DESIGN MAGAZINE 13 - SETEMBRO/OUTUBRO 2013

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Os autores e coordenadores deste “Spatial Murmuring – migration of spaces and ideas”, editado em 2012 pela Papadakis e com o apoio do British Arts Council, são Sónia Nunes Henriques e Jan-Maurits Loecke. Esta dupla de arquitectos, com laços em Lisboa, Portugal, e Colónia, Alemanha, fundou em 2002, em Londres, Reino Unido, a He-Lo Architects depois de terem passado por experiências profissionais com outros colegas. Os autores desta edição têm um trajecto marcado por envolvimento em trabalhos de pesquisa, exposições, debates e produção crítica sobre a arquitectura. Este “Spatial Murmuring – migration of spaces and ideas” foi lançado por ocasião da cerimónia de abertura da XIII Bienal de Arquitectura de Veneza, Itália, em 2012, no Palácio Ca’Giustinian, tendo como orador Benedetta Tagliabue e uma exposição contendo trabalhos de Álvaro Siza Vieira, da He.Lo Architects e Hildgard Weber. O tema proposto pelo comissário da bienal do ano passado, David Chipperfield, foi “Common Ground”, o que para nós, na latura, foi entendido como uma espécie de proposta para expressar um mea culpa da classe, de uma admissão de que a arquitectura se tinha separado do seu desígnio e, mais do isso, que o espaço se tinha tornado um terreno meramente visto como recurso para a política e a economia. Nesta edição de Sónia Nunes Henriques e Jan-Maurits Loecke fica definido, entre outros propósitos, a ambição de iniciar um princípio de optimismo e o propagar de uma ideia de migração de um ponto de vista arquitectural sobrepondo-o à percepção limitada dos aspectos económicos e políticos. Foi com uma ideia bem definida que os autores convidaram a participar neste livro 15 personagens provenientes de diferentes áreas, no sentido de dar arranque a uma conversa sobre migração. Os convidados a participar no livro foram Hans-Ulrich Obrist, Saskia Sassen, Álvaro Siza Vieira, Aaron Betsky, Rick Burdet, Oscar Niemeyer e Paolo Sergio Niemeyer, Richard Parkinson, Hildegard Weber, Victoria Bell, Wilhelm Bruck, Michael Jansen, Beatrice Galilee, Rita Kersting e Marcus Altfeld. E outros elementos foram importantes na produção deste livro e mencionados nele, como por exemplo o tributo feito a Brian Shafton, falecido em Janeiro de 2012. A edição conta ainda com existência de desenhos e mapas feitos à mão por Sónia Nunes Henriques e Jan-Maurits Loecke mais 4 desenhos da autoria de Álvaro Siza Vieira. O livro é composto por 14 textos, atribuídos aos con-

vidados, e neles as abordagens ao tema migração é produzido de diferentes formas, focando desde abordagens filosóficas em torno das procuras das harmonias, os aspectos sociais e emocionais ligados à cultura nos espaços das cidades, a organização esquemática e não esquemática dos grandes centros urbanos, aspectos demográficos e planeamento virado para o futuro, a expressividade arquitectónica, o aumento progressivo de exigência no trabalho dos arquitectos, a capacidade de olhar para o Mundo e de retirar as percepções das gentes que se movem pelos espaços em mutação, as questões sobre os equilíbrios da construção e da produção, as responsabilidades éticas e morais de quem constrói, a paisagem e as alterações climáticas que condicionam e alteram os estados emocionais dos que ocupam o espaço, a ordem das coisas naturais e seus códigos estruturais, as ameaças à saúde pública colocadas pelas enormes deslocações geográficas de pessoas ou um simples enaltecer de um manifesto que este livro é. O aspecto mais cativante neste livro é conseguirmos aceder de forma clara a um conjunto diferenciado de abordagens, de gente com experiência em olhar para o Mundo e o Homem, sobre temas que vêm ao encontro do interesse que temos em ficar a par de visões críticas sobre factos desta realidade comum. É um acesso à informação e à comunicação de gente que se debruça sobre os aspectos da realidade e que nos deixa caminhos para as reflexões. E nesta voracidade do tempo e de enormes vazios, é fundamental dar-nos espaço para reflectirmos sobre assuntos para os quais nem sempre temos a predisposição para entrarmos ou a oportunidade para tentarmos entende-los. Não são imposições de ideias ou de orientações políticas para como definir espíritos de época. São testemunhos que nos confrontam com uma série de aspectos para os quais também contribuímos, directa ou indirectamente. Em todos os textos conseguimos criar um elo com os pensamentos dos eus autores e para lá de assimilar a experiência deixada por cada um deles, somos também nós chamados a participar. Não são apenas relatos mundanos, são dissertações em voz alta de um conjunto de circunstâncias ligadas a esse espaço comum que é a realidade. No seu todo é interessante percebermos uma linha transversal de preocupação sobre o espaço comum e retiramos deles um conjunto de críticas sustentadas sobre os diversos ruídos provocados pela acção do Homem. A importância dos diálogos antes da acção… Tiago Krusse | 87 |


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