, com outros colégios ou associações; as partidas entre professores, padres e alunos, além de um certame anual, promovido pela prefeitura, do qual o Colégio sempre participa. E o aluno, de qualquer idade ou ano, sente-se à vontade para escolher a atividade que lhe convém, podendo, assim, melhor se integrar no sadio ambiente do São Luís, graças à facilidade de relacionamento proporcionada pelo esporte”.

E complementa: “As meninas têm igual oportunidade, e é grande e entusiástico o número de nossas colegas esportistas” (Anuário São Luís 1978). Para comemoração das entusiastas meninas que queriam jogar futebol, em janeiro de 1983, o Conselho Nacional de Desporto liberou a prática do futebol e do futsal para as mulheres no Brasil.

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91 Equipe feminina, 1985. Equipe feminina. Anuário São Luís 1979. Preparando-se para a largada. Anuário São Luís 1979. Futebol e pátio: inseparáveis. Anuário São Luís 1979. Meninas recebem medalhas. Anuário São Luís 1979. Meninos jogando vôlei. Anuário São Luís 1973. Alunos no recreio. Anuário São Luís 1973.


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Novas oportunidades para competir e Jogos Interamizade A S DÉCADAS DE 70 E 80 FORAM PERÍODOS DE GRANDES TRANSFORMAÇÕES não só para o Colégio São Luís, com seu novo prédio, ginásio de esportes e piscina, mas também para São Paulo, com a implantação da primeira linha do transporte coletivo subterrâneo, o metrô, em 1974, que cortou a cidade de norte a sul. O mundo, ao se inserir na era da tecnologia, da informática e da moderna medicina, comprovava cada vez mais o acerto no estímulo à prática esportiva para a manutenção e conquista de corpo e mente sãos. Segundo o professor Guedes, Rui Barbosa dizia que se tivesse participado de atividades físicas ao ar livre, o seu intelecto teria se desenvolvido melhor. Assim, o contínuo investimento do Colégio na prática de esportes era uma decisão correta. Ele lembra que o primeiro técnico do São Luís foi o bicampeão mundial de basquete de 1969, Wlamir Marques: “Anos depois eu o substituí e fiquei como técnico de futebol e futsal”. Para o professor Guedes, um evento marcante dos anos 80 foi a preliminar de um jogo entre Corinthians e Santos, que o São Luís disputou contra o Rio Branco. Nesse dia, o estádio do Morumbi estava lotado. “Os 11 titulares e 5 reservas lotaram uma Kombi, e assim fomos para o Morumbi. O jogo apertadíssimo terminou com empate. Houve cobrança de pênaltis. Os dois últimos pênaltis precisavam ser cobrados. O Rio Branco vai e faz. O último jogador convocado do São Luís suava... eu chego para ele e digo respira fundo e chuta. Ele vai, arranca um tufo de grama do campo e não faz. Perdemos o jogo”. Mas, em compensação, o professor lembra que em outra preliminar, também de um jogo entre Corinthians e Santos no mesmo Morumbi, o São Luís venceu do Dante Alighieri por 3 a 1. “O futebol era o dia a dia do Colégio. Os alunos respiravam esportes. Nós tínhamos uma estrutura chamada Pilotis que ficava cerca de três metros de altura acima do campo. Como andorinhas no fio, centenas de crianças se acotovelavam para ver os clássicos do recreio”. Entre os inúmeros campeonatos disputados nas diferentes modalidades, o professor Guedes relembra:

Autógrafo de Pelé aos alunos do Colégio São Luís. Anuário São Luís 1989.


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94 “No início dos anos 80, havia o Torneio Jovem Pan Kibon de Natação. Lá estava o São Luís, assim como nas Olimpíadas Infanto-juvenis da Cidade de São Paulo, promovidas pela Prefeitura. Nessa Olimpíada, também dos anos 80, teve um jogo emocionante contra o Colégio Bilac, em que o São Luís estava perdendo de 2 a 0. Nós viramos o placar para 3 a 2 e eles caíram em cima. Resultado: perdemos de 4 a 3. Mas foi um belo jogo”. O professor Guedes fala das inúmeras viagens e excursões realizadas por grupos de alunos. “Desde os anos 70 e até hoje, os alunos realizam excursões para um campão gramado no km 26 da Rodovia Anhanguera. É uma construção no estilo de convento onde são realizadas atividades lúdicas e intelectuais, como forma de preparar o jovem para sua vida futura”. Os alunos também foram outros estados e países: Estados Unidos, Japão, Suécia, Dinamarca, Finlândia, Noruega, Áustria, Dinamarca, Suécia (Apêndice 4). Eventos marcantes são inerentes à história dos esportes do São Luís. Nas festividades do dia 28 de março de 1985, para inauguração do campo de futebol do prédio da Bela Cintra, vários jogos foram realizados com times formados por alunos, desde o curso fundamental até a 3a série do ensino médio. Entre os inúmeros eventos esportivos e competições criados pelo Colégio, dois teriam especial destaque, constituindo marcas históricas do São Luís e revelando tamanho vigor que ainda estão presentes no calendário esportivo da escola. Em 1986 ocorreu o primeiro Torneio Jesuíta (ou Jogos Jesuítas), competição que também passaria a se tornar tradicional no Colégio. Nos jogos do ano seguinte estiveram o Anchieta, de Nova Friburgo (RJ), o Jesuítas, de Juiz de Fora (MG), o São Francisco Xavier (SP) e o Colégio São Luís (SP).


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Se os Jogos Jesuítas deram início a uma longeva competição, perdurando até a atualidade, integrando colégios de diferentes estados, criou-se, em seguida, aquela que se tornaria a competição mais representativa do Colégio: os Jogos Interamizade. Desde sua criação em 1987, com nova versão a cada ano, vem proporcionando aos alunos dos grandes colégios de São Paulo uma oportunidade de encontro, incentivados pela competição e pelo coleguismo. Na primeira edição dos Jogos estiveram, além do São Luís, o Anglo Latino, o São Francisco Xavier, o Santo Américo, o Arquidiocesano e a Polícia Militar. Novos participantes são convidados para a segunda edição: Quarup, Miguel de Cervantes, Mackenzie, Magno, Teresiano e Emily de Villeneuve. Na esteira dos Jogos Interamizade, novas modalidades são agregadas às rotinas esportivas do São Luís.

Equipe feminina de futsal do curso noturno. Anuário São Luís 1987. Esportes no recreio. Anuário São Luís 1985. Natação no Interamizade. Anuário São Luís 1990. Premiação do recreio Recreio Dirigido. Anuário São Luís, 1990. Pe. Paiva S. J. abençoa o campo antes do primeiro jogo. Anuário São Luís, 1985.


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Tênis, chuteiras, sapatilhas A

déCada dE 1990 iRia REvELaR um nOvO desenho nas relações políticas, locais e internacionais, e mostrar importantes passos da tecnologia para um desenho futuro do mundo. do tricampeonato, em 1991, ao acidente fatal, em 1994, o Brasil forja um dos seus maiores ídolos: ayrton Senna. nesse mesmo ano, a seleção brasileira conquista a Copa do mundo de Futebol nos Estados unidos. Em função do impeachment do presidente Fernando Collor, em 1992, assume o vice-presidente itamar Franco. ainda em 1992 ocorre a ECO 92 – encontro mundial para o meio ambiente. O Plano Real é instituído em 1994, visando diminuir e controlar a inflação. Fernando Henrique é eleito presidente em 1994. a tecnologia mostra um pouco mais como será o futuro, com o lançamento, pela microsoft em 1995, do sistema operacional Windows 95 e, em 1998, com a fundação da empresa Google. dolly, a ovelha, é o primeiro mamífero a passar por um processo de clonagem em 1995. Forças armadas norte-americanas invadem o iraque, em 1991, iniciando-se a Guerra do Golfo, ano também em que a uRSS (união das Repúblicas Socialistas Soviéticas) deixa de existir. nelson mandela, líder negro sul-africano na luta contra o apartheid, é liberto em 1990, após 27 anos de prisão, vindo a tornar-se, em 1994, o primeiro presidente negro da África do Sul. O euro passa a ser a nova moeda da união Europeia em 1999.

Simultaneamente a esse cenário internacional, no ambiente esportivo do São Luís as movimentações e os novos desafios se sucediam. E como estavam os esportes no início da década no Colégio? “Além dos campeonatos de rotina nos recreios, os treinos nas diversas modalidades esportivas após as aulas, houve também os campeonatos com participação de outros colégios, como Interamizade, Oliarqui e outros. Desde a pré-escola, com a recreação dirigida, até o 2o grau, o Colégio São Luís oferece essa oportunidade tão importante para a formação integral e relacionamento” (anuário São Luís 1990). A década, que havia começado com a inauguração do prédio de vidro da rua Bela Cintra, traria novidades. Entre elas, mais uma conquista para a luta feminina, que tantos pontos marcou no século que se encerrava: o futebol para as meninas do São Luís. O professor Guedes conta que o esporte começou a ser praticado sob a orientação da professora Paula Viotti Bastos nos anos 90. “Antes disso, muitas alunas já pediam para jogar futebol, gostavam do esporte e queriam participar. Mas, naquela época, era considerado um esporte essencialmente masculino”. A professora Paula relata a alegria que sentiu quando, em 1991, o coordenador de Esportes do São Luís, prof. Paulinho, lançou a ideia de criar o futsal feminino para o ano seguinte: “Ele sabia da minha paixão pelo futebol. Em 1992 os treinos


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Prof. “tio Guedes”, o reitor Pe. Guy e a alegria das crianças, 1998. Vista aérea da quadra. Equipe de professores de educação física. Anuário São Luís 1992-2000.


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98 Atletas dos Jogos Jesuítas. Boletim Informativo Colégio São Luís, setembro de 1998. Prof. Guedes com equipe, posando de campeões, antes do jogo começar. Voleibol feminino, Jogos Interamizade de 1998. Anuário São Luís 1992-2000. Caravana de atletas dos Jogos Jesuítas de 1996.

começaram a acontecer nas quadras onde hoje se localiza o prédio São Luís Gonzaga, que chamávamos de ralarala, por serem de cimento. Iniciamos com as meninas da 5a série ao colegial, com as categorias mini, mirim, infantil e juvenil. Com essas primeiras equipes fomos às Olimpíadas do Colégio Arquidiocesano. Vários campeonatos foram disputados ao longo dos anos seguintes e em 1996 o futsal feminino foi pela primeira vez aos Jogos Jesuítas em Santa Rita”. Ela relata que no começo havia muito preconceito. “Educadores, pais e mães diziam que meninas não haviam sido feitas para jogar futebol”. Assim, a primeira vitória foi, simplesmente, terem conseguido reunir alunas interessadas no futebol, formado equipes e instituído a nova prática dentro do Colégio. Os anos seguintes, no entanto, comprovaram o talento feminino para o esporte. A professora Paula lembra várias histórias de alunas que nasceram com o dom de jogar bola. Entre as que se destacaram ela cita Carolina Borges, “a nossa Ninu!”. E mais: “[...] muitas meninas se tornaram grandes fixas, alas, pivôs e goleiras. E a melhor goleira nesses 21 anos se fez assim: tomou 13 gols no primeiro campeonato de sua vida, lá no Colégio Assunção, e pensou em desistir. E, para alegria de todos, a nossa Ju 40 (Juliana Quarenta) seguiu fechando o

gol! Ela é o meu exemplo de jogadora para aquelas meninas que chegam sem saber nada e vêm treinar porque gostam de futebol”. Tênis, chuteiras e sapatilhas. O São Luís sempre procurou incentivar as diferentes modalidades esportivas e o aprendizado cultural. Foi assim que em junho de 1998 a dança esteve em alta. A bailarina Olga Mitna, do Ballet Bolshoi, de Moscou, veio ao Brasil, onde selecionou algumas academias para dar aulas. um dos lugares escolhidos foi a academia instalada no São Luís. Os alunos do Colégio, que já contavam com os ensinamentos do professor bailarino Roberto Augusto Rocioli, ex-integrante do Bolshoi, puderam receber dicas da representante da mundialmente famosa companhia de dança. Esses dois últimos anos antes da virada do século também trouxeram uma virada para o São Luís. O Colégio faturou 17 medalhas de ouro, 11 de prata e 5 de bronze nos Jogos Interamizade, conforme notícia do Boletim informativo Colégio São Luís, de junho de 98. A pontuação foi significativa, pois em 97 o Colégio havia ficado só com 4 “ouros”. A comemoração foi especial para as meninas do vôlei. “Elas perseguem esse título desde a 5a série, quando a equipe se formou. Este ano, no 3o colegial conseguiram chegar lá. A vitória foi uma festa bonita de se ver”. Findo o século XX, que caminhos trilharia o Colégio São Luís no início do terceiro milênio, em direção aos 150 anos?


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A grande copa da vida OS

anoS iniciaiS do terceiro milênio foram prenúncios de tempos difíceis para inúmeros países em diversos continentes. as torres gêmeas do World trade center, em nova York, são destruídas, em setembro de 2001, por ataques de dois aviões sequestrados por terroristas. torna-se visível a ascensão de uma superpotência, a china, em 2008, ano em que Barack obama é eleito presidente nos estados unidos e Fidel castro entrega o cargo ao seu irmão, raul. ano também de crise financeira, que teve um impacto global. morre michael Jackson em 2009. revolta popular no egito – a Primavera Árabe –, em 2012. nesse ano, a crise econômica se torna dramática na europa. o Brasil conquista o pentacampeonato da copa do mundo Fifa de 2002. luiz inácio lula da Silva é eleito em 2002 para a presidência do Brasil. em 2005, ocorre o escândalo do mensalão, e, em 2012, o julgamento dos envolvidos. Primeiro astronauta brasileiro vai ao espaço, em missão de 2006. manifestações populares por mudanças sociais, melhorias nos serviços públicos e combate à corrupção política do País levam milhares de pessoas às ruas em diferentes capitais em 2013. Fenômenos climáticos (aquecimento, tempestades, tsunamis, como no Japão, furacões e terremotos, como no Haiti) afetam diversos países do mundo. mas houve conquistas também: é concluído o Projeto Genoma Humano, com 99% do dna sequenciado, em 2003, mesmo ano em que o Facemash, antecessor do Facebook, é lançado.

Rapidez e conectividade. Microcomputadores, celulares e Internet já estavam presentes na última década do século XX. O terceiro milênio trouxe mais: o instantâneo, o imediato, o milésimo de segundo. Conquistas do conhecimento acumulado pela humanidade em sua longa trajetória, fazendo girar a roda da história em um movimento primordial para que a vida se renove sempre. Movimento, essência da prática esportiva. O padre Guy Ruffier, diretor-geral do Colégio São Luís no ano de 2002, traduz essa essência em palavras: “Os esportes e a educação física têm uma finalidade educativa. Servem para superar os próprios limites, para desenvolver as capacidades pessoais, para aprender a dominar os impulsos de raiva e desequilíbrio emocional, para saber conquistar seus próprios direitos com calma e firmeza e conviver com colegas, mesmo no fervor da alta adrenalina. A vida toda é uma copa, não nos restrinjamos a ganhar quatro ou cinco copas, e sim almejemos ganhar a grande copa da vida. Que Deus nos ajude a ganhar a grande copa da vida” (Boletim informativo colégio São luís, maio de 2002). E assim, com base no tradicional e, ao mesmo tempo, inovador projeto educacional dos jesuítas, ao longo de quase um século e meio, o Colégio São Luís ajudou a formar personalidades que se destacaram nas variadas áreas do conhecimento. Respeitáveis profissionais nasceram nas salas de aula e se desenvolveram nos jogos do recreio, nos campos e quadras, nas diferentes modalidades esportivas.


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Escolinha de Esportes. Basquete masculino nos Jogos Interamizade. Pilotis, n. 22. Xeque? Ginástica de solo com bambolê. Anuário São Luís 2008-2009. Futsal feminino nos Jogos Interamizade. Pilotis, n. 22. Sacada para o céu? Anuário São Luís 2012.


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102 Medalhas para o prof. Rioti Uchida. Boletim Informativo Colégio São Luís, agosto de 2001. Prof. Rioti ensinando sua arte. Boletim Informativo Colégio São Luís, agosto de 2001. Muitas equipes e muitas vitórias.

CONQUISTANDO PRÊMIOS MUNDO AFORA No início do século XXI, o São Luís se destacava em inúmeras atividades esportivas, incluindo futebol, basquete, futsal, handebol e natação. Mas não só. Professores e alunos praticantes de diferentes modalidades ganhavam torneios mundo afora. É o caso do professor de judô Rioti Uchida, que arrebatou seis medalhas, sendo duas de ouro, no 3o Mundial Master de Judô, em Scottsdale, Phoenix, Arizona (Boletim informativo São colégio luís, agosto de 2001). E da aluna Gabriela Scaff Haddad Bartos, da 4a série, que participou de torneios de tênis da cidade, sagrando-se vice-campeã da Copa Federação Paulista de Tênis e campeã do Campeonato Aberto de Tênis Mário Covas (Boletim informativo colégio São luís, novembro de 2001). Outra aluna, também destaque no período, foi Mirela Vardaro de Almeida, da 4a série, que ganhou a 5a Taça Pão de Açúcar de Triatlon, realizada na USP no dia 16 de setembro de 2001. Ela nadou 300 metros, pedalou dez quilômetros e correu outros dois. Agilidade do corpo, agilidade da mente. Uma modalidade que também ganhava adeptos no São Luís era o jogo de xadrez. Em outubro de 2000 aconteceu o Primeiro Campeonato Interno de Xadrez. O aluno Nicholas Magnus venceu o torneio. Mas, como queria continuar jogando, avisou que estava aceitando desafiadores... (Boletim informativo colégio São luís, outubro de 2000). Em 2004, os alunos do São Luís participaram de uma competição externa. Dos tabuleiros para a leveza da ginástica olímpica. Marília Carreira, aluna da 2a série do EM, que começou a treinar aos 4 anos e aos 8 já participava de competições, se dizia empolgada. Para atingir o melhor desempenho treinava cinco horas diárias nas barras paralelas, salto e solo. A mesma dedicação ao

esporte acontecia com Victor Naves e Pedro Pallota, alunos da 2a série do EM. Victor, nadador, também treinava cinco horas por dia; e Pedro, incansável nos preparativos, se destacava nos torneios de salto com vara (Pilotis, agosto-setembro de 2007). A diversidade incluía variações de esportes tradicionais. Assim, em novembro de 2000 aconteceu o I Torneio UPE – Unidos pelo Esporte, que congregava alunos do curso noturno e do Grêmio Estudantil. Juntos, organizaram o 1o Torneio de Streetball (Boletim informativo colégio São luís, novembro de 2000). Na linha dos esportes não tão populares, o São Luís também abriu espaço nas aulas de educação física para badminton, beisebol, flag, taco e golbol. Este último, que utiliza uma bola com guizo para possibilitar a prática por deficientes visuais, e o vôlei sentado, criado para portadores de dificuldades motoras, eram ensinados no São Luís para que os alunos vivenciassem a realidade da prática de esportes paralímpicos (Pilotis, outubro de 2012). Mais do que a oportunidade de vencer uma partida ou campeonato, os jogos propiciaram, ao longo das décadas, e continuam propiciando, neste terceiro milênio, o crescimento individual e coletivo de crianças e adolescentes. Como disse o aluno Victor Naves, “o esporte faz você amadurecer e criar um sentimento de coletivo, de trabalho em equipe, respeito ao próximo e consciência do próprio corpo” (Pilotis, agosto e setembro de 2007). O entusiasmo é tamanho que, mesmo depois de receberem seus diplomas, os alunos não abandonam o São Luís, retornando sempre para participar de jogos, competições e dividir emoções e alegrias dentro e fora das quadras.


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O eterno retorno T ANTO

NO âMBITO MUNDIAL, CUJA dinâmica muitas vezes parece um jogo, quanto na prática dos esportes, cujo objetivo vai além do resultado final, sempre há uma expectativa de que tudo possa ser diferente na situação seguinte, seja para reverter ou aprimorar desempenhos. Quem perder pode vencer o próximo e, com isso, aprender a driblar momentos difíceis, a comemorar as alegrias e vitórias e fortalecer relacionamentos. Afinal, quem passou a infância e a adolescência em uma movimentada e saudável rotina de aulas e jogos, Recreios Dirigidos (destinados às turmas do infantil até a 4a série do fundamental) e Torneios Colegiais, Festivais e Jogos Interamizade (em 2013, comemorando sua 23a edição; e X Jogos do Ensino Médio Noturno), Jogos Intercolegiais Jesuítas (22a edição em 2013) – além da participação em inúmeros torneios realizados por outras escolas –, sabe o valor de cada esforço e conhece a recompensa pela atuação responsável, individual e coletiva. E torcidas, que faziam e fazem o recreio – e outras ocasiões e locais –, pegar fogo! Todos experimentando momentos inesquecíveis. E é exatamente por isso que eles sempre voltam. Sempre voltaram. Tanto que, em 1926, ex-alunos fundaram a Asia – Associação dos Antigos Alunos dos Padres Jesuítas de modo a integrar antigos alunos

e manter efetivos vínculos com o Colégio. De modo a ter uma participação mais efetiva nos esportes, são aprovados, em 1944, os estatutos da Juventa, órgão de ex-alunos da Companhia de Jesus, com atuação constante até a década de 1950, especialmente em jogos de futebol. Grandes talentos, revelados nos anos posteriores, fizeram parte do conselho diretor da Juventa, como Paulo Machado de Carvalho, empresário da comunicação e chefe das delegações brasileiras nas copas de 1958 (Suécia) e 1962 (Chile), além de incentivador da participação do Colégio São Luís no I Torneio de Futebol TV Record. Esse vínculo ativo estendeu-se à participação de gerações de veteranos em competições do São Luís. Esse retorno, que se renova ao longo da trajetória histórica do Colégio, revela a permanência da ligação entre comunidades do São Luís e as iniciativas do Colégio que acolhem e estimulam essa convivência intergeracional.


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Mesa-redonda São Luís na Copa. Pilotis, ed. 16, ago.-set./2010. Primeiro time do Juventa. Revista São Luís, abril de 1947.


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Assim, mesmo depois de concluída a fase estudantil, os ex-alunos continuam frequentando o espaço do Colégio. Com habilidade, eles demonstram que não esqueceram as lições: “Aqueles que acham que a categoria, a técnica esportiva e a vontade de vencer esmorecem com o tempo, certamente não presenciaram o último torneio de veteranos realizado no final do ano passado. Talvez o preparo físico de nossos atletas tenha sofrido alguma ação do tempo, mas nada que ofuscasse o brilho das pelejas” (Boletim Informativo Colégio São Luís, fevereiro de 2000). “Estudei no São Luís por 7 anos, ginásio e colegial. [...] Hoje lembro com carinho dos colegas e mesmo quando fico anos sem ver algum excolega, ao encontrá-lo o sentimento é curioso [...]. Acho que são amigos feitos para sempre” (José Roberto Sadek, formado em 1972, ex-secretário adjunto da Secretaria de Cultura da Prefeitura de São Paulo). “E, claro, o ponto forte era o recreio, em que saíamos que nem um estouro de boiada para chegar primeiro nas quadras e formar os times; quem chegava primeiro jogava; quem se atrasava, tchau. [...] Outra coisa sensacional foi o dia em que fizemos o exame para entrar no colégio. Eram uns 500 candidatos. Os padres deram uma bola e jogou todo mundo (já

imaginou isso? 500 atrás de uma pelota?)” (Theodoro Peters, formado em 1972, consultor em marketing e vendas). “Lembro-me com emoção dos primeiros dias no São Luís. Assustavame o tamanho do colégio e o enorme espaço dos campos de futebol [...]. A lista dos que me influenciaram é interminável e inclui o velho Palmer, um paizão para todos nós [...]. No São Luís vivi feliz, envolvido com os estudos, com o futebol, com a religiosidade, com a OAF” (dr. Raul Cutait, médico formado pela USP, atualmente cirurgião do Hospital Sírio-Libanês, estudou no São Luís de 1961 a 1965). “É impossível não lembrar das recreações do tio Guedes, dos torneios Interamizade, das festas juninas [...] do futebol no recreio, da piscina, do campo de areia [...]” (Luís Artur de Barros Nogueira, jornalista da Rádio Bandeirantes, estudou no São Luís de 1983 a 1995). Alegria e entusiasmo nas viagens, nos jogos e no dia a dia do Colégio. No ano da Copa do Mundo de 2010, antes do desfecho do campeonato que seria arrebatado pela seleção da Espanha, o Colégio São Luís promoveu uma mesa-redonda com os dirigentes dos principais times paulistas, todos antigos alunos do Colégio, para debater futebol, educação e Copa do Mundo. Estavam todos em casa, o diretor-geral do Colégio


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São Luís, pe. Fuentes, o vice-presidente da Asia, dr. Luiz Perissé, e os ex-alunos dr. José Carlos Ferreira Alves e dr. João Paulo de Jesus Lopes, diretores do São Paulo Futebol Clube, dr. Orlando Cordeiro de Barros, ex-vice-presidente da Associação Portuguesa de Desportos, dr. Fernando Capez, deputado estadual e conselheiro do Sport Club Corinthians. Luís Álvaro de Oliveira Ribeiro, presidente do Santos Futebol Clube a partir de 2009, reeleito e com mandato até o fim de 2014, lembra que no São Luís “só havia um outro peixeiro: o Senador Eduardo Suplicy [...]. Além disso, jogava bola também, tentando (sem êxito) imitar as jogadas de Zito, Formiga, Pepe, etc. [...] A formação jesuítica deu-me o reforço da orientação herdada da família quanto aos princípios que marcaram minha vida, respeito ao semelhante, apego à verdade, coragem de ter e expor ideais, solidariedade, amor à justiça, seriedade e empenho nas missões assumidas. A qualidade excepcional do ensino deu-me a base para que ampliasse meus horizontes” (Pilotis, novembro-dezembro de 2011).

Luís Álvaro, presidente do Santos FC e ex-aluno do Colégio São Luís, e Pelé. Pilotis, ed. 19, nov.dez./2011.


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De lá para cá, de cá para lá F

UTEBOL NÃO É APENAS UMA BOLA, DOIS times correndo para marcar gol, juiz, técnicos e torcida. Há também o espírito do futebol, ou melhor, o Spirit of Football (SOF), ong britânica que esteve no Colégio São Luís no dia 19 de maio de 2012 para celebrar o futebol como língua universal. Na oportunidade, foi dado o pontapé inicial em uma bola – The Ball, réplica oficial da bola da Copa do Mundo 2014, e símbolo da união dos povos – que, após percorrer diversos países, retornará ao Brasil em 2014, para a Copa do Mundo (Pilotis, julho-agosto de 2012). Assim como a The Ball, os alunos do Colégio inúmeras vezes cruzaram o Oceano Atlântico para participar de competições do outro lado do mundo, num movimento de ampliação de horizontes culturais e esportivos. Em 2008, foi a vez das alunas do Colégio. E, em 2009, um grupo de 20 alunos e professores participou de duas copas de futebol amador famosas no continente europeu: a Gothia, na Suécia, e a Dana Cup, na Dinamarca (Pilotis,

outubro-novembro de 2009). As meninas do handebol mirim e infantil participaram da Partille Cup (a Copa do Mundo de Handebol), em Gotemburgo, Suécia, e da Dronninglund Cup, na Dinamarca, em 2010. A aluna Rafaela comentou a respeito: “a parte do lazer é fundamental, porque, mesmo que os times das copas sejam bastante fortes, a experiência adquirida é o real saldo dessa viagem” (Pilotis, agostosetembro de 2010). Nas férias de julho de 2012 foi a vez dos meninos do futsal embarcarem para participar da Palencia Cup, na cidade de Palencia, Espanha. Uma das equipes do São Luís conquistou a medalha de prata, e o aluno Luiz Arthur Otaviano foi escolhido o melhor atleta da competição.


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109 Alunos atletas viajam para três países do continente europeu, em 2009, para participar de campeonatos. Emblema do Spirit of Football, ong que esteve no Colégio São Luís em 2012. Unidos para o pontapé inicial. Anuário São Luís 2012. Alunas de handebol em torneio na Europa. Pilotis, ed. 16, ago.-set./2010. Alunos de futsal do Colégio participam da Palencia Cup, na Espanha, em 2012.


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Casa da Cultura e dos Esportes N O COMEçO ERAM OS PÁTIOS, O CAMPÃO

de terra. Depois, quadra descoberta; em seguida, coberta, poliesportiva, com iluminação e placar moderno. Observando, assim, décadas à frente, parece que a evolução foi rápida. Mas cada conquista foi resultado de muita dedicação, empenho e entusiasmo por parte dos alunos, ex-alunos, mestres e pais de alunos do Colégio São Luís. A evolução dos espaços dedicados às práticas esportivas não para com a implantação de um equipamento mais moderno e eficiente. Continua sempre em constante transformação ao longo dos anos, crescendo junto com a empolgação dos jovens estudantes. A somatória da energia juvenil com a experiência de professores e pais tem possibilitado resultados sempre muito positivos. No final do século XX, a festa de inauguração da tão aguardada piscina marcou época. Tudo parecia perfeito. Mas era preciso mais. No início do terceiro milênio, suas águas se tornaram aquecidas, atendendo assim a uma reivindicação para melhor aproveitamento da piscina nas aulas de educação física em todas as estações do ano. O irrequieto olhar dos jesuítas já captava novas necessidades. Assim, na primeira década do século XXI, o Colégio começou a preparar uma grande novidade, anunciada em 2012, durante as comemorações dos 145 anos do Colégio São Luís: a construção da Casa da Cultura e dos Esportes. Um moderno espaço multiúso que abrigará práticas esportivas e eventos culturais. O espaço contém um novo ginásio poliesportivo, com local para apresentações de música e dança, equipado com iluminação e tratamento acústico adequado. E mais: arquibancadas removíveis, salas para prática de esportes e cursos extras, vestiários, campo de futebol com grama natural, cercado por

Vista aérea do Colégio São Luís, em Itu, 1903, e seus grandes pátios internos. Futebol no pátio do Colégio, na Av. Paulista. Meninas jogam voleibol na quadra coberta.


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uma pista de atletismo ao ar livre para compor um telhado verde, e salas mais confortáveis para os professores. O arrojado projeto arquitetônico, com soluções tecnológicas como reúso da água e melhor aproveitamento da energia, minimizará o impacto das obras e contribuirá para uma maior sustentabilidade ecológica do edifício. O ciclo está completo? Com certeza, não. A Casa da Cultura e dos Esportes é mais um passo no sentido de estimular a busca pelo máximo aproveitamento dos alunos no ambiente escolar. É um caminho para que cada um deles leve para o futuro mais do que o conhecimento adquirido nas salas de aula. Leve em seu íntimo um pouco do calor e entusiasmo juvenis capazes de contribuir para a constante evolução da humanidade. Um mundo melhor só será construído por cidadãos arrojados, conscientes e felizes. Esse é um dos propósitos da Casa da Cultura e dos Esportes – uma singular conquista, um novo marco da trajetória pedagógica e esportiva do constante aprimoramento da missão jesuíta para a educação. Ilustração artística da fachada da Casa da Cultura e dos Esportes. Interior da Casa da Cultura e dos Esportes.


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Conclusão


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Quando abriu a mala e exibiu as bolas de capotão trazidas da Europa, o padre Mantero fez um gesto que ficaria na história. Apresentava aos membros do Colégio São Luís mais do que uma curiosa novidade: era a síntese de um movimento de busca, de interface com outras culturas, de simbiose, de atualização, de modernização. A bola era um ponto de inflexão a partir do qual ocorreria uma ativação e irradiação de ideias, de propósitos. Uma semente de mudanças que ultrapassaria os campões, quadras e muros da escola. Esta breve história dos esportes no Colégio São Luís está recheada de momentos, circunstâncias, decisões que alicerçaram e continuam alicerçando a busca permanente da renovação, da superação, da ampliação dos horizontes e dos conhecimentos. Em constante alinhamento com seu tempo, as atividades de educação física, esportivas e os jogos constituíram oportunidade para a prática de exercícios que incidiam tanto sobre o corporal quanto sobre o intelectual. E mais além: depuravamse, através das atividades físicas, conceitos relativos a ética, valores, missão. A incorporação de novos esportes, a organização das práticas dentro e fora do Colégio e a participação continuada dos alunos em diversificadas formas de competição (treinos, amistosos, torneios, campeonatos internos, intercolegiais, etc.) sempre serviram de incentivo para toda a comunidade aloisiana compreender e viver a intensidade da palavra perseverança nos campos e fora dele, na vida. E a edição de um livro com um olhar sobre sua própria história reforça, complementarmente, a tradição do Colégio em documentar-se, refletir-se, como modo de estar atento aos seus próprios caminhos, oferecendo documentação e reflexão àqueles de sua comunidade e a todos que possam se beneficiar de sua leitura. A reunião e o cuidadoso exame de informações com a respectiva análise reforçam a consistência na busca de formulação da própria memória do Colégio. Tal como todo esporte, o próprio Colégio é permanente movimento, sempre em busca do aperfeiçoamento. É a história dos jesuítas, em que a palavra educar inclui mente e corpo, inclui mestres e alunos, famílias e comunidade. É uma sinergia, um renovar sempre, sem nunca perder rumo e raízes com os mais profundos conhecimentos em educação acumulados ao longo dos séculos. Afinal, o Colégio São Luís caminha para 150 anos de história e experiência. Origens do futebol no Brasil: a contribuição do Colégio São Luís Quando duas bolas de capotão chegaram aos pés dos alunos do São Luís, os jesuítas, empolgados com a visão das disputas nos colégios europeus, talvez não


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imaginassem que com um gesto tão simples traziam sementes de uma nova cultura para o Colégio e para o Brasil. O futebol, que ganhou campos, medalhas e troféus dentro e fora dos muros do Colégio, ganharia também toda a comunidade, exatamente por ser um jogo que necessita apenas de uma bola, um pedaço de chão e uma vontade imensa de movimentar o corpo, de renovar energias. Os jesuítas foram os pioneiros? Foram eles que trouxeram a primeira bola de capotão para as terras brasileiras? Como toda história, exige pesquisa e investigação detalhada. Em ano de Copa do Mundo de futebol no Brasil, conhecer as histórias que cercam o esporte mais praticado por todas as classes sociais neste imenso território nacional é vislumbrar a dimensão e permitir o redescobrimento constante do que se tornou a paixão nacional. Pioneirismo e singularidade marcam o futebol introduzido no Colégio São Luís em 1880. Ao vasculhar a história do esporte no Brasil é possível descobrir alguns eventos dispersos pelo território e sobre os quais não há informações sobre possível continuidade. Consta que desde 1864 marinheiros de navios de guerra e mercantes da Inglaterra, França e Holanda aproveitavam as ocasiões em que ancoravam nos portos para jogar futebol. Nas areias da Glória, no Rio de Janeiro, uma partida teria sido disputada em 1874. Entre 1875 e 1876 funcionários da Leopoldina Railway e de bancos ingleses, na rua Paissandu, Rio de Janeiro, também teriam disputado algumas partidas. A lista continua. Em Petrópolis (RJ), alunos do Colégio Paixão jogavam futebol desde 1882; no Colégio Anchieta, em Nova Friburgo (RJ), há notícias da prática desde 1886, ano de sua fundação. Em colégios maristas do Rio Grande do Sul e em Santana do Livramento, teria sido introduzido entre 1889 e 1890. No ano de 1892, o Ginásio Nacional (atual D. Pedro II) passa a trazer em seu regulamento o futebol como uma das práticas permitidas. Nesse mesmo ano, os sócios do Club da Esgryma, em Belém (PA), também já disputariam a posse da bola. E no Bangu, dizem, desde 1894. São inúmeras hipóteses que merecem investigação e pesquisa. Diante de tantos relatos, alguns aspectos reforçam a singularidade da introdução do futebol no Colégio São Luís: - Há um fundamento e uma efetiva trajetória histórica de como o futebol chegou ao Colégio São Luís. Não se tratou de evento casuístico, isolado e descontínuo. Há uma relação direta entre o futebol, os esportes e a evolução da pedagogia dos jesuítas, que resultaria no conhecimento da modalidade (tanto pelos jesuítas europeus quanto brasileiros) e na sua aplicação no Colégio. - O material trazido pelos jesuítas para o Colégio (duas bolas de futebol) e algumas regras básicas (uso somente dos pés para chutar e chutes em direção a um alvo, paredes e muretas do Colégio, cuja conotação de “gol” é inevitável), incorporadas às


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atividades esportivas do Colégio associam essa prática (denominada inicialmente “bate-bolão”), de modo inexorável e exclusivo, ao futebol. - Houve uma permanência nessa prática, de forma continuada. Não foi um fato estanque ou com interrupções. Houve, sim, um gradual, continuado e organizado processo de implantação do futebol, a partir inicialmente de suas manifestações basilares, constitutivas do futebol. - Ao longo dessa continuidade houve uma evolução, gradual, mas efetiva: do que era simples bate-bolão, passou-se à incorporação de simulações de traves (marcadas com tinta) e definição de equipes para se chegar à adoção das regras integrais do futebol. - A utilização das regras preconizadas pela Football Association passou a ocorrer contemporaneamente ao primeiro jogo de futebol promovido por Charles Miller, em 1895. - A contribuição do Colégio São Luís, através de seus ex-alunos, para a disseminação do futebol, em cidades do estado de São Paulo e outros estados, é outro fator que “fecha o ciclo” iniciado com a antiga prática do “bate-bolão”. Foi lá, no Colégio, que tomaram conhecimento e desenvolveram habilidades como futuros jogadores daquela modalidade: o futebol. - Essas informações são fruto de estudos publicados desde 1927 (especialmente a partir da obra do padre Madureira), de documentos técnicos e administrativos históricos do Colégio e suas publicações periódicas, fotografias e do testemunho de quem esteve, em 1880, estudando no São Luís (caso do padre Madureira), vendo lá o futebol nascer, então em suas manifestações iniciais. Em outras palavras: no Brasil, as práticas mais remotas associadas ao futebol que se encontram documentadas e que evoluíram de modo sistemático e estruturado podem ser localizadas na história do Colégio São Luís, então em Itu, entre 1880 e 1895. O objetivo final daquelas antigas práticas, inseridas e integrantes do esporte praticado nos campos de terra, seria, irreversivelmente, o futebol. Os passes, os dribles, os chutes a gol, a emoção, o entusiasmo, a sinergia provocada pelo jogo que ao longo de mais de um século ganharia uma marca nacional, já estavam nos pés e cabeças de jesuítas, mestres e alunos. De forma embrionária, mas inquestionavelmente presentes e prontos a ganhar novos campos de terra e, futuramente, de grama. Germinava naqueles distantes anos a mais completa experiência de preparação para se chegar ao esporte mais popular do País: o futebol. Provavelmente, o padre Mantero, quando abriu aquela mala, não poderia imaginar o quanto esse gesto iria representar na história do Colégio São Luís e sua contribuição às origens do futebol no Brasil.


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ApĂŞndices


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APÊNDICE 1 – Regras fundamentais da Football Association Com a fundação da Football Association, em 1863, na Inglaterra, seus idealizadores elaboraram um conjunto de regras destinadas a organizar a prática do futebol. Eram as “Leis do Jogo”, um conjunto de 14 regras, algumas das quais, similares às vigentes, vão descritas abaixo: · O comprimento máximo do campo deve ser de 200 jardas (183 m), a largura máxima é de 100 jardas (91 m), o comprimento e a largura devem ser marcados fora (nas extremidades) com bandeiras, e a meta deve ser definida por dois postes verticais, oito jardas (7,3 m) distantes entre si, sem nenhuma fita ou barra entre eles. · Inicialmente é feito o sorteio para a escolha do lado do campo. O jogo deve começar com um pontapé, a partir do centro do campo, pelo lado que perder o sorteio para escolha do lado do campo. O outro lado não deve ficar a uma distância menor que 10 jardas (9,1 m) da bola, até que ocorra o pontapé inicial. · Após a marcação de um gol, os dois lados trocam de campo e o jogo se reinicia com o time que sofreu o gol dando outro pontapé inicial. · Um gol é marcado quando a bola passa entre os postes (da meta) ou sobre o espaço entre os postes da meta, em qualquer altura. · Quando um jogador chuta a bola, qualquer um do mesmo lado (time) que está mais próximo da linha do gol do adversário está impedido e não pode tocar a bola, nem evitar qualquer outro jogador de tocá-la. · Nenhum jogador poderá correr levando a bola com as mãos. · Jogadas violentas ou trapaças não devem ser permitidas, e nenhum jogador deve usar as mãos para segurar ou empurrar seu adversário. · Nenhum jogador está autorizado a jogar a bola ou passá-la para outro com as mãos. · Nenhum jogador terá permissão para tirar a bola do chão com as mãos sob qualquer pretexto. · Nenhum jogador poderá usar pregos salientes ou chapas de ferro nas solas ou saltos de suas botas.


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APÊNDICE 2 – Inclusão de práticas esportivas no currículo escolar Enquanto a nova visão europeia de preparação corporal já transitava, desde a primeira metade do século XIX, de modo estruturado nas escolas, no Brasil somente na segunda metade desse século, especialmente no último quartel, há uma atenção efetiva para essa questão e uma discussão sobre a presença da educação física na grade de disciplinas escolares. Somente em 1851, com a Lei no 630, de 17 de setembro, a legislação sobre educação física no Brasil ganha contornos mais precisos, com a inclusão da ginástica no currículo das escolas primárias. Em 1855, regulamentação específica estende ao Colégio Pedro II a exigência de exercícios físicos (Salun, 2007, p. 23). A situação da educação em geral no Brasil e da educação física em escolas, em particular, era bem precária, apesar de algumas, especialmente religiosas, já atentarem para a importância de práticas esportivas e da ginástica: “Escolas administradas pelos jesuítas, franciscanos, maristas, beneditinos, carmelitas e salesianos foram grandes impulsionadoras da prática de Educação Física durante o período imperial. Os salesianos, de acordo com Arrisson Ferraz (1955), chegaram a formar sacerdotes em Educação Física para a docência nos seus colégios. O mesmo fenômeno se repetiu nos educandários religiosos femininos” (Salun, 2007, p. 23). O cenário no âmbito da educação era precário e exigia reflexão e mudanças profundas. Dos 15,8% de brasileiros alfabetizados em 1872, no recenseamento de 1890, o quadro praticamente se manteve. Poucos colégios, predominantemente os religiosos, destacavam-se na qualidade do ensino. Movimento republicano, abolicionismo, economia cafeeira ensejando a urbanização e surgimento de indústrias – o País vivia um período intenso de mudanças, que se espelhava na educação. Com esse cenário e atendendo à solicitação do imperador D. Pedro II, o deputado provincial pela Bahia, Rui Barbosa, elaborou um parecer – o Projeto no 224, de 1882 – sobre a reforma do ensino primário e das várias instituições complementares da instrução pública, que preconizava: 1. Instituição de uma seção especial de ginástica em cada escola normal. 2. Extensão obrigatória a ambos os sexos, na formação do professorado


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e nas escolas primárias de todos os graus, tendo em vista, em relação à mulher, a harmonia das formas femininas e as exigências da maternidade futura. 3. Inserção da ginástica nos programas escolares como matéria de estudo, em horas distintas das do recreio e depois das aulas. 4. Equiparação, em categoria e autoridade, dos professores de ginástica aos de todas outras disciplinas. Santos Neto (2002, p. 14-15) resume as considerações de Rui Barbosa quanto à educação física nas escolas: “[...] defendeu a introdução de exercícios ao ar livre, racionalmente variados, de maneira a que todos os músculos funcionassem ‘harmoniosamente’, enquanto as lições morais do espírito esportivo seriam absorvidas por meio de jogos divertidos e recreativos. Recomendou ainda a fundação de uma Escola Normal de Ginástica, para formação de docentes, a introdução imediata de práticas esportivas nos colégios brasileiros, em horários distintos do recreio, e o incentivo pelas escolas de atividades esportivas após o período normal de aulas”. A preocupação com a inserção de um novo capítulo da educação física e ginástica nas escolas dava sinais de fortalecimento. E os padres jesuítas, antecipando-se às instruções oficiais, haviam saído na frente, evidenciando uma sintonia com as questões prementes do sistema educacional, alinhando-se com a necessidade de atualizar conceitos e soluções para a educação física nos colégios.


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APÊNDICE 3 – Futebol no Colégio Pio Latino-Americano Teria o padre Mantero conhecido o futebol no Colégio Pio LatinoAmericano? A partir de 1858, a Inglaterra dá início à disseminação do futebol pela Europa, “sendo muito bem aceito, na Itália, pelos padres jesuítas, e praticado no Colégio Pio Latino-Americano” (Martins, 1989 apud Vaz, 2000). Considerando-se a generalização de que por lá passariam os futuros reitores, já que se tratava de uma “igreja-faculdade” – por onde passariam os que iriam desempenhar funções relevantes na Ordem dos Jesuítas, sacerdotes, religiosos, doutores, licenciados e bacharéis (em teologia, direito canônico e filosofia) –, o padre Mantero esteve no Colégio Pio Latino-Americano, onde poderia ter visto o esporte ser praticado. Outra questão que poderia, hipoteticamente, aproximar o tema futebol e o Colégio Pio Latino-Americano é afinidade entre italianos e esse esporte: “[...] na Storia degli Sport, de Andrea Franzoni, obra das mais completas que existem a respeito, o futebol ‘association’ desenvolveu-se no sul do continente europeu no ano de 1885, encontrando na Itália clima bastante propício, pois as origens do futebol estavam nitidamente relacionadas ao ‘cálcio’, jogo tão do agrado dos peninsulares” (Marinho, 1956, p. 42).


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APÊNDICE 4 – Primeiras competições internacionais Minha primeira viagem ao exterior foi em 1980, com uma equipe montada pelo Ademar, da VISP Turismo. Ele era professor de educação física do Colégio Estadual Candido de Souza e, ao enfrentar, em amistoso, minha equipe do infantil, perdeu e convidou quatro jogadores da Casa. Deixamos o Brasil rumo a Lisboa para amistosos. Jogamos as seguintes copas: Stockholm Soccer Cup, Helsinki Cup, Gothia Cup, Dana Cup, em Horring, Norway Cup. Em 1981, três seleções paulistas, cujos jogadores atuavam em vários clubes de São Paulo e do interior, viajaram para o Japão, com cinco craques do Colégio. A primeira fase de preparação foi em Nuporanga (SP), para onde as levei. A seguir, a delegação seguiu para Nova York, para a habitual pré-temporada, no Pele Soccer Camps (Soccer Camps of America), do Cosmos, onde jogava Pelé, a principal figura da agremiação. A equipe de treinadores, orientada pelo meu ex-professor da Escola de Educação Física, Julio Herculano Mazzei, era afinadíssima. Duas semanas depois, fomos para Los Angeles, Califórnia, assistimos a um amistoso do Los Angeles Astecs, comandado pelo capitão Cláudio Pêssego de Morais Coutinho, ex-técnico da seleção brasileira, contra a seleção do México. Ele inventou a expressão “Over laping” (uma bola é lançada no ponto futuro, alguém aparece e marca o gol). Finalmente, a convite do senhor ministro dos Esportes do Japão e sob a liderança do ex-árbitro de futebol, meu amigo, José Astolphi , da Coordenadoria de Esportes do Estado de São Paulo, seguimos para a terra do sol nascente, voando para o Aeroporto Internacional de Narita, em Tóquio. Lá começou outra epopeia. Além da capital, com partidas ao sol do meio-dia, jogamos em Shimizu, Shizuoca, Osaka, Kioto, Gunma, Nagasaki. Viajávamos pela Japan Air Lines ou pelo trem-bala. Nos anos 90, o São Luís começou a viajar completo, 11 titulares e 7 reservas, viajamos até com 32 jogadores. Nas copas nunca ganhamos um Golden Tournament, vencemos um Silver Tournament, e, até onde sei, só um menino jogou como profissional no meio de campo do São Paulo FC, o Renatinho. Depoimento de Luis Antonio Fleury Guedes, o prof. Guedes, sobre as viagens de alunos do Colégio São Luís para participação em torneios e copas do exterior, por e-mail, em 25 de novembro de 2013.


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Referências Bibliográficas


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Pontapé inicial para o futebol no Brasil - o bate-bolão e os esportes no Colégio São Luís: 1880-2014 foi elaborado em Vargem Grande Paulista, outono de 2014, utilizando as fontes cronos pro e averia serif, e impresso em papel couchê fosco 150g, na Edições Loyola.





No Brasil, as práticas mais remotas associadas ao futebol que se encontram documentadas e que evoluíram de modo continuado podem ser localizadas na história do Colégio São Luís, então em Itu, entre 1880 e 1895. O objetivo final daquelas antigas práticas, inseridas como atividade nos recreios do Colégio, seria, irreversivelmente, o futebol. Os chutes nas paredes do Colégio ou para o alto, os passes, os dribles, a emoção, o entusiasmo e a sinergia provocados pelo jogo passaram a fazer parte, a partir de 1880, do cotidiano de alunos, mestres e jesuítas. Germinava, naqueles distantes anos, a mais completa experiência local de preparação para chegar ao esporte que um dia seria o mais popular do país: o futebol.


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