PURE MAGAZINE #1

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“Quero desenvolver essencialmente, peças sem falsas aparências, sem pretensiosismo.” Ricardo Dourado Escolheria a palavra multifacetado para definir este jovem criador que além de apresentar as suas colecções sazonais, desenvolveu projectos para indústria têxtil e de calçado a nível nacional e internacional, colaborou com a Search Magazine no departamento de styling e permanece como formador no CITEX. por Diana Dias Nasceu em 1980, e é já uma referência entre os jovens criadores portugueses. A sua formação passou pelo CITEX, onde é formador de Design de Moda. Colaborou também nos ateliers de Osvaldo Martins, Helena Matos e Lidija Kolovrat. Envolveu-se em vários concursos como as plataformas para jovens criadores, Sangue Novo, Mod’tissimo e os Novos Talentos Optimus Foram estes os trilhos percorridos até chegar às apresentações no LAB da ModaLisboa. A colecção de Verão 2008 veio mais uma vez confirmar a excelência do trabalho deste jovem criador que ostentou uma combinação quase intelectual entre a forma e a côr. Os tons surgiram secos numa paleta de cores terra, sóbria, rasgada por laivos de luz azul, amarelo/dourado ou vermelho. Na linguagem de Ricardo Dourado, esta estação tem uma modelagem quase “matemática”, remetendo-nos de imediato para um universo desconstrutivista que me faz criar uma ponte entre a Moda e a Arquitectura. Um universo que se define por um desenho não linear, pela manipulação da aparência das estruturas em que a linha visual final é caracterizada por uma ideia de caos controlado. Ricardo Dourado surpreende-me em cada colecção pela sua linguagem contemporânea, integrando-se perfeitamente nas linhas condutoras das tendências internacionais. Vamos conhecer a pessoa por detrás deste imaginário.

Ricardo, frequentaste o curso de Moda do Citex onde actualmente és formador. Qual a importância da formação nos trabalhos criativos como a Moda e como vez o panorama actual deste tipo de formação no nosso país? Admitindo que a formação de Moda em Portugal tem pouco mais de 20 anos, entendo que ainda temos um longo percurso pela frente. Grande parte dos formadores de Moda têm a mesma experiência, direccionada principalmente para a indústria têxtil, sector muito forte nas décadas de 80/90. Só mais tarde surgem os Produtores, Editores, Stylists e Criadores com diferentes formações académicas vindo conferir à formação de Moda uma abrangência de saberes e experiências imprescindíveis. Actualmente este tipo de formação está cada vez mais especializada e melhor estruturada, podendo os alunos escolher desde cursos técnico/profissionais, a licenciaturas ou outros cursos específicos. No meu caso e após o curso no CITEX concluo que ainda pertenci à geração formada especificamente para desenvolver carreira no sector industrial, ainda que com fortes componentes conceptuais ao nível da pesquisa, criação de projecto bem como desenvolvimento de pensamento sócio-cultural. Acredito que estas componentes tenham sido determinantes para a minha formação enquanto designer, muitas vezes recordo-me de frases/conselhos que me ajudam a tomar direcções. Embora acredite que um designer seja capaz de desenvolver um trabalho ecléctico, ou que a escola deva incutir no aluno um conjunto de noções e experiências diferenciadas, estou convicto que o início da carreira de um designer começa na escolha da escola, que por sua vez deve seguir directrizes o

mais distintas possíveis criando assim uma marca diferenciada de design . O que mais gostas na tua actividade de professor/formador? Achas que esta tua vertente influencia de alguma forma a evolução do teu trabalho como Designer de Moda? Sem dúvida que influencia, especialmente na forma como encaro os meus preconceitos (todos os temos). Ainda que sem ter essa noção, muitos dos meus alunos ajudam-me a ultrapassar alguns preconceitos relativos ao desenho específico de peças, ou ainda no desenvolvimento conceptual das colecções, através da descontextualização ou de misturas de temas/ambientes/conceitos. Por outro lado, um grupo de pessoas a partilhar experiências e diferentes perspectivas, faz com que algumas aulas se tornem muito estimulantes. Definitivamente se algo está a faltar em Portugal, não é talento. Entendo que faltam essencialmente plataformas onde se possa mostrar trabalho, para assim podermos contar com um futuro em que a Moda nacional se faça notar pelo design inovador. O Porto tem-se distinguido pelo estímulo dado à interacção entre criadores e indústria. Que experiências já tiveste nesta área e como as avalias? Posso referir algumas boas experiências como a Eical, onde desenvolvo colecções de knitwear de alta qualidade, com base em matérias primas como sedas, caxemiras, bambus, sojas, etc. A Onara, na qual desenvolvi uma marca para homem, onde ressalta a experiência na área da distribuição, não muito comum em Portugal, e recentemente na LCDINOV.DESIGN à qual me associei pela perspectiva inovadora que em cima da esq para a dir: Colecção Verão 2005, Arquivo Moda Lisboa, Fotografia Rui Vasco, Pós-Produção (recortes) Sara Gomes / Colecção Inverno 2005/06, Arquivo Moda Lisboa, Fotografia Rui Vasco, Pós-Produção (recortes) Sara Gomes / Colecção Verão 2006, Arquivo Moda Lisboa, Fotografia Rui Vasco, Pós-Produção (recortes) Sara Gomes


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