PURE MAGAZINE #1

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Yves Lacroix, fotógrafo francês, apresenta-nos uma selecção de imagens que fazem parte do seu trabalho pessoal. Uma América alternativa repleta de inspirações “Lynch” em cores quentes que nos remetem para ambientes Seventies. “Levantava-me cedo todas as manhãs e antes de fotografar os jogadores, partia com a minha máquina em busca duma outra América”. Yves, onde e quando foram feitas estas fotos? A grande parte das imagens foram feitas em Las Vegas há cerca de um ano atrás, no mês de Abril enquanto lá estive a fotografar um torneio de Póquer. Levantava-me cedo todas as manhãs e antes de fotografar os jogadores, partia com a minha máquina em busca duma outra América. Como caracterizas o teu estilo fotográfico? É a pergunta mais difícil que me podias ter feito. Caracterizar o meu estilo seria como fechar-me numa espécie de “pequena caixa”. Imagino-me em constante evolução e penso que o meu trabalho segue essa evolução. Que tipo de imagens preferes fazer? Igualmente difícil de responder. Sinto-me dividido entre a Moda e o trabalho pessoal. Creio que prefiro um pouco dos dois, ou seja, imagens pessoais que se adaptam às personagens que dirijo. O que mais me interessa é levar o observador a imaginar a continuação da história. Eu construo um universo, as primeiras páginas de uma história e quem está do outro lado deverá imaginar o final. Diria que o meu estilo é uma mistura de reportagem e de imagens pensadas. É sem dúvida um universo bastante cinematográfico onde os lugares e situações têm um papel preponderante. Este tipo de interacção interessa-me enormemente; eu pinto o décor, crio um cenário, uma aventura, e a seguir a vós de imaginarem o desenrolar da situação. Pensem, deixem-se ir, trabalhem o vosso imaginário!

Como acabaste de referir, no teu trabalho existe um universo bastante cinematográfico, que tipo de referências tens? Sou um grande amante de cinema. As minhas influências são variadas embora ache que David Lynch é um dos realizadores que mais me inspira; os seus ambientes, a complexidade e multiplicidade do seu trabalho são fascinantes! Mas aprecio igualmente Michael Mann, os irmãos Coen e ainda Sergio Leone pelas suas personagens caricaturais e jogos de côr. Em geral as minhas influências vêm do cinema americano da década de 70 até 90. Acho que o que vemos na nossa juventude é de importância primordial marca-nos para o resto da vida. Fotografia analógica ou o digital? Não tenho preferência, penso que é necessário viver de acordo com os tempos modernos e sobretudo saber adaptar-se às diferentes técnicas que vão aparecendo. Tive a sorte de pertencer a uma geração que acompanhou bem as duas técnicas. Cresci com o filme e igualmente com os computadores. Tive formação em fotografia analógica mas facilmente me adaptei ao formato digital sem deixar de lado a técnica mais tradicional. Hoje em dia continuo a trabalhar nos dois registos. Diria que a grande parte do meu trabalho pessoal é feito em analógico. Adoro o facto de pensar que vou ter um negativo, qualquer coisa concreta que vou poder guardar nos meus arquivos. O negativo permite-me igualmente aumentar a imagem com a facilidade que um aparelho digital banal não é capaz de fazer, só os mais caros.

E a Pós-produção que papel tem no teu trabalho? Não sou adepto da pós- produção. Acho que é um instrumento que se deve usar como qualquer outro. Não sou fã das imagens construídas a 3D ou em Photoshop, não é de todo o meu universo, mas respeito esse trabalho. A minha aproximação à pós-produção é no trabalho de chroma, onde as possibilidades são fantásticas. Depois é necessário saber adaptar-se ao que é pedido. Há determinados trabalhos em que a pós-produção é essencial. A Moda e a publicidade requerem normalmente um trabalho de pós-produção mais intenso. Todas as tuas imagens têm uma espécie de ligação entre elas. É certo que os décors são fortes e existe uma estética bastante marcada. Houve alguma tentativa de construção de uma história, ou aconteceu por acaso? Creio que a história está na minha cabeça. Não penso concretamente, surge naturalmente, pelo menos surgem os traços gerais. Claro que existe um período de reflexão e intelectualização que faz parte do sentido da construção da história, e como já referi anteriormente adoro fazer com que o leitor entre no meu universo mas sem lhe dar respostas concretas.


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