DESIGN MAGAZINE 13 - SETEMBRO/OUTUBRO 2013

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tores capazes da compreensão e do convívio com a realidade que os ultrapassa. Como mote e exemplo, sirvo-me da Faculdade da Belas-Artes da Universidade do Porto, porque o que me parecia ser um espaço interessante e privilegiado para a discussão de ideias e a concretização de projectos, olho-o, agora, também como ninho de interesses nada recomendáveis, espaço, inclusive, de gente que a Natureza dotou de cálculos que não permitem grande crescimento; gente à qual os complexos não dão descanso. Como sempre, procuro debruçar-me sobre situações que me são próximas e que, por isso mesmo, me permitem a noção dos fenómenos e de alguns pormenores. E, em função das incoerências, fico sem saber – sabendo – quais os critérios para admissão das candidaturas ao mestrado em pintura, por exemplo; e como é interpretada a forma da Lei, no que refere ao currículo dos proponentes; havendo quem, licenciado em tudo e mais alguma coisa, mas sem a mínima ideia do que é pintura, com três ou quatro exposições no currículo, seja, sem qualquer hesitação, colocado; e pessoas – com trajecto e vida dedicada ao assunto e com portefólio e currículo que podem ser testados – impedidas por obstáculos pensáveis, expectáveis, mas que só lembrariam ao Diabo. É verdade, sabe-se, que, para além dos interesses escuros e particulares, tem vindo a instalar-se, na FBAUP, uma espécie de filosofia que pretende extinguir o estudo da Pintura e, por outro lado, usurpando-lhe o espaço, usá-lo para incremento da “arte contemporânea” – um ou mais incapazes terão decidido que a Pintura, no seu estado puro, é coisa que não celebra o Richter, o Rothko ou outros medíocres quaisquer que possam ser vistos como ícones que devem ser seguidos; e, já agora, completando a “reformulação do estado”, fica em descanso o Pensamento e é poupado o tempo e a necessidade de compreensão, pelo exercício, porque as questões de ordem técnica deixam de fazer sentido, por ser injusta a discriminação da incontinência. Sim, eu sei, dir-se-á que a FBAUP não está só. Por isso eu digo que Portugal não passa de um País de equívocos e de personalidades enxertadas – volto a citar Amadeo e a lembrar como é que ele daqui partiu e como aqui regressou: compilação de “vozes”

que, sendo muitas, não chegaram a ser nenhuma. Tendo em conta o conceito experimentado e em uso, assumo o meu cepticismo, relativamente à democracia; tendo, no entanto, a noção da razoabilidade dos regimes de complementaridade. O que me preocupa é o vazio de raciocínio e a ausência do cuidado qualitativo como suporte dos projectos… que podem ser “contemporâneos”, na medida em que a inteligência e o conhecimento, expressos em harmonia, em equilíbrio, são elementos que, pela palavra, pelo som e pela imagem, através de discursos diversos, conseguem cruzar e ligar os tempos como módulos do Tempo único; e lamento que, num País desgastado pela sua transexualidade intelectual, a FBAUP, como escola de ensino superior – haverá outras, ou Portugal teria outro aspecto –, não estimule a formação e ou o reforço do amor-próprio de futuros autores que, enquanto tal, acabarão vítimas da originalidade alheia e induzida; seres anulados e transformados em “copy paste” comuns e afectivamente vazios, sem o apoio do imprescindível equilíbrio emocional. Procura-se a explicação… e os responsáveis escondem-se, porque os argumentos sérios escasseiam. Porém, a paciência não tem limites, e o Ministério da Educação terá, com certeza, alguma resposta para o estado do sítio; alguém acabará por explicar, reafirmando ou retocando a Lei; e, se for o caso, dirá que o Processo de Bolonha não tem, propriamente, em conta os conhecimentos e a capacidade dos cidadãos “civis”; que a oportunidade e a relevância têm por objecto candidatos que, mesmo se ineptos, sejam licenciados, primos, amigos ou tenham interesse comum em qualquer negócio envolvendo mesmo membros dos órgãos científicos. A partir daí, a situação tornar-se-á clara e ninguém se candidatará ao engano. Por mim, poderão continuar a vigarizar-se uns aos outros e a acumular galões em ombros que não existem. E voltamos à coisa política e à contestação às medidas governativas. Pois! Vou pensar nisso. Por agora, analiso as medidas dos que são críticos e se dizem oposição…

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